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Ele “og: ssid Nesivishee Re Fx Le 02 MICHEL FOUCAULT A VERDADE E AS FORMAS JURIDICAS 25 reimpressa0 Rio de Janeiro 2005 ‘mesmo tempo modalidades de exercicio de pos des de aquisicao e transmissio do saber, aed O inquérito é ‘isa- mente una fora plitc,una forma de gen, de sheng 1 poder que, por meio da instituigio judiciatia,veioaser ums aaa na cultura ocidental, de autentificar a verdade, di addquitit coisas que vio ser consideradas como verdadeinas eda as transmitir, O inuérito é uma forma de saber poder, Eg anilise dessas formas que nos deve condurit 4 anilise maic estrita das relagoes i Gusts das relagdes entre os conflitos de conhecimento a leterminaces enondmico-py ° icas 78 Naconferéncia anterior procurei mostrar quais foram os :mecanismos ¢ 0s efeitos da estatizagiio da justiga penal na ldade ‘Média. Gostaria que nos sitwéssemos, agora, em fins do século XVIII e inicio do século XIX, no momento em que se constitui 6 que tentarei analisar nesta e na proxima conferéncia sob 0 nome de “sociedade disciplinar” A sociedade contemporinea, por razGes que explicarei, merece o nome de “sociedade disci- plinar.” Gostaria de mostrar quais sio as formas de priticas penais que caracterizam essa sociedade; quais as relagoes de poder subjacentes a essas préticas penaiss quais as formas de saber, 0 tipos de conhecimento, os tipos de sujeito de conhe- cimento que emergem, que aparecem a partir e no espago desta sociedade disciplinar que é a sociedade contemporinea. ‘A formacio da ociedade disciplinar pode ser caracteriza- da pelo aparecimento, no final do século XVIII e infcio do século XIX, de dois fatos contraditérios, ou melhor, de um fato ue tem dois aspectos, dois lados aparentemente contradiéri- os: a reforma, a reorganizagio do sistema judiciério penal nos diferentes paises da Europa e do mundo. Esta transformagéo 1ndo apresenta as mesmas formas, a mesma amplitude, a mesma cronologia nos diferentes paises. 79 Na Inglaterra, tra, por exemplo, as formas de justi : ga perma {cs o conjunto de condutas penalmenterepreensives one : sivels se mo- Sees conheceu, Esta siuagio foi profundamente modifies, no c m que as formas ¢ instituigGes judi Arias inglesas se modificassem profundancnne porate 5 frer penalidadeas condutas las como repreensiveis pela lei, Um segundo principio & que estas leis positivas formula- das pelo poder politico no interior de uma sociedade, para serem boas leis, nfo devem retranscrever em termos positivos a Jei natural, a lei religiosa ou a lei moral. Uma lei penal deve simplesmente representar 0 que é titil para a sociedade. A lei define como repreensivel o que énocivo & sociedade, definindo assim negativamente 0 que ¢ itil. terceiro principio se deduz naturalmente dos dois primeiros: uma definigio clara simples do crime. O crime nao € algo aparentado com o pecado ¢ com a falta; é algo que danifica a sociedade; & um dano social, uma perturbacéo, um ncémodo para toda a sociedade. Ha, por conseguinte, também, uma nova definigio do criminoso. O criminoso & aquele que danifica, perturba a sociedade. O criminoso é o inimigo social. Encontramos isso muito claramente em todos esses teéricos como também em Rousseau, que afirma que o criminoso é aquele que rompeu 0 pacto social. Hi identidade entre o crime ea ruptura do pacto social. O criminoso ¢ um inimigo interno. Esta idéia do criminoso como inimigo interno, como individuo que no interior da sociedade rompeu o pacto que havia teoricamente estabelecido, é uma definicio nova ecapital na historia da teoria do crime e da penalidade Seo crime é um dano social, se 0 criminoso é 0 inimigo da sociedade, como a lei penal deve tratar esse criminoso ou deve reagir a esse crime? Se o crime é uma perturbacao para a sociedade; se o crime ndo tem mais nada aver com a falta, com a lei natural, divina, religiosa, etc, é claro que a lei penal nao pode prescrever uma vinganga, a redengio de um pecado. A lei penal deve apenas permitir a reparacio da perturbagio causada Asociedade. A lei penal deve ser feita de tal maneira que o dano 81 causado pelo individuo a sociedade seja apagado:; sesso ndo for Passfvel, preciso que o dano no possa mais ser recomesado Pelo individuo em questio ou por outro. A lei penal deve ‘eparar o mal ou impedir que males semelhantes possam ser ‘cometidos contra 0 corpo social, Dal decorrem, para esses tedricos, quatro tipos possiveis de punisio. Primeiramente, a punigao expressa na afirmacio: voce rompeu o pacto social, vocé nao pertence mais 20, corpo social, vocé mesmo se colocou fora do espaco da legaldade; nos © expulsaremos do espago social onde essa legalidade funcio, na.” E a idéia encontrada frequentemente nesses autores Beccaria, Bentham, ete. — de que no fundo, a Punigao ideal seria simplesmente expulsar as pessoas, exlé-las, bani-las ou deporté-las. E a deportacio, " A segunda possibilidade ¢ uma espécie de exclusio no Préprio local. Seu mecanismo nao é mais a deportacio mate, is0 social, mas isolamento ico, ptiblico, constituido no interior do espaco moral, psc Pela opiniao, Ea idéia das punigées 20 nivel do escindal, da feonha, da humilhasio de quem cometeu uma infato. Sea sua falta, mostra-sea pessoa ao piiblico, suscitn-ss co uma reagio deaversio, de desprezo, de condenacao, Fs era pena. Beccariaeouttosinventaram mecanisnios pars provocar vergonha ¢ humilhacao, sono \ Tercera pena &a reparagao do dano social, o trabalho Forgado. Ela consiste, em forgar as pessoas a uma atividade di 30 Estado ou a sociedade, de tl forma que o dano causado seja compensado, Tem-se assim uma teoria do trabalho forgade. Enfim, em quarto lugar, a pena consiste em farey cova auc 0 dano nao possa ser novamente cometido; em fazer com {que o individuo em questio ou os demais nao possam mais 2 vontade de causar&sociedade o dano auteriormente causadon 82 em fazé-los repugnar para sempre o crime que cometeram. E para obter esse resultado, a pena ideal, que se ajusta na medida exata, é pena de talifo, Mata-se quem matou; tomam-se os bens de quem roubou; quem cometeu uma violacéo, para alguns dos te6ricos do século XVIII, deve softer algo semelhan- te. is portanto, uma bateria de penalidades — deporta- cio, trabalho forcado, vergonha, escindalo piiblico e pena de talido. Projetos efetivamente apresentados no somente por te6ricos puros como Beccaria mas também por legisladores, como Brissot ¢ Lepeletier de Saint-Fargeau, que participaram da claboracio do 1° Cédigo Penal Revoluciondrio. Jé se havia avangado bastante na organizagao da penalidade centrada na infragao penal ena infracdo.a uma lei representandoa utilidade piilica. Tudo deriva dai, até mesmo o quadro das penalidades ¢ 0 modo como sio aplicadas. ‘Tem-se assim esses projetos, esses textos ¢ até esses decretos adotados pelas Assembléias. Mas, se observarmos 0 que realmente se passou, como funcionow a penalidade algum tempo depois, por volta de 1820, no momento da Restauracio na Franga e da Santa Alianga na Europa, percebemos que 0 sistema de penalidades adotado pelas sociedades industriaisem vias de formagao, em vias dedesenvolvimento, foi inteiramente diferente do que tinha sido projetado alguns anos antes. Nao que a pritica tenha desmentido a teoria, porém ela se desviou rapidamente dos princfpios te6ricos que encontramos em Beccaria e Bentham. Retomemos 0 sistema de penalidades. A deportagao desapareceu bem rapidamente; 0 trabalho forgado foi geral- ‘mente uma pena simplesmente simbélica, em sta fungao de reparasio; 05 mecanismos de escindalo nunca chegaram a ser postos em pratica; a pena de taligo desapareceu rapidamente, 83, tendo sido denunciada como arcaica para uma sociedade suficientemente desenvolvida. Esses projetos bem precisos de penalidade foram substi- tudos por uma pena bem curiosa de que Beccaria havia falado ligeiramente e que Brissot mencionava deforma bem marginal: trata-se do aprisionamento, da prisio, A prisio nao pertence 20 projeto tebrico da reforma da penalidade do século XVIII. Surge no infcio do século XIX, como uma instituigao de faro, quase sem justificagio tedrica, Nao s6 a pristo — pena que vai efetivamente se genera. it no século XIX — nao estava prevista no programa do século XVIII, como também a legislagao penal vai sofrer uma inflexto formidével com relago a0 que estava estabelecido na teoria, Com efeito, a legislagao penal, desde o inicio do século XIX e de forma cada vex mais répida e acelerada durante todo © século, vai se desviar do que podemos chamar a utilidade social; ela ndo procurard mais visar ao que é socialmente titi ‘mas, pelo contrétio, procurard ajustar-se 2o individuo. Pode. Ios citar como exemplo as grandes reformas da legislagio penal na Franga ¢ demais pafses europeus entre 1825 ¢ 1850/ 60, que consistem na orga {ancias atenuantes: o fato da aplicagéo rigorosa da lei, tal eomo seacha no Cédigo, poder ser modificada pot determinago do juiz ou do juiri e em funcio do individuo em julgamento. O princfpio de uma lei universal representando unicamente os interesses sociais € consideravelmence falseado pela utilizacio das citcunstancias atenuantes que vao assumindo importancia vex maior. Além disso a penalidade que se desenvolve no século XIX se prope cada vez menos definir de modo abstrato egeral o queé nocivo a sociedade, afastar os individuos que sio nocivos a sociedade ou impedi-los de recomegar. A penalidade isdo do que chamamos 84 no século XIX, de maneira cada vez mais insistente, tem em” vista menos a defesa geral da sociedade que o controle ¢ a reforma psicolégica e moral das atitudes e do comportamento dos individuos. Esta é uma forma de penalidade totalmente diferente daquela prevista no século XVIII, na medida em que o grande principio da penalidade para Beccaria era ode que no haveria punigao sem uma lei explicita, e sem um comporta- mento explicito violando essa lei. Enquanto no houvesse lei e infragio explicita, nao poderia haver punigio — este era 0 principio fundamental de Beccaria, Todaapenalidadedoséculo XIX passaaser um controle, no tanto sobre se 0 que fizeram os individuos esta em conformidade ou nao com a lei, mas ao nivel do que podem fazer, do que sio capazes de fazer, do que estio sujeitos a fazer, do que esto na iminéncia de fazer. Assim, a grande nocao da criminologia e da penalidade em fins do século XIX foi a escandalosa nogao, em termos de teoria penal, de periculosidade. A nogio de periculosidade significa que o individuo deve ser considerado pela sociedade a0 nivel de suas virtalidadese no ao ni nivel das infragées efetivas a uma lei efetiva, mas das v des de comportamento que elas sepresentam, O iltimo ponto capital que a teoria penal coloca em questo ainda mais fortemenre do que Beccaria € que, para assegurar 0 controle dos individuos — que nao é mais reagéo penal ao que eles fizeram, mas controle de seu comportamento no momento mesmo em queele se esboca— a instituigao penal ramente em mios de um poder no pode mais estar in autonome: 0 poder judiciéri. ‘Chega-se assim, & contestagao da grande separacao atri- la a Montesquieu, ou pelo menos formulada por cle, entre poder judiciério, poderexecutivo e poder legislative. O contro- 85 le dos individuos, essa espécie de controle penal punitivo dos luos ao nivel de suas virtualidades nao pode ser efetuado pela propria justiga, mas por uma série de outros poderes laterais, & margem da justiga, como a policia e toda uma rede de instituigbes de vigilincia e de correcio — a policia para a Vigilancia, as insticuigées psicolégicas, psiquidtricas,crimino- logicas, médicas, pedagégicas para a correcio. E assim que, no século XIX, desenvolve-se, em torno da instituigao judicidria e para lhe permit assumir a fungio de controle dos individuos ao nivel de sua periculosidade, uma gigantesca série de insti ‘sOes que vio enquadrar os individuos ao longo de sua existén- instituigdes pedagsgicas como a escola, psicolégicas ou Psiquitricas como o hospital, o ailo, a policia, etc. Toda essa rede de um poder que nao &judicidrio deve desempenhar uma das fungoes que ajustiga se atribui neste momento: funcio néo Pa pn as infrages dos individuos, mas de corrigir suas Entramos asim na idade do que eu chamaria de ortope- dia social. Trata-se de uma forma de poder, de um tipo de sociedade que classifico de sociedade disciplinar por oposisio as sociedades propriamente penais que conhecfamos anterior- mente, E a idade de controle social. Entre os teéricos que ha pouco cite, alguém de certa forma previu e apresentou como que um esquema desta sociedade de vigilincia, da grande orropedia social. Trata-se de Bentham, Pego desculpas 20s ‘oriadores da filosofia por esta afirmacio, mas acredito que Bentham seja mais importante para nossa sociedade do que Kant, Hegel, etc. Ele deveria ser homenageado em cada uma de nossas sociedades. Foi ele que programou, defini e descreveu dda mancira mais precisa as formas de poder em que vivemos ¢ ue apresentou um maravilhoso e célebre pequeno mod destasociedade da ortopedia generalizadacofernese ee 86 Uma forma de arquitetura que permite um tipo de poder do espirito sobre o espiritos uma espécie de instituigao que deve valer para escolas, hospitais, prises, casas de corregao, hospi- ios, fabricas, etc. (© Panopticonera um edificio em forma deanel, no meio do qual havia um patio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas eelas que davam tanto para 0 interior ‘quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo objetivo da instiuigao, umacriangaaprenden- do a escrever, um operdrio trabalhando, um prisioneiro se cortigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. Na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para 0 exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; nfio havia nela nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo 0 que fazia o individuo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semi-cerrados de modo a poder ver tudosem queninguém ao contrério pudesse vé-Jo. Para Bentham, esta pequena € maravilhosa asticia arquitetdnica podia ser ada por uma série deinstituigbes. O Panopticonéa utopia de uma sociedade ¢ de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que atualmente conhecemos — utopia que efetiva- mente se realizou. Este tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo, Vivemos em uma sociedade ‘onde reina 0 panoptismo. © panoptismo é uma forma de poder que repousa no ‘mais sobre um inguérito mas sobre algo totalmente diferente, «que eu chamaria de exame. O inquérito era um procedimento pelo qual, na pritica judiciéria, se procurava saber 0 que havia ocortido, Tratava-se de reatualizar um acontecimento passado através de testemunhos apresentados por pessoas que, por uma ‘ou outra razio — por sua sabedoria ou pelo fato de terem 87 presenciado © acontecimento — eram tidas como capazes de saber. No Panopticon va se produzr algo totalmente diferent; nao hd mais inquétito, mas vigilancia, exame. Nao se trata da reconstituir um acontecimento, mas de algo, ou antes, de alguém que se deve vigiar sem interrupgao ¢ totalmente Vigilancia permanente sobre os individuos por alguém que exerce sobre eles um poder — mestre-scola, chefe de oficina, médico, psiquiatra, diretor de prisio—e que, enquanto exeree esse poder, tem a possibilidade tanto de vigiar quanto de onstituir, sobre aqueles que vigia, a respeito deles, um saber, ‘Um saber que tem agora por caracteristica nfo mais determing; se alguma coisa se passou ou nao, mas determinar se um individuo se conduz.ou ndo como deve, conforme ou néo 2 eur se progride ou nZo, etc, Esse novo saber nao se organiza mais.cm tomo das questées “isto foi feito? quem o fez2”; nao se ordenaem termos de presenga ouauséncia, deexisténcia ou nao sxisténcia Blese ordena em tomo da norma, em ermosdo que énormal ou nao, correto ot nao, do que se deve ou nao faser Tem-se, portanto, em oposicéo ao grande saber de inguérito, organizado no meio da Idade Média através da Confiscagao estatal da justica, que consistia em obter os instru- mentos de reatualizagio de fatos através do testemunho, um nove saber, de tipo totalmente diferente, um saber de vigilin- cia, deexame, organizado em torno da norma pelo controle dos ividuos 20 longo de sua existéncia, Esta & a base do poder, atforma de saber-poder que vai dar lugar nao asgrandesciéncing de observasio como no caso do inguérito, mas 0 que cham, mos ciéncias humanas: Psiquiattia, Psicologia, Sociologia, etc. Gostaria agora de analisar como isso se deu. Como se chegou 2 ter, por um lado, determinada teoria penal que programa claramente certo ni 1ero de coisase, por outro, uma 88 pritica real, social que conduzin a resultados totalmente dife- rentes. Tomarei sucessivamente dois exemplos que se encon- tramentreosmaisimporcancese determinants deste proceso oda Inglaterra eo da Franca —deizarei de lado o exemplo dos Estados Unidos, que é também importante. Gostaria de mos- trarcomo na Frangae sobretudo na Inglaterra exstiu uma sie de mecanismos de controle, controle da populacio, controle permanente do comportamento dos individuos. Esses meca- nismosseformaram obscuramente durante o século XVII para responder a certo mimero de necessidades e, assumindo cada ‘ez maior importincia, se estenderam finalmente por toda a sociedade ese impuseram a uma pritica penal Quais sio, de onde vém ea que respondem esses meca- nismos de controle? Tomemoso exemplo da Inglaterra. Desde a segunda metade do século XVIII se formaram, em niveis relativament baixos da esala social grupos espontaneos de pessoas que se atribufam, sem nenhuma delegagio de um poder superior, a tarefa de manter a ordem e crar, para eles préprios, novos instrumentos para assegurara ordem. Esses grupos eram rnumerosos e proliferaram durante todo o século XVII. Seguindo uma ordem cronolégica, houve, em primero lugar, comunidades religiosas dissidentes do anglicanismo — os quakes, os merodistas — que se encarregavam de organizar sua prépiapolicia F assim qu, entteos metodisas, Wesley, por exemplo, visitava, um pouco como os bispos da Alta lade Média, as comunidades mecodistas em vigem de inspeso. ele eram submetidos todos os cass de desordem: embriaguez, adultério, recusa de trabalhar, etc. As sociedades de amigos de inspiracéo quaker funcionavam de forma semelhante. Todas cssas socedades tinham a dupla taefa de vgiinca e de assisténcia. Elas se atribufam a tarefa de assistir os que nao 89 possufam meios de subsisténcia, os que nao podiam trabalhar porque cram muito velhos, enfermos, doentes mentais, etc. Mas, ao mesmo tempo em que os assistiam, elas se atribufam de observar em que condigdes era ats téncia: observar se o individuo a no wabalhave estava efetivamente doente, se sua pobreza e miséria era devidas 3 devassdio, a bebedeira aos vicion, ete Titers, Portanto, de grupos de vigilincia espontinea com origem, funcionamento e ideologia profundamente religiosos. _Houve, em segundo lugar, ao lado destas comunidades propriamente religiosas, sociedades a elas aparentadas embora tendo uma certa tincia, um certo afastamento, Por cxemplo,em finsdo século XVII, em 1692, na Inglaterra, deu- sea fundacdo de uma sociedade que se chamava, de formabem ‘aracteristica, Sociedade para a Reforma das Manciras (do Comportamento, da conduta). Trata-se de uma sociedade ‘muito importante que tina na época da mortede Guilherme IL, cem filiais na Inglaterra e dez na Irlanda, apenas na cidade de Dublin. Essa sociedade, que desapareceu no inicio do século XVIII e reapareceu, sob a influéncia de Wesley, na Segunda metade do séulo, se propunha a reformar as manei- ras: fazer respeitar o domingo, (¢em grande parte a aco des grandes scidades que devemoso ering domings ela) impedir 0 jogo, a bebedeira, reprimir a prostituigéo, oa asimprecagoes, as blasfémias, cudo que pudesse manifestar desprezo para com Deus. Tratava-se como diz Wesley em seus sermo de se ____Emfins do século XVII, esta sociedade é superada em importéncia por uma outra, inspirada por um bispo edetermi- 90 nados aristocratas da corte, chamada Sociedade da Proclamagao, por ter conseguido do rei uma proclamagio para o encora- jamento da piedade e da virtude. Essa sociedade, em 1802, se transforma e recebe o titulo caracteristico de Sociedade para a Supressto do Vici, tendo por objetivo fazer respeitar o domin- 0, impedir a circulagéo dos livros licenciosos e obscenos, introduair ages na justiga contra a mé literatura e mandar fechar as casas de jogo ¢ de prostituicio. Esta sociedade, ainda que de funcionamento essencialmente moral, préxima dos grupos religiosos, jé era entretanto um pouco laicizada. Em terceiro lugar encontramos no século XVII, na Inglaterra, outros grupos mais interessantes e mais inquietan- tes: grupos de auto-defesa de cardter para-militar. Elessurgiram em resposta as primeiras grandes agitagées sociais, nao ainda proletétias, aos grandes movimentos politicos, sociais, ainda com forte conotagio religiosa, do fim do século XVIII na larmente 0 dos partidérios de Lord Gordon Inglaterra, pat Em resposta a essas grandes agitagSes populares, os meios mais afortunados, a aristocracia, a burguesia, se organizam em grupos de auto-defesa. E assim que uma série de associagées — a Infantaria Militar de Londres, a Companhia de Artitharia, etc. — se organizam espontaneamente, sem apoio ou com apoio do poder. Elas tém por fungio fazer reinar a ordem politica, penal ou, simplesmente, a ordem, em um bairro, uma cidade, uma regio ou um condado. Em uma tiktima categoria de sociedade esto as socieda- des propriamente econé1 As grandes companhi -s comerciais se organizam em sociedades de privada, para defender seu patriménio, seu , 0s barcos ancorados no porto de inadores, 0 banditismo, a pilhagem later estoque, suas mercador Londres, contra os ami on

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