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GUIA DO PROFESSOR [ Domi: | Ants do asco, Retire, Prapmstica e Unite Ficha Informativa n.° 10 © texto - coeréncia e coesao A palavra texto provém do latim textu-, que significa “tecido, entrelagamento” Tendo em conta esta origem etimolégica, nunca devemos esquecer que 0 texto resulta desta acgao de tecer, de entrelagar unidades que formam um todo inter-relacionado. Podemos, pois, definir texto como um conjunto de enunciados orais ou escritos) relacionados éntre si que formam um todo com sentido. Acoeréncia ca coesdo séo dois principios basicos de estruturago de um texto, Coeréncia Dizomos que um texto 6 coerente quando aquilo que ele transmite esté de acordo com 0 conhecimento que cada locutore interlocutor tém do mundo Para que hajo coeréncia textual é ainda necessério que o texto apresente progresséo tematica © continuidade semantica, & progressio e a continuldade complementam-se, pois a primeira, pela introdugio de informagdo nova relative @ um tema central, asse gura que 0 texto nao se limita a repetir indefinidamonte aquilo que jé foi expostd Ye a segunda garante a existéncia de um fio condutor. Alternando equilibradamente conti- nuldade © progressao, garante-ie a continuidade do teme central e unificador e o ‘desenvolvimento progressivo desse tema nos seus miitiplos aspectos A cooréncia é, assim, a propriedade textual que assegura a ligacdo entre o texto € 0 mundo (real ou imaginério) que ele designa. XDé-se 0 nome de eniclopsaa a0 “conjunto dos canhecimanto @ des renga sobre o mundo, pat ‘ado, num determinado tempo @ numa determinada comunidede social, pelos interlocutores « pol autores ¢ leitores(.), in lconario Terminclgico para consulta em nha, DGIDC 2008, Lé 0 texto que se segue: Literatura e violéncia “Literatura ¢ violéncia” &, dependendo da perspectiva que se pretenda adoptar, matéria extremamente vasta para estudo. Esconde-se violéncia no espinho de uma rosa. s analistas, 0s estudiosos das literaturas mais difundidas no mundo, encontram textos de todas as épocas em que literatura e violéncia se apresentam, quer como expressio literdria de autores sobre esse tema, quer como produgao de ensaios ¢ teses sobre o mesmo, Nao pretendendo fazer histéria, pego-vos que recordem, desde a anti guidade aos tempos modernos, os numerosos eseritores que sobre a violéncia produzi- ram literatura ¢ encontraremos, sem falar dos remotos gregos e arabes, dos classicos ussos aos alemaes, muitos dos quais se exilaram e adoptaram nova nacionalidade, aos grandes escritores americanos dos cielos do tabaco ¢ do algodio, aos b sobre a colénia, a escravatura, 0 cacau e agticar, o coronelismo. E fiquemos por aqui, Para ndo termos a possibilidade de nao acabar nunca mais. Gone Ande, Opinii, criséros.Ensaios,palestras, conferincias sabre tudo coisa nenhuma (1993 4 2006) ed Angola, EdtralKilombelombe, 2007 Depois de anunciar o tema central e estruturante de todo o texto - “Literatura violéncia” -, 0 autor vai introduzindo novos factos e ideias (progressao temética), 0 que faz 0 texto avancar: a presenca da violéncia em todo 0 lado (“no espinho de uma rosa"); @ sua presenga em textos literarios, ensaios e teses, em diferentes paises épocas. Note-se, também, que a progressao depende da recorrénci do tema ~ 0 apareci mento de novas informagdes & acompanhado pela recuperagao do assunto anun: ciado no tema: “Esconde-se violéncia “literatura e violéncia..."; “esse tema..."; “sobre a violéneia, Por vezes, uma parte do texto afasta-se deliberadamente do fio tematico ou da sequéncia textual (descritiva, argumentati , narrativa...) que se desenvolvia: neste caso, estamos em presenca de uma digressdo. Sao varias as funcdes da digressao: chamar a atengao do ouvinte ou do leitor, introduzir um esclarecimento, dar a conhe- so do mundo do autor ou do narrador... No entanto, para que @ sua fungéo retérica nao se porca e para garantir a coeréncia textual, 6 fundamental que a digres- 's80 néo seja demasiado extensa. Exemplo: Estava ao telefone com o pintor Jilio Pomar e depois de falarmos da saudade um do outro 1, ta0 bicho de distingui entre a amizade ¢ 0 amor entrdmos pela conversa do trabalho dentro. Antinio Lobo Antunes, ro Livro de Crinicas, ed, Dom Quiver, 2006 Coesao As unidades constitutivas de um texto estao ligadas entre si, isto ¢, estabelecem entre elas determinadas relagdes através de uma série de mecanismos, fundamental- mente linguisticos, a que se da o nome de eoesao. Entende-se por eoesao um conjunto de processos que, recor | rendo a determinados grupos de vocabulos, ou classes de pala- | wras, permite fazer um texto a partir de um “puzzle” de frases sol tas (ou mesmo uma frase a partir de palavras sottas). Imaginemos | um conjunto de 50 cartes, cada um com uma frase simples. Essas frases s6 constituiréo um texto quando, para além de estarem dis- postas segundo uma dada ordem entre si, estiverom articuladas de forma que umas possam remeter para outras, construindo uma mensagem uniforme [ou plural, se 0 objectivo for esse! | ba Ete Prada in htpeberduvidessapo pupergunta php?ida16907 Podamos, assim, falar de varios tipos de coesao. 1, Coesio interfrasica A coesdo interfrasica consiste na articulagdo relevante e adequada de frases ou de soquéncias de frases (segmentos textuais). A conexao interfrésica, basicamonto, 6 assogurada pelos marcadores discursivos. ‘mas, porém, todavia, contudo, no entanto, apesar de, ainda que, embora, mesmo que, por mais que, se bem que. .-- articular ideias de contraste, ‘oposigSo, restricao ©, al6m disso, ¢ ainda, néo s6... mas também / como «= edicionare agrupar elementos e ainda, bem como, assim como, por um lado... por outro ideias lado, nem... nem (negativa), do mesmo modo, igualmente. introduzir uma concluséo a partir pois, portanto, por conseguints, assim, logo, enfim, de ideis principal oncluindo, em concluséo. - Fesumir, reafirmar por outres palavras, ou seja, em resumo, em sums ae ppor exemplo, isto &, ou seja, & 0 caso de, perpen ‘nomeadamente, em particular, a saber, entre outros. ‘como, conforme, também, tanto... quanto, tal como, a 1, também, tanto... quanto, ta im como, peta mesme razéo. ppor tudo isto, de modo que, de tal forma que, dai que, indicar uma consequéncia “a tanto... que, 6 por issb que. na minha opinio, a meu ver, em meu entender, «dar uma opiniao Fae ci Sane talvez, provavelmente, & provavel que, possivelmente, porventura insistir nas ideias expostas __—_com efeito,efectivamente, na verdade, de facto... ‘quer isto dizer, isto (ndo) significa que, por outras cexplicar uma ideia Palavras, isto 6, ou antes, dizendo melhor, ou melhor... ‘em primeiro lugar, num primeiro momento, antes de ‘om segundo luger, om seguide, seguidamente, depois de, epés, até que, simulteneamente, enquanto, quando, por fim, finalmente, ao lado, & diteita, esquerda, em cima, no meio, naquele lugar... ‘organizar as ideias por ordem ‘sequencial (tempo ou espaco) . Introduir raciocinios que ‘apresentam @ intencS0, o objectivo com 0 intuito de, para (que), a fim de, com o abjectivo com que se produzoqueédescrito de, de forma anteriormenta pois, pois que, visto que, jé que, porque, dedo que, ‘uma vez que, por causa de. .. anunelar uma ideia de causa Indicar ua hipétese ou se, cas0, a menos que, salvo se, excepto se, a no ser condicso que, desde quo, suponda qu .. exprimirum facto dado como —_com certeza, naturalmento, 6 evidente que, certamente, certo sem diivida que... .-evidenciarideias alternatives _fosse...fosse, ou |... ou), ora... ora, quer... quer. 2. Coesao temporal A coesao temporal é conferida pela sequencializagéo dos enunciados de acordo com uma logica temporal, através de: + adverbios/expressoes adverbiais Agora estou ocupado. Mais tarde passo por tua casa ‘ grupos nominais @ preposicionais com valor temporal Choveu toda a noite. Fiquei acordada até as trés horas. + correlagdo entre tempos verbais, Ele jé tinha preparado o pequeno-almoco quando ela acordou. 3. Coesao lexical A coesio lexical obtém-se através: @)ae repaid mesma peeve 2 longo de um text, Bre comprow um 10, Mais tarde soube que aquele livro tinha sido premiado. ja substitul de sentido™ 10 de uma palavra por outras que mantém com a primeira rolagdes ¢ por sinonimia: Os ratos tém grandes ninhadas - oito crias 6 bastante frequente. Os {filhotes nascem num ninho que os mantém quentes. ¢ por antonimia: A Rita ndo disse a verdad. A histéria que contou nfo passa de uma + por hiperonimia/hiponi ia: Um veiculo de duas rodas apareceu abandonado. Pro- cura-se 0 dono daquela bicicleta. (hiperénimothipanimo}; par lusam as suas poderosas pernas para os defender desses felinos. (hipénimos/hiporé: 0s filhotes da girata s um alvo facil para ledes, jos e panteras, mas as mes ‘* por holonimia/meronimia: Depois das obras a minha casa ficou muito mais bonita. A sala e 0 quarto, entdo, estio fant isticos! (holénimo/merénimos ~ neste exemplo, © termo “casa” 6 retomado nas suas partes constitutives: “quarto” @ “sala") (oye a ee et para a mesma entidade ncia, isto 6, um conjunto de te nosiexpressdes que remetem ¢ Anafora (através do uso de pronomes, advérbios, etc.) E na bolsa que o canguru transporta os seus bebés. Nela as crias alimentam-se de leite. E também ai que se refugiam quando se assustam ou precisam de descansar Repara que, no exemplo, para o antecedente “na bolsa” temos dois termos anaforicos: “Nela” e “ai”. Estes dois termos s6 so interpretaveis por referéncia 4 expressao “na bolsa”. Os trés elementos sublinhados constituem uma cadeia de referéncia porque remetem para a mesma entidade. + Catafora Atenta, agora, no seguinte exemplo: © empregado velo pe guntar-Ihe se o jantar néo estava bom. E respondeu que sim & comeu umas garfadas com dificuldade. Depois, Jo pagou e saiu, Neste caso, em que o antecedente de referéncia ("Jodo") vem depois dos termos anaféricos ("/he” e “Ele”), falamos de catafora. + Elipse * Gabriel era um homem de aproximadamente quarenta anos. [Gabriel] Tinka feides grosseiras, [tinha] um nariz largo, [tinha] lébios proeminentes. (Gabriel) Ria-se alto € (Gabviel] falava sem parai © contetido dos parénteses rectos nao esta expresso no texto. Suprimiram-se esses elementos (termos anaféricos) pois aparecem repetidamente ¢ sao facil mente identificaveis. € a este processo que damos o nome de elipse. ¢ Co-referéncia nao anaférica A Rita é uma grande desportista. Imagi 1a que a minha neta vai aos Jogos Olimpicos ‘As expressées “A Rita” e “a minha neta” identificam a mesma entidade, sem que nenhuma delas funcione como termo anaférico. A interpretacao dos dois termos como remetendo para o mesmo referente exige que os interlocutores partilhem ‘esse conhecimento (isto é, que 0 interlocutor saiba que o locutor tem uma neta que se chama Rita). Os deicticos Para que o discurso tenha eoeréncia, um dos factores determinantes é o da sua ade- quagao a uma situagao de comunicagao (contexto situacional) Os dois elementos envolvides na produgdo de qualquer enunciado - locutor e inter locutor ~ inserem-se num tempo e num espaco determinados e partilham (ou nao) de um universo de referéncia - 0 mundo extralinguistico: Voltarei Id amanha para c nprar aquilo que tusabes. E a partir do triangulo ~ eu/aqui/agora ~ que se estabelece um depois (“amanha"), num determinado lugar ("lé") em relagdo a um determinado universo de referéncia partilhado pelo interlocutor (Yaquilo que tu sabes”), 0s deicticos - do grego deixis ("mostragdo”} ~ sao elementos linguisticos que, no tendo um valor referencial proprio, permitem situar 0 enunciado em relagao a um “tema. a um espago, aos sujeitos @ as circunstancias diversas da comunicagéo, confo- rindo, essim, cooréncia ao texto pT ad Piaa peer O Len lias a) ee ee ce Rofore o estatuto de Refere 2 localizag3o no Diz respeito & utilizagao do participante num acto de fala espago relativamente ao ‘momento da enunciac8o (EUTU - pantcipante; ‘AQUI enunciativo. Os (AGORA) como marco de LE - ndo-participante). deicticos espaciais referencia para a localizagso. determinam a relagio de tempo é de natureza pproximidade maior ou deictica: presente, passado & ‘menor relativamente a0 futuro néo so nogbes lugar ocupado pelo locutor. _absolutas, sdo relativas 20 ‘momento da enunciagSo. Deletioos pessoais: icos espa Doieticos temporais: ‘s pronomes pessoais ‘+ pronomes.e determinantes + advérbios e expressées: ‘= pronomes e determinantes _demonstrativos ‘com valor temporal possessivos. + advérbios com valor + tempos verbs ‘+ desinéncias verbais de locativo + adjectivos (actual, pessoa . ‘s verbos de movimento / contempardneo, futuro...) ‘¢ vocativos localizagéo (ir vir trazer, + alguns nomes (véspera...) leva) ‘Quadro organizado tendo por base “Denis pragma linguistic”, de Fernanda rene Fonseca (1900), in invodugo & Linguistica Gara e Portuguesa, 7g. do eabet Hub Fri ali, Caminho '¢Disondrio Termiologice para consulta em linha, DGIDC. 2008, Directamente rela: nado com a deixis pessoal, distinguimos a deixis social, que diz respeito a0 uso das formas de tratamento™, que marcam as relagoes de proximidade ou de distancia entre os interlocutores: —tratamento por “tu" (Tu chegas sempre atrasado.) ~tratamento por “vocé" (Vacs foi muito inconvenientel; = tratamento na 3." pessoa (O senhor /A senhora deseja mais alguma coisa?) = vocativos (6 meu amor, minha senhore, senhor director Ha ainda a referir a deixis textual, que demerca e organiza 0 tempo e 0 espago do proprio texto (oral ou escrito): a tese antes exposta; como ficou dito no capitulo ante: rior; como se demonstrou; veremos seguidamente; isso que disseste.

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