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Antes de tudo, & necessirio que os poderes do Estado tratathem por instruir a massa do povo, con. vergindo todos os esforgas, de quem manda ensinar € de quem ensinu, para que se desenvolvam as ideias Ga nagio, a fim de que els se saiba governar por si, € 8e | ssa governar bem Hilo Pidlieg, dlseurs0 pronun: e 1866 D. ANTONIO DA COSTA | 1870 Pree na a pogrsin caminaram a gerager toa reels de propre. Desigéies son Hé o facto latente, que trabalha no recéndito, como a raiz da drvore no segredo da terra, e 0 facto luminoso, que vai assinalando as épocas da transformagio social como verdadeiros marcos da humanidade. Esta dupla operagio tem por agente prineipal o tempo, que é o primeiro revoluciondrio do mundo ‘Na sucesso dos factos desempenha o século XIX um papel importante. A sociedade velha recua espantada iante da sociedade nova, que a palmo e palmo lhe vi @isputando terreno. Uma defronte da outra, como dois atletas, a olharem-se e medirem-se, tendo a cons- cigneia do mituo poder ¢ avaliando-se pela ideia fun- damental de que viviam; depois, detiveram-se descon- fiadas; no fim, travaram-se de terrivel combate, uma em nome da tradigio e do interesse, a outra procla- mando @ verdade ¢ o justo; uma & voz da autoridade 209 A tostitteto ‘a ntrug Palka trabalho due subjugava, a outra em nome da universalidade que anseia por ser lvre e que tem direito de o ser, A pugna persistiu. Néo se aniquilam em anos inte- esses que séculos criaram, 8 da natureza das grandes instituigdes custarem lagrimas e sangue. A vida humana conta por mithées de fillios milhdes de dores maternas Constituigéo que nfo seja baptizada em sangue é cons, Mtuigio que ndo vinga, a sociedade moderna compro © seu nascimento a0 barbaro por terga parle dos hati tantes do mundo, ¢ 0 custo de cada opressor da human, nidade est superior ao célculo possivel. ‘Triste lei, mas lei da liberdade, direi melhor, tei de tirania. que sufoca a liberdade. Continuari, pois, 0 combate e conquanto possam inspirar veneragio as eis do velhe atleta, as turbas tém os olhos pregados no rijo brago do nove comandante, ¢ para ele serio as béncdos do future, Dentre as instituigées que a ideia moderna, 0 nove atleta, esté disputando ao seu contendor, é a instrugio Primdria uma das principais. Diante da religito do amor, o homem o irmao do homem, porque todos sic livres, sem 0 que deixariam de poder elevar-se aos altos Gestinos @ que a civilizagio os convida. Concebe-se que © absolutismo & ignorante, ¢ 56 ignorante se conccbe A liberdade, essa no se pode conceher sendo inte. ligente, Livre por natureza, o homem earece de uma ins- truco que the desenvolva o espirito, de uma educagao ue the forme a alma, ¢ de um trabalho que Ihe seje vida, como eneargo que a providéncia lhe imps e como thulo de gloria com que the enobrece 0 encargo. Ensino, edueagio, trabalho, estas trés instituigdes constituen, 4 instrugio de todos, a instrugio nacional, ¢ nas mios Ga instrugio nacional estt 2 vida da nagio, como mn 8 instrugio universal esté a existéncia da humanidade 210 Analisemos 0 homem perante 0 prinetpio eterno, perante si mesmo, perante a familia, perante a socie. Gade, perante a organizagio politica, perante 0 tra. batho, perante o género humano, ¢, avaliando-o & luz dos scus vastos destinos, vejamos se devemos continuar 4 consideri-lo primo-com-irmio do bruto, ou 0 filho a razio, a criatura privilegiada a quem foi concedido © reino da terra. Na ideia religiosa esti o germe da ideia moral A instrugio, elevando o espirito humano até a divin. dade, fazendo-a admirar, pelas maravithas da criagio, no poema universal do grande e do belo, ensina ao hhomem as nogdes do bem e do justo, Considerado em si, tem 0 homem por missio indi- vidual desenvolver as faculdades do proprio espirito A natureza nao thas eriou para gue o mais forte ou © mais sagaz Ihas sufocasse. No empenho de as desen- volver vai o destino que o trouxe ao mundo, e deixa de o preencher se a instrugio Ihe nio serve de instru- mento para o conseguir. O ignorante 6 um vidente, no & um homem, entrevé-se apenas ao espelho da prépria alma, como o viajante pode, ao atravessar um rio, entrever a sua figura reflectida nas aguas. A ins- trugio eleva o homem pela dignidade pessoal, e, se the desperta instintos, eoloca-Ihe a par deles 0 ‘conhe- cimento da responsabilidade, Na familia enleia-o a triplice relagdo de fitho, esposo e pai, e quem senio a escola o encaminharé na Fealizagao dos deveres em qualquer daquelas condigaes? Fora do lar, abre-se-the 2 vida civil. A instrugao do povo estreita o bom comércio da viinhanga, der- Tama nos centros da populagio o pensamento do bein, semeia os prineipios da ordem e da virtude, ¢, se nio consegue atingir o mal, pugna com ele ¢ enfraquece-o, B facto averiguado que a instrugio diminui os erimes © restringe a miséria. A cadeia, o desterro, a matri- ula da prostituigio, a casa correctiva, todo esse com. eu Instruct 6 soclabildade Potticn e'Instevede ‘cont plexo de instituigées que © hébito nos faz considerar modelos civilizadores da organizagio social e que sao Unicamente 0 exemplo vive do vagaroso caminhar da humanidade, eneontrard na escola um elemente vigoroso Para a sua diminuigio (*). (...) Do homem considerado nas suas relagdes naturais ¢ civis caminhemos para a sociedade politica. Além do individu esté 0 cidadio e a pitria, Além da pitria esta 0 género humano e 0 mundo. No se organizon a sociedade politica para destruir 0s direitos naturais do homem: foi, pelo contrario, para the assegurar a maior soma de garantias, que, alias, the seriam impossiveis, A sociedade politica do século XIX bascia-se na liberdade. A liberdade chaina 08 cidadios todos a tomar parte na vida social. A poli- tica nacional tem por consequéncia indispensivel a ins. truco nacional, Portugal é hoje win povo livre. U pensamento, feliz- mente, deixou de estar escravizado entre nés. A palavra Pode-nos sair da consciéncia, franca de porte. Expo- mos as nossas opinides, escrevemos as nossas ideias escolhemos os representantes dos nossos interesses. Em to verdes anos povo nenhum mereceu tanto a liber, Gade como 0 povo portugués, Deve-o a branda indole do seu cardcter © & bondade do sew coragio. Podemos ser livres, porque sabemos ser homens. Mas no basta s6 0 amor & liberdade. Nos governos livres, 0 povo todo € chamado a realizar por si proprio 8 vida politica. B-Ihe portanto indispensavel conhecd-la € realizé-la, Sem a instrugio do povo nio pode haver eldadaos que a executem, ¢, sem cidadies cénscios dos Seus direitos e deveres, a liberdade sera apenas a estatua da formosa deusa. Na pritica do sistema representativo, o direito de eleger é 0 mais importante. Ontem possuimos s6 a elei- Gio indirecta, hoje estamos ja de posse da eleigio 212 Girecta, sufrigio universal hé-de vir amanha. Como é que um povo ignorante pode desempenhar a sagrada missio do voto? A clegibilidade de todos os cargos nacionais, a vida local, a instituigio do jiri, a asso- clagio e todos os prinefpios fundamentais da nova Sociedade, como padem ser compreendidos e executados sem 0 conhecimento do que sia e do que valem? A Gescentralizagio administrativa, este artigo de £8 nos povos civilizados, nunca serd realidade entre nos sem a fazerem preceder da instrugao popular. Podeis deeretar no papel quantas reformas ao codigo dese. Jardes importar do estrangeiro; verdadeira descentra. lizagio nacional nao a tereis nunca sem que a educagao faca compreender as classes locais a utilidade dos ser~ vigos piiblicos, para que os vigiem, Ihes déem vigor, 0s tomem a peito como sendo de cada um os negdcios Ga comunidade, Onde ha-de estar a vida de todos, é indispenadvet que esteja a instrugto de todos (*). (_..) Reconhegamos com tristeza que a generalidade da nagio desconhece os seus direitos © os seus deveres, io toma interesse nos negécios gerais nem locis, ¢ gue o acto mais grave do sistema, longe de ser filho do entusiasmo popular que nasce da convicgao, é desam- Parado pela indiferenca ou desempenhado frouxamente sob a dependéncia do interesse, Esta situagio s6 pode encontrar remédio na instrugio geral. A liberdade pela liverdade, em vez da liberdade pela ignorancia. Quando deixardo os povos de ser arrebanhados? Quando poderio conquistar a conseiéneia de si pZ6prios € descobrir 0 mistério da sua forga moral? Ufanamo- ~nos de ter abolido a eseravidio na Europa, e nfo vemos Que deixamos a mais negra das escraviddes, n escra. vidio da ignordncia? Quereis saber o segredo por que prepondera a sibia Alemanha? a escola alema; a feliz Suiga? & a escola suiga; a invencivel América inglesa? é a escola ameri- cana. Cousa para entristeter é vermos advogar sémente elas f6rmulas do sufragio universal e da repiblica a 21s Ste A nagto Aesconhece os A conseitucta tmistera "aa sun targa ‘ara A tnstrugae fopalae ‘tm expieat ‘inancsive A tnstrugho ea ttaneta ‘pale nobre eausa da liberdade, como se as simples f6rmulas pudessem dar um espirito & sociedade sem se basearem hha educagio nacional. A repiibliea ignorante proclama-se hum dia © morre no dia seguinte. Nao é uma aurora, ‘mas uma noite, Da-vos um Juarez ou umn Lopes, sempre um despotisimo de tiranos ou de velhacos. Quereis a liberdade consubstanciada no sangue nacional? A liber- dade que néo depende de formulas para viver, nem receia fbrmulas que a inatem? Universalizai a instrucao, Ponde or pedestal das instituigdes, no a escola mentiross- mente prometida, mas a escola verdadeiramene reali- zada, ¢ 86 esta viré alumiar 0 horizonte da nagio e da bupmnidade. (...) A instrugio popular cria um grande capita? finan- ceiro no desenvolvimento dos espiritos, Quanto mais apurades forem os conhecimentos dos operitrios e dos trabathadores, mais perfeitos, e por isso mais rendosos, sero os proutus industriais e agricolas (*). O salirio dos operirios, o lucro dos capitalistas e a presperidade do pais crescem na proporcao em que se aumente a cul- tura das inteligéncias ¢ a methoria do trabalho indi- vidual, Universalizar a instrugio é multiplicar a riqueza nacional (*). Meditemos sobre a actualidade. Os direitos de importagdo nas pautas diminuem sucessivaimente. 0 sis- tema protector exala wn suspiro cada dia, e de dia para dia, portanto, eresce a liberdade do comércio, Se @ nossa instrugéo geral nio vier promover 0 aperfei- Goamento do trabatho, impossivel seria Portugal sus- tentar 2 concorréneia com os poves que tomam a sério & questio econémica. Toda a despesa que o estado em- preender com a instrugio geral é nacionalmente pro- utiva, Ga Disse a0 génio do homem o espirito do Criador: «Ai tendes 0 mundo sob o vosso dominio, a terra, as Aguas, oar. Cada ciéncia ¢ um segredo do grande segredo uni. 21 versal; mas descobri-o vés, 6 género humano, des- cobri-o © aplicai-o. Dou-vos por encargo 0 combate ¢ por armas a inteligéncia. Das trevas eaminhai para a luz. Todos podeis ser tudo, merecendo-0; porque nio crio homens, erio a humanidade.» Foi este 0 mandato providencial. Organizaram-se os povos, rompeu da escuridao a filosofia e a curiosidade do enigma tornou-se para a humanidade uma conse- quéncia do seu destino. Que destino sera este em cuja demanda correm as geragées e que nao chegam a encontrar? E a lei eterna do progresso que vai legando a cada um dos séeulos um fruto maduro, deixando-the sempre entrever novos frutos para descobrir. © mundo é pois de todos os homens, e nao do homem, porque nao ha uma individualidade sequer que nao seja um elementa do grande todo. O mundo € = terra deserta, o povoado, 0 mar, a fibrica, 0 palacio, a choupana dando-se as mios benevolentes. Se nio é isto ainda no facto, 6 isto no pensamento eriador, € hé-de vir a ser isto, ou a humanidade uma mentire. Nio hi um homem que seja indiferente, por mais infimo que se afigure ao nosso erro ou & nossa soberba: esse mesmo infimo tem um direito, uma esperanga uma missio. A instrugdo universal rebenta de todo este sistema universal. O selvagem servitia para a compa- ragio com o civilizado, 0 louco para o desenvolvimento da ciéncia, mesmo quando ao selvagem se nao pudesse dar a civilizagéo, nem juizo ao doido. A cada homem © seu papel na grande representagio do mundo social; © drama universal nfo tem comparagio, e nfo 0 ter é em principio a lei da providéneia, e de facto hide ser a conquista sucessiva do progress humano resol- vida pelo ensino popular. Sio diversos os destinos, dir-se-A, Nao ha divida que sio. A natureza criou a desigualdade dos talentos, Gas aptiddes e dos servigos, Nesta mesma desigualdade 216 Ve mandate providenclat 08 dean ‘an Ienorancin Cciaadto ae umnidade Os ‘interesses tocals e 08 ‘retos reside a harmonia universal; mas todos os destinos sao igualmente sagrados © nobres, porque 0 titulo humano € 8 alma, Cada homem representa um direito. Foi a igmordncia que fez da mulher histérica uma maquina de geragio, da crianga defeituosa um fardo initil, do Preto uma fera acorrentada, e do ristico um autémato Tural. Mas a ignorancia no decorrer dos séculos encon- trou duas forgas que hio-de subjugé-la: a razo de Deus € a razio do homem, que so a mesma razzo. Bem Sei que 0 pobre mineiro nao é o rico empresario, o mari- mheiro no @ 0 almirante, nem o campénio humilde é © grande agricultor: porém, de um cabo desconhecido formou-se Napoleio I. A cada um, portanto, a possi- bilidade de desenvolver © seu espirito ¢ de melhorar o ‘seu destino, © género humano é solidario em cada nagio ¢ em cada individuo. Quando Vietor Hugo, o grande pocta, defendendo no tribunal a liberdade Ge representar um dos seus dramas, suspenso por ordem da censura, disse: «Toda a Franga esté ferida no meu direitos, nao disse mnieamente uma verdade francesa, disse também uma verdade universal, porque todo © homem, o mais infimo dos homens, € um cidadao da humanidade. A Inman Gade ¢ solidiria, porque € uma; e é uma, porque é filha do mesmo principio © baseadn nas mesmas leis Quando deixario os poderes do mundo de invocar 05 sinteresses locaiss em vez de proclamar os «direitos universaiss? Quando amanheceré Aquele Dia que, des. pedagando as fronteiras dos povos, pega contas aos carcereiros do espirito das geragdes’ que atravessaram este mundo na profunda escuridio das trevas? «Conhe- ce-te a ti mesmo», era a sentenga escrita sobre o portal do grande templo da Grécia, Pois nfo era uma simples sentenga, era a luva da ironia que a civilizagio paga arremessava aos séculos futuros, que, chamando-ihe barbara, ainda nao aceitaram o consetho, porque ainda do ensinaram ao homem a conhecer-se. 216 Ha um erro na questo do ensino primirio. erro fatal que enubla os othos de inteligéncias distintas: € medirem muitos a utilidade da instrugio popular pelo cireulo acanhado da localidade e pelo progresso individual que se thes afigura quase imperceptivel, em ver de acompanharem a questio no cireulo imenso da universidade humana, ‘Nao avaliemos isoladamente o desenvolvimento inte: lectual do riistico no seu campo obscuro, ou 0 do oper rio ao canto da sua fabrica humilde, Avatiemos pric meiramente a suposta insignificdncia desse pequeno progresso pelo conjunto das individualidades da paré- quia; depois, vejamos esta unidade paroquial de maior Progresso multiplicada pelas outras wnidades paro- quiais do coneelio; depois, as unidades concelhias pro- Guzindo-nos 0 progresso intelectual de um distrito; depois, a unidade distrital pelas dos outros distritos. Vejamos que teremos J. Sigamos a operayiu univer: sal. Multipliquemos ainda esta soma de progresso moral © inteligente, esta grande unidade nacional por todas 5 outras nagdes onde se tenha realizado, em virtude a instrugio local, idéntica ordem de factos. Ai temos 4 Europa; depois, ali teremos © mundo. Nao para nisto. Multipliquemos também pelos séculos 0 progresso Gaguele ristico, progresso ji elevado as proporgies que descrevi, e entio veremos o prodigio de inteligéncia © de aperfeigoamento acumulado pela instrugo indi- vidual, convertids em universal pelos esforgos de cada ovo. (...) Mas tenhamos fé, porque, se a instrugio popular encontra ainda vozes a disputar-Ihe a valie social, vé abrirem-the os bragos a religiio, a filosofia, a liber- dade, a iniciativa particular, todos os elementos que Tepresentam uma forca na sociedade. Pode cada um destes elementos querer fazer da eseota um principio especial da sua especial influéncia, mas isto prova ainda mais a favor da escola como institwigao. Prova que ela € um grande poder positive, amr © partieatar ee universat A escola hi-de vencer. Milhdes de criatures has multiplicadas umas poucas de vezes em cada século nfo sio hunos de Atila nenbum, € reinado da instru. cio hide dar razio ao género humano, generalizando © ensino, Dissipar-se-io as trevas sem que a ordem se perturbe, antes sendo a instrugho gue alumie a paz entre os homens baseando-se no prinefpio religioso, na Niberdade, no amor de todos. (...) A importineia de uma nao avalia-se pelas suas escolas. Agita hoje cada povo a questo que Ihe é vital, A Gra-Bretanha resolve a questio da igreje irlandesa, que @ uma questéo de propriedade. A Franga funda sobre o terceiro partido a liberdade de que tinha sau dades. A Espanha substitui a um trono corrupto a emaneipagio pablica. A Austria pede de joelhos ao Progresso que a salve dos desastres de Sadowa. A Hun- via obtém & forga de firmeza a autonomin desejade, Cuba rega com sangue o gérmen da sua independéncia A Polénia, depois de haver inundado dele a sua escra. vidio, protesta com demonstragies sucessivas contra 0 despotism dos césares cristios. E nés? E a nossa guestdo fundamental? Como temos nés resoivido a ques- tao da edueagio e instrugio portuguesa? Se a perda de alguns meses na educagio de um povo € um detriment moral da parte da sociedade, a demora de muitos anos pode acabar com a independéncia do mesmo povo, porque As populagdes escravas élhes cite Jazer na ignordncia durante séewlos, mas nos povos livres faltos de instrucao no hd pureza de costumes, erfeigdo de trabalho, nem progresso vivificador. Ha a civilizagao, sim, mas desnorteada como nau A meres dos temporais. Britham primeiramente para esse povo livre, mas Geseducado, as recordagées simpaticas de um passado gloricso ja envolvido na melaneolia, prenincio do en. fraquecimento. Medite consigo uma nagdo quando pres. sentir que se extasia mais com os reflexos do seu pas- 218 que diante das esperangas do seu desenvolvi- mento futuro. Virgilio e Cam@es cantaram os grandes povos quando os grandes povos se deixavam morrer. A Bneida foi um necrolégio sublime, como os Lusiadas lum epitétio majestoso, Dois obeliscos regados com Migrimas, Depois dos primeiros estremecimentos, vern nas letras 0 gosto da forma pretendendo encher o vacuo do pensamento, na vida intima as seduedes do lio afrouxando os lagos da familia, na vida piblica 0 egoismo exclusive tomando 0 lugar das ambigdes nobres, na vida social o enfraquecimento das crengas debilitando as for- as morais e civis da comunidade. os partidos das ideias assentadas sucedem os corrillos dos interesses acanha- dos, e aos préprios corrilhos (julgados j& superabun- dantes) sucede a realeza individual. Em vez de cada uum guardar a fé aos seus arraiais, todos os arraiais so comuns e as causas estio A mereé da generosidade inimiga. Corteja-se a soberania do povo para se Ihe pedirem mais sacrificios, a liberdade anda a flor dos libios dos sedutores. As carreiras, em grande parte, nfo se devendo ao estudo, mas uo favor, nfo excitan: a0 estimulo nem representam a capacidade especial. © rebaixamento da dignidade propria convida a cor Tupgio a alastrar-se. Ja se nfo cura do caminho direito, 0s atalhos podem deixar feridos os caminhantes, ma conduzem-nos efectivamente mais depressa aos pontos desejados. Nao se quer ou nio se pode j& conduair a nau em demanda de porto seguro onde se realizem os consertos com solidez; apenas se vio calafetando os rombos, julgando-se salvamento de séculos o que nio é sendo paliativo de instantes. ‘Todos se queixam de todos, ej ninguém tem culpa. Quando qualquer nacao (di-lo a Histéria) se vai apro- ximando de um tal precipicio, anda inguieta, obedece a uma espécie de fatalidade, sente-se abatida, inerte, tomada de indiferentismo, sem saber ainda que esté Goente, quando alias Ihe corre jé nas veias o sangue 219 corrompido, O nome de toda esta moléstia é a deca Géncia. Depois agravam-se mais os sintomas, jogam-s¢ ‘mais os dados, reparte-se mais a tinica, as faces da Justica empalidecem, um nevoeiro geral de desalento vai cinzentando os espiritos, e o sorriso que em todos se entrevé nfio é se bem 0 observarem, sendo uma contraegio da dor oculta Depois ha um estremecimento solene, Os males, que 08 mais previstos tinham pressentido, patenteiam-se, ¢ todos os coragées se unificam em amor na presenga a desgraga comum que deixou de ser um mistério, # © subline sentimento que acordou. Depois, por efeite 6 qualquer incidente, completa-se a catastrofe: desa- pareceu uma nacionalidade. Depois, um martirio que ura séculos, saudades que se nio apagam nunca, e uina pagina escrita com tigrimas no. livro da. histéria humana, Mas © perigo nos povos decadentes ainda nfo é morte. Grandes esforgos de unit ¢ de vontade podem salvar as nacionalidades doentias, Porque esté desanimada a nagio, tendo conquistado ainda ontem a liberdade, esse filtro maravilhoso que faz rejuveneseer um povo? Porqué? Porque nio baseamos a liberdade nacional ha instrugo nacional, porque eriamos 0 espirito da patria nova, sem the criarmos © corpo, e 0 grande esp- Fito vagueia brilhante, mas sem ter ainda encarnado, Amigos da instrugio pablica, lutai a favor da escola priméria, Nao ha liberdade nacional sem instrugto na ional Lutai. Cada escola que fundardes sio muitas alunas gue restituis 4 luz, muitas familias que arrancais & & fome. Cada escola é um capital de inteligéncia, de ‘moralidade e de trabalho com que dotais a nagio. Riem-se de vés? Perguntam-vos se no éramos uma patria quando jaziamos em trevas? Lutai sempre. 220 ‘Tem-se ido sucessivamente amontoando projectos sobre projectos, leis sobre leis, portarias sobre porta. ring, e, em ver de se administrar priticamente a instr. gio popular, tem-se feito dela um reinado de expe. diente? Um eastelo de cartas arquitectado na areia? Continual a lutar, No vos acovarde o desinimo, apéstolos da grande ideia, Caminhai afoitamente por entre as indiferencas © 08 sorrisos. A imensa verdade li esté coroada no futuro. Latai em eruzada resoluta contra o inimigo eomum, Nao hi trés flagelos, ha quatro, e 0 quarto, o da igno- Fancia, resume-os a todos. Lutai, amigos da instrugio nacional, lutai. Hoje, sois a minoria que tem a razio; amanha, sereis o poder que tem a forga. A Instrugio Nacional (1870), tm FERREIRA, ACberle Crap, seb. « nets) - i 2 12, XK porliguds - Wee. Zither, Tas FIle Ptbeakirn de Crain ~ Gulls dh Trveshyogae Pelophra , 1449 ger

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