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creo ccna CIVILIDADE DEDICADO A JUVENTUDE POR Joay Maria* Baptista Ferreira Ew-proprictario ¢ director do Collegio de Nossa Senhora da Conceicéo — Lisho 1.4 EDICAO~—18s97 ee LISBOA TYPOGRAPHIA UNIVERSAL (mprensa da Casa Real) 110, Rus vo Dianto pe Novicu: s, 110 1897 PARTE IT EDucCAcAo orvin CAPITULO IIL Art. 8.° Bin tidade, € a maneira unica que nos habilita a pertencermos~ 4 boa sociedide que moralisa ¢ instrue. A ma sociedade s6 destee ralisa e destroe. 2.° O homem civilisado deve saber-se con- duzir na sociedade, Para bem. poder tratar, conforme a sua Posic¢ao, com o seu semilhan. Feito Ae 8 Sociedade se compse de in. ‘viduos collocados em diversas Stef af Os: on Posigdes so- 7 3° O homem deve, no trato'do mundo, sa- er regular as suas “acces por forma, “que goze da opinido de homem christio. A hoses, tidade, .a modestia, a caridade, a jolidez, a urbanidade, e a cortezia, sd os distinctivos do homem educado, 4° O homem modesto deve conservar uma compostura exterior tal, que sé Por si indi- Epucacio Civit, 23 SSS que, o que péde ser a sua alma. Uma cousa geralmente, indica a outra. 5.° Pelas nossas accdes, obras e palavras, nés alcancaremos 0 titulo de delicado, saindo assim do vulgo, que desconhece estes princi- ios. a 6.° A urbanidade no homem classifica-o de civil e delicado, sabendo usar de boas ma- neiras. Regras ou deveres da civilidade Art. 9.° Eis as cousas. que precisaes ter sempré bem presente, porque nao as deveis praticar, pois s4o reprovadas pela civilidade, a saber: 1.° Fallar ou mostrar aos outros cousas que Ihe sejam nocivas, principalmente 4 meza. 2.° Cuspir para o chao ou da janella para a Tua, na Egreja, nas salas, etc. Deveis trazer lenco onde se deve cuspir. 3.5 Assoar com estrondo, aos dedos, vér o que sae do nariz, metter os dedos no nariz, ete.," etc, “--4.°. Limpar com os pés, 0 que por acaso deite'da "bocca ou do nariz, bem como cus- pir para longe; salpicar o fato ou o rosto da Pessoa, quando estejamos. conversande; na oc- casido de espirrar, etc. ao 5.° Tossir com estrondo, é “inconimodativo para-todos. O arrotar (entre nés os-portugué- zes). é uma grosseria. 6.° Fazer com os pés ov com.as-indos; 6 que se costuma fazer com as baquetas n’um tambor. Dar estallos com os dedos. |... Compenpio bE Civitipape 7.° Cortar as unhas deante de Pessoas ex- tranhas. No quarto ou quando sés, é a melhor occasiéo de o fazer. Deante de pessoas inti. mas podem cortar-se, pedindo licenca. As unhas devem andar sempre muito bem lim. pas. 8° Compér 0 cabello com_os dedos, ete. 9.° Espreguicar-se, bocejar, levar as maos a parte do corpo que nao esteja descoberta, assobiar, ete. to." Mexer no que estiver na casa alheia, mesmo que seja familia da jintimidade ou amisade; ver 0 que outro escreve; o que estd na meza ou banca do trabalho;o nao res- “ponder ds cartas que receberdes é a maior” falta de civilidade que podeis commetter e que pode trazer-vos mais tarde serias consequen. cias. 11° Fallar quando nfo se é perguntado, es: tando pessoas mais velhas conversando, etc, 12.° Desmentir os paes ou superiores, quando digam alguma cousa que julgueis nao ser -ver- dadeiro e quando mesmo o nao seja, etc. 13.° Escarnecer dos defeitos physicos dos nossos semelhantes, Trocar de qualquer pes. soa, quando embriagada, etc. 14.” Passar pelo meio das pessoas’ quando estejam conversando, etc. > 15.° Fazer barulho durante um espectaculo, interrompendo-o; dirigir a palavra aos acto. res, etc. Art. 10.° O que deveis fazer em qualquer lo- Bar que vos encontreis. 1.° Nao consentireis que outro levante qual- quer objecto. que vos caia ao chéo, mas sereis Epucacio Civ 25 © primeiro a fazel-o quando isso aconteca a outra pessoa, principalmente sendo senhora. 2.° Com as senhoras deveis ter sempre o maximo 3.° Se alguma vez acontecer uma senhora ou algum homem de edade, pedir o vosso braco ‘por necessidade, deveis acceder logo da melhor vontade. 4° Nunca deixeis de, com o maior respei- Tv, comprimentar as pessoas que tiverem sido vossos superiores ou mestres, muito embora nao continueis as vossas relacGes com ellas. E: uma das cousas, para vés, mais agradaveis e que melhor conceito vos trard ao vosso nome. 5.° Quando na mesma sala de espectaculo éstiver, alguma familia da vossa amisade ou. relacdes,- deveis no intervallo ir comprimen- tal-a. - 6.° Muitas cousas mais tendes a fazer para ser bem educados, mas no decorrer d'este com- pendio, ir-vos-hei dizendo, conforme os. diver- os titulos de. que vamos tratar. 20 CoMPENDIO DE CivintpaDE Sanna Da limpeza Art: 11.° O aceio do corpo é indispensavel a saude, mas ndo é s6 da limpeza do corpo que depende a boa hygiene. E’ egualmente pie- cisa nas poupass O corpo lavado, e com a roupa Suja, equivale’a vestir camisa engommada com collarinho sujo. Por isso vos Tecommendo: 1° Deveis ao levantar-vos tomar banho3 (se estiverdes n’esse costume) depois de bem la- vado (chamo bem lavado, porque muitos me. ninos esquecem-se que teem orelhas, pescoco € cabeca) deveis vestir-vos, comecando pela camisola, piugas, ceroulas, camisa, caleas, gra- vata, collete e casaco, etc., etc. 2.° As botas ou sapatos deveis calcal-os, os de sair depois das calcas vestidas, etc, 3.° O fato de ‘cér ‘nunca se véste sem sér priineito bem escovado e limpo d'alguma no. doa. E’ conveniente, meus meninos, que vos acostumeis a dispensar o creado, porque dessa forma ireis aprendendo, nfo sé a fazer as cou- Sas, como a saber mandal-as fazer mais tarde. 4.° Antes das refeicdes deveis lavar as-maos e depois d’ellas as maos e a bocca. 5.’ E’ muito desagradavel estar junto d’uma Pessoa, cujo halito nos indica 0 que comeu, 6.° Os dentes lavam-se de manha e ‘durante © dia as vezes que forem necessarias, princi- palmente depois das refei¢des. Da limpeza da occa resente-se o estomago. 7.° Quando visitardes um doente, tende cui- dado em lavar as mos antes de as estenderdes a alguem, porque sem quererdes, podeis trans- 9 exagero € preju ay Epucacho Civ1 27 OSS? mittir-lhe o germen da doenca, se principal. - mente fér contagiosa, 8.° Nao deixeis, no entanto de ter toda a ca- tidade para com os enfermos. S6 morre quem tem de morrer. wae 9.° Lembrae-vos que o tempo & dinheiro, ‘(como dizem os inglezes) e por isso nao o des- perdiceis em preparativos de coquetismo. Um.menino deve costumar-se a ser desem- baracado em tudo, principalmente quando se trata do seu aceio e vestuario, etc. Do vestuario Art. 12.° Algumas’ palavras indispensaveis sobre este artigo vos vou dizer : a ° Nd vos aconselho a que sejaés os primeiros a usar a moda. E’ no entanto con- Veniente que néo queiraes parecer sebastia- nistas. . 2.° Deveis adoptar sempre um meio termo entre a moda. que passa, e a que vem. Em tudo dicial. . esti-vos sempre conforme os meios que tiverdes, ¢ nunca deveis ser exigentes com vos- Sos paes, nem questionar porque um vosso ir- mo tem um fato novo; e vés nao. Motivos que | nfo estaes ao alcance ainda de .perceber, sao; * muitas yezes causa de vossos paes néo cum-.” '<{ prirem com essa egualdade. Tende. confianc n’elles e esperae, porque um pae nunca deixa de ser-recto para com os filhos. : 4.° Lembro-vos que o' fato Preto ¢ a mais de- cente, mas com isto ndo quero dizer que‘ useis. ‘sempre essa cér; escelhei no entanto cores:que ..). Slee 32 Compenpio bE CiviLipaDE. $e 4.° Quando a doenca vos obrigar a ficar na cama, tende o maximo cuidado em guardar a compostura. 5.° Deveis usar como systema indispensavel da educacéo, 0 ndo vos recolherdes a0 vosso quarto, sem pedir licenca aos vossos paes ou superiores; se houver visitas, despedir-vos-heis d'ellas e de vossos paes e familia, beijando a mao dquelles. 6.° Mais uma vez vos recommendo qué apro- veiteis 0 tempo, pois que elle passa e nao volta. O costume de levantar cedo,-além de hygienico é lucrative, porque quem mitito dorme pouco aprende. 7.° A melhor hora para estudar ou para tra- balhos iritellectuaes, é a hora da manha, antes do almoco. 8° Quando no mesmo quarto durma mais alguma pessoa, deveis evitar quanto possivel incommodal-a, porque miuitas vezes o desper- tar intempestivo. causa um mau estar, além de ser uma falta de delicadeza. ‘ g.° Fazei quanto possivel por terdes 0 vosso quarto no maior aceio, pois é n’elle que’ pas- saes e respiraes uma boa.parte da vossa vid 10.° Depois de vos lavardes e vestirdes, abri a janella para que 0 quarto seja-bem ventilado, As roupas da cama fazei o mesmo logo que vos levanteis. Epucacio Civ 33 Como deveis andar Art. 14.° O modo d’andar varia conforme as nossas occupacées e trabalhos. 1.° Em passeio deveis andar cadenciadamen- te; na vossa vida ordinaria, como um homem que aprecia 0 tempo, sem quc todavia andeis a correr. 2.° Deveis ter todo o cuidado em nao moles- tar as pessoas que encontrardes ; desviae-vos e nfo espereis que os outros se desviem. 3.° Quando encontrardes_senhoras, . evitae molestal-as com a vossa precipitacdo. 4° O systema que deveis adoptar, quando fordes em servico, é ter um passo regular ¢ compassado; assim chegareis a tempo ao lo- gar a que vos destinardes. 5.9 Andar com as maos nos bolsos, é pouco decente e indica que a pessoa é indolente ou mandriona. As maos devem andar descobertas. 6.° As luvas nunca se usam durante o tra- balho; o homem que trabalha, seja qual for o seu.mistér, nunca deve usar luvas, a ndo ser | por doenga. Deixae aos que vivem dos seus rendimentos © encargo de calcar e descalcar luvas, e usar de todas as modas:e garridices; em alguma cousa teem, em que empregar o tempo da ociosidade. 72 A posicéo do corpo; quando andamos, deve ser aprumada, sem que comtudo se ima- gine que uzamos espartilho. Andar com a cabeca inclinada para traz, é Tidiculo. 3 Trazel a pendente, indica muito pensar ou 3 34 ComPenpio DE CrvitibaDE fraqueza no cerebro. Usae o meio termo, e an- dareis bem. 8.° O movimento de bragos, quando anda- mos, deve evitar-se quanto possivel. Os autigos arreeiros usavam fazer um mo- yimento com os bracos, egual ao que faziam com as pernas, mas em sentido transversal. g.° Evitae, quanto possivel, trazer as maos atraz das costas quando estiverdes na presenga de pessoas extranhas: nas salas, na rua, nos passeios, na Egreja, etc., etc. So em passeio ¢ permittido (indevidamente) andar com uma das maos atraz das costas. 1o,° A melhor maneira de conservar os bra- cos quando fallamos a um superior, é tel-os perpendiculares ao corpo, tendo a esquerda apoiada na bengala e a diteita livre para o que for preciso. 11.° Dentro da Egreja usae o: andar mode- rado, porque assim mostrareis o respeito que tendes pela casa de Deus, e pelas pessoas que ali estiverem. . 12.° Em passeio com outras pessoas deveis ter o cuidado de escolher o peior logar, 4 es- querda de todos. Quando saé tres a passear, chegando ao extremo aonde se.yolta, o que vae ao centro passa para o logar do que ia 4 sua direita, o da direita passa para o centro, 0 da. esquerda segue 4 direita dos dois. hegando- ao outro extremo segue-se 0 mesmo systema. Se forem quatro, os dois do cen- tro passam para fora, os de féra pard o cen- tro. Sendo cinco o mesmo que se faz com os tres, com a differenca de que o ultimo da di- reita é que vae occupar o centro. Epucacio Civ. 35 Dos encontros Art. 15.° Eisnos chegados a‘um dos as- sumptos mais melindrosos de tratar na civili- dade, razio por que vos peco attenc&o ao que se segue, como bom principio da vossa educa- cho. 1.° Quando encontrardes na rua qualquer pessoa de elevada posicdo social, como o chefe do Estado ou sua familia; Bispo, ministro, professores, paes, etc., etc., deveis descobrir. vos como signal de respeito e boa educacio. Quando passa o Rei ou sua familia, deveis parar para os cumprimentar, descobrindo-vos @o mesmo tempo que fazeis com a cabeca e o corpo, uma inclinacéo. O mesmo se faz aos Bispos, etc. Nao deveis reparar se vos corres. pondem ou nfo. Actualmente, com a magnifica educacéo que Se ministra 4 mocidade e¢ ao povo, vereis que a maioria das pessoas deixam de cumprir com este grande dever de cortezia, pois imaginam que assim déo a conhecer as’ suas ideias, quando na realidade sé provam, que néo teem educagio ; por isso, seja qual for a vossa opi- nido politica, nunca deixeis vés, de cumprimen- tar essas pessoas, e cumprireis com 0 vosso dever. E’ geralmente desconhecido entre riés, 0 de- ver que temos de cumprimentar a bandeira dos regimentos. Vés, meus meninos, nfo deixeis nunca de vos descobrirdes 4 sua passagem, Ella néo sé € sagrada, como representa a 64 Compenpto pr CrvitiwavE: Epvcacio Civ 6 “<< cuidado nas obsetvacSes que o director, ou a "> ppessoa que presidic, fizér. / Quando por qualquer razo no gosteis da comida, dizei o, francamente, em particular ao director. *) 8° No vosso quarto tereis tudo na melhor “= ordem; se for dormitorio, deveis ter 0 maximo cuidado na occasiéo de vos vestirdes e despir- oy des. : 9.° Nao deveis de manhi ou 4 noite jogar os travesseiros, uns aos outros, se quizerdes evitar castigos e poupar o que é vosso. 10. Quando sair 0 Collegio a passeio, deveis g.evitar dar nas vistas do publico, pela vossa “Maneira de vos apresentardes. Muitas vezes tenho encontrado collegios em passeio nas ‘:-ruas de Lisboa, que mais fazem lembrar que ‘esto no campo, e fora da forma. 11.° N'uma palavra, evitae tudo que possa © fazer-vos" incorrer em algum castigo, ¢ n'isso ¥ estard o vosso bom aproveitamento presente, e ‘4 vossa gloria futura. 12.° Tende paciencia com os professores ¢ ,gmpregados, se algum dia por infelicidade ‘ossa, forem zangados de féra e queiram des- arregar a sua ira em vés. Séo nuvens que’ Ipassam, e tendes o director a quem deveis precorrer de qualquer injustica; por isso que so. eda elle compete a vigilancia; porque é elle o “unico responsavel perante-Deus, vossas fami- -“Tias, e a-sociedade, das consequencias boas ou mas, que no vosso futuro obtiverdes. No recreio, deveis escolher distraccées uteis espirito, ¢ ao vosso corpo. As grandes cor- las, o bater uns nos outros, o empurrarem-se, 5 Das aulas Art. 24.° Deve ser-vos proveitoso saber, qual deverd ser o vosso modo de viver n’um colle gio; frequencia das aulas ; recreaco; estar 4 . meza; nos quartos etc., etc. Vou por isso elu-. cidar-ves no assumpto : 1.° Um menino para merecer o titulo de alumno, deve conhecer as obrigacdes que esse" titulo Ihe traz desde o momento da matricula. “! 2.° Quando um menino entra no escriptorio =" do collegio para se matricular, deve ir desco- berto e conservar-se de pé, tendo tido o cui dado de levar o cabello cortado 4 escovinha “° (systema unico de bom resultado para a lim- |. peza e hygiene). 3.° Desde que dé o seu nome e recebe o- seu numero, tornou-se alumno, e por tanto esté sujeito aos regulamentos internos, e 4 Leif do estabelecimento (estatutos). . g 4° Como alumno deve cumprir religiosa- mente com o que os seus superiores The indi- carem, sendo respeitadores para com todos, afim de que todos o respeitem. ; ' "5° Nao deve, por forma alguraa, ligar-se a Weg . qualquer condiscipulo, para cousas’contrarias 4 a ordem e disciplina, mas avisaré esse teme- rario, de que dard parte aos superiores. é 6." Nas aulas, todo o respeito é pouco para com os professores. O vosso bom aproveita- ® mento depende da sitenco e disciplina que tiverdes, na aula do estudo e nas outras. a 7° No refeitorio, ou casa das refeicées, deveis guardar a-mesma ordem, e ter todo o 06 Compenpio DE CiviLipabE © assobiar, o chamar nomes feios, o escrever nas paredes, etc., etc., sfo cousas que um me- nino ndo deve fazer, se quizer ter o nome de menino. Ha uns rapazes da rua que fazem. aquellas cousas, e vos bem sabeis como todos _ Ihe chamam. Visto que sois alumnos e meninos, ndo vos confundaes, nas vossas accdes, com elles. 13.° Quando chefes de familia recommendo- vos, que antes de entregar.vossos filhos ao collegio, deveis tornar-vos amigos do director ; (ou de pessoa que bem o conheca) deveis es- tudal o bem, conhecer do seu systema de viver com os alumnos, etc., etc., e depois entregae- Ih’os sem receio, mas uma vez entregues, ndo- deveis intrometter-vos com a educacio e ins- truccfo d’elles, se quereis que elles obtenham bom resultado. 14.° Podeis, vés mesmos, fiscalisar a maneira como se vive nos collegios ; isso é muito facil, visitando-o a meudo e em diversas horas, sé assim apreciareis tudo, e n’isso dareis satisfa- co ao director. Lembrae-vos que a vossa res- ponsabilidade é enorme, no que toca 4 educagio dos vossos filhos. Depende do collegio que lhe escolherdes, o seu futuro. Da mesa das refeigdes * Art. 26.° Chegdmos finalmente, a uma das cousas mais difficeis de tratar, porque é tam- bem a cousa em que o homem mais pecca por ignorancia, descuido e vaidade de ndo saber, sabendo. . Muitos cuidam que para comer, é bastante " exemplo..Se estiver quente, esperae que esftie, Epucagho Civut 67 eee ee OE eT ‘sentarmo-nos e levar a comida e bebida 4 - bocca, encher 0 estomago, etc. Ha, tambem, quem alargue as calcas, dispa © casaco, tire o collarinho, etc., etc., para maior commodidade, etc., etc. Tudo isso pode ser e muito mais, mas a sés e no campo livre se péde permittir, dentro de casa, ides vér como é diferente. Na companhia de senhoras, nem penseis em tirar 0 casaco, etc., etc., como acima digo. Eis o que deveis fazer : 1° Antes de ir para a mesa lavam-se as mios, compée-se 0 cabello, arranja-se ¢ esco- va-se 0 fato, etc., etc. 2.° Deveis esperar que vos designem o vosso logar, e ndo vos deveis sentar, antes que a dona da casa e os mais convidados o facam. 3.° Logo que vos senteis ponde o guarda- napo, collocando-o como virdes fazer & maio- tia: isto é, a uns vereis que 0 p6em nos joe- Jhos (dobrado ao meio), outros mettem uma ‘das pontas na ultima casa do collete ou mesmo entre a carhisa eo collete, outros seguem o ™mesmo systema, mas collocando-o no collari ho, entre este 0 pescoco; ainda outros dei- ‘xal-o-hdo sobre a mesa. (Nao se servindo delle, para se limparem 4 toalha!) O melhor e mais commodo systema a adoptar, é o d’aquelles que usam segural-o no collarinho, porque, no : s6 evitam sujara camisa, como o.téem mais proximo e. facil para limpar a bocca. Como. vos disse ja, n’uma mesa de ceremonia, usareis*, ‘como a maioria fizer. 4.” A primeira cousa que se serve é a sopa.. ‘Nao Ihe toqueis, sem que a dona da casa de on, 68 Comrennto ve Crvi.panE: maé nunca a aeveis soprar; com a colher es- fria se melhor. Pegae na colher por férma que esta fique com o cabo entre os vossos dedos, sem que comtudo fique suspensa pela extremi- dade d’elle. . 5.° Quando terminardes a sopa, nao deveis repetil-a, salvo em vossa casa ou em casa d’al- gum amigo intimo ou no hotel, etc., etc. O prato com a colher dentro, fica no mesmo lo- gar até que o creado o retire. O mesmo fareis. com os demais pratos. | 2 6.° Nos pratos que se seguirem deveis ser- vir-vos com parcimonia, n’isso dareis gosto 4 dona da casa. 7.° Sabeis que no garfo e faca se pega pelo cabo, e nunca pela folha da faca e junto aos dentes do garfo? . Para levar a comida 4 bocca deveis utilisar unicamente 0 garfo ou a colher: a faca serve sé para trinchar a comida em pequenos boca- dos, e abxiliar garfo a receber a comida para a levar 4 bocca. Muitos usam o systema francez, de cortar: em pequenas quantidades a comida, ¢ pasando o garfo para a mfo direita, comerem com esta, tendo na esquerda bocados pequenos de pao, para a acompanhar. . De qualquer das férmas que facaes, nao pro- cedereis mal. ; O pao nfo se corta com a faca, mas sim com a mio. 8.° O peixe deve comer-se'com o garfo na mo direita e 0 pio na esquerda. — A faca so se utilisa quando seja preciso partir alguma parte maior. Epucacho Civ. 69 ee ee) No se desmancha a posta d'uma vez, mas vae se tirando em pequenas porcdes, e co- mendo. Se alguem o comer com o garfo e faca, nao julgueis que procede mal, 9.” Os déces devem comer-se com colheres proprias e nunca com o garfo. Para as fructas costuma haver umas facas pequenas de prata, mas no geral sfio facas de sobremesa. to." A fructa néo se come com a casca, ex- cepto abrunhos, ameixas, cerejas, ginjas, etc. a diversos modos de descascar a laranja ; vos fareis como a maioria, mas o modo’mais proprio é descascal-a com a faca e garfo, par- tindo se em seguida em pequenas porcdes € comendo-a com o garfo. 11.° Quando vos servirdes de mélho, tende cuidado em nfo salpicar os visinhos ou a toa- Iha, ¢. nfo os deiteis sobre as viandas ou assa- dos, mas sim ao lado. 12.° Dos vinhos, servi-vos com cuidado, pois nao ha nada mais repugnante do que a uma mesa de ceremonia, ou mesmo de familia, o individuo embriagar-se. . motivo, se tiver vergonha, para nunca tnais acceitarconvites para aquella casa. . 13." Beber de todos os vinhos que vierem 4: mesa, ou nos offerecam, é desejar firmemente embriagar-se, nao estando costumades, princi- palmente. 14.° Dévemos, levantar-nos da’mesa com a mesma lucidez, com que a ella nos sentémos: 15.° O café e licores servem-se mais usual- mente ma mesma mesa, e seria-muito ‘cons. veniente, que essa moda se adoptasse definiti-.: vamente. 2 70 Compenoio pe CivintoaDe 16.° Quando termina a refeicdo é costume e obrigacao, cumprimentar os donos da casa e mais pessoas presentes. . 17.° Tende o maximo cuidado na vossa con- versacao durante as refeic6es. Lembrae-vos que a_mesa € o logar de maior alegria; e por isso- nao deveis fallar em cousas tristes*e ‘menos. ainda nas nocivas. Quando encontrardes algum cabello, mosca, etc., deveis disfarcadamente encobril-a para que os vossos visinhos a n&éo vejam; chamae © criado e pedi-lhe outro: prato; se for um alfinete ou cousa semilhante, deveis dizel-o ao creado para que elle previna o cozinheiro, evi- tando assim alguma desgraca. 18.0 Quando tiverdes de assoar-vos durante as refeicdes, fazei-o por forma, que nao en- commodeis, nem enojeis os circumstantes ; _ para escarrar, servi-vos do lenco, mas nao olheis para o que para elle deitardes. © lenco dobra se por forma, que ndo se veja © seu conteudo. Nao precisaes, para o fazer, voltar a cara para o lado; a naturalidade, em tudo, deve ser o yosso principal cuidado. * 19.° Para se adquirir a naturalidade, ¢ estar mas reunides e nas mesas, etc., etc., precisaes exercitar-vos em vossa casa. Se em vossa casa adoptardes 0 systema de imaginar-vos sempre rodeados de pessoas de ceremonia, tende a certeza de que na casa alheia, estareis perfeitamente, e' 4 vossa von- tade; mesmo para os vossos creados, é con- veniente este uso. 20.° Nao deis nunca occasiao a que vos cen- surem, seja no que for, mas principalmente Epucacio Civ. nas taes mesas em que sois obrigados a pro- vardes a vossa educacdo: a mesa ucharistica; a mesa do jogo, e a mesa das refeicdes. 21.° Se acontecer, 0 que é muito provavel, terdes ao vosso lado, 4 mesa, uma senhora ou pessoa de gravidade, nao vos esquecaes de que so ellas as que primeiro deveis servir, mas sem affectacio; deveis cuidar nao lhe falte cousa alguma. 22.° Nunca se offerece o nosso prato, se esté sujo, bem como garfo, faca, colher, copo, etc., etc. 23.° A posicdo de estar 4 mesa, é a mesma que vos, indiquei para estar na sala. Nao deveis pér os cotovellos na mesa; 0 ma- ximo que é permittido, é descancar as maos. Nao vos recosteis na cadeira; nao cruzeis. as pernas, nem as alargueis por forma a tocar nos visinhos; nado provoqueis questées sobre qualquer assumpto, quando mesmo vos pro- voquem a isso. _Tendes uma resposta magnifica para corri- git aquelle que vos provoque a discussio, di- zei-lhe: «Peco perdao a V. Ex.* para nao lhe. responder, por isso que’o assumpto é impro- prio do logar.» 5 whe *-24.° Se os cavalheiros, quando entram na casa das refeicdes, acompanharam pelo. braco as damas, da mesma férma as devem -acom- panhar 4 sahide. = 25.° Ha casa propria aonde se fuma, razio.” porque nfo deveis fazel-o aonde estiverem: se- nhoras, e menos ainda o fareis, sem a sua Ppermissao. - ra 26.° Lembro-vos que; 4: presenca das’ ‘séx:

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