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er RAUMA SICOLOGIA ~ DALIBERTACAO GNACIO MARTIN-BARO Acontribuigio social daPsicologia na América Latina Com base em uma perspectiva geral, deve-se reconhecer quea contribuigio da Psicologia, como ciéncia e como praxis, & hist6ria dos povos latino-americanos & extremamente pobre. Certamente, nao faltaram psicdlogos Preocupados com os grandes problemas do subdesenvolvimento, dependéncia e Opressio que agoniam os NOssos povos. Mas, na hora de se Imatcrializar, em muitos casos, esas Preocupagdes tiveram de Ser canalizadas por meio de um compromisso politico pessoal, & margem da Psicolo, gia, cujos esquemas eram inoperantes para "sponder as necessidades populares, / Nio me refiro apenas a Psicologia social, cuja crise de “enifeado tem sido um tema muito exposto na tiltima se Tefiro-mea Psicologia em seu conjunto, a teéricae aaplica i individual ea social, a clinica e a educativa. A is i eae Meo fazer (quehacer) da Psicologia inom algumas exce¢Ges, nZio somente tem mantido um ermanecel vil a0 definir problemas e buscar oat Fades dos POYS Margem dos grandes movimentos € ind! sic 'atino-americanos, ¢ alguma cont! Quando se trata de aponta! i iversal, : ja unt sicolog' atino-americana ao acervo 42 182 : Tenacio o, mencionamse, entre outros, a “tecnologia social” arin Bag os delineamentos psicanaliticos de Enrique Pi de Jacobo Vareta(1g Ambos merecem todo 0 nosso respeito e néo easton Ri ere na i He Todavia, é significativo que a obra de ven ae wna originalmente em inglés e que se inscreva cela Publicad f bre as atitudes, tal como se, para dar eae estudos universal, um latino-americano tivesse de abdicar de sua Seas identidade. Em relagdo aos trabalhos de Pichon-Riviere, ¢ triste a eae sao insuficientemente conhecidos fora da Argentina. oo Possivelmente, contribuigdes latino-americanas de maior vigor e impacto social podem estar ali onde a Psicologia deu a mio a outras areas das Ciéncias Sociais. O caso mais significativo parece-me ser, sem diavida alguma, o método de alfabetizagao conscientizadora de Paulo Freire (1970, 1971), dagao entre Educacio € Psicologia, Fi ilosofia e Sociologia. 0 onscientizagao articula a dimensao. psicol6gica da consciéncia pessoal com a sua dimensao social e politica e explicitaa dialéica historica entre © saber ¢ O fazer, 0 crescimento individual ¢ 4 ‘organizagao io soci a comunitaria, a libertagao pessoal € @ transformaga0 social. Mas, sobretudo, + caréncia da palavra, conscientizagao foi uma resposta hi 0s, norte-americanos SO! se isso é comparado com contribuigdes tao triviais como al aprendizagem” ou alguns A precariedade da contribuigao da Psico! melhor avaliada quando comparada CO} a intelectual. Assim, por exemplo, 2 teoria original da Sociologia da ‘América Latina situagao de subdesenvolvimento de nos: one oes derrogat6rias da cultura Jatino-american? T ontrl ‘even toa protestants Também é bem conhecida 4 Ae af que as ies a nossa vergonha, nfio é um exagel if Garcia Mérquez.ou de a aPsicologia de nossos povos Tent téon © caréter ou a Vargas Llosa que em nossos traballhos ©, personalidade, E, certamente, a Teologi@ ja Lib’ cos hs ‘ leno-americana | bist Pes, Poy r ——_— una Psicologia ca Libertaglo i ge, a0 mesmo tempo, refletir e estimular as recentes lutas hist6ricas capt marginais com muito mais fora que nossas andlises ¢ reccitas asm sobre a modernizagao ou a mudanga social. i eneent? da cultura saxénica, a cultura latina inclina-se a eit mm mportante papel para as caracteriticas das pessoas e para as can is, Em um pais como El Salvador, o Presidente da ancia imediata de quase todos os problemas, desde os enores, ea ele se atribui a responsabilidade de sua resolugao, rrer ao Presidente para reclamar da mesma forma sobre a bre uma briga de vizinhos, para estimular a reativagdo econdmica ncelar um indiscreto prostibulo situado préximo de uma i (tn-Bar6,1973)-Nesse contexto cultural, que tende apersonalizar oad da, apsicologizar todos os processos, a Psicologia tem um vasto campo om cia. E, todavia, em vez de contribuir para desmontar esse senso un nossxs culturas, que oculta e justifica os interesses dominantes transmutando-os em tra¢os decariter, a Psicologia tem abonado — por aco ou poromissio - 0 psicologismo imperante. Inclusive no caso da alfabetizagao conscientizadora de Freire, chegou-se ao ponto de resgatar para o sistema as sus princiais categoria, despojando-as de sua essencial dimensio politica e convertendo-as em categorias puramente psicolégicas. Atualmente, com a ‘exescente subjetivagdo dos enfoques predominantes, a Psicologia continua alimentando 0 psicologismo cultural, oferecendo-se como uma verdadeira “ideologia de reconversaio” (Deleule, 1972). Em nosso caso, 0 psicologismo ‘em: servo para fortalecer, direta ou indiretamente, as estruturas opressivas, devia atengao delas para os fatores individuais e subjetivos. Nao se trata aqui de estabelecer um balango da Psicologia afores até 0s que leva a reco! qe 0050 do pais ou para cal : » Porque, entre outras coisas, ainda se esta por fazer uma que transcenda a organizacao mai i (es, por erempo, Ani '¢40 mais ou menos parcial de dados 5. Oinpenae rdila, 1982, 1986; Diaz-Guerrero, 1984; Whitford, pes hj aaa Se, com a bagagem psicoldgica de “Bitcatemen re “mos dizer e, sobretudo, fazer algo que contribua re Po en a on Fesposta aos problemas cruciais de nossos io ‘480, mais qu ty le que a _ as que em nenhum outr it “em plicar g meeetPasto do cientista social no deve vena indo, mas em transform to, eve centrar-se ‘ Jat escravidlso da PSICOIOE™ a pobreza d: jl ag que se pode dar & pobreza da contribuicy justificares A icana reside em Sua relativa juventude - nto de vista, apontam-se as Propostas Como confirmagao GSS Tir, « eialnente, por L048 25 pat Sriginais, que COmeTAT Oy & valid, ainda que insufcen s (Psicologia, 1985). Snos escondermos, para nio feria torna-se perigo: nos levaram: (e,em muitos casos, continuam a teva) s panes i sientifica a inoperancia social. i marin ia opiniao, a miséria da Psicologia latino-americana tem suasraizes emuma historia dedependéneia colonial que no coincide com a historia da colonia ibero-american mas com a do colonialism dg “garrote ¢ da cenoura”" que foi imposto anos ha um século. O “garrotagg cultural” que diariamente recebem Nossos povos, com frequencia, ca, na Psicologia, mais um instrumento Ente ontos para rmoldaras mentes ¢ um valioso aliado para tranquilizar consciéncias ao explicaras indubitaveis vantagens da cenoura modernista tecnoldgica. Podemos sintetizar, em tres, aS principais causas da miséria histérica s trés relacionam-se entre si: seu sno-americana historica da da Psicologia latino-americana, a 1a auséneia de uma epistemologia adequadneseu adamente, cada uma dels. mimetismo cientificisti dogmatismo provinciano. Examinemos, sepa Mimetismo cientificista Com a Psicologia Iatino-amerieana ocorreu algo parecido com? que aconteceu com a Psicologia norte-americana no ccomego do séeulo: seu desejo de adquirir um reconhecimento cientifico e um status soil resultou em um sério tropego. A Psicologia norte-americana voltou s° olhar as Ciéncias Naturais a fim de adquirir um. método e conceitos ee consagrassem como cientifica enquanto negociava sua contribuigio * 1. Garrote y la zanahoria-termo gem equivaenteexato empties ts referir-se a politica de relagdes entre nagdes, na (qual hia marca 2 imperialista. As poténcias dominantes fazem promessas de ajuda" pela cenoura), concomitantes com ameagas econdmicas OY yt (Gimbotizadas pelo garrote). A maior referéncis do politi ° eee canahoria € 0 resgate da Doutrina Monroe pelo President bres politica do Big Stick, isto é, a politica dos UA com 05 POS gt pautar-se por uma fala mansa com wm porrete na mio lota “i Digitalizado com CamScanner a ; 185 prog 2 Liberiaeto et do poder estabelecido para receber uum posto & uma posigiio sts Psicologia latino-americana fez foi voltar seu olhay costs. 0. ja era respeitado cientifica e socialmente, ¢ a el hers a ee conceitual, metodolégica e pratica, e oe com as insténcias sociais de cada pais um si in ern £ discutivel se a profissio de Psicélogo Ja con fatino-americanos, oreconhecimento social que buscay aquase totalidade de seus esquemas te6ricos e Priaitic Estados Unidos. Assim, aos enfoques psicanaliticos ir a0 big le pediu ‘Sperando tatus social quistou, nos Paises ‘8; 0 que éclaro é que ‘os foi importada dos 0 organicistas que da dependéncia da ‘ias Cognitivistas, mas, sim, no mimetismo que nos leva a aceitar os Sucessivos modelos vigentes nos Estados Unidos, como S€ 0 aprendiz pudesse se tornar médico ao colocar o Sstetoseépio ou como se a Crianga se tomasse adulto pelo fato de vestir as ‘Stas do papai. A aceitagaio acritica de teorias e modelos, precisamente, a "egagdo dos fundamentos mesmos da ciéncia. E a importagao a-histérica de Ssquemas conduz 4 ideologizagiio de certas definigdes, cujo sentido ¢ Validade, tal como nos lembra a Sociologia do Conhecimento, remetem a Serlas circunstancias Sociais ¢ a certos questionamentos concretos. Auséncia de uma epistemologia adequada ae ° 7 1-se em uma série Os modelos dominantes na Psicologia fundam-s is, cada vez pepkna ‘aos quais, ca‘ Pressupostos que apenas raramente sfo discutidos ; desses pressupostos Menos, se Propdem alternativas. Mencionarei cine ‘ Psicologia ibilidades da oe é eee ccado as possil ismo, a visio que, em minha opiniao, tém ™“ individualismo, 0 hedonis! ivismo, ‘atino-americana: © positi homeostatica e o a-historicismo. Digitalizado com CamScanner 186 ee Tenacig an indica onome, éaquela . Opositivismo, tal como indica ae ONCE de ue considera que 0 conhecimento deve se limitar aos d, : fatos ¢ as suas relagdes empiricamente verificaveis, dese, oo” Mer i ‘ ; o Possa ser caracterizado como metafisica. Assim, 9 posts 0 ite he “como” dos fenémenos, mas tende a deixar de lado o qua, ink qué. Isso, obviamente, supe uma patcializacio da e; ue se se *isténcia hy 2 OP, © deixa cego para os significados mais importantes, Portanto, Nigh ote estranhar que 0 positivismo se Sinta to bem no laboratérig io es “controlar” todas as varidveis ¢ termine reduzidg a analise gg Me Day trivialidades, que pouco ou nada dizem dos Problemas cotida, Veties Contudo, a questo mais grave do positivism: em sua esséncia, isto &, em sua cegueita d nao reconhecimento de nada além d realidade existente nega, isto &, aquilo que niio historicamente possivel, se fossem dadas Outras ¢ ‘uma anilise positivista do camponés salvadorenho de que se trata de uma Pessoa machista e fatalista, inteligéncia do negro Norte-americano leva a quociente intelectual se encont aa que ; : tra, em média, em um desvio pads ri do quociente intelectual do branco, Considerar . : ue a realidade no én que o dado, que o camponés salvadorenho é Simplesmente fatal agus negro é menos inteligente, é uma ideologizacao da Tealidade que tering tural a ordem existente, Obviamente, de td Perspectiva, restrito & o hotizonte que se desena aos latino -amercnese pobre € 0 futuro que a Psicologia pode nos oferecer, E paradoxal que esse Positivismo se combine, na pespia psicoldgica, com um idealismo mMetodologico. Pois idealista é0 esqueragie antepSe o marco tedrico A andlise da realidade e que nio spect da exploragdo dos fatos indicados na formulacdo de suas aa assim, as teorias nas quais pode basear-se tém surgido oo Positivas muito distintas das nossas. Esse ideatismo — — nos cegando para a negatividade de nossas Gani a / para a sua propria positividade, isto ¢, a0 ee a ae i es ‘Um segundo pressuposto ree ino sash ie mo, mediante 0 qual se assume. que osujelto vnesma. OF 7 7 ‘ duo como entidade com sentido em st me it individualismo radica-se na sua insistenciapo”™ ea dual a indivi encontra na coletividade ou por remetet incin: b Precig, aio ee ana lo dado leva a ignoray Aquily €Xiste, mas ma it ‘Ondigdes, Sem Alig Var a conclu » al como 9 atu Conclusio de Digitalizado com CamScanner aging ibe 187 etestt -eaitica das relagBes interpessoais. Dessa forma, o individua- as sn ccando as estruturas existentes 20 ignorar a realidade das | js * tal como mostrou a apa de Paulo Freire, incorpora tanto uma ruptura cape mo com as cadeias da opressio social, i epee historia do povo salvadorenho prova que a superagio de = fatalismo existencial, isso que honesta ou ideologicamente alguns psicdlogos preferem chamar “controle externo” ou “desesperang, aprendida”, como se fosse um problema de ordem puramente inira-individual, envolve uma confrontagao direta com as forgas oprimidos, privados de controle sobre suz estruturais que OS mantém existénciae forsados a aprender asubmissdo ¢ ando esperar nada da vida americanos, conscientizadora cadeias da opressi0 pessoal cor Uma nova epistemologia ‘A necessidade de libertagao dos povos ova forma de buscar 0 conhecimento: a u presente de opressio, populares no dois 0 objetivo de servir Jatino-americanos exige uma n verdade dos povos latino-americanos nao est em se mas em seu amanhi de liberdade; a verdade das maiorias deve ser eacontrada, mas, sim, deve ser feita. Isso supGe, #0 1Den06, aspectos: uma nova perspectiva e uma nova praxil __Arnova perspectiva tem de ser a partir de baixo, das props maiorias populares oprimidas. ‘Janos perguntamos, seriamente, sobre come io vistos os processos psicossociais da vertente do dominado, 20 inves @ snes da vere do dominador? Tentames delinear a Psiclod® = = ra de vista analabeto, a Psicologia do trabalio@ mat ode renal apa ee apartir do marginalizado? compa i haa ea ae ° colono da fazenda, a maturidade pesso™ re Observem que se di 0, a ous a partir da senhora em Na colo da Senhora en30 "ya : partir’ do analfabeto, do desempregado os, 2 thes {ransmitir nossos es ju eles, Nao se trata de pensarmos pe to? de Pensamos ¢ ia ou de resolver os seus problemas; sia ero ainuigi pone de Pen eset dees. Tambem 2a oprimide nig + aulo Freire, que desenvolveu wm? pedase” apt Para” © oprimido; era a propria pess™ r 4 Digitalizado com CamScanner > snes ie . ue deveria constituir-se em sujeito de gy comunidade Wr ccientizadora; que deveria aprender, e arnbelizag i o educador, a ler sua realidade e a esereves unt Sm como a Teologia da Libertagdo sublinhes que somente 4 visti ee possivel encontrar o Deus de vida anunciado por egg pat (0 ee da Libertagio tem de aprender que somente a partir uma powo opriido Seré possivel descobrit e conse a verdade eee dos povos latino-americanos, _ ; Assumir uma nova perspectiva nao supde, obviament todos os nossos conhecimentos, a propria m didlogo sua palavra te, descartar © que supde & a sua relativizaglo ea sua revisi critica do ingulo das maiorias populares. Somente combase rises ss teorias ¢ 0s modelos mostrardo sua validade ou sua deficiéncia, sua uilidade ou sua inutilidade, sua universalidade ou seu provincialismo; apenas comegando dai as técnicas aprendidas mostrario suas potencialidades libertadoras ou suas sementes de submissio. Uma nova praxis Todo conhecimento humano esté condicionado pelos limites Impostos pela propria realidade. Sob v: atuando sobre ela, transfor dela. O que vemos e como Arios aspects arealidade¢ opacaes6 tmando-a, € possivel ao ser humano ter noticia vemos, certamente, esti condicionado por nossa Pespectiva, pelo lugar a partir do qual nos ligamos histia; mas também ‘sti determinado pela pr é ‘pria realidade. Assim, para adqui “onhecimento psicolégico um novo , No basta nos situar na perspectiva do povo, € jetionos cnvolver em uma nova praxis, uma atividade transformadora i ‘ ue « lidade que nos permita conhecé-la nfo apenas no que é, mas . aa 06, ¢ isto ocorre na medida em que tentamos orienté-la para aquilo 4 a ania Tal como afirmou Fals Borda (1985, p. 30), abordandoa pst | ‘aevivencialda ta ticipativa, somente ao Participar se produzat rupturavoluntariaev bindmio Telacag assimétrica de sia implicita nO A submissio e dependéncia, implicit “ieto/objeto, processos soca inserir-se nos Dor Em geral, 0 Psicdlogo tem tentado inserit-se NOS Pica tem 7 si io © instincias de controle. A pretendida aser der eum lo, be Fi quem tem 0 POT 0s ata patica, uma aceitagdo da perspectiva de quem est “2 tomando fcGlogos ae como tray Por base quem domina. Como PTT pias SOM wa#do, a partir da ditesdo da escola © 8 joo pessoal see" icblogos 4o trabatho temos selecionado ou ein" — Digitalizado com CamScanner Ignacio Mary, 194 Matin cias do proprietario ou do gerente, no a partir dog ou de seus sindicatos; ate mesmo como Psi jtarios temos chegado, com frequéncia, nas comunidades aT noss0s esquemas e projetos, de nosso saber e de nosg, wfc deixar nosso papel de superioridade Profissional ou tecnocritiog e trabalhar lado a lado com os grupos populares. Mas se no embarcanys nesse novo tipo de praxis, que além de transformar a realidade transforma, nos mesmos, dificilmente conseguiremos desenvolver uma Psicologia latino-americana que contribua para 7 libertaco de nossos povos, © problema de uma nova prixis coloca a questi do poder, porn, dapolitizagao da Psicologia. Esse € um tema, Para muitos, escabroso, mas nem por isso menos importante. Certamente, assumir uma perspectiva, envolver-se em uma praxis popular, é tomar partido. Pressup6e-se que ao tomar partido se abdica da objetividade cientifica, confundindo-se, dessa, forma, a parcialidade coma objetividade. O fato de que um conhecimento seja parcial néo quer dizer que seja subjetivo; a parcialidade pode ser consequéncia de certos interesses, mais ou menos conscientes, mas pode ser também o resultado de uma opgio tica. E, enquanto estamos condicionados por nossos interesses de classe que parcializam nosso conhecimento, nem todos realizam uma op¢io ética consciente que assuma uma parcializacdo coerente com os proprios valores Diante da tortura ou do assassinato, por exemplo, deve-se tomar partido, o que no quer dizer que nao se pode alcangar a objetividade na compreensio do alo Sriminal e de seu ator, torturador ou assassino, Se nao é assim, facilmente condenaremos como assassinato a morte causada pelo guerrilheiro, ms ee exaltaremos como ato de heroismoa morte prod ueoone ee apoliia.Porisso, coneordo com Fals Borda (1985) = “ - encaminhar aes Pratico adquirido mediante a pesquisa participativa i poves oman Conquista de um poder popular, um poder que perm! ue tomem as tocedede ae de sua propria historia ¢ realizar as™ les latino-americanas mais justas e humanas. exigém Proprigs trabalhadores ICbloggs MOntados 0 dinheiry Trés tarefas urgentes, Sto muita 8 CaLberagan ‘S larefas que se apresentam a Psicologia tno a ESPecial impo oi"AS como priticas, Apresento trés que™ PM desidcolopiza weld © urgéncia: a recuperagdo da memoria Hs nae? Potenciaizagao' (0, “© 8€RS0 comum e da experiéneia covidi! otenciacid; : ‘“lacién) das virtudes populares. 4 Digitalizado com CamScanner is ibertagio jogia da Lit ana Peo se 195 sam primeiro lugar, a recuperacao da meméria histérieg A quit satsfagao cotidiana das necessidades bisieas forca ee ‘apermanecerem em um constante presente Psicologico, em fa . ies sem antes e depois; mais ainda, 0 discurso dominante amie aqui reid aparentemente natural e a-histérica, que leva a sua simples acca Assn, @ impossvel trarligBes da experigncia e, 0 que & mig important, consares ized propria identdade, tanto paraintepreargseane doque aqualmente sé, quanto para vislumbrar Possibilidades altemativas Sobre o que sepode set. A imagem. predominantemente negativa que o latino-americano ‘médio tem de si mesmo em relago aos outros povos (Montero, 1984) denotaa interiorizagio da opressio no proprio espirito, viveiro Propicio para o fatalismo conformista tio conveniente para a ordem estabelecida. Recuperar a memoria historica significaré ificil tata 8 maioriag descobrir seletivamente, mediante a meméria coletiva, elementos do passado que foram eficazes para defender os interesses das classes exploradas e que voltam a ser titeis para os objetivos de luta e conscientizacio (Fals Borda, 1985, p. 139), Trata-se de recuperar néio somente o sentido da propria identidade, niosomente o orgulho de pertencer a um Povo, assim como de contar com uma tradic&o ¢ uma cultura, mas, sobretudo, de regatar aqueles aspectos que serviram ontem e que servirao hoje para a libertagao. Por isso, a Teuperagao de uma meméria histérica supde a reconstrugao de certos modelos de identificago que, ao invés de encadear e alienar os povos, lhes abririo 0 horizonte para a sua libertagao e realizagao. ET E preciso, em segundo lugar, contribuir para desided eras Sxpetiéneia cotidiana, Sabemos que o conhecimento an dise0 Social. Nossos paises vivem submetidos & tetra de realidade. O Sminante que nega, ignora ou disfarga aspectos essenci vos . i njstra a0S NOSSOS PO Smo “garrotago cultural” que, dia apds dia, se are gum marco 6 poticapes seacio mas Por intermédio dos meios de comunicagao ma alizaco adeauads ertsitem que, dficilmente, se pode encontar aft aos oie etiéncia cotidiana da maioria das Peso Fig senso ri Populares, Dessa forma, vai se conformando jo dase siifea gangs Calienador, sustenticulo para ro. id ais com “Ploragio ¢ das atitudes de conforms 3s pessons Tn de sua POP "Stilara experiéncia original dos grupos i var aconscienele ® objetivo, o que thes permitiré form” ve "5 Mating realidade, verificando a validade do conhecimento ad 1985a, 1985b). Essa desideologizacio deve se realizar, na pba, possivel, em um processo de participagio critica na vida dat fy populares, o que representa uma certa ruptura coms forms pe se tg de pesquisa e anillise. nantes | Finalmente, devemos trabalhar para potencializar ay Virtud | nossospovos Para no iralém de meu proprio pove,opovaderign ss | a histéria contemporinea ratifica, dia apés dia, sua insubomin , solidariedade no softimento, sua capacidade de entrega ¢ de Sacrificig a bem coletivo, sua tremenda fé na capacidade humana de transfomar¢ mundo, sua esperanga em um amanha que violentamente continue ase negado. Essas virtudes esto vivas nas tradigdes populares, na mie popular, naquelas estruturas sociais que permitiram © povo salvadoretia sobreviver historicamente em condigdes de opressio e repressio inumans que permitem, hoje em dia, manter viva a f& em seu destino ea esperana em seu futuro, apesar de uma pavorosa guerra civil que ji se prolong pr mais de scis anos. quitido all (Martin. aro, Monsenhor Romero, 0 arcebispo de San Salvador assassinado, disse, em uma oportunidade, referindo-se as virtudes do povo salvadorenho: “Com este povo, nao é dificil ser um bom pastor”, Comoé Possivel que nés, psicdlogos latino-americanos, nfo tenhamos silo capazes de descobrir todo esse rico potencial de virtudes de nossos povos consciente ou inconscientemente, dirigimos nossos olhos para outes Paises e para outras culturas na hora de definir objetivos e ideais? Hé uma grande tarefa adiante se queremos que a Psicologia latino-americana realize uma contribuigo significativa para a Beh universal e, sobretudo, para a historia de nossos povos. A luz dato‘ de opressio © £8, de repressio e solidariedade, de fatalismo & Eee Caracieriza oS nossos povos, essa tarefa deve ser a de uma PsicoD6t Libertacao. Mas uma Psicologia da Libertagdo requer uma peo na Psicologia e essa libertagdo chegart apenas por meio de wl Comprometida com os sofrimentos e esperangas dos povos latino american op 1386 . 1 pejcologia. 221 Nota: Artigo publicado originalmente na revista Boletin de Psicol@8™ in Sagio oa able P. 219-31, Agradecemos 4 UCA Editores pela autor iio Publicasao do texto, assim como & mediagiio realizada por Digitalizado com CamScanner a0 gare be 197 pe no poferencias il, R- (1982). Intemational psychology. American Psychologist, 37, 323-329, rdile,R- = : ‘ila, B. (1986). La psicologia en América Latina: Pasado, presente yf exo Siglo XX1. pelle D. 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