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GENERO: UMA CATEGORIA UTIL PARA A ANALISE HISTORICA JOAN SCOTT ‘TRADUCAO: CHRISTINE RUFINO DABAT MARIA BETANIA AVILA 2 Edigao 3-0- CORPO Recife, Fevereiro de 1995 Joan! Wallach Scott - professora de Ciéncias Sociais no Instituto para Estudos Avangados de Princeton, (Co- editora, juntamente com Louise A. Tilley, dolivro "Women, Work and Family" (1978) c, mais recentemente, de "Gender and the Politics of History"(1988). (informagbes, retiradas de American Feminist Thought at Century's End: a Reader, editado por Linda Kaufman, Blackwell, Cambridge 1993. Titulo original: "Gender: A Useful Category of Historical Analysis” Publicado in: Gender and the Politics of History. New York. Columbia University Press. 1989. Tradugdo devidamente autorizada pela autora Revisto: Ana Paula Portella Angele Freitas Marcia Larangeira Sonia Corréa’ Taciana Gouveia Digitagdo: Angela Araijo Lucelena Oliveira Editoragdo: Solange Rocha Composi¢ao: Romag Computago Grafica Edigto: SOS CORPO - Genero ¢ Cidadania Rua Major Codeceira, 37 ‘Sto Atharo - 50.100-070 Recife - PE - Brasil Tel. (081) 221-3018 Fax; (081) 221-3947 ‘Apoio! ——_-Fundago MacArthur 100 exemplares GENERO: UMA CATEGORIA UTIL PARA A ANALISE HISTORICA JOAN SCOTT Genero, Gram. Categoria que indica por meio de desingncias uma divisto dos nomes baseada em critérios tais como sexo € associagdes psicol6gi- cas, Hé géneros masculino, feminino e neutro, . Nm Din de Lng Pegs (Au de ead Fin). ‘Aqueles que se propdem 2 codificar os sentidos das palavras lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como as idéias ¢as coisas que elas significam, tém uma historia, Nem os professores de Oxford, nem. a Academia Francesa foram inteiramente capazes de controlar a maré, de captare fixar os sentidos livres do jogo da invengao e da imaginagto humana: Mary Wortley Montagu acrescentava a ironia & sua denincia do ‘belo sexo” (“meu nico consolo em pertencer aeste género ¢ ter certeza de que nunca vou me casar com uma delas”) fazendo uso, deliberadamente errado, da refertncia gramatical.' Ao longo dos séculos, as pessoas utiligaram de forma figurada astermos gramaticais para evocartragos de cardter ou tragos sexuais, Porexemplo, ‘a utilizaglo proposta pelo Dicionério da Lingua Francesa de 1876 era: “Nao se sabe qual € 0 seu género, se é ‘macho ou fémea; fala-se de um homem muito retraido, cujos sentimentos s&o desconhecidos”.? E Gladstone fazia esta distingdo em 1878: “Atena ndo tinha nada do sexo a ndo ser 0 género, nada de mulher a nfo ser & forma Mais recentemente - recentemente demais para encontrar seu caminho nos diciondrios ou na enciclopédia das cincias sociais -as feministas comegaram a utilizar a palavra “género” mais seriamente, no sentido mais literal, como uma maneira de referr-se& organizagao social da relagto entre os exos. A cone xo ‘com a gramatica é 20 mesmo tempo explicita ¢ cheia de possibilidades inexploradas. Explicita, porque 0 uso ‘gramatical implica em regras formais que decorem da designagao do masculino ou feminino; cheia de possibilidades inexploradas, porque em varios idiomas indo-europeus existe uma terceira categoria - 0 sexo indefinido ou neutro, Na gramatica, género & compreendido como um meio de classificar fenémenos, um sistema de disting®es socialmente acordado mais do que uma desericdo objetiva de tragos inerentes. Além disso, as classificagdes sugerem uma relaglo entre categorias que permite distingdes ou agrupamentos separados. - No seu uso mais recente, o “gnero” parece ter aparecido primeiro entre as femninistas americanas que queriam insistr na qualidade fundamentalmente social das distingdes baseadas no sexo, A palavra indi uma rejciga0 ao determinismo biolbgicg implicto no uso de termos como “sexo” ou “diferenga sexual “gnero” sublinhava também o aspecto relacional das definigbes normativas da feminilidade, As que estavam ‘mais preocupadas com ofato de quea produgto dos estudos femininos centrava-se sobreas mulheres de forma muito estreitaeisolada, uilizaram otermo género” paraintroduzir uma nogSorelacional nonosso vocabulaio, analitico, Segundo esta opini8o, as mialheres ¢ os homens eram definidos em termos reciprocos ¢ nenhuma compreensio de qualquer um poderiaexistir através de estudo inteiramente separado. Assim, Nathalie Davis dizia em 1975: “Eu acho que deveriamos nos interessar pela histéria tanto dos homens quanto das mulheres, «que nfo deveriamos trabalhar unicamente sobre o sexo oprimido, da mesma forma que um historiador das classes no pode fixar seu olhar unicamente sobre os camponeses. Nosso objetive é entender a importincia dos sexos, dos grupos de gnero no passado historico. Nosso objetivo & descobrir a amplitude dos papeis sexuais do simbolismo sexual nes varias sociedades ¢ épocas, achar qual o seu sentido € como funcionavam para rmanter a ordem social e para mudd ‘Ademais, etalvez 0 mais importante, o“género" era um termo proposto por aquelas que defendiam que 1 pesquisa sobre mulheres transformaria fundamentalmente os paradigmas no seio de cada disciplina. As pesquisadoras feministas assinalaram muito cedo que oestudo das mulheres acrescentariando s6 novostemas, sXe tanbem ri impor uma reavaliagdo critica das premissa ¢crtéros do trabalho cientifco existente “Aprendemas’, escreviam trés historiadoras feministas, “que inscrever as mulheres na histnes implica A ladainha “classe, ragae género” sugere uma paridade entre Enquanto a categoria de “classe” esta baseada na complexa teoria de Marx (e seus desenvolvimentos abistora avangou dialeticamente, No exist est tipo declareza ou coeréncia nem paraa cateporiade nem parade “genero”, Nocasode “genero™,o seu uso compor de simples referéncias descritivas as relagbes entre os sexos, siurcanto, oss) historiadoresas) feminists ~ que como a maioria dos(as)histriadores(s) sto frmados(es) para ficar mais & vontade com descrigdo do que com teora- tentaram cada ver malt ee formulacdes tedricas utlizéveis, Eles(as) fizeram isso pelo menos por duas rabes Primeiro, porque a xoliear as continuidades descontinuidades e dar conta das desigualdades perisentes, mas lanbeh ds experiéncias socials radicalmente diferentes. Depois, porque a defasagem entre aalta qualidade dos robaths cecminc téria das mulheres ¢ o seu estatui, que permanece marginal em relagdo a0 conjunto ds

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