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À imagem e semelhança

De Evana Ribeiro

Capítulo 78
CENA 1 – LONDRES/HOSPITAL/SALA DE ESPERA – INT – DIA
Continuação da cena final do capítulo anterior. A mulher, que é Lucille
disfarçada, se afasta de Layla, fazendo-se de desentendida.

LUCILLE – Desculpe-me... A senhora quer saber de algum paciente?

LAYLA – Mas você só pode ser Lucille! É idêntica... Quer dizer, o cabelo e os
olhos são diferentes, mas é você sim!

LUCILLE – Senhora, está me confundindo com outra pessoa. Acho que precisa
descansar, percebo que está sem dormir direito há um bom tempo...

Layla olha bem para o rosto de Lucille, a examina demoradamente, depois


recua, envergonhada.

LAYLA – Desculpe-me... Tem razão.

Lucille sai, com pressa.

LUCILLE – Mas que droga! Eu devia ter feito uma cirurgia plástica.

CORTA PARA

CENA 2
Tomada de Recife.

CORTA PARA

CENA 3 – RECIFE/RUA – EXT – DIA


Aurora e Cristina se encaram, sem jeito. Mateus estende a mão para
cumprimentar Aurora. Esta o cumprimenta mecanicamente.
AURORA – E... Pra onde vocês tão indo?

MATEUS – A gente vai ficar nesse hotel aqui. (indica o hotel)

AURORA – Que bom, eu também estou hospedada aqui. (t) Cris, se você não
tiver nada muito urgente pra fazer agora, a gente pode conversar?

CRISTINA – Agora?

AURORA – Sim. Acho que já adiamos demais isso, não?

CRISTINA – Deixa eu entrar e guardar minhas coisas no quarto primeiro.

AURORA – Tá, eu espero aqui.

Cristina, Mateus e Pietra entram. Aurora procura um lugar para se sentar.

CORTA PARA

CENA 4 – HOTEL/RECEPÇÃO – INT – DIA


Mateus preenche uma ficha. Enquanto isso, Pietra e Cristina conversam.

PIETRA – Achei que você fosse fazer uma festa quando visse a sua mãe. Ainda
mais estando grávida...

CRISTINA – É. Mas aconteceram umas coisas que me deixaram muito magoada


com ela.

PIETRA – Ela engravidou de outro, foi?


CRISTINA – É por aí. Depois te conto tudo direitinho.

PIETRA – Ok. Pode deixar que eu levo a sua mochila.

CRISTINA – Valeu.

Cristina dá a mochila para Pietra, que sobe com Mateus. Pietra sai.

CORTA PARA

CENA 5 – RECIFE/RUA – EXT – DIA


Aurora está sentada em um banco do ponto de ônibus, a uma curta
distância do hotel. POV de Aurora: Cristina sai e olha para os lados, procurando.
Aurora acena, Cristina se aproxima rápida.

CRISTINA – Pronto.

AURORA – Senta aqui...

Cristina senta ao lado de Aurora.

AURORA – Então... Você conheceu aqueles seus amigos em Salvador?

CRISTINA – Foi. O Mateus é meu namorado.

AURORA – E porque você não contou antes que tava namorando?

CRISTINA – Ah, mãe, sei lá...

AURORA – Faz muito tempo?


CRISTINA – Não. Ah, tem uma coisa. (t) Tô grávida.

AURORA – Como?

CRISTINA – É... Me pegou de surpresa também. Por isso que eu voltei.

AURORA – Tava querendo me afrontar, não é?

CRISTINA – De jeito nenhum! Eu não seria burra de colocar uma criança no


mundo por provocação. (t) Tá bom, eu acabei sendo uma tonta no final das contas
porque vou ter um filho que não tava planejado.

AURORA – É verdade. (t) Agora você vai ter que abrir mão dos seus sonhos,
como eu tive que abrir mão dos meus quando engravidei da primeira vez e aí veio
você. Meus sonhos não eram tão grandiosos como os meus, mas enfim.

CRISTINA – E o que você queria fazer?

AURORA – Queria ser aeromoça. Sua avó morria de medo de avião, não queria
que eu seguisse essa carreira mas nem passando pelo cadáver dela! Depois que
eu comecei a namorar seu pai, ela quis de todo jeito que eu virasse aeromoça e
fosse morar longe.

CRISTINA – Nossa, quanto ódio no coração da vovó!

AURORA – No fim, acho que ela tava certa!

CRISTINA – Não gosta nem um pouco dele?

AURORA – Não é isso. Eu gosto, mas não o suficiente pra casar, entende?
CRISTINA – Por isso que se engraçou com o Flávio?

AURORA – Não fui eu, foi ele. Meu erro foi ter caído na dele e não ter sido forte
pra cair fora depois. Por isso que até hoje eu fico me perguntando: por que não
segui a minha vontade?

CRISTINA – Pois é... o que você vai fazer com o bebê?

AURORA – Ainda não sei. Não tive tempo de pensar.

CRISTINA – É menino ou menina?

AURORA – Também não sei, não me preocupei com isso. (t) Cris, você ainda tá
com ódio de mim?

CRISTINA – Ódio?

AURORA – É. Ficar esse tempo todo sem falar com você foi a coisa que mais me
doeu... Se eu pudesse voltar no tempo, com certeza eu não teria nem me
envolvido com o seu irmão.

CRISTINA – Eu não te odeio, mãe. Fiquei muito magoada por você ter traído o
pai, mas tô vendo que você tá arrependida de verdade.

AURORA – Então estou perdoada?

CRISTINA – Com uma condição.

AURORA – Qual?
CRISTINA – Quando o bebê nascer, não dê ele a ninguém. A gente leva ele pra
casa e dá um jeito de explicar de onde ele veio. Mateus é bom de contar
mentirinhas...

AURORA – Bem, se essa é a exigência, a acatarei!

Cristina sorri para Aurora. Elas se abraçam.

CORTA PARA

CENA 6
Tomada de Salvador.

CORTA PARA

CENA 7 – CASA DE FERNANDO/SALA – INT – DIA


Bárbara entra andando na ponta dos pés, muito abatida, tentando não fazer
barulho.

FERNANDO – Ah! Finalmente!

Bárbara levanta a cabeça, assustada, e vê Fernando em pé, bem na frente


dela.

FERNANDO – Eu quase fui buscar você.

BÁRBARA – E como ia me buscar se não sabia onde eu tava, hein?

FERNANDO – Apesar de ainda saírem notas nada agradáveis sobre mim nos
jornais, eu ainda os leio. (t) Então saiu a única notícia que faltava! Esposa de
empresário falido presa portando cocaína!
BÁRBARA – Esses jornalistas aumentam tudo pra aumentar as vendas! Eu não
tava com isso aí.

FERNANDO (pega o jornal sobre o sofá) – Então quer dizer que esta foto aqui é
uma montagem!

Fernando mostra a página do jornal na qual há uma foto de Bárbara ao lado


do garoto de programa.

FERNANDO – Era tudo o que faltava para acabar com a minha vida!

BÁRBARA – O que a sua vida tem a ver com isso? Se alguém fica desmoralizado,
esse alguém sou eu!

FERNANDO – E me afunda mais, caramba!

BÁRBARA – Quer se divorciar de mim?

FERNANDO – Como se isso adiantasse alguma coisa.

BÁRBARA – Então não reclama! Se isso te deixa mais alivado, eu não sabia que
aquele doido que tava comigo tinha tanto pó assim.

FERNANDO – Tá, já chega. Por que estou me estressando tanto com isso? O
problema é todo seu.

BÁRBARA – Pois é!

Fernando joga o jornal no sofá e sai.


BÁRBARA – Ele nunca se importou comigo mesmo...

Bárbara sobe as escadas. A sala fica vazia. Permanece assim por alguns
instantes. Gabriel entra, vindo da rua.

GABRIEL - Cheguei! (t) Pai?

Ouve-se um barulho de tiro. Gabriel fica paralisado, mudo.

CORTA PARA

CENA 8
Tomada de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 9 – HOTEL/RECEPÇÃO – INT – DIA


Milena e Vinícius esperam por Karen e Julian. Estes chegam, com Angela.

JULIAN – Bom dia!

VINÍCIUS – Bom dia! Ela também vai com a gente?

KAREN – Vai. (t) Mas vai se comportar direitinho, não é, meu amor?

ANGELA – Vou sim.

KAREN – Então vamos. Não podemos nos atrasar.

Eles saem.
CORTA PARA

CENA 10 – CARRO DE JULIAN – INT – DIA


Julian dá a partida no carro. Karen está ao seu lado. No banco de trás,
Vinícius e Milena têm Angela entre eles.

VINÍCIUS (baixinho) – Você tem certeza de que é ela mesma?

MILENA – Absoluta. Esta aqui é sua filha com a Valentina.

VINÍCIUS – E agora?

MILENA – Agora eu tenho que dar um jeito de conversar com eles e explicar toda
a situação.

VINÍCIUS – Sem provas?

MILENA – É, eu devia ter trazido a foto! Mas também tem outra opção. (t) Eu
podia dar um jeito de tirar Valentina de casa e promover o encontro. Que acha?

VINÍCIUS – É, seria legal. Mas de todo jeito, tem q falar com eles.

MILENA – É...

Milena e Vinícius olham para Angela, que está alheia a tudo.

CORTA PARA

CENA 11 – GRÁFICA PRADO/RECEPÇÃO – INT – DIA


Ana Paula chega e se aproxima do balcão.
ANA PAULA – Oi... Você sabe dizer se Jerri Adriano tá aí?

RECEPCIONISTA – Ele deu uma saída agora a pouco.

ANA PAULA – E vai demorar a voltar?

RECEPCIONISTA – Não sei, senhora.

ANA PAULA – Tudo bem... Eu vou esperar aqui, obrigada.

RECEPCIONISTA – Disponha.

Ana Paula senta-se em uma cadeira vaga e fica esperando.

CORTA PARA

CENA 12
Tomada aérea de São Paulo, indicando passagem de uma hora e meia.

CORTA PARA

CENA 13 – GRÁFICA PRADO/RECEPÇÃO – INT – TARDE


Ana Paula continua esperando. POV de Ana Paula: Jerri entra sozinho,
acena para algumas pessoas que passam por ele. Ela levanta-se imediatamente,
corre e pára na frente dele.

ANA PAULA – Preciso falar com você!

JERRI – Ana Paula, pode ser depois? Eu tenho que falar com o Leon.
ANA PAULA – O Leon pode esperar, ele vai entender. Eu é que não posso
esperar mais!

JERRI – Tá bom. Vamos lá pra cima, tá?

ANA PAULA – Não, vamos ficar aqui embaixo mesmo. Eu quero que todo mundo
ouça o que vou dizer.

JERRI – Vá lá...

ANA PAULA – Eu fui uma idiota, uma egoísta, uma burra quando te tratei daquele
jeito! Eu só pensava em grana e fama... Nunca duvidei que você gostasse de mim
de verdade, mas... Eu não queria gostar de você! Pelo menos não antes de
conseguir o meu objetivo...

JERRI – A gente podia ter conseguido isso juntos, não acha?

ANA PAULA – Agora eu penso assim. Mas antes eu não imaginava que dois
lascados como nós poderíamos fazer algo juntos... Eu queria que você me
perdoasse... Queria não. Quero.

JERRI – E você acha que ainda tem tempo pra isso?

ANA PAULA – Quero acreditar que tem.

Jerri encara Ana Paula, sem responder. Todos os presentes na recepção


estão prestando atenção neles. Passam-se alguns instantes de silêncio. Clima
tenso.

ANA PAULA – E aí? Não vai falar nada?


Close em Jerri, pensativo.

LEON (off) – Tipo, se fosse eu, com certeza não ia querer ficar com ela depois de
toda aquela humilhação, mas se você ainda gosta, e quer ficar com ela, vai fundo!

Jerri abraça Ana Paula e eles se beijam. Reação das pessoas presentes.
Corta para Leon descendo a escada. Ele ri ao se deparar com a cena. Corta de
novo para o casal, ainda se beijando.

CORTA PARA

CENA 14
Tomada aérea de Recife.

CORTA PARA

CENA 15 – RECIFE/RESTAURANTE – INT – TARDE


O almoço já acabou. Agora, Aurora, Cristina, Mateus e Pietra tomam
sorvete e conversam animadamente.

PIETRA – Tava aqui pensando... Onde é que eu vou procurar um emprego?

AURORA – O que é que você sabe fazer?

PIETRA – Escrever, desenhar... Acho que sou uma pessoa simpática.

AURORA – Acho que você devia tentar trabalho num hotel, numa loja ou...

Aurora pára de falar repentinamente e não torna.

CRISTINA (preocupada) – Mãe? Aconteceu alguma coisa?


AURORA (com a voz entrecortada) – Chama... Chama um táxi.

MATEUS (levanta) – Deixa que eu chamo! Vocês ficam aí com ela.

Mateus sai correndo. Pietra dá um copo de água a Aurora. Ela bebe um


pouco.

CRISTINA – Mãe, respira fundo, tá? Daqui a pouco vai chegar o táxi e a gente vai
pro hospital.

PIETRA – Como é que tão as contrações?

AURORA – Não tá direto... Mas quando vem, é cada pontada!

CRISTINA – Vai ficar tudo bem.

CORTA PARA

CENA 16 – CASA DE JAIRO/QUARTO DE FLÁVIO – INT – TARDE


Flávio entra no quarto, bate a porta, tira o celular do bolso da bermuda e se
joga na cama. Liga para Aurora.

CORTA PARA

CENA 17 – RESTAURANTE – INT – TARDE


Pietra e Cristina saem com Aurora. O celular de Aurora começa a tocar,
dentro da bolsa.

AURORA – Atende pra mim, Cris...


CRISTINA – A... A bolsa tá com a Pietra.

Pietra tira o telefone da bolsa.

PIETRA – É um tal de Flávio.

CRISTINA – Desliga, por favor.

Pietra desliga o aparelho e o coloca de novo na bolsa. Elas saem. Do


restaurante.

CORTA PARA

CENA 16 – CASA DE JAIRO/QUARTO DE FLÁVIO – INT – TARDE


Flávio coloca o telefone no criado mudo.

FLÁVIO – Onde é que essa criatura tá que não atende esse bendito telefone?
Logo agora que tem uma bomba pra ela saber?

Flávio pega de novo o telefone e liga outra vez.

CORTA PARA

CENA 17
Tomada de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 18 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/JARDIM – EXT – TARDE


Alice, sozinha, lê um livro à beira da piscina. Herman chega e senta ao lado
dela.
HERMAN – Atrapalho?

ALICE – De forma alguma, mas... Acho que você devia ficar mais tempo com
Valentina. Ela é sua noiva e não a vejo ao lado dela em momento nenhum.

HERMAN – Não sei... Acho que ela tem preferido ficar sozinha.

ALICE – Aposto que se você se aproximar, conversar com ela sobre qualquer
coisa, distraí-la, ela vai se sentir melhor. (t) Ou é você que está se esquivando da
companhia dela?

HERMAN – Eu nunca faria isso. Gosto demais de Valentina para abandoná-la em


um momento difícil.

ALICE – Você disse que gosta. (t) Só gosta ou a ama?

HERMAN – Para mim, gostar e amar tem o mesmo sentido, nesse caso.

ALICE – Não, não... Se você sentisse por ela algo tão forte, diria logo que a ama,
não que apenas gosta. (t) Me diga, Herman, com toda a sinceridade. Você ama
Valentina de verdade ou ama apenas a parte de mim que viu nela?

HERMAN – Não sei por que você me faz essa pergunta! Por acaso você acha que
eu pretendo resgatar aquilo que você chamou de ‘aventura’ e que eu chamei de
‘amor’?

ALICE – Acho que sim. E de uma forma muito pior, usando a minha filha para me
representar nas suas fantasias! Não quero que ela saia de um sofrimento para
entrar em outro. Não quero que ela passe a vida inteira sendo comparada a
ninguém, muito menos a mim.
Corta para o outro lado do jardim, mais perto da entrada da casa. Marcelo
sai, vê Alice e Herman alterados e se aproxima um pouco mais para poder ouvir, o
suficiente para não ser percebido. Corta de volta para o casal.

HERMAN – Fantasias? Que fantasias? O que aconteceu entre nós em Londres


não foi uma fantasia, foi até bem real. Se fosse uma fantasia, eu teria esquecido
para sempre, e nem o surgimento de Valentina na minha vida me faria lembrar
disso.

ALICE – Tá vendo? Você acabou de admitir que a Tininha pra você é uma
representação do que eu fui. Você não ama Valentina pelo que ela é, e sim pelo
que há de meu nela!

HERMAN – Eu posso amá-la pelo que ela é por inteiro, sim! (t) E vou me
empenhar em esquecer que um dia amei você, da mesma forma que você se
empenhou, e pelo jeito, conseguiu. (t) Vou esquecer que um dia eu disse que você
era a mulher da minha vida!

Corta para Marcelo, perplexo com o que acaba de ouvir.

CORTA PARA

CENA 19 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT –


TARDE
Valentina dorme profundamente.

FADE PARA

CENA 20 – LONDRES/FLAT DE VALENTINA/SALA – INT – DIA


Toda esta seqüência se passa fora de foco, por se tratar de um sonho de
Valentina (flashback).
A campainha toca. Valentina aparece, vinda do quarto, atravessa a sala e
abre a porta. Ela encontra Michael com um buquê de rosas vermelhas na mão,
que de tão grande quase oculta seu rosto.

MICHAEL – Oi!

VALENTINA – (sorrindo) Ah... Então é você o homem das rosas vermelhas, hein?

MICHAEL – Eu? Não, eu não. Eu tava vindo pra cá, um rapaz me abordou e me
entregou as flores. Só disse que era pra sua casa e se mandou.

VALENTINA – Tenho medo dessas coisas. Quase todo dia chega um buquê
desses, sem cartão, sem nada. São lindas, mas é melhor me desfazer delas.

FADE PARA

CENA 21 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT –


TARDE

Valentina acorda de repente. Olha para os lados, tentando se localizar.

VALENTINA – Michael... Aquelas rosas!

Close no rosto de Valentina, espantado.

CORTA PARA
CENA 22 – ESTÚDIO – INT – TARDE

Os ensaios terminam. Os técnicos vão indo embora, Vinícius sai com


Angela. Julian e Karen saem por último. Milena espera.

KAREN – O que houve, Milena? Algo errado?

MILENA – Não, é que... Eu queria falar com vocês dois sobre um assunto
delicado.

JULIAN – De que se trata?

MILENA – Da Angela.

KAREN – Pode… Pode falar.

MILENA – Bem, acho que vocês souberam alguma coisa sobre o seqüestro de
uma garotinha chamada Angela, que sumiu em Londres há um certo tempo.

KAREN – Não, não soubemos.

JULIAN – Se saiu alguma notícia sobre o caso foi depois que viajamos. E
andamos tão ocupados que mal dá tempo de ver as notícias...

MILENA – Bem, esta menina, Angela, é filha da minha cunhada, Valentina. E


vendo algumas fotos há cerca de uma semana...

KAREN (nervosa) – Por favor, Milena, não faça mais rodeios!

MILENA – Acho que por uma coincidência milagrosa, esta menina que vocês
adotaram como filha é minha sobrinha. (t) Tenho quase certeza, porque não
consigo imaginar que possam haver duas meninas fisicamente iguais, com a
mesma idade, no mesmo país...

KAREN (baixinho) – Não pode ser.

MILENA – Onde vocês a adotaram?

JULIAN – Karen a encontrou em um orfanato em Liverpool. Angela estava muito


assustada, pedia para que a tirássemos de lá. A diretora do orfanato nos contou
que uma senhora, que se apresentou como mãe da menina, a deixou lá, dizendo
que estava muito doente e que morreria logo, por isso abria mão da criança, antes
que ela ficasse desamparada.

MILENA – Que coisa...

JULIAN – Uma vez, quando já estávamos aqui, uma babysitter disse que Angela
falava muito sobre mãe e avó. Isso me deixou intrigado e eu até ia viajar à
Inglaterra para saber o que era, mas acabei não indo.

MILENA – Sim! A mãe deve ser Valentina e a avó, Lucille, que foi acusada do
seqüestro e morreu logo em seguida.

KAREN – Não pode ser! (t) Não é possível que eu vá perder outra criança! Eu
achava que dessa vez tudo ia dar certo?

Karen começa a chorar. Julian a abraça.

MILENA – Bem, eu quis falar com vocês logo porque quero que Valentina veja a
menina e tire a prova. A mãe não vai se enganar.

JULIAN – Tudo bem. Marque o encontro se quiser. (t) Karen, lembra que uma vez
você me disse que o encontro com Angela só podia ser coisa da Providência
Divina? Pois é... Pelo jeito a nossa missão foi trazer a garota de volta aos braços
de sua mãe verdadeira.
KAREN – Eu não queria me desfazer dela... Já estou tão apegada...

Milena olha o casal, penalizada.

CORTA PARA

CENA 23 – SÃO PAULO/RUA – EXT- TARDE

Vinícius, sentado na calçada, toma sorvete com Angela, que está em seu
colo.

VINÍCIUS – Ei, Angela... Gostou de conhecer o estúdio?

Angela acena afirmativamente com a cabeça, sorrindo.

VINÍCIUS – Vai querer ser cantora quando crescer?

ANGELA – Não...

VINÍCIUS – Ah, que pena. Porque uma cantora famosa tem que ter uma voz
bonita e um rostinho lindo. O rostinho você já tem. (t) Do que você gosta de
brincar?

ANGELA – De boneca, desenhar e cuidar de bichinhos.

VINÍCIUS – Ah, gosta de bichinhos, né? Tem um?

ANGELA – Não… Mamãe disse que ia comprar um cachorrinho pra mim.

VINÍCIUS – Ah, então eu vou dizer pra Karen comprar um cachorro bem pequeno,
que dá pra guardar na bolsa. Já viu desses?
ANGELA – Não! Karen não. Mamãe.

VINÍCIUS – Então... A Karen, sua mamãe.

ANGELA – Não. Ela não é a mamãe.

VINÍCIUS – Mas eu só conheço esse nome da sua mamãe, Karen! (t) Qual é o
outro nome dela?

ANGELA – Tininha!

Vinícius fica pálido e deixa o sorvete cair no chão.

VINÍCIUS – Meu Deus. É a minha filha mesmo! (t) Essa coisinha fofa é minha filha
com a Valentina... Como eu pude ser tão idiota de ter rejeitado essa garota?

Vinícius, com os olhos cheios de lágrimas, abraça Angela.

CORTA PARA

CENA 24

Tomada de Londres à noite.

CORTA PARA

CENA 25 – HOSPITAL/SALA DE ESPERA – INT – NOITE


Layla, sozinha, observa os médicos e enfermeiros passando de um lado
para o outro. Procura por Lucille, mas ela não aparece. Isaac chega.

ISAAC – Então, Layla, alguma novidade do Thomas?

LAYLA – Nada... Amanda está se acabando de aflição porque não pode ver o
menino, mas ele não melhora! (t) E é tão pequeno... Tenho medo de que ele
morra.

ISAAC – Tomara que isso não aconteça... Não sei como Amanda ia ficar se
perdêssemos ele.

Lucille passa apressada por eles, tentando não ser notada. Layla a vê.

LAYLA – Olha, Isaac, eu preciso ir embora agora... Diga a Amanda que volto
amanhã. (sai correndo)

ISAAC (tenta alcançá-la) – Espere, Layla...

Layla não ouve. Isaac sai atrás dela e consegue ver que ela persegue a
ruiva (Lucille).

ISAAC – Ora essa... Agora ela deu para perseguir enfermeiras! (t) Ou ela anda
sabendo de algo que eu não sei?

Isaac olha para a entrada do hospital, depois para a rua, e decide-se por
seguir Layla, que acaba de entrar em um táxi. Isaac chama outro táxi, que segue o
veículo da frente.

CORTA PARA
CENA 26 – LONDRES/RUAS – EXT – NOITE

Seqüência da perseguição ao táxi onde Lucille está. Os três táxis seguem


em alta velocidade. Muito ritmo.

CORTA PARA

CENA 27 – TÁXI 1 – INT – NOITE

Lucille abre um dos vidros do carro e olha ligeiramente para fora.

LUCILLE – Droga! Estão me seguindo. (t) Eles não podem ter me descoberto...
Estou perdida, perdida!

CORTA PARA

CENA 28 – TÁXI 3 – INT – NOITE

Isaac olha fixamente para o carro da frente, que é o táxi onde Layla está.
Está muito nervoso.

ISAAC – Meu Deus... Não posso perder essa mulher de vista! Ela com certeza
descobriu alguma coisa importante pra sair correndo desse jeito. (t) Hey, man!
Don’t lose that car!

O motorista acelera.

CORTA PARA
CENA 29 – TÁXI 2 – INT – NOITE

O motorista do carro pisa fundo e quase bate em outro carro. Layla dá um


grito, mas depois se aquieta. O carro segue acelerado, seguindo de perto o táxi da
frente. Clima extremamente tenso. Um minuto depois, o carro é fortemente
golpeado por trás.

CORTA PARA

CENA 30 – LONDRES/RUA – EXT – NOITE

O táxi de Layla roda no meio da rua e bate em outros dois carros. O de


Isaac bate em outro e pára. O trânsito é interrompido. O táxi onde Lucille está
dobra em uma esquina.

CORTA PARA

CENA 31

Tomada de São Paulo.

CORTA PARA

CENA 32 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE ALICE E MARCELO – INT


–NOITE

Alice está penteando os cabelos. Marcelo entra, sério.


MARCELO – Alice.

ALICE – Ah, oi, Marcelo. Eu já vou descer pro jantar.

MARCELO – Antes queria falar com você.

ALICE – Sobre o que?

MARCELO – Sobre Herman. (t) É que eu andei ouvindo algumas coisas sem
querer, e gostaria que você me explicasse. (t) Por acaso você e ele tiveram algo
enquanto estivemos em Londres?

Alice, assustada, apenas olha para Marcelo, sem dizer nada.

CORTA PARA

CENA 33 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE LEON E MILENA – INT –


NOITE

Leon está sozinho, trocando de roupa. Ouve batidas na porta.

LEON – Pode entrar!

VALENTINA (entrando) – Oi, Leon.

LEON – Nossa, que milagre! O que te fez sair do quarto?

VALENTINA – É que eu tive um sonho e precisava dividir com alguém.

LEON – Então conta aí.

VALENTINA – Sonhei com meu ex-namorado.


LEON – Hm... Muito bonito pra senhora. Tá com um, sonha com o outro...

VALENTINA – Não é isso! O que me impressionou no sonho foram umas rosas


vermelhas que ele trazia. (t) Quando eu acordei, lembrei que aquilo realmente
tinha acontecido. Houve um tempo que chegavam toneladas de rosas vermelhas
lá onde eu morava... Eram pra Lucille.

LEON – E o que isso tudo quer dizer.

VALENTINA – Quer dizer que existe um comparsa! Lucille tem um, ou uma
comparsa, que mandava as rosas vermelhas. Ela se fazia de desentendida... Mas
agora tudo é muito claro! A gente tem que descobrir quem é a pessoa que
mandava as rosas, aí a gente provavelmente vai chegar no paradeiro da Angie!

Milena entra no quarto.

MILENA – Tina, eu tava procurando você.

VALENTINA – O que foi, Milena?

MILENA – Nada... Eu só queria te fazer um convite.

VALENTINA – Ai, Mi... Se for coisa pra sair é melhor esquecer. Você sabe que eu
tô muito sem ânimo pra pôr os pés pra fora de casa.

MILENA – Não aceito um não como resposta.

Milena sorri para Valentina, confiante.

********** FIM DO CAPÍTULO 78 **********

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