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DIALETICA RADICAL DO BRASIL NEGRO Moura BS Ue Copyright © 1994 by Clovis Moura Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagao (CIP) (CAmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Moura, Clovis Dialética Radical do Brasil Negro / Clovis Moura, — S40 Paulo : Editora Anita, 1994 Bibliografia 1 Negros - Brasil I. Titulo. CDD-305.896081 105.896081 96081 Copidesque: Maria Beatriz de Melo Revisio: Clovis Meira Buitoragio EletrOnica: COMPUARTE Comérc Produgdes Graficas Ltda. Rua Mons. Passalécqua, Direitos reservados & Editora Anit Rua dos Bororés, 0120-020 - Sao Tel.: (O11) 35-8150 Printed in Brazil 1994 Para Anténio Fernandes Neto ‘Ari Cunha Nelson Schor Manuel Correia de Andrade Giselda Laporta Nicolelis M. Paulo Nunes joio Batista Borges Pereira sbenguele Munanga: ‘Amigos. Para Griselda: ‘Companheira. SUMARIO I- Do Escravismo Pleno ao Escravismo Tardio 13 O Escravismo Pleno 35 Brasil Reino e Brasil 45 48 50 52 53 Bstratégias de dominacio do escravismo tardio 7 No setor urbano-industrial o Brasil moderniza-se 59 A tecnologia nova serve & estrutura arcaic 6 Modernizacao escravista ¢ endividamento externo 6 A Tarifa Alves Branco 66 0 np Rasgos fundamentais do escravismo tardio_ 2 A lei Eustbio de Queiroz 85 A Guerra do Paraguai 90 Conclusses.... 9 IL- Populago, Miscigenagio, Identidade Etmica e Racismo mu 3 A difspora negra no Brasil Dinamismo demogrifico da escraviddo no Miscigenasio ¢ identidade étnica Particularidades do racismo brasileiro “Toda historia € remorso.” Carlos Drummond de Andrade IIL- Linguagem e Dinamismo Cultural do Negro ‘As culturas afrcanas transformam-se no Brasil em uma A Cidadania Confiscada “Classficam-se geralmente na nomenclatura de méveis todas aquelas cousas, que interase salvas por natureza, ¢ propriedade se podem mover, ou se movem a si mesmas de hum lugar, nio differindo as méveis das semovenies como as cousas arrancadas quais a areia, a greda, as arvores, os ramos delas; os frutos metilicos, ‘ouro, prata, cobre, estanho, chumbo, ferro (bem enten- dio, depois de avulendos eparads das mins) os ido: Arlindo Veiga dos Santos Linguagem, repressio e ansiedade do cativo (© negro urbanoemergente: novosaspectos da questdo racial Dois universosnegrose sua dinimicadivergenteem Sao Paulo © problema eleitoral €0 to negro ‘A beleza negra e a autoafirmas Valorizagio da estética africana Livraria matriz de consciéncia produzidos em prédios de Morgados, Prazo: cosete:: = Osexravos, os Bots Cavalos gadase mais (que. mova.” (fost de Mello Frere; Comentirio ds Instcuigies do Direito Civil Luaitano) I Do Escravismo Pleno ao Escravismo Tardio Historia da Escravidio: Um Dislogo Entre Hamlet e Polénio? tt ~ Estais vendo aquela nuvem em forma de camelo? Pela Santa Missa: Parece, de fato, um camelo! Creio que parece mais uma doninha. Polénio:- f certo! o édedoninha, Ouuma Pol6nio: - Uma baleia, realmente muito semelhante. Shakespeare Tentaremos demonstra, neste capitu ‘compreensio do que iremos expor ‘elementos tebricos que manterio a art fatual dest livro que, no Brasil, a escravido teve duas fases dist apenas no seu aspecto demogrifico, mas, também no social, econémico, politico e cultural. Uma fase ascendente, até 1850, quando foi extinto o trifico is periodos que se articulam, reestruturam € s desarticulam de acordocom adinimicaespecificadecada um chamamos, respectivamente, de excravinno pleno ¢ exravinmo tardio. Na primeira fase (€ devemos considerar aqui, também, a contribuigio demogrifica ¢ ‘econdmica do escravismo indigena tio importante no inicio da coloni- zagio) estruturase em toda a sua plenitude a excravidio (modo de produsio escravista)a qual iriconfigurarpraticamenteocomportamento das classes fundamentais dessa sociedade: senhorese escravos. Isto levard a que as demais camadas, segmentos ou grupos, direta ou indiretamente, também tenham a sua conduta e selecio de valores sociais subordinados 4 essa dicotomia bisi . (s antagonismos sociais, econémicos e étnicos verificados nessa epoca, as convergéncias e divergéncias ideol6gicas ¢ de comportamento que surgiram nessa sociedade so, fundamentalmente, decorrentes das posigdes estruturais e do dinamismo dessas duas classes no espaco social. Sio conflitos antag6nicos ou parciais conscientes ou inconscientes nos seus rasgos de acao social. Nio desejamos, com complementares ou ‘pleno, nem outros niveis na teragGes especialmente naquelas areas onde uma parcela de escravos smésticos (por isto privilegiados) aceitava sem revolta ou restrigBes a existéncia de outras formas -visives, interiorizando os valores do sistema, com ele convivendo através, 15 Dialética Radical do Brasi Negro de um comportamento ambiguo. Mas, do ponto de vista te6rico inais abrangente (visio de totalidade) temos de destacar que foram as contra- digGes estruturais que determinaram (de forma positiva ou negativa) a dindmica desse processo e ensejou, nas suas linhas mais geraise significa- tivas,do ponto de vista de dindmica social, passagem do escravismo para © trabalho livre, ‘A composigio da classe escrava, por outro lado, era profundamente diferenciada ocupacionalmente ¢ isso ird refletir-se na sua conduta quer «em relagio aos demais escravos, quer em relagio 4 classe senhorial. Nao se pode ver cada escravo como uma unidade uniforme, destacada de cada contexto especifico onde s encontrava no processo da divisio do trabalho, Quando dizemos que a contradigio fundamental no regime cescravistaeraa que existia entre senhorese escravos, isto seaplica de forma genérica ¢ abrangente (tedrica) e serve como indicador para se ficar sabendo quais as forgasque impulsionaram o processode dindmica social. Isto no exclui a existencia de grupos ou segmentos escravos que se iveram impassiveis, estaticos, dentro dessa contradicao (pois ela era independia da consciéncia que oescravo tinha da suaexisténcia) jonto, aceitando conviver e sobreviver dentro do sistema. Nesta se integrari em um universo adaptativo, neutro, sem perspec- tivado devir emergente. Podemos dizer que esses escravos se adaptavam aos valores escravstas, em maior ou menor grau, de forma consciente ou inconsciente, parcial ou total. Ecom isto produziam areas de estabilidade no sistema escravista, A produgio eo seu ritmo (quando foram escravos pprodutivos) dependers do tipo de comportamento desses escravos, como © nivel de desgaste econémico do mesmo dependeri do comportamento de escravo nio adaptado a esse tipo de disciplina do trabalho. Convém destacar, também, asdiferengasculturais dosescravos provindosda Africa € que aqui influiram no tipo de comportamento dos seus membros. Como podemos ver 0 modo de produsio escravista tem como componente estrutural mais importante as contradiges entre senhores € escravos, E € essa dicotomia contradit6ria que Ihe € inerente que impulsionaadindmica social enio asdreasde estabilidade parcial que nele existiam, Por outro lado, atualmente hé uma tendéncia de cunho neoliberal de subestimar o conflito e darse mérito 4 acomodagio por parte da massa, escrava, vendose nisso uma estratégia do escravo (em abstrato) que pprocurava criar um espaco social, cultural ¢ econémico préprios, no qual a convivéncia com 0 seu senhor era conseguida através de um pacto, um acordo implicito e negociado no qual as contradigées eram assimi ¢ substituidas pela convivéncia, se ndo harménica pelo menos estivel e consensual. 16 (Do Escravismo Pleno ao Eseravismo Tarcho Em primeiro lugar afirmam que o escravo no era uma simples miquina (cixa) como queriam os seus senhores € certos sociblogos afirmam, com © que estamos de acordo. Mas, para essa corrente de cientistas sociais neoliberais a intrioidade humana do escravo nio se manifestava através de revoltas ou atitudes divergentes, masde acomod- ‘gio, Com esta visio o escravismo se establizaria, as contradigées ficariam semi-anuladas por pérachoques sociais num contexto de senhores ¢ ‘escravos estivel ou relativamente estivel e cheio de espagos neutros, nos ‘quais os escravos poderiam viver com elativa estabilidade e os senhores seguranca, Essas relagbes adaptativas e neutralizadoras das nerentes ao sistema, atuariam, assim, como um mecanismo ‘moderador e gerador de uma psicologia de empatia que caracterizaria a esséncia do sistema. ‘A. do escravo nesta perspectiva reagiria, sempre, ou quase sempre, ‘mas de maneira significativa ou preponderante, positivamente, a uma negociagdo e nunca em diregio a formas de rebeldia ativas e/ou passivas conde ele reencontraria a sua condigo humana. ‘A sua estrutura de personalidade, a sua interiorilade era montada no sentido de receber passivamente ou semipassivamente os mecanismos controladores do sistema, porém nunca, ou quase nunca, para receberem, assimilarem, um reflexo antiinibidor e contestador: uma consciéncia critica, Seria 4 base desse comportamento negociado que se explicariam ‘certas particularidades do escravismo brasileiro quando comparado 20 queexistiu nos Estados Unidose no Caribe. Aqui, “entre Zumbi e Pai Joio © excravo negocia”. Esta seria a sintese hegeliana das relagdes entre senhores ¢ escravos no Brasil. O meio termo seria a realidade, o etinho e as acomodagées dariam o ethos do nosso sistema escravista. No entanto,adinémica bisica do sistemaescravistae a sua superagio estrutural esti nos conflitos entre as classes que eram substantivas nesse modo de producio. Que algum tipo de relacionamento alternativo entre ‘escravose senhoresexistiu ninguém poe em davida, mas, see fosse tipico ‘edeterminantedadinimica entre essasclassesjamaisoescravismo entratia ‘em crise seria substituido por outro modo de produgio, pelo menos no pprazo em que foi. Teria de ficar esperando as contradigdes ext destrut-o e isto nao aconteceu, embora fatoresexégenos também contribufdo perifericamente na sua iltima fase. Gostai ‘um trecho de K. Marcoqual nosparece de fundam ‘a compreensio tedrica do assunto: “A feudalidade também tinha o seu proletariado ~ a servida errava todos os germes da burguesia. A produgio feudal tinh: sm dois elementos antagénicos, que designam plo do bm e edo men da feudalism se considera que sempre o lado mau que acabava levando a vantagem sobre o bom. Bo 7 Dialética Radical co Brasii Negro Jado mau que produz o movimento que faz ahistoria,constituindo aluta, Se na época do reinado do feudalismo, os economistas, entusiasmados com a virtude cavalheiresca, com a boa harmonia entre os direitos ¢ 0s ddeveres, com a vida patriarcal das cidades, com o estado de prosperidade dainddstria domestica nos campos,com odesenvolvimento daindistria corganizada por corporagies, mestradosejufzosde oficio, enfim,com tudo ‘© que constitui o lado bonito da feudalidade, se tivessem proposto 0 problema de eliminar tudo o que obscurece esse quadro ~ servidio, privilégios, anarquia - que teria acontecido? Teriam sido destruidos todos 5 elementos que constituem a luta, e sufdcado no seu germe 0 desenvolvimento da burguesia. Tera sido colocado o problema absurdo de eliminara histéria”, Brasil, isto 6 a pa digo do nosso Desjainos dizer com isto que sempre tivemos uma posigio tebrica foposta a daqueles cientistas sociais que igualam o fundamental, 20 secundirio; o substantivo, ao adjetivo; o conjunto, ao detalhe;o objetivo, a0 subjetivo €0 comparativo ao analégico. Procuram, assim, por questdes ideoldgicas algumas vezes invisiveis pelo recurso da erudico de fichirio, © conhecimento, demonstrar que no modo de produgio brasileiro a conciliagio, a barganha, 0 acordo sobrepés-se 20 conflito ¢ ao descontentamento; a pacificagio a violéncia e a empatia & resistencia social, politica cultural nos seus diversos niveis, Para eles, 08. socidlogos ¢ historiadores que trabalham com a categoria da contradigio € do conflito como to central da dinimica social estariam se deixando influenciar por elementos emocionais extracientificos,ideolégi- ‘@s ou por uma visio nio cientifica das relagées senhor/escravo. No entanto, hi uma striede socidlogose historiadorestrabalhando atualmen- te, cada um a seu modo, com 0 conceito do conflito (portanto da contradigio) como elemento explicador da dinamica social. O professor Jobn Rex - que nao marxista- escreve por exemplo: “Como acontece éentre os grupos, primeiro devemos deixar claro os po! ligdes estruturais, desde a primeira Rebelides da Senzala, publicado em 1959%, deconcordn- juanto d maneira pela qual ocontflito pode serlevado.a Mas, desde que existe um conflito de objetivos, deve-se esperar que c: grupo procure forgar 0 outro a seguir um comportamento que, na pior das hipéteses, nao interfira com a realizacio dos seus proprios objetivos 18 Do Escravimo Pleno ao Escravimo Taro tum certo grau de concessio é mais proveitoso do que a continuagio do conflito. ‘Seo equilibrio de poder permanece depoisdecelebrado o acordo este pode ser elaborado para proporcionar normas consensuais de comport mento para os membros de ambosos grupos. Masé possivel que se atinja somente um compromisso instavel, caso em que ambos os lados permanecerio preparados para o reinicio do conflito™. ‘O que se ve - sem muito esforgo de analise tebrica - & que do ponto de vista de John Rex, parte-se do conceito de conflito como bisico, para chegarse & conciliagio como eventual, secundério e conjuntural. Os cientistas sociais brasleiros, que estio procurando reve modo de produgio escravista no Brasil, partem doconceitodeconciliagio € o acessbrio, Parece-n0s claro, portanto, que 0 socidlogo ou historiador ao procurar as causas da dinimica social de um modo de producio e os contradigGes e nos conflitos as causas geradoras dessa dinfmica e nfo nas reas neutras e estiticas de conciliacio existentes no sistema. ha atualmente uma corrente que procura como a Demografia Hist6rica, explicar de social ¢ 6tnico durante a escravidio ¢ a substituigao do primeiro pelo trabalho livre’. Nao queremos negar 0 valor desses estudos como ferramentas auniliaresda Sociologia eda Histbria. sss trabalhos compdem um painel rico evariado de informagées, devendo serconvenientemente valorizado. ‘O que nos parece um exagero flagrante & elevilos a iltima instincia do conhecimento, sem nenhuma mediagio tebricacom asciéncias sociaisno seu conjunto, especialmente a Sociologia e a Historia. Através de técnicas de abordagem sofisticadas e quantificadoras de detalhes, tentam, por ‘exemplo, demonstrarainexisténciade barragem social eétnica permanen- te contra o escravo e mesmo o liberto no processo de transformacio do «escravo em homem livre ¢, posteriormente, ap6s a Aboliglo, na transfor. Diaistica Radical co Brasit Nogro populagio escrava adaptava-se total ou significativamente aessa conviven- cia 0 que lhe permitiria, inclusive, criar uma cultura da escravidio, transformando-seem uma unidadeacimadascontradigSesdo sistema,em ‘uma tnidide cultural neutra ou pelo menos adaptada aos padres escravistas ‘Queremos detersnos mais analiticamente em dois aspectos: a possi- bilidade de uma empatia social, através de vastos espagos imunes 20 conflito € a possbilidade, a partir dai, de ser possivel a formacio € desenvolvimento de uma cultura da eravidt, Ora, o aparelho administrative montado na Colénia tinha dupla finalidade: defender os interesses da Coroa e garantir a seguranga dos senhores da insurgéncia negra escrava, que se mostrava dinamica e constante nessa fase do modo de producio escravista (escravismo pleno). ‘Se, de um lado, esmeravam-se na defesa dos direitos do Rei, da seguranga dda classe senhorial e eficiéncia da maquina administrativa local, de outro estruturavam-se militarmente para conterosescravos(africanose também {ndios) que se recusavam a0 trabalho, quer através da fuga individual, quer através de quilombos que se organizavam em toda a Colénia. Durante o tempo em que o escravismo pleno funcionou, os negros viviam em um verdadeiro corpo-+-corpo com os senhores ¢ as autoridades. ‘Ocixo da dinamica social desse periodo passa pelo comportamento do escravo rebelde ou descontente ¢ as medidas das autoridades para impedilo, sto no quer dizer que todo escravo fosse um quilombola ou fugitivo. Em qualquer sociedade dividida em classesaconsciéncia dos seus antagonismos no atinge a totalidade dos seus membros, nem seria isso possivel. Quando voltamos a repetir que a dinimica desse tipo de sociedade passa pelo antagonismo entre escravos ¢ senhores queremos assinalar que toda a miquina ideolégica, administrativa ¢ militar estava ‘montada objetivando manter o eyuilibro social ele somente seria possivel se houvesse uma estrutura de contengio capaz de mantéla equilibrada. Esse equilibrio era conseguido através do chamado controle social. Bvidentemente, no conjunto das relagées estabelecidas nessa sociedade cexistiam Sreas de colaboracio social do escravo ¢ compreensio de alguns senhores. Mas, ess rlagées sociais nao tipificam aquelas que produzem ‘edio conteiido & dinimica social nos seus diversos niveis e se expressam. justamente no antagonismo de interessese da alocacio de cada uma dessas classes no espaco social. Querer ignorar isto & pretender que as relagdes de contato cotidiano individual e rotineiro entre os componentes das duas lasses em antagonismo nos niveis de colaboracio, adaptagio e de acomodagio tio estudadas no Bra aquelas que caracterizam o sistema escravista, £0 fator de mudanga e transformagio da di 2 0 Escravismo Pleno ao Escravismo Taro Queremosinsistirnestedetalhe: quando se estuda centificamente as relagesestabelecidas de um modo de producio na sua otalidade procure: se ver quais io aquelas relages mais importantesem comparagao aquelas secundiriasno processo da dinimica no periodo estudado. Evidentemen- te, sio encontradas Areas nas quais as relagdes de fragoes de classes slo pacificas, neutras e até coloquiais. Flas possibilitam que 0 modo de produgio possa funcionar e estabelecer um espago no qual o trabalho possa ser realizado sem choques ¢ com isto se justifique a sua existencia no campoda seguranca sociale produtividade. Se todos osescravos fossem rebeldes © modo de produgio escravista nao teria existéncia, porque a producio seria impossivel socialmente e um modo de produgio sb se justfica exatamente pela pradugio nele contida. ‘Mas, isto nao explica ou esgota 0 assunto nem os mecanismos da dinamica do escravismo, O seu agente motor esta justamente no oposto dda harmonia e da cooperagao, nas contradigdes que uma parte da classe produtora do valor se abstém dessa produsio. Fé justamente essa parcela escrava que representa em diversos graus diferentes a negacao do sistema de produgio existente. Nem Zumbi nem Pai Joao. Com isto ficarfamos com 0 escravo que faz. acordo com o colaborador do siste i cemprego 0 termo colaborador no seu sentido estritamente econdmico) aquele que pela sua produgio (e toda produgio exige uma disciplina no trabalho) consolida esse modo de produgio. Ora, se todos os escravos fossem disciplinados, fizessem acordos,aceitassem acultura da escravidio segundo os critérios de concessio do senhor, entio, como diria Marx, a historia pararia, Esta visio do detalhe, de andlise de caw, de exagies usada por alguns cientistas sociais brasileiros na esteira dos norteamericanos, faz com que muitos deles procurem fazer uma releitura do que foi a escravidio no Brasil via papel-carbono dos segundos. Jodo? A apresentagao dessa dicotomiacomo sendo aquela logos ehistoriadores brasileiros que trabalham com a categoria da contradigio e do conflito caricata e destituida de seriedade. Ninguém, até hoje, 0 que eu saiba, quis transformar a populagio escrava como composta de herbis na sua totalidade, ou como sambos, Mas, o que nosparece serconsiderado & que independentementedesse julgamento de valor de herbis e vilées, deve-se ver qual o tipo de comportamento que, na dindmica social, contribuiu para o seu aceleramento ou para ainércia, a estagnagio e a conservagio das relagdes de produgio escravista via cequilfbrio social Esta racionalizagao das relagbes durante o escravismo (beirando a0 funcionalismo sociolégico) ¢ 20 mesmo tempo a sua simplificacio, transformouseemum simples luir,como se nao tivesse sido um processo a Dialstica Radical do Brasit Negro rio que passou por diversas fases durante a sua existéncia endo i antese relevantes durante o seu transcur- a forma como a escravidio no Brasil io da mesma, deixando o estabele- para possivel trabalho posterior. riodizacio dividimoso.scravismobrasileiroem yroximadamente, 1850). Por que esta petiodizacio? Em primeiro lugar, porque mesmo no tendo havido uma modificacao estrutural nas relagées de produgao escravistas, durante a sua existéncia no Brasil, podemos registrar, a partir modificagGes tendenciai sofreram um processo de diversificagio regi Em segundo permanente. seria simplificar demais, como aliis acontece uitas vezes, verse 0 sistema escravista no Brasil com as mesmas ‘caracteristicas durante os quase quatro séculos da sua durasio. Durante esse longo periodo causas internas ¢ externas influfram para que certos rasgos e particularidas estrutura sofressem modificagoes, inici- almente imperceptiveis por irrelevantes ou inobservadas, mas, com 0 correr do tempo ficaram mais significativase visiveis. ‘Conforme jé haviamos assinalado anteriormente6, essas mudangas realizamse em dois periodos, podendo ser registrados como nodais. Nao ‘vamos no momento insistir nas particularidades dessa periodizacio, isto seri feito no decorrer do livro, porém apenas salientar a necessidade de consideré-la como marcos capazes de situar mais precisamente o nasci- mento, apogeu, decadéncia e decomposicio do modo de produgio ‘escravista no Brasil Esta visio sociologicamente mais precisa poderd explicar ou fazer compreender nio apenas a composicio de grupos ¢ segmentos ea sua alocagio no modo de produsio escravista mudangas de status durante o seu transcorter, o papel das c como, também, aslutasde resisténc ‘nos seus diversos niveis e nos seus TTemos de ver que © dinamismo. da sociedade escravista, como unidade produtora,tinha de estabelecer mecanismos de funcionamento ce defesa capazes de fazélajustificivel econdmica, social e politicamente. Isto exigia uma racionalidade interna do escravismo. Acontece que a racionalidade desse modo de producio nioé amesmado capitalism, isto 2 Do Escravismo Plano ao Escravisme Tarlo porque as leis econdmicas que regem o funcionamento dos dois sistemas slo especificas de cada um. Para se compreender a racomalidade que se desenvolve através da dominagaoeconémica extraeconémica nomodo de producioescravista temos de dirigit a nossa ética nio para o comportamento bom ou mau dos seus agentes principais~ ser comportamento dos compo! 30 forgada, a desarticulacio Famili tiqueta escrava em relaGdo 20 se imposto, a tortura nas suas diversas modalidades; e, por outro lado, os fatores extralegais de desequilfbrio dessa racionalidade como: a desobedi- loescravo, a malandrage i vidual, a fuga coletiva, a guerrilha surreigdo urbana, o aborto provocado pela mie escrava, do recém-nascido, os métodos anticoncepcionais empiri 40 do escravo em movimentos da plebe rebelde. Bsses dois lados do escravismo compéem uma unidade, uma totalidadee &sobrecla que se projetaaracionalidadedo sistema. Nioh nenhum julgamento de valor ou implica considerar se os senhores sio estrutural com valoresc: mos compreendéo. Faz parte da ldgica do sistema. Poristo, achamosque o problema da dinimica social do escravismo exemplos de episédios, de detalhes que se sucederam isoladam a visio da sua transformagio estrutural através da fricgio nos digées faziam parte da raconalidade do sistema escravista e da sua estrutura, dao-the contetido, formam a sua totalidade ¢ normalidade. dagui para ld, isenta de pressupostos pree velho Durkheim jd dizia que para se ter um conhecim 2 Dialéica Radical do Brasil Negro dizer que esses julgamentos de valorimplicitos na anilise e conclusio do Jo escravista no Brasil deverao passar por uma reformulagio tebrica quer metodolégica para nio continuarmos na jo respondendo ao delirio de Hamlet. Esta posigio influenciada - tebrica e institucionalmente - da Sociologia e da Histéria nos paises do chamado Terceiro Mundo em relagio as fontes culturais dos paises desenvolvidos, vem sempre acompa- nada de uma postura de subordinagio ideolgica. As perspectivas de anilise, 08 projetos ¢ a produgio académica que Ihe dio conclusio coincidem com 0 circuito fechado do pensamento distribuido pelas instituigées. académicas dessas nagdes hegeménicas. Esse processo deformador, reificador leva a se procurar analogiasentre o produzido na ‘matriz ¢ a nossa realidade. Decorre, como ji dissemos, uma cigncia de semelhangas, de analogias, sem que asdiferengas possam serconsideradas, asparticularidades destacadas, as contradigdes analisadase os diferenciais entre realidades diversas possam ser estabelecidos. Como podemos ver, as ciéncias sociais brasleiras ainda no tém karomhor. Este procesto de raciocinio anal6gico estimula ou determina muitas _vezes niveisde prestigio académico, tendo ocientistade procurar no Brasil clementosque ustifiquem asconclusSesdasmatrizes. Temosde encontrar correspondéncias entre a realidade estudada pelos cientistas das matrizes ea realidade brasileira Hi, por isto, alguns cientstassociais nacionais que, ao discutirem a a fase da escravidio no Brasil referem-se ao escravo de ganho como ‘metade escravo metade live. Em face disto temos de tecer algumas consideragaes sobre a andigio do ser ecravo. (O problema do escravo, ou seja, a sua caracterizagdo essencial (de cessincia) no pode ser conceituado pela forma como ele é tratado por alguns senhores, alimentado, vestido ¢ educado. Sua condigio podia, ‘mesmo, em certas circunstincias - e esta particularidade foi muito explorada pela literatura escravsta, daqui e dos Estados Unidos, daquela epoca serigualado a algumas categoriasde trabalhadoreslivreseuropeus. Em nivel de castigos, por exemplo. Descrevendo as condigdes do povo trabalhador na Franca, por volta de 1664, Michel Beaud diz: “ao mesmo tempo, éo brutal aprendizadoda disciplina stureira. Osmendigos, ey ‘Do Escravismo Peno ao Eseravismo Tarcho encerradosnosasilos, devem aprender uma profissio; os ociosos, as mogas missa no iniciododia, osiléncio oucanticos durante o trabalho; as: © agoite ou a golilha em caso de erro; a jornada de doze a dezesseis | ‘0 baixos salériog, a ameaga de prisio em caso de rebelido”*, A primeira vista essa situacéo ¢ exatamente igual a dos escravos no Brasil e, ao se analisar apenas formalmente as duas sitwagbes chega-se & conclusio que os dois tipos de sistema de trabalho se equivalem. No entanto, se aparentemente sio iguais - pelo nivel de exploragio em horas de trabalho e mesmo o uso de aparelhos de suplicio - as situages no se podem comparar. Na primeira o trabalhador estava sujeito a normas contratuais, isto é, teoricament i, €, 20 mesmo tempo, partici- pante do mercado e suas flutuagGes através das oscilagdes dos saldrios, do prego da sua forga de trabalho e da aquisigio de bens de consumo. Ele, mesmo submetido a formas abusivasde coersio, tinha odireito de mudar_ ‘voluntariamente de patrio, deixarde trabalhar ou exigir melhor pagamen- to. Era, por isto mesmo, malgrado as condigSes opressivas a que estava submetido, um ser lore, isto , um ser que nao era dono apenas da sua interioridade (0 corpo do escravo pertencia 20 seu senhor), mas dispunha livremente do seu corpo para locomover-se e atuar como aj produtor. Essasregras, mesmo nas condigdes odiosas expostas acima,tinham de set respeitadas porque o mercado nio podia ser criado independentemente dele, mesmo com a existéncia do exército industrial de reserva. E verdade que a mercadoria (por ele produzida) nio lhe pertencia, mas ele ao imprimir nela 0 seu trabalho, criando valor, participava do mercado no nivel em que recebia um salrio que também agia ativamente no mercado. Jaoescravo circulava como mercadoria, idéntica iquela a qual ele proprio produzia. E é nesse nivel de relagdes econdmicas que o esctavo & socialmente eviificado, le durante 0 decurso da sua vida pertencia. Nada revertia posteriormente para ele. O que con sum tipo de racio animal (muitasvezes porele proprio produzida) fornecida pelo senhor para repor a sua forga fisica capacitada para o tipo de servico escolhido por ele. Por outrolado, seo homem livre produzia mercadoria, o escravo era também mercadoriae poderia ser vendido juntamente como saco de café por ele produzido. O seu trabalho nao era recompensado € os alimentos ‘que recebia, assim como as roupas, nao eram pagamento, mas material suficiente para a manutengio da miquina ¢ colocéla em situagio ‘operacional. Oescravo, por isto, podia até possuir alguns bens concedidos 5 Dialdtica Radical do Brasit Negro pelo senhor. © que ele nio possula nem podia ter era a posse do seu proprio corpo e a capacidade de trabalho de que le estava investido, Esses dois tipos de trabalhador no sio por isto idénticos, quer estejam trabalhando de ganbo ou no eta. O trabalhador livre pode, dependendo Mas isto para di esti cumprindo com normas contratuais.Jé escravo era castigado sem necessidade de nenhuma notma de Dit is era uma propriedade privada do senhor e sobre l Esseaspecto de mercad se corporifica na relacio entre oescravo icante que € 0 elo intermedirio na sua comercalizagio. Com propriedade escreve neste sentido Carlos Simdes: “para 0 traficante, escravo é apenas mercadoria viva em estoque e como tal, todo o seu fluir .quantificive pelo valor dos meios de subsisténcia. deve desembaracarsse dela. O senhor definitive, a0 cont reproduza o capit propria manutengio, imente. Daqui decorrem duas ob: 17, 0 valor do excravo esti diretamente relacionado com os custos da sua obtengio,que sio diretamente relacionadoscom oscustosdo apresamento ao de sua manutengio. Estes custos correm por conta do comerciante ‘escravistaevariam de acordocomaquantidadedisponivel doestoque que, inclusive, pode propiciar desperdicio de escravos, segundo, os senhores definitivos devem sustentilos e ainda aos filhos (¢ aos velhos se prevalecerem razdes humanit alle ou nio, recebendo em troca toda a forca do trabalho escrava Mas, nio € apenas essa transagio comercial através do traficante que legaliza a posse do escravo, Quem compra uma mercadoria roubada nio ito sobre a mesma pois foi ilegitimamente comprada, No meio da instituigio da esc comercial de compra e venda. Mas, nlo a venda que cria esse direito, apenas o transfere. E necessirio que o dit dsta antes de poder transformarseem objeto de venda. Uma nuamente repetidas. Geraram esse direito transagio, embora a realize materialmente. ceseravos, embora privilegiados na divis escravos de gabo ou alygadis na zona os outros. Achamos, por isto, como ios Simées que: “O escravo no 26 ‘Do Escraviemo Plano ao Escravizmo Tarclo possui o corpo como livre instrumento de sua vontade. A subordinacio absoluta a que esti submetido advémnlhe da expropriagi propriedade. Expropriado dos meios de producio, proprietario natural de simesmo para vender sua forcaem troca de: (Gabemos que a troca por salério in natura & corrente nas economias em ‘queostrabalhadores sao proprietériosdosinstrumentosde trabalho). Mas 4 propriedade de si mesmo é um atributo que impede aos expropriados, no modo de produgio capitalista tornarem-se escravos. No escravagismo a expropriacio toma o trabalhador escravo; no modo capitalista toma-o lore”, E 6 exatamente neste nivel que o citcuito se fecha. Dando continuidade a essa anilise critica de certos conceitos atuais Irecha camponesa. Para alguns historiadores sociélogos indo a esteira dos seus colegas dos Estados Unidos e do Ca sentido, 0 mais qualificado defensor da sua exi inquestionavelmente Ciro Flamarion S. Cardoso. Depois de estudar criticamente a bibliografia pertinente no Sul dos Estados Unidos, Caribe francés e Caribe espanhol, aborda o problema da brecha camponesa 10 polémica as posigdes do historiador Jacob Gorender do qu comprovagio fatual e especialmente conceitual da sua existencia" ‘Outros historiadores e socidlogo: através de brechas: - brecha camponesa, de ganho, feminina, da casa grande, do eito etc, procuram, com isto, fragmentar e mesmo pulverizar, através de iniimeras vertentes, o bloco fundamental e eixo dinamico das ioeconémicas globais que configuram a essencia di ‘modo de produgio escravista no Brasil. Com isto diluem problema fundamental de luta de classes no que ele tem de substan relagoes entre a classe senhorial dona dos meios de produ: « pessoa do escravo) ea classe oprimida mais importante: a clase escrava. Esta fragmentacio, lado leva-nos a um relativismo sociologico chegando quase a negar a ciéncia no seu sentido mais profundo. 2” Dialética Radical do Brasit Negro trecho brecha cemponesa foi criado por Tadeus Lepkowski" para designarum tipo de exploragio agricola individual ou familiardoescravo fem terra do seu senhor, para o seu sustento e da sua familia. Em alguns casos, havendo excedente 0 escravo poderia, dependendo de autorizagio implicita ou explicita do seu senhor, comercializélo ou acumulé4o, Esse conceito ganhou ampla circulacio entre os historiadores da escravidio. ‘Mas, para n6s, 0 conceito como € aplicado, mesmo como sendo apenas uma varidvel semintica, com o significado a ele conferido & cientificamente insustentivel. Em primeiro lugar di a entender a existéncia de uma brecha de trabalho camponés (de homens livres, portanto) dentro da drea agricola da economia escravista. Isto porque o termo campons, a0 contririo do que alguns dizem, definido conceitualmente nas citncias incluindo-s aeconomia, Significa um homem livre (juridicamen- te livre) 0 qual através do seu trabalho, explorado pelo proprietirio da terra, ou na sua, seé possuidor de uma gleba, insere-e como trabalhador para comercializar aquilo que ele produz, quer para si ou para o roprietirio da terra, quer para o mercado aberto mediante detalhes contratuais com o respective dono - no caso de nao ser proprietério ~ ou ‘outros agentes mercantis seo for. Por esta r2230 (e outras) conforme jf foi dito, a brecha campomesa na sua acep¢io restrita seria um tipo de trabalho agricola executado por homens livres (camponeses) engastado na estrutt- ra do sistema escravista. Nio€ poroutra razio que aquelestrabalhadores que recebem salirios ‘no campo no sfo camponeses, mas assalariados agricolas.Situam-se na categoria de operirios So, portanto, vendedoresda sua forgade trabalho no mercado capit coloca na mesma categoria do trabalhador de uma fi cexploragio da maisvalia. O que i de trabalho por uma dete ‘mesma forma o escravo a0 seu senhor naoestabeleceo sta relagdo continua escravista, aumentando o sobretrabalho do escravo edando um lucro suplementar ao senhor. © termo brecha aumponesa &, portanto, impréprio para definir o que o autor se propés. Em segundo lugar, o escravo que trabalha por consentimento do seu senhor em um pequeno lote de tetra, plantando nessa parcela produtos agricolasem pequena escala para uso pessoal, comoatividade suplementar as suas tarefas ordinarias, jamais perde a sua condiglo (esséncia) de ser 28 (Do Escravismo Pano ao Escravismo Tarcho alienado (socialmente), da sua condigio humana. Nao é portanto campones ou profocemponés. © que acontece no caso & que 0 senhor autoriza, isto &, consente exercendo a sua condigao de proprietério de um ser humano ¢ da terra) ao escravo praticar essa Fangio (atividade) ‘compulsoriamente. O que, alii, é caracterstica de todo trabalho escravo, como uma estratégia racionalizadora a fim de conseguir maior soma de sobretrabalho, tirando-he o tempo delazer, sendo, por isto, também uma forma de coergio extreecondmica por ele exercida. Naoconfigura, portanto, uma posigdo de independénciacamponesa = protocempesinato~ mas, peloconttririo, maisuma forma de subordinacio ecoergio extra-econémica. O fundamental éaesséncia alienada des de trabalho e nio a divisio intema do mesmo estabelecida pelo senhor. Ninguém melhor do que Dostoiévski descreveu esse tipo de trabalho quando diz referindose ao comportamento dos condenados a trabalhios forgados na Russia: “Comefeito, osdetentosainda que embaracados pelos ferros transitavam livremente na prisio. Aborreciam-se, cantavam, traba- Ihavam, fumavam seus cachimbos e bebiam aguardente (os beberrées, ‘entretanto, eram bem raros). Organizavam mesmo d noite jogos de cartas. Constatei que os trabalhos nio eram irduos endo constitufam a verdadeira fadiga do presidio. Compreendi bem mais tarde, porque esse trabalho era duro e excessivo; nao pela dificuldade que apresentava e sim pela razio muito simples de que era forgado, constrangido, obrigatério. Somente executado por temor ao chicote. © camponés, sem diivida, trabalha mais do que o forgado. Labuta noite e dia; é no seu préprio interesse que se cansa. Também sofre menos do que 0 condenado que de que se quisessereduzir um homem a nada, cesmagando-odetal forma que o mais tem desse castigo, e se amedrontaria écontrariador obrigam-no, por exemplo, a carregar igua de uma tina para outrae vice-versa, a reduzirareiaem po oua transportarum montede terra de um para outro lugar, ordenando-lhe, em seguida, o contririo. Estou persuadido que ao fim de poucos dias o detento se estrangulard, ou cometera mil crimes que o conduzirao a pena de morte, preferivel a essa vida de humilhagdes ¢ tormentos. Conclui-se quecastigo igual seria outra tortura, mais uma vinganga barbara do que uma corregio. Além disto, 29 Dialética Radical do Bras Negro completo absurdo, pois com tais sistemas nio atingem nenhum fim jusificdvel Esta anilise genial de Dostoiéswski vem demonstrar como em qualquer parte da divisio do trabalho onde o trabalhador estiver exercendo o seu servigo como escravo a alienagio o envolve. A wisificapio sodialdoescravo continuacompleta. Podem terhavido casos isoladosonde © senhor nao tenha usado desse direito, concedendo um certo espago de asio maior para que ele assim pudesse dispor de um excedente da roca. Maso seu direito, em abstrato, continuava existindo, nio o usando por no necessitélo ou nao querélo. Isto evidentemente nio representava ‘uma brecha camponesa ou um protoaunpesinato, como alguns cientistas sociais, no sentido de copiar esquemas tebricos vindos de fora, tentaram e tentam usilo. Esses médulos de produgio, pelas relagbes estabelecidas entre 0 produtor da riqueza (valor) e © ‘chegam a constituir um protocampesinato em nenhum dos seus aspectos sociol6gicos e econdmicos, mas s¢ inserem nos quadros das relagGe produsio escravistas, constituindo uma das suas varidveis. Se fosse de outra maneira haveria a possibilidade de e continuidade desse provoaempesinato de origem escrava = escravos nas brechas atmponewas - na sociedade de trabalho livre que substitui o escravismo, uma massa camponesa dela oriunda. Tal fato, porém, ndo ocorreu no Brasil de modo significativo pelo menos. A.chamada breche ctmponesa no Brasil se for estudada a partir da distribuigdo de renda da terra, deixa de existi. Isto porque no sistema ravista entra no custo de produgio da mercadoria produzida nas uunidades do senhor a alimentagio do escravo, assim como, no sistema capitalista entra o combustivel que aciona a méquina da empresa. No sistema escravista 0 escravo ¢ arrolado como capital fixo. Ele € reposto, assim como € reposta uma parte da miquina desgastada no processo de produgio. No sistemacapitalista dor tem dealimentar-se Assuas custas através de uma mercad. restauracio fisica, Essa é a cau ‘onsiderado capital variével. Desta forma, somente seri jusificavel falar- se de uma brecha camponesa compusesse uma outra unidade produtiva independente daquela existente no sistema escravista, com caracteristicas de trabalho camponés (isto 6 livre) o que nao aconteceu no Brasil. Pelo contririo. Produziu-se um tipo de escravo que plantava os meios de sua propria subsisténcia nas terras que lhes foram indicadas e permitidas pelo senhor para eles produzirem ou suplementarem a produgiio escravista na rea de produtos alimenticios, conseguindo, com isto, diminuir o custo de produgio da mercadoria que o proprio escravo 30 Do Escraviemo Pleno ao Escravisrno Tarlo produzia para a exportagdo, aumentando, por outro lado, a taxa de sobretrabalho do escravo e de lucro Es senor (O camponés (homem livre, portanto) est, do regime Pee podechsbar bolstes de trabalho e/ou influtncia social, econdmiea e cultural independentemente do trabalhador escravo, como agregido, trabalhador de condigio, meciro etc, Como aconteceu NO Nordeste acucareiro e poderio ser considerados historicamente um _protocampesinato dentro da struturado modo de produgao escravista. Mas {sto porque eram homens juridicamente livres (donos do seu corpo e da sua forgade trabalho) por istoestavam suj i mesmo atuando na estrutura escravista. Em outras palavras. seriam médulos de trabalho campones (¢, por isto, ndo escravista) produzindo artigos de consumo para uso de uma sociedade escravista, dentro das leis de mercado livre. ‘como vemos, é diametralmente oposto iquilo que foi chamado de brecha cemponcsa por Tadeusz Lepkowski. No particular, Maria Sylvia de Carvalho Franco tem um livro sobre essa atividade de trabalho livre no modo de produgio escravista que esclarece o assunto e demonstra a total desvinculagio desse tipo de atividade com a chamada breche cumponesa's. As discu adas no Brasil sobre 0 conceito de brecha camponesa centram-se na enumeragao fatual de que os senhores de cescravos cediam voluntariamente (uma negociagao em péde igualdade entre o senhor e o escravo & especulacio romantica) pedagos de terras 440s seus escravos para que eles praticassem uma agricultura de subsis- téncia, ¢, em alguns casos, havendo excedentes, comercializassem essa produgi0, quase sempre com o proprio senhor que os revendia no mercado livre. Mas, 0 que deve ser discutido nao ¢ a veracidade, freqiiéncia c/ou detalhes desse tipo de concessio senhorial. Essa concessio ninguém discute. O que se discute & se os escravos que plantavam nessas terras eram camponeses ou protocampesinos, Ou se nuavam escravos. O conceito @ sociologica- do ou confundido com o camponts simplesmente porque do camponts exige a existéncia de um trabalhad: e nao fatualmente. 31 Dialética Radical do Brasit Negro Outro aspecto da questio brecha camponesa ¢ se houve formagio de ilombola dentro do modo de producio escravista em dosescravose oestabelecimento de producio agricola articular ~ com excesio, talvez, de Palmares ~ nio se conseguiu definir no Brasil de maneira precisa a formacio, desenvolvi- ‘mento ¢ possivel destruigao (ou conservacao) dese tipo de economia ea formagio de outra da quilombagem, os seus vin economiacolonial, a sua possivel independéncia (ou possiveis vinculosde dependéncia), 0 seu ciclo de evolugao e as possibilidades - pelo menos teoricamente ~dessa economia transformar-seem uma propostaou praxis politico-conémica ou econémico-politica embutida no modo de prod- (io que substitui oescravismo em conseqiiéncia da sua dinmica interna durante a escravidio. Niocabe, contudo, insstir noassunto por falta de informagées sobre ‘esse tipo de economia no Brasil, mas, o que queremos deixar registrado € que esse tipo de economia quilombola somente se manifesta como negacio estrutural e dindmica (porque de protesto) & economia tradicio- nal e estabelecida: a economia escravista, De fato, uma economia quilombola dentro da estrutura escravista pelo menosno Br ‘mente outro modo de produgio do sistema escravista (ou teria sido, com particularidades e leis econémicas especificas). do que acontece com os camponeses, nio hé na fatual ¢ tebrica da economia da Por isto achamos que a visio da economia quilombola no Brasile a possibilidade de um protoaampesinato em decorréncia deve ser a anilise € interpretagio de uma realidade histérico-social e econdmica que ainda, no esti comodamente vertida para o discurso das ciéncias sociais de 2 Do Escravisme Peno ao Escravisrro Tarclo forma conclusiva ou satisfatéria, Por isto, hé trés vertentes a considerar teses: i isto 6 houve uma ‘Que houve esse tipo de economia alternativa, isto & tema nos grupos quilombolas capaz de proporcionar essa ‘economia informal de maneira significativa no conjunto da economia ‘scravista, continuando apés a Abolicio; ') Que esse tipo de economia alternativa nao teve possibilidades de «) Que esse tipo de economia quilombola teve um desenvolvimento ies a destruigio dos quilombos, nao vestigios ponderiveis em conseqiiéncia da morte ou dispersio Para nés, essa produgio quilombola, pelo menos no caso particular do Brail © com base nos pouoos infornes de que dispomos (uma \clusio provisoria, portanto),nioseconfigurowem um provactinpesinato, thas foi uma economia de resistencia destinada a sobrevivéncia dos ivreem face da forte repressio contra eles. Tant io histdrico que na Repiiblica de Palmares, como nos quilombos mineiros, fluminenses, 105, pemmambucanos e de outras regides onde os quilombos se ram, no encontramos uma continuidade na economia apés a Aboligio porque foi destruida antes. Hi, contudo, algumas comunidades que se conservaram como bos, mas estas nao podem ser considerados a pastagem do excravismo para o trl bos criarai uma economia alter a) A Repitlica de Palmares, ) Os papamtis de Alagoas, ©) Os quilombos de Goiana e Catucé, em Pernambuco; d) Os Calungas, de Goids; 6) Os quilombos da regido amazonense Quantoa Palmares jéexsteumaliteraturarelativamente abundante, embora toda ela baseada em doc io dos seus repressores”. Por isto, nao iremos nsistir no assunto". Em relagdo aos papaméisde Alagoas 3 Diaibica Radical do Brasit Negro. abibliografiaéquase inexistenteeuma pesquisade campo deveriaserfeita. His trabalhosde Dirceu Lindoso, Manuel Correirade Andrade e Décio Freitas, mas, nio se fez um trabalho histérico-comparativo para se Cconstatar, ou nao, a existéncia de descendentes dos papaméis na atual populacio camponesa da regido onde eles atuaram. Seria uma oportuni- dade para se constatar, ou ndo, se seria aeconomiacamponesa ali existente continuagio por descendéncia daqueles negros que participaram da ‘Cabanagem de Vicente de Paula no século XIX ®, Em relagdo aos quilombos de Goiana e Catucé, o mesmo trabalho . Era, portanto, um equilibrio que tinha como base principal o antagonismoentre senhores eescravos eas medidasde controle social dos senhores. Por outro lado, seria ingénuo supor-se, no Brasil, um modo de produgio que se auto-satisfizesse na ireade circulagdoedo consumo; fosse ‘um escravismo patriarca, fechado, e se regulasse apenas e ta pelas relagdes estabelecidas internamente. Seria tatn se queesse escravismo, por estaligado ao capitaismo mercantil dasnagdes consumidorasdos seus produtostivesseinternamente, regulando-o,asleis de mercado daquelas nagées. © modo escravista de produgéo que se instalou no Brasil era uma unidade econémica que somente poderia sobreviver am e para © mercado mundial, mas, por outro lado, esse mercado somente podia dinamizar o seu papel de comprador e acumu- lador de capitais se aqui existsse, como condigio indispensivel,o modo de produgio escravista, Um era dependente do outro e se completavam. Dai muitas confusdes tebricas ao interpretar-se esse periodo, quando se procura estender as leis econémicas do capitalismo, especialmente do capitalismo mercantil 4 estrutura e 4 dindmica da sociedade brasileira ‘existente na época, Nio podemos deixar de reconhecer, por outro lado, que, no setor comprador, como na sua contrapartida, o vendedor, tivessem havido relagGes mercantis entre si Mas as relages de produsio escravstaseram, no entanto, © suporte fundamental que configurava as suas bases estruturais e determinavam todos os demais niveis do relacionamento social. Em outras palavras: as rlagbes escravista de produgio eram as fandamentaiseasquedeterminavam internamentea suadindmica. Bessa economia por outro lado, que jé foi chamada de uma “vasta empresa comercial” somente poderia desenvolverse e vender a sua producio substantiva se fosse compradora de uma mercadoria indispensivel: 0 escravo. E aqui se conclui a definigio de Caio Prado Jinior: era uma empresa comercial cujo modo de produgio era o modo de produgio escravista, Semo fluxo permanente da compra dessa mercadoria viva sistema escravista no poderia sobreviver e desenvolverse. Ela era a mola propulsora de tudo aquilo que dava vida o sistema e que, ao chegar, era ordenada de acordo com a sua divisio intema do trabalho. Se quase toda a produgio ia para o mercado externo, por outro lado, eram os senhores obrigados a investir na compra do escravo, para onde desviavam grande parte dos lucros advindos da comercializacio dos seus produtos no mercado internacional. Se toda essa produgio ia para o mercado extemo, por outro lado 0 38 (Do Escravismo Plano ao Escravismo Tarcho era obrigado a investir na compra do escravo afticano (na possibilidade de manter o equilibrio da forca de trabalho através do io) paraonde derivava grande parte dosseuslucros. Secaleularmos que 1 de 10 miles de afticanos entraram no Brasil via trifico interna- no perfodo que vai do inicio do século XVI a0 meado do século adquiridos pelos senhores durante a Colénia ¢ outros setores ressados nesse tipo de mio-deobra até 4 época da extingio do trifico, odemosimaginar, aproximadamente as proporgéesdasdespesas que eles iveram com esse tipo de investimentos eos lucros que proporcionaram raficantes. Era um tipo de investimento inicial oneroso e de curta 40, se levarmos em conta que a vida itil de um escravo era de sete a dez anos, sem incluirmos entre os riscos possiveis as constantes fugas individuais, a formagio de quilombos, as guerrilhas nas estradas, os suicldios e as insurreigdes urbanas®. Por estas razdes, somente o trabalho escravo € nio outro tipo de trabalho, mesmo compulsério e expoliativo poderia dar resultados compensatériosaonovo tipo deempresa que seestabeleceu no Brasil. Fora disto,o sistema global que regulava as relages metropolecol6nia entraria ‘em crise ou colapso, Ao mesmo tempo, queascolénias compravam das, meti6poles (€ 0 caso Brasileiro é o mais caracteristco) eram produtos peteciveisou deconsumo pessoal como vinhos,queijos,tecidos, bacalhau, farinhado-teino (trigo) ¢ outros necessirios 4 manutengio da miquina produtora a subisténcia da classe senhorial”. Dissemosque somente aescravidaoeraa formadetrabalho adequada ao sistema colonial porque somente ela, através da exploragio econémica € extraecondmica do trabalhador, com um nivel de coerga0 social despético e constante, poderia extrairo volume de produsao que fizesse ‘com que esse empreendimento fosse compensador. O mi investimentos € a sustentagio de uma camada improdutiva (inclusive escrava) levava a que somente com o trabalho escravo houvesse a possiblidade de lucros compensadores, quer para o vendedor, quer para ‘© comprador. O investimento inicial para a montagem de um engenho de agticar era vultoso ¢ sobre este particular assim se refere J. Licio de ‘Azevedo: “para se estabelecer o que se chamava no Brasil de engenbo real (0s pequenos designavamse por engenhocas) eam precisos grossos cabedais. S6 0s aparelhos para o fabrico, moe caldeiras, importavam perto de dez. mil eruzad ambos 0s sexos, porque as mulheres também fibrica, cinco mil cruzados, mas também havia e cingtienta pecas de escravatura; mais quinze a vinte| barcos, porque os transportes eram quase sempre € utensflios; tudo isso somaria pelo menos vinte mil eruzados. Nio 9 Dialética Radical do Brasil Negro nisto 0 custo das terras edificagSes; nem o capital necessirio para 0 movimento da casa, manutengio do pessoal e salétios; porque se, como diz um especialista do assunto, as exravos so as mate os pés do sembor de engento, havia também trabalhadores lives, indispensiveis, empregados na fibrica ou de diferentes oficios, geralmente brancos, do reino ou mestigos. Daqui provinha-e avaliarse em 40, 50, 60 mil cruzados e mais, co cabedal de um destes proprietiios, que eram a aristocracia da terra; ¢ viviam dlei da natureza,com gastosde ostentagio eluxo iguaisaosda corte ede que se espamtavam os estranhos vindos 4s col6nias". ‘Quanto a0 pessoal auxiliar endo produtivoeque era sustentado pela senda do engenho, Antonil referese a ele da seguinte forma: “Serve a0 senhor de engenho em varios oficios além dos escravos da enxada¢ foice que tem nas fazendas,e na moenda,e fora dos mulatose mulatas, negros e negras de casa, ou ocupadas em outras partes; barqueiros,canoeiros, calafates,carapinas, carretos, oeiros, vaqueitos, pastores ¢ pescadores. ‘Tem maiscada senhor destesnecessariamente hum mestrede agiear,hum banqueiro, € hum contrebanqueiro, hum purgador, hum caixeiro no engenho, outro na cidade, feitores nos partidos e rogas, hum feitor mor do engenho:e para o espiritual hum sacerdotee cada um destes oficiais tem soldada”®. Tanto esse capital fixo como o varidvel o senhor de engenho tinha de dispor, controlar, para manter a empresa em condigdes operacionais, isto exigia,portanto, um alto investimento e, em contrapartida, um alto padrio de exploragio do trabalho, sem isso o empreendimento nio seria econémico. Somente aescravidio, com o eu rigido aparelho de domina- ‘oecontrole, poderia satisfazer aos requisitosexigidos para que aempresa colonial fosse um sistema lucrativo para vendedores e compradores. ‘Umcomplexo agroindustrial tio custoso,semdependerdiretamente das leis do mercado livre porque ele era controlado pelo monopSlio comercial da Metropole, somente era vidvel se nele funcionasse um ‘mecanismo econémico que tivesse como forga de dinamismo o trabalho escravo, O engenho, no periodo descrito por Ant XVIII), era uma unidade produtiva consituida levandovse em considera 630 0 pré-requisito de que somente poderia ser dinamizada através desse leis econémicas que funcionavam no interior dessa economia, especialmente a extracio de todo o sobretrabalho, através da coergio econdmica ¢extraeconémica do trabalhador era uma dasleisdo modo de produso escravista nio de qualquer outro. Devemos nota, ainda, qu oda parte pusszedo sistema col (metrépoles). Este consistia em frota de navios, tipulagio em geral, alimentacio da tripulacio (edosescravosquandoera navio negreiro) além 40 Do Escravisme Pleno ao Escravismo Tardlo tos de troca, pentes, espelhos, facas,cachaga, fumo e os aparelhos \sio como ferros, correntes e outros instrumentos do género, yara compra de mercadorias, despesas portuarias, impostos mais, tudo isto constituindo uma dee neroa dos seus agentes. Todasessasdespesas, quer da parte pussina (produtorescoloniais) quer utiva (compradotes das metropoles) tinham de ser cobertas pelo rrabalho do escravo que era quem produzia todo o valor nesse tipo comércio. Querer dizerse que 0 modo de produsio existente aqui era capita estava diretamente ligado ao capitalismo europeu na sua fase ‘ecom ele estabelecia relagdes mercantis através daquilo que nou chamar de diviso internacional do trabalho, nio se ou ‘se partirmos da andlise das relagdes de produgio que existiam aqui. £ que ha confusio entre divisio internacional do trabalho e divisio internacional do comércio (mercado). Acontece que os dois termos no témo mesmo significado sociol6gico. A nternacional do trabalho seria aquela divisio estabeleida nas asonde a mercadoriaera produzida atravésdo trabalho escra ivel de relagdes de produio), ‘como o agticar, fumo, algodio, metais preciosos para o mercado consu- idor ¢ pelas classes senhoriais de cada regido produtora. E a divisio ternacional do comércio seria a divisio entre si das dreas de mercado mprador pelas nagdes que dinamizavam, no lado ative, o mercado ternacional. As duas coisas so, como vemos, bem diferentes. Na divisio internacional do trabalho (compulsdria também por fazer parte do lado passive do sistema colonial) temos os territérios coloniais com estruturas de produgio divididas internacionalmente ¢ subordinadas a mecanismos de procura extemnos, Essa divisio internacional do trabalho era aquela verificada em toda ‘a vasta extensio do que se convencionou chamar de Afro-América e esta eraconstitulda por um “conjunto descontinuo de regides marcadas pela imigragio forgada de africanos e por influxos culturais poderosos provenientes da Africa, embora a escravidio negra no tenha estado ausente de regido alguma do continente americano, convém ressalvar a continente onde

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