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A antiga civilizagéo neoli- +*% tica chinesa assemelha-se bastante as civilizagées da América e da Eurasia na mesma época — o homem ca- ¢ava e pescava, semeava, fa- bricava utensilios e armas de pedra, utilizava o arco e a flecha, entrangava cestos, te- cia, confeccionava objectos de barro e domesticava 0 porco eo cao, Em diversas localida- des da China do Norte foram descobertas ceramicas que da- tam desse perfodo. Entre os exemplos mais impressionan- tes podem citar-se os grandes potes do Kansu**, de pare- des muito finas, decorados com largas espirais negras, vermelhas e castanhas, cor de chocolate, pintadas sobre a argila amarelo-encarnicada. Estes motivos apresentam um certo nimero de semelhan- Sas com os barros mais anti- 0s do Préximo Oriente, En- tre as varias formas adopta- das, o vaso com trés pés ocos é especificamente chinés ¢ desconhecido em qualquer outra civilizagéo contempo- ranea. Os espécimes mais an- tigos datam, provavelmente, de 3000 a.C. e as culturas neoliticas mantiveram-se nas provincias mais distantes até cerca de 500 a.C., muito an- tes do inicio da Idade do Bronze e do nascimento da civilizagdo chinesa mente dita na Grande Pla _ nicie, ou bacia inferior do Hoang Ho (rio Amarelo). Durante o rico da dinastia Chang Yin (cerca do século século x1 a.C.) foi uma argila rae bricar pegas esp cuja_ superficie | ornada com mo dos. Estes tituidos por Powe pintado do Kansu Lxtocolmo, Museu do Extremo Oriente, altura #3 cm vos complexos foram grava dos em osso, em marfim, em jade © em marmore"*, E contrapartida, os vasos rituais de bronze eram vasados em moldes. A evolugio dos diferentes tipos de vasos ¢, por si 56, um estudo tio diffcil e tio interessante que, neste livro, apenas a podemos aflorar. Quase todos os timulos en- cerraam vasos destinados As li- baghes sagradas, on hu", ¢ var sos destinados a aquecer, s0- bre 0 fogo, Mquidos con: dos, os huei" trés pés sdlidos eram coloca- dos em Angulo recto em rela- So veoal tivo que, em ge 9 y Have atingido or alto , civilizagio, porque avamn mais pela arte guerta, o8 povos que pela Chang foram atacados pelos Tcheds, que ocupavam os confins ocidentais do pais. An Yang, Gltima capital Chang (cerca de 1950-1122), foi destruida. $e muitos fugi- ram, outros ficaram, dispos- tos a manterem vivas as tra- dicées ¢ a instrufrem os bar- 84. Mocho proveniente de An Yang (1400-1100 a, C.). Nan- quim, Academia Sinica, Mér- more branco. . dinastia que estes os fundaram durou cer- sige a 221 a, A pre ineita arte Tcheti seguiu de muito perto os modelos Chang ¢ os conquistadores ripidamente adoptaram as leis, os cerimoniais € os pre- ceitos dos habitantes mais ci- Vilizados da bacia do Hoang Ho. haros 86. Vaso do tipo Kuei (1400 a. C.). Washington, Freer Gal- lery. Bronze, 25x 22,5 cm. Durante o wltimo perfodo da época Tchei foram reu- nidos e transcritos numero” 50s textos, que viriam a cons: ! tituir, depois, por mais de dois mil anos, 2 yerdadeira esséncia da civilizagao chi nesa. O Livro das Muta- cGes relata as pratic e explica, em tre: %. chos poéticos mais Ov menos Ait g°¢% tipo Ku (século Tongos, a utilizago do au Son Gate; Kansas City, Nel- . versos long “ry. Bronze, 27x16 cm. bolizam o principio mas- verdadeiro rmas no. popula 4s su radas »s — dra serpentes ¢€ ido-se com ”, ite. 8. Esetho (600.250 a, C.), Chicago Art Insite CHINA @ ia tanta energia que algumas partes do corpo ficam dis- torcidas ¢ deslocadas. O tao tie ainda aparece, mas com os olhos protuberantes como os de um pequinés. Estes mo- tivos situam-se geralmente no interior de listas ou titas, delimitadas por motivos de- licados constitufdos por rele- vos ¢ bicos. Nas ceriménias Bronze. 8. Cavalo espezinhando um guerreiro bdrbaro. Ttimulo de Ho Kiu Ping, provincia de Chensi (117 a. C.). da China. Tanto 0 homem como o animal tém o tipo dos da Asia Central. A ideia do espezinhamento do ho- mem vencido lembra as cenas le investidura do Irdo pré- “islimico, panini Ocidental, na onan ia de Sseu Tchuan, ome Vveu igualmente um i peel de timulos ¢€ von deca eee comemorati- estela fun oe Os pilares da chinese t*tatia de Chen sto quer clan pela forma, de pedi ‘aragao. Os fus- demmich ene esculpidos Thado de. a imitarem o te- le telhas e as consolas Vivo os de madeira, geralmente uti- lizadas nas casas Han; trés faces estio decoradas com figuras que simbolizam 0s quatro pontos cardeais: 0 Passaro Vermelho * é 0 sul, 0 Dragio o leste e 0 Tigre o coeste. O tao-tie encontra-se junto de toda a espécie de pequenas personagens estra- nhas, tais como passatos € an! mais fabulosos. ‘As inscrig6es (executadas na belfssima ¢a- ligrafia Han, «poderost Gee ibrar das langas ou come a lo mar ‘impelidas as vagas O timulo de Wu Lean Tchu é particularmente célebre. Os registos *, que fazem lem- brar os bronzes do fim da época Tchet, contam as his- torias mais diversas com uma animagao e uma técnica no- taveis. O confucionismo e o taoismo estéo representados por cenas histéricas, pelo re- trato de pessoas virtuosas do passado e por mundos ima- ginarios do céu e da dgua, habitados por divindades que personificam as forcas da na- tureza. Homens e mulheres, esculpidos em relevo muito baixo e mal se destacando do fundo, envergando longas vestes, Cumprimentam-se 90. Pdssaro vermelho, porme- nor da estela funerdria de Chen, no Sseu Tchuan (séc. II). cerimoniosamente, participam em banquetes ou conduzem carros puxados pelos célebres cavalos Han, de corpo pe- sado mas de patas delicadas e pescogo arqueado. Z e pessoas € os dos dos desa- S estatuetas "i em tamanho -duzido, o essencial da vida no tempo dos Han. A chinesa” era uma tugio com varios telha- cobertos de telhas, que Compreendia diversos pavi- 'hées ou alas, formando assim fad Complexo de edificios € “e Patios, separado da rua por uma parede. O edificio “tl, onde vivia o chefe 4 familia, estava orientado Rite © acesso era feito por ° a 4Mpa, ou por degraus, que recorda a antiga ne- muito > _ Sl. Mu Wang visita Tsi Wang Mu. Timulo de Wu Leang Tchu, Chan Tung (século Il), Relevo em pedra. cessidade de construir acima do nivel do rio, na bacia do Hoang Ho. O telhado em de- clive era suportado por pila- res € consolas, que acabaram por se tornar o elemento essencial da arquitectura do- méstica e religiosa. Nas ca- sas das familias abastadas os quartos eram espacosos ¢, en- tre os méveis, havia arcas, mesinhas ou encostos, bem como tapetes, que serviam de cama ¢ estavam enrolados durante 0 dia. No subsolo, ou numa ala separada, ficava a cozinha, € o primeiro an- dar é natural que fosse re- servado as mulheres. Sabemos CHINA @ 153 as City, Nelson %. Mod, Cail idlo redusido di tego de nel 3 . % CHINA @ 1% escritas, thes a fluider da forma in diana, tao cheia de vida, ¢ 4 energia calorosa da China as niio fo: nem chi ss pontos es ima ¢ de outra 94. Grande Buda de Yun Kang (século V). Grés, altura 9,7 vam, mas faltava 75 m YG LIINI LL IN 186 @ HISTORIA MUNDIAL DA ARTE Fireram sobretudo represen- tagves simples, ainda que um an grosseiras, de ideias € simbolos religiosos; os Tostos ¢ os vestudrios foram talhados segundo formulas ¢ nio por inspiragio. E assim, encontramos em es Kang um grande buda de 9,75 m de altura "*, que tem por tras Pine uma flamejante, ro- " r milhares de bu- quenos, em alto 1 eraduzidos para dando a conhecer lebre Fo Kuo Ki ios paises biidi maravilhas qué ti- visto nas regides estran- xs, Foi ele 0 primeiro de numero de mon- eses que arrisc ch cdes e contribuiram para a ‘0 da arte, da filo- e da doutrina. Mesmo no Sul, onde se es- tabeleceu uma capital em indi 9%. Imperatriz doadora. Gruta de Pin Yang, Long Men (século V1). Pedra. CHINA ® 137 Nanquim, para preservar a pelor irbaros io Nemes airba do Norte, aca baram por se difundir as concepgies de Buda, ¢ para l4 foram convidados grandes mestres budistas para discutir a doutrina, Houve um inter- cimbio de ideias importan- te. Mas, por volta do ano 500 d.C., o imperador Wei promulgou um edicto que proibia o uso da lingua, da cultura ¢ dos costumes tarta- ros, em favor dos elementos puramente chineses. Cerca de 589, 0 pais foi novamente unificado sob a dinastia dos Suei (581-618) e o budismo 140 # HISTORIA MUNDIAL DA ARTE nheceu profunda transfor- As figurinhas de terracota que se punham nos timulos, como se fizera no passado, dao-nos uma imagem viva da época, pois representam um grande numero de tipos étni- Cos estrangeiros: cameleiros", iros que vinham com os cavalos do tributo, dangarinas, negros de Africa e€ iniciados de diversas reli- gides. Os motivos que deco- Yam as cabagas dos peregri- nos revelam uma influéncia acentuada do Préximo Orien. te; a arte btidica inspira-se directamente na India gup- ta. Com excepcio de alguns pagodes octogonais, de tijolo ou de pedra, restam muito poucos vestigios arquitecté. nicos do perfodo Tang. No Japio, atonal das em modelos chineses, sub- sistem as construgées de ma- deira'*? desse perfodo. No entanto, os templos abertos na rocha nao se danificaram s¢- Tiamente até aos tempos mo- dernos, de iodo que os peri- tos puderam facilmente res- taurar esses santudrios biidi- cos, permitindo assim que se- guissemos a evolucio da arte de construir, da escultura e da pintura, desde as tentati- vas mais simples da era das Seis Dinastias até ao ideal cosmopolita da dinastia Tang. No Norte e no Leste da China, as obras encontra- das datam do século v; no Sudoeste, os arquedlogos, no urso destes uiltimos vinte anos, descobriram importan- ‘es estagées arqueoldgicas Prrticularmente numerosas. gine? t¥angado mais lon- Fess do Império foi o de n Huang, onde, em 1907, de ra1gehconttados:milhares lugarge Pintados. Era alo Paragem das carava- PP 99. O Paraiso de Amitabha, gruta 139-4 de Tuen Huang (século VIII). Fresco. nas que entravam ou safam do pais para tomar a rota do deserto, tomnando-se um centro de aotividade religiosa a partir do séc. rv. Um mon- ge, que ali fora conduzido por uma visdo, escavou gru- tas nas falésias argilosas, so- bre o leito seco de um antigo curso de dgua. Tinha por ideal a representacao dos Mil Budas; vieram outros mon- ges ajudd-lo e escavaram um grande nimero de templos, ornando as les com ce- nas tiradas do livro de Buda ou representando os mundos celestes prometidos aos fiéis"*. A escola-mie dessa arte foi Ajanta, e tanto as proporgoes 142 @ HISTORIA MUNDIAL DA ARTE 100. Bodisatva em adoracdo. Tuen Huang (século VIII). Cambridge (E. U.), Fogg Mu- seum. Argila, indianas como os textos que Marcavam a composicgio das diferentes cenas foram fiel- mente respeitados. Mas hou- ve também um grande nu- mero de modificagées intro- duzidas nos pormenores, uma ver que esses temas eram de. senvolvidos por artistas da Asia Central, cujos métodos, naturalmente, influenciaram os turcos € os Chineses que trabalharam activamente nes. se longinquo santuario. Tam. bém a Asia Central, ponto de encontro de numerosos povos, deu a sua contribuicao 4 ante de Tuen Huang. Essa actividade nos santudrios bu- dicos, suscitada pelos contac- tos com o estrangeiro e a vinda de grande numero de missionarios, marcou pro- fundamente as concepgoes estéticas da China. Tuen Huang é uma fonte rica de conhecimentos no que diz respeito a essa civili- za¢io, nio sé pelas pinturas murais, que véo do século 1 ao século x, e esculturas ** como pelos intimeros pen- dées votivos pintados sobre algodio ou seda*® e pelos textos escritos em diversas linguas que ali se encontra- ram. Um dos textos impres- sos mais antigos do mundo foi encontrado numa biblio- teca murada, em que tam- bém tinham sido escondidos outros objectos preciosos: um rolo de papel do Sutra do Diamante (texto biidico), que data do ano 868. Esta época conheceu tam- bém intensa aotividade lite- raria e intelectual. Os poetas cantavam louvores aos impe radores, as belezas da corte, British ; ondres, il. Avalokitesvara, guia das almas (século X). L Museum. Pintura sobre seda. as grandes festividades € aos homens das guarnicdes iso- Jadas nas regides mais lon- ginquas que a China contro Java. Havia estudantes ¢ sa- bios que viajavam, chegando mesmo a irem a India. O via- jante mais célebre do século vu foi Siuan Tsang (602-664) O seu didrio, Si yu ki —me- mérias sobre as regides oci- dentais—, que, com uma a te consumada, descreve as ci- dades dos oasis, as areias do deserto € os ventos da mon- tanha, bem como as maravi- lhas da india, é um dos mais apaixonantes relatos de via- gens de toda a literatura e prestou grandes servicos aos arquedlogos modernos que procuravam locais ricos em CHINA % 145 vestigios budicos. Siuan Tsang levou para a China tex- tos em sanscrito, que foram traduzidos ¢ interpretados. Simbolo da Lei ¢ da dou- trina, representagio intelec- tual da igreja, 0 Buda Vai- rocana, ser celeste que nao vivera na Terra, mas sim num paraiso, ha milhares de séculos, estava sentado num trono em forma de Iétus. Do seu pensamento irradia um esplendor espiritual que ins- pira confianca e esperanca aos figis. Em Long Men, per- to de Lo Yang, capital orien- tal, esse Buda esta represen- tado por uma estdtua colos- 103. Guardides do Buda de Long Men. Altura 15 m. 107. Huei Tsong (1082-1185): Mulheres aprontando seda aca- ‘ada de tecer. Museu de Bos- ton. Pintura sobre seda, rolo de 37 cm de alt.x 1,44 m de comp, neira perfeitamente simétrica, a diversas distancias do cen- tro seguindo o raio formado pela corda, a colocacio dos bodisatvas, fazendo pressio com a corda no local exacto. Os contornos das figuras ram desenhados a mio livre, ou por intermédio de decal- ques, e todas tinham que apresentar as proporgées, os Bestos € os atributos que os textos indianos preconiza- vam. Também as cores, pelo menos as de certas persona- Bens, eram determinadas de antemao e muito mais bri- thantes que os castanhos, os azuis € os verdes de Ajanta, ja que as comunidades da Asia Central e da China dis- punham de pigmentos dife- rentes e nao interpretavam os textos da mesma maneira. Em Tuen Huang eram cor- Tentes as cores primérias, tais como o vermelho, o azul e o amarelo e algumas tonalida- des secundarias brilhante: Fizemos ja alusao’a biblio- teca oculta deste santudrio, que continha um sem-nime- to de pendées **! e de textos manuscritos. Alguns deles j4 tinham sido dedicados a Bu- da ou a um bodisatva, ou- tros estavam preparados, mas ainda nio tinham a dedica- téria inscrita no espago que para tal fora reservado. Essas obras artesanais vao das to- nalidades e das composigdes mais maravilhosas as cépias mais pobres, mas, neste do- yu acena num lugar abs vito, O se periquito de nel ores !** é uma pintura “pica de album: o pdssaro ma poitado num ramo de Famasautiro, tendo A ditelta 4 inscri¢ao, numa caligrafia delicada, € no topo o selo que autotiza a publicagio. Em ver de mostrar toda a r- yore, 0 artista preferiu ae tar apenas algumas ramadas CHINA @ 454 Superiores, sugerindo assim damasqueiro floriy completamente. Os botderi. nhos, que comecam em parte a desabrochar, ¢ as flores completamente abertas, aglo- meradas nos ramos, provo- cam uma impressio primave- Til extraordindria, Muito antes de Huei Tsong ja se tinha pintado grandes Paisagens em dlbuns** oy linas 109. Fan Kuan (activo de 990 a 1030): Templo perto de colii nevadas, PP - Museu de Boston. Pintura sobre se » 25x25 cm. | — 0 paraiso de Amitabha. Estandarte tibetano pintado Paris, Museu Guimet Um cavaleiro ¢ 0 seu servidor. China, época Tang (século VII). Paris, Museu Guimet. Pintura sobre papel. PP mecarem a rabalhar e uti Haavam um minimo de meios de expressfio: um pincel, um tinteiro e uma folha de pa pel; chegavam a rejeitar as Assim, masceu Uma pin cores. sto pu tura ascética, de sug ra, que deixava ao observa: dor a tarefa de completar com 0 pensamento aquilo que estava apenas esbocado de uma maneira voluntaria- a mente incomple Kai fez um retrato m de um célebre poeta Tang, Li Tai Po*“, com um mini- mo de pinceladas, e pintou, num estilo agreste, o patriar- ca Hui Neng"? a rasgar os antigos textos bidicos com a energia frenética de alguém que pensa que o tinico cami- nho para a Iluminagao é a contemplagio e nao a pala- vra escrita. Como nas pintu- ras a tinta mais antigas, as figuras estao situadas num espago cheio de realismo, mas abstracto. Mu Ki, outro mon- ge-pintor, companheiro do precedente, revela o mesmo talento para sugerir muito utilizando os meios mais sim- ples; os seus Kakis™, de grande auddcia pela simpli- cidade das formas, asseme- lham-se _extraordindriamente as obras do século xx. De facto, esta foi a grande €poca da pintura chinesa. As 8eragdes futuras iriam vol- tar-se para os mestres Song € coleccionar as suas obras CHINA ® 167 112. Leang Kai: O patriarca Hui-Neng. Téquio, col. part. Tinta sobre papel, 75 cm de altura. 10 colec- com tanto amor como Co" da lite- cionavam os classicos com a de Fan Kuan, que dois séculos antes, escolheu também uma composicio cit cular para o seu Ter junto de colinas nevadas Também ele sublinha, como Ma Yuan, as curvas das ro- chas, da margem, dos tron- cos das drvores, dos bambus ¢ das montanhas longinquas. Mas a atmosfera é totalmente CHINA @ 150 diferente: tem-se a sensacio do frio € do siléncio do In- verno, de um mundo vestido de branco. Os contornos estZ0 desenhados de uma maneira nitida € os contrastes sao mais acentuados. O homem (a es- querda, junto ao lago) tam- bém € pequeno, ¢ caminha também apressadamente para um lugar abrigado, para a 116. Ma Yuan (activo de 1190 a 1285): Salgueiros sem folhas shee distantes. Museu de Boston. Pintura sobre papel, x2 em. CA ISGi (105.1207) sPasazens aise vallery. Pintura sobre Seda, 1,49 mx?8 cm. 7 162 @ HISTORIA MUNDIAL DA ARTE colinaé de Hang Tehéu ins pirou-lhe paisagens que eram também mais ousadas pelo facto de © pintor tomar um estimulante com aguardente de arroz. O Homem montado num biifalo, que volta bé- bado de uma festa de aldeia, poderia também ser um au- to-retrato "7, © lastimoso ve- Tho apoia-se a um servo fiel, que vai a seu lado, para se 17. Li Tang (acti Museu de a tei de 1100 a 1180): Homem montado num bufale. ton. Pintura sobre seda 95x28 cm. aguentar na sua modesta montada, ¢ um rapaz andra joso puxa o animal, que avanca penosamente. Todos estao hirsutos, arqueados ¢ abatidos. Li Tang, antigo pintor da corte, grande espe- cialista em cenas de género como esta ¢ a quem chama- ram o Teniers chinés, pinta com um cuidado meticuloso: cada folhinha de salgueiro é mente € os pélas do bufalo sio estuda- dos do mesmo modo. a O siléncio do Invemo e toda a solidio de um dia Cmzento aparecem na pintu- a CHINA @ 118. Ma Lin (principic do sé- culo XIU): Ling 0 Nu de pé na neve. Museu de Boston. Pintura sobre seda, 23x25 cm, ra de Ma Lin, que representa 168 164 @ HISTOR Ling Chao Nu de pé sobre a neve™*, Ling Chao Nu era filha de um fervoroso taoista que evitaya turvar o espirito interessando-se pelas coisas deste mundo, cabendo, por- tanto, 4 rapariga procurar os alimentos ¢ a lenha para mie séculos, e apesar de estalada e amare- lecida, esta obra, pintada so- bre seda, toca-nos ainda pela atmosfera que dela se des- Prende. A Beura esguia da Jovem, as folhas escurecidas pelo Belo, o atalho de uma ra imaculada sugerem ¢€ isolamento. 14 MUNDIAL DA ARTE Algo desta melancolia transparece também num pintor anénimo do século x, ou seja, do principio da era Song, que compés um rolo narrativo com a descri¢io do cativeiro da Senhora Wen Tchi na Mongdlia e o seu regresso 4 China". Ilustran- do uma histéria muito po pular da época Han, o pintor mostra a jovem e delicada chinesa a ser levada para @ Mongélia pelo seu raptor que a desposa. Af é forgada a viver numa tenda e tem de se habituar aos costumes inferiores dos némadas até 166 # HISTORIA MUNDIAL DA ARTE dos em passaros ¢ flores pre- feriam os longos rolos as obras de album. Ma Fen, do inicio do século xu, é oélebre pela sua pintura audaciosa os Cem gansos selvagens, composicao variada e viva onde uma multidio dessas aves voa, poisa na 4gua, nada ou come ™?, Trata-se de uma das mais atraentes pinturas do estilo Song: a pincelada muito segura, a disposicio das aves maravilhosamente equilibrada e o mais infimo 120. Tchen Yong (activo de 1285 a 55): pormenor do Rolo dos nove dragées. Museu de Boston. Tinta sobre papel, rolo de 45 cmx11 m. pormenor revela um sentido agudo de observacio. Esta liberdade de expres- sio do perfodo Song chegou mesmo a influenciar a pin- tura sagrada de inspiragao budista ortodoxa. Um dos dez reis do Inferno” esta sentado por detrds de uma secretaria, como um magis- trado chinés, a interrogar 0s maus, ¢, embora as chamas do Inferno andem muito perto, 0 rei prossegue calma- mente no cerimonial, velan- do para que se tespeite 0 ri- tual. Todos os servidores, in- cluindo os guardas, demo- niacos e disformes, estdo in- dividualizados. Esta pintura do século x11 deve-se ao pin- cel de Hi Tchen Tchu Chih. Para compreender bem a im- ia da transformacio que se produziu a partir do periodo Tang, basta compa- rar 0 estilo desta obra com o 121. Ma Fen (principio do sé- Honolulu. Tinta sobre altura 35 cm. @ HISTORIA MUNDIAL DA ARTE présperos, dando esmola aos mendigos andrajosos que se véem em baixo. F. impressig. nante 0 Contraste entre os vagabundos, disformes e gro. tescos, que sao quase cari. caturas da miséria, e os Imortais, anafados e den- gosos. Os pintores budistas ten- dem também a abandonar as composi¢des magnificentes, povoadas de grande niimero de figuras, em proveito de cenas que evocam monges solitérios em meditaca S- sim, Lu Tsin Tchong, no sé- culo xm, pintou Vanavasi contemplando um pequeno lago com létus *, tao absor- to que nao vé um servo que se aproxima com uma bande- ja, nem os patos que brin- cam entre as flores, nao se apercebendo mesmo do sopro do vento no salgueiro; esta completamente imerso nos seus pensamentos. Ao contra- 170 ® HISTORIA MUNDIAL DA ARTE rido como tema a figura hu- mana, a paisagem, os bam bus, as aves, as flores ou os dragées. Todos eram extraor- diniriamente dotados; mui- ‘Tsin Tchong (século Vanavasi contemplando Museu de seda 1,10 tos foram inovadores € expe- rimentaram técnicas e estilos que iriam influenciar a pin tura durante séculos. Este perfodo foi igualmen te a grande época da cera mica. Alicercada numa tradi cao que datava da era neoli- tica ¢ tendo atingido um al- tissimo grau de perfeicao sob os Han e os Tang, a cera- mica chinesa ultrapassou nes- te periodo tudo o que entao se executava nos outros pai- ses, A familia imperial inte- ressava-se muito por este tra- balho e escolhia para si as pecas mais belas ¢ mais ra- tas, As formas eram inspira- das nas dos vasos rituais de bronze ou eram especialmen-. te concebidas para conter flo- res ou para as ceriménias do cha. A espessura das paredes dos.vasos era muito varidvel, numa gama que ia da maté- ria mais grosseira 4 porcelana mais delicada, tilintante ao toque dos dedos e por vezes cozida a temperaturas eleva- dissimas. O vidrado ultra- passou tudo o que até entdo se conhecia, pois os artifices descobriram como fazer esta- lar o revestimento ¢ como controlar o comprimento ¢ a direcgio do craquelé. Quase toda a ceramica Song é mo- nocroma e os Chineses dao- -Ihe nomes poéticos, segundo a cor ou a técnica, tais como «azul como 0 céu depois da chuvap, «gelo fendido»,

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