You are on page 1of 61
EDITORA VOZES ‘Ume vida pole em vo E-mail vendos@vozes com by 0 PEDAGOGO. ‘DOS JARDINS DE INRANCI4 a a Priedtich Wilhelm August Frochel viveu de 1782 a 1852; grande pedagouo ‘alemio, foo eriador dos Jardins de Infancia, sendo um dos pioneitos na formulagio de uma metodologia de ensino destinada d educaco de etiangas enores de 6 anos. Tendo vivido na ‘era ds revolucdes”, passou pela Revolugio Francesa, Revolugio Industrial eas Revolugdes-de 1848, que refletiram em sua obra e em seus pensumentos educacionais. Muito do ‘ue criow encontramos até hoje nas sala de edacago infantil tas como as {Wena conhecidas poralinhavo, tecelagem em papel eo uso da ‘modelagem com argila em sala de aula. Eniretanto, uma de suas maiores ‘contibuigdes foi chamar-aateng3o para ‘a brineadeira infaml, consierada por Frocbel aividade sia forma principal de expresso das necessidades © Iteresses das eriangas pequenas. Neste pequen fiveo,apresentamos a ‘voce eitor um pouco da Gpaca em que Froebel viveu, suas prineipais obras © dis educacionais ¢ losoficas, ea enttada de seu trabalho em nosso pais. Procuramos ao longo do Tivo proceder ‘uma anilise eriiea do autor, Aapontando os limites de sua teoria eas ‘contradigdes, questionando a9 mesmo tempo as idealizagbes fetes sobre a infinciae maternidude, Esperaros ‘gue a letra deste material fomente nfo 86 0 interesse dos educadores Jasietos por um maior eonhecimento do trabalho deste clissicn da peda, {como também conteibua paraa intensificacio das pesquisa sobre os pioneiros da educa infantil, suas obras e suas tins pedsgbeieas Alessandra Arce, natural de Florian6polis'SC, ¢bolsista Recém- Doutor pelo CNPa, desde margo de 2002, do Departamento de Filosofia e | | | | FRIEDRICH FROEBEL ‘courcho EbucaGAo x CoNHECIMNENTO [Goordanador:Anteni Joaquim Severino John Dewey ~ tna sola para edueares em sla do aula Tarot Vinilua da Gunba ‘Une perspective hltdric-cutural da eduagso = oan ‘Perosa Crna Rego, Hen Walon Uma concep daca do dsenvelvinenc fant Tabel Galvso pager Morn A educagto © a complexssade do ser 90 saber Tabet rstina Petrolia. aria bat Coppa sas Cominio «A mer gdncia da modomidads na edueagéo Soto te Goaparn hard Rorty= flora do Noro Mundo em busca de mundasnovae Pasta Ghienel Sonor ikdomo=0 ptr educstvo do pansamento ceo Brame Puce, Howton lamas de letra, Antinlo Alvaro Sosee Zin Moguievel = Baueaceoeckadania iia Mare Roaige Dados Internactonais de Catalogagéo na Publicagio (CIP) (Camara Brasilira do Livro, SP, Bras) “are, Alessandra ‘Fidedich Frocbel 0 pedayogo dos jardins de safc Alessandra Arce.” PeteOpolia ores, 2002, sn @8296.2706-6 xblograta, 1, Eueueao de crtangas 2, Froebel. Freeh, 178-1890 9 Jardine deine Ll. on-1231 cop 72.218 {naicas para catélogo slstemético: |. Frosbel: Método Jardins de infincla: Educagio 372.218 2. Jardine deinfancia Edwcagaa 372.218 Alessandra Arce FRIEDRICH FROEBEL O pedagogo dos . Jardins de Infancia y EDITORA VOZES Petrépolis 2002 ‘emausiquer sistema oabaneo de dadon (©2002, ators Vouse Lda ea Fel Lule, sae0-900 Petal, RI ern ip/swveyr odes em be ‘Todos ov ists eservados. Nena part desta bra pede sor eprocitia su tensmitida por qualquer fama efou qualaur melo: (chtrnieo ou metic, inetndo foto Baitorapé # og. aréva: Seiad Fina do Moto de Sousa |80N 85 225:27056 st iz fo composto«impronso pela dora Vores Lida, SumArio APRESENTAGAO DA COLBGAO..... INTRODUGAO. CAPITULO 1-0 mundo na época de Froobel 2.2... 17 CAPITULO I1- 0 pedagogo da primeira inféncia: vida, obra e pringipios educacionais do Friedrich Froebel 1. 0 conceito de natureza e suas relagées com a ‘educagdo ~ As influéncias de Schelling © Krause. . 97 2. A unidade vital os processor do interiozagto e oxterlorizagao, 44 8. escola do Kllhau 6a educagéo do homem livre. 50 4,0 jogo os dons na educagio das crlangas.....,..69 5.0 surgimento do Jardim de Infancia... 66 CAPITULO III ~ As difusoras da pedagogia dos Jardine de Infancia e sua chegada ao Brasil. 73 CAPITULO IV ~ A atualidade da pedagogia de Froebel .. 83 CAPITULO V~ “0 uso do jogo” INDICAGOES DE LEITURA.... BIBLIOGRAFIA.. APRESENTACAO DA COLECAO A hist6ria da cultura ocidental revela-nos que a edu- cago sempre esteve intimamente ligada a teoria, produzi- da tanto no ambito da filosofia como no ambito das ciéncias humanas em geral. Expressando-se fundamentalmento como uma préxis social, a educagao nunca deixou de refe- rir-se a fundamentos tedricos, mesmo quando fazia deles uma utilizagéo puramente ideolégica, Este testemunho da histéria ja seria suficiente para demonstrar o quanto é necessério, ainda hoje, manter vivo e atuante esse vinculo entre a visio filoséficae a intengao pedagégica, Vale dizer que ¢ extremamente relevante e imprescindivel a formagao filoséfica do educador, saja no campo da produgao do conhecimento, soja no campo da avaliagao dos fundamentos do agir, seja ainda no campo da construgao da imagem da propria existéncia huma- na, Mas, por outro lado, além das deficiéncias pedagdgi- cas e curriculares intrinsecas ao processo de formagio dos profissionais da educacdo, também a falta de media- ‘900s ede recursos culturais dificulta muito a apropriagao, por parte deles, desses elementos que céem conta da intima vin- culagao da educagao com seus fundamentos tedricos. Assim, o objetivo principal desta colegio é 0 de ser mais uma mediagao, agile oficaz, para colocar ao alcance dos professores, dos estudantes, bem como dos demais profissionais da educagao, e mesmo do publico em geral, as linhas bésicas do pensamento dos grandes teéricos, destacando-se sua contribuigao para amelhor compreen- 80 do sentido da educagao. A abordagem de um texto desta natureza, intencionalmente introdutério, desper- tando para a relevancia das construgées teéricas, como elementos para a elaboragao de visées do homem, do mundo, da sociedad, da cultura, do saber e do valor, cer- tamente incentivard o interesse do estudioso em aprofun- dar a andlise e a reflexao, nos diversos campos em que se ‘envolve a pratica educacional. Os textos propostos visam apresentar as linhas basi- cas do pensamento dos autores, com destaque para as, implicagdes propriamente filoséfico-educacionais desse pensamento. Quer tratando de questées eferentes a0 co- hecimento, as condigbes de existéncia do homem, ou a0 ‘sett agir, todo pensamento sistematizado traz em seu Ibojo elementos profundamente relacionados & educacéo, ‘uma vez, que esta 6, na realidade, um esforco que visa, com certo grau de sistematicidade, intencionalizar 0 s0- ial no desdobramento do histérico. E, nessa condicao, & educagao vincula-se, diretae intrinsecamente, as aborca- gens opistemolégicas, antropolégicas ou axiolégicas pre- Sentes, de modo explicito ou implicito, nas produgées tebricas da filosofia © das ciéncias humanas, Oprojeto desta colegao esta aproveitando os resulta- dos de um esforgo cada vez mais consistente que vem sendo desenvolvido, sobretudo no Ambito dos cursos de ‘pés-graduagao, com vistas & realizado de pesquisas e estudos que buscam refazer a construcao coletiva do co- nhecimento na tradi¢do cultural do Ocidente. E a propos- ta 6 de se colocar ao alcance de todos que se envolvem com a educago uma primeira via de acesso a essa produ ‘go teérica que, por sua prépria natureza, possa contri- buir para o esclarecimento ¢ compreensao do processo educacional, independentemente da area em que essa produgao se deu. A colecao enfatiza seu objetivo de am- Pilar otniverso day insptagéos toéricas para os educado- res, viabilizando-Ihes a aproximagao a um espectro mai amplo de pensadores. ° ” 2 0 projeto se inicia abordando o pensamento de auto- res modemos e contemporaneos, que estéo marcando mais nitidamente a reflexao nos tempos atuais. Mas, em se tratando de um projeto que se desdobraré a longo pra- zo, contemplaré também os pensadores classicos, da Antiguidade e da Modemidade. Incluiré ainda pensado- res brasileiros que jé deram sua contribuigao ao debate te6rico, subsidiando a compreenséo de nossa problemé- Estamos certos de estar colocando & disposica lisposigao de todos os estudantes e profissionais da érea mais tm va- lioso instrumento de trabalho didatico e um fecundo ro- toiro de iniciagdo a pesquisa e a reflexao, ‘Anténio Joaquim Severino ‘Coordenador InrropucAo Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade for- necida pelo professor Anténio Joaquim Severino de escrever este pequeno livro sobre a vida e a obra deste importantissi- ‘mo educador aleméo, Friedrich Wilhelm August Froebel. A importéncia da obra de Froebel nos é demonstrada cada vez que passamos em frente a uma escola de educa- ‘sao infantil, afinal ele foi o criador, na primeira metade do século XIX, do sistema de Jardins de Infancia, sendo um dos primeiros educadores preocupados com a educagio de criangas pequenas. A prépria denominagao Jardim de Infancia fo criada por Froebel, que chamou as escolas por ele fundadas de Kindergarten, sendo que em alemao Kind significa crianga e Garten significa jardim, Por que ele te- tia dado esse nome as instituicoes voltadas para o traba- Iho educativo com criangas em idade pré-escolar? Nao é muito dificil de adivinhar a resposta: para ele, a infanciaé assim como uma planta; deve ser objeto de cuidado aten- cioso, deve receber Agua, crescor om solo rico em nutrien- tes e ter a luz do sol na medida certa, Um jardim é um lugar onde as plantas nao croscem em estado totalmente silvestre, totalmente selvagem, 6 um lugar onde elas re- cebem os cuidados do jardineiro ou da jardincira. Mas, 0 jardineiro sabe que embora ele tenha por tarofa cuidar ara que a planta tenha todo o necessario para seu cresci- mento e desenvolvimento, em tiltima instancia, 6 0 pro- ret o natural da planta que deverd determinar quats GeiSedos a cla doverto ser dispensades. Certas plantas {tao croscem bom quando regadaa em domasia, ja outras Drocisem de muita agua; algumas plantas precisam do isto aol onquanto que outtas crescomelhor som O om jaidinciro sabe “ouvir” ae necessidades de cada Shanta 6 rospottar sou processo natural de dosonvolv- mento. Para Froebel, assim também ocorre com as crian- Tava portanto,osadultos encarrogados da educagio das SSsinae dovetiam comportarso tal como o jardineiro. Ms como tora augida essa concepeao que Froebol ti daoducagéo infantil? © queolevoua se ompenhar na utcagao de eriangas? Qual o contoxto no qual Froebel desenvelvou a podagogia clos Kindergarten? ‘Neste pequeno livro teremos por principal objetivo apresentar ao leitor algumas primeiras respostas aessas perguntas. Dissemos primeiras, porque nosso outro obje- tivo com este livro é despertar no leitor o interesse por in- vestigar em outras fontes bibliogréficas mais informagoes sobre o trabalho desse educador e, mais do que isso, 50- ‘pre o trabalho dos grandes nomes da histéria da educa- {go do mundo ocidental. Infelizmente, no Brasil possuimos apenas uma obra de Frogbel traduzida para o portugués por Maria Helena ‘Camara Bastos, A educagdo do homem' (UPF, 2001), além de tradugées parciais em um tinico trabalho intitulado Re- vista do Jardim da Infancia, produzida, em dois volumes nos anos de 1896 e 1897, pela escola Caetano Campos, ‘que se localizava na cidade de Sao Paulo (primeira a inau- Como no momento de produgio deste texte ni possulamos em smfos a tradugio feta por Mara H-Bastos, la no pd sor uillzada ona obra que sobasela somente nas obras adusidas para inglés de Fredrch Frosbeh, 2 gurar um Jardim de Infancia piblico no Brasil). Essa au- séncia de mais obras de Froebel traduzidas integralmente para o portugués dificulta bastante oestudo de suas idéi- ‘as pelos educadores brasileiros. Esperamos contribuir ‘um pouco para a superacao desta lacuna com as peque- nas tradugdes de trechos que apresentaremos neste tra- balho juntamente com o extrato do livro Pedagogia dos Jardins de Infancia, no qual Froebel descreve o trabalho com um de seus bringuedos. Como Froehel foi um educador que viveu entre os s6- culos XVIII e XIX, optamos por dividir o livro da seguinte forma, para que oleitor pudesse contextualizar melhor sua obra: no primeiro capitulo, intitulade "O mundo na época de Froebel", nosso objetivo foi o de apresentar os aconteci- mentos socioecondmicos e politicos que alicergaram toda a produgao intelectual e educacional da época, procuran- do evidenciar suas ligacdes com as idéias defendidas por Froebel. Nesse esforgo de contextualizacéo, procuramos apontar também para as especificidades da realidade so- cial alemd, suas diferengas em relagao a outros paises euro- peus, especificidades essas que nao deixaram de exercer influéncia sobre a agao eo pensamento de Froebel. No segundo capitulo, intitulado “O pedagogo da pri- meira infancia: vida, obra e principios educacionais de Friedrich Froebel", como pode ser notado por seu titulo, ‘optamos por apresentar a vida, a obra eos prineipios edu cacionais desse educador alemao numa mesma narrati- va, em razéo da intima vinculagao entre a vida de Froebel, sua atuagio prética como educador e seus esforgos pela elaboragao e difusdo de um conjunto de idéias pedagégi- cas. O leitor encontrar neste capitulo uma sintese dos principais aspectos da teoria froebeliana, ilustrados por varias citagées do autor para que se possa apreender um pouco do estilo do mesmo. Ao final deste capftulo, apre- sentamos um extrato do livro de Cantos da mae para que 13, ATT we 50 possa ter uma idéia de como este livro, deserito no tex: to, era organizado. Oterceito capitulo, intitulado "As difusoras da peda- gogia dos Jardins de Infancia e sua chegada ao Brasil’ tom por objetivo fornecer ao leitor uma visao panoramica ce répida da difusao das idéias de Froebel, além de deixar indicagdes de autores que podem ser explorados para um. aprofundamento deste tema. No quarto capitulo, intitulado "A atualidade da obra de Froebel”, nosso objetivo é levantar alguns questionamen- tos a respeito de sua metodologia, procurando ligé-la a pro- blemas que hoje séo enfrentados na educagao infantil. 0 quinto capitulo traz um extrato do livro Pedagogia dos Jardins de Infancia, intitulado "O uso do jogo", no qual Froebel descreve dotalhadamente como deve ser utilizado o quarto dom. As figuras vém ao final do texto, ‘Esperamos quue a leitura deste material fomente, no 86 0 interesse dos educadores brasileiros por um maior conhecimento do trabalho desse classico da pedagosia, ‘como também contribua para a intensificagao das pesqul ‘sas sobre os pioneiros da educagéo infantil, sua obrae suas idéias pedagégicas. Estamos convencidos de que é possive! ‘compreender melhor as questées pedagégicas contompora- neas quando conhecemos em profundidade a histéria das idéias pedagégicas. 4 LIEBSCHINER, J. (1992). A child's work — Freedom and guidance in Froebel's educational theory and practice. (Cambridgo: The Lutterworth Press, Capitulo 1 O MUNDO NA EPOCA DE FROEBEL Froebel nasceu em 1782 ¢ morreu em 1852. Um histo- riador inglés, chamado Eric J, Hobsbawm, escreveu um livrosobre um perfodo da histéria ouropéia cujas datas de inicio e término foram respectivamente 1789 @ 1848. No temos a pretensao de esgotar os estudos de Hobsbawm, entretanto, considoramos fundamental aprosontar ao lei- tor, ainda que de forma sintética, os acontecimentos des- ta época. Como veremos, Froebel serd marcado por eles, conseqiientemente sua obra pedagégica também, por isso, sugerimos para o leitor que desejar aprofundar seus estudos sobre este period dedicar-se aleituradolivro de Hobsbawm. A.esse perfodo (1789-1848), que quase coincide como perfodo da vida de Froebel, o mencionado historiador in- glés donominou A era das revolugées (Hobshawm, 19968), Como indica o titulo do livro, foi uma época dahistéria ou- ropéia marcada por muitas guorras e revolugées: a Revolugéo Francesa, a Revoluco Industrial, as Guerras Napoleénicas ©, finalmente, encerrando o periodo, as Revoluges de 1848. 0 7 resultado principal de todas essas revolucées foi o triunfo da industria capitalista, da liberdade e igualdade para a sociedade burguesa liberal. Para compreendermos mo- Ihor estes processos e entendermos como os homens da 6poca pensavam e viviam, necessitamos mergulhar na histéria deste periado com 0 auxilio do citado livro. Segundo Hobshawm (1996a), o mundo em 1789 era essencialmente agricola, nao havendo uma diferenga ra- dical entre 0 homem do campo e o da cidade. Como os transportes néo eram muito desenvolvides, © homem ‘quase nao se deslocava, geralmente nascia, vivia e mor- ria no mesmo local. Essa pouca mobilidade, aliada a pro- cariedade dos processos de circulagao de informacao, tomava as pessoas muito pouco informadas sobre o que acontecia para além do seu meio social imediato. # muito importante ressaltariss0 logo de inicio, pois esse fatotem implicagoes decisivas para a vida cotidiana das pessoas fe para a educacao, Como diziamos, era um mundo essencialmente agra- rio ¢, a despeito da existéncia de um desprezo dohomem da cidade pelo homem do campo, 0 trabalho com a terra era a fonte principal de producao de quase tudo aquilo {que as cidades procisavam para oxistir e prosperar. O tema das relagGes entre o campo e a cidade, relagoes 08- ‘sas nem sempre tranqiiilas e harmoniosas, pode ser per~ ‘cebido em varios antores da época. Nao nos esquegamos ‘que o Emilio de Rousseau & educado no campo. Froebel, como veremos, foi um homem do campo, nascido em’uma aldeia, nunca gostou dos grandes con- tros, fato este facilmente comprovado quando descobri mos as localidades de suas escolas. Hobsbawm afirma que o problema agrario era funda- mental, pois oelo entre a posse da terra eo status daclasse dominante era muito forte, fazendo com que a relagao on- tre os que a cultivavam, produzindo riquezas, e os que a 18 possuiam e acumulavam as riquezas, fosse de exploracao ‘© expropriagao dos primeiros. Por outto lado os que se de- dicavam ao comércio, a produgao de manufaturas e as ati- vidades intelectuais © tecnolégicas, estavam em répida ascensao e desenvolvimento: "|...] As ciéncias, ainda ndo divididas pelo academicismo do século XIX em uma cién- cia “pura” superior e uma outra “aplicada” inferior, dedi- cavamse & solugao de problemas produtivos, sendo que os mais surpreendentes avangos da década de 1780 foram na quimica, que era, por tradigao, muito intimamente liga- da pratica de laboratério e as necessidades da industria, A grande Enciclopédia de Diderot e D'Alambert nao era simplesmente um compéndio do pensamento politico ¢ s0- cial progressista, mas do progresso cientifico e tecnolégi- co. Pois, de fato, o “Iluminismo”, a convicgao no progresso do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza no controle sobre a natureza ~ de que estava profunda- mente imbufdo o século XVII - derivou sua forga, primor- dialmente, do evidente progresso da produgao, do comércio e da racionalidade econdmica e cientifica que se acreditava estar associada a ambos. I seus maiores cam- pedes eram as classes economicamente mais progressis- tas, as que mais diretamente se envolviam nos avangos tangiveis da época os circulos mercantis ¢ os financistas ¢ proprietarios economicamente iluminados, os administra- dores sociais © econémicos de espirito cientifico, a classe média instruida, os fabricantes e os emprosérios. Estes ho- mens saudaram Benjamin Franlelin, impressor e jornalista, inventor, empreséirio, estadista e negociante astuto, como simbolo do cidadao do futuro, 0 “self-made-man" racional e ativo (Hobsbawm, 1996a: 36-37). ‘Mas, esse ideal liberal do individuo que faz seu prd- priodestino precisava abrir caminho, antes de mais nada, lutando contra os obstaculos que Ihe eram antepostos pela sociedade feudal, Esse caminho s6 poderia ser aber- to pelas revolugées. Abordemos entéo, de forma breve, uma dolas, a Revolugao Industrial. 19 Como dissemos acima, no final do século XVIII pro- senciou-se um grande desenvolvimento do conhecimen- to cientifico, Um certo lugar comum, atualmente muito difundido, costuma apresentar a Revolugao Industrial como tendo sido conseqiiéncia do avango da ciéncia e das invengdes tecnolégicas. Se o proceso fosse assim téo simples, em todos os paises europeus daquela época, nos quais vinham ocorrendo os avangos da ciéncia, teria ocorrido a Revolugao Industrial. Mas, como afirma Hobs- bawm, ao final do século XVIII e inicio do século XIX, S0- ‘mente um pafs europeu néo tinha sua economia baseada nna cultura agraria: esse pais era a Inglaterra. O mesmo nao ocorria com a Franga, a despeito de todas as suas contribuigées no campo do conhecimento cientifico. Isso significa que 0 fato da Revolugao Industrial ter tido seu ‘bergo na Inglaterra precisa ser explicado como conse- qiiéncia de toda uma configuragao econdmica e politica daquele pafs, © primeiro ponto a ser ressaltado é 0 da exist@ncia, jénaquela época, na Inglaterra, de uma intima vinculagao entre politica e economia, através da transfor- magao do lucro privado e do desenvolvimento econémico ‘em objetivos supremos da politica. Essa formula vitoriosa viria, no século XIX, a se estender pela Europa. © segundo aspecto a ser assinalado é 0 de que e880 ‘casamento entre politica e economia foi favorecido na In- glaterra pela estabilidade politica ali existente ao final do século XVIII, pois ha mais ce com anos nao se matava ne- nhum rei, Essa estabilidade contrastava com as violentas lutas pelo poder politico que vinham sendo travadas, por exemplo, na Franga Por fim, as transformagées, ocorridas na Gré-Breta- nha, em termos da produgao agricola e, consectiente- mente, da vida daqueles que antes tiravam seu sustento da terra, criaram as condigSes bdsicas para o impulso & rodugdo industrial: “[... A solugdo briténica do problo- ma agrério, singularmento revolucionéiria, ja tinha sido 20 encontrada na pratica. Uma relativa quantidade de pro- prietarios com espfrito comercial j4 quase monopolizava a terra, que era cultivada por arrendatarios empregando camponeses sem terra ou pequenos agricultores. [...] AS atividades agricolas jé estavam predominantemente diri- gidas para o mercadlo; as manufaturas de hé muito tinham-se disseminado por um interior nao feudal. A agricultura jé esta- va preparada para levar a termo suas trés fungdes funda- mentais numa era de industrializagao: aumentar a produgao ‘¢ produtividade de modo a alimentar uma populagéo nao agricola em rapido crescimento; fornecer um grande © crescente excedente de recrutas em potencial para as ci- dades eas indistrias; fornecer um mecanismo parao act mulo de capital a ser usado nos setores mais maderos da ‘economia. |..] Um considerdvel volume de capital social elevado ~ 0 caro equipamento geral necessario para toda economia progredir suavemente ~ j4 estava sendo cria- do, principalmente na construgao de uma frota mercante e de facilidades portuarias © na melhoria das estradas © vias navegaveis. A politica jd estava engatada ao lucro" (Hobsbawm, 1996a: 47). Como podemos ver o “self-made-man" preconizado pelos franceses no terreno das idéias, ja se fazia realidade na Inglaterra, onde a liberdade e a igualdade para a clas- se liberal burguesa om ascenséo ja comecava a dominar. Nao se deve esquecer, porém, que tudo isso era construi- do as custas do suor ¢ até do sangue de operarios 0 agri- cultores. Entretanto, ainda faltavam alguns elementos para o desenvolvimento pleno deste modo de producao: a expansdo répida da produgio através de inovagées sim- ples © baratas; um mercado amplo e monopolizado por ‘uma tinica nagao. A Gra-Bretanha ainda ndo possuia es- tes elementos, mas era uma nagéo poderosa e agressiva na conquista de mercados, © sua economia jé apresenta- va as caracteristicas de uma economia capitalista, O al- godao e sua indtistria foram os primeiros a fornecer um 21 monopélio aos britanicos, que 0 exerceram por meio de querras e através do colonialismo: as duas grandes re- gides consumidoras de seus produtos foram a América Latina e o Oriente, principalmente a india que foi siste- maticamente desindustrializada pela Gra-Bretanha, Importante ressaltar que para o incremento das in- dhistrias houve uma grande migragao do campo para a ci- dade, Embora essa migragao tenha sido étima em termos do produtividade econémica, para a vida dos trabalhado- ros foi uma verdadeira tragédia, A indistria necessitava de méo-do-obra, ¢ esta teria que vir do campo; para tanto, ‘ohomem do campo precisava ser atraido para as cidades. O trabalho nas indistrias, extremamente desumano, exi- gia qualificagées diferentes das exercidas no campo, pois 0 trabalhador necessitava aprender a trabalhar em um ritmo regular e ininterrupto, aprender a viver como um as- salariado, o qual se tomna escravo do dinheiro e do trabalho fe nao procura ganhar s6 o necessario para sua subsistén- cia, mas almeja ter dinheiro para poder comprar bens ou ascender socialmente. Estes fatos eram totalmente ad- versos aos trabalhadores rurais, acostumados com o rit- mo que a natureza lhes impunha, produzindo somente para sua propria subsisténcia. Freqiientemente, os em- pregadlos eram acusados de preguigosos pelos industriais. ‘A forma encontrada para disciplina-los foi pagar-lhes tao ‘pouco que os mesmos teriam que literalmente se matar de ‘trabalhar para ter com o que sobreviver. Outra alternative foi empregar mulheres e criancas que eram mais déceis ¢ mais baratas, “|... Deste modo bastante empirico nado pla- nificado e acidental, construiu-se a primeira economia in- dustrial de vulto pelos padres moderns, ela era pequena @ arcaica, ¢ seu arcafsmo ainda marca a Gra-Bretanha de hoje. Pelos padroes de 1848, ela era monumental, embora também chocasse bastante, pois suas novas cidades eram ‘mais feias e seu proletariado mais pobre do que em outros paises. A atmosfera onvolta em neblina e saturada de fu- ‘maga, na qual as pélidas massas operdirias se movimenta- vam, perturbava © visitante estrangeiro" (Hobsbawm, 1996a: 68/69), A fumaca das indistrias e a exploragao dos trabalha- ores era o prego exigido pelo capitalismo para a Revolu- ‘go Industrial ¢ todo o desenvolvimento econémico por ela gerado. “|..| E tanto a Gra-Bretanha quanto 0 mundo sabiam quo a revolugao industrial langada nessas ilhas nao 86 pelos comerciantes e empresérios como através doles, cuja tinica lei era comprar no mercado mais barato ‘vender sem restrigéo no mais caro, estava transforman- do o mundo. Nada poderia deté-la. Os deuses ¢ os reis do passado eram impotentes diante dos homens de ne- gécios e das maquinasa vapor do prosente' (idem, p. 69). Todavia, se por um lado a economia européia do final do século XVII e primeira metade do século XIX foi es- sencialmente formada pola Gra-Bretanha, por outro lado, ‘a Franca alicercou a ideclogia politica da sociedade capi talista européia desse perfodo através da Revolugao Francesa. Segundo Hobshawm (1996a) a Franga forneceu © vocabulirio e os temas da politica liberal e radical de- mocrata para a maior parte do mundo. A Revolugao Fran- cosa foi ecuménica e radical. As principais categorias para uma concepgao de desenvolvimento de uma soci dade baseada no modelo liberal burgués foram fomeci- das pela Franga e pelo Tuminismo, dentro do qual a educagao passou a desempenhar um papel muito impor- tante, pois ela seria o tinico instrumento capaz de formar © cidadao para o novo regime pelo qual se ansiava, Enquanto a Gra-Bretanha procurava aperfeigoar 0 modo de produgao e expandir seus mercados, na Franga os interesses do velho regime foudal e os da classe but guesa em ascensao mostravam-se cada vez mais contfl tuosos no plano da politica. A burguesia havia perdido as esperangas depositadas nos chamados “déspotas escla- recidos" (membros da monarquia que haviam aderido 23 aos ideais iluministas) ¢ transferia suas esperangas de re- volugao para o povo. Uma grave crise econémica que aba- teu a Franca nos anos de 1788 © 1789 gerou grande insatisfagdo por parte do povo. A burguesia apresentou-se entéo como aliada do povo, como classe revolucionéria, colocando-se contra 0 antigo regime e seus privilégios e exigindo uma sociedade onde todos fossem livres e iguais. Os pobres viram entio, na possibilidade de transformagao divulgada pela burguesia, a oportunidade de mudanga das condigées de suas vidas, a chance de acabar com a pobreza © com a opressao sobre eles exercida pelos no- bres. Mas, a alianga entre os pobres e a burguesia era uma alianga essencialmente contraditéria, prenha de conflitos inevitéveis. Isso nao deixava de se refletir no plano das idéias, A liberdade, a igualdade e a fraternida- de erigidas em princfpios da Revolugao Francesa néo sig- nificavam o compromisso com uma real igualdade entre todos os homens. Como mostra Hobsbawm (1996a: 77), isso pode ser visto jd na famosa Declaragao dos direitos do homem edo cidadéo de 1789. Se por um lado ela pregava a liberdade, a igualdade e a fraternidade, por outro, tam- ‘bém era clara ao afirmar que existiiam distingbes sociais; a ‘propriedade privada era apresentada como um direito sagra- do ¢ todos seriam iguais apenas perante a lei, O talento que cada individuo possula seria a chave para a ascensao social, nao significando cme todos devessem chegar ao mesmo pon to, mas sim, que todos devessem ter as mesmas chances a0 iniciarem sua jomada. O documento ainda declara que todos devem ter o direito de participar na elaboragao das eis, pesso- ‘almente ou através de representantes; dessa forma, 0 Toi no pprecisaria ser deposto, mas sua monarquia necessariamente deveria ser constitucional, o que basicamente ocomeu em ‘quase toda a Europa. O burgués nao era um democrata, mas sim um constitucionalista que desejava “|... um estado secu: lar com iberdades civis e garantias para a empresa privada © ‘um govemo de contribuintes e proprietarios" (idem). 24 A Revolugéo Francesa foi um processo complexo, lon- go, no qual muitas lutas de misturavam e a burguesia, 4 partir de certo momento, passou a temer que as classes ‘baixas, isto é, o proletariado e os camponeses, se rebelas- sem de forma incontrolvel nao apenas contra a nobreza, mas também contra ela prépria, a classe burguesa, Era preciso p6r fim aos levantes populares, pér fim & Revolu- 40, antes que ela fosse longe demais. “|..| Em resumo, a principal forma da politica revolucionéria burguesa fran- cesa e de todas as subseqiientes esta agora bem clara. Esta dramatica danca dialética dominaria as geragées fu- turas. Repetidas vezes veremos moderacos e reformado- tes de classe média mobilizando as massas contra a resisténcia obstinada ou a contra-revolugéo. Veremos as massas indo além dos objetivos dos moderados rumo a suas préprias revolugées sociais, e 0s moderados, por sua vyoz, dividindo-se em um grupo conservador, dai em dian- te fazendo causa comum com os reaciondzios, e um grupo de esquorda, determinado a perseguiro resto dos objeti- vos moderados, ainda nao alcangados, com 0 auxilio das massas, mesmo com o medo de perder 0 controle sobre elas. [..] Na maioria das revolugées burguesas subse- qiientes, os liberais moderados viriam a retroceder, ou tansferit-se para a ala conservadora num estégio bas- tante inicial, De fato, no século XIX vemos de modo cres- cente (mais notadamente na Alemanha) que eles se tomaram absolutamente relutantes em comegar uma re- volugao, por medo de suas incalculaveis conseqiiéncias, praferindo um compromisso com o rei e a aristocracia” (Hobsbawm, 1996a: 80) Aburguesia passava de classe revolucionaria a classe conservadora; institufa-se o novo regime sobre as estrutu- ras do antigo; a insatisfagao continuava: nobres e clero sontiam-se expurgados e as camadas baixas da populagio no sentiam mudangas significativas no seu modo de vid a crise econémica se agravava. Entdo, em 1792 explode uma segunda revolucéo, que abrange um periodo que vai de 1792 a 1799, A burguesia se defrontava com um grave problema que a impedia de alcangar a estabilidade pollti- ca e proporcionar 0 avango econémico nas bases do pro- grama liberal. Napoleao Bonaparte foi a pessoa ideal para por fim aos problemas da burguesia, concluindo a revolu- ‘Gao ¢ iniciando o regime burgués na Franga, (Omito de Napoledo representou para a Franga e para omundo amesma imagem que Franklin paraa Inglaterra, 0 ideal de homem burgués muito bem traduzido pelo “selfmade-man". Ao contrario dos grandes nomes que até entao tinham influenciado a histéria humana, isto reis, principes e nobres, Napoleao apresentava-se como um “simples cabo", alguémde vida comum, como amaio- ria da populagéo, sem uma ascendéncia nobre, que che- gow ao poder utilizando-se apenas de seu talento pessoal. Segundo Hobshawm (1996a) este fato nao foi totalmente vordadeiro mas, de qualquer forma, a ascensao meteérica de Napoledo ao poder serviu para criar esse mito, que foi ‘alimentado e alimentou o ambiente ideolégico da época. Naverdade, uma conjuntura de pauperizagao generaliz. da na Franga devido aos longos anos em guerra levou & diminuigéo do exército que passou a contar com amado- res e saqueadores. Napoleao conseguiu controlar este exército.e mesmo sem muitas armas e sem condigoes ma- teriais avangou e dominou. Sua poderosa imagem era ca- paz de destruir mais que as armas. Hobsbawm chama o momento no qual Napoledo as- cende ao poder de dupla revolug’o, porque a Revolugao Industrial ocorria juntamente com a Francesa. Napoledo destruiu o sonho de igualdade, liberdade e fratemidade para 0 povo que se ergueu por ele para derrubar a opres- so. Estavam prontos os alicerces para a Revolugao In- dustrial avangar e o Regime Burgués se solidificar. Mas, Napoledo queria dominar toda a Europa e as guerras prosseguiram até 1816 de forma quase ininter- rupta estendendo-se também a outros continentes. Das 26 guerras Napolednicas emergiram cinco grandes potén- cias: Rissia, Gra-Brotanha, Franca, Austria e Prissia, Na- goes estas que, cientes dos perigos que os ideais da Revolugao Francesa traziam ao serem utilizados como arma de luta pelo povo, procuraram de todas as formas, por 20 anos, sufocar tais ideais. As mudangas eram ne- cessérias, mas tinham limites, a burguesia que jé ascen- dora a0 poder sabia disso © 0 povo deveria ser contido, mais do que isso, tinha-se que evitar uma segunda revo- lug&o, Mesmo assim, nunca a Buropa viveu um momento revolucionario tao intenso e hegeménico; os anos que su- cederam 1815 comprovaram isso, Entre 1815 ¢ 1848 o mundo foi sacudido por trés on- das revoluciondrias, marcando o viltimo ciclo da “era das rovolugdes”. A primeira ocorreu de 1820-1824; a sogunda de 1829-1834, sondo fundamental por marcar a derrota dofinitiva da aristocracia pelo poder burgués na Europa Ocidental, a “grande burguesia” dos banqueiros e gran- dos industriais chogava ao poder. Mas a grande inovagao trazida por esta segunda onda foi o aparecimento da clas- se operdria como forca politica. A torceira e maior ondare- volucionéria foi ade 1848, ocorrendo em varias regides da uropa e trazondo tona o nacionalismo para regides como a Alemanha, divididas em muitos principados, que entenderam finalmente a necessidade da unidade para o ‘crescimento econdmico. Este tiltimo ciclo de revolugoes possuiu uma caracteristica muito especial, estes foram movimentos sociais, 0 pov muito empobrecido (pois, como j vimos, as revolugées anteriores empurram a po. pulagfo a uma vida desumana), agora, melhor organiza- do, voltava a exigiro que nao lhe havia sido ontregue apés ‘a Revolugao Francesa: a liberdade, a igualdade e a frator- nidade, A burguesia agora néo mais estaria ao seu lado, colocando-se radicalmente contra, procurando encerrar de uma vez qualquer levante popular para poder consoli- dar-se no poder, ar Segundo Hobsbawm (1996), as revolugdes de 1848 fracassaram justamente por sorem revolugées sociais dos trabalhadores. Elas assustaram a burguesia que havia ascendido ao poder com a ajuda destes mesmos traba- Thadores. © que estava em jogo para a burguesia era a perda real do poder adquirido com muito sangue. Omedo de entregar 0 governo ao povo foi maior do que qualquer rixa que pudesse existir entre a burguesia, o que restava da aristocracia @ os radicais do liberalismo. “[...] Em 1848 e 1849 os moderados liberais fizeram assim duas impor- tantes descobertas na Europa Ocidental: que a revolugao era perigosa e que algumas de suas mais substanciais ‘exigéncias (especialmente nos assuntos econémicos) po- deriam ser atingidas sem ela. A burguesia deixaré de ser ‘uma forga revolucionéria” (Hobsbawm, 1996b: 41). Apés as revolugdes, a figura do homem burgués, exemplificada por Napoledo, passa a sero ideal persogui- do por todos que desejam 0 sucesso. Os camponeses operdrios sao calados e doutrinados a também buscarem este ideal ao invés de se revoltarem contra sua condigao de vida. Os homens burgueses bem-sucedidos eram apresen- tados como “|...] homens que se fizeram por si mesmos ou, pelo menos, sendo de origem modesta deviam pouca coisa ao nascimento, a familia ou a uma educacao formal ‘superior. [..] Eram ricos ¢ a cada ano ficavam mais ricos. ‘Acima de tudo, estavam imbufdos da dindmica e feroz.au- toconfianga daqueles cujas carreiras Ihes provaram que a divina providéncia, a ciéncia e a histéria se combinavam, para servit-Ihes a terra numa bandeja. A realizagao cru- cial das duas revolugées foi, assim, o fato de que elas, abririam carreiras para o talento ou pelo menos para a energia, a sagacidade, o trabalho duro e a ganancia” (Hobsbawm, 1996a: 207-211). Isto poderia ocorrer de duas formas: pelos negécios ow pela educagao, mas ambas nao estavam abertas a to- dos, pois 0 acesso a elas exigia, j4 de partida, uma certa 28. condigfo financeira. Para a classe que estava no poder, entrotanto, interessava muito mais eriar uma sede pela educagio do que pelos negécios, A educagio passou, en- to, a significar o triunfo dos méritos, através do desen- volvimento dos talentos de cada um, sobre o nascimento 6, assim, individualizava-se 0 fracasso ou 0 sucesso. Além disso, a indistria nocossitava de trabalhadores com alguma formagao minima para que o trabalho fosse mais produtivo, Segundo Saviani (1996), neste momento 0s pafses se viram obrigados a criar sistemas nacionais de educagao e a Revolugio Industrial acabou levando & Revolugao Educacional e & propagacao e implementagao do que se costumou chamar de modelo tradicional em educagao: "|..] Em sintese, pode-se dizer que a domindn- cia da indiistria no émbito da produgao corresponde a do- mindncia da cidade nas relagées sociais implicando, em ambos 08 casos, a generalizacio das fungbes intelectuais ea objetiyacao das operagées abstratas, quer dizer, a in- corporagéo de procedimentos formais & vida social em seu conjunto, E se a méquina viahiliza a materializagao das fingbes Intelotuais no processo produtivo, a via on, contrada para se objetivar a generalizacao das fungoes intelectuais na sociedade foi a escola. Eis por que, foi sob 0 impacto da Revolucao Industrial que os principais pai- ses se entregam a tarefa de constituir os seus sistemas nacionais de ensino generalizando, assim, a escola bési- ca, Dir-se-ia, pois, que & Revolugao Industrial correspon deu uma Revolugdo Educacional, aquela colocou a maquina no centro do proceso produtivo; esta erigit a escola como forma principal e dominante de educacao, isto, colocou-a no centro do proceso educative" (Savie- ni, 1996: 171-172), Este clima de caca e desenvolvimento de talentos, que a educagio viria a encampar como seu objetivo, trou. xe também uma nova hierarquizacao nas relagoes so- ciais, trouxe o desprezo segundo Hobshawm (1996a 6 29 1996b) das classes dominantes pela massa de trabalha- dores baseado em um gentimento de superioridade, pois 0 tiltimos nao conseguiam chegar as classes médias da populagao por pura falta de inteligéncia e empenho, j4 ‘que as portas estavam abertas a todos. Abriu-se a era da insensibilidade total, os pobres incomodavam os ricos que preferiam nao vé-los, tratando-os como se néo fos- sem seres humanos, Nas fabricas sua pouca inteligéncia falta de talento deveriam ser adequadas ao trabalho da forma mais coercitiva possivel, deveriam ser mantidos sempre a beira da indigéncia para trabalharem incansa- velmente. A necessidade’doveria deixé-los fustigados para que nao dessem mau exemplo aos filhos entregan- do-se a vagabundagem. O mimero de pobres aumentava violentamente, mas a classe dominante esperava pacien- temente que a fome e a miséria detivessem de forma na- tural este crescimento, refreando a procriacéo excessiva, ‘Mas, além de consolidarem 0 regime burgués, os anos de 1789-1848 abriram uma possibilidade inigualavel de formagao do homem realmente universal e livre atra~ vés de sua imensa producao intelectual e artistica. Neste periodo, os artistas e os intelectuais eram diretamente inspirados pelos assuntos piblicos e procuravam interfe- rirnos mesmos, a alienacao do artista que hoje é conside- rada sin6nimo de genialidade néo fazia parte desta época onde o mesmo tinha clara sua fungao social e mantinha uma relagao direta com 0 pablico. Arevolugo dupla ocorrida neste periodo possibilitou ‘um fenémeno inerivel de criagao. Os artistas recebiam es- timulos para o seu trabalho tanto da Revolugao Francesa através de seus ideais, como também da Revolugao Industrial através do horror que esta produzia com a de- gradagao total do ser humano, na figura do proletariado. ‘Abusca da formagao completa do ser humano era almeja- da, ao mesmo tempo em que a desumanizagao produzida peio trabalho industrial os atormentava. Empurrados por essa permanente tensao e sem conseguirem muitas ve- 30 zes vislumbrar uma solugdo concreta para ‘a mesma, pensa- dorese artistas buscavam o caminho para o desenvolvimento pleno do ser humano em utopias e em abstragées, Isso nao deve ser visto porém como significando, necessariamen- te, uma fuga da realidade, mas sim, como um esforgo por encontrar no plano ideal a safda para os problemas sociais que se agravavam, Um exemplo desta atitude podemos encontrar no de- senvolvimento da idéia de inféncia como a portadora daqui- Jo que haveria de melhor na natureza humana e que estaria sendo corrompido ou sufocado pela sociedade. Idéias como esta estavam presentes em wm amplo @ heterogéneo movi- ‘mento que convencionou-se chamar de Romantismo. Segundo Hobsbawm (1996a) 0 romantismo surgiu como tendéncia militante ¢ consciente na Gra-Bretanha, Franga e Alemanha no final da década da Revolugao Francesa. Embora possamos dizer que ele teria sido pro- cedido por um movimento “pré-romantico" caracterizaco pelas idéias de Jean Jacques Rousseau, provavelmente 0 periodo das revolugées de 1890-1848 assistiu sua forga maior enquanto movimento, Hobshawm (1996a) afirma ainda que nao podemos precisar com certeza os propési- tos do movimento romantico, mas podemos classificé-lo como exttremista tanto em seu contetide quanto em seu credo, nao podendo entretanto ser chamado de um movi- mento antiburgués, pois os ideais revolucionérios bur- gueses encantavam aos integrantes do Romantismo a ponto de Napoledo ser considerado um de seus herdis. Asidéias sobre a infancia difundidas pelo movimento Roméntico alicergaram os trabalhos de muitos educado- res, ente eles Froebel, Froebel considerava a infancia a fase mais importante da vida humana, a crianga continha 8 germes do toda a bondade e pureza. ___ Froebeleraalemao, e seu pais passou por todas estas: intensas mudangas de uma forma diferente, particular, que também influenciou sua concepgao de educacao. A 31 Alemanha era um pais dividido em reinos, provincias ¢ pequenos estados: a Confederagao Germanica ora dividi- da em 38 estados, 5 reinos, 29 Grao-ducados e 4 cidades li- res, praticamente independentes, fato este que dificultava muito 0 seu desenvolvimento. Segundo Lukécs (1978), Engels, ao comparar 0 desenvolvimento da Alemanha com oda Franca, durante o perfodo com o qual estamos traba- thando, chegou A concluséo de que a segunda havia acha- do um caminho progressista para a resolugao de seus conflitos, enquanto a primeira, um reacionario. Somente ‘em 1248 a revolugao burguesa apareceu paraa Alemanha como um problema real, o problema da unificagao levou & revolugao tardia, Enquanto na Inglaterra e na Franga a dupla revolugao ocorreu em nagées constituidas como tais, 0 absolutismo que reinava nos pequenos estados, alemdes, com uma nobreza feudal independente, refreou ‘este processo, retardando-o. A classe burguesa alema, segundo Lukécs (1978), nao possuia a mesma lideranga expressa nos demais pai- ‘ses 6 ndo estava préxima dos ideais da Revolug&o France- ‘sa; era uma classe servil, cagadora de titulos de nobreza 6 demonstrava uma completa ausénciade orgulho civil. Por isso, a burguesia na Alemanha nao teve um momentoem que foi revolucionéria, ela ascendeu ao poder através de conchavos com a nobreza, assumindo seu caréter reacio- nario desde o principio, ¢ A custa de muito sangue para ‘adequar o povo as novas necessidades do capital que se toravam imperantes para um pais em atraso econémico e politico com o seu tempo. ‘Marx (1987), em seu texto Contribuicéo a critica da f- osofia do direito de Hegel, consegue sintetizar a partici- pagdo da Alemanha na dupla revolugo de forma muito lara: ela entrout no momento de consolidagao do regime burgués, os ideais as diversas revolugées ocorridas em prol da liberdade, fraternidade e igualdade nao fizeram parte do universo alemao. Por estes fatos, Lukécs (1978) considerava Goethe, Schiller e também Hegel frente do pensamento aleméo, pois estes dialogav . Gugdes francesas e inglesas, sou pats nao rofletia « sua produgéo nem a inepirava. As duas grands universidades alemas da época, Weimar e Jena, ilustravam este descom- /asv0: por um lado om Welmarestavam os trés pensado. fos acima mencionados constituindo-so om tum amblento ‘tromamente progressieta epropagerior dos ileais da Re ‘oligdo Francesa, por utr lado, Jena epresentava om Seu Tomattismo,o anacronismo reacionério alomao. Este fato foz, segundo Hobshawm (1996a), com que a Alemanha tivesse uma expresso monumental na filoso- fia, com um corpo de pensamento criado entre 1760 1830, que apareceu juntamente com sua literatura, diferin- do do liberalismo cléssico, pois sous autores, mais notada- mente Hegel, rejeitavam 0 materialismo ou o empirismo em sua versio classica, Como procuramos mostrar como sinttico osboge his- ssi sca sprorentad, vida do ronbolseutrabaoe tus idéiag como educador denvolveran-ee, ao moana tempo, naera das evolugBos e im pals marcado por uma realldedo socloocontmicaretogradao pea exstencia do ‘ma visto de munclobastanteconsorvador,«despoito de tor tamsém o pals no qual a flovotiaaleangava set maior desenvolvimento, A pecagogia de Froebel nto poderiater bid construlda& part de todas estas contradigoas exis tentos naqule momento histéricoe nacuolaroolidade 90 cial Esperamos que ao longo da letura deste pocuoro lv leitor possa pereeber as ressonncias desta con tradigoeshistricas na pecagogia de Poche Capitulo n O PEDAGOGO DA PRIMEIRA INFANCIA: VIDA, OBRA E PRINCIPIOS EDUCACIONAIS DE FRIEDRICH FROEBEL Friedrich Froebel, filho do pastor luterano Johann Ja- Kob Froebel e de Jakobine Eleanore Hoffmann, nasceu aos 21 de abril de 1782, na vila de Oberweissbach, do Principado de Schwarzburg-Rudolstadt, situado na flo. esta da Turingia, regido sudoste da Alemanha. Sua mae veio a falecer em 7 de fevereiro de 1783, em consectiéncia de problemas de satide decorrentes do parto, Os estudio- sos assinalam que este fato deixou profundas marcas no pequeno Froebel (Koch 1985; Prifer 1930; Liebschner 1992; Cole 1907). Seu pai casou-se novamente em 1785, 0 até essa época, quem cuidava de Froebel eram seus ir- aos mais velhose pessoas estranhas, Logo apésocasa- mento, a madrasta de Froebel teve seus préprios fillios voltou-se para o cuidado destes, 0 que, aliado ao fato do pai de Froebel ser um pastor muito ocupado, fez com que a infancia de Froebel fosse a de uma crianga quase que entregue a si prépria, o que parece ter influenciado na for- aan magio de uma atitude autodidata desse educador ale- mag, Entretanto, apesar de muito ocupado, foio pai quem gnsinou Froebel a ler, escrever e calcular. Provavelmente f influéncia educativa que o pai exerceu sobre Froebel foi muito além do ensinar a ler, escrever e calcular. Sendo pastor, 6 provavel cue o pai tenha exercido sobre Froebel Bia forte influéncia educativa religiosa, o que viria a se Tefletir na grande importancia da religiosidade na con- ‘cepgao educacional de Froobel. Nao importa sea visaode religiao presente na pedagogia de Froebel fosse seme- Thante ot nao A viséo de seu pai. O importante a ser aqui assinalado é que Froebel incorporou para toda a vida are Iigiosidade laica do protestantismo como um principio ‘egsencial para a formagao dos individuos. Lento nos est Gos, Froebel nao deveria seguir carreira académica, mas Sim ser iniciado na vida pratica. Aos 14 anos foi colocado Sob os cuidados do guarda florestal Witz para aprender 0 oficio, mas, deixado de lado por esse seu “tutor”, ocu- __pou-se londo livros de ciéncias naturais, obsorvando ana- Parez e montando colegées de pedras @ mariposas. Segundo Liebschner (1992), este contato com a natureza Gespertou sua curlosidade e o desejo de ir Universidade para estudar Ciéncias Naturals. Com esse desojo, retor- jou'em 1799 casa paterna, no intuito de cbter a autorizagao ‘dopai para ira Universidade. Entretanto, a oportunidade de foalizar seus planos 86 surgiu a Froebel quando este foi ‘Gnearregado por sot pai de levar dinheiro asewirmao que Gotudava medicina na Universidade de Jena. Froebel en- Cantowse entao com a Universidade e seu pai permi- fartho ali permanecer, junto a seu irméo, até o final do semestre, Essa ostadia intensificou sou desejo de dedi- car-se ao estudo das Ciéncias Naturais, Apés esse se fnostre em Jena, Froebel regressa 4 casapaternaeinsiste junto ao pai para que este Ihe autorize a ingressar naque- Ja Universidade como estudante. Finalmente, entéo, seu ‘pai decide dar a Froebel a parte que Ihe cabia da heranga Geixada por sua mae para que Froobel, com esse dinhel- 36 Sete ere ae ae a pe eee quatro semestres. Nesta mesma épo ing era Spee ees ae nes a See ern “Sociedade para a Mineralogia”. a os intoresse especial de Fros er oxorera como vores, nde inlubncia sobe tas concepedes educacionais. Passomo um exame mais detalh idéic ane teri Simexamem ado das iddiasestudadas por Froc. 1. 0 concelto de natureza e suas relacées com educacio ~ As influéncias de Schelling ¢ Krause, Em’ Jena, Froebel apaixonot Schelling (1775-1854) em ieifes Geers auce epee et SU eae tae sa ‘tonne mato na formes de sa sis ian crn cee ea nidade entre Deus, enquanto espirito absoluto, ¢ a na- nanos}, a natroea ovel a pelo divin a ela esta em unidade com 0 espfrito do Criad ae Sen ST ae eset Se ee Sears tees se pee aCe St eer ste cen Sane ares recs cra nce Deus seria justamente o grando artista encanto cue @ ZADIGSh tr ye Se 37 ing, “[..]toda obra de arte 6, ao mesmotempo, algo subje- tivo € algo objetivo, algo espiritual e algo material, 6 ‘simulteneamente consciente inconsciente, finita o de al- ‘guma maneira infinita e aparece, ao seu tempo, como pro- Guto da liberdade e da necessidade. Portanto, a obra de fate retine em sie revela ao espirito humano as proprieda- des antitéticas do Absolute” ‘Como veremos, estao af prosentes idéias que Froebel incorporou A sua pedagogia. Uma delas é a da natureza Goma obra perfeita do espirito de Deus, em unidade indis- Soliivel com este. fa Constante unidade fog contrarios. Por fim, « quostao-estética esta presente na podagogia de Froebel através de sua insisténcia via aecossdade dome Trabelhr com as congas sermon? as formas, 0qUe ‘procurou concrotizar nos cha- mados “dong” ‘Um discipulo de Schelling, Karl Christian Krause (1781-1832), unitia a concepgao de natureza com a educa- ‘cdo, unio esta que influenciaria muito a constituigao do Sreahougo tedrico do trabalho de Froebel. Krause estava Gonvencido da congruéncia entre religido e ciéncia, da harmonia entre razao e arte, da unidade da humanidado, da necessidade de apreensao de uma visao religiosa na vida dos individuos que levaria a necessidade do amor, & indivisibilidade moral entre a beloza e a liberdade de de- sejar obedecer a uma tnica lei. Assim como Krause, Froe- del via Deus como esta loi imutdvel e permanente ‘acreditava que todo este proceso repetia-se no homem ‘assim como em todos os seres vivos da natureza criados por Dous, Esta relagdo de Froebel com a natureza é impoxtan- tfesima para compreendermos sua proposta educacional ®, principalmente, sua idéia a respeito da inféncia. Por festa raz40, faremos uma pausa em nossa narrativa sobre a vida eo trabalho de Froebel, para explicarmos mais de- tathadamente sua concopgao acerca das relagdes ho- 38 mom-netureze-Dous, concepgtio essa que se forme hasicamente durante esse potfodo em Jona, " "Come vimos no primero captalo deste ito, Fro {aria parte do movimonto Rombation, Schelling Kroes tambtmn poriao, a nsec na tntatvede en aiconss do ser htimano com a natureza 6 tao forte nestes autores, ie on 9 principio a partir do qual todos os he cot ertn iguna para popcrams foesa aden ee era ee oe gio antreinfinciaenatuvea, monaco {tgean onto ambos earelagio doctor come ton de tudo e todos, isto 6, Deus, é que poderiamos presente- tx cade indvtdun como autoconeohnouto se seni de sou lugar em nossa sociedade, consequentomente io. mes ina scodade aoe Roan pa aa compreonsto deste relagden ona Fresbek aeteareee nocd forma clntleaa visto quacletianadenera * Anatureza é um simbolo do espirit é 1 snirito aivino, 6 um exteriorizagao dasse espitite. Conhecer 9 smboliamo la natureza 6 conheécer o espirito divino. Se "6 conliecer 0 espitito divino. Sendo o omen também uma criacéo divina, a crianga contém dentro de Sioa germans da tudo oque do molhr existe na natirora humana e quo une ohomem & natureze oaDeus eu ris, dor. Tal como a natureza 6 exteriorizagio do espirito di : orizagio do capinto di- ‘ino, para que a crlanga desenvolve’o quo de melhor existono ser humano, ola precisa oxtororizar seu interior, © que pode ser feito pela mediagao do simbolismo (os brinquedos eriados por Froobel desemponhariam esse papel apron imolra inféncla). Concomitantemonte ao pre. Ges80 de exterlorizagto do ef mena © Gangs dove Sprencora contiecer ¢neturesa:devevivereinieencet comela, pots dessa forma a criahca estara naturalmente sn ‘ aeatard naturalmente hharmoni sndo-se com o oupliite diving Esse GoTcaeeaS je Froobet evou a quo le fosse chamado, na literatura, do panteista, pois sua religiosidade praticamente dis- pensava a institucionalizagao da religiéo, j4 que a rela- 39 ao homem-Deus aleangava sua forma mais perfeita na relacéo homem-natureza. + Anatureza é objetiva por ser algo real e permanen- te, mas constitui-se em uma escada que liga a humanida- dé ao etemo, Esta ligagao precisa ser trabalhada de forma conereta, simbolizada, tomar-se tangivel assim como ana- tureza 0 6, a educagio deve buscar esta materializagao; eee a ee ae Ce ae speeded er a Li ee ee Eola ra ictal es eS kaentoees wi sr agnume tine eben eames ee Nee ~pnmaaacnrtrrar penne et tre cE ee ae 2 ae Se ea ae Fe ee anos m denne ee deride hina, es Sec ee eee nero eres eee 2 ot Froebele, mais do que isso, constituiram o ceme de sua fi- ‘Em 1801 Froebel retoma a sua casa e em 1802 seu pai falece, nada mais o prendia sua aldeia; de 1803 a 1805 realiza varios trabalhos como agrimensore também como arquiteto. Em Frankfurt, gragas ao incentivo de um amigo diretor de uma escola modelo, itorna-se professor, Ievando junto a aito-educagao eo auto-aj ‘que fizeram parte de sua vida e que transportaria mais tarde para a sua proposta educacional. Segundo Koch {1988 24), Frocbel ania de-teds ot ovonce ‘© caminho pedagégico, apesar de nao haverlido, até aquelomomen- to, nenhum livro de pedagogia. A solugao encontrada por ele era o mergulho nas préprias experiéncias escolares, das quais trazia tristes recordagées, que nao gostaria que também fizessem parte da vida de seus alunos. Nascia ‘um educador fruto da prética, que produziria toda uma metodologia de trabalho haseada na prética, Blow (1895: 37) considera importantissimos esta praticidade, este “aprender fazendo" de Froebel. Para essa autora, Froebel era um educador nato, a inféncia introspectiva o teria aju- dado a desenvolver a disciplina necesséria para que isso ocorresse. Durante sua juventude, Frocbel jé possufa a consciéncia de que os homens nao necessitam apenas de ioe instrugio, mas sim, de serem presenteados consigo mesmos, objetivo maximo de sua educagio. Fato este que ocorreu com o préprio autor durante toda a sua vida. Este caréter pratico de Froebel também foi destacado pela Baronesa B. Von Marenholz-Bullow (que acompe- nhou durante anos o trabalho de Froebele procurou divul- gé-lo apés sua morte por toda a Europa). Em seu livro Reminiscences of Friedrich Froebel (1877: 17), ela chama @ atengao para a dificuldade que Froebel possuiria para entender a linguagem do mundo académico, A cultura apresentada por estudiosos lhe era algo estranho, ele que era um autodidata, apenas via no mundo académico um criadouro de maledicéncias e conflitos que em nada auxi- liavam a vida cotidiana das pessoas. Por isso, teria sido grande sua felicidade ao inaugurar sua escola em uma fa zenda longe dos grandes centros. ‘Em 1807 tomou-se preceptor em tempo integral dos sane da Baroneea Caroline Von Holzhausen, Bla teria ‘gido, segundo os bidgralos de Froebel, o grands amor de Sua vida, amor nao realizado devido ao fato dela jé estar casada, mas partilhado através de grande cumplicidade intelectual. Froebel a considerava um exemplo de mulher que assumiu a maternidade em toda a sua plenitude. A Baronesa apresentou a Froebel as idéias de Pestalozzi. Em 1808 Froebel vai para Iverdon ao encontro de Pesta- Tozzi e la permanece até 1810, quando os atritos constan- tes com 0 grande educador o obrigam a partir, Segundo Koch (1985); Priifer Liebschner (1992) e Cole (1907), Froebel considerava que Pestalozzi (1746-1827) reduzia homem ao seu estar ai, tal qual como ele apare~ ce na terra, esquecendo-se de sua natureza eterna, do Seu ser otemo, Pestalozzi, educador suico, envolvia-se nas discussées sociais e econdmicas do perfodo, expres sando sua opiniao a respeito da figura de Napoleao e cho- cando-se sempre com a pobreza e o infortinio que se abatia sobre os mais pobres em conseqiténcia da explora (Go exercida pela classe nobre. Frosbel, o qual, como vi nos até agora, manteve-se alheioa todas estas questoes, voltado para a natureza ea busca da revelagao do divino ho humano, néo podia aceitar as preocupagoes de Pesta loz2i, acabando por consideré-lo um reducionista, pois ao preocupar-se com a situagao social dos homens, Pesta- lozzi estaria, segundo a visdo de Froebel, descuidando-se do algo maior, isto 6, da espiritualidade do homem, Froe~ bel discordava também da metodologia utilizada por Pes taloz2i com as criangas pequenas que desde cedo eram iniciadas na leitura ona escrita. Como Pestalozzi acredi-\ tava sero analfabvetismo uma das causas da falta de opor- tunidades do povo, a alfabetizagao na maistenra idade se constitufa em algo de suma importancia para que 0 povo ‘pudesse almejar uma vida mais justa e menos miseravel. 42, | | Eroshel entandia que, ao contrério do que fazie Pestaloz- Savem toda a sua riqueza interior, fruto de sua essencia humana. Essa exteriorizagio deveria ocorrer preferenci- almente através das artes plasticas © do jogo, pois este seria_uma atividade naturalmente infantile fonte de ex- pressao natural da crianga Mas Froebel incorporou vari incl cionals de Pestalozs, Um deles seria ¢ de che 9 fades ‘mento de toda a educagéo do homem é a percepgao, ode {uo nola dover basoai-eo toda a eduoagio de Ghamada primeira infancia, A percepgao constituiria a base tanto para o conhecimento do mundo como para a linguagom, pois esta seria a representagdo dos objetos do mundo ex. temo edasrelacies entre os mesmos, O contato sensorial com 0 mundo deveria ser o ponto de partida de toda a educagao, ¢ esse contato deveria sor oxplorado dosde 0 infcio da vida da crianga. Ai surge wm segundo principio. uo Froebel incorporot'da podagogia pestalozziana: se a percepgao seriao pontode partida da educacao, dovende ser explorada desde inicio da vida humana, entaoamu- er, mais especificamente a mae, toria um papel decisive na educagao infantil cabendo a sla desenvolver ative, des que explorassem 0 potencial da crianga no que diz rospeito ds formas de percepcao do mundo exterior. Froe. bel levaria ainda mais longe a defesa dossa centralidade do papel educativo da mulher na primoira inféncia, a0 cerideera or ona esata, Doo deco outro principio da pedagogia de Froebel, o de que prética. A mulher-mée, possuindo naturalmente os atri- Dutos necessédrios a uma educadora, 86 precisaria que os mesmos fossem clespertados no fazor oducativo. Apés separar-se de Pestalozzi, Froebel decide que everia buscar as hases cientificas da educagio do ho- memo estudo da génese da inguagom o vai para a Uni- versidade de Géttingen no verao de 1811. Além dessé 43 ele decide também retomar seus estudos sobre estudo, om xe SSnoralogia, quimica e ciéncias naturals. im 1811, estando Froebel na Universidade de GON aaa oat jenaruroraoimmprossiona de mane fntet a, apassagem de’ ‘um cometa pela Terra. Isso 0 leva’ weriare férica”, a qual passou a ser 0 Seu selo ofi- action Sus “eS resentave, ha forma esférica, olimitad’ cial. Esta ll rp rgde © aunidade, A foun exérc oso race oa perfeigso, devendo ser o principio. Froebel fica pouco tempo em Gottingen © j4em 1812 Yelper Gian naturals. Aparontemente, nBo Ievou tados de cine rota de estudar es origens da lingua aiante 304 Pree Hensitze W. Hofimelstaraquem Pode ‘em casamento, mas como: ‘ela jd tinha sido casada come om casamont® Flo da quota, do quem #esopararalsé nao oficial do minis oem avatar opedide de casement de ult tema qual ox dois vioram a casa mente Froebel razio Petenacoram casados a 1830 quando la om 1818 les Pe veram los, pois segundo ebschnet La es gts nao pod ter ines em consectenc (102 ga durante seu primero casamen 2, A unidade vital e os processes de interiorizacio e exteriorizacio to13.1616, ainda antes de 6 casar com Henrik: ener epee guora peleunleacdo lomacon, to,Froebel attips to de Napoloin,iflamado pelo tra 0 avange doo Embora a questo nacinalst 0 aincurso de Fiche: Mayor, eran a mesma cornice vosse movido Pa oven, fodosvslogon protstantes: ca dot Bauer, com on qua através de aac eons acampamenton acaba se 44 ‘dade de Borlim para continuar 520s €5- — ando completamente do objetivo inicial, e voltando-se cada vez mais para e especulagao filoséfica em torno da lei esférica. Ao término da guerra vai trabalhar como aju- dante no museu de mineralogia da Universidade de Ber- lim, L4, segundo Koch (1985), na quietude, cercado por pedras, procura achar uma unidade entre os seres, con- cluindo sua lei esférica, elegendo o grande fim da educa- go que soria buscar a identidade da vida da natureza com a do homem. Liebschener (1992) acrescenta que, com a lei esférica, Froebel percebeu que as agoes sao fei- tas de opostos capazes de conviverem em hanmonia gra- gas A sua relagéo com Deus, representante da total Unidade. Mas, esta unidade com o eterno 86 ocorre quan- do o individuo compreende seu ser e reconhece o valor dos opostos em sua vida. Assim, ele se tomna apto aperce- ber aunidade na diversidade, agindo de acordo com 0 po- tencial que tem dentro de si, fruto de sua vida eterna; somente assim atinge-se a perfeicao. Temperangae equi- brio, quando se busca a perfeigdo, passam a sor dois prineipios fundamentais para Froebel. Bata relagéio Deus, naturoza ¢ humanidade era repre- sentada por Frosbel através de um triéngul, esta triade xa inseparével e formava o que Froebel denominava ‘anidade vital", na qual a educagao deveria estar alicer- ‘ada para poder conduzir o individuo ap desenvolvimen- to pleno. Dentro do principio da “unidade vital”, os processos de interiorizagao e exteriorizagao eram funda mentais, pois levavam a clarificagao da consciéncia ao autoconhecimento, ou seja, A educagao. A formacao e 0 desenvolvimento se fazem gragas ao que o homem rece- be do mundo exterior, mas s6 ocorem de modo eficaz quando se sabe, por assim dizer, tocarno seu mundo inte- rior. Este proceso chamado de interiorizacdo consiste no recebimento de conhecimentos do mundo exterior, que passam para o interior, seguindo sempre uma sequéncia que deve caminhar do mais simples ao composto, do.con- ereto para o abstrato, do conhecido para o desconhecido. 45 ‘Aatividade e a reflexio so os instrumentos de mediagao deste processo ndo diretivo, o que garante que os conhe- ‘cimentos brotem, sejam descobertos pela crianga da for- ma mais natural possivel. O proceso contrario a este & chamado de exteriorizacao, no qual acrianga exterioriza o seu interior e, para tanto, ela necesita trabalhar em coi- ‘sas concretas como a arte e o jogo, excelentes fontes de exteriorizacao. Uma vez exteriorizado seu interior, a cri- ‘anga passa a ter autoconsciéncia do seu ser, passa a co- nhecer-se melhor: 6 assim que a educagao acontece. Eetes processos de exteriorizagio ¢ interiorizagao também servem para marcar a passagem do homem da primeira infancia para a infancia propriamente dita, por- tanto, eles s80 imprescindiveis para o desenvolvimento do ser humano, Froebel destaca que durante a primeira infancia estes processes sao confusos, pois a crianga mal consegue diferenciar seu corpo dos objetos que a rodei- ‘am; realizar esta diferenciagao deve ser o objetivo central desta fase e 0 aparecimento da linguagem oralnacrianga Gum indicio de que este proceso est se concluindo, tor- nando-a apta, entao, para entrar na préxima fase de seu desenvolvimento que é a infancia, [al Assim que a atividade dos sentidos, do corpo e dos membros édesenvolvidaatal grau que a crianga comeca fa representar o interno externamente, 0 estagio da pri- ‘moira infancia nodesenvolvimento humano acaba e063 tagio da infancia propriamente dita comega. Até este cestigio, 0 sor interno do homem ainda esté desorganiza~ do, indiferenciado, Coma linguagem, a expressio © are presentagio do interme comega; com a linguagem, a Organizagao ou a diferenciacao com referéncia a meios © modos ocorre, O interno é organizado, diferenciado, © Iuta para se manifestar para se anunciar extemamento. (© ser humano luta pelo seu proprio poder ativo para re- presentar seu interno externamente, de forma perma: nente © com material sélido |...]. Neste estagio da {infancia - quando af se torna manifesta a tendéncia o es- forgo para representar o intemo através do extemo, ¢ para unir os dois encontrando a unidade que os liga ‘educacdo verdadeira do homem comega e a atenco e 0 cuidado so ditecionados menos para 0 corpo 6 mais ara a mente (Froshel, 1887: 49-60), Este movimento de extetiorizagao 0 interiorizagio precisa da agéo para medié-lo, necessita de vida o ativi. dade, ndo de palavras e conceitos. “Agirpensando e pon. sar agindo" era para Froebel, segundo Koch (1982), 0 melhor método para evitar que o ensino por demais abs- trato prejudicasso 0 desenvolvimento dos talontos dos alunos, o que os levaria compreensao da triad que guia todas as suas vidas abrindo, portanto, as portas para so atingir aperfeigo enquanto ser hmano. Cole (1907) dos- taca que o aprender fazondo proposto por Froebel, antos ie mais nada, respeita a metodologia natural das crian- ‘gas, Segundo Froobel, “|..| observar, apenas observar, poisacrianga mesma te ensinara" (apud Colo 1907: 26), cis améxima que deve reger a educagao, pois 6 assim o pro- fessor sera capaz de conhecer realmento sou altno, enten- dendo sta dindinica intoma o descobrindo au Sssuneta ‘humana, seu potencial, seu talento. Como podemos ver, Froebel formula prineipios educacionais voltados para o novo homem que a sociedade de sua 6poca oxigo. Indiv. aualizando o ensino e os processos de aprendizagem 0 elegendo o desenvolvimento dos talentos de cada sorhu- mano em harmonia com a natureza como objetivos da educagao, Froebel revoluciona a educagao que se realiza. va sobre os moldes chamacios ce tradicional, antecipan- do-se, torando-se precursor do movimento que maie tarclo Soria conhecido como movimento da Bscola Nova, ou Escola Ativa ou ainda Pedagogia Progrossista (nos BUA). Gostarfamos de destacar que o trabalho na educago com o prinefpio da “unidade vital” levaria a crianga, se- gundo Froebel, a conhecer ereconhecer Deus em todas as suas obras especialmente na natureza. Por trabalhar de forma fragmentada, a escola nao conseguia perceber esta unidade, seu trabalho era morto, justapunha-se 0 exterior ao interior, tornando-se impossivel uma aprendizagem viva. Por isso, segundo Koch (1985: 55-58), trés pontos eram fundamentais na metodologia froebeliana: Oprimeiro ponto seria a atitude do educador, que de- veria dara entender ao edueando que ambos estavam su- bordinados & “unidade vital”, portanto, o modelo a ser seguido de perfeigdo humana seria "Jesus", por reunir 0 divino, ohumano enatural, sendo que sempre a liberdade de cada pessoa deveria ser preservada na busca do de- senvolvimento de seus talentos: [1 Por iss0, 0 préprio Jesus, om suta vida e em seu ensi- namento, constantemente se opunha a imitagdo da per- feigéo extema, Somente a luta espiritual, a perfeigéo viva deve ser tomada como um ideal; sua manifestagéo exter- ‘na~por outro lado~swa formanaodeverlaserlimitada. A vida mais elevada e mais perfeita que nés como cristéos, nxergamoa em Jesus ~ 2 mals conhecida na humanida- do —6a vida que encontrou a titima e primordial razéio da sua existéncia claramente e distintamente em seu pré- prio ser; uma vida que, de acordocomalei eterna, veioda vida completa, eternamente criadora, atuante © equili- Dada. Esta vida perfeita eternamente elevada faria cada ‘serhumano novamente se tomar uma imagem similar a0 {deal otemo, para que cada um novamente pudesse se tomar tm ideal gemelhante para ele propio e para os ou- ‘ros, faria cada ser humano se rovelar auto-ativoe livre de acordo com a lei eterna (Froebel, 1887: 12-12). O segundo ponto da metodologia froebeliana seria re- lativo ao processo da educagao: 0 homem e a natureza posstiem existéncia em Deus; educar, portanto, 6 desper- tar no educando a consciéncia dessa realidade, orientan- do-o para uma vida pura e santa, Este proceso ocorre 48 através da exteriorizagao do interior e da interiorizagdo do exterior, com a agao e a atividade como chaves. Surge ai anecessidade de objetos para que esto proceso ocor- ra, pois a exteriorizagao mediante matéria concrota, fruto de pensamentose palavras, ébem maiseficiente do que a realizada através de conceitos e palavras abstratas. Nunca esquega que o objetivo da escola no & tanto ensinar ¢ comunicar uma variedade e multiplicidade de coisas, mas sim dar destaque é sempre viva unidace que costé em todas as coisas (Froebel, 1887; 134-195). Finalmente, 0 terceiro ponto da metodologia froebeli- ana seria relativo & funcao permanente do educador: res peitar a natureza, a agao de Deus ¢ a manifestagao espon- ténea do educando, a educago deve soguir o livre desenvolvimento, néo podendo ser prescritiva, determi. nista e interventora, pois assim destréi a origem pura da natureza,do educando. Por isso, segundo Koch (idem), Froebel utiliza o termo “educagéo sequitéria”, ou seja, aquela que vigia e protege as energias naturais da vida, ‘Alicergada na experiéncia, o objetivo principal dessa pe. dagogia centra-so na orientago e no despertar da ativi- dade espontéinea da crianga, disseminando qualidades ¢ aniquilando defeitos, através do desenvolvimento pleno da harmonia entre homem, Deus e natureza. {1 Nés concedemos ospago etompo a plantas e animale Jovensporquesabomon que, de acorde com as lla quot ver es, ls dasonvelveito aproprndaments ces. corto bem, « animals e plantas fovens & dado o tm hnoceoséio sendo que Interforénca ablséia noses crescimenta 6 vitada, Porgu eebido que a priticn posta atrapalbaria a puveza da manlfestaygo da melo, Ala do desenvolvimento; mas oovem ser humane 6 ob ervado como um pedago de core, una porglo de aria ni qual ohomem pode moldaro que ole desdjr. Oh hor mom que vagueia através de jardim campo através do ee eee 3. Aescola de Keilhau e a educacao do homem livre 12m 1816, apbsretomnarda guorrapara eua.cese,Froe- bot Saharas proptletrie e fundador de um Instituto de Educagao ent Griosheim, tranaforde 16 aid squint Gate ebimnanFrooper entko pave a pOr om pratica stay Tprmulagbes sobre educagio,trabalhandoriosse itt eae anon Prato de sone prinetios 880 anor coro divetorda oscoldom Kollhau, prtindo dos principios aqul dcabogaddos, aperece sua meis importante obra com ea- rater filoséfico em 1826: A educacdo do homem. Nesta obra, em seus primeiros Capitulos, Froebel apresenta de forma detalhada algumas questées filoséficas importan- tissimas que alicercam toda a descri¢ao, apresentada nosso livro, do trabalho realizado em Keilhau. Aidéia guia de todas as segées do livro reside na apresentacdo de Deus como ocriadore origem de todas as coisase da vida, por isso Deus também deve ser a origem e 0 objetive da educagao do homem. A primeira parte do livro apresenta a base filoséfica, seguida pelas segdes nas quais Froebel apresenta uma classificagao do desenvolvimento huma- no: © homem no periodo da primeira infancia; ohomem no perfodo da infancia; e o homem no periodo escolar. Froe- beldestaca em relacao ao desenvolvimento do periodlo da primeira infancia algo que até entao era raramente consi- derado, a importncia deste para o desenvolvimento do homem e a necessidade de se apresentar claramente & crianga o mundo no qual ela esta inserida. [... Este estégio 6 certamonto importante, pois importa ‘mais a0 ser humanoem desenvolvimento se 0 mundo ex: terior parecer a ele nobre ou insignificante, baixo, morto, ‘como algo feito somente para a diversao de outros — para ser usado, consumido, destraido, ow tendo um proprio, dostino~ alto, vivo, espiritual, animado e divino; se pate cera ele puro ou impuro, enobrecedor, ou desvalorizacioe opressivo; 8e ele enxergar e conhecer as coisas em suas, relagées verdadeiras ou em relagdes faleas ¢ distorcidas. Por isso, acrianga neste estagio deveria ver todas as coi- ‘sas corretamente, e deveria designé-las corretamente 6 acertadamente, definidamente e claramente; ¢ isto se aplica a coisas ¢ objetos como também & sua Naturezae propriedades. Bla deve designar apropriadamente as re lagées do objeto no tempo e espago como também umas ‘com as outras; dar a cada um seu préprio nome ou pala- va, ¢ pronuncier cada palavra em si prépria, claramento e distintamente de acordo com seus elementos vocals constituintos (Proobel, 1887: 51-52). Note-se nessa passagem algo que jé foi aqui comenta- do em relagao a concep¢ao froobeliana da primeira infancia 51 ‘um perfodo no qual deveria ser educada a percepgao da cri- anga e também um periodo de aquisigao da linguagem. Na segunda parte, o livro apresenta uma discusséo importante a respeito das matérias que deveriam ser ob- jeto de estudo no terceiro periodo do desenvolvimento do homem, isto 6, o perfodo escolar. Essas matérias sao: reli- giéo, ciéncias naturais e matematica, linguagem e arte. Logo em seguidao autor traz uma interessante discusséo a respeito do papel da familia na educagao da crianga, Froobel enfatiza que escola ¢ familia nao devem estar li- gadas somente na hora de determinar o que deve ser en- sinado as criangas, mas também na propagagdo da idéia de que a escola devo ser inserida e vista em relagao com todo o espectzo que envolve a vida do aluno. Essa inser- ao da educagao escolar na formagao do ser humano en- quanto um ser integral, teria como idéia guia a de que a educagao deve buscar desenvolver aquilo que de divino a crianga traz dentro de si. Todo ser humano possui algo de divine consigo e deve ser objetivo de sua vida desenvol- ver isto. A educago em um primeiro momento deve ape- nas observar, deve refletir e esperar pelas criangas ¢ suas demonstragses desta divindade, as criangas mais velhas devem ser observadas em seu trabalho, as mais novas em suas brincadeiras, s6 assim poderé se reconhecer as ver- dadeiras inclinagées infantis. Por fim, Froebel discorre a respeito de algumas consideracoes particulares sobre: © cultivo do senso religioso, do conhecimento e do corpo, da natureza, memorizagao de poemas, exercicios de lin- guagem baseados na observagao da natureza, desenho, cores e pintura, jogos, historias e contos, excursdes e ca- minhadas, aritmética, exercicios de gramitica, escrita © leitura, Este livro 6 sem diivida um importante guia para estudarmos a histéria de nossa educacao. Destacamos a seguir um trecho do inicio do livro, onde o autor reafirma a necessidade do divino para o ho- mem, a necessidade de harmonizagao do homem com 0 divino, com a natureza e consigo mesmo. 52 {om oda a coon vive est uma ei eterma stall temsldow estanunciada com careze datngso ac tureza (extomo), no esp intrma) neve quo unas pat asec aver ead sig da, eta compltamontoconponcrade nas Impulstonada pen necesidade de quo aso no sea serdoouramanoira, assim com par auele, ee dara Scaima vsso mental bo interior nocrtviorestawéede ‘xeror ov oprocedimente exterior como uma neces, Ado tgiea da ossOncln interior Toda ese lel egonte 6 necesariamonte basen mina unldade eterna cone Giont, vies, eneigética © porsuasiva, Este tato tonto blocos juntos como uma cruz, representam um vaqueiro” assim a crianga tem o rebanho e o pastor. Entao 0 reba- ho pode ser conduzido e mudar, seis blocos formam o es- tabulo com dois boxes, e os dois blocos restantes séo duas vacas; etc. Estas representagées no estdo cortamente em folhas de litografia, mas as indicamos aqui para mostrar como a vida pode estar conectada e representada por objetos ina- nimados. O campo deste trabalho o faz insensato, ao en- trar em detalhes mais profundos a respeito das formas de vida que podem ser produzidas com o quarto dom. Nouso verdadeiro deste dom com criangas, muito mais formas sero produzidas; certamente, elas jé foram produzidas © sero indicadas futuramente. ‘Que as caracteristicas salientes e membros organi- cos das formas de vida podem ser aliviadas por meio de estérias e conversas, ja mostramos suficientemente, am- bas em conexéo com este dom, e com 0 terceiro dom. O que foi escrito, entretanto, deveria estar cuidadosamente ligado ao verdadeiro uso do dom, ¢ isto é especialmente importante naqueles casos onde uma forga motora é ma- nifestada extemamente, como equilibrio ou como ativi- dade autopropagadora, Atividade autopropagadora, além ‘domais, pode ser simples ou em uma tinica diregao, dividi: da ou tendo diregdes diferentes. Também pode ser unifor- me ow aceleradora [Froebel est se roferindo aqueles exercicios com o quarto dom onde, arrumando os blocos em grupos diferentes e atingindo o primeiro bloco de cada grupo, a forga 6 passada ao longo de uma linha reta, a0 redor de um circulo, etc.| ‘Vamos agora tomar uma nova consideracao ~ para a observagao das formas de conhecimento, ‘Todos 08 ito blocos de construgao do quarto dom, to- mados coletivamente, assemelham-se ao cubo do tercei- ro dom; por isso suas partes (como podem ser vistas num primeiro relance) so soparadas em partes iguais e pro- 92, Sr ee Deine eitad tyr muerte — ae em dois bancos iguais (Plate VII, Fig. 14),e0 USinaspaserte te. memati aren Ce an eo ue seo ata gui ade oer a irish Sra ene ete setae nt es mere seiepnamnmcnte i erro maiden roan om ern como Scouyaen ti tance reac eles fee ota Spm aca aor pin Gom como. extenstode soliton score ca as Pare © "muro alto" Pato Vi, Fig.) cue pode sor pens como um "chio" quando na persis hotsench once realmente ge cloce asim dan da cienoe mee go tas fc do formas do vida para tomes oes Tento. O tratamento destas formnas jf fol mastrade, eo Geral, nos exorcise instatiner con > ere a Sato dom, entctanto, alvin a pereapsae ae eas Zostando simiaridade do tamanheo om escent de dimensio e psig. Por entmple,scomscan nae Bode or most pret como cabo sar Vea eps como um tablets (Pato VI Fig) donee oe fstsentre asropoaentagcesdossdlioceceemneeetoe Ao ao quar dom sm chanme peculie pa eer ome oxo ai no mes ger Como supertcio agora, eu mostro meu roto Ainda sempre sou o mesmo — 7 Br gorts dete jogo nt, hose som deen tn dvd om a inca 93 ‘ou como o ponteiro de um relégio ao redor de suas horas, Fazendo repidamont até quo este assuma a posigao horizontal = ‘Mas contudo cuidadosamente, Duas partes bastante igual Se eu sou alte ou baixo, Forma e tamanho iguais eu mostro. = juanto a mae ou professora do jardim de infancia a Sf ___ nto arte os tra orn te a o cas aio lr i i nan tema emt om to = ‘sao pode ser feita verticalmente ou horizontalmente, Em a most quadrade compet (Piste VIN Fig. 3,6 spon aan co eee Serena ie te VL 3 sibeer canoes commence mee Seen en = na pessoa do quadrado para crianga: “Apesar de podrom ser formas diferentes, ‘Um tamanho igual em cada nés vemos, De cima se vocé me dividi ‘As das metades leardo em pé; Que objetos idénticos om fo Se vocé me divide pelo meio, ser produzidos de diferento: Metades deitadas encontram sua vista. resi Eeisenseeeaers rma e tamanho possam 8 Maneiras também 6 ilustra- quarto dom. A atencao dacrianca Em posigdo, nfo so as mosmas; doveria ser chamada para todas estas caracteristicas de ‘Mas om tamanho elas séo as mesmas, sua brincadeira como fatos perceptiveis, e nada deveria Cada uma é como a outra motade. ‘ser pasado indiferentemente. So alguém desoja agora representar de forma mais Cologue metade ao lado de metade, contundente para a crianga que o tamanho ea forma per- Ele mostra um quadrado completo (Plate VII, Fig. 2, 5) manecem os mesmos em posicées diferentes, colocam-se Coloque metade diante de metade, ‘as metades com os seus lados largos uns sobre os outros, ‘Uma forma quadrada ainda encontramos (Plate VII, : dobrando sua altura, agora lado a lado, assim dobrando Fig. 3,6) ‘seu comprimento. Em ambos os casos a aga é interprota- Ainda feito de manciras diferentes, 6 claro que Ga pela cangao. ‘tamanho e a forma parecem igual, Coloque uma metade sobre uma metade, ‘Uma nova variagéo destes exercicios pode ser feita divi- Deite uma metade ao lado de uma metade (Plate VIII, Gindo o prisma quadrado em duas metades iguais e dando Fig. 8), uma uma posigéo vertical, ca outra, uma posigao horizon. ‘Uma forma longa esta deve ser; tal. As duas entéo podem ser comparadas uma a outra, Contudo forma e tamanho iguais se mostram em cada ‘posigo, como nés conhecemos. Agora eu the darei algo novo, Algo que vooé gostara de fazer: Oretngulo em pé pode também ser virado por graus Duas vezes 0 comprimento e metade da largura no plano horizontal, como se fosse ao redor de seu meio, (late ViIL Fig. 3). Motade do comprimonto e duas vezes a largura ‘ate VIII, Fig. 2) CO mumo tamanno tem os dois (Plate Vil, Fig. 6,8) Deetaropresntagodo todo como um ablete quad: do, dathncn dasa eons cfrontoa,e,das eontes Seatinegeer oasis dotes motadea’sordente so Rate des oreo urn nmro mute wale oes do Sitectnonn esse antocoon, Op Paton indian sean dain moewam crn verte do fomas moat Sequeinicada no tons ona osigand dom otros edo mencionades As sugsstossquleadasbactampara. encarta a erase conhecinento ako adapta Paar anges dotrése quate anes Goldnde, que let Betamncadches que ste copotineas oliver 0 rage oo nslecto- Conese do quel apononts. Satu sropecentedo palopropiotablete,emms se des. then ola doo da bance nai ee ee sr ee oa eee erase eS cmos ropes das a vida, mente e espfrito das criangas de trés e quatro oe i bene nc ees See eee een ee Se Tee ee ast ne amon doin oe eee meen = Sree aca te oe Voltemo-nos agora para a consideragao das formas de beleza, ou formas de figura, ou, como podem ser cha. mados num senso figurativo, formas harmoniosas; ¢ tal. vez este nome possa também ter seu efeito bom, desde que seja cortamente reconhecido que a verdadeira com. Preenséo de um objeto procede especialmente de sua li- ago com seu oposto; assim, neste caso, da ligagao do Visivel e do audivel, da quistude e do movimento. 4, como as chamamos, formas harmoniosas) émais adequa, damente efetuada através das formas de conhecimento, Eu considero muito importante reter esta transigao em geral, © mais especialmente, na vida e na brincadeira com as criangas ainda bastante pequenas, ‘Se, por exemplo, os quatro dons nas Fig. 1 ou 6, Plate VIII, séo separados uns dos outros, como na Fig, 4, eles aparecem, em um certo ponto de vista, jd como uma forma de beleza, desde que, como as partes aparecem mais ma- nifestamente como membros de um todo, entao também o melo e a unidade para os quais eles se referem em comumn ‘se tornam mais proeminentes. Agora, se cada um destes quatro membros é virado na posicao oposta, para que 0 canto de cada quadirado ou membro venhaa ficar onde seu lado estava antes, e assim aparece como um quadrado posto, @ os cantos se tocam ao mesmo tempo, 6 total se. toma ainda mais definitivamente uma forma dé beleza. Se, agora, cada um destes quatro membros forem se- Parados em dois, e ainda os quatro membros em vito, © eles entrarom, desta forma, numa roferéncia simétrica ara 0 invisivel mas mesmo assim determinante meio, a unidade a beleza interna do todo se fazem ainda mais Proeminentes (compare Plate IX, Fig. 1, 2, 3). Mas isto, no vamente, condiciona uma variedade dupla: ou os lados largos sao virados para o meio (Fig. 1a, 2a, 3a), ou para as: Superficies (Fig. 1b, 2b, 3b). No iltimo caso, a forma pare. 8 irradiar; no caso anterior, circular ou fechada, 7

You might also like