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2/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obissance est morte HAL FOSTER (Extensa andalise de toda a sua obra até hoje publicada) Setembro 15,2015 tw Uncategorized Arte e Critica em Estado de Emergéncia, HAL FOSTER & CVTOC (CVidal) Esto: ejeitar todas as definicées do conceito e pritica da vanguarda e, ao mesmo tempo, reutilizd-lo como 0 conceito do e para a presente situacdo de emergéncia!! ANOS 80 hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal a5 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoje pubicada) | L‘obissance est morte = RECODINGS Art, Spectacle, Cultural Potitics HAL FOSTER hitps:/obeissancemort. wordpress, con)2015/09/15ihal-fostr-extensa-analise-de-tode-a-sua-obra-ate-noj-pubicadal 2/10/2017 HAL FOSTER (Extensa analise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obdissance morte flitr off a fre 7 reeTr 11 Poet, Against Pluralism Ait exists today in « state of pluralism: 50 9 art is dominant and no critical postion is orthodox. Yet that it does not promote antago begin out of a discontent with this status quos: art and criticism tend to be dispe! ‘Mesmo quando Hal Foster, ao longo da década de 80 que o revelou, acompanhando artistas ento passiveis de serem considerados criticos (isto é, autores que intentavam analisar a paisagem da era da reprodutibilidade pré-cibermundializada e suas instancias dominadoras, através do cartaz, Guerrilla Girls, ou da fotografia, Richard Prince, nada de sofisticado, portanto), prolongando eu os citados anteriormente com Cindy Sherman, James Casebere, Matt Mullican ou Louise Lawler (uma getagio muito marcada por Guy Debord), mesmo quando Foster se embrenhava nessa década em ue firmou o seu nome e se movia no movedigo terreno da pés-modernidade (como Fredric Jameson}, buscava ai Foster, inspirado no situacionismo, no estruturalismo ou no desconstrutivismo, um criticismo progressista, ou seja,intentava colocar-se de um dos lados do mundo e barricada pés- moderna que no aceitava como amélgama, Via ento no pés-modernismo uma oportunidade de critica social e encontrava ferramentas teéricas para recusar o dogma do “pluralismo”, antes como agora em moda e ritmo neoliberal, “pluralismo" que sempre foi um dlibi para o ndo-pensamento e uma forma de, aliés, novo totalitarismo (unindo Foster a Marcuse e tornando este precursor de autores como Zizek ou Badiou) ‘Se o mundo herdado de Thatcher, Reagan e Pinochet fora insuportavelmente abjecto, havia também ‘a0 mesmo tempo que revisitar todos os dogmas de “maravilhamento” do século XX e mostrar-the a face oculta e inversa (escovando-o a contrapelo, diria Benjamin noutro context). Fé-lo Foster jé num livro de maturidade sobre o surrealismo e André Breton: “Compulsive Beauty’, 1993. ‘SURREALISMOS Tratou-se af de uma notével investigacio sobre a natureza psicopatolégica e a deriva para a pulsao de ‘morte no seio do movimento surrealista (algo que o seu “criador”, André Breton, sempre se encarregou de refutar, opondo, como se sabe, o amor ea liberdade “admiréveis” & “vida sérdida’, fugindo de vozes como as de Artaud e Bataille}; seguidamente o ensaista, digamos, regressa 8 arte actual (anos 90) e ao seu tema e produz um liv imprescindivel: “The Return of the Real: The Avant- Garde at the end of the century’ saido no The MIT Press em 1996. E um tivro estruturalmente distinto, sobretudo na sua génese, mas de objectivos aproximaveis a “Recodings: Art, Spectacle, Cultural Politics’, datado de 1985, e com o qual “The Return...” pode formar um “par” — um estaré para a década de 80 como o outro para a de 90, sendo este ainda e hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 35 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoje pubicada) | L‘obissance est morte sempre uma excelente introdugao a arte dos nossos dias nas suas dindmicas contraditérias (como em todas as épocas, mas Foster nunca temeu dilucidar este facto e estudé-lo para fazer escolhas). VANGUARDAS Em “Recodings ...” Foster, entdo professor de Histéria da Arte e de Literatura Comparada na Universidade de Cornell, reuniu ensaios previamente publicados entre 1982 e 1985, em “Artin America’, “New German Critique” e, inevitavelmente, “OCTOBER®, a publicacdo teérica de que integra onticleo duro com Rosalind Krauss, Annette Michelson, Buchloh e Yve-Alain Bois. Nestes estudos assumiu estrategicamente a vocacio e a distanciag3o critica do pensamento pés-estruturalista (como Craig Owens, Douglas Crimp e Rosalind Krauss, entre muitos outros), tendo por finalidade questionar € rejeitar 0 retorno da representagio na arte desse periodo e, acima de tudo, a forma como tal se processou. (Repito, a forma como tal se processou.) Genericamente, sob 0 modo leviano (Kiefer & disso um exemplo) de uma associago entre o “regresso 8 pintura’,o “regresso 8 figurac3o” (que, num outro ensaio fulminante, Benjamin Buchloh aliaria a0 regresso dos processos sociais totalitarios, ligaglo testemunhada ao longo deste século desde o fascismo italiano ao recente “reaganismo") e uma expanso mercantilsta — caracterizadora dum pé modernismo predominantemente conservador (moral, politica e economicamente) -, antevista nos interesses das novas instituigées museolégicas e numa regenera¢o do mercado que desvalorizava a vanguarda tornando-a sindnimo de mercantilizagao (tema da obra de Warhol, que no entanto e cirurgicamente 0 tratou como “tragédia’,“Luto”, contra a via celebratéria de Jeff Koons ou Matthew Barney) REPRESENTACAO Para Foster, como para Craig Owens (falecido em 1990) nesse momento, mais que recusar a narratividade histérica e a representacao, interessava valorizar a anélise dos processos representacionais, compreendendo o que levava & exclusdo de uns e & estimulagao de outros. Partindo de Theodor Adorno, Foster afirmava ser necessério, por oposi¢o & irracionalidade do hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 4s 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoje pubicada) | L‘obissance est morte capitalismo tardio que tudo pretendia absorver e anular (homologando as chamadas “diferencas”), propor contramodelos fazendo face & depressdo causada pela queda (aparente) das narrativas politicas tradicionais (concretamente, o marxismo}. No campo da critica, em particular, constatava-se que os seus dois pilares basicos até ento se encontravam esgotados. Isto &, tinhamos um criticismo, na linha do pensamento lluminista, que separava a pratica e o conhecimento em duas esferas auténomas e, por outro lado, uma actividade critica fundada no paradigma burgués do espaco publico, da “livre expresso” e da “livre iniciativa’. 0 desvio de Foster, nas suas renovadas teorizacées ena sua pratica (enquanto critico de arte), fundou- se em premissas pertinentes. Anteviu que a critica de estilo iluminista no conseguia libertar-se das discusses mais ou menos autistas em torno do “belo” e do “gosto”, e que o paradigma da chamada “livre iniciativa” se perflava segundo interesses mercantilistas, legitimando (pseudo)teoricamente uma determinada “base financeira” ea “garantia da propriedade” como que para a eternidade. O retrato desse periodo histérico era assim esbocado por Foster: “Presentemente (..) podemos distinguir pelo menos duas posicées sobre o pés-modernismo: uma associada as politicas neoconservadoras, a outre relacionada com a teoria pés-estruturalista. Das duas, 0 pés- ‘modernismo neoconservador a mais conhecida: definido essencialmente em termos de estilo, depende do modernismo, que, reduzido a sua imagem mais formalista, é confrontado com um regresso & narrativa, ao ornamento e figura. (...) esta posigao & de reaccdo, mas em mais aspectos que o estilistico— também defendido é 0 regresso & histéria, 8 tradigo humanista e o regresso a0 sujeito”, Por contraposico, o pés-modernismo denominado de pés-estruturalista, na senda das batalhas teéricas de Barthes, Foucault, Derrida ou Althusser, ia definindo a “morte do homem” (ou seja, a sua anulagao como sujeito da representacdo e sujeito egoista da histéria), ou a “morte do autor’, deixando ao artista um espaco de analitica microl6gica, cirtirgica, sobre as formas tradicionais de exercicio do poder e da representacéo. Um novo conjunto de responsabilidades. Tudo isto marcariao livro de Hal Foster sobre o surrealismo e as vanguardas histéricas. Referente & reavaliagdo do surrealismo, como se disse, pela via da exaltagdo da sua “obscuridade” Partindo de Breton, que escreveu em ‘Nadia’, “La beauté sera CONVULSIVE ou ne sera pas", Foster aparta-se do “fundador” (e da presenca exclusiva do “amor admirdvel"), convocando pensadores como Jacques Lacan, Bataille, Michel Leiris, Roger Cailloise, last but not least, Marcel Duchamp. O Livro legitima-se, por assim dizer, tomando as andlises do presente como ponto de partida para um recuo predeterminado. Isto 6, constata-se que se o minimalismo e o conceptualismo, nos anos 60 € 70, encontraram matrizes operativas em movimentos como 0 dadaismo e 0 construtivismo (sobretudo neste ditimo), as estéticas surgidas nos anos 80 — enquanto eriticas das imagens medidticas institucionais, dotadas de uma correlativa construcao das identidades, bem como de novos espagos de reclamagio da sua especficidade (os movimentos gay e feministas) — encontrariam raizes num surrealismo por desvelar e quase sempre recalcado por uma falsa determinacio modemista, Num surrealismo que, apesar do seu heterossexismo (veja-se Breton), ntroduziu a sexualidade nas artes visuais ¢ 0 inconsciente na vida quotidiana. Em concluso, 0 surrealismo foi precursor do pés- ‘modernismo através de uma peculiar contramodernidade — bastante clara no conflito que oporia André Breton a Georges Bataille. Por seu turno, em “The Return of the Real...”, analisando a evolucdo dos éltimos 30 anos (de 70 a 90), Foster propie trés paradigmas interpretativos. Se, perante a natureza fenomenolégica (e assexuada, como diré Buchioh) do minimalismo e do conceptualismo a arte se apresentou como “texto” (se aceitarmos a restrigio da arte conceptual a um trabalho de defini¢do da arte por via linguistica), nos anos 80, como vimos, a arte relacionar-se-ia com toda uma pandplia de simulacros, realizando a critica desconstrutiva da representacdo medistica e de suas modalidades de dominio (economicamente liberais, sociologicamente morais e conservadoras ao ponto de um exercicio intolerdvel de censura, bem conhecido ¢ iniciado depois da morte de Mapplethorpe). REGRESSO DO REAL hitps:/obeissancomorte,wordpress,con2015109/15ihal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 55 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obissance est morte Por fim, nos anos 90, o paradigma da arte seria, para Foster, 0 “retorno do reat’, através de uma estética do corpo embrenhada nos fenémenos socials. Desligada desta feita da mediatizago e do simulacro. Num segundo plano do seu livro, Foster revalida o conceito e o papel das vanguardas, desde as vanguardas histéricas até &s neovanguardas, propondo uma nova sintese dos eixos temporais dominantes na arte deste século. Opondo-se ao filésofo Peter Burger (0 qual, no conhecido “Theorie der Avantgarde", de 1974, negaria as potencialidades das neovanguardas dos anos 60 / 70, por consideré-las repetitivas em relado 8s vanguardas histéricas, transformando assim a anti-arte em artisticidade e a transgressividade em institucionalizagao), que considerou como ainda dependente de um pensamento mitico que procura a “pureza” de um “momento original” (neste caso, as neovanguardas, fracassadas em Birger), Hal Foster viria agora propor duas criticas essencias a este e a qualquer outro pensamento mitico- origindrio (que desejava uma “vanguarda pura” nunca existente): uma fundada na noco de paralaxe, otra na de accio diferida; a primeira diz-nos que a nossa construgao do passado depende da nossa posicdo no presente, e, consequente e sucessivamente, esta é redefinida por essa construgo do pasado, numa miitua mutabilidade intermindvel. A segunda nocdo de Foster, estabelecida depois de Freud e Lacan, reporta-se ao facto de que um evento tem um registo traumético quando é retomado retroactivamente: ou seja, 0s chamados actos de ruptura ou fundacionais (para Burger, como vimos, as vanguardas histéricas), apenas s8o-no quando retomados numa segunda vez, ou seja, apenas podemos dizer que algo aconteceu quando acontece duas vezes. Por exemplo, nos anos 60, Robert Morris é um dos mais importantes artistas a reler Duchamp — assim, Duchamp s6 é hoje Duchamp porque existiu nos anos 60 ou 70 artistas como Morris que historicizaram (termo caro a Michel Fried) o seu processo “fundacional’ catalogando semiologicamente as possibilidades do ready made. © mesmo para todos os outros artistas fundadores da modernidade, como Picasso, por exemplo, o qual quando trabalhava nas "Demoiselles d’Avignon” no poderia, no exacto instante em que a realizava, perceber (ainda que o pudesse anteve) a dimensio de um processo de historicizago que cunharia essa tela como algo de fundador, porque obviamente a historicizagéo é um deslizamento temporal de décadas e nao um passe de magica processado num instante de segundos ou breves minutos. Por isso, para o ensaista a vanguarda é um conceito do passado (!!) que regressa sempre a partir do futuro. Escreve, a este propésito:“Actualmente, é crucial a relagio entre as transformagées dos modelos criticos ¢ 0s retornos das praticas hist6ricas (...J: como é que uma re-ligagdo com uma pratica do passado se pode tornar a base de uma des-conexio de uma prética presente e / ou um desenvolvimento de uma outra, nova?” Concluindo, desde os anos 60 que a arte retoma determinados processos das vanguardas histéricas do inicio do século Xx (como a andlise construtivista do objecto, a fotomontagem — matriz de um novo conceito de imagem -, ou a critica museolégica do “readymade”) para os seus fins contemporsneos. DESIGN E CRIME Para que esta revisdo e reabilitacdo (que pode ser apenas uma necesséria visita, como opera cicticamente a histéria da arte) das préticas das vanguardas nao fique esvaziada e sem exemplos, Foster vai seguidamente exemplificar 0 seu programa de trabalho (que podemos chamar de “critico”) mostrando os servicaise espectaculares caminhos, estruturadores do mats fandticolibralismo, que tomaram duas artes ou duas disciplinas artisticas: o design e a arquitectura. Nas obras, “Design and Crime (And Other Diatribes)” (2002) e “The Art-Architecture Complex” (2011). Analisemos atentamente o primeiro destes trabalhos. Em “Design and Crime”, Foster comeca por um tema que nos remete para o universo acutilante © impiedoso de Karl Kraus (um dos protagonistas de “Design and Crime”). Pensemos nesta questo & maneira de Kraus: qual é a causa do amolecimento cerebral contemporéneo, ea quem serve? Foster, peremptério: 6a transformacao da ética de vida (Nietzsche, Foucault) num mero décor; é0 design global: a cada individuo 6, a0 mesmo tempo, “designer” e “designed”. A manipulagao pelo design é total: da casa (design de decoracdo) ao rosto (cirurgia pléstica), da personalidade (drugs design) a0 DNA (children design), de um candidato presidencial ganhador & Young British Art (nos livros-objectos hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal ens zanoo17 HAL FOSTER (Extensa andlse de toda a sua obra até hoje publicada) | L‘obéissance est morte de Bruce Mau, por exemplo), pasando pela meméria histérica (museum design), arquitectura- espectaculo de Frank Gehry (“this designer of metallic museums and curvy halls") € teoria- espectaculo de Rem Koolhaas (ver Caps. 3e4). Neste sentido nem é preciso ser-se muito rico para se aceder 20 mundo do design global e & transformacio da cultura comercial numa nova fonte de “status: tudo é acessivel jd na provincia, desde a marca Sacks 8 revista “The New Yorker”, eninguém precisa de ira Manhattan (comentando aqui Foster as ideias de um critico desse magazine, John Seabrook no livro “The Culture of Marketing, The Marketing of Culture”) Hoje no é toda a cultura de massas que sai vencedora, 6 sobretudo o abaixamento do género “crianga de elite”, Este “apenas” é muito: & a vulgarizagao do “valor médio” (que no é mais distintivo: para os defensores de uma cultura sem hierarquia [“nobrow culture”] jé ndo hé mais intelectuais) obrigado a concorrer com tudo o resto na megastore, esse lugar mitico onde qualquer coisa se vende até mesmo a fantasia de que as divisées de classe jé foram suspensas. f um mundo de “qualidades ssem pessoas” (que Foster citaré com Robert Musil) que se abre. Em “Design and Crime” (titulo do Capitulo 2 do livro}, Foster & certeiro: 0 nosso fim de século XX foi similar a0 fim do anterior, quando o “Art Nouveau” pretendia-exigia aplicar a tudo 0 mesmo motivo floral - da arquitectura aos cinzeiros, tratando objectos como mini-sujeitos. Os cegos de hoje so os ue nao querem perceber como é que essse “estilo” rapidamente passou de obsoleto a Camp e Kitsch, e que é essa menoridade que preside ao nosso descomprometido (cultural e politicamente) total design, ao “Style 2000” e & estética do “poor little rich man” do “dot.capitalismo” Para esta andlise, Foster toma como referéncia o conhecido texto de Adolf Loos, “Ornamento e Crime", de 1908, para que percebamos como é que os objectos constroem a individualidade e identidade dos seus proprietérios. Loos atacava um certo tipo de comprador de “Art Nouveau” que pretendia que “se colocasse arte em cada detalhe de um objecto"; vale a pena ler de novo Adolf Loos, aqui recordado: “Cada sala formava uma sinfonia de cores, completa nela mesma, Paredes, cobertura de paredes, mobilidrio e todos os materiais eram concebidos para se harmonizarem da maneira mais artistica possivel. Cada artigo de cada membro da familia tinha de ter na casa o seu lugar especifico e integrar-se na mais maravilhosa das combinagdes. 0 arquitecto nao se podia esquecer de nada, absolutamente nada. Cinzeiros, cutelaria,interruptores - tudo, tudo era feito por ele”; para que a “individualidade do proprietério se manifestasse em cada ornamento, em cada forma, em cada prego” Tarefa que é hoje cumprida pelo chamado “objecto de design”. Para o designer “Art Nouveau” esta perfeicéo - pensar a conjugacdo do movimento de uma absbada com a cor de um prego- ere a maxima completude. Do “Art Nouveau” § Bauhaus, das teses sobre a indistria cultural de Adorno & sociedade do espectéculo de Guy Debord, dos anos 20 da rédio, cinema e da reproduco — que Debord tomou ome inicio da sociedade do especticulo -, da era da imagem no pés-guerra (dissecada por Andy Warhol) 20 “dot.capitalismo” do momento, Hal Foster analisa um tempo em que a economia pés- fordista de producdo de bens ligada a mercados demarcados (‘constantly niched”) gerou uma total desregulagio do capitalismo: agora, design, marketing e espectaculo substituem-se a producao. € no apenas se substituem 8 produco: si a Unica produgdo existente (que jd no distingue objectos eideologias) Creio que podemos ver nesta deniincia do total design e da sua penetraco em todas as esferas da Vida social eartstica, a continuacdo de algo que nos anos 80 ocupou Foster: a critica do pluralismo, essa disfarcada preparacdo para a aceitacdo da arte-mercadoria, da arquitectura e teoria~ espectaculo. Um dos ensaios de “Recodings” (1985) intitulava-se “Against pluralism’. Af denunciava- se pluralismo como posi¢o-alibi, a0 mesmo tempo um esvaziamento das argumentacées ea preservacao do status quo politico, do gosto e da critica, indefinidamente. Em suma, este “Design and Crime” & importante pelo seu diagnéstico, abrindo 0 que eu vejo como uma quarta via no pensamento do autor. Vejamos outras vias menciondveis na trajectéria de Foster (e o actual “Bad New Days: Art, Criticism, Emergency’, 2015, retrospectiva tudo isso}: 1) a defesa (em “Recodings” nos anos 80) de um pés- modernismo pés-estruturalista por oposi¢o a um pés-modernismo conservador, este ligado a0 estilo, narrativa operética, ao ornamento es politicas de Reagan e Theatcher. 2) ligacdo entre um “retorno do real” e um “retorno do medium”. Se entendermos por medium um simples “corpo” (humano, fotografico, pictérico, etc) valeré a pena relembrar uma entrevista (com Ruben Gallo), onde Foster faz autocritica: “A arte contempordnea afastou-se do modo de ver 0 mundo da minha geragio hitps:/obeissancomorte, wordpress, con2015109/15/hal-foster-extensa-analse-de-toda-a-sua-obra-ate-hoje-publcadal 718 zanoo17 HAL FOSTER (Extensa andlse de toda a sua obra até hoje publicada) | L‘obéissance est morte de artistas e criticos, no qual, para o dizer cruamente, tudo parecia ser ura imagem, um efeito de representagio. Anogio baudrillardiana de simulacro impregnou muito do trabalho dessa época. Mas 2a geracdo posterior, a que esté hoje activa, tem uma ideia diferente do real. “O retorno do corpo” é um cliché, mas, como alguns outros clichés, tem em si alguma verdade. O corpo reafirmou a sua pretensio de que no pode ser elidido pela representacio, de que néo desaparecerd no ciberespaco”. 3) por fim, relacionado com o tépico anterior, Hal Foster, embora ndo como Harold Bloom, vai considerar que uma obra conseguida do presente desenvolve aspectos pertinentes de uma obra do passado, Sem referéncias causais, pois as relagdes de Foster trabalham uma releitura do conceito de vanguarda, complexificado e reversivel. Uma alusio final ao importante Capitulo 7 deste “Design and Crime’, “Art Critics in Extremis", uma reflexdio sobre a critica de arte americana desde o pés-guerra 8 actualidade. Recordando Clement Greenberg, as relacdes complexas entre este e Michael Fried, Rosalind Krauss, Barbara Rose, Harold Rosenberg ou Annette Michelson, Foster vai concluir que no hé boa critica sem conflitualidade dramética - algo que é estranho a um tempo, 0 nosso tempo, em que nesta espécie de luto do chamado “formalismo greenberguiano” se gera a larga passada pare o dominio dos dealers e “comissérios a-citicos”, Dai que a actual expansdo seja antes uma contracco, nas palavras de Theodor Adomo, oportunamente recordadas por Hal Foster. Secundando e seguindo estes pontos de vista, a arquitectura, hoje po mais eficaz instrumento de “identidade” das “big corporations”. Tem a ser um mero enfeite da nova ordem mundial social- espectacular. Segundo Foster existe hoje uma arte-arquitectura “connection” que ¢ fruto de interaccdes, nos AGltimos 50 anos, raramente movidos por motivagdes estéticas, Ora esta arte-arquitectura “connection” destina-se 20 retrato de governos e “big corporations” que, deste modo, adquirem a sua identidade e identificac3o num mundo global de negécios planetérios. Para Foster, justamente, & sempre de negécios que se trata mesmo quando esta “connection” entra no dominio da cultura, ou melhor, no mundo das indtstrias do entretenimento entretecido com a cultura, onde até as cidades operdrias so destinos chiques de turismo cultural. Neste livro, aideia de Foster & a de que arquitectos como Zaha Hadid, Diller Scofidio ou Jacques Herzog viram-se para a arte com uma viso “artistcista” para precisamente reanimarem a arquitectura e seu vocabulério, aparentemente exausto depois da querela modermo/pés-moderno. Esta “artisticidade” segue-se 8 arquitectura da geracio de Richard Rodgers e Norman Foster, ou Renzo Piano, que reeditaram o international style de Gropius e Mies van der Rohe nos sue t6picos: pragmatismo, utopia e ideologia. O design foi buscar vocabulério ao minimalismo (Judd) e a arquitectura 3 arte: por exemplo, Hadid ao construtivismo russo, Scofidio ao conceptualismo e a0 feminismo, etc, Sao arquitectos dotados, sim, mas de uma habilidade imagistica contra tépicos como 0 de “programa”, “funcdo” e “estrutura” Assim, a arquitectura é hoje imagem-evento, edificio- escultura e performativa, EMERGENCIA Ora depois desta desmititicagao do design e da arquitectura, que hoje vivem do cadaver de Gropius, por exemplo, assim colocadas num exo “globaliza¢o-big corporations-Dubai-Zaha Hadid” (e atengio que as pinturas desta autora so pouco mais do que miserdveis, apesar da sua arquitectura servir muito bem os seus propésitos ideolégicos como Speer servia Hitler), Foster, nestes desastrados, dias em que vivemnos, “regressa” vanguarda (por si totalmente redefinida e sem clichés), propondo- nos o seguinte: a vanguarda no é uma ruptura nem a instituigo de uma nova ordem. Cabe-Ihe antes abrir fracturas j existentes na ordem presente e aprofunds-tas. ‘Como? (E logo por aqui se percebe que Foster conhece, na raiz ena utopia, os caminhos das vanguardas desde os infcios:) na sequéncia do “arquivismo” fotogréfico de Rodchenko, das fotomontagens de John Heartfield e das colagens de Hannah Hach, Foster vé hoje o mesmo impulso arquivistico em obras como as de Hirschhorn, Joachim Koestler, Bartana, Jeremy Deller, Stan Douglas ou no Otolith Group. ‘Vejamos de perto este tema do “arquivo”. Como nos relembre Derrida (“Mal d’archive"), hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal ans zanoo17 HAL FOSTER (Extensa andlse de ta a sua obra alé hoje puicada) | obsissance est morte etimologicamente, o arquivo leva-nos & origem e ainda a possibilidade de seleccionar (exercer poder, portanto}, movido por urna pulsio de morte (o “arconte” guarda e selecciona, temos também o “arquivo morto”, €o fracasso de tudo conseguir guardar e abarcar so inerentes ao arquivo}. Isto significa que os temas da origem, seleccSo, classificagio e pulso de morte, so inerentes 8 arte actual. 550 6 testemunhado em obras de Tacita Dean ou, de novo, Thomas Hirschhorn, este com os seus “monumentos” dedicados a Deleuze, Ingeborg Bachman ou Bataille, que so uma infinita revitalizacao da histéria e do pensamento (e sempre no espaco piiblico). Tacita Dean, em “Bubble House” ou “Sound Mirrors” busca um pasado quase perdido e irrecuperdvel que nos faz pensar no presente e, claro, nos dias préximos, Exactamente como nos livros de Sebald, somos “fantasmas de repeticdo” num mundo devastado. E, paradoxal ou estranhamente, um dos grandes méritos destas obras reside no facto de nos “avisarem’ de que a meméria pouco ou nada pode fazer por nés. Estamos sempre em solidao e, desorientados, temos de agir e movermo-nos. Movermo-nos neste “junke-space” do capitalismo. Bem alicercado (Capitulo V) no trabalho de pensadores como Bruno Latour, Ranciére ou Giorgio ‘Agamben, Hal Foster, inteligentemente, vai-nos dando as suas préprias respostas. hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal ons 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obissance est morte Hal Foster hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 0115 2/10/2017 Anincios Land Rover Discovery 3.500 € HAL FOSTER (Extensa analise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obdissance > Mercedes-Benz $ 320 6.990 € Partilhe: @e fwt PP & + coma ID) 2 bloggers ike this. Relacionado 0 QUE SIGNIFICA MUDAR DE SECULO EM ARTE? Quanto tempo "demora"? 0 que significa "1901" e "2001"? Nada. (E porque morreram as vanguardas e regressamos as “espiritualidades"?) Vejamos: in “declinios" Quando a critica & dominagio masculina esbarra na firewall do fascismo neoliberal Com 1 comentério morte Amisica dos anos 80 € 0 eclipse das formas cléssicas do movimento operério Com 1 comentatic, hitps:/obeissancemorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 5 2/10/2017 HAL FOSTER (Extensa analise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obsissance morte About CVTOC (CVidal) Artista, ritico, professor View all posts by CVTOC (CVidal) -» hitps:/obeissancomorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 126 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoja pubicada) | L‘obissance est morte hitps:/obeissancomorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 1315 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoje pubicada) | L‘obissance est morte hitps:/obeissancomorte,wordpress,con2015109/15ihal-fostr-extonsa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal sats 29/10/2017 HAL FOSTER (Extensa andlise de toda a sua obra até hoje pubicada) | L‘obissance est morte hitps:/obeissancomorte,wordpress,con2015109/15/hal-fostr-extensa-analse-de-toda-a-sua-obre-ate-hoje-publcadal 165

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