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Fabiano Maranhao Vanessa Mantovani Bedani Benedita da Guia Ferreira Mendes UNIDADE 3 Agoes no cotidiano escolar 3.1 Primeiras palavras ‘As Unidades 1 © 2 deram-nos fundamentagdes, exemplos, histéricos ¢ ‘conceitos com 0 objetivo de que compreendamos como as agées cotidianas na escola e fora dela s4o permeadas pelas representagées estereotipadas e pelos preconceitos que geram discriminagées, racismo e, consequentemente, exclusdes, Vimos que essas representagSes so construidas historicamente & reproduzidas na sociedade brasileira, e estao presentes no espago escolar. A proposta desta Unidade 3 6 mostrar que é possivel criar caminhos alternativos partir da construgao de outras pedagogias quem nao apenas abarquem, mas valorizem e respeitem as diferentes raizes culturais brasileiras. 3.2 Problematizando o tema Como é possivel desenvolver ages cotidianas que promovam a valoriza- ‘980 da diversidade cultural para uma educagao das relagées étnico-raciais no ambiente escolar? Pesquisadores da tematica das relacdes étnico-raciais vém desenvolven- do estudos que nos trazem diferentes diagnésticos dessas relagdes no espago da escola. Parte dessas pesquisas aponta que a escola sempre foi um espago no qual circulam diversas formas de preconceito, razéo pela qual séo também diversificadas, As pesquisas dizem respeito, por exemplo, & falta de preparo de profissionais da educagao, as representagdes equivocadas de negros e indige- nas nos materiais didéticos em geral, e nos livros, em particular. No que se refere a questo indigena, em particular, ha pouco conhecimen- to sobre os grupos indigenas: suas especificidades linguistico-culturais, os mo- vimentos por eles organizados, que se articulam na perspectiva de empreender um ensino em que as culturas indigenas e nao indigenas possam se relacionar no espago escolar. A partir da atuago dos movimentos negros e indigenas, as propostas no Ambito do ensino tornaram-se realidade, sobretudo quando verificamos as mudangas curriculares que ocorreram com a insergao dessas tematicas no en- sino, No entanto, a formagao ainda restrita e o desconhecimento sobre essas tematicas dificultam ages efetivas de sua insergao no contexto da sala de aula. Em outras palavras, é necessério e urgente que o(a) professor(a) tenha todas as condigées para outro aprendizado: estar atento as diferentes visdes de mundo que compéem os universos escolares, responsdveis também pelas dife- rengas individuais no processo de aprendizagem. 57 58 3.3 AgGes e 0 cotidiano da escola As agdes cotidianas na escola estdo relacionadas com diversos fatores do ambiente escolar e da sociedade brasileira como um todo. Entre os principais fatores ¢ possivel identificar ages que podemos empreender no Projeto Poli- tico Pedagégico, nos Planos de Ensino, na formago e orientagdo de trabalho dos professores, funcionérios, coordenadores pedaggicos e diretores e nas reunides com maes, pais e responsaveis. Isto 6, as agdes cotidianas no interior da escola envolvem todos os setores responsaveis pelo seu funcionamento e 0 contexto cultural, social, politico e econémico no qual a escola se insere. Estudos feitos por Cavalleiro (2000) registram que a dificuldade de se tra- balhar com as relages étnico-raciais na escola gera no(a) professor(a) a ilusdo de que ignorar 6 a melhor saida, A tendéncia de se minimizar conflitos étnicos surge como uma opgao, com 0 pseudo-objetivo de que o problema desaparega do cotidiano escolar e de que sua vitima dele se esquega. Contudo, segundo a autora, quando agimos dessa maneira, permitimos que se perpetuem praticas reprodutoras de preconceitos e de racismo, Como se fosse um conto de fadas que, no final, sempre acaba bem. E nesse sentido que apresentamos a importancia dos jogos e brincadeiras na diversidade, pois acreditamos que tals instrumentos so forgas motoras para estimular, contemplar e respeitar a diversidade no cotidiano escolar, recuperan- do e valorizando ensinamentos e legados de nossos antepassados africanos indigenas, e que, aos poucos, foram sendo esquecidos ou recriados. 3.3.1 Jogos e brincadeiras (0 Jogo 6 uma manifestacao to antiga quanto o proprio Homem. A humanida- de sempre jogou, ¢ uma anélise cuidadosa permite constatar que séo muitas ‘as fung6es do Jogo que Ihe atribuem um estatuto privilegiado nos actos de preparacao para a vida (PRISTA, TEMBE & EDMUNDO, 1992, p. 5). 3.3.1.1 Conceito de jogo © conceito de jogo é pautado em um fendmeno universal, no entanto sua Universalidade ¢ to verdadeira quanto a especificidade que ihe conferida pela sua pratica conereta num meio proprio (PRISTA, TEMBE & EDMUNDO, 1992). Isso quer dizer que, para estudarmos os jogos africanos, por exemplo, devemios consi- deré-os, por um lado, como comportamento comum de toda humanidade e, por outro, como atividades realizadas em condigées determinadas pela cultura, cima, espago geografico e sittiagao politica, isso dentro e fora do continente africano, 3.3.1.2 Referéncia africana Qs jogos, para os africanos, sempre estiveram ligados a vida social da mesma forma que a religido, as artes e outras manifestacdes culturais da huma- nidade. O individuo vive dentro de comunidades, onde aprende e ensina dentro de uma unicidade. Entre suas varias fungées sociais, os jogos sempre foram instrumentos de ensino e aprendizado e, também, uma forma de linguagem usada para trans- missao das conquistas da sociedade em varios campos do conhecimento. Ao ensinar um jogo, os membros mais velhos de um grupo transmitiam - @ ainda transmitem — aos jovens e as criangas uma série de conhecimentos que fazem parte do patriménio cultural do grupo. Ou seja, ao ensinar um jogo, estéo ensi- nando valores, modos de vida e comportamentos préprios daquela sociedade. Por exemplo, ojogo Negagao de Imposto, recolhido em Niassi, Mogambique, retrata a realidade vivida por muitos africanos na época da colonizagao europeia, quando muitas autoridades representadas pela policia cobravam da populagao circulante impostos pela transigao nas cidades. 3.3.1.3 Jogos e brincadeiras afro-brasileiras Em relagao aos jogos e brincadeiras afro-brasileiras, fololoristas pes- quisadores do tema questionam se as criangas africanas do século XVI trazidas para o Brasil tiveram ambiente para reproduzir as brincadeiras origindrias de seus continentes, ou se assimilaram as brincadeiras vivenciadas por outras criangas aqui existentes. Para os afticanos, que foram trazidos para o Brasil, assim como para os indigenas, a cultura é vinculada com a oralidade, e dessa forma muitas das suas brincadeiras foram difundidas nas regides brasileiras por onde passaram ‘Segundo Kishimoto (2000, p.28), 0s "jogos puramente verbais talvez tenham encontrado barreiras na linguagem, dificultando 0 processo de transmissao Estudos sobre esse periodo (século XVI) constatam que era pratica co- mum misturar os africanos de diferentes grupos étnicos, com 0 intuito de impe- dir organizagées ¢ rebelides Com o passar do tempo e a nova realidade vivida pelos descendentes de africanos nascidos no Brasi muitos dos jogos foram recriados, pois sofriam influéncia reciproca da cultura africana, portuguesa e indigena 59 60 Como exemplos de jogos afro-brasileiros poderiamos listar alguns, como as cinco marias (ou pedrinhas), algumas brincadeiras de roda, brincadeiras cantadas etc, Como exemplo, segue o Jogo Guerreiro,” adaptado por Fabiano Maranho (2009), inspirado em um jogo infantil comum em sua infancia. 2 Modelo de jogo: jogo em equipe. + Participantes: no minimo cinco participantes ¢ nao existe um numero maximo (uma pessoa que coordena o jogo, e os outros se dividem em duas equipes de ntimeros iguais) + Material: giz ou uma pedra para riscar 0 chao. + Terreno de jogo: area retangular, desenhando-se um circulo no centro e varios circulos (de acordo como niimero de participantes) enfileirados de forma equidistante em lados opostos. + Disposigdo inicial: dois grupos dispéem-se frente a frente, a uma dis- tancia de 10 m entre si (a distancia pode ser maior ou menor, essa é apenas uma sugestao), com um circulo no centro, separando os dois grupos. Cada integrante no seu respectivo grupo terd um circulo que se encontra enfileirado lateralmente. + Desenvolvimento: trata-se da disputa entre duas equipes (dois grupos étnicos) para ser o sucessor do chefellider. 0 coordenador do jogo sera o lider, que é uma pessoa que possui forga, dominio e poder. Cada participante em seu grupo tera um circulo com um nuimero, ¢ os mesmos ntimeros deverdo existir na equipe contraria. O lider, localizado préximo ao ciroulo central, diré um ntimero (por exemplo, “guerreiro ntt- ), © 08 participantes que estiverem ocupando a posigao ntimero trés vao para o embate. mero © embate é a disputa por um objeto que pode ser simbolizado por um caxixi, um lengo colorido ou até mesmo uma camiseta. Os ntimeros cha- mados pelo lider deverao correr até o circulo central (onde se encontra- 4 0 objeto) e os dois terdo 0 objetivo de pegar o objeto e passar a linha de seu grupo sem ser tocado. Se o jogador conseguir passar sem ser Esse jogo fol inspirado em um jogo infantil comum na regiao de Ribeirdo Preto, Era conhecido como ‘camisa’ © seguia basicamente as mesmas regras. Mas, para tornézlo interativo,instrutivo e também para atender a Lei 10.639/2003 e 0 Parecer 03/2004 (BRASIL, 2011; 201 1c), 0 jogo, que se encontrava esquect do, foi resgatado e adaptado com a historia do Shaka Zulu, um chefefider tribal Zulu, responsavel por liderar seu grupo contra a invasdo inglesa.Sua articula- 0 e sabedoria transformaram os Zulus de uma etnia com pouca expresso territorial a um império que assombrou os designios colonials britanicos. tocado pelo outro, sua equipe marca um ponto; se ele for tocado, a ou- tra equipe marca o ponto, Sendo assim, ambos terdo que estar atentos para tomar posse do objeto sem serem tocadbos. © lider anotara os pontos das equipes, ¢ a que completar dez pontos primeiro (numero sugerido), elegera dentro do grupo o préximo lider, dando inicio novamente a brincadeira 3.3.1.4 Referéncia indigena Existem no Brasil mais de 200 etnias indigenas diferentes, sendo assim, precisamos de cautela ao adentrar esse "Brasil" tao pouco conhecido e desva- lorizado, cautela para nao cairmos no esterestipo do indio como bom selvagem. Os jogos e brincadeiras indigenas, como os jogos e brincadeiras dos africanos escravizados no Brasil, tiveram pouca atengdio, uma vez que 0 foco estava na manipulacao e dominagao desses povos. Sendo assim, o que segue s4o percepgdes gerais comuns em varios gru- pos étnicos indigenas. Cascudo (apud KISHIMOTO, 2000), ao comentar a presenca do elemento indigena nas brincadeiras dos séculos XVI e XVII, afirmou: sabe-se que 0s meninos indigenas brincavam, logo cedo, com arcos, fle- has, tacapes, propulsores; enfim, o arsenal guerreiro e/ou de caca dos pais. © divertimento natural era imitar gente grande, cagando pequenos animais, abatendo aves menores, tentando pescar. E que tais brincadeiras nao eram mero passatempo como entre os meninos brancos, mas permaneciam no limiar do trabalho ou na tarefa educativa de preparo para a vida adulta (CAS- CUDO apud KISHIMOTO, 2000, p. 62). De acordo com Kishimoto (2000), a vida da crianga transcorre sem vio- léncia. Nao ha gritos nem brigas, por isso elas séo mais confiantes. A vida em grupo estimula a cooperagdo e solidariedade ‘Segundo esse mesmo autor, 0 sentido do jogo, do brincar como conduta tipica de crianga, nao se aplica ao cotidiano das etnias indigenas: Adultos e criangas dangam, cantam, imitam animais, cultivam suas ativida- des e trabalham para sua subsisténcia. Mesmo os comportamentos descri- tos como jogos infantis nao passam de forma e de conduta de toda a tribo. As brincadeiras nao pertencem ao reduto infantil. Os adultos também brincam de peteca, de jogo de fio e imitam animais. Nao se pode falar de jogos tipi- cos de criangas indigenas, Existem jogos dos indigenas ¢ o significado de jogo é distinto de outras culturas nas quais a crianca destaca-se do mundo adulto (KISHIMOTO, 2000, p. 63), 61 62 Em alguns grupos indigenas do Alto Xingu, 0 aspecto lidico esta presente nao $6 durante os jogos e brincadeiras, mas em diferentes atividades e relagdes do cotidiano da comunidade. Para o grupo Kalapalo, por exemplo, 0 ato de brincar faz parte da vida do adulto, ¢ em todas as atividades ha a expressdo da cosmologia que da sentido a vida e justifica a cultura dessa etnia. A-esse respeito, Corréa (2007), com base em leituras de outros autores, argumenta: E interessante notar que 0s Kalapalo t8m uma forma peculiar de brincar ‘como observam Lima; Gongalves Junior; Franco Neto (2006, p. 1) ‘0s jo- {908 e brincadeiras entre os Kalapalos, sempre acontecem num ambiente de muita alegria, com freqiientes algazarras, nos quais quem ‘perde’ ou ‘erra’ (do ponto de vista da nossa cultura) se diverte tanto ou mais do que aquele que ‘ganha’ ou ‘acerta’. Além disso, os autores destacam que ‘nao ha entre eles o habito de quardar os implementos usados para brincar, ou seja, os brinquedos sao construidos no momento do desejo de brincar sendo depois. descartados’ (CORREA, 2007, p. 966). Como exemplo de jogo indigena, segue a descri¢éo dos jogos Ketinho MitseliF* e Heine Kuputisd, praticados pela etnia Kalapalo: 2 24 + Jogo: Ketinho Mitselit + Material utiizado: um fio de buriti trangado e amarrado nas extremidades, + Numero de participantes: um. + Desenvolvimento: utilizando um comprido fio de buriti trangado, amarra- do nas extremidades, da mesma forma que se faz com um barbante na brincadeira popular "cama de gato”, rapidamente entrelaca-se o fio com 08 dedos e formam-se diversos padrées. Aparecem animais e figuras da mitologia alto xinguana. Os adultos realizam trangados complexos @ as criangas ensaiam figuras mais simples, numa velocidade desconcertan- te. Esse jogo é amplamente conhecido e praticado na aldeia Kalapalo. + Jogo: Heine Kuputisit + Situagao: conhecido amplamente. + Material utilizado: nenhum, + Numero de participantes: varios/indefinido, “Jogo extraido de Herrero, Femandes & Franco Neto (2006). 0 ivro contém documen- trio em DvD. Jago extraide de Herrero, Femandes & Franco Neto (2006). + Desenvolvimento: esse é um jogo de resisténcia e equilibrio, aquele que participa da corrida deve correr em um pé 6, nao sendo permitido al- ternar, Um risco no chao define o local de partida, e a aproximadamente 100 metros de distancia aponta-se a meta a ser atingida, mas cada um vai até onde consegue aguentar. Se o jogador ultrapassar a meta, ja & considerado um vencedor, mas se nao alcangar, é sinal que ainda preci- sa treinar mais, A velocidade nao é 0 mais importante nesse jogo, cada um na sua vez, de acordo com sua estratégia, inicia sua corrida, e vence quem chegar mais longe com um pé sé. Os jogos aos quais fizemos referéncia aqui resistiram ao teste do tempo & refletem toda uma sabedoria acumulada durante anos pela humanidade. E necessdrio ter em mente que os jogos nao so apenas manifestagdes da vida social de um povo, mas atividades vivas e dindmicas que devem ser ‘compreendidas no contexto da historia e da cultura as quais se referem, portan- to; nao podemos traté-los a partir de informagées equivocadas, baseadas em vis6es folclorizadas ou idealizadas. 3.4 Consideragées finais ‘Ao longo desta unidade, apresentamos breves consideragées sobre o sig- nificado de jogos e brincadeiras. Utiizamos exemplos de jogos na perspectiva africana e indigena, com a finalidade de mostrar que possivel trazer para dentro dos muros da escola outras vivéncias e experiéncias culturais. Nossa proposta de base mantém-se: pensar e propor alternativas para uma educagao das rela- 96es étnico-raciais na escola, a partir da desconstrugao de esteredtipos que geram preconceitos e discriminagées, dos quais 0 ambiente escolar ainda é paleo privilegiado. 3.5 Estudos complementares Para mais informagdes sobre as comunidades indigenas do Brasil: + Instituto Socioambiental (ISA): . Organizagao brasileira que propde solugdes sustentaveis a fim de garantir direitos coletivos & valorizar a diversidade socioambiental. + Fundagao Nacional do Indio (Funai): . A Funai é 0 6rg&o do governo brasileiro que estabelece e executa a Politica Indige- nista no Brasil, dando cumprimento ao que determina a Constituigao de 1988. 63 64 + Museu do Indio: . O Museu do Indio, érgao cientifico-cultural da Fundag4o Nacional do Indio, foi criado por Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, em 1953, E a Unica instituigao oficial no pais exclusivamente dedicada as culturas indigenas. * Instituto de Desenvolvimento das Tradigées Indigenas (Ideti): . O Ideti é uma organizagao nao governamental criada e dirigi- da por pessoas indigenas de varias etnias, com o objetivo de proteger, resgatar, divulgar € promover a cultura e 0 conhecimento dos povos indigenas do Brasil. + Trabalho Indigenista: . Organizacao nao governamental formada por antropélogos comprometidos com 0 fur turo dos povos indigenas no Brasil Para mais informagdes sobre questées raciais: + , Revista on-line, Apresenta artigos, noti- cias e informagées sobre a questéo racial no Brasil e no mundo, + Centro de Estudos das Relagées de Trabalho e Desigualdades (CERT): . Organizagao no governamental que realiza impor- tantes estudos e pesquisas sobre relagdes raciais no Brasil + Fundago Cultural Palmares: . De acordo com 0 site, trata-se de uma “entidade publica vinculada ao Ministério da Cultura, cuja misao corporifica os preceitos constitucionais de reforgos a cidada- nla, & identidade, & agdo e a meméria dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira somando-se ainda o direito de acesso cultura e a indispensavel ago do Estado na preservagao das manifesta- Ges afro-brasileiras’ + Instituto de Pesquisa Econémica Aplicada (IPEA) Fundagao publica vinculada ao Ministério do Planejamento, Orgamento € Gestdo, Fornece dados de pesquisas, estudos e estatisticas neces- sérias ao conhecimento dos problemas econémicos e sociais do pais.

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