You are on page 1of 17
138 | Bm busca do poder comegou a infiltrar-se nos meios intelectual e académico, Mas ‘marxistas, infelizmente, compartilharam da cegueira eurocéntrica inevitavelmente limitou a visao da histéria humana de Karl Marx. Ent europeus dessa época, a supremacia do mercado e do nexo pecun Pareceu estar assegurada durante todo 0 tempo ~ passado, presente ce futuro. Da perspectiva do fim do século XX, isso nao parece mais uy verdade autoevidente, e historiadores podem, portanto, em bra ficarem sensiveis aos aspectos militares-tecnolégicos e politicos a Avangos na arte da dngs ts ascensao do capitalismo europeu. Podemos obter uma perspectiva mats imparcial da admirive da Europa, 1600-1750 aventura europeia em dire¢ao a soberania do mercado na forma militar de gerenciamento e em outras formas, reconhecendo essa aventury como uma excéntrica partida da norma humana parao comportaniatill de comand 0 tipo de comportamento que dominou tempos antigos e tem-se reafirmado com poder admiravel desde os anos 1880. 0 restante deste livro iré empreender um reajustamento de avaliagées e Pontos de vista herdados, tentando eliminar a distancia que separa a atividade militar da hist6ria econémica e da historiografia. : efetividade da guerra comercializada como a desenvolvida AG na Europa Mediterranea, entre 1300 e 1600, foi atestada pela isseminaco esporddica do que pode apropriadamente ser apelidado 0 ‘complexo militar-comercial” paranovastterras,subsequentemente. Uma 1udanca paralela foi a burocratizacdo da administragao militar. De forma ta, acoleta de Impostos para sustentar forgas armadas permanentes “comegou a ter conformidade com a regularidade burocratica sobre areas cada ver mais extensas do continente europeu. A administragao interna ‘de exércitos e marinhas moveu-se na mesma direcdo. Entdo, no século XVII, osholandeses foram pioneiros em importantes melhorias na rotina ¢ administracao militar. Em particular, eles descobriram que longas ‘horas d> treinamentos repetidos tornavam exércitos mais eficientes em batalha 0 adestramento também emprestava um admiravel espirito de corpo a soldadesca, mesmo quando era recrutada nas camadas mais baixas da sociedade, Un exército bem adestrado, respondendo a uma clara cadeia de ‘comanco, que abrangesse desde 0 cabo de esquadra até o monarca que decarava reinar por direlto divino, constitufa-se no instrumento de policia mais obediente e eficiente jamais visto antes sobre a Terra. ‘Tis exércitos podiam e estabeleceram um nivel superior de paz publica dentro da maioria dos principais Estados europeus. Isso permitiu que a agricultura, 0 comércio e a indistria florescessem e, por seu turno, aumentassem a riqueza tributdvel que mantinha a existéncia das forcas armadas. Assim, surgiu um ciclo autossustentavel que ergueu 0 poder ¢ riqueza da Europa a niveis acima dos que outras civilizagies 140 | Bm busca do poder haviam aleangado. Ficou assegurada uma expansao relativamente fég . as expensas de estabelecimentos menos bem armados e organizad resultando em uma carreira imperial da Europa de longo alcan estendendo-se rapidamente para novas areas do globo. ‘Avangos na arte da guerra da Europa, 1600-1750 | 141 15 (que também combatiam a pé), vieram assim a existir em uma ficativa escala nos anos 1490. Mas desde o imperador Maximiliano +1519) € outros governantes alemies a quem cronicamente fa dinheiro, as companhias de Landesknechten puderam ter igo apenas esporddico. Sua desmobilizagao criow uma crise para “soldados € as comunidades onde ocorreu de estarem desdobrados momento. A situacdo foi quase a mesma que aconteceu na Italia no io de século XIV, antes de as cidades-estados italianas aprenderem smo exercer efetivas restrigdes politicas e fiscais sobre forgas armadas fissionalizadas? ‘A situacao alema diferiu da experiéncia antecedente italiana em aspecto importante. Comecando em 1517, a politica germanica jo a ser colorida por uma envenenada controvérsia religiosa. eranos, catélicos e varias seitas radicais foram logo desafiadas elo calvinismo, Cada religido comandava lealdades passionais de uupos sociais diversos, ento esses conflitos seculares comumente icontravam expresso em debates teol6gicos. A Itélia havia também xperimentado conflitos sociais agudos dois séculos antes; e as lasses mais baixas encontraram a derrota sempre e em qualquer Jugar onde a forca militar veio a ser profissionalizada e mantida em base permanente. Na Alemanha ocorreu um desenvolvimento similar, mesmo ainda que, em seus estagios inicials a diversidade teolégica a Reforma tenha santificado e assim provavelmente intensificado os ‘choques de classes. Em qualquer escala, algo como estabilidade chegou a Alemanha apenas 12 | im busca do poder wangos ast da guera da Barop, 1600-1750 | 142 Do lado catélico, religioso se dissipou, as terras germanicas tornaram-se religiosam dinamarquesa, sueca e,em peter eaasleaiee divididas, de acordo com 0 principio culus regio, eis religio, jos retoraram sua gusra com of bolandeses em 1621 No inicio desse processo doloroso, jurisdig6es locais, eclesi gee net 22 prom rea Oo im urna nica e cverente principescas e imperiais se superpuseram de forma profundam, Bepgjunter todas as frentes da gu confusa. A complexidade politica era como a que havia exist fensiva. uma dtiatntenideras stadey etados impottesa-eoberenta cri ‘0 desfecho disso tudo foi ae dcp pars eee i contratando exércitos e guarnecendo pontos fortes nas fronteiras, mae Westin, 2648). Antes, det guerra foram definidos; Alemanha, no cidades, mas cortes principescas consolidaram efey Neen eee ese a tnaitek daviaeoda soberania as eustas de rivas locais, assim como do Papa e do imperady jie come un tad experimen Exércitos mercendrios proveram-Ihes 0 sustentéculo da soberany jalizada em gr a era exatamente como havi aeontecdo na lia Masa atmos de is estrus silatios om reorsnieio yar a gies corte alema de pequeno principe ficava muito longe da de uma ciday ag ak canon ip italiana da Era Renascenga. Entio,a despeito dos paralelos que pos feendimentamiltar de Arechtvon Wallenstein, Comepando como ser tragados entre a Itélia de 1300 a 1500 ea Alemanha de 1450 165 Nee eee eee ee ee coe are eoiaenloe © desfecho do processo foi profundamente divergente nos dois paises, ilitaremum vastonegocioespeculativo. a eee No inicio dessa evolusio, o recente sucesso do rei francés em repre ets inervereie, Bala ets ae rR centralizar a administragao de seu reino ofereceu aos imperadore tin tornou-sedono deenomesproprodades a Botmi(1o90 germanicos um modelo mais atraente, O que um rei francés havia felt pm em Mecklenburg) cbteve pode olticoquse independent para expulsar os ingleses de sua terra (1.453) um imperador germ&niep | ge ia Ace meg ard ea podia também tentar, liderando uma cruzada contra os turcos, eens ue havi acumulado foram cnfiscadas No entanto por alternativamente contra hereges dentro das Alemanhas. ima dca, Wallerstein cvalgo pela Alemanias como um close Mas langar uma cruzada contra os turcos encontrou 0 que pminiente um mero contatador servings 0 imperadr, mas de ‘mostrou ser um obstaculo geogréfico insuperdvel. Desde 1526, a Hungria DO ese ar casei be cevaed aifiatnida, aug lSgal 6 € Crodcia haviam se tornado fronteiras disputadas pelos impérios militares que comandou e supriu por otomano ¢ Habsburg, Ataques e contra-ataques devastaram a dtea psa tansages de meres comple tornando a manutensao de grandes exércitos de campanha na regio de As transagdes comecas de Wallenstein eam muito comple fronteiras extremamente dificil para qualquer dos protagonistas. Como Oe ae erate pre cls waheiarpor aan resultado, construir ¢ depois guarnecer alguns poucos fortes & prova comandante de exército a pregos fixa = Pea rata conn aut de canhdes foi tudo que as autoridades da Dinastia Habsburg puderam CR aoa road i ee a ongndenome Hans DeWitt, relagao de DeWitt com Wallenstein fra como a de Wallenstein com o imperador. Cada um dependia de A alternativa de voltar as forcas imperiais contra os principes germanicos que haviam se separado do catolicismo tornou-se mais i: insagées. atraente, quando o vigor do inca reformado se instalou ao ‘seu superior para ter a chance de eS norte dos Alpes. Assim, quando Ferdinando II ascendeu ao trono em Contudo, a0 executar comissese fazer contratos oa ae 1619, precipitou uma guerra geral ao decidir trazer a Boémia (onde Naar ee ee aera her ie ropalkiatete um rei havia sido eleito em 1618) de volta a obediéncia catblica © 208 ER lari a apace eRe Habsburg. Seus sucessos iniciais provocaramn uma série de intervencdes Propriedade. 0 resultado era tudo com qt EEE 146 | num buen do poder Avangos nate da guera da Europa, 1600-1750 | 145 nascimento ou religilo, ou qualquer virtude tradicional, suas escolhas de associados ou subordinados. Obediéncia e ef na realizagao de tarefas designadas era o que Wallenstein e seu gy financeiro exigiam e obtinham dos que os serviam. O resultado fol indo de Wallenstein, no climax de seu poder.* exército de excepcional eficiéncia que viveu, na maior parte de te segunda destacada estrutura de poder da Guerra dos ‘Trinta do pafs em que operava e nao tinha escripulos em fazé-lo, Uma criada pelo rei sueco Gustavo Adolfo (reinou 1611-32). 0 que to grandiosa de empreendimentos militar e privado comercial ny, havia sido vista antes, Outros intermediérios militares desempenharam papéis menon na Guerra dos Trinta Anos, mas apenas Wallenstein foi bem-sucedig em erguer um exército por sua prépria conta, que contava com mma blica para convocar seus soldados nas florestas e campos suecos ‘seu papel na rea imperial; no fim da guerra, a completa 40 de algumas das partes da Alemanha compeliu exércitos a para perto ca metade do tamanho daqueles que marcharam dade pessoal de onde mao de obra e supri dos para a guerra na Alemanha. Gustavo Adolfo declarou que de 50.000 homens em seu climax. Ele 0 fez comissionando ofiay ficiou-se do fato de que a produgao sueca de ferro comecou a se subalternos para formar companhias e regimentos da forma que o \dir nos anos 1620, quando Louis de Geer, um nativo de Lieja e ‘monarcas no poder estavam ha muito acostumados. Perto do fim des dente na Holanda, despachou metalirgicos da ValOnia para a Suécia, carreira, Wallenstein flertou com a ideia de usar seu exército para coagy introduzirem novos fornos de fundigao naquela terra remota: 0 imperador a descartar um partidario espanhol que havia se juntada corte. Os espiritos lideres daquela faceao suspeitaram veementement do aventureiro boémio, de quem o estilo comercial e ambiguidad De Geer fez na Suécia o que o agente de Wallenstein, DeWitte, wia feito na Boémia, Cada um deles operou em grande escala para nportar novos métodos financeiros e técnicos para partes da Europa jo como religiosa eram totalmente estranhos para seus ideais aristocraticos ¢ snteriormente atrasadas ~ atrasadas pelo menos em ee ee catélicos. E foram eles que tramaram o assassinato de Wallenstein, Itao colocado pelos Pafses Baixos. Mas em outros aspectos el A satin imperador endossou o ato apenas depois de executado. muito diferentes, De Geer permaneceu na Holanda e prospero Mesmo desde o desfecho siibito de 1634, nacionalistas alemie ciador e empresario internacional, dependendo on aay Perguntaram-se o que poderia ter acontecido se Wallenstein houvesse Sore fens am fer neaietos na Swica. Ha. rabaliary Prevalecido. A l6gica de sua posigao talvez requeresse que ele imitassea Renae oea)_° legal zelativamente, bem defintdo capi 7 "usurpagdo que forza havia executado em Milo, em 1450, Sfores favs egiciosholandesae transmit os nego a seus hedeies,enquanto fundido, com sucesso, sua administrago militar com o Estado milanése ee 2a ters atin aléen ing emaranhadias conte Seka moldado uma grande poténcia nos 50 anos que se seguiram. A estrutura fspeculador falido, quando cometeu suicidio em de comando de Wallenstein talvez tivesse se tornado o embriao de um novo Estado germanico, maior mesmo que 9 poderoso reino da Franga eae cat eee Aen ae eee que emergiu da Guerrados Trinta anos, hegemdnico na Europa Ocidental. He in Gorse ce Tone tne (Paris, 1963), REDLICH, Price The Garman Mileary Mas em verdade, em 1634, Wallenstein estava muito enfraquecido por Fimerprise, 1229-336; REDLICH, Fritz, "Plan for the Establishment of a War uma doenga crénica. Talvez, também, seu arrojado espirito empresaral Industry in the Imperial Dominion during the Tety Years War’, Business History ee Suess qin cindn ecirradinndepaaay Mba sep oe 6 rae os atin strbula 20 rl sueceConforme ROBERTS, Perador Romano da Naréo Germénica, Michacl, Essays Swedish History (Minneapolis, 1967), p. 73. De qualquer forma, o império militar-comercial que ele havia * HECKSCHER, Fi, “Un grand chapitre de I’histoire de fer: le monopole suédoi construfdo em torno de si préprio colapsou, Empreendedores menores ‘Annales dhistoire économique et sociale 4 (1932): 127-39. 146 | fm busca do poder forma, Gustavo Adolfo era um rei e soberano legal e nao softia de p, da dubiedade moral e legal que rondou toda a carreira de Wallenst Como resultado, os impérios econdmicos e politicos que De Gustavo Adolfo foram capazes de criar duraram séculos, enquanto q «de Wallenstein entrou em colapso com seu assassinato. Orel sueco também deveu parte de seu sucesso em batalha a0 f de que ele importou os tiltimos métodos holandeses de fazer a guer ¢ treinar soldados. Mas ele acrescentou-lhes alguns toques pessoa derivados de sua recente experiéncia com as taticas de cavalaria russ © polonesas (guerra com Rissia até 1617; com a Poldnia, 1621.29 Como resultado, quando interveio nas guerras germAnicas, chegan Pomerania em 1630, o rei sueco trouxe para a batalha um exérej duro de enfrentar; Ele provou ser formidavel na Batalha de Breitenflg em 1631, quando os suecos exibiram suas téticas aperfeigoadas pel primeira vez, As inovagées téticas suecas visavam ago ofensiva mais ef ho campo de batalha, Pegas de artilharia de campanha pequenas, qu podiam ser manobradas & mao, acrescentavam peso a rajadas de fogo de armas leves, ¢0 efeito de choque de tal fogo emassado era rapidamente alternado com langas ¢ cargas de cavalaria. Mas Wallenstein ajustou Prontamente suas préprias téticas em imitagdo a dos suecos, co demonstrou jé no préximo ano, na Batalha de Liitzen, onde Gustavo Adolfo perdeu sua vida, ao alcangar uma segunda vitoria sobre as forga imperiais. Arapidez com que um lado reagiu a qualquer inovagao introduzida pelo outro foi convincentemente ilustrada por esse episédio. uropeus e comandantes haviam claramente aceitado a ideia de que aperfeigoamentos eram sempre possiveis. Uma rede de informagé éficient, uilizando textos escritos, palavras, espionagem e inteligéncia comercial, coletava dados sobre capacidades e intengdes do inimigo, novas tecnologias e novas taticas, por toda a extenséo da Europa Ocidental, Como resultado, ao final da Guerra dos Trinta Anos, exércitos ‘europeus néo eram mais uma colecdo de pessoas belicosas e bem armadas, como haviam sido os exércitos medievais, nem uma massa de homens agindo em unissono em plena ferocidade bruta, mas sem controle eficiente uma vez iniciada a batalha, como havia sido verdadeiro Avanos na ate da guerra da Europa, 1600-1750 | 147 Janceiros suicos do século XV. Ao contrario, uma arte da guerra wtemente cultivada permitia que um general no comando, los para varios tipos de combate eram capazes de manobrar em. igo. Respondendo ao comando do general, eles podiam obter de qualquer circunstdncia imprevista para uma reviravolta, terreno teimosamente disputado para uma vitéria unilateral, ‘calvinistas e catélicos, em parte precipitados por uma incerta so dindstica ao trono. 0 fato de o emprego na Itélia para homens nas repetidas quebras da ordem doméstica, pois podia se esperar soldados desempregados e inquietos respondessem ansiosamente KII cercaram e conquistaram o ponto forte calvinista de La Rochelle. ali em diante, os recursos militares franceses foram dirigidos através fronteira, contra os governantes da Dinastia Habsburg da Espanha e smanha. Foi essa intervengdo francesa na Guerra dos Trinta Anos que finalmente frustrou o esforgo imperial catélico para unir a Alemanha e ‘suprimira heresia, No inicio, os generais franceses eram inferiores em batalha aos, ‘experientes comandantes da Espanha e Alemanha, mas em 1643, ‘quando os franceses derrotaram os hispanics em Rocroi, haviam também atingido um nivel de habilidade na arte da guerra equivalente 40 do resto da Europa. Entdo, os maiores recursos que o rei francés tinha sob seu comando deram & monarquia Bourbon a capacidade de eclipsar Quaisquer rivais, simplesmente colocando em campo forgas malores a Me —‘“‘—SOS—s—SS mais bem treinadas. Esse fato essencial foi um ponto de inflexao g, historia politica da segunda metade do século XVI. Felamudou, também, pelo fato de que, depois dea Paz de West, pOr fim guerra na Alemanha, nem o imperador da Dinastia Habsb nem 0 rei francés acharam sensato ou necessério desmobilizar tod as tropas que haviam combatido para eles durante a Guerra dos Anos. Realmente, como a paz. com a Espanha nao se concluiu até 165 0 franceses tiveram que manter tropas em armas até aquela data, ¢ em 1661, quando o novo rei, Luts XIV, tomou em pessoa o poder, ele decidiy que a gloria e a prudéncia exigiam manter um exército permanente em perpétua prontidao para a guerra. 0 fato de que a desordem ciy havia irrompido outra vez na Franca entre 1648 e 1653 produziu uma forte impressao no jovem Luis. Seu exéreito permanente foi de designado para assegurar a superioridade do rei sobre qualquer desafig a sua autoridade vindo de dentro da Franca, apenas secundariamente voltado para alguma aventura estrangeira, Aperfeigoamentos no controle de exércitos A supresso da Fronde, como foi chamado 0 round final da superada guerra civil na Franga, constituiu-se em um significativg ponto de inflexio da histéria da guerra na Europa e do estadismo. Ou talvez fosse mais preciso dizer que ela marcou 0 momento em que Estados transalpinos atingiram o nivel de controle sobre a forga armada que havia sido obtido em Veneza e Milao dois séculos antes. 0 fato é que quase todos os aspectos do gerenciamento francés e austriaco de seus estabelecimentos armados, na segunda metade do século XVII, haviam sido antecipados por Veneza e Milo. Controle civil sobre suprimento, pagamento regular de soldados com dinheiro proveniente de arrecadacao de impostos e a diferenciacao e coordenagao tatica de infantaria, cavalaria e artilharia foram todos compartilhados entre as cidades-estados italianas do século XV com as monarquias transalpinas do século XVII. Mesmo 0 trabalho do famoso ministro de Luts XIV, Michel Le Tellier, e seu filho, o Marqués de Louvois, secretario de Estado da Guerra, ao suprir 0 exército francés, regularizando sua estrutura, padronizando o equipamento, pode ser comparado de perto ao que fez um pouco conhecido provedittore veneziano, Belpetro Avangos nate a guera da Europa, 160-1750 | 149 sselini (no cargo entre 1418-55), que realizouo mesmo pelas tropas ‘defenderam a Repiblica de So Marcos.* {Um aspecto dos novos exércitos permanentes do norte europeu, tanto, nao teve clara comparac4o em tempos anteriores, e sua jortdncia foi tal que merece uma especial consideragao aqui. Louvois 4 auxiliado por um inspetor itinerante, o tenente-coronel Martinet, sjo nome passou para a historia como s{mbolo de rigorosa insisténcia n detalhes de disciplina. Isso, de fato, foi algo em que Martinet foi lente. Instrugdes de Louvois, em 1668, exigiam que ele fizesse nada ~-voct lhes ordenaré (oficiais de infantariaem comisso) que estejam prontos todos os dias, quando da troca de guarda, © antes que se dispersem, para exercitar os soldados no ‘manual de armas e nos varios movimentos, para a esquerda e direita, para a frente, para ensind-los a marchar bem em. pequenas unidades? __ Eclaro que as preocupagées de Louvois com a maneabilidade nao sram totalmente novas. Mas a histéria do adestramento em exércitos. opeus antes da virada do século XVII é muito obscura. Lanceiros uigos e espanhois, em seus “ouricos”, marchavam ao toque do tambor,® ‘com certeza empenhavam-se em manter uma cerrada formagao em npo, para nao deixar brechas paraa penetracao da cavalaria atacante. verdade, na Antiguidade, com os sumerianos. Mas adestramento diario, raticado 0 ano todo, quando em servigo de guarnicao, e ocupando 0 “*Conforme ANDRE, Louis, Miche! Le Tellier et Louvois, 2d ed. (Paris, 1943); ANDRE, Louis, Michet Le Tellier et organization de Yarmée monarchique (Montpelier, 1906). Sobre Masselini e suas reformas administrativas, ver MALLET, Michael E. Mercenaries and Thelr Masters: Warfare in Renaissance lal (Londres, 1974, pp ‘Traduzido de ROUSSET, Camille, Lhistoire de Louvois, 4 vols. (Paris, 1862-64), :209, Exereicios de guarnigaio estabelecidos para uma rotina de adestramento, na bresenca de um oficial, duas vezes por semana, com toda a guarnigao entrando fm formasao de batalha uma vez por més diante de um oficial graduado ou outra personalidade importante. ANDRE, Michel le Tellier, pp. 399-401. ROBERTS, Essays in Swedish History, p,219. 1 busca do poder 50 | Em od ‘Avangos na arte da guerra da Buropa, 1600-1750 | 151 Maneabilidade como praticada no século XVIII mando em campanha, era algo que os exércitos antigos no Pas ba re eee oe ce abe, acho necessro ou importante Contd, nye oa eee aes pr erence a acima, na pégi dida em que Louvois e seu agente coronel Martinet foram bem- bait Tegimento, subdividido em dots batalhiag dng em tornar sua vontade obedecida por oficials © soldados peloties, deve passar da formagao em linka para coluna de ataque; Reo adestramento rotinetro tornou-se atividade diaria para ae hae ‘mostra o regimento pronto para avancar sobre o ini yg em servico. Alguém pode perguntar por qué. Be Paso a pea ip sare ar a node impag ™ prresposta € ao tempo de Louvols, duas geragdes de comandantes olldariedade e esptrito de corpo de uma forma Cha ae hhaviam descoberto que o adestramento tornava os soldados compreendem apenas difusamente. san js abedientes © ee an eS So ea 1 i walvimento de modernas rotinas de adestramento foi Mauricio de Derr es pee peo Eola) of Trades and Industn ssau, principe de Orange (1567-1625), comandante, geral da Holanda 1959; vol 1 pl.67).Re See Ati ee Publication sia entre 1585 e sua morte, e das forgas mantidas por outras eae a meee .c-simile da edigao original de Pa wias holandesas por varios periodos de tempo. Mauricio foi um tario, conhecedor de matemdtica e de clissicos. Para enfrentar Moblema de combater os hispanicos nos Pafses Baixos, ele olhou para Keado romano em busca de modelos e procurou refinar ides na da guerra vindas das paginas de Vegetius, Aelia,’ outros autores Hassicos. (0 principe Mauricio néo imitou, simplesmente, precedentes gmanos; ele enfatizou trés coisas que néo haviam sido usuais para ry exércitos europeus antes dessa época. Um foi a pi, Os soldados fomanos fortificavam, habitualmente, seus acampamentos com parapeitos de terra Improvisados. Mauricio fez o mesmo ¢ em particular, obrigou seus soldados a cavarem, ‘quando cercava cidades Te pontos fortes inimigos. Cavar no havia side muito enfatizado por reitos europeus antes, Procurar refigio atrés de uma muralha ou tocar-se em um fosso remetia a um tom de covardia; e os exércitos wualmente confiavam em trabalhadores convocados na vizinhanga va fazer a maior parte do trabalho de escavagao julgado necessario. Para a tropa do principe Mauricio, entretanto, a pd era mais poderosa Tacian foi um grego que escreveu um livro sobre titicas no tempo de Trajano, “quando oImpério Romano e seu exército estavam em seu apogeu. Fol tradusido tr latim em 1550, entdo combinou autoridade do antigo com a aura 43 vedade, quando o principe Mauricio comesou sas reformasmlitares, De acordo tom HALSWEG, Werner, Die Heeresreform der Orlaner und die Antike (Berlim, 1941),p. 43, Aclian proveu a principal inspiraedo as reformas de Mauricio. 152 | Bm busca do poder Avangos na art da guerra da Europa, 160-1750 | 153 indo bradada. Como todos os soldados se moviam simultaneamente ritmo, todos ficavam prontos para atirar ao mesmo tempo. Isso ou as rajadas faceis e naturais, criando um efeito de choque nas jras inimigas. Mais importante, os soldados carregavam suas armas atiravam mais rapido e era pouco provavel que omitissem algum dos ss0s essenciais. O resultado foi que as armas de fogo ficaram mais icientes do que nunca, e Mauricio assim aumentou muito seu ntimero proporedo aos lanceiros. Ele também regularizou a maneabilidade. Ao passo, todos os jomens em uma unidade podiam ser instrufdos a mover-se em padrées critos, para frente, para trés, esquerda, direita, mudar a formacio coluna para linha, ou vice-versa. A manobra mais importante do ‘adestramento do principe Mauricio era a contramarcha, em que, tendo isparado suas armas, uma fileira de arcabuzeiros marchava entre ‘as colunas dos homens a sua retaguarda e procedia a recarga atras, ‘enquanto os homens ultrapassados disparavam suas armas. Com a pratica e com 0 apropriado nimero de fileiras, no momento em que a primeira fileira estivesse outra vez totalmente carregada, cada uma das outras fileiras havia atirado e retrafdo, permitindo aos soldados da primeira fileira dispararem sua segunda rajada sem obstrugio ou atraso. Dessa forma, um balé militar bem coreografado permitia que uma unidade treinada com cuidado disparasse uma série de rajadas ‘em répida sucessao, néo dando ao inimigo chance de recuperar-se do choque de uma descarga antes que outra o atingisse. O truque estava no ritmo da execucao e em impedir que homens fugissem do campo de batalha quando voltavam suas costas para o inimigo para recarregar, ha retaguarda, Treinamento repetido, tornando cada movimento semiautomatizado, minimizava a possibilidade de ruptura da formagio. Supervisdo cerrada da soldadesca e um quadro de oficiais eram também necessarios para manter a contramarcha praticdvel. Mas quando tudo safa como previsto, o resultado era espetacular. A terceira reforma de Mauricio tornou o adestramento mais efetivo e foi ela propria tornada mais efetiva pelo treinamento repetido: Para tal, ele dividiu sua tropa em unidades téticas menores do que eram usuais anteriomente, imitando 0 manipulo da legiao romana. Batalhées com 550 homens, mais tarde subdivididos em companhias que a espada - ou mosquete. Cavando fossos e erigindo parapeitos sistematicamente, para defender seu perfmetro, um exéreitg executando cerco podia proteger-se contra uma expedigo para ali a pressao, enquanto continuava apertando 0 cerco. Seguindo esse regime, os exércitos de Mauricio sofriam poucas baixas causadas pel fogo de defensores, enquanto cavando sempre para frente, cada veg mais perto do fosso ou parede defendido, até que o assalto final ficasse praticvel. 0 cerco tornou-se uma questdo de engenharia, ou seja, de mover vastas quantidades de terra. Manusear a pa transformoy. se na ocupagao didria do soldado executando 0 cerco. Aquele tipo de trabalho pesado tinha oefeito incidental de quase banira ociosidadeea dispersdo que ocorriam com exércitos no pasado, cercavam um pont. forte. 0 principe Mauricio, em verdade, desaprovava completamente a ociosidade, quando seus soldados nao estavam cavando, eram, ‘mantidos ocupados por exercicios de adestramento. 0 desenvolvimento do adestramento sistematico foi a segunda € mais importante inovagdo que Mauricio introduziu, baseado nos precedentes romanos. Ele compeliu seus soldados a praticar os movimentos exigidos para carregar e disparar seus mosquetes; os lanceiros, da mesma forma, a praticar as posigdes em que as langas tinham que ser mantidas quando em deslocamento no campo de batalha, Esse tipo de instrugao ndo era totalmente novo. Os exércitos haviam sempre treinado recrutas, mas os antigos instrutores agiam na razodvel presungao de que to logo alguém soubesse como usar sua arma, sua obrigacdo estava cumprida. Mauricio diferiu de seus antecessores por ser muito mais sistemético. Ele padronizou os complicados movimentos requeridos para carregar e disparar os mosquetes' em uma série de 42 movimentos separados e sucessivos e deu a cada um deles um nome e um comando apropriado. Seus soldados podiam ser instrufdos a executar cada movimento em unissono, respondendo a uma voz de ® A arma tinha que ser carregada com pélvora seguida de uma bucha para manté- la em posigao; entao uma bala e outra bucha para manter a bala no lugar; entdo © ouvido da arma tinha que ser preenchido com um tipo diferente de pélvora. A mecha acesa (mantida nesse tempo na mao esquerdia) era colocada no mecanismo de disparo e a arma estava afinal pronta para ser apontada e disparada. A mecha tinha que ser retirada da arma antes que outro ciclo pudesse ser repetido com seguranga, —- 154 | Em busca do poder € pelotdes, eram unidades convenientes ao adestramento, pois up ‘nica voz podia controlar os movimentos de todos os homens, La pessoais primarios, estendendo-se desde o comandante até o reeny mais moderno, podiam estabelecer-se entre membros de unid; desse tamanho. Elas podiam mover-se agilmente pelo campo batalha, agindo de forma independente, mas coordenadas umas co as outras. Comandantes em cada nivel da hierarquia, pelo menos principio, respondiam a ordens vindas de cima, transmitindo-as subordinados apropriados, com qualquer especificagao adicional que a situagao pudesse exigir. Dessa forma, um exército tornava-se um organismo articuladg com um sistema nervoso central, que permitia resposta sensivel e ou menos inteligente a situagées imprevistas. Cada movimento ating um novo nivel de exatidao e velocidade. Os movimentos individuais soldados, enquanto moviam-se e atiravam, assim como os movimente: dos batalhées no campo de batalha, podiam ser controlados e previsto como nunca. Uma unidade bem treinada, executando cada movimento podia aumentar a quantidade de chumbo projetada contra 0 inimigo por minuto de batalha, A destreza e a resolugo de um infa isolado importavam muito pouco agora. Proezas e coragem pessoal desapareceram junto com a rotina sob armaduras. A atividade mili tomou dimensdes muito novas, e a realidade do dia a dia de um exéreito alterou-se profundamente. E tropas adestradas na forma mauriciana automaticamente exibiram eficiéncia superior no campo de batalha, Quando isso veio a ser reconhecido, os padrées antigos e irregulares de comportamento militar murcharam e morreram, mesmo entre os oficiais e nobres mais recalcitrantes. Fficiéncia em batalha era importante, mas menos significativa que a aperfeicoada eficacia que um exército bem adestrado exibia em situagdes de defesa e cerco. Quase todo 0 tempo de um soldado, acima de tudo, era despendido antes do real confronto com um inimigo. Como esperar sem tornar-se ocioso e imprestavel foi sempre um problema ara exércitos antigos, Quando em movimento pelo campo, o problema se resolvia por si préprio, Mas com o exército estacionado em uma localizagao, fazer nada por dias e meses tornava muito provavel levar a ‘moral edisciplina para baixo. 0 fato de que algumas horas de treinamento Avangot na ated gueradaBaropa, 160-1750 | 158 joeram faceis de organizar e obviamente titels e executéveis tornou ciplina em situagdes estiticas facil de manter:* isiém disso, tal adestramento repetido diariamente tinha outra srtante dimens&o, a qual o principe de Orange e seus companheiros mente entenderam muito vagamente, Pois quando um grupo jmens move seus misculos dos bragos e pernas em unissono jolongados perfodos de tempo, um laco social primitive e muito oso cresce entre eles. Isso provavelmente resulta do fato de que movimento dos grandes miisculos em unissono desperta ecos do de socializa¢ao mais primitivo do género humano. Talvez: mesmo tes de nossos ancestrais pré-humanos jé se dangasse em torno de jeiras no campo, contando os feitos em uma cagada e prevendo o que feito na préxima. Tais movimentos ritmicos criavam um intenso iimento de companheirismo que permitiam que mesmo proto- nos pobremente armados atacassem e matassem, derrotando ‘mais formidaveis dos predadores. ‘Treinamento militar, como desenvolvido por Mauricio de Nassau milhares de instrutores apés ele, drenou diretamente esse primitive ervatorio de socializagao. O adestramento, ainda que possa er duro e repetitivo, realmente unia uma coletanea heterogénea homens, com frequéncia recrutada entre a escéria da sociedade l, em uma comunidade coerente, obediente a ordens mesmo em ituacdes extremas, quando a integridade e a vida estavam em perigo io ¢ imediato. Bandos de cacadores haviam dependido, para sua obrevivencia, de serem capazes de manter obediéncia e cooperacao em face ao perigo iminente, Presumivelmente, portanto, a sele¢o natural “através de intimeras geragdes ergueu a atitude humana, por meio de “tal comportamento, a um alto nfvel; e essas aptidées continuaram (e ontinuam) a rondar a superficie de nossa psique subconsciente. % Sobre as reformas de Mauricio, em complemento ao trabalho de Halbwewg, itado antes, ver os instigantes destaques de FELD, M.D, "Middle Class Society and. the Rise of Military Profissionalism: The Dutch Army, 1589-1609", Armed Forces in Society 1 (1975): 419-42. —— 156 | Em busca do poder Avangotna arte da guera da Europa, 160-1750 | 157 jocional que se erguia dentro das filetras dos exércitos europeus, por ver, aliviava as presses psicolégicas e os estresses que haviam ado o gerenciamento militar tdo dificil nos séculos de transi¢ao de tipo de comunidade priméria para um novo tipo. Exércitos bem adestrados eram, usualmente, muito isolados ontexto social maior em que se encontravam. Novos recrutas, dos diretamente de vilarejos, podiam ser ajustados A comunidade ficial da companhia ou pelotéo com mfnimo ajuste psicolégico, pois adestramento, rapido e confiavelmente, transformava a obediéncia ¢ leferéncia definidas por costume em obediéncia e deferéncia definidas yr regulamentos, Os exércitos eram, portanto, prontamente renovaveis preservavam atitudes e valores rurais “fora de moda’, dentro de um jundo muito mais drasticamente urbanizado, monetario, comercial e ‘burocratizado. Tal combinagao de opostos, ou aparentemente opostos, ‘criou 05 instrumentos mais efetivos de politica que o mundo jé havia ‘visto antes. A conformidade com regras vindas de cima tornow-se ‘normal, nao apenas porque os homens temiam punig6es rispidas por infragdes A disciplina, mas também porque a soldadesca encontrava real satisfacao psicol6gica na obediéncia cega e irrefletida e nos rituais da rotina militar. Orgulhoso espfrito de corpo tornou-se uma realidade palpavel para centenas de milhares de seres humanos que tinham pouco mais do que se orgulharem. Destrocos humanos encontraram um refiigio honordvel em um mundo onde comprar e vender haviam ficado tio ppenetrantes que prejudicavam severamente aqueles que careciam do necessério autocontrole pecuniario, destreza e capacidade de previsio. ‘Uma comunidade artificial burocraticamente estruturada e controlada velo a existir, baseada em sentimentos humanos profundamente enraizados, estaveis e muito poderosos. Que instrumento nas maos de estadistas, diplomatas e reist As facanhas em armas que os exércitos europeus executaram rotinelramente, uma vez.que se haviam tornado soldados com experién difria, foram de fato extraordindrias. Sendo herdeiros do passado europeu, nés provavelmente tomaremos seus atos como coisa trivial © perderemos 0 senso de maravilha que eles, com certeza, merecem, E deve-se considerar quéo espantoso foi para homens formar em oposicéo a fileiras inimigas a algumas jardas de distancia, disparar mosquetes uns ‘os outros e permanecer em posigao enquanto companheiros estavam Os exéreitos da Grécia e Roma antigas haviam também apetad para esse reservatorio de instintos para unir seus soldados cidadaos, intensidade peculiar da vida politica de cidade-estado dependia, em gray no irrelevante, desse fendmeno. Entéo, quando Mauricio de Nass, olhou para trés, para as praticas das legiées romanas, e modificou se padrdio de adestramento para adequé-lo as armas de fogo de seu temp ele estava enxertando seu gerenciamento de forca armada com w antiga e bem testada tradicao europela. 0 novo adestramento, portanto, usou a tradigio literdria pa explorar suscetibilidades humanas muito poderosas. Unidades militares tornaram-se um tipo especializado de comunidade, dentro qual relacionamentos face a face padronizados proveram um substituto aceitével para os padres costumeiros dos grupos sociais tradicional = 0s agrupamentos que estavam em toda parte se dissolvendo ou eram colocados em questo pela disseminacio de relaces de mercado impessoais. Por isso, a comunidade artificial de companhias e pelotdes bem adestrados péde e substituiu muito rapido as hierarquias costumeiras de proezas e status e deu a sociedade europeia seu formato e capacidade de autodefesa local, nos tempos em que os cavaleiras haviam florescido. Lagos sociais entre soldados foram reforgados mais tarde pelo fato de que na época de Luis XIV exércitos permanentes encorajavam. © alistamento de longa duragao eo realistamento. Uma vez designado para uma unidade, um soldado podia, portanto, passar varios anos nas fileiras, compartilhando experiéncias com camaradas antigos, que desapareciam com mais frequéncia por morte que por outros fatores, Isso permitia que sentimentos de solidariedade de grupo ficassem muito firmes e transformava pequenas unidades do exército em efetivas: comunidades primérias. Como acima sugerido, o colapso das comunidades primarias como base da aco militar foi o que precipitou 0 empreendimento inicial italiano com soldados mercenérios, no século XIV. Dois séculos apés, instrutores europeus criaram comunidades primérias artificiais dentro das fileiras de todos os exércitos tecnicamente proficientes, gracas forma pela qual algumas semanas de treinamento criavam sentimentos: de solidariedade, mesmo entre individuos previamente isolados. 0 tom ee 158 | Em busca do poder caindo mortos ou feridos em torno. 0 instinto e a rea¢ao corresponden fazem de tal comportamento algo inacreditavel. No entanto, os exéreg europeus do século XVIII tinham isso como rotina. Igualmente admirdvel era a forma em que unidades de ume obedeciam & vontade de superiores invisiveis com igual py estando localizados na crista da préxima elevagao ou do outro lado mundo, Muitos milhares de homens que nao tinham nenhuma pessoal para estarem combatendo uns aos outros, e tinham muito 6byi razbes pessoais para estarem fora da linha de fogo de outros soldado, fizeram, no entanto, o que Ihes foi ordenado ~ de forma rotineira, Co resultado, oficiais designados burocraticamente, independente de s competéncia pessoal, esperavam e recebiam uma resposta obediente seus comandos, quase sem falha, a despeito de que em parte do globo encontrassem desdobrados. A criagao de tal novo Leviata - talvez de forma meio inadverti qualquer outro avango daquela época."* ‘Nao tenho consciéncia de qualquer discussao realmente perceptiva dos ef ppsleolégicos e sociolégicos do treinamento de maneabilidade ou ordem unit sobre seres humanos em geral, dentro de exércitos europeus. Minhas coloca ‘so derivadas de reflexdes por experincia pessoal -e surpresa prépria por min resposta ao treinamento que recebi durante a Segunda Guerra Mundial Alguns escritores militares da época insinuam sobre o poder do treinamento « suas relagées com a danca. Conforme DE SAXE, Maurice, Reveries on the Art o War, traduzido por Thomas R. Philips (Harrisburg, Pa, 1944), pp. 30-31: "Faca-os ‘marchar com cadéncia, Hd um segredo completo, eé 0 passo militar dos romans. ‘Todos tém visto pessoas dancando a noite toda. Mas pegue um homem ¢ fara-0 dangar por um quarto de hora sem misica e veja se ele pode suportar isso.” ‘Devo dizer que talvez muitos homens no tenham ouvido para misica, Isso & falso, 0 movimento pela misica é natural e automético. Noto com frequéncia que {quando os tambores rufam, todos os soldados marcham em cadéncia, sem inten ‘esem perceber. Natureza e instinto fazem isso para eles’ ‘A miisica militar da Europa crist,incidentalmente, deriva dos corpos otomanos de pifanos ¢ tambores, Esses, por seu turo, eram adaptagdes de tradigées de ‘tambores da estepe que haviam se infiltrado no mundo rauculmano por melo de ‘comunidades de jovens dervixes. Mas as tropas otomanas nio se adestravam de forma incessante como as cristas comesaram a fazer, nem marchavam a passo, de forma. forma a quebrar 0 siléncio por melo de estimulos untssonos. ‘Avangos na arte da guerra da Europa, 1600-1750 | 159 eficiéncia aumentada resultante do adestramento tornou-se ante para outros militares da Europa. A reputagao do principe yricio de Nassau repousava sua retomada de diizias de cidades dos hispanicos por intermédio de ataques inesperados ¢ inflexivels, cada um deles conduzido com uma precisio técnica incia nunca atingidas. Os métodos de adestramento de Mauricio joram mantidos secretos. Em 1596, sen sobrinho e colaborador buzeiros, mosqueteiros e lanceiros eram obrigados a tomar pelo xdestramento. Eles foram publicados em um livro em 1607. Uma gina ilustrativa completa foi devotada a cada posigao, junto com 0 assim ver com seus préprios olhos como executar o treinamento."* ‘Mauricio organizou uma academia militar para treinar oficiais, em 619 ~outra inovaso na Europa. Um graduado na academia do principe ifcio em seguida prestou servigos a Gustavo Adolfo da Suécia e xe 0 novo adestramento holandés aquele exército. Dos suecos, 0 cdo com sua longa tradigao de vitérias foi muito grande. Mas depois Batalha de Rocroi (1643), quando um exército francés derrotou os ios espanhéis em campo aberto, todos os militares esclarecidos da Europa concordaram que 0 novo adestramento era definitivamente prior as praticas espanholas. GHEYN, Jacob de, Wapentandelinghe van Roers, Musquetten ende Spiessen, itervigende de Ordre van Sym Excellent Mautis, Prince van Orangie (The Hague, 607).A dio que vi era um fac-simile (Nova lorque, 1971), com um comentario informativo feito por J. B. Kist como apéndice. De acordo com Kist, Mauricio primero passou sua tropa em revista, em manobras de campo em 1592. Na época, ‘seus batalhdes tinham 800 homens cada; mais tarde ele reduziu o efetivo ~ a Uhidade de manobra priméria para 550 homens, para torné-o mais él no campo {mais adequado para obedecer a uma voz de comando tinica. 0 liveo de Gheya fol ‘muito pirateado adiante, de forma mais signifcativa por WALLHAUSEN, Johann Jacob, Kriegskunst zu Fuss (1614), com algumas gravuras do trabalho original, mas ‘escreveu em alemao, 160 | Bm bisa do poder A leste, os russos logo se aperceberam, ¢, em 1649, uma ge ‘apés os novos manuais de adestramento terem aparecido na Aleman| foi feita uma traducdo para 0 russo."* Os exércitos dos Romanoff assimy tentaram acertar o passo com os desenvolvimentos na Europa Ocidental mesmo ainda que estivessem notavelmente atrasados. Os ture entretanto, recusavam-se a acreditar que infigis pudessem aperfeigoa consagrados métodos muculmanos de adestramento e desdobramento, ‘Mesmo apés-uma longa série de derrotas no campo de batalha ha provado o contrério (1683-99; 1714-18), uma tentativa tardia de. treinar tropas 4 moda europeia serviu apenas para provocar um motim bem-sucedido entre os janissdrios, em 1730. Nao antes de quase um século de desastre militar, péde 0 sultao ser finalmente vitorioso em destruir os corpos de janissérios, apenas em 1826, como um prefécio: da modernizagao de treinamentos e taticas. Mas nesse tempo a moral € coesao do corpo politico otomano softeram danos irreparaveis, Em consequéncia, esforgos para uma equiparacao com os métodos militares europeus nao puderam evitar a derrota e a dissolucao final do império, em 1918.5 Maisaleste, o novo estilo de treinar soldados tornou-se importante: quando instrutores europeus comecaram a criar exércitos em miniatura, recrutando mao de obra local, para a protegao de estagdes comerciais francesas, holandesas e inglesas, nas costas do Oceano indico. No século XVIII tais forgas, mesmo mindsculas, exibiam uma clara superioridade sobre os exércitos desajeitados que os governantes locais estavam: acostumados a trazer para 0 campo. Como resultado, as grandes ‘companhias comerciais europeias tornaram-se governantes territoriais sobre areas em expansio, na india e Indonésia."* Apenas as costas do Pacifico, na Asia, permaneceram isoladas da eficiéncia aperfeicoada das: ‘tropas europeias ~ até 1839-41. HELLIE| Richard, Enserfment and Miltary Change in Muskovy Chicago, 1971), PB 187-88, + Sobre o fracasso otomano em responder ao treinamento europeu, ver PARRY, V J, "La maniére de combattre”, em PARRY, V.J.e YAFP, M. E. War, Technology and Society in the Middle East (Londres, 1975), pp. 218-56. “Para detalhes, ver LAWFORD, James P, Britains Army in India from Its Origins ‘the Conquest of Bengal (Londres, 1978). Arango nat da guerra da Europa, 1600-1750 | 161 fm tempos antigos, um dos dilemas que acometeu as tropas opeias foi a discrepancia entre a eficiéncia técnica, que desde o ilo XIV havia favorecido exércitos predominantemente de infantaria, Jhierarquia estabelecida da sociedade civil. Poder-se-ia esperar que forsa de infantaria recrutada nas classes mais baixas desafiasse a pmindncia aristocrética. Os suigos o haviam feito, de forma triunfante, m seu solo patrio, no século XIV. Ideias igualitérias também brotaram etidamente entre os Landesknechten alemies.” ‘Aresposta inicial dos governantes europeus a esse dilema havia jlo contratar mercensriosestrangelros paraoservigo de infantaria, uma ‘yea que se podia esperar que estrangetros pudessem exibir uma minima solidariedade com as classes mais baixas sobre as quais 0 governante xercesse jurisdico. Os suisos, igualitarios e autogovernantes em casa, assim tornaram-se o pilar da monarquia francesa, ajudando a sustentar um regime aristocratico e burocratico por mais de 300anos (1479-1789), contra desafiantes de casa e de fora.**Montanheses e outros vindos de infértels, onde uma distinta classe proprietaria de terras nunca ‘havia seguramente estabelecido seu poder, desempenharam papéis anélogos em outras partes da Europa. Bles foram os albaneses, bascos, _grenzers eslavos, junto com celtas de Gales Escécia e Irlanda. Quando ‘05 suecos intervieram na Guerra dos Trinta Anos, eles tinham algo do mesmo carater, ainda que, é claro, agissem em nome de seu proprio ‘soberano, ¢ nao como mercendrios de um governante estrangeiro.” "Conforme FRAUENHOLZ, Das Heereswesen in die Zeit des frelen Sbldnertums, 1; 36-39, Veteranos da reserva proveram mio de obra chave para a Guerra dos Camponeses de 1525, por exemplo. Em 1479, Luts XI de Franca dispensou suas forgas de infantaria e fez um contrato “com 08 suigos. A reputagdo sufga de melhores lanceiros da Europa sem diivida Znfluenciou sua decisdo; mas fl também influenciado por sua distancia politica de agitagbes sociais francesas. Conforme CONTAMINE, Phillipe, Guerre, tat et socéé 41a fin du mayen age: Etudes sur les armées des réis de France, 1337-1494 (Pari 1972), p. 284, Sobre o uso de mercendrios estrangeiros em geral, ver KIERNAN, V.G, "Foreign Mercenaries and Absolute Monarchy" em ASTON, Trevor, Criss in Burope, 1560-1660 (Nova lorque, 1967), pp. 117-40. 0 Império Otomano competiu com venerianos nos anos 1590 pelos servigos Imercenérios de infantes cristdos oriundos dos Bélcis Ocidentals. Ver INALCIK, Halil, “Military and Fiscal Transformation in the Otoman Empire, 1600-1700", Archivum Ottomanicum 6 (1980). Ao norte do Mar Negro, entretanto, as condiges fe eres bites do pote ‘Avangos na arte da guerra da Buropa, 1600-1750 | 163, Adestramento em mosquete por Mauricio de Orange As gravuras das pdginas que se seguem mostram oito de um total de. posigdes prescritas para os mosqueteiros de Mauricio de Orange. Colog pélvora, projétile bucha no lugar com seguranga e entio escorvar a arm enquanto mantinha uma mecha acesa na mao esquerda demandg cuidado e precisio; fazer isso répido requeria repetida prética. Bs ilustragées foram publicadas para auxiliar instrutores a padronizar cad ‘movimento e assim acelerar frequéncia de fogo dos soldados. Wapenhandelinghe van Roers, Musqueten ende Splessen, Achtervolgend de Ordre van Syn Excellentie Murits, Prince van Orangie.. Figuiriyck vutgebeelt door Jacob de Gheyn (The Hague, 1607; facsimile edition, York: McGraw Hill, 1971). ~o 14, Desengatilhe sua mecha 13. Abaixe seu mosquete € 0 conduza com seu reparo Entretanto, a confianga em estrangeiros tinha suas dbvias desvantagens, Antes do século XVIII, 0 dinheiro nao estava usualmente lisponfvel em nada parecido com a quantidade necessdria para pagar pontualmente estrangeiros armados. Monarcas cronicamente em crises anceiras ndo podiam confiar com segurana em um exército que ‘estava disposto a abandonar o campo de batalha apenas porque seu pagamento estava atrasado.”" Mas, no inicio do século XVII, governantes europeus descobriram como a escéria das ruas de uma cidade e filhos de camponeses pobres podiam ser literalmente transformados em outros £m terrasislamicas, dificuldades similares foram, as vezes, enfrentadas tornando eseravos soldados estrangeiros; mas um soldado escravo era também dificll de fontrolar, e em varios Estados IslAmicos comandantes escravos obtiveram poder para si préprios, fundando “dinastias escravas’, nas quais 0 poder passava de ‘comandante escravo para comandante escravo, e nao de pai para filho. O Estado Mamluke do Egito foi a mais famosa delas, durou do século XIIL ao XIX. Sobre soldados escravos no Ista, ver AYALON, David, “Preliminary Remarks on the Mamluke Military Institution in Islam’, em PARRY e YAPP, War, Technology and Society in the Middle East, pp. 44-58; PIPES, Daniel, Slave Soldiers and Islam (New Haven, 1981); CRONE, Patricia, Slaves on Horses: The Bvotution of the Islamic Polity (Nova lorque, 1980). 11, Erguer seu mosquete e apontar 12, Dar fogo (disparar) ‘éenicas favoreceram a cavalaria por perto de dois séculos antes que a primazia passasse para a infantaria, em campos de batalha europeus orientais, Os cavalos baratos disponiveis na estepe permitiram aos cossacos montados desempenbar ‘um papel, leste, anélogo ao dos sufgos a oeste. Como os suigos, eles se tornararn militares de elite e variaram contratos por empregadores militares estrangeiros, pois seu valor militar foi reconhecido entre estados vizinhos. Ao final, os cossacos afliaram-se aos czares russos, mas apenas ao prego de traicao & sua antiga tradigao de militares de elite, Conforme MCNEILL, Willian H, Europe's Steppe Frontier, 1500- 1800 (Chicago, 1964). 164 | Bm busca do poder ‘Avangos na arte da guerra da Europa, 1600-1750 | 165 15.0 coloque-o outra vez entre seus dedos 16. Sopre a cacoleta sua ressonancia, com excecdo daquelas ocasides em que os instrutores esposavam esses ideals, como aconteceu em algumas unidades do: exércitos parlamentares durante as guerras civis inglesas (1642-49), ¢ outra vez muito mais tarde, nas primeiras fases da Revolugao Francesa (1789-93). Em tempos mais normais, exércitos se tornam instituigdes de treinamento autoperpetuantes, treinando recrutas até que fiquem muito diferentes do que eram, ou seja, até que se tornem soldados."* Varios tragos comportamentais associados, transmitidos de soldado para soldado através de décadas, cresceram em torno da experiéncia central de adestrar para definir um distinto estilo de vida 3 A forga Fisica do treinamento e das novas rotinas era tal que tormava a origem ¢ experiencia prévia das rcrts inlantes para seu comporaents cen soldados. Isso priva estudos de classe e origens de homens alistados de mais do que interesse antiquério, a despeito do fato de que registros militares 0s transformem em admiriveis para tal tipo de andlise. Historiadores franceses talver influenciados pelo marxismo, foram particularmente ativos nesse esforg, sem derramar nenhuma luz notivel sobre o que o exército francés realmente fet em guerra ou em paz. O grande destaque nesse género 6 CORVISIER, A. iarmée {Jrangaise dela fn du XVUlescle au ministre de Chose, 2 volumes, (Pars, 1964) EEE ee homens por meio do treinamento repetitivo, Ideias igualitérias perderam 24. Carregue seu mosquete _25. Retire sua vareta de carregar ilitar, Prostitutas, jogos de azar, alcoolismo, tudo isso tinha lugar nesse do de vida; assim como orgulho, formalidade e proezas. Os exércitos suropeus, de forma resumida, nao se afastaram totalmente de padrées ;cedentes e mais antigos. Mas eles relegaram alguns dos aspectos do smportamento militar As margens, confinando os mais condendveis &s horas de folga, 0 novo carter psiquico dos exércitos europeus tornou a aguda ferenciacio de classes dentro da sociedade civil totalmente compativel coma paz ¢ ordem doméstica. ___ Forca esmagadora veioa residir nas maos dos soldados obedientes ‘0s oficiais do rei, burocraticamente designados. Nem desafios “aristocréticos ao poder real nem protestos das classes mais baixas contra claras injusticas tinham a menor chance de serem bem-sucedidos, quando tropas bem adestradas estavam dispontvels para defender as prerrogativas reais. Assim, a Europa comecou a gozar de um nivel de paz doméstica previamente inatingivel. Isso facilitou um notavel aumento de jueza e, em muitas partes do continente, tornou-se factivel sustentar exércitos permanentes com a arrecadagao de impostos sem drenar tdo severamente os recursos econdmicos da populacdo. As Provincias Unidas, Franga e Austria lideraram; outros Estados europeus seguiram- nas de perto. 166 | Em busca do poder Padronizacao e quase padronizagao das forcas armadas europ Como a arrecadagao de impostos tornou-se suficiente para a ‘com os salArios de militares mais ou menos pontualmente, os profund distirbios que a comercializagao da guerra introduziu na Europa século XIV pareceram, finalmente, ter sido colocados sob cont Soldados saqueadores nao tinham mais que sustentar a si préprig recirculando de forma forgada a riqueza mével de um pais. Ao cont impostos regulares e previsiveis faziam o truque, transferindo din de civis para funcionarios, que o utilizavam para manter uma fore militar eficiente e a eles proprios. Parece seguro sugerir que apenas padriio de sociedade e governo, que emergiu apés 1650, de se constitu em uma rotina com séculos de duragao. A incipiente estabilizagao de padrdes europeus de guerra sociedade foi também liderada por outro corolério de refor do principe Mauricio de Nassau. Treinamento padronizado exigia padronizagao de armamento. O préprio Mauricio achou necessério, e 1599, providenciar que os exércitos sob seu comando fossem equipado com armas uniformes. De outra forma, seu novo sistema poderia funcionar, Louvois fez 0 mesmo com o exército francés e fez com 4 soldados se parecessem com soldados, como nés os conhecemos no século XX, providenciando 0 desenvolvimento de uniformes (q entretanto, variavam de regimento para regimento). 0 efeito a curto prazo de tal padronizagao fol reduzir de forma significativa os custos militares. Mesmo fornecedores artesanais podiam baixar o custo de seus produtos, se garantissem a manufatura regular de itens idénticos indefinidamente. 0 suprimento no campo era também facilitado quando apenas um calibre de balas de mosquete era requisitado. E como cada soldado podia ser treinado nos movimentos: precisos do adestramento padronizado, a reposi¢ao de baixas ficou tao simples quanto a de balas de mosquete, Os soldados, em resumo, tenderam a tornar-se partes de uma grande maquina militar to substitufveis quanto as pegas de suas armas. 0 gerenciamento de tal exército era mais facil e mais provavel de alcangar os resultados: esperados do que qualquer coisa antes possivel. 0 custo da violéncia organizada caiu proporcionalmente; ou talvez fosse mais preciso dizer Avangos nated gerade Europa, 160-1750 | 167 nitude ea possibilidade de controledetalvioléncia porunidade idria arrecadada em Impostos aumentaram - espetacularmente.” ‘Em um prazo de alguma forma mais longo, entretanto, a nidade de armamento entre efetivos de milhares de soldados Jum exército houvesse padronizado seu equipamento, qualquer horia de projeto tornava-se muito mais dispendiosa para introduzir “no caso de varios projetos diferentes em uso simultaneo. Os dores militares tinham que escolher entre o aperfeigoamento igoamentos muito importantes, partindo de projetos de armas tentes, iriam, com certeza, atrapalhar padrdes estabelecidos de amento € suprimento. Como resultado, mudangas em armas teis, que haviam sido muito rapidas do século XV ao XVII, ficaram fe paralisadas apés 1690, quando a invencao da baioneta de anel ju possivel combinar poder de fogo com defesa aproximada contra alaria pela primeira vez, tornando os lanceiros desnecessérios.” Naquele tempo, em verdade, as armas portéteis em uso por eitos europeus haviam alcangado um grau satisfatério de onfiabilidade, simplicidade”*e durabilidade, de tal forma que melhorias Estandardizacao e rotina, aplicadas 4 producdo industrial no século XVII, tiveram o caminho preparado pela administragao e suprimento militar no séeulo XVII. Resultados similares ~ produtividade muito aumentada e custos unitérios ocorreram em ambos os casos. Esse ponto é questionad, talvez de : is, em VAN DORN, Jacobus A. A, The Soldier ans Social Change ‘omparative Studies in the History and Sociology ofthe Military (Beverly Hills, Cali 973), pp. 17-33; MUNFORD, Lewis, Technics and Civilization (Nova lorque, 1934), pp. 81-106. = Sobre a incerteza em torno da invencio ¢ introdugo da baloneta de anel, ver “CHANDLER, David, The Art of War in the Age of Marlborough (Nova lorque, 1976), ‘As mechas dos dias do principe de Nassau deram lugar a pederneiras e a0 ‘treinamento simplificado correspondente em torno de 1710, pelo menos nos ‘exéreltos europeus bem gerenciados. As pederneiras foram inventadas em torno dle 1615, mas eram de inicio muito earas para substitulr as mechas, a despeito de Juma cadéncia de tiro muito mais répida e confiabilidade superior (33% de falhas contra 50% das mechas). Obtive esses dados em CHANDLER, The Art Of War, pp. 76-79. vangs na arte da guera da Europa, 1600-1750 | 169 168 | Em busca do poder Avang 8 a rece anos em de projeto foram, talvez, mats diflceis de realizar que em ég 5 europeus do ae ee ah ee anteriores. Mas © que congelou as armas de infantaria em ung Bes impotzie desentvndoafeatenentn stem nivel fojresisténcia a qualquer mudanga que exigise a escolhg yo e construindo uma cadeia ndo ass ous eaeaea as vantagens da uniformidade e o custo de reequipar todo um cage pe berane ~ srunimente ure tf o cal tempordra Esse célculo racional foi reforgado por uma ligagao de afeicao a rot hi i oe 3 oo aoe et Pret pitinamemnt a RN orooui desc ecosshria na Barapa trasial pian pole Beg governar” em que maagistrados venezianos e administradares E Bc ccoisram para liderar militares ee conic Outros exéreitos europeus foram quase tio conservadores. E uma Establlidade em casa significava ser oma a6 aa que soldados a pé continuaram decisivos em batalha por todo xy eockpit da Europa Ocidental, um pare feat eee aera intervalo de tempo, a establizayao de armas de infantaria teve o efey TE a eda ea poder i de equilibrar taticas, adestramento e outros aspectos da vida militar, je equilibrio de poder apenas locais e SuPer ae ce A estabilizago nunca se completou, como veremos no pry 0 ET eae le aR re capitulo, mas parece claro que, quando os padres de adestrament ntretanto, o resultado foi expansao sistemdtica ~ na Si se e administragao do principe Mauricio se espalharam pela Europa, ‘Américas. A expansao de fronteiras, por seu turno, si frande onda de mudangas no gerenciamento da violencia organizadang gene ree decom umaaumentadariguera eta tana Tarifa che gan aoa Ri mp, fezo sustnto de instiniges armada menos oneroso do que Podemos resumir isso da seguinte forma: as coisas comegarama nes. A uropa em resume, langowse em unico autorreforsado no 'mudar no século XII, com a ascensao de forcas de infantaria capazes de esa alin oe Sk eee eae ae desafiar a supremacia de cavaleiros montados em campos de batalhe Bigg c Politica as expensas de outrus povas e govesnos 03 Tem italianos. Milicias de cidades deram lugar a profissionais contratados A histéria moderna do globo registrou esse fato € vo ata no século XIV, e um padrdo de gerenciamento politico de exéreites rmeiepess eas ts cner or de ues arertelroemening creas Permanentes rapidamente evoluiu dentro do contexto das emergentes e orgnicacinais no gerenciamento europe da wolencin organtada cidades-estados da Itélia, durante a primeira metade do século WY, to pararam permanentemente no século XVI, a despeto nova ara ser incomodado apenas pelo surgimento dos exércitos francés ¢ precisio e rigidez que os exércitos europeus obtiveram naquel ane a espanhol, apés 1494, Entio, comegou uma reprise do desenvolvimento Bp conirio, a inovario tecnoligica¢ em organlzardo continuo, {taliano, em uma escala territorialmente maior, na Furopa transalpina, cin sos auropais superar tos poyee do nlaneta de fap realizando um padréo reminiscente da administragio de cidade-estadg faa vex mats enftica até oimpertalismo global do séeulo XIX tornar- italiana em meados do século XVII, quando a arrecadacéo de impostos se tdo barato e facil para europeus quanto foi catastréfico para astaticos, © 08 gastos militares (terra e mar) entraram em uma relagao mots ou africanos e outros povos da Oceania. a ‘menos estivelem palses comoa Franca, as Provincias Unidas e Inglaterra, Os capitulos subsequentes deste livro referir-se-io a ess mudangas. © Uma definsao mais restrta reduz 0 periodo em que o mesmo pado prevaleceu Por um mero século: 1730 a 1830. Para detalhes sobre as pequenas variagées em rojeto e sobre a forma que o Board of Ordnance lidou com crises sibitas, quando grandes niimeros de mosquetes eram procurados em periodos curtos de tempo, ver BLACKMORE, Howard L, British Miltary Firearms, 1670-1850 (Londres, 1964), ee Capitulo 5 Tensao na burocratizacao da violéncia na Europa, 1700-89 sucesso destacado de governantes europeus em burocratizar a violéncia organizada e encapsulé-la dentro da sociedade mntrou o século XIX. As vitdrias que os europeus regularmente 1m em conflitos com outros povos da Terra, durante esse perfodo, taram 0 cardter excepcionalmente eficiente de seus dispositivos meércio além-mar, que ajudow a tornar os custos de manter exércitos has permanentes mais faceis de arcar para os europeus. Por 9, governantes, especialmente os localizados dentro das fronteiras da ciedade europela, estavam na feliz e inusitada posi¢ao de nao terem ue escolher entre armas e manteiga, mas podiam, em vez. disso, ajudar ‘si préprios a obterem ambas, ao passo que seus séditos também sstavam aptos a enriquecerem. Sem diivida, a longa sucesso de bons anos de colheitas ¢ a sseminagao em solo europeu de produtos agricolas americanos, como milho e batatas, tiveram mais a ver com a prosperidade da imeira metade do século XVIII que a simples agao governamental. a aceitabilidade de padrdes politico-militares do velho regime foi mente aumentada, por todos os interessados, pelo crescimento condmico que se estabeleceu na Europa, a oeste da Irlanda, até as s da Ucrania, a leste, durando pelas pacfficas décadas que se seguiram ao fim da Guerra da Sucessao espanhola, em 1714. No entanto, na segunda metade do século XVIII, itensos desafios as padres polftico-militares existentes na Europa fizeram-se sentir.

You might also like