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fa CONTABILIDADE LOI SIOME Cs y= as CONVO N ten MutT) | E RoBerTo Luts Outnto Ramos eeu FERNANDO Cartos G. DE CERQUEIRA LIMA | NELSON HENRIQUE BARBOSA FILHO REBECA PALis eed Re eee Tea "Todo analista econdmico tem obrigagio de conhecer o Sistema de Contas Nacionais, Pree ee ere ere eee en eee eeu Este livso apresenta detalhadamente os principais conceitos da contibilidade nacional, ees Poet eee A-competéncia, a clareza ¢ a objetividade do texto ausiliam o leitor no apenas etre Peentece eee ere ey Se ee he coe Sonos tales agen oat een ett encima Ber esi ae rela ntender adequadamente como os agregadas mactoecondmicos slo construiddos Pe ee ee eee ee es © livro Contabilidade Social: a nova rfeincia das Contas Nacionais do Brasil, além de -a ¢ abrangente 0 novo Sistema de Contss Nacior apresentar de forma didi 5 ee ee eee eres Pee eaten et ete ee acer ee ee ON eee ee eee ee que celebrar a publicagio da 34 edigao do livro Contabildade Socal:0 nova referencia 4 Ce eee een eee Sen ee eer Percent Coe een eee ea) eee ee Te) do setor de servigos ¢ do setor piiblico, Os maiores avangos se situam nas estimativas ee ee eee ee ee os ee eee er een das contas nacionais, estamos frente de um PIB mais sensi ees ee ee et ee eee ee Se ete eat ee ee es fontes de informacies sio usadas, atividades desagregadas e produtos incorporados, Some a descontfort Se ee \dquirem vida, os investimentos sio reponderads, setores perdem Sear ee ts eer een oes Sst cd ereererentnrCentncecy (el eee oad eo Decne cet Preencha a ficha de cadastro no final deste livro @ receba gratuitamente informagoes sobre os lancamentos e as promocées da Edtora Campus(Elsevier CConsulte também nosso catélogo completo e tltimos langamentos em ‘wwwelsevier.com.br FISeVviER CONTABILIDADE SOCIAL ae" ‘Canstent ApARECIDA FE1}6 © Ronerto Luts O1nTo Ramos [oxcantzaDons] FERNANDO Cantos G. DE CeRQUEIRA Lima NELSON HENRIQUE BARBOSA FILHO Repeca Pats Terceira edicao revista e atualizada 3 Tiragem Ce Canapric ©2004, Elsevier Editora Lida. “Todos oe drooe reservar « protgios pola el 8610 de 1902/1998 Nem parte deste to, em autora préa po esi da aatra poser st rproourids ou anata jam qui orm o meio erage: Gloronios, mecticos faogetecs grvaqao.ov unique auras. copsesque ‘ara Kamer EstrspzoEstenica Esti Casioton owssa Ges ene Tebea Proje Graco ElseverEator ide. 2 Quasade deinfrmagso Fa Sete de Setembro, 1 -16t ander 200-006 Fe do ane Pu Bras Telefon: (21) 3970-0500 FAX: (2) 2507-1981 mat no@osovercomr Epentone Sao Pau: Fea Quintana, 7836" andor (4869-011 Brookia Sao Paulo SP Tel (11) 5105-8555 sen 978:95-052-26823, la: Mut zo eerie foram empregacos na di deta obra, No ent, podem ocome eros be ‘Sataco.mpreaato ou dvi conceal. Em quater das dteses, solctaos a comanicapte a nosa Cena de Relaconemerio, pra que possames ecoarce’ ov encaminhar a qos0. ‘Nema ellos nom aor assumem qique espersablidade pr evertolsdanos ou pera a pestoas cu bens cignade do uo desta publearao, ‘Cental de Relacionanento Tet oso0n26s40 Fin Sele de Setembro, 11, 16°andar Conroe de (ceP: 20080-008 mat nfesatavor com br So wn elsevorcomtr ‘cP-arel,Catsogapto-n one ‘Snleta Nacional dos Ears de Lio, RU ore Conta seit Carmom Agari Fl. tl) fe de Jana: Eco, 2003 - 3 Reimpessao. son a7a.8ss52.28003 1. Conabbandepibtea 2. Cortbikade soc 2. Conia naiona. Fi, Caen Apareca on-104a coo -s383 (eou~ 0504 PREFACIO A TERCEIRA EDICAO O livro Contabilidade Social chega & terceira ediga0 consolidado como o livro que apresenta de forma didatica e atualizada 0 Sistema de Contas Nacionais na revisao de 1993 ¢ o Sistema de Contas Nacionais do Brasil. Esta edic2o incorpora a revisao me- todolégica do célculo das séries das Contas Nacionais do Brasil na base 2000, confor- me divulgado pelo IBGE em matgo de 2007. Apresenta também um capitulo novo sobre o PIB trimestral, aestatistica de conjuntura mais relevante para anilises de cur to prazo da economia brasileira, Os capitulos que compOem esta nova edigdo foram atualizados e em grande medi- da reescritos. A ordenagao dos capitulos ¢ dos anexos também sofreu modificagao na, bbusea de maior didatismo e integragio entre os assuntos. Desde 0 langamento da primeira edigdo, em 2001, recebemos numerosa corres- pondéncia de alunos e professores, que muito nos ajudaram a aperfeigoar nosso traba- Iho, A eles nosso especial agradecimento. Gostariamos de destacar em especial as proficuas contribuigdes dos professores Eduardo Pontual Ribeiro, do [E/UFRJ, Mar- cio Issao Nakane, da FEA/USP, Ricardo Kureski do IPARDES/Parané e Francisco Farias, da LCA consultoria, que obviamente esto isentos de incorregdes que porven- ‘ura persistam, (Os onGaNtzaDORES Novembro de 2007 PREFACIO A SEGUNDA EDICAO Ha poucos livros-texto sobre Contabilidade Social no Brasil. Este texto continua se distinguindo dos demais por ser 0 tinico que trata do novo sistema de Contas Nacio- nais, incorpora modelo de contas ambientais ¢ discute indicadores sintéticos. A re- ceptividade da primeira edicao estimulou a nova edigio deste livro, que apresenta duas novidades principais. A primeira 6, como no poderia deixar de ser, a ineorpora- edo das alualizagdes na apresentagio do sistema de Contas Nacionais, conforme di- ‘ulgado pelos érgios oficiais de estatfstica no Brasil. A segunda é a apresentagio dos capitulos que, além de terem sido reordenados e em muitos casos reescritos, siio acompanhados de informagées complementares disponibilizadas no site da Campus na Web (www.campus.com.br). La voce encontraré transparéncias para orientacio a professores na preparagao de cursos, um tutorial sobre matrizes para facilitar o enten- dimento dos capitulos de matrizes de Insumo-produto exercicios adicionais para ajudar os alunos no aprendizado da matéria, O material que se encontra no site seré atualizado permanentemente pelos autores, incorporando sempre novos temas questdes de interesse sobre Contas Nacional Oesforgo de tomar o livro mais didatico implicou a divisao dos capitulos em trés partes. Na primeira parte, Capitulos de I a 7, esté a apresentacao do sistema de Con- tas Nacionais. Na segunda parte, Capitulos de 8 a 1, esto os instrumentos das Contas Nacionais, ou seja, as matrizes de Insumo-produto e os nimeros-indice. A terceira parte, com o Capitulo 12, trata de um assunto que, a rigor, nao integra literatura cor- rente de Contas Nacionais ~ os indices sintéticos, Na primeira edigao deste livro esse tema foi tratado num apéndice. A popularizagao da metodologia de indices sintéticos, em particular do indice de Desenvolvimento Humano, ea importancia dessa estatisti- ca para politicas piblicas, nos levou a dedicar um capitulo a esse assunto. Na revisio dos capitulos, de uma forma geral, novos exereicios foram incorpora- dos, assim como novos anexos detalhando e aprofundando aspectos apresentados nos capitulos. Os Capftulos de I a 4 correspondem aos dois primeiros da primeira edica0, porém expandidos ¢ atualizados. No Capitulo | a énfase € na apresentagao do Fluxo Circular da Renda. O Capitulo 2, que trata dos agregados mactoeconémicos e das identidades contabeis, amplia a discussio sobre a contabilidade a pregos constantes & presenta um anexo detalhando a questio do encadeamento das séries ao longo do rieeetainemiaiamainaiatinen eaemasias ELSEVIER tempo. O Capitulo 3, dedicado & apresentagtio das Contas Econémicas Integradas ¢ das Tabelas de Recursos ¢ Usos, contém duas novidades: um anexo explicando como a variagao de estoques ¢ estimada em Contas Nacionais, e,no site do livro, uma plani- tha Excel para. leitor exercitar esse tipo de célculo e verificar o impacto de diferentes variagdes de pregos sobre os resultados. O Capitulo 4 apresenta as Contas Econdmi- cas Integradas por setor institucional e um anexo sobre Matrizes de Contabilidade So- cial. No Capftulo 5, sobre Balango de Pagamentos, é feita uma ampla atualizago da terminologia e conceitos acompanhando a nova metodologia do Banco Central na apresentagdio das contas externas. O Capitulo 6, da mesma forma, atualiza a termino- logia das Contas Monetirias ¢ Financeirase incorpora um anexo sobre a Conta Finan- ceira Consolidada, disponibilizada pelo IBGE em parceria com o Banco Central em Julho de 2003. Saber como « estatistica é construida 6 condigdo fundamental para usé-la correta- meni, Este livro, a0 apresentar o sistema de Contas Nacionais do Brasil, tem como objetivo treinar os alunos na leitura das estatfsticas econdmicas com o intuito de capa- cité-Los em andlises ¢ interpretagdes sobre a economia, Nesse sentido, vale destacar a anlise sobre a evolugao da economia brasileira apresentada no final do Capftulo 5. Essa anilise € um exemplo de como ler ¢ interpretar as estatisticas oficiais Este texto tem sido adotado em diversos cursos de graduacaio e de pés-graduagio no pais, em cadeiras voltadas para o ensino do sistema de estatisticas oficiais. Nos cursos de economia da UFRJ, da UFF e na pés-graduagao na ENCE, este livro tem sido referéncia sistemética, Queremos, por fim, agradecer aos professores e colegas economistas que em di- versas ocasidies nos procuraram com comentirios e sugestOes oportuntas sobre 0 con- teiido do livro. Os aurorEs Agosto de 2003 PREFACIO A PRIMEIRA EDICAO A organizagao deste livro preocupa-se em apresentar de forma didtica os sistemas contibeis de estatisticas econdmicas oficiais ~ Contas Nacionais, Balango de Paga- mentos, Contas Monetatias ¢ Financeiras ~e seus instrumentos de andlise ~ Matriz de Insumo-produto e Nimeros [ndice — que sto objeto de produgio continua por institui- ‘gbes piblicas, Além desses sistemas, este livro também apresents modelos pretimi- nares de Contas Ambientais e uma discussio sobre indices sintéticos, como o Indice de Desenvolvimento Humano, incorporando os avangos recentes dos Srgiios produto- res de estatisticas oficiais nessas dreas. Esta forma de organizar o livro toma como base a nova verso do sistema de Con- tas Nacionais divulgada pelas Nagdes Unidas em 1993 e que & a adotada pelo IBGE para a produgao das Contas Nacionais do Brasil. A concepeao do novo sistema é a de integraros diversos sistemas contibeis de representagiZo macroecondmica da realida- de ea de desenvolver Contas Satélites que permitem a investigagaio de variéveis liga- das ao sistema principal, porém sem se restringir & obtengio de dados expressos em valor ou com # mesma definigdo conceitual. Este livro pretende estabelecer uma nova orientagao para 0 ensino e a pritica da Contabilidade Social, que agora requer um tratamento integrado de quest6es econd- micas, sociais, demograficas e ambientais. Como livro-texto em cursos de Contabi- lidade Social, o presente livro tem a meta de treinar estudantes na leitura ¢ interpre- taco de estatisticas agregadas ¢ indicadores sintéticos Igualmente importante € o objetivo que este livro tem em servir como referéncia para profissionais que necessitam usar estatisticas oficiais, tais como jornalistas, esta- tisticos, analistas de mercado, contadores, administradores e engenheiros de produ- ‘cdo, Pela sua abrangéncia e aceitago como modelo-padrio para a produgao de esta- {isticas para a tomada de decisdes de impacto sobre a economia, © novo sistema de Contas Nacionais € a ferramenta mais importante para um acompanhamento sister tivo da realidade econdmica e social dos paises. No primeiro capitulo considera-se que as Contas Nacionais oferecem um sistema contabil de representagao da realidade, de inspiragdo keynesiana, que sintetiza de for- ma coerente 0 funcionamento da economia. Neste sentido, as Contas Nacionais ofe- recem informagao para a construgo de modelos, para anise de alternativas de poli- a REA ISoaesee SMP: ELSEVIER tica economica e para referendar decisdes. Assim, as Contas Nacionais so uma ferra- ‘menta importante para descrever e administrar a economia e oferecer medidas quantita- tivas internacionalmente aceitaveis para a avaliagio da performance econdmica num ni vel agregado, Si descritos nesse capitulo os principais agregados macroecondmicos ¢ as identidades contibeis que permitem sua deriv: No segundo capitulo € apresentado 0 novo sistema de Contas Nacionais conforme ‘manual das Nages Unidas e sua aplicacdo as Contas Nacionais do Brasil. A exploragao dos dados empiricos das Contas Nacionais do Brasil permite que se avalie a riqueza de informagdes do novo sistema, que possibilita andlises do ponto de vista dos setores ins tucionais, através das Contas Econémicas Integradas, e por setores de atividade, através das Tabelas de Recursos e Usos. A apresentagao das Tabelas de Recursos ¢ Usos permite 0 desenvolvimento dos capf- tulos sobre a matriz de Insumo-produto. No terceiro capitulo € apresentado 0 modelo tedrico da matriz de Leontief. No quarto capitulo, & apresentado como a matriz de Insu- mo-produto é calculada e integrada ao sistema de Contas Nacionais, Hé uma preocupa- so nesse capitulo em priorizar o lado pritico desse assunto ¢, portanto, trabalha-se com 0s resultados empiricos da matriz de Insumo-produto do Brasil. No quinto capitulo ex- Ploram-se as utilizagées mais freqientes das matrizes de coeficientes técnicos. Nesse capitulo também so descritos 0 calculo de medidas-sintese que caraeterizam as ativida- des econdmicas eas metodologias utilizadas para comparar matrizes de diferentes perfo- dos. No sexto capitulo explora-se assunto de grande importancia em anilises macroecon6- micas que sdio os niimeros-fndice, Nesse capitulo sao estabelecidas ligagdes entre as for- ‘mulas para o seu célculo e as operagdes das Contas Nacionais a pregos correntes e cons- tantes, No sétimo capitulo objetiva-se descrever e analisar as transagées econémicas de um pais com o mundo exterior, através das informagdes reunidas nas contas de seu Balan- 0 de Pagamentos, Nesse contexto si feitas consideragies sobre a importincia das transagGes externas de um pais e apresentados conceitos, definicdes e prin cos relativos as estatisticas utilizadas para a construgio de um Balango de Pagamentos. Analisa-se detalhadamente a estrutura de um Balango de Pagamentos, fazendo compa- ragdes internacionais ¢ conferindo énfase as transagdes do Brasil com o exterior. Espe- cial destaque & dado A conta corrente do Balango de Pagamentos e & sua interpretagao A luz dos grandes agregados macroeconémicos derivados dos capitulos iniciais. No oitavo capitulo apresentam-se os elementos constituintes de um sistema financei- 10, destacando seus instrumentos, instituigdes e mercados, assim como as relagGes con- tabeis do Banco Central com 08 bancos € o Tesouro Nacional. A compreensio desses Pontos serve de base para o estudo da Matriz.de Fluxo de Fundos, que na concepeio do novo sistema de Contas Nacionais é visualizada nas contas de Acumulagio, que slo par- te das Contas Econémicas Integradas. No nono capitulo introduzem-se as Contas Ambientais, tema que passow a integrar ‘ais recentemente o sistema estatistico dos pafses. Como visto nos capitulos anteriores, centro de preocupacio das Contas Nacionais é a atividade ecandmien Necc ant 1 PREFACIO A PRIMEIRA EDICAO Xi explora-seaidéia de que o valor do PIB depende do que se conceitua como “front de produgao”, As atividades que esto excluidas nessa classificagao nao sao conside- radas como produtivas e sua variagao no afeta a medida dos agregados das Contas Nacionais. As Contas Ambientais surgem como uma tentativa de se ajustar 0 célculo, do PIB convencional a degradacdo do meio ambiente em seus miltiplos aspectos. Em suma, objetiva-se neste livro produzir um texto didatico e acimia de tudo atuali- 27ado para cursos de Contabilidade Social que permitam desenvolver nos alunos a ap- Lidio de ler e analisarinformagdes estatisticas de contetido econdmico, bem como in- terpretar corretamente as estatsticas oficiais produzidas, que so, em iltima instan cia, a base para a tomada de decisdes piblicas e privadas de grande impacto sobre as economias. (Os autores: Outubro de 2000 wy SUMARIO Prefacio a terceira edigto. Prefacio & segunda edicao Prefacio a primeira edicao. CAPITULO 1 Introducéo a contabilidade nacional . Introdugio . < Macrosconomin cas origens keynesianas da conta nacionals ........6064 Fluxo circular da renda 6 Fluxoe estoque. . 2 10 Oscomponentes dosistemade contabilidade nacional. “12 CAPITULO 2 Agregados macroeconémicos e identidades contdbeis 3 vos 1B Introdugao - a we 18 Agregados macroecondmicos . 118 PIB real ow apresosconstantes de wm ano determinado swe Resumo foes 235 Identidades contabeis 36 Comparagdes internacionai ea medida paridade do poderde compra «43 Anexo: indices sintéticos 60 indice de desenvolvimento humano..........49 CAPITULO 3 As contas econémicas integradas e as tabelas de recursos e sos... . 60 Introdugaio “ 60 Antecedentes « . 2 ‘Uma visio geral do nove sistema de contas nacionais: as contas ‘econdmicas integradas eas tabelas de recursose USOS oe 52522263 Contas de operagdes de bens € servigos, contas econdmicas integradas (CEIS) ¢ conta de operagées correntes com 0 resto do mundo ~ Brasil (2000) Conta de operagdes de bens e servigos .. +68 +68 Matriz.de fluxo de fundos.. 178 AS contas econdmicas integradas: contas correntes .. a ina TS Contas econ6micas integradas: conta de acumulagao : ai Construindo uma matriz de fuxo de fundos 179 Conta de operagdes correntes com o resto do mundo . 82 Anexo: Glossario = 195 Tabelas de recursoseusos ......., = 84 Anexo 1: Variagdo dos estoques em contas nacionais : 98 CAPITULO 7 Anexo 2: Tabela de recursos de bens-e servigos Brasil ~2000 bo 102 Nimeroscindice «---------- - Anexo 3: Tabela em uso de bens e servicos Brasil=2000...... 105 Tntrodugio ‘Aneso 4: Componentes do valor adicionado Brasil~2000 .. 108 Conceitos bi | Produto, CAPITULO 4 Classificagio de atvidades eprodutos Contas econé: 10 Periodo de coleta Introdug8o eee voceeecneee me Conceito de relative Conta operagdes de bens e servigos e operagdes correntes com 0 Reetode-base resto do mundo. a veces ll Bases de uma série de nimeros-indice Contas econdmicas integradas: contas correntes 4 Aiea ve wa (Gritérios de nvalinggo de um nimesn:fodice coe Conta de distribuigio primaria da renda: conta de geragio da ronda 113 Emprego de médias para célculo domimero-indice ++ +e. Conta de distribuigto priméia da renda: alocacao da renda Conta de distribuicao secundaria da renda . Conta de usodarenda........... Contas econdmicas integradas: conta de acumul ‘Anexo: Contas econdmicas integradas conta de vo simples (indice de Bradstreet) [Niimeros-indice ponderados Mudanga da base de comparagao em uma série de nme Exemplos de utilizago de nimeros-indice. . Indices de “infl indice ponto a ponto ou das médias. CAPITULO 5 CAPITULO 8 Balango de Pagamentos......... © Sistema de Contas Nacionais Trimestrais..... 6.6. 00e0ee00e 4 245 Introdugao . introdugdo .... 245 Estrutura bésica ‘Antecedentes das contastrimestrais brasileiras «0... 226 Exemplosde registro comtbil - Divulgagio dos dados.. - ce 247 Balanco de pagamentos econtas nacionais. . 146 Especificidades das contas trimestrais = 250 251 ‘Saldo em conta corrente e posigao internacional de investimento ve ev oees 149 Ajuste sazonal : [Ajuste das sériestrimestraisaos totais anus = 254 Anexo 1: Quadro resumo dos exemploy dd registro contdbil Evolugao das séries trimestrais, 256 apresentadosna segao 3. 153 ‘Anexo: Séres a pregas constantes de um pertodo fo i séries encadeadas .....22. +2405 263 CAPITULO 6 Contas monetarias e financeiras . 9 aaa 155 CAPITULO 9 Tntrodugdo 2... 155 © modelo de insumo-produto ...-6.e6eeeeeeees ++ 266 Moedae sistema financeiro . 156 Introdugdo 266 Instrumentos financeiros 1158 Hist6rico. +267 Instituigdes financeiras, 1160 Represent 268 Intermediagao e desintermediagio financeira, 171 ‘Omodelode insumo-produto....+..ss000++ 274 Hipsteses do modelo Modelo de Pregos........... = Interpretacao do coeficiemte técnico considerando os dados bisicos . (O impacto da unidade de investigacao nos coeficientes técnicos Anexo: Elementos de dlgebra linear CAPITULO 10 Célculo efetivo de uma matriz de coeficientes técnicos...... Introdugo 7 5 Cileulo efetivo das matrizes de eveticientes téenicos 295 CAPITULO 11 Aplicagées do modelo de insumo-produto 307 Introdugao ara aeaeinn us saves OT Medidas derivadas ....00...0000ceeeeee cece BID, Multiplicador de emprego . 315 Lista de variaveis .. . 324 INTRODUGAO A CONTABILIDADE NACIONAL Este capitulo apresenta os objetivos da Contabilidade Nacional como disciplina associada & macroeconomia de Keynes. A seguir éfeita uma descrigdo esquemé- tica do funcionamento do sistema econdmico através dos diagramas de fluo cir- ‘cular da renda, O capitulo finaliza com a informacao sobre o que esta dispontvel ‘aiwalmente no Sistema de Contas Nacionais do Brasil. INTRODUGAO: As contas nacionais sZo a principal fonte de estatsticas econdmicas para economistas ‘epesquisadores comprometidos com anilises sobre o funcionamento da economia. A cestatistica mais importante derivada do Sistema de Contas Nacionais de um pais € 0 Produto Interno Bruto ~ PIB ~ que, como yeremos em detalhe no préximo capitulo, rede 0 total da produ liquida de bens e servigos de uma economia em um periodo de tempo.! Explicar como se dé a evolugio do PIB ¢ tarefa para a teoria macroecond- ‘mica, que através da construgiio de modelos te6ricos, analisa e interpreta 0 comporta~ ‘mento das variveis relevantes para o entendimento dos movimentos do PIB. As contas nacionais fornecem o insumo em termos de dados estatisticos que possibilitam a aferigao empitica dos modelos teéricos desenvolvidos no campo da mactoecono~ mia, Nesse sentido, a contabilidade nacional deve ser entendida como um sistema contabil que permite a avaliagao da atividade econémica em um determinado periodo em seus miltiplos aspectos. O método de avaliagdo consiste em hierarquizar Fatos econémicos, classificar transagées relevantes e agrupa-las para serem quantificadas e acompanhadas de forma sistemitica e coerente. Dada a relagiio entre a macroeconomia € as contas nacionais definimos o Sistema dde Contas Nacionais como uma ferramenta com um objetivo bem estabelecido: a par- tirde um marco estrutural tedrico, apresentar recomendagdes de como obter os dados 1 produgo quid 6 definida como a produso total da economia excluindo-se osbens servigos wil zaxdos como insutnos paras produgo de outros protos evitando-se, desta forma, a dupla contagem. para quantificar esse marco. Assim, o seu desenvolvimento se di através da interagiio entre desenvolvere aprimorar a base conceitual e, ao mesmo tempo, desenvolver pro- cedimentos para quantificar estas varidveis. A teoria macroeconémica se dedica primordialmente a, pelo menos, dois grandes temas: explicar 0 crescimento a longo prazo e estudar flutuagées ciclicas. Como ilus- tragao dos tipos de comportamento agregado da economia que mais interessam para a anailise, apresentamos no Grifico | a evolugdo das taxas de crescimento real do PIB brasileiro de duas formas: comparando o creseimento anual em relagdio a um ano base (indicador de base fixa) e em relagdo ao ano anterior (indicador base mével). O pri- meiro tipo de indicador mostra a tendéncia de evolugdo da economia ao longo do tempo, ou seja, a trajetéria de crescimento econdmico, ¢ o segundo a evolugao ano a ano, Em termos de tendéncia, o indicador de base fixa exibe uma clara trajetéria de crescimento da economia brasileira ao longo das tltimas décadas, Porém, observan- doa evolugao ano a ano, constata-se que o crescimento niio é linear, ou seja, apresenta fases em que o ritmo de expansio é mais répido, como nos anos 1970, € fases onde & ‘mais lento, ou nao se verifica crescimento, ou ainda quando ocorren um decréscimo da produgao, como em 1980 e em 1990, Além de anzitises quanto ao desempenho da economia de um pafs a0 longo do tempo, as informagdes das contas nacionais também possibilitam comparagdes internacionais. Assim, comparando as taxas de crescimento do PIB dos diversos paises, bem como dos principais agregados macroecondmicos, a teoria econdmica dispie de informagao para investigar porque alguns paises so mais ricos ou erescem mais rpido do que outros, GRAFICO 1 Indicadores de evolugdo do Produto Intern Bruto do Brasil 1970-2006 eRESEEEEELE Fonte: IBGE, Sistema de Contas Naciones, ~*~ INTRODUGAO A CONTABILIDADE NACIONAL 3 Os aspectos relevantes da atividade econdmica, objeto de acompanhamento pela contabilidade nacional, sio as transagdes monetérias que decorrem do proceso de producao. Em assim sendo, nem todos os aspectos da atividade econdmica sao con- tabilizados, apesar de terem impacto no bem-estar da populagao. A poluigao, por exemplo, conseqiiéncia da atividade produtiva, ilustra esta situacio. Quando uma atividade econémica gera uma externalidade, positiva ou negativa, os custos e be- neficios sociais decorrentes nao sao contabilizados nos quadros basicos do Sistema de Contabilidade Nacional Por se tratar de um sistema contabil, as relagdes que silo deduzidas, apesar de con- tabilmente corretas, ndo explicitam relagdes de causa e efeito entre as varidveis eco- ‘némicas. A teoria macroeconémica cabe a tarefa de explicar estas relagdes, Esta ob- servagao niio deve diminuir 0 interesse ou a importiincia da contabilidade nacional, pois € ela que nos fornece um sistema de avaliag2o consistent, padronizado e cont nuo da atividade econdmica. E, portanto, uma referéncia importante para orientar agentes econdmicos na tomada de decisdes no mbito da macroeconomia. Devemos Jembrar que o seu desenvolvimento é relativamente recente e data do surgimento da macroeconomia keynesiana? como um campo de estudo dentro da teoria econémica.’> Linguagem de Modelo ¢ Linguagem Contébil Devemos distinguir em economia 6 linguagem contabil da inguagem de modelo, Um modelo econémico, com representagio matemétice, 6 uma construgéo teérica que des- creve, alraves de equacées, relagses ene duas ou mois variveis. Estas relacées, quando testados empiricamente, geram um resultado que estima o valor de uma ou mais aridvels, ou simula efeitos de mudancos nas varidveis de resultedo, Um modelo contabil trabolha com identidades que representam motematicamente 0 iguoldade de duas ov mais varidveis, que sao iguais por definicto, sem estabelecer rela~ 60s de causalidede. Sistema de Contas Nacionais se desenvolveu dado o reconhecimento pelos pafses da necessidade de producio sistemética e compardvel, no tempo e no espago, de estatisticas econdmicas para orientar a tomada de decisdes, tanto na esfera piiblica ‘como na privada, Nesse sentido, a divisdo de estatistica das Nagdes Unidas, desde o fi- nal da II Guerra Mundial, labora manuais metodolégicos com objetivo de servir de re- feréncia para a produgio de estatsticas pelos érgiios produtores oficiais. As estatisticas ‘mais importantes encontram-se organizadas através do Sistema de Contas Nacionais, A obra de Keynes inspraora do desenvolvimento do Sistema de Contas Nacionais foi How to Pa for ‘he War, publicado em 1940, Para uma discussoarespeto ver Nunes, 1998, cap. 2¢ Kurabayashi, 1994 2 Vale observar que antes de Keynes vias entativas de mensurao da Rena Nacional a haviam sido eis. Merece destaqe especial trabalho de Simon Kuznets, nos EUA, nos anos 1930, mas foj Keyes quem pro- _s pela primeita vez a constr de um sistema conti, baseado no modo de ptidas dba, parse ‘chegar a uma medida da Renda Nacional e de sua distribuiclo por setores inttuciomais a cada neriodo. ‘@ CONTABILIDADE SOCIAL ELSEVIER de que trataremos na maior parte deste livro. Alm das contas nacionais, as recomenda- c6es internacionais fornecem suporte metodolégico para a construc de Contas Satéi- tes, que sto estatfsticas desenvolvidas para atenderem a objetivos especificos, no co- bertos pelo Sistema de Contas Nacionais tradicional, porém mantendo rela com ele (ver, por exemplo, Moulton, B. R, 2000 ¢ Nordhaus, W. 2000). Um exemplo de Conta Satélite € a contabilidade da atividade de turismo, que nio & propriamente identificada ‘na contabilidade nacional, pois implica regras de classificagaio de atividades e de tran- sages diferentes das do sistema tradicional Orelevante paraesse ivro € registrar que o Sistema de Contas Nacionais ¢ os ins- trumentos analiticos a ele associados (a matriz de Insumo-Produto ¢ 0 conjunto de indicadores econdmicos, sociais e demogrificos usualmente construidos pelos es- crit6rios de estatistica dos paises) so as referéncias empiricas fundamentais para estudos trabalhos dos economistas, cientistas sociais e demais profissdes envolvi- das com andilises agregadas, As atuais referencias metodol6gicas desse livro so 0 ‘manual das Nagdes Unidas — System af National Accounts (SNA 93)~ publicado em 1993 em parceria com o Fundo Monetario Internacional, Banco Mundial, a Organi- zagiio para a Cooperagio ¢ Desenvolvimento Econémico OCDE e a Comissiio das ‘Comunidades Européias - EUROSTAT, suas atualizagdes e as publicagdes sobre 0 Sistema de Contas Nacionais do IBGE — Instituto Brasileiro de Geogratin e Estatis- tica, érgiio oficial produtor de estatiscas do Brasil MACROECONOMIA E AS ORIGENS KEYNESIANAS DAS CONTAS NACIONAIS A contabilidade nacional se desenvolveu inspirada na obra do economista inglés John Maynard Keynes, que na década de trinta,langou os fumdamentos da moderna macro- ‘economia, Sua obra mais conhecida € a Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moe- da, onde apresenta o argumento de que economias de mercado, que ele denominou de economias monetérias de produgdo, no operam necessariamente no seu nivel maxi- ‘mo, ou seja, podem funcionar durante largos perfodos de tempo num equiltbrio abai xo do pleno emprego. Dito de outra forma, nao existe em economias de mercado nenhum mecanismo que garanta que o resultado agregado do esforgo produtivo num determinado perfodo corresponda ao potencial méximo que poderia ser obtido. Em Poucas palavras, recursos podem ficar ociosos, involuntariamente. Logo, cabe a ‘questo: o que determina o nfvel de produgao e emprego Com Keynes, 0 foco dos estudos em economia deslocou-se da esfera microeconé- mica para a esfera macroecondmica, ou seja, para a explicacio do que determina on 4 O IBGE foi criado em 1934 polo Decreto 24.609 de 6107/1934, porém sob o nome de Instituto Nacional ‘de statistica. Em 1967 o Decreto-Lei 161, de 13/02/1967 crow a Fundayo IBGE em substiuigdoaautar- «quia crada sob a vigencia do Estado Novo. A insttuicao 6 rgida pela * Lei Estatstica” — Lei $53 de 14/11/1968, elamentada pelo Decreto-Lei 73 177 de 20/11/1973 e em suas atrbuigGes consta no a de produzirinformacio, mas também ade coordenar a producto de estatisticas de outrs aeéncias niblicas, r ~*~ INTRODUCAG A CONTABILIDADE NACIONAL 5. vel agregado de produto ¢ de renda no curto prazo. Uma das questdes importantes que Keynes destacou foi a de que 0 comportamento do todo pode ser diferente do que 6 planejado pelos agentes econémicos, agindo separadamente, ena ignorancia sobre as decisdes dos demais. Neste contexto, a macroeconomia e a contabilidade nacional emergem como campos importantes de estudos. A macroeconomia para explicar os acontecimentos, ou Seja, 0 comportamento agregado da economia e seus desdobra- mentos. A contabilidade nacional para fornecer as principais medidas ~ os agregados macroecondmicos: 0 quanto foi produzido, consumido, investido e quanto de Renda foi getada e como foi apropriada, A teoria de Keynes, em contraposicdo a outras correntes de pensamento em econo- mia, define a determinacao do nivel de rends e produto no curto prazo como o objeto de estudo da macroeconomia, O produto geracdo em uma economia de mercado em um pe- riodo de tempo, dentro desta visio, € determinado pela demanda efetiva, ou seja, 0 {quanto 0s agentes econdmicos estio dispostos a gastar em determinado perfodo. Podemos entender o conceito de demanda efetiva como sendo o de renda esperada, cou ex ante. Como nio hi garantia de que « renda esperada seri realizada, a renda s6 se toma conhecida ex post, Assim sendo, o conceito tesrico de demanda efetiva traduz uma expectativa dos agentes econémicos em relagdo aos gastos futuros da economia eademanda agregada (que & equivalente, como veremos abaixo, & despesa, 3 renda e a0 produto agregado) 6a medida alcangada através do Sistema de Contas Nacionais, A teoria de Keynes explica por que a economia pode operar abaixo do pleno em- prego por periodos sucessivos de tempo. Isso ocorre porque agentes tomam decisdes com base em expectativas, sem com que haja qualquer mecanismo que garanta que o 4que foi planejaclo seré o realizado. © volume de emprego ofertado em determinado momento é resultado de expectativas de venda dos empresarios, que ajustam sua pro- dugio e, conseqiientemente, a oferta de emprego, conforme percebem os sinais do mercado. O que é medido pelas contas nacionais € 0 resultado agregado destes movi- ‘mentos individuais que podem ser diferentes do planejado inicialmente, consideran- 0 0 cojunto dos agentes. No sistema contibil de inspiracio keynesiana, a produgdio visa 0 mercado ¢ é en- tendida como um proceso que se desdobra no tempo, conduzido por empresas. Desta forma, « mensuragtio do produto agregado considera que a produgao de bens ¢ servi- {G05 esti relacionada com a geragdo de renda que ocorre durante 0 processo de produ- «0, tornando os fluxos de produgao e renda, medidos num mesmo perfodo, iguais. A produco gerada tem como destino mercado, onde os bens e servigos so demanda- dos para consumo final ou para investimento, No Sistema de Contas Nacionais, toda oferta (produgdo mais importago) tem um destino: ou € consumida ou € investida, ampliando a capacidade produtiva, Assim, 0s fluxos de produgiio, enda e despesa so passiveis de serem acompanh dos a partir de um sistema de contabilidade que identifique e relacione transagdes econdmicas relevantes de serem medidas ao longo do tempo. As transacdes econémicas mensurdveis em contabilidade nacional sfio aquelas re- gistradas em valor. sendo a moeda a wnidade de medica ane noe ELSEVIER: (6 CONTABILIDADE SOCIAL agregados macroecondmicos. A estabilidade da moeda é um fator importante de ser considerado na montagem do Sistema de Contas Nacionais de um pais. As relagdes fundamentais em economia podem ser sintetizadas num diagrama conhecido como fluxo circular da renda, que representa 0 circuito econdmico dos fluxos na economia. Este diagrama ¢ bastante representativo das contas nacionais, na medida em que ilustra a igualdade entre produto, renda e despesa, conforme ve- remos em seguida, FLUXO CIRCULAR DA RENDA No diagrama do fluxo circular da renda (Figura 1.1) identificamos dois setores insti- tucionais na economia: o setor familias, que consome bens ¢ servigos ¢ oferta ‘mfo-de-obra e 0 setor empresas, que produz. todos os hens e servigos da economia & emprega toda a miio-de-obra no processo de producao. Neste diagrama € possivel examinar as relagdes de troca entre estes dois setores que se originam do processo de produgo. Como estamos trabalhando numa economia onde as transagdes econdmi- cas sii efetuadas em moeda (mais precisamente através de contratos monetétios), no diagrama identificamos dois fluxos: um fluxo de trocas real (parte interna do diagra- ma) ¢ outro fluxo de trocas monetérias (parte externa do diagrama). O produto produzido pelas firmas é vendido no mercado de bens e servigos em tro- cade moeda que as familias possuem, pois recebem renda monetiria. Esta renda ¢ ge- rada pelo fato de trabatharem na produgao de bens e servigos (ofertam trabalho no mercado de miio-de-obra) e receberem como pagamento salitios (por simplicidade FIGuRA 1.1 Fluxe Circuler da Renda Promos Moneta Fis Reais INTRODUCAO A CONTABILIDADE NACIONAL 7 inclusive os donos das empresas, pois exclufmos, no momento, outros tipos de renda que as familias podem obter) ‘As transagdes so efetuadas em moeda que € 0 denominador comum de valores econdmicos. Os bens e servigos produzidos sio de natureza heterogénea, medidos em unidades fisicas distintas, que néio permitem agregacio, E apenas depois de transacio- nnados no mercado, a um determinado prego, que estes bens e servigos adquirem um valor econémico relativo. Assim, é 0 conjunto de pregos na economia que permite que se agreguem bens e servigos medidos em unidades fisicas diferentes. Podemos mostrar que o valor de um bem ou servigo (0 seu valor de produgao, VP) é composto deduas dimensdes: quantidade (Q) e prego (P). Algebricamente, para um bem i pode- mos escrever: VP,= OP, Da mesma forma, paraoconunto de bens sevigos da economia (ou dew sto), povlemos eserver Yor, onde n = n® de bens Voltando a0 diagrama, vemos que os fluxos reais medem quantidades ¢ os fluxos monetarios medem valores. As unidades fisicas ofertadas de bens e servigos e de mao-de-obra (fator trabalho) so transacionadas nos mercados de bens e servigos ¢ no. mercado de trabalho, respectivamente. Considerando 0 funcionamento agregado da economia, em termos ex post, o total de produto e de renda medidos em moeda em um. determinado periodo se equivalem. Isto ocorre porque a quantidade total de moeda ‘luindo numa diregao deve ser igual & quantidade de produtos fisicos ou fatores reais de produgiio fluindo na direc oposta. Considerando 0 mundo real, onde decisées econémicas tomadas por agentes individuais, com base em expectativas, as quantidades ¢ os valores transacionados no necessariamente correspondem a0 que foi planejado. Tanto empresas podem pla- nejar produzir (ou investir, como veremos abaixo) mais ¢ demandar mais recursos do que 0 que estara dispontvel a um determinado prego, como familias podem decidir Bastar mais do que € produzido. Se os fluxos monetétios sao distintos dos fluxos reais, entdo algum ajuste deve ocorrer. Estes ajustes podem se dar: a) através dos me- canismos de pregos e/ou b) através de variagées nas quantidades ofertadas, A énfase em qual mecanismo de ajuste predomina em situagées especificas & 0 campo da teoria macroeconémica. Em contabilidade nacional, como j4 dissemos, estamos medindo 0 que foi realizado através de mecanismos contabeis que garantem 0 equilfbrio entre os fluxos monetarios medidos e as variagdes patrimoniais decorrentes. Para darmos um pouco mais de realismo ao nosso diagrama do fluxo circular da renda, vamos supor que empresas, além de produzir bens finais, também investem re- cursos em ampliagiio de capacidade. Em economias de mercado, empresas devem buscar incorporar novas tecnologias de produgo com vistas a ampliar seu notencial 8 CONTABILIDADE SOCIAL ELSEVIER produtivo e reduzir custos ao longo do tempo. Mesmo se supusermos que a tecnolo- gia esti estagnada, empresas necessitam de recursos para repor o desgaste de capital de suas maquinas. Assim, o processo de acumulagao de capital deve acompanhar 0 processo de produgao. Familias, neste exemplo ampliado, além de consumir podem poupar, ou seja, nfo consomem toda sua renda, Dentro do setor empresas, por sta vez, fazemos a distin- ‘glo entre a produgo de bens finais ¢ a produezo de bens de investimento (de capital) ‘Ou seja, 0 produto total do setor empresas € dividido em produgdo de bens de consu- mo ¢ produgio de bens de capital, que sto consumidos pelas empresas, Para visualizarmos estes fluxos, introduzimos mais dois mercados em nosso mo- delo, Um é 0 mercado de fundos de capital, ou mercado financeiro, onde familias re- cotrem para investir recursos nao consumidos e as empresas para demandar recursos financeiros. As empresas, para produzir, ampliar seu potencial de producto ou fazer frente ao desgaste do seu capital, devem recorrer ao mercado financeiro para deman- dar recursos, pagando juros. O mercado financeiro, composto por empresas finance’ ras, exerce a fungio de prover crédito aplicando recursos captados das familias, re- munerando-os. O outro mercado é o mercado de bens de investimento, onde as em- presas cemandam bens de capital diagrama da Figura 1.2 inclui novos fluxos para representar estes mercados. Do setor familias surge uma linha canalizando recursos para 0 mercado financeiro que os disponibiliza para as empresas, No sentido oposto, empresas demandam re- cursos junto ao mercado financeiro. Do setor empresas hé linhas simbolizando as trocas com o mercado de bens de consumo e com 0 de bens de investimento, A FIGURA 1.2 Fluxo circular de ronda ampliado: Recets de vendes Bons 2 Serio aumento} Demand (o Reowece Roruneapao 6 Fora de wabao ‘str vabao fis TREES SASS ness questio que este diagrama coloca é como empresas obtém recursos para adquirir os ‘bens de investimento que sio produzidos e manter o nivel de produto da economia a um certo nivel. ‘Uma explicagdo possivel (hai muitas outras, inclusive considerar que empresas re- 1@m lucros para investimento) é que familias nao gastam toda a sua renda e poupam, disponibilizando recursos em instituigdes financeiras, como bancos que, de acordo, ‘com suas expectativas, os emprestam ao setor empresas. Empresas, por sua vez, vi- sando mafores luctus futus, planejam produzir € ampliar seus negécios, tomando, cempréstimos ¢ assumindo encargos financeiros que devem ser cobertos pelas receitas futuras de vendas. Do ponto de vista da contabilidade nacional, ex post, 08 fluxos se equilibram da mesma forma que antes, ou seja, a0 fluxo de produgiio corresponde a _geragdo de um fluxo de renda. © fluxo circular da renda ampliado para uma economia fechada © sem governo pode ser sintetizado como explicitando as seguintes relagdes contabeis: a) a demanda pelo produto € composta pelas demandas de bens e servigos finais © bens e servigos de investimento & b) arenda gerada no proceso de produgao € alocada em consumo e a parcela nao consumida é disponibilizada no mercado de fundos de capital como recurso para financiar empresas. A renda ndo consumida corresponde a poupanga, que medida ex post é igual ao investimento ex post. No mundo real, decisdes de investir por parte das empresas nao esto limitadas pela disponibilidade de poupanga das familias. Empresas podem acumular previa- ‘mente recursos e/ou podem contrair dividas para arrecadar recursos para investi ‘mento, dentre outras formas de financiamento. E facil perceber que na medida em que vamos diversificando as transagdes econdmicas entre os agentes, mais com- plexa fica a representagao dos fluxos de equilfbrio ex ante, ou seja, manter a cor respondéncia entre o que é planejado e o que é realizado. No mundo real, agentes econdmicos estiio sujeitos a desapontamentos em suas decisdes, o que provoca movimentos de ajustes (via pregos e/ou via quantidades) que se acumulam ao lon- 20 do tempo. A interpretacdo sobre em que medida estes ajustamentos distanciam ou aproxi ‘mam a economia de uma trajet6ria de crescimento equilibrada deve ser buscada na teoria macroecondmica, Keynes destacou em sua teoria que sao as decisdes de consu- ‘mo ¢ de investimento que determinam 0 volume de renda e emprego em economias de mercado. Gastos com o consumo so dependentes em grande medida da renda di ponivel, mas gastos de inyestimento s40 auténomos em relagdo & renda corrente, Assim, o ritmo de erescimento da economia esté associado ao ritmo de investimento 64 dos gastos autOnomos ano a ano, Keynes enfatiza desta forma a relevancia dos flu- xxos de investimento e, conseqiientemente, das condigdes econdimicas para que estes fluxos ocorram ao longo do tempo, VO CONTABILIDADE SOCIAL Seeeeaevenn Poupanga e Investimento em Keynes ‘Ate a publicaco do Teorio Geral do Emprego, de Juro e do Moeda de Keynes acret ‘ye-se que aumento de poupanca seria sempre benéfico & economia de um pais, pois indu- 2iriga queda das texas de res, 0 que estimularia os investimentos, e consequentementea cexpansdo da economia. Keynes mostrou que uma tentativa de cumentar @ poupanca podria reduzir a randa nacional e aumentar 0 desemprago. Isso ocorre quando o queda nos texas de rosé insu- Ficiante ou quando o investimento néo é sulcientemente sensivel 6 taxa de jures. Assim, Lum elevado nivel de poupanca néo garante um elevado desempenho da economia, ov dito de outra forma, o crescimenta aconémico nao ¢ alavancado porque o nivel de pov- ange ¢ elevado. Outros fotores, além da taxa de juros, devem ser levados em conta, em particular © estado das expectaivas dos agentes econémicos quanto co futuro desempe- ‘tho da economia, Para Keynes e keynesianos 0 componente da demande egregada a estimular o crest: mento darenda ede empregoé oinvastimento em ativos fixes que, através do efeito mult plicador, gera renda e emprago. Assim, de ponte de vista da macroeconomia keynesiona, © relagéo de causalidade entre pouponce e invastimento ocorre do invest renda que, por sua vex, gera poupancs. As transagdes econdmicas descritas no Sistema de Contas Nacional por agentes econdmicos clasificados em grupos, representando setores institucionais, ‘Nos nossos diagramas simplificados identificamos apenas familias e empresas, mas ‘uma classificagio de grandes grupos usualmente incorpora empresas ndo-financeiras, empresas financeiras, setor governo e resto do mundo. As transagdes econémicas entre ‘os setores institucionais da economia si fluxos monetérios (e financeiros) que de algu- ‘ma forma tém uma contrapartida com fluxos fisicos, de movimento de bens, servigos & fatores de producio. Alguns movimentos de fluxos silo acompanhados de modifica- «gGes em estoques. E desta relago que vamos tratar em seguida. FLUXO E ESTOQUE Uma distingZo importante que devemos introduzir agora € em relago aos conceitos de fluxo ¢ de estoque. As varidveis passiveis de serem mensuradas em macroecono- ‘mia ou so de fluxo, ou sfo de estoque. Vamos abordar esta distingo considerando cestoques de ativos fisicos € ativos financeiros. ‘Tomemos inicialmente 0 caso de bens fisicos. Gastos em bens de investimento por parte das empresas (um fluxo), por exemplo, envolvem a compra de algum tipo de equipamento ou bem de capital. A caracteristica destes bens & que ndo sao imediata- mente consumidos ou transformados em outros bens, mas mantém sua forma presen- te por algum tempo. Assim, a aquisigdo de um bem de capital aumenta 0 estoque de capital do comprador. Por outro lado, o estoque de bens de capital pode diminuir quando se deprecia pelo uso ao longo do tempo, ou quando se torna obsoleto pelo avango da tecnologia e & SE ee ee oe descartado. O aumento do estoque de capital, que ocorre através de um gasto de in- vestimento, € resultado da aquisicdo de novos bens descontado 0 gasto do equipa- mento existente. Algebricamente podemos escrever: AK =K,)—K, em que AK é a variagao de estoque de um perfodo (K, )a outro (Kys1 ), 1, corresponde ao fluxo de investimento liquide num perfodo € Tye © 1,08 fluxos de investimento bruto ¢ de reposi¢ao num periodo. Pelo que vimos, varidveis de estoques (como estoque de capital, patriménio de uma empresa, estoque de divida, estoque de riqueza) so medidas numa determinada data e sio alteradas, quando comparadas com 0 volume de estoque de uma data ante- rior, por movimentos de varidveis de fluxo ao longo de um periodo. Podemos aplicar © mesmo racioeinio para estoque de ativos financeiros. Na medida em que a compra de ativos financeiros excede a venda, 0 estoque destes ativos mantides por um setor num determinado periodo aumenta (e vice e versa) [A posse de ativos financeiros, por sua vez, aumenta 0 estoque de riqueza de um agente ou de um setor. Em geral, 0 estoque de ativos financeiros € mantido para equilibrar fluxos de receita e despesa. Se gastos excedem receitas, 0 estoque de ativos financeiros (ov reais) deve se reduzir para cobrir adiferenca ou o setor deve aumentar seu endividamento, Pelas suas caracteristicas de valorizagaio, estes ati- vos so muito voliteis. Ativos financeiros apreseniam duas diferengas em relago a ativos reais: a) sfio demandados nao pelo seu valor de uso, mas pelos ganhos fi- nanceiros que podem oferecer e b) podem mais facilmente ser convertidos em ou- to tipo de ativo financeiro, um que ofereca ao seu possuidor uma renda adicional na forma de juros e outros rendimentos. ara se entender o funcionamento macroecondmico de uma economia de mercado, € necessério acompanbar as transagdes econmicas entre os sefores no que respeita 0s fluxos monetérios e reais (como exemplificado nos diagramas de fluxo circular da renda), ¢ também como estoques reais ¢ financeiros esto sendo alterados em fun- ¢0 da variagao nos fluxos. No capftulo trés veremos que as Contas Econémicas Inte- grads, que so parte integrante do Sistema de Contas Nacionais, descrevem como os fluxos de produgao, renda, consumo, investimento, poupanga e financiamento alte- ram o patrim@nio dos agentes econémicos. Os efeitos de catdstrofes naturais sobre o PIB Uma ertea usvalmente feita ds contas nacionais serve de ilustracéo sobre a importén- cia de se compreender bom a distingdo entre variéveis de fluxoe variaveis de ostogus insergao dentro do Sistemo de Contes Nacionais. ‘Quando ecorre um ferremote ou outro tipo de eatéstofe natural em um pais hé um aU- mento do PIB do pais no period. Esse foto cpontaria para uma deficencia ne Sistema de Contobilidade Nacional, pois haveria uma contradicéo entre e ocorréncia de uma catés trofe naturale o aumento do produto agrogado. O que deve serobservadoéqueexisteno | registro dos contas nacionais vargveis de fluxo @ de estoque. Desta forma, é verdadeiro {que ofcito de um terremoto sobre o PI, por exemplo, seréo de aumentar o produto ge- | rade pelo aumento das obras de reconstrusée, dos servos gerados pelo apoio e recons- trugie ofc... Esses registro correspondem a um flxo de producto de bens eservicos que do forma aisca form gevodos para a reporacio des consaquenciasdoterzemoto.Nosr- | tonto, deve ser observado que 0 efeito do terremoto diminuio potriménio do pois no perio- | | do, ou seja, diminui o seu estoque de riqueza quando comparado com o periodo anterior. Este efeito econémice perverse tombém ¢ registrado no Sistema de Contes Nacionois, nos Contas de Patriménio, © que o Sistema de Contos Nacionais néo copta so as consequién- «Gas socicis, ambientaise outras, que néo fazem porte do corpo central da contos nacionais ‘endo s00, por conseguinte, registadas. Um acompanhamento desses outros efeitos po: ddom ser feitos ctravés das Contos Setelites, como jé mencionado. (© que desejames com a ilustragso apresentada é antecipor a importancia de se com preender quel 0 cbjetive de um Sistema de Contas Nocionais, o que pretende medir © como o for. Esta questéo voltaré a ser discutida nes préximos capitulos com a apresenta- | iste devine ne enrten ofits de Contas Nocionais. OS COMPONENTES DO SISTEMA DE CONTABILIDADE NACIONAL ‘A metodologia de mensuragdo agregada da atividade econdmica nfo tem em Keynes sua tinica inspiragio te6rica. Articula-se com o Sistema de Contas Nacionais moder- no a construgiio da Matriz de Insumo-Produto (cujo modelo sera apresentado e discu- {ido nos Gltimos tr€s capitulos deste livto), cuja metodologia foi desenvolvida, pioneiramente, por W. Leontief. Através da Matriz de Insumo-Produto também se al- canga uma medida do produto agregado da economia. Porém, seu pressuposto te6rico 0 modelo de equilibrio geral de Walras (em contraposigao ao modelo de equilfbrio abaixo do pleno emprego de Keynes). Em Leontief a atividade econdmica & descr através de fungées técnicas de produgdo, expressas por equagées lineares, onde se re- laciona o volume de produc com o consumo de insumos, dada a demands final. A ‘Matriz de Insumo-Produto, por detalhar as relagdes de troca entre os setores produti- vos dentro da economia, € um instrumento analitico que complementa ¢ enriquece 0 Sistema de Contas Nacionais, (O modelo de contabilidade nacional de inspiragdo keynesiana tem no processo de produgio a atividade central a organizar o sistema econ6mico definindo trans Ges e setores institucionais relevantes. O modelo da Matriz de Insumo-Produto de Leontief tem no mecanismo de troca o seu principio bisico de orientagao da or- ‘ganizagio da atividade econdmica. Sio, portanto, modelos te6ricos distintos, po- rémem termos de um sistema contabil integrado, como € a proposta do atual Sis- tema de Contas Nacionais das Nagées Unidas, devem produzir os mesmos resulta- dos macroecondmicos, ‘A concepgio do Sistema de Contas Nacionais moderno esté apresentada no Ma~ ual de Contas Nacionais de 1993 das Nacdes Unidas (SNA 93). Esta concepgao é no sentido de permitir a integrago do corpo central das contas nacionais com as infor- Images para a construgo da Matriz de Insumo-Produto ¢ outras informagdes macro- ‘econ6micas, oferecendo um painel da reatidade econdmica de um pais em determina do momento ¢ de sta evolugio ao longo do tempo. Desta forma, integra também o novo sistema, uma contabilidade financeira traduzida pela Matriz. de Fluxos de Fun- dos, desenvolvida originalmente por Morris Copeland na década de quarenta. O pro- pésito desta mattiz € detalhar os fluxos de poupanga ¢ investimenty Ente Us setores {nstitucionais (ver capftulo Contas Monetirias ¢ Financeiras). Por fim, o modelo atual das contas nacionais, prevé a inclusio de quadros de popu- Iago permitindo edlculos dos agregados macroecondmicos per capita, ¢ estudos de produtividade da miio-de-obra. O SNA 93 prevé ainda a apresentagao dos resultados das contas nacionais sob a forma matricial, denominada de Matriz de Contabilidade Social, Esta matriz consiste na exposicao do Sistema de Contas Nacionais incorpo- rando qualquer grau de detalhe de interesse e tem sido mais utilizado por pesquisado~ res do que por produtores de contas nacionais. ‘Atualmente ¢ largamente reconhecido que o Sistema de Contas Nacionais desem- penha trés fungdes principais: a) coordena a produgdo das estatisticas econdmicas; ») oferece precisa ¢ confiabilidade aos indicadores chave de desempenho da eco- nomia e ©) ajuda a entender as relagées entre os setores da economia, o que é fundamental para o entendimento sobre seu funcionamento. As divulgagées do Sistema de Contas Nacionais produzido pelo IBGE incluem: Contas Econdmicas Integradas (CED) Tabelas de Recursos e Usos (TRU) Tabelas Sindticas Contas Trimestrais Contas Regionais PIB Municipal Ahistéria dos Manuais ‘As origens do Sisteme de Contas Nacioncis (SCN) remontam ao relatério “Definigdo medigéo do Rendimento Nacional « Tots Relacionades”, publicado em 1947 pelo Subco- mite de Estatsticas do Rendimento Nacional da Liga das Nacées, sob orientagao de Ri- chard Stone (prémio Nobel de Economia em 1984). A partir deste estude pioneiro a orga- nizagéo de um SCN foi cada vez mais se tornando um dos projets priotterios dentro dos ‘ergonismos internacioneis que procuravam uniformizar conceitos e a estrutura de apre- sentacdo dos dados econémicos dos paises. com o crascimento das necessidades de se primoror« padronizer a mensuracco de agregodos econdmicos, estudos foram publicados e debates realizados apos @ publica~ ‘Go do primeiro relatério do Liga das Nacdes. Culminou esse estorco o informe que se fornou oprimeiro manval amplamente adotade para. consirugdo de SCN: “ASystem of ‘National Accounts end Supporting Tables” de 1953 [United Nations 1953). Ese monval ficou conhecide come 0 SNA 53 e fo escrito por um grupo de especilistas, evo principal ator foi Richard Stone, apeiedos pele Secretaria Geral das Nogies Unidas. A partir de 1964, um novo grupo de especalistas se reuniy e publicou uma reviséo e ampliacao des- semenual em 1968:°A5ystem of Noionel Accounts", SNA6B, (United Notions 1968) Em 1982, fo insituido,pelas NogBes Unidas, oInter-Secreteriat Working Group on National Accounts ISWGNA) constituide por representantes de cinco organizagées inter- racionais, além de espacelisas internacionais de varios pases. Este grupetrabalhou de forma coordenade para publicar em 1993 um novo @ renovado manual de contes nacio aie: “System of National Aecounts 1993", SNA 93 (United Nations 1993) ‘© monval de 1993 foi uma mudanga forte no desenvolvimento e implementagéo dos sistemas de contas nacioneis no mundo, pois amplou o escope de vérios concetes, rom ‘pou com o& quadros propostos nos manus anteriores, emplicndo-os pore fornecer uma descriglo mais abrangente do economic. Esse manuolestabeleceu 0 Sistemo de Contas [Nacionais como uma referdncia determinant na producéo de estatistcas econémicos © rocurou apresontareatrturae mois lexiveis de forma que suas recomendacees possam ser edaptodes em diversas condigbes econémicas. Aualmente ISWGNA trabalho na pri- imeirereviséo do manuel de 1993 prevista para sor divulgada em 2008. ‘Um aspect importante ne elaboracdo do SNA 93 foi saintogrogso com outros menu- is sobre estatistices ecandmicas como 0 OECD Guidelines on Foreign Direct Investment ‘0 manuois do FMI sobre Belanco de pagamentos eesttistiasfinonceras do govero, E interessante observoro desenvolvimento das equpes responsaveis pela claborocde dos manuais de conto naciones como um reflero do grau de complesidade que adefini- ‘fo clara dos concelos « 6 mensuracto dos agregodes econémicos tomou nas sims dé- ‘cadas, © SNA.53 foi elaborade por cinco pessoas, 0 SNA 6B envolveu 15 pessoas, O SNA 93 fj elaborado por uma equpe de mais de 50 pessoas ea partcipagao de d niaagoes iternacionas. Sistemas Estatisticos Uma caracteristca mercante des sociedades modernas 6, sem duvide, © acosso répido ‘ecficar que os agentes econdmicos tém «um volume enorme de informacées os mais va- Fiadas possiveis, A tomade de decsbes, tonto a nivel de unidades feriliores, quanto om- presarial e do proprio governo, ndo pode prescindir de um sistema dgil ofidedigno de in- ormagées. Esta importanciaindepende, inclusive, de préprio grau de intervencao do Esta- do na sociedade, Se o Estado se faz mais presente na regulogto econémica, hd que dispor dos dados relevontes pora 0 diognéstico, planejamento, execugso e acompanhamento dos politicos publicas. Se se pretend que as Forgas de mercado prevalegam, ha que se pro- ‘ver sstematicamente os agentes econsmicas com informagées confidvels para que as de s6es possam ser efetuadas com seguranca eo mercado funcione. Além disso, ¢ um foto inconteste que a domanda por informacées tendo a croscor & medida em que os socieda- dos avongam e se tornam mais complexes. Definide a atividede econémica de uma sociodade como o conjunto de operasoes pelas quois seus membros obtém, repartem, intercambiam e consomem os meios copa~ es de sotisfazer suas necessidodes individuais ecoletivas, um sistema economico pode ser entendido como a combinagde de quatro estruturas: produgéo, raparticéo, inter- ‘cambio ¢ consumo. No estudo de um sisteme, ume dupla tarefa se impée: «+ estudor quois s80 0s principais elementos desse sistema e suas relacées em um tempo (0) de evolucdo dosse sistema e, «+ estudar como foram formadas ¢ evoluiram esses elementos o suas relagées durante © tempo de duracée desse sistema, Esto “modelo” fomece os dietrizes pora ume problematica de anilise econdmica, isto 6,0 cadeia de questies que deve orientor a intorrogacée dos fotores que se traduzem, para toda e qualquer sociedade, no enfrentemento de trés problemas econémicos funda erdependentes: rentals € 1+ quois os mercodorias que devom ser produzidas e em que quantidades, ov seja, quel © volume @ quais os bens e servicos altomatives que seréo produzidos; + como deverso ser produzides 0s bens e services, ito 6, por quem, com que recursos & com qual tecnologia e, + para quem os bens deverdo ser produzides, ov seja, quem serdo os beneficérios ov, sinda, como serd distribuide © total do produto nacional entre diferentes individuos. Enfim, 0 que & produzido? Em que quantidades? Quais sao os processos tecnolégicos utilizados por uma sociedade? Qual é« sve oficéicia® Quois s00.0s regras de apropriagaoe do emprego dos fotores de producéo e dos produtos? Quais sto as formas de consumo? ‘Qual 6 o unidede interne dessas estruturase sua relacio com as outros estruturas da vide social ete.? Estas sd0 perguntas que devem oriontara estruturogio de um sistema de esta Iisticas econémicos, no quol ¢ contabilidade nacional tom popel de destague. Instrumantos basicos indispenséveis de um sistema astatistico sao os cadastros @ as classificagSes. Nos levontamentos econémicos, 0s cadastros devem fornecer um invent rio permanente de empresas, estabelecimentos ¢ outros agentes que exercam a atividade, ‘As classificagSes consideram categories diferenciadas de agentes © os critrios para suo construgdo sto variados, segundo o problema que se quer estudar e a abordagem que se quer dar. (0s levantamentos estatisticas, que variom em periodicidede, abrangéncia, conted- do, método de levantamento, métode de opuracée ¢ctltca, séo também instrumentos fundamentals dos sistemas estatisticos. Geralmente, estes so estruturados basean- do-se em levantomentos censitaris, levantamentos amostrais¢ na uilizacéo de dedos provenienies de registros administrativos. Estes dltimos (fermularios fisca, registros de importacdo ete) apresentam uiilidade estotistica embora nao sejam elaborados para isso. E de fundomental importencia, para a construgto de sistemas de informacés ‘grads, © existencia de marcos conceituais globois ¢ sistemas-sintese, que contribuem pare @ ariculacéo intersetoril ¢ ematica, para a integragio das pesquisas censitarias © ‘amostrais, estruturais © conjuntutais e, também, para a uniformizagéo ¢ padronizageo inte: normativa, metodolégica, conceitval etc SESS CE TAS [As contas nacionsis, enquante quadro de referéncia pare o Sistem Eslalistico, apr sentam a principal vantagem de permit uma visde sistémica das estruturas de producéo, ‘acumulagdo © apropriagto das diferentes otividades. A garantia dessa visdo se de através da definicdo de operacées homogéneos ¢ de estimativas coerentes dos operagées realiza- das entre agentes econdmicose setores produtivos. A integragae de informacdes, carach ristea do Sistema de Contas Necionais,resulte num testede coeréncia de estimatives pro- venientes de diferentes fontes e levantamento de dados. Esta abordagem fem a vantagem de pessibilitar uma vise sintética ede garentira coo rencio dos fluxos estimadas. For outro lado, implica trabelhar com niveis agregadas de in- formagées. Questées que impliquem desagregacao dos agentes econémicos segundo ta- ‘manho ¢ locolizagd0 espacial, por exemple, requerem outras formas de aprasentacao. ‘Assim, @ maioria dos sistemas ostatsticos divulge, além do Sistema de Contas Nacionai Lum canjunto de informacées adicioncis como, por exemple, indicadores de conjuntura (i ices de precos, de produce fisica etc) Elvio Valente RESUMO = Economias de mercado tém o processa de produgio, ¢ nao o de traca, como atividade central a organizar o sistema econdmico definindo transacbes e setares institucionais, relevantes. Ajustes de prego e/ou quantidade acorzem para balancear 0s fluxos monet As transagées econdmicas sfo efetuadas em moeda que é a medida que permite que se agregue valores oriundas de unidiades fisicas heterogéneas. = A contabitidade nacional trata da mensurago de agregados econdmicos, A Teoria Macro- cecondmica fornece instrumentos de andlise que permitem interpretar o comportamento dos agentes econdmicos e as relagdes de causa e efeito em economia, O desenvolvimento da ccontabilidade nacional esté nssaciado a macroeconomia de Keynes e sua énfase na deter= ‘minagao do produto e renda no custo prazo, "= Pelo diagrama do fluxo circular da renda identificamos como transagées econ6micas re levantes os atos de : produzir, consumir, poupar, investir¢ o financiamento da acumula- cio de capital. A dinfmica do funcionamento da economia mostra que fluxos monetérios ¢ reais alteram estoques reais e financeiros a0 longo do tempo. CONCEITOS-CHAVE = Contabilidade Nacional e Macroeconomia = Demanda Efetiva e Demanda Agregada ® Diagrama do Fluxo Circular da Renda © Fluxo ¢ Fstoque INTRODUGAG A CONTABILIDADE NACIONAL 17 QUESTOES 1, Identifique na lista abaixo quais variveis slo de uxo e quais so de estoque: ‘mgeda, ativos inanceios,renda, investimento,produeao, PIB, PIB per capita, deprecia- 0, riqueza, n° de desempregados, divida pablica, déficit pablico, consumo, quantidade de capital na economia. 2. Qual o objetivo do Fluxo Circular da Renda? 43. Descreva qual o objeto de estudo da contabilidade nacional o da macrosconomia, Como a duas disciplinas se inter-relacionam? 4. Explique os conceitos de demanda efetiva e de demanda agregada. BIBLIOGRAFIA Kurabayashi, Y. Keynes’ How fo Pay for she War and its Influence on Post War National “Accounting, in Z. Kenessey (ed), The Accounts of Nations, JOS Press, 1994, Moulton, BR. Getting the 21*— Century GDP Right: What's Underway?, American Econo- ‘mic Review, May 2000, pp. 253-58. ‘Nordhaus, W. New Directions in National Economic Accounting, The American Economic Review, May 2000, pp. 259-63. ‘Nunes, Eduardo P, Sistema de Contas Nacionais: a génese das contasnacionais modemas.e ‘evoluglo das contas nacionas no Basil, tese de doutorado, IE/UNICAMP, maio de 1998, 2 AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 0 objetivo deste capitulo é apresentar os principais agregados macroecondmi- cos, as trés formas de mensuragdo do Produto, introduzir a discussdo de valores correntes ¢ constantes, definir formas de valoracdo do Produto e da Renda, apre- sentar as principais identidades contabeis e problemas de comparacao interna- clonal dos agregados macroeconémicos, Acompanha este capttulo um Anexo so- bre 0 Indice de Desenvolvimento Humano, INTRODUCAO s principais agregados derivados das contas nacionais so as medidas de Produto, Renda e Despesa. Estas medidas, universalmente utilizadas, representam sinteses do esforeo produtivo de um pais num determinado perfodo, revelando vérias etapas da atividade produtiva. Apés definirmos os principais agregados, mostraremos que a forma para derivarmos o seu célculo € fruto de um sistema contébil, formalizado em ‘um conjunto de equagdes, que por nao estabelecerem relagdes de causalidade, so de- rnominadas de identidades contabeis. Essas identidades sAo de extremo interesse, pois formam a base de referéncia para o modelo contabilistico do préximo capitulo. Con- clufmos 0 capftulo abordando a questo da comparabilidade internacional entre os agregados macroeconémicos. AGREGADOS MACROECONOMICOS Produto Interno Bruto e as Oticas de Mensuragao do Produto primeiro agtegado mactocconémico a ser estudado ¢ o Produto Interno Bruto PIB. A medida de PIB de um pafs ou regido representa a produgao de todas as unida- des produtoras da economia (empresas pilblicas e privadas produtoras de bens e pres- tadoras de servigos, trabalhadores auténomos, governo etc...), num dado perfodo (ano ou trimestre, em geral) a pregos de mercado, Dois pontos devem ser destacados nesta ASMER SES eee LS ee AE RES SENT definigio por terem conseqiiéncias importantes na determinagao do PIB © demais agregados. O primeiro € considerar 0 que é produgao do ponto de vista das contas na- ‘cionais. O manual das Nagdes Unidas de 1993 (SNA 1993) inclui na fronteira de pro- ‘dugdo toda 1 produgdo de bens e servigos voltadas para o mercado; produgo de bens e servigos pelo governo ¢ institu vendida ou no; producao de bens para autoconsumo das familias; produc de bens de capital pelas firmas para consumo proprio; producao de servigos pessoais e domésticos quando remunerados e os servigos de habitagao pelos proprietérios ocupantes (imputagdo de um valor de aluguel as residéncias ocupadas pelos proprietarios). s sem fins lucrativos, Definigéo da Fronteira de Producéo segundo a Reviséo 1 do SNA 93 e a discussao sobre o trabalho doméstico Inclui-se na fronteire de produce: + todos os hens @ servigos que sé0 fornecidos a unidades econémicas outras que no ‘0quela que os produziu, ou com a intencée de serem fornecidos, incluindo a produgéo de bens @ sorvicas usados no processo de producdo desses bens © services; + todos es bens ou servigos de conhecimento incorporade (knowledge embodying sorvi- «es, como em inglés) produzidos por conta prépria que s8o retides pelos seus produto +95 para seu use final préprio ou para formagdo bruta de capital fxo; + servigos de habitagdo pelos proprietérios ocupantes(imputagdo de um valor de aluguel {as residéncios ocupadas pelos proprietérios); + servigos doméstics e pessocis por empregados domésticos remunerados, Essa definica das fronteiras da producéo introdux uma novidade em relagéo a versées ‘onterioras do Manual, que ¢ considerar os knowledge embodying services dentro da fron- feira da producto. Este servico 6 definide como a proviso, armezenamento, comunicaéo « disseminacéo de informacéo, recomendagées ¢ entrotenimanto de tal forma que « uni- dade consumidora possa acessar este conhecimento repetidamente. (Uma deciséo controversa quando da definicéo da fronteira da producéo 6 a excluséo dos servigos domésticos por conta prépria. A decisée de excluir este tipo de afvidado do Sistema de Contos Nacioncis foi boseada em razées puramente praticas associades édif- culdade em se estabelecer uma imputacio do valor dos servigos domesticos que permitisse ‘ume comparobilidade dos resultados entre paises. Considerou-se que uma decisdo desse tipo feria com que a estimagéo do PIB contvesse uma porcelo que seri resultante de uma “invengao" * Bsta doting foi retirada da verso preliminar Uo capitulo 6 da sevisio 1 do Manual de Contas Nacio- nas dispouivel em hip://uustats.un.org/unsd/nationalaccount/smarev asp. Um exemple desse dificuldade ¢ como responder quel seria © prego para 6 volora~ «0 da preparacao de ume refeigao em caso. Considerar cozinheiro de botequim ou de um restaurante de lux0# Uma sugestéo opresentade se- Fig considerar o custo de oportunidade, ou soja, 0 que a pessoe que prepera arefeicéo ‘genharia se optasse por trobalhar fora de cosa. Esta alternativa lavou a uma segunda ‘questo: sea pessoa que reclizao refeicéo tem doutoramento om astrofisica sve refel sG0 teria mais valor? Ovtra questéo apresentade foi o trabalho conjunto. Ou sejo, se fem cosase cozinha ao mesmo tempo que se toma conta de um bebs. Como dividiro va- lore o tempo dos tarefas? ‘A diseuss60 ndo osté encerrada, openas néo se chegou @ ume recomendastio que Lniformizasse os conceit lado. No entanto, pare que se pos sa avangarne discuss80, varies insttutos de estatistica no mundo estéo esfimando ova lordo trabalho domestica néo remunerado através de uma Conta Sotdlite de trabolho doméstico néo remunerado. As estatsticos das Contas Satélites sdo apresentadas fore do corpo centrol de Sistema de Contas Nacionais, mas mantém-se comparéveis cos da- dos centrais do sistema, oo mesmo tempo, permite o aumento nas anélises de renda © omprego. [Um outro impacto relevonte pora considerar-s0. trabalho doméstico nao rermunerado ‘nas contas nacionais seria sobre « mensuracéo do emprego. De acordo com as recomen- dacbes da Organizacto Internacional do Trabalho (OM) as pessoas econemicamente oli= ves s40 equeles engejados na producao e consideradas no sitema de contas nacionais Coso passemos e consideraro trabalho doméstico néo remunerado como dentro des fron- teiras das contes nacionais, tualmente toda o populacto adult seria economicamente ativa e, desta formo, o desemprage estaria eliminado. ia ¢ remuneracdo de um OPIB, assim como demais agregados contabeis, so medidos a pregos de mercado ¢, portanto, o que é contabilizado como produgao da economia sfo as transages eco- némicas com valor de mercado (observado ou imputado). A valoragao em termos monetérios permite que se agreguem quantidades heterogéneas. ‘Vamos tratar a seguir como 0 PIB € calculado, ou seja, como se avalia 0 esforso, produtivo de uma economia num determinado perfodo de tempo. Vamos iniciar ‘com 0 exemplo de um sistema contabil semelhante ao de uma firma, Uma primei- ra aproximagdo para se medir a produgao de um pais pode ser considerar a soma da produgo de unidades produtoras de bens © servigos individuais. Considere uma firma que produz um tinico bem, montando pecas que adquire de outras fir- ‘mas (do pafs ou do exterior). Suponha num ano uma produgao de 500 unidades, vendidas ao preco unitdrio de R$ 2,00. Abaixo, seguem informagdes contabeis dessa firma:? 20 valor bruto da produst 6 o valor dos bens produzides no perfodo, independentemente de te- rem sido vendidos ou estocados. A receita da firma 6 0 valor das vendas de produtos independen- temente de terem sido produzidos no perfodo corrente ou em perfodo anterior. No easo de uma firma prestadora de servigos o valor bruto da producdo coincide com 0 valor de vendas, visto nie exist formagio de estoque = ‘Valor da produgaio (500 * R$2,00) $1.000,00 Despesas operacionais R$800,00 Pagamento de saldrios RS500,00 Custo de matérias-primas $300,00 Luero $200,00 Do ponto de vista da firma, sua produco equivale a medida em valor de quanto produziu em um deteriuinado yeriode. Porém, como medir a contribuigao da firma para o total do produto do pais? Se considerarmos a medida de valor da produgdo, RS 1,000, 00, por exemplo, ao somarmos os resultados de todas as firmas estaremos in- correndo em dupla contagem, pois a producto de bens que sto utilizados na produgsio de outros bens serti contada duas ou mais vezes. No nosso exemplo, RS 300,00 foi produzido ou por outras firmas, ou ainda fora do pais, e nfo deveria ser contado como ‘uma contribuigdo da firma ao produto total, Para chegarmos a esta contribuigdo, de- ‘vemos descontar do valor da produco 0 que foi adquirido de outras firmas, pois para acontabilidade do PIB o que importa é a produgao final de cada firma (em contrapo- sigdio A producao intermediaria) ‘Conclufmos, assim, que a medida relevante para avaliar 0 esforgo produtivo de um pais €o valor adicionado ou valor agregado, ow seja, a soma do que cada firma agrega de valor no seu processo de produgao, Um exemplo comparando duas formas de produgao de um mesmo bem ajuda a fi- xar 0 conceito de valor adicionado. Num primeiro caso, suponha uma firma que seja integrada verticalmente, ou seja, que produza grande parte dos insumos que utiliza na produc do seu produto final. A contribuigdo da firma ao PIB seré obtida pelo valor da produgao de seu produto final subtrafdo das compras de insumos feitas a outras fir- mas. Os insumos que utiliza na produgdo, mas sao de producao propria, nao so des- contados para 0 célculo da contribuigao final ao PIB, ‘Uma outra forma de se obter o mesmo produto pode ser através de uma firma que nao seja integrada verticalmente, ou seja, ela adquire todos os insumos que necessita de outras firmas que sio suas fornecedoras. A contribui¢ao ao PIB nesse caso sera ‘menor que no primeiro, pois sero descontadas do valor de sua producio todas as des- pesas com a compra de insumos das outras empresas. Observe, no entanto, que o vs lor da produgao da firma no primeiro exemplo e no segundo é 0 mesmo, o que muda é a contribuicdo de cada firma ao PIB da economia. Em contas nacionais para se chegar & mensuragdo do produto agregado (PIB) com- puta-se a soma do valor adicionado de todas as unidades produtoras da economia, Esta forma de se calcular 0 PIB é denominada de ética do produto. A contribuigdo da firma de nosso exemplo ao PIB é de: valor adicionado (ou valor agregado) = valor do que se produziu — valor do que se consumiu RS 700,00 = RS 1000,00 - R$ 300,00, que equivale & parcela de valor que a firma adiciona ao valor dos insumos a0 montar 0 seu produto. Como vimos no diagrama do fluxo circular da renda no capitulo anterior, 0 fluxo, de produgio gera um fluxo de renda, Desta forma podemos medir o PIB também so- ‘mando a remuneragdo de todos 0s fatores de produgao de todas as unidades produti- vas da economia. Assim, outra forma de se calcular o valor adicionado através da soma dos pagamentos aos fatores de produgio empregados no proceso produtivo, de forma simplificada, o capital e 0 trahalho Neste caso, somamos R$ 500,00 de pagamento de salérios a R$ 200,00 de Tucro, como remuneragao do fator capital. Esta soma totaliza RS 700, 00, 0 mesmo resulta- do que encontramos usando 0 método anterior. Este método corresponde a0 valor adicionado pela firma medido pela ética da renda. Por fim, vimos também no fluxo circular da renda que o produto gerado tem ape- nas um destino: ou € gasto corrente (consumo) ou gasto em formagio de capital (in- vestimento). A medida de PIB pode ser obtida entao pela soma do total dos gastos dos agentes econdmicos em consumo de bens e servigos nacionais e importados, e em in- vestimento para ampliago de capacidade produtiva ou manutengao do equipamento, No exemplo simplificado, poderfamos supor que os salérios pagos as famflias so destinados & aquisigdo de bens de consumo eo lucro das firmas sao destinados & for- mago de capital da firma, e assim, a contribuigao da firma & despesa total seria de RS 700,00. Esta forma de se medir o esforgo produtivo da economia num perfodo de tem- po € denominado de ética da despesa. Em resumo, em contas nacionais, © acompanhamento dos fluxos de produgao, ge- ragio da renda e de despesa num perfodo de tempo, permite que se calcule o Valor Adicionado Bruto ou Produto Bruto de uma economia a prego de mercado, por trés ticas: do produto, da renda e da despesa:* Otica do produto = Valor da produgao — Valor dos consumos intermediarios. Otica da renda_ = Soma das remuneragdes aos fatores de produgdo. Otica da despesa = Soma dos gastos finais na economia em bens e servigos. (despesas de consumo ¢ com formagao de capital), nacionais e importados. Do ponto de vista das contas nacionais a medigao do produto deve ser idéntica pe- las trés éticas, porém conceitualmente referem-se a aspectos distintos da atividade de produco. O PIB obtido pela dtica do produto mede a producao, pela ética da renda, 0 rendimento, e pela 6tica da despesa, 0 consumo. Todos os agregados referem-se a0 total da economia, mas diferem quanto ao aspecto do processo econdmico que enfo- cam (ver Tabela 5). 5 Studensi, (1958, p 174) afima que A Renda Nacional em ts aspectos~ producto, disribuigsoe consumo ~© pode e dee se estimada e naisada em cada um deste aspectos. Mas estinativa da Ren ‘da Nacional em cada fase requer métedos estates eestastivas diferentes. Se estas informa ¢ mmétodos, no entanto, so acurads, devem produzi totais idénticos para cada fase.” BeveR Devemos obscrvar ainda que para o cdlculo destas medidas utiliza-se um conjunto, ‘grande de informagdes que podem ser obtidas de vérias formas: = Diretamente em empresas ¢ domicilios, através de levantamentos estatisticos cespecificos conduzidos por érgios oficiais de estatistica;, = Através de informagdes que as empresas prestam para drgdos do governo; ou ainda = Através de estimativas inferidas indiretamente a partir de indicadores, ‘A construgao das contas nactonais e a derivagdio dos agregados macroecondmicos se, portanto, em registros contabeis ¢ administrativos como também em infor- ‘mages que so produzidas para essa finalidade. Desta forma, 0 trabalho prético da contabilidade nacional consiste em selecionar e classificar as diversas fontes de infor- magio estatistica distribufdas esparsamente. Produto interno per capita PIB per capita é uma referéncia importante como uma medida sintese de padrao de vida e de desenvolvimento econdmico dos paises. E obtido dividindo-se o PIB do ano pela populacdo residente no mesmo perfodo (considera-se a populagdo em 30 de ju- rho) (Tabela 1). ssa é uma medida bastante utilizada em comparagdes entre pafses € regives para se classificar as economias segundo o tamanho do PIB per capita. “Apesar de bastante divulgada, essa medida pode nfo ser considerada uma repre- sentagio satisfat6ria do nivel de qualidade de vida e conseqllentemente do grau de de- senvolvimento de um pafs ou regido.* Por que o PIB per capita ndo seria um bom in- dicador de bem-estar? Uma razao é o conceito de PIB que é uma medida de valor agregado que resulta da atividade produtiva, Como jf observamos no Capitulo 1, uma {economia que sofre uma catéstrofe natural em um ano pode ter o PIB aumentado, po- 1ém a qualidade de vida da populagio certamente tera piorado, Outra razo, ainda li- ¢gada a0 conceito de PIB, € que o tempo gasto com o lazer nfo é considerado, ¢ se as hhoras de lazer se reduzem, 0 PIB pode aumentar, mas a qualidade de vida nfo. ‘Uma outrarazao esté ligada & medida estatistica que o PIB per capita representa, O célculo do PIB per capita mede a renda média da populagdo, «em pafses como o Brasil, onde a renda é desigualmente distribuida, esta médiaestélonge de representar um padtio de vida tipico. Assim, o bem-estar da populago ¢ fortemente afetado pela dstribuigo de renda, flo que nao ¢ evidenciado na medida do PIB per capita. Se a renda é muito desi- zgualmente distribuida, a apropriagao da renda gerada nao é uniforme, o que implica dizer «que paises com rendas per capita piores do que a do Brasil podem oferecer um padiro de vida melhor para sua populago, se sua distribuigdo de renda for menos desigual “Desde os anos 1990, o Programa das Nagdes Unidas para o Desenvolvimento divulga anualmenté no Relatrio de Desenvolvimento Humnanoo Indice de Desenvolvimeato Hunnano (DH) para todos o pale ses Esa med considerada ‘ois incorpora otras dimensées, além darenda pe capita, noeéleuo do indicadr, Ver Anexoacsseca- italo para uma deserigo do IDH. 1curada para avaliaro nivel de desenvolvimento s6cio-econémico, 24 CONTABILIDADE SOCIAL BLSENIBN TABELAY Brasil ~ PIB, PIB per capita, Populacdo residente - 2000-2005 | IB a prego corremtes Populagio Resdente PI per capita (1000 000 5) (1000 ea) RS 2000 Lies? 17280 6863 2001 1.302.136) 173.822 | 74912 2002 1477822 176391 S378. 2008 1.699.948, 178.985 9497.7 2004 1.941.098 181.586 1619 ‘2005 BATON 184.184 | 116619 Fonte: IBGE, Sistema de Contas Nacionss, 207, ‘Mesmo com as limitagées conceituais apontadas acima, a taxa de crescimento do PIB per capita € uma medida importante para qualificar o crescimento do PIB. Observe na Tabela 2 que a taxa de crescimento do PIB pode ser positiva, mas a taxa de crescimento do PIB per capita negativa, se o crescimento do produto da economia for inferior ao crescimento da populagao no ano. Essa situagao indica possivelmente que a taxa de desemprego aumentou a0 longo do periodo. Assim, sucessivos periodos de baixo crescimento do PIB podem significar um empobrecimento da populago de um pais ou regio. 0 Grafico 1 mostra a evolugao da série do PIB e do PIB per capita desde 1948, quando as contas nacionais comegaram a ser produzidas no Brasil. Observa-se que GRAFICO 1 Taxa anval de crescimento do PIB e do PIB per capita - 1948-2005 (%) 15 yr AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 25. tev ‘quando a economia brasileira crescia, em média, a taxas mais elevadas (de 1948 a 1980) a distncia entre as duas curvas é maior do que no perfodo mais recente. TABELA2 Brasil: Toxa de crescimento real do PIB, da populacéo residente © do PIB per copita % r Reiente ID pex capita ro 7 20 34 43 2005 29 14 Fonte: IBGE, Sinera de Contas Naconais 2008 «2007 Devemos mencionar adicionalmente que comparagdes internacionais (ow mesmo centre regides de um mesmo pats) com base no PIB per capita merecem certa qualifi- cacao. Iss porque, na avaliagao do nivel de bem-estar de um pafs, deve-se levar em conta o nivel de pregos interno, ou seja, o poder aquisitivo da renda média de cada pais. Conforme veremos na iltima sero deste capitulo, em comparagdes internacio~ nais (ou mesmo regides dentro de um pais) é recomendavel ajustar-se 0 PIB per capi- 1a por um indice de Paridade do Poder de Compra. Renda Nacional Brute - RNB OPIB, avaliado pela dtica do produto, mede o total do valor adicionado produzido por firmas operando no pais, independentemente da origem do seu capital, ou seja, mede o {otal da produgao ocorrendo no tertitério do pafs. A Renda Nacional Brutaé o agregado «que considera o valor adicionado gerado por fatores de produgio de propriedade de re- sidentes. Numa economia aberta, hé fatores de produgiio de origem estrangeira (capital trabalho) produzindo no pais e fatores de produgio de propriedade de residentes no pais produzindo fora do pais. Assim, em contas nacionais, rabalha-se com dois agrega- ae SONTABILIDADE SOCIAL ELSEVIER dos referentes & abrangéncia geogréfica da atividade produtiva: Produto Intemo ¢ a Renda Nacional.’ Por exemplo, a producao de estrangeiros no Brasil conta no conceito, de interno, mas no no conceito de nacional. A produgiio de brasileiros no exterior, con- ta, por exemplo, como PIB do pafs estrangeiro e na Renda Nacional do Brasil ‘Vamos supor que a firma no exemplo anterior é de brasileiros e argentinos, ¢ al- ‘guns dos trabathadores so argentinos: Valor da produgiio — > RS1.000,00 Despesas operacionais. =————» 800,00 Pagamento de salirios. =» 500,00 a brasileiros ————> _ Rs400,00 a argentinos ————+ __ Rs100.00 Custo das matérias-primas (nacional e importada) + $300.00 Receita iquida de vendas ————> _R$200,00 paga a brasileiros. =» _Rs100,00 Paga a argentinos = —_R$100,00 Nesse exemplo, como no anterior, o valor adicionado da firma, ou seja, sua contri- buigio ao PIB é de RS 700,00. Para calcularmos a RNB devemos considerar a remu- neragio dos fatores de produgio dos residentes, ou seja, RS 400,00 de saldrios a resi- dentes brasileiros ¢ RS 100,00 de “lucros”pagos a brasileiros RNB = 400 + 100 = 00 Para passarmos do agregado PIB para o agregado RNB devemos descontar do PIB ‘opagamento efetuado a fatores de produedo estrangeiros, ou seja, devemos descontar © pagamento de R$ 100,00 de salérios e 0 pagamento de RS 100,00 de “lucros” a argentinos: PIB = 1000 ~ 300 = 700 RNI 500 = 700 ~ (1004100) = Genericamente podemos definir um valor que exprime o saldo (recebimento me- nos pagamento ) das remuneragbes a fatores de produgio (dividendos, juros, lucros, royalties, aluguéis ¢ salérios) envolvendo as transagées internacionais de um como segue: a * Onovo Sistema de Contes Nacionis aio saa terminologa Produto Nacional Bruto como anes, pois ‘© conceito de nacional se aplica &distribuigGo da renda ~ entre residents e nio residentes, Da mesma {orma aio se usa mais a terminologia Renda Interna Bruta, = AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 27 Renda recebida por unidades residentes pelo pagamento de fatores de producto Renda de fatores gerada no pais mas transferida para unidades residentes no exterior Se este saldo 6 positivo, ou seja, se 0 pais recebe mais recursos do que paga, entdo: RNB = PIB +RLR em que RLR é a Renda Liquida Recebida do exterior, ¢ neste caso 0 RNB>PIB. Seeste saldo é negativo, ou seja, o pais envia ao exterior mais recursos do que rece~ be, entao’ RNB = PIB-RLEE em que RLEE ¢ a Renda Liquida Enviada ao Exterior. Neste caso 0 PIB>RNB, como no Brasil (ver Tabela 3), ARLE trata de um valor adicionado no pats, mas que € transferido para fora do pais, Por isso define-se o conceito de Interno, que inclui a RLEE ¢ o de Nacional que exclui a RLEE. ‘As diferencas entre o PIB eo RNB podem ser muito grandes em paises com um elevado grau de endividamento externo, devido ao pagamento de juros aestrangeiros, e pafses com grande presenca de empresas multinacionais que remetem luctos ¢ ro- -yalties para seus paises de origem. Em resumo, para a economia como um todo podemos definir os agregadas: PIB = (Valor da Produgdo — Valor dos Consumos Intermedisrios). RNB = Soma das remuneragdes dos fatores de produgo pagas a residentes, Renda Nacional Disponivel Bruta (RND) e Renda Privada Disponivel (RPD) O conceito de Renda Nacional Bruta (RNB) engloba as rendas dos setores piiblico (governo) privado da economia e as transferéneias de recursos entre o pais e 0 resto do mundo. A partir do célculo da Renda Nacional Bruta podemos derivar outro agre- zgado de interesse que € a Renda Nacional Disponivel. O conceito de Renda Nacional Dispontvel difere do de Renda Nacional por con- iderar o saldo das transferéncias correntes recebidas ¢ enviadas ao exterior. S80 consideradas transferéncias correntes (TUR) toda movimentacdo de recursos entre agentes econémicos e paises, sem contrapartida com © processo de produgao (por exemplo, remessa e recebimento de recursos entre governos ¢ residentes, remessa de eS ee LSEVIER ‘migrantes para suas familias no pafs, doagGes, herancas etc.). A Renda Nacional Dis- Pontvel (RND) corresponde aos recursos que os agentes econdmicos tém para gastar ‘em consumo ou para poupar. Assim, RND=RNB +TUR RND=C+SD emque RNB = Renda Nacional Bruta TUR = Transferéncias correntes Iiquidas recebidas (C= Total das despesas com consumo ‘SD = Total da poupanca doméstica (ou poupanga bruta), Vale observar que, como no caso das remessas liquidas de renda dos fatores, 0 va- lor das transferéncias correntes pode set positivo ou negativo, caso o pats seja um re- cebedor liquido de transferéncias ou pagador liquido de transferéncias, respectiva- ‘mente, TABELA 3 Breil Produ Interne Brute, Renda Nacional Brae Renda NacionelDispon Bruta ~ 2000 (1 000 o00R$) ine at Produto Interne Bruto 1798 Mees retmenos ios (ena de popida rnage) vidos 32580) Renda Nacional Bruta 146.595, 2190 Renda Nacional Disponvel Brat 11494683 See Neon Pioneer tens Fonte: IBGE, Sistema de Conta Nacional, 2007 * Obserar que o Bri é um ecebador liquid de transfréncias de vendo, portant, este saldo ser crescido 3 RNB para se obtr a Renda Nacional Dispoaivel Logo, podemos escrever: PIB = RNB + RLEE, RNB =RND-TUR PIB = RND + RLEE~TUR Podemos subdividir a Renda Nacional Disponivel em renda do governo, das en Presas privadas (fimanceiras e niio-financeiras) e das familias (consumidoras ou pro- dutoras). Definimos a renda do governo como Renda Lfquida do Governo (RLG)* como composta pela: eee ° Ou como Renda Disponivel do Govern, conforme terminologia do capitulo 4 AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 29 Soma dos impostos diretos indiretos arecadados pelo governo ¢ outras receitas correntes menos ‘As transferéncias e subsidios pagos pelo governo, Subtraindo a Renda Liquida do Governo (RLG) da Renda Nacional Disponivel, dobtemos a Renda Privada Dispontvel (RPD). A Renda Privada Disponfvel (empresas familias) é composta pela soma de: = salérios, 1 juros, lucros e aluguéis pagos a individuos, ‘= transferéncias pagas a individuos, menos impostos sobre renda e patriménio e = lucros retidos nas empresas e reserva para depreciacao. Assim: RND =RLG+RPD em que RLG = Renda Liquida do Governo RPD = Renda Privada Disponfvel. Em resumo, o conceito de Renda Nacional considera as rendas auferidas pelos fa- tores de produco em contrapartida a servigos prestados ao processo de producao. Como transferéncias so pagamentos sem contrapartida com 0 processo de producao, ‘seu saldo deve ser considerado para se chegar &estimativa da Renda Dispontvel que equivale ao montante que os agentes econdmicos tém para gastar. ‘Numa economia fechada e sem governo as estimativas de Produto Interno, Renda Nacional, Renda Nacional Disponivel e Renda Disponivel Privada sdo iguais. Numa economia fechada ¢ com governo as estimativas de Produto Intemno e Renda Nacional sto idénticas, Liquide x Bruto Além de distinguirmos entre os conceitos de interno e nacional, devemos fazer a dis- Lingo também entre Iiquido e bruto. O Produto Liquide deve descontar a depreciago do capital utilizado no esforgo de produgdo num determinado periodo. Quando defi- nimos a medida do PIB, incluimos todos os bens e servigos produzidos num perfodo, No entanto, hd bens, como os bens de capital, que so utilizados no processo de pro- 6590p 1302136 ii) Taxa de variagio do Deflator apt =100{ 1477822 _1) 19.553 1336748 Vale notar que o caleulo do PIB a pregos constantes niio se aplica aos agregados de renda que nao podem ser expressos em Volume, porque os fluxos de renda nao podem ser decompostos numa componente de volume e uma de pregos. Podem, no entanto, ser caleulados em termos de um poder de compra constants. A dificuldade neste caso €a.escolha de deflatores adequados para se obter a medida da renda real PIB Potencial e Hiato de Produto ‘Uma medida importante em macroeconomia, que pode ser derivada do PIB em volu- me, é a estimativa do produto potencial, Diferentemente da medida do PIB, no hé ‘uma metodologia para sua estimativa que integre as recomendagdes oficiais dos orga- nismos internacionais de estat(stica. Seu célculo é derivado de modelos te6ricos.” O produto potencial consiste numa estimativa do nivel do PIB a pregos constantes, supondo a economia operando no seu potencial méximo. Em geral esse potencial 6 identificado como aquele nivel que pode ser obtido sem acelerago da inflagao. Essa definigao decorre do seguinte fato: quando a demanda por bens e servigos excede 0 produto potencial, varios constrangimentos surgem na economia, pois a maior de- manda de trabalhadores pressiona os salérios para cima ea maior demanda por bens & '? Ver, por exemplo, Banco Cental do Brasil, 2004, ae AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 35 serviges, tanto de consumo como de investimento, pressiona pregos para cima. A comparagao entre 0 produto potencial e o produto efetivo dé uma medida da pressio que 0 crescimento do produto exerce sobre o nivel de precos da economia. A diferenga entre 0 produto observado e a estimativa do produto potencial (PIB*) é chamada de hiato de produto. Quando o PIB < PIB*, diz-se que hé um hiato negativo do produto. Quando PIB>PIB* verifica-se um hiato de produto positivo."" A medida do hiato do produto e da sua evolugao representam uma informagao importante utilizada pelos bancos centrais pata guiar a formulacao ¢ a avaliagao da politica monetétia. No caso do hiato de produto ser negativo, observa-se ociosidade na economia portanto interpreta-se que ha espago para a economia crescer mais rapidamente no curto prazo. A politica econdmica deve buscar estimular a demanda agregada através do corte de impostos e/ou através de aumento do gasto piblico (gastos em projetos de infra-estrutura, por exemplo). O banco central, nesse contexto, pode decidir reduzir a taxa bésica de juros da economia . Se se observa, por outro lado, um hiato positive de produto, 0s gastos piiblicos devem ser contidos, e possivelmente a politica do Banco Central sera de aumentar a taxa basica de juros da economia. produto potencial de uma economia tende a crescer ao longo do tempo em fun- ‘¢do dos avangos tecnol6gicos, da expansdo da forga de trabalho e do aumento da pro- dutividade. Assim, é uma medida que expressa o crescimento tendencial da econo- mia, Uma série hist6rica do hiato do produto é itil para apontar periodos de recess, recuperacdo ¢ expanso da economia. RESUMO. ‘As medidas de produto e renda agregados da economia sfio construgées estaisticas ut versalmente adotadas como expresso do esforgo de productio de um pais ou regio ‘num deteminado perfodo. So uma referéncia para comparagdes internacionais, com luéncia para 0 rating do crédito internacional de um pais ¢ suas empresas. Server também para acompanhamento da evolugio dos paises ao longo do tempo e base para estatisticas estruturais como percentagem do investimento, do déficit piblico etc... O ciileulo dos agregados macroecondmicos envolve um volume grande de dados primérios que devem ser trabalhados estatisticamente para, quando agregados, man- terem coeréncia metodoligica. Questdes que devem ser observadas na coleta de in- formagées para o eéleulo dos agregados macroeconémicos si: a) a composigo dos pregos, b) a unidade informante e c) 0 perfodo a que se refere a informagao. A pratica internacional € que o célculo dos agregados seja resultado de um Sistema ‘de Contas Nacionais (detalhado no préximo capitulo), onde as informagdes primérias so organizadas e agregadas de forma a manter uma consisténcia l6gica que expressam transagdes econdmicas bisicas. As identidades contsbeis derivadas do modelo keyne- siano permitem observar esta consisténcia, F esta discussio que veremos a seguir. " Obhiato de produto também & chamado de hatodeflacionéro, quando produto efetivo émenor que produto potencial, ede hiato inflacionsrin. na caso cemtrérie 36 CONTABILIDADE SOCIAL ELSEVIER IDENTIDADES CONTABEIS ‘Tendo definido as medidas-sintese mais importantes da contabilidade nacional, va- ‘mos a seguir introduzir as identidades contabeis bisicas. Como vimos, a mensuragao do esforco produtivo de um pafs ou regio & avaliado pelo valor adicionado de todas as unidades produtivas a cada periodo. Retomando, © produto bruto da economia pode ser obtido de trés formas distintas: pela 6tica do pro- duto, da renda e da despesa. Na Tahela § apresentamos 0 PIB de 2000 pelas tr8e éti, cas, conforme divulgado pelo IBGE. TABELA 5 Brasil: Composigdo do PIB sob trés éticas [co Otica do produto “Produ Interne Brio — e482 7 aS a 161307 | Subs sor ods ©) ans Consumo intermedisirio (-) ~ (-) 981.923 AGREGADOS MACROECONOMICOS E IDENTIDADES CONTABEIS 37 steve Pela ética do produto, valor adicionado num determinado periodo é calculado, para cada unidade de producio, como a diferenca entre o valor de produgiio destinado ‘0 mercado interno e externo e os consumos intermedirios de bens e servigos nacio- zais ¢ importados. Numa economia com governo, adiciona-se & produgao os impos- 10s Ifquidos de subsidios sobre produtos. Podemos medir também o produto pela dtica da despesa (ou gasto, ov categorias de demanda agregada). Numa economia aberta e com governo construimos agrega- dos que representam os destinos do produto para consumo final, investimento (for- magio bruta de capital fixo) e vatiagao dos estoques mais o saldo das exportagies so- bre as importagdes de bens e servigos Pela dtica da renda, totaliza-se 0 pagamento da remuneragio dos fatores de produ- fio — saldrios (correspondente as remuneragdes), juros, lucros e aluguéis (correspon- dente ao Excedente Operacional Bruto).'* Os salérios correspondem a remuneragio do trabalho, 05 juros & remuneragio do capital de empréstimo, os lucros a remunera- <¢8o do capital de risco e os aluguéis & remuneragdo pela propriedade de bens de pro- dugo, Numa economia com setor governo adiciona-se também os impostos sobre os produtos e a atividade, liquido de subsidios, As tr@s 6ticas de mensuragdo do produto definem a identidade contabil bésica: PRODUTO = DESPESA = RENDA. Fonte: INGE, Conts Nasional: Sistema de Cotas Nasionais Bras, 2007 Gtica da despess _ - Valoragéo Prod Inter Brio 1179482 eT “asaaE Devemos atentar que, na pritica, a identidade entre Produto, Renda e Despesa s6 se a [ss verifica se estivermos computando os valores agregados aos mesmos pregos. Despes de consumo das ISFLSF | 16.088, Despesa de consumo de administragto pblica 226 Preco de Mercado e Custo de Fator!? Forage bra de epi = aes Num Sistema de Contos Nacionais, com inkrodugdo do setor governo, deve-se consi- __Formago rata de capital xo 198151 derorque os impostos, tanas © contribuig6es modiicam a istibuigéo de renda‘eopresofi- Vainio de toque 172106 nal des produtos. Para dar conta destos mudancas 6 que 6 feta a distingdo entre « valora- Bxportagdo de bens ¢sevigos I Ce {9800 procos de consumidor fou de mercado] e a custo de fator. Os impostos sobre produ- — {© 08 subsidiosalteram os precos pare o consumidor, mos néo representam remunera~ Importago de bens e serigos © a g — me ene ‘20 dirata dos fatores de producdo. Assim, 2 mensuracio do produto pela étice da renda Gide da ada devo oxcluir os “impostos liguides de subsidios sobre 0 produgéo e « importactio". Produte Interne Bra 179.482 | Remaneragio dos empreyados (incl slrioxebeneicos) ama Com isso nosso préximo passo deve ser definir os tipos de valoragio. As recomen- Readimeato mistobruto(eadineato doe autiuomcs) “33.098 | dagdes intemnacionais recentes identificam trés niveis de valoragdo: a pregos bésicos, ices opeatiaal tc PTE a pregos de produtor e prego de consumidor (ou de mercado), Impasts sabe a prog «impartagio 174187 GEESE a posted elepedechoTS ora] ° Para uma definigdo de rendimento mist, ver Box no Capitulo 3, p. 75. SA recomendasio das Nagées Unidas € no sentido de excluir o metodo de valorago ao eust do ator 1a Versio de 1993 do Sistema de Contas Naciontis. Nesta versio sugere que 0 método de valoraso da FE Sa eer ere ELSENIEK A mensuragtio de agregados valorados a prego basico equivale a considerar os pre- gos na porta da fabrica. Adicionando a este nivel de valoragao os impostos liquidos de subsfdios sobre pro- G (a poupanga do governo & positiva) entao a poupanea piiblica se soma & poupanea privada para financiar os investimentos piblicos ¢ privados.!* Entende-se por setor institucional governo nas contas nacionais no Brasil as trés csforas da Administragao Pablica (Federal, Estadual e Municipal) eas autarquias. As empresas puiblicas e as sociedades de economia mista nio sio inclufdas. "8 Como veremos no Capitulo 4, a poupanga do govern pode ser positva e mesmo assim haver defi oe ¢ammenttio se esta for inferior ao investimento pblico, que em nossa temninologia ext ineluido em I. Se Aefinirmos como investimento do govern podemes escrever: Deficit do Governo ocorre quando I, S. Amensuragao do setor Governo ‘Como 08 hens e servic fornecids pelo governo née tém pregos economicamente si rificontes ou s8o oferecidos de forma gratuita, 0 valor de sua produgio, chamada de (ducdo néo mercantil nas contas nacionais, é mensurado pelo custo, ov soja, poles salios pages pelas compras de bens eservigos efetuadas mais a depreciagio dos ativos do gov fo. A contribuigéo de setor governo ao Produte e Renda Nacional, ov s9ja, 0 valor adicio- prado, 6 obtido pelo montane de salérios pages cos funciondrios publicos mais adeprecio- G20 (egistrade come excedonto oparacional brute}. Ox gastos com material de consume de origem nacional e importado consister no seu consumo intermediario. ‘As reccites do governo sG0 oriundas dos impostos,liquides do pagamento de subsidios « transforéncias, sobre a renda ec propriedade {impostos diretos), sobre o valor dos bens f servigos ou dos atvidades /impostes indiretos). ’As ransferéncias #60 pagomentos feito pelo governo a individuos, 8s empress € 00 exterior ser contrapartida de serviges, como os aposentadorias, pensées etc. Equivaloma impostos com sinal trocade. Do mesma forma, a concessde dos subsidios reduz 0 prego de mercado dos bens vigos beneficiados, sendo também considerados impostos com sinel negativo. ‘Além das receitas de errecadacco, 0 governo recabe outras receitas que incluio resul- tado de participacbes aciondrias, renda de aluguéis ec. Economia aberta Por fim, considerando uma economia com transagGes com o exterior, nosso conceito de Renda Nacional Disponivel se transforma em Renda Intema, ou PIB. Devemos embrar que para passarmos do conceito de PIB pra RNB fizemos: PIB-RLEE = RNB E, para chegarmos & RND, fizemos: RND = RNB +TUR Logo, podemos escrever: PIB-RLEE + TUR =RND ou PIB = RND + RLEE-TUR Lembrando que RND = C + § + RLG, podemos definir a identidade de demanda (7) pelo produto e uso da renda (8) como: Y=C+1+G4Xy-My o Y=C+S+RLG+RLEE-TUR ® em que, Y €0 PIB XarM € 0 saldo das exportagdes de bens e servigos de néio fatores sobre as impor- tagGes de bens € servigos de nfo fatores. (Sao servigos de no fatores: viagens inter- nacionais,"” transporte, comunicagao, seguros e servigos do governo). RLEE ¢ a renda liquida enviada ao exterior ¢ TUR sto as transferéncias correntes liquidas recebidas. ‘Temos, como nos casos anteriores: S+RLG + RLEE -TUR=1+ G+ Xy—My 0 ‘Com esta equagiio explicitamos na identidade de uso da renda a parte que cabe a0 Nxeseevendo aided) (My- X,) + RLEE—TUR = (I-$) + (G-RLG) (10) Definindo Poupanga Extema SE, SE = (M,,~X,) + RLEE~ TUR = saldo do Balango de Pagamentos em Transagdes Correntes (com sinal trocado). De acordo com a identidade (10) podemos ver que um déficit em Transagdes Cor- rentes do Balanco de Pagamentos est associado a um excesso de investimento pi- blico e/ou privado sobre a poupanca privada e/ou a um déficit corrente do governo. Quando um pais apresenta déficits na conta de Transagdes Correntes diz-se que ab- sorve mais recursos do que produz. (ver capitulo de Balango de Pagamentos). Isto im- plica dizer que o pats deve se desfazer de ativos estrangeiros e/ou aumentar sua divida externa para fazer face ao excesso de despesa. Quando discutimos os diagramas do fluxo circular da renda, vimos que um desequitfbrio nos fluxos de gastos (de consumo e/ou de investimento) deve levar a uma variagiio em varidveis de estoque. Assim, um pafs que absorve muito do extcrior deve se desfazer de parte de seu pattiménio em ati- ‘Vos reais ou em ativos estrangeiros e/ou aumentar o estoque de sua divida externa, Reescrevendo a identidade (10) para explicitar a igualdade entre poupangae inves- timento: S+(RLG-G) +(M,,—X,) + RLEE-TUR Dessa forma evidenciamos que em uma economia aberta 0 investimento domésti- £0 € financiado pela soma da poupanca privada (S), mais a poupanga do governo (RLG —G) e mais a poupanga extema (My—X,) + RLEE - TUR, ot seja, SE. i "? As viagens intemscionais lo consideradas como servigo prestados&s Familias, cate RSS AS 2S SNe ae os Quadro resume das identidades contébeis Tualdade de Poopanga emanda pelo Produto Us da Renda lavestinento pei meme pee ie |e ‘Economia fechada «em governo Renda Privade dsponivel Yp=C+8 Se Economia fecha com governo Y= Renda Nacional dispoatvel Y= C45 +RLG SPRLG=14Gou - S521 P eonomia aber Y=PIB Y=C+S+RLG+ S#RLG+ RLEE-TUR= RLEE-TUR 140+ %y-—My) 08 S48,4SE™=1 facndo | $4 8;=SD. te, oupanga | domestic, temas SD+SE=1o0 | Se=1-Sb COMPARACOES INTERNACIONAIS E A MEDIDA DA PARIDADE DO PODER DE COMPRA. ‘A comparagao internacional dos agregados macroecondmicos, o PIB ¢ 0 PIB per ca- pita em particular, pressupde a conversao destas medidas a uma unidade monetaria padrao, A forma direta de se proceder a este tipo de comparagio é a de se escolher a ‘moeda de um pafs como padrio e aplicar a taxa de cfimbio média do ano as estimati- vvas dos demais patses para converter suas medidas & mesma unidade monetdria. 0 incoveniente deste método € que as taxas de cAmbio flutuam, ¢ quando ocorrem apreciagdes ou depreciagdes acentuadas, a medida do PIB dos pases € fortemente in- fluenciada, Veja, por exemplo, o caso do PIB brasileiro em 1999, Medido em reais, a taxa de crescimento real do PIB foi positiva em 0,79%, Porém, quando avaliado em délar, esta taxa cai cerca de 28%, devido a desvalorizacio do real em 1999. Este problema se agrava quando se consideram periodos longos de tempo. Blan- chard (1999, p. 416) cita que a mocda americana apreciou-se e depois depreciou-se ‘em aproximadamente 50% em relagio &s moedas dos parceiros comerciais dos Esta- dos Unidos ao longo da década de 1980. Como afirma, dificilmente 0 PIB per capita americano, considerado como indice de padrao de vida, aumentou e depois diminuiu em 50% em comparagdo aos demais paises. |Hé ainda um outro inconveniente em se utilizar a taxa de cémbio para converter 0 PIB dos pafses para comparagdes intemacionais. Como a estrutura produtiva e de consumo ‘ariam significativamente entre as nagdes, se quisermos comparar, por exemplo, 0 pa- dro de vida entre os paises, devemos levar estas diferengas em consideragao. A pritica intemacional tem sido a de se ajustar o PIB per capita a um indice de Paridade do Poder ‘de Compra. Este indice ¢ construfdo para um conjunto comum de bens e servigos produ- zidos em cada economia ajustados a um preco padrao. Assim, é possivel comparar 0 po- der de compra de um pafs em termos da moeda de outro pais. Os indices de paridade de poder de compra sio indices espaciais (em contraposig&o a idéia de indices temporais) e tém como base de referéncia (=100) 0 nivel de pregos de um pais ou regio. Por exemplo, como vimos, quando se analisa o crescimento a0 longo do tempo para um dado pais, o PIB em volume é ealculado dividindo-se o PIB a pregos corren tes por um indice de prego que € igual a 100 para um perfodo base. Na comparagio en- tre pafses ou regides 0 PIB em volume é obtido dividindo-se o PIB em valores corren- {es por um fndice de paridade de poder de compra (PPP, da sigla em inglés) que € igual a 100 para um determinado pats ou regio. Logo, quando dividimos o PIB de tum pafs pelo PPP eliminamos a diferenca entre os niveis de prego do pais em relagiio ao pas de referéncia, Pafses com padrao de vida mais baixo terdo um PIB ajustado pelo PPP em relagao a um pafs com padriio de vida mais alto maior do que o PIB ajus- tado pela taxa de cémbio entre a moeda do pais ¢ a moeda do pais de referéncia. ‘A interpretago do PIB ajustado pelo PPP é mostrar a quantidade de moeda que deve ser gasta no pafs para se obter a mesma quantidade de bens e servigos que pode ser comprada no pafs de referencia, Logo, o indice de PPP é igual a uma taxa de con- versio que iguala 0 poder de compra de duas moedas, Atualmente vérias instituigdes internacionais, coordenadas pelas Nagdes Unidas, produzem indices de Paridade de Poder de Compra, possibilitando, assim, andlises ‘comparativas de padrio de vida entre nagdes ¢ ao longo do tempo.” A Tabela 6 cor paras estatisticas de PIB per capita calculadas em délar e em délar PPP (ou dla temacional), para um conjunto de pafses da América do Sul. Observa-se que é expres- siva a diferenga de valores considerando as duas metodologias do PIB per capita. TABELA 6 PIB per capita em dolar PPP © US délar (2005) vm vin Pals or capita dlar PPP) er capita (US$) Rcatina | Ta08 a Crile 12.600 | aot 10008 | | [ Brasil ~ ase Coton 7565 Font: 2 Ver, por exemplo, World Bank, Transition Newsletter (1996), para una comparaglo entre 0 PIB per capita ajustado pela paridade do poder de compra de 15 patses em transigdo da Europa e 24 patses da OCDE, claborado pelo European Comparison Program (ECP). Ver também World Bank, World Bank Development Indicators 1999, com informagbes do PIB ajustado pela paridade do poder de compra para mais de 100 paises, construido pelo International Comparison Program (ICP), Por fim, deve ser mencionado que, a despeito das orientagdes internacionais sobre ‘a mensuragio agregada do produto ¢ renda, as metodologias de célculo devem variar ide pats para pafs. Este fato ocorre em fund do grau de desenvolvimento das téenicas ide mensuragio do produto e das especificidades de cada economia, o que deve ser também levado em conta nas comparagdes intemacionais. RESUMO. ‘Em contabilidade nacional, oesforgo produtivo de um pais num determinado periodo é ava- tiado através dos agregados macroecondmiicos que medem o Valor Adicionado num perfodo. Os agregados principais sf 0 Produto, a Renda ea Despesa.e sao construidos por trés Sticas: do produto, da renda e da despesa. Podem ser definidos nos conceitos de Interno ¢ Nacional, sto € Liguido e Nacional Dispontvel. para acompanhamento da evolugdo do PIB ao longo do tempo, define-s o PIB e o PIB ‘per capita a pregos constantes ; "As identidades entre Renda, Produto e Despesa s6 se verificam se os agregados estiverem -alorados da mesma forma. Sao identificados dois niveis principais de valoragfo: a prego bi- sico e de consumidor ou de mercado, As identidades contbeis explicitam as necessidades de recursos de poupanga para finan- ciar os gastos de investimento, Numa economia fechada, a poupanga privada deve financiar os ‘gastos em investimento, Numa economia com governo, a poupanga privada e a poupanga pa- blica devem financiar os gastos de investimento pablico e privado. Numa economia aberta © ‘com governo, 0 investimento pifblica¢ privado devem ser financiados pela poupanga privada, ‘pela poupanga pablica e pela poupangs externa, CONCEITOS-CHAVE * Produgio ¢ Valor Adicionado * Gricas de mensuragio do produto * Produto Interno Bruto © PIB per capita * Renda Nacional e Renda Liquida Enviada ao Exterior Renda Nacional Disponivel, Renda Privada Dispontvel e Reveita Liquida do Governo * Produto Interno Bruto e Produto Interno Liquido * Produto a progos constantes ¢ Deflator Produto a pregos bisicos,precos de consumidor ou de mercado * donidades Contabeis ™ Paridade do Poder de Compra QUESTOES 1. Considere que numa economia em determinado ano ocorreu uma grave epidemia, que ‘ceasionou um aumento na demanda de servigos médico-hospitalares e em medicamen- tos. Considerando todo o resto constante, qual o resultado do PIB em relago ao ano ante- rior? O que se pode dizer em relagao ao bem-estar da populagio? 2. Identifique na lista abaixo que transagdo ou atividade nfo seria computada nos célculos das contas nacionais ¢ do PIB: salirio de um juiz, compra ca um pedago de terra, deeréscimo nos estoqucs do comésciv, construgio de uma estrada, transferéneia de um bem, compra de um apartamento novo, 3. Qual a medida macroecon6mica utilizada para se descrever o erescimento econdmico a longo prazo? 4. Seco nivel de prego de um pafs medido pelo Deflator do Produto aumenta em 5% em um ano e 0 Produto real em 10%, Respond de quanto é 0 creseimento do Produto nominal (ou corrente. 5. Os exercicios abaixo se referem a uma economia fechada com governo, 48) Siio conhecidos os valores das seguinte rubricas das contas do governo, em wm ano, ‘em bilhies de reais: ® impostos arrecadados = 70 © outras receitas correntes do governo = 65 ® transferéncias = 40 © subsidios = 45 ‘Se 0 saldo do governo em conta corrente & de RS 40 bilhées, calcule o montante dos gastos do governo no periodo. >) Calcule a renda dispontvel privada para uma economia com as seguintes informagies ‘em bilhies de reais: Renda Nacional = 800, Gastos correntes do govern ficit orgamentério = 40. ©) Seja Y = RNB, C= Consumo Final, F = Transferéncias ¢ Subsidios do governo, J Juros da Divida Péblica eT = Impostos. Escreva.a identidade da Poupanga Privada 6. Os exercicios abaixo referem-se a uma economia aberta ¢ com governo. ) Considere uma economia com um PIB de R$ 200 bilhdes ¢ gastos domésticos em bens ¢ servigos de RS 180 bilhies. De quanto totalizam as exportagées liquidas? ) Considere as informagdes em bilhies de reais no ano: Poupanca privada = 200, Deficit orgamentério = 50 e Deficit do Balango de Transa- ges Correntes = 10. Caleule o volume de investimento da economia no ano, 7. Considere as seguintes informagdes em unidades monetérias para uma economia hipotética: poupanca bruta =110, deficit do Balango de Pagamentos em conta corrente = 50, saldo do governo em conta corrente = 30 ‘Qual 0 montante da poupanga bruta? 8, Consumo domiciliar de um bem ou servigo & definido como um bem ou servigo que & usado sem mais transformagiio na produgdo para satisfago das necessidades indiviciais, Para 0 propésito de se construir uma fronteira de consumo, as contas nacionais exeltem, ‘a majoria dos servigos produzidos nos domieflios tais como a preparagiio de alimentos. EE ee LTE ES NT SE Considere as situagdes abaixo ¢ indique em que casos sao computadas na construgiio do agregado Consumo: a) comida comprada para fazer as refeigbes b) refeigdes efetuadas no domictlio ©) servigos domésticos realizados no domicilio pelos moradores 4) servigos domésticos realizados por empregados fe) gasolina comprada para o carro da famflia 1) higiene pessoal Considere um economia que produziu em 2002 $500 ao prego unitério de $2.e em 2003 ‘$600 ao pres unitério de $3. Qual o valor do PIB em cada ano, Calcule o PIB de 2003 a reco de 2002, Calcule o crescimento real da economia (variago em volume). Caleule © deflator do PIB. 0 deflator do PIB considera os pregos de todos os produts prodzides internamente na economia. Indices de prego ao consumidor consideram os precos de uma cesta fixa de bens de consumo, Consider a seguintes stuagdeseavale qual o impacto sobre o efla- tordo PIB e sobre o nce de prego ao consumior a) aumento no prego dos bens de ca- pita; b) aumento no preso de ens de consumo importados 1M. Conse a nformagbes da Table ano: Paes | - Paridade do Poder de Compra do PIB | 2001 2002, 2003 Tapio 149,22 143.67 139,14 ‘Suécia i 934 936 9,39 BUA | 1 1 1 1 a PIB 2 pregos correntes, em bilhdes na moeda nac Tapio 505.847 497.896 we Suécia | 2.268,15 2352.94 2A3845 BUA | 9 7e4an | —ra07690-— | —aasand | asst — Font: extraido de Lequilee Blades, 2006, p93, 1 CConstrua a série ce PIB deflacionada pelo PPP e comente 0s resultados Considere as informagGes abaixo em bilhées de reais: Produgio a pregos bisicos, m1 Consumo Intermedirio 58 (Consumo das Famifias 36 Consumo das Administragbes Pablicas un Formagao bruta de Capital Fixo 12 Exportagdes de bens e servicos de nao fatores 5 Importagdes de bens e servigas de nie fatores 4 Impostes sobre produtos 1 Impostos sobre a atividade 8 Remuneragao dos assalariados 29 Excedente Operacional Bruto B Construa: a) a medida do Produto pelas ts éticas. 40 CONTABILIDADE SOCIAL ELSEVIER 13. Complete as lacunas do quadro abaixo usando as equagbes de eélculo do PIB pelas ues ticas, Componente do Produto Intern Brut 2003) 2004 | ‘A Otica da produgto - Produto Interno Bruto _] Produsio 2992739 3a TS Impostos sabre produtos 229673, 216071 Subsdios aos produto) © 389 O87 Consumo intermediseo -) ise = Orica da despest _ a Produto Interno Bruto _] 1941 498 Despesa de consume final 1382355 Formao bruta de capital 268 095 Exportago de bens eservigos 254790, Impoetago de bens e servigas(-) © er (© Orica da renda Prodato lmerno Bruto 1941 498 Remuneragio dos emprogados ons, 763 182 Excedente Operacional Brut mais 780636 879999 reniimento misto Impostos sobre a produ e importa 250938, 301 026 Subsfdios a produgtae import (-) © 3498 2109 Font: IBGE, Sistema de Contas Naclonss, 2007, BIBLIOGRAFIA Banco Central do Brasil. PIB potencial e hiato de produto: atualizagGes e novas estimagbes, Relat6rio de Inflagtio, setembro de 2004, Blanchard, 0. Macroeconomia: Teoria e Politica Econémica, Editora Campus, 1999, IBGE, Sistema de Contas Nacionais: Tabelas de Recursos ¢ usos, Metodologia. Texto para Discussdio n® 88, Diretoria de Pesquisas, 1997, IBGE. Sistema de Contas Nacionais do Brasil, 1990-98, 1999, 2002, 2003, 2007. Lequiller, F. and Blades, D. Understanding National Accounts, Organization for Economic Co-operation and Development, 2006, ‘Studenski, P. The Income of Nations: Theory, Measurement, and Analysis: Past and Present, New York University Press, 1958. United Nations. System of National Accounts, 1993. ‘World Bank. “Purchasing Power Parities”, World Bank Development Research Group, Tran sition Newsleter, vol. 7, nos, 3-4, March-April, 1996. World Bank, World Development Indicators 1999, 2000, Anexo iNDICES SINTETICOS E O [NDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO INTRODUGAO ‘As contas nacionais apresentam as medidas mais importantes de toda a atividade eco- némica de um pafs. Sao desenhadas de forma a dar uma visio geral do estado da eco- rnomia num perfodo de tempo. No entanto, as contas nacionais omitem ou deixam de ‘computar vérias atividades que no possuem valor de mercado, como o trabalho 140 remunerado, 0 lazer, a exaustao de recursos naturais, 0 investimento em capital hu- mano, para mencionar apenas alguns t6picos. As erfticas as limitagdes das contas nacionais chamam a atengto para o fato de que a avaliagao do bem-estar econdmico e social de um pafs ou regio deve considerar nfio somente as atividades que tém valor de mercado, mas também atividades sem valor de mercado. No contexto destas criticas, o conceito de crescimento econdmico (tradi cionalmente associado apenas & evolucio do PIB), como sindnimo de actimulo de ri- queza, deve se ampliar para 0 conceito de desenvolvimento sustentavel, onde o cres- nento € entendido como um meio para a promogio do bem-estar social para as ge- rages atuais e futuras. ‘A definigdio mais freqliente de desenvolvimento sustentivel é aque consta do rela- A6rio da Brundtland Commission (World Commission on Environment and Develop- ment, 1987): Desenvolvimento sustentével € 0 desenvolvimento que atende &s necessidades do presente sem comprometer a habilidade de geragdes futuras de terem satisfeitas suas préprias necessidades 0 relatério Brundtland influenciou que ficou conhecido como a agenda 21 do Earth Summit de 1992. Vérias iniciativas se seguiram a estes dois eventos, a nfvel de instituigdes governamentais e no governamentais, no sentido de discutir ¢ propor agdes concretas para orientar e controlar a dirego do progresso guiado pelo compro- misso de garantir o desenvolvimento sustentével Grande parte das discusses sobre desenvolvimento sustentavel envolve a produ- qo de informagdes que possibilitem medir o desempenho dos paises ¢ regiées com Tespeito as condicdes econdmicas. sociais e ambientais ao longo do tempo. A preocu-

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