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que néo admita Deus, nfo, respeito, o bilhere. cabisbaixo, numa voz muito er esta palavra — disse Ivan sossivel viver-se cevoltado, ¢ almente, responde-me: ima- dificio do destino humano, jue as pessoas sejam felizes, ppara isso seria necessirio ¢ 2 mingiscula, aquela crian- », € que seria sobre as légri- esse edificio; concordarias tivecto? Diz, € nigo minea! Aliocha. soas para quem estiis a cons: Aqui também é impossive de A custa do sangue injuss cetioy presale de um prefico.. ow sj, rem-na, ficarem felizes para) Es 5 ¢ Ivan —, mas que autor sou en? 5 © Grande Inquisidoy — disse de stibico Aliocha 2 de percoa:? Sim, existe,e , porque ele préprio deu 6 . Esqueceste-te dele, mas mnte, durante as discusses nuncia 0 seu bon jx. ibes, Aliocha, teriores a Pedro, o do espectdculos dra- Iho Testamento; mas, a mundo muitas hiseé. —e nunca na vida escte¥ ae fixei-o. Imaginei-o Comm a, 0 meu primeiro owviit poemas, eu tinico ouvince? — 56h 4 onte? & © do grego, evidenteme; cha. ‘timentosp», nguisidor», uma coisa de Deus visiea 0 Inferno, fam de vez em quan sobre a oe tudo no Vell a 7 omposigdes originals deste: ida por cima nos tempos do iugo vértaro, ¢ que tempos um poemazinha monéstico (eradusie aqueles! Existe, por exemplo, ate), a suel, Vé os pecadores ¢ os seus softimentos. Existe lf a p o de grande force profundidade. A Virgem, mpressionada, a chorar, roja-se perante 0 trono divino e pedk duleo para todos os pecadores do Inferno, pars rod Suplica, aio quer afasrar-se ¢, quando Deus aponea para as mi expetados com cravos € pergunts: como po os mircires,codos 0 és de Deus ¢ Por fim, consegue de Deas a paragem des rormentos uma ver desde Sexea-Fei 00 ageadecem a Deus ¢ clamam: , se aparecesse nagueles tempos, vie € ser reino, quinze séculos desde creveu: «Esti préximo 0 meu regresso.» «Deste ‘mas unicamente 0 meu pai cel porque jé passaram quinze séculos desde que cessaram os céus para o homem: \m-se amargasr 1egat os milagres. Contudo, ainda mais ardente é af dis, As | . anseiam softer € mozrer por Ele, como dantes.... Por cantos jos & humanidade vem implorado com f e ardor: «Vem a n6s, : culos tem clamado por Ele que, na sua misericér- a, Ble quis descer aos que rezavam. Jé ances descera, jf vi- alguns justos, mércires ¢ santos anacoretss ainda na Terra, como ido profundamence na verdade das suas palavras, declarou que Percorren-te rod, 6 Caminhave por tie abengoava, Que era. mesmo assim, isso garanto-te cu. Ora bem, quis aparecer m que fosse por um instante diante do povo, do povo softedor, muadamence pecador, mas que O amava com um amor de criange. ia deseavolve-se em Espanha, em Sevilhe, nos tempos quando, para gléeia de Deus, rodos os oxde-fé magoificences Se queimavam os hesewes malditos ‘Oh, claro, nfo era este o cendrio em que Ble re 10 fim dos tempos, em toda a do ocidente ao orien fazer uma visitinha acs Seus filhes, momencinca q jsamente ali onde crepitavam as fogueiras dos heregges. Com a sua ic6rdia, passa mais uma vez pelo meio das pessoas, na- la mesma imagem humana com que passara durante ttés anos € io, quinze séculos antes. Desce as ruas e prages incendescences da idade meridional onde na véspera, na presenca do rei, da corte, dos leiros, dos cardeais ¢ das damas mais encantadoras da corte, da los dle uma assentada, amagnificente auto-de-fé> e ad majarem glorian Dei, quase uma sem querer dar e. Poderia ser do poema, isto &, saber a ra2%0 por que reconhecem. O povo € acraf na Forca invencivel, ia-O, aperta-se & vo enclo da multiddo com 0 Sea sereno sotriso de misericérdia i ( sol do amor arde no Seu coragio, os raios da Luz, da Ituminagio ¢ da Forga emanam dos Seus olhos ¢, derramando-se sobre as pessoas, ‘comavem 0s coragdes de amor reciproco. Estende para eles as mios, bengoa-os ¢, 20 tocarem-Lhe, basta a fimbria do seu manto, emana force curadora. Eis um velho, cego desde a inffincia, que ‘grita do meio da multidio: «Senhor, cura-me, para que en Te vejaly, ‘caem dos olhes dele € 0 cego v8-O. O povo ‘0 chao por onde Ele passa, As crianges langam flores aos Seus pés, cancam gritam: «Hossanal» a Ele, é Ele em pessow pete toda a gente, «86 pode ser Ele, #6 Ele € Entre da tei de Sevilha no momento em sue was pestns, pranco, crizem para 0 semplo um caixfozinho branco de crianga, Ebert ez ele uma menina de ste 3005 ica de um cidadio) bee. A crianga morta esti coberca de flores. «Ele ressuscita a tua) filha», gritam de muleidio & me em kigrimas. Um padre, saindo da ixfo, olha com perplexidade ¢ catregn 0:9: ‘isco, ouve-se um grito da mie da criangs defunea. Cai aos: pés Dele: «Se és Tu, ressusc hal», exclama ela, estens dendo-Lhe as mos. A procissio pita, poust 0 caxiia no ado, aos ps Dele. Ele olha com compainio e pronuncia baixinho: «Talitha cumis, alevanta-te, menina». A menina levanca-se no casio, senea-se ¢ ol com os ollhinhos suzpreendidos, em volea. Nas maos tem o ramo di rosas beancas com que jazia no caixo. Entre 0 povo € a confusi, sitos, 0 choro e, neste mesmo momento, vai pela praca, ao lado eatedral, o proprio grande inquisidos, 0 cardeal. E um velho de quasss rnoventa anos, alto € de costa ‘a cara ressequida, 05 olb la cincila uma faisca de fogo. Oh, nfo vai eg .gnificos paramentos de cardeal que ostentava na v&p iance do povo quando queimavam os inimigos da f€ nesce momento vai de singela soraina monéstica, v ‘Acris dele, a uma certa distincia, seguem os seus sombrios antes © escravos ¢ « guarda «santa». Pére diance da mu observa de longe. Viu tudo, viu como pousaram 0 caixao aos pésdi o Ele ressuscitou a menina, A cara do cutdeal ensomb Carrega 0 sobrolho espesso e branco, brilha-the o oliar num gps nisteo. Aponta o dedo em riste ¢ manda que os guuardas O prea E tio grande € o sew poder, e 2 tal ponto 0 povo jé esta dom: isso e amedrontado que a multido se separa para deixar pas € estes, uo meio do siléncio de morte que de repent Noe levam-No. Toda x maltidio, da primeira 3 tl 2s até ao clio diance do velho inqui jis nioguém>. Pérad- sheng slencosmence Povo. segue o seu camiaho, Aguada eva ioneiro para uum calabougo apertado, tenebroso ¢ aboloadao na tiga do Sanco Oi fh le Paseo diesel om a escurs, quente e «inanimada». O ar acheira a louro ¢ limo», Ne escuridio profunda abre-se de repente a porca de ferro © 0 proprio. velho, 0 grancle inquisidor, com um aechote na mao, entta lentamente re enwovia, Est sorinho, a pora ais dele fecha-se de imediao, ira ¥encadae, durante wm ou dois minuto, perseratn 0 rosto do piso. ‘ic, Por fim aproximese, devagu, pots 0 archore no suport em —Hs Tu? Es Tu? — Como nfo recebe 1 2 30 alo receben resposta imediata, acres- ‘ccnta tapidamente: — Ni eesponds, cala-Te, O que poderis clizes. |e Sei bem de mais o que me dri. Também no tens o dieito depatscena ei o que for guile que fo dio por Ti anteroemenc, "or que vieste incomadat-nos? E que vieste incomodar-nos e Th ped. prio sabe-lo muito bem. Sabes o que Te vai sconttcer meh? Rigg sel quem & nem quero saber: que sejas Tu mesmo ou epenas uma sparéncia dle, amanha mesmo condeno-Te e queimo-Te na fogueita _como 10 pior dos hereges, © aquele mesmo povo que hoje Te by | © p&, amankz, ao meu primeiro sinal, conreré para a Tua fogue _ Paras alimentar com brasas, Sebias isso? Mas ‘Tu, se calhat, jé sabes > acrescenta pentativo, sem deevise o olhar do seu py | —Niao compreendo bem, Ivan. O que € isso? — sortia Alioc oe ac€ entdo estivera a ouvit em siléncio. — & uma fantasia desen. fade ou um etto do velho, um inconcebivel gui pro quo"? Z © Fiss-te a0 menos por esse timo — ciu-se Ivan —-, uma vez que is téo mimado pelo realismo modemo que ji nfo aeuras nada que eit fancstico-. Flaste em gui pro qo, pois que sea iss. Também € dade — voltou a cit-se — os, pase ¥ tit-se — que 0 velho tem aoventa anos e, pos- spel son de, pode er enlouuecde hava muleo Sioa lo estonteado : com a sua aparéncia, Poderia ser, ji te more, sind por cima desesrado polo antoe-€ dos com eges queimacos na véspera. Mas que diferenca nos faz, a tiea mien, aguilo tenha sido um gui pro quo ou uma fantasia desenfrendss Hinpocea apenas o facto de 0 velho ter necessidadle de desabafae ¢ de er acuilo que clon durante os seus noventa anos, 9 prsionio rambém guard silencio? Limica-se a ‘emeemnennenmenem emcee —Tem de ser mesmo assim, em todas os casos — Ivan voltou a ine que ele no tem o diteico de acres- centar seja 0 que for a0 que jé tinha sido dito antes. Se quiseres, nisso que eeside a principal caraceeristica do catolicismo romano, pelo ‘menos na minha opinido: «Tudo, supostamence, foi entregue por Ti se santo pap, «cod, por conseguinte kage as mcs do pips elo que Tu, agora, nfo precisas de vir c& mais, no estorves, pelo Tenet ances do tempo Eneste sentido gue, no 6 flam, ma st bém escrevem os jesuftas. Eu proprio li as obras dos seus tedloges Teris 0 direito de anunciar-nos pelo menos um dos mistérios do mundo donde vieste?», pergunta-Lhe o meu velho e responde por Ele: «Nao, nfo tens o direito, nfo podes acrescentar nada ao que jé foi dico anteriormente, para nao privares as pessoas da liberdade tanto defendesce ducance a Tua vida na Tetra. Tudo o que anuaci ses de novo atentaria contra a liberdade de f€ das pessoas, porque apareceria como milagse; ora, a liberdade de fé delas era para Ti a coisa mais preciosa, nagueles tempos, mil ¢ quinhentos anes atris, Nao fosce Ta quem disse tancas vezes: “Quero rornat-vos li- sees"? Acabaste agora de ver essa gente liver — acrescenta 0 velho com um sortiso significativo. — Sim, esta causa custon-nos muito | — continua, olhando sevetamente para Ele —, mas acabémos por 7 Ievar a cabo esta carefa em Teu nome. Durante quinze séculos ator: ‘mensimo-nos com esta liberdade, mas agora escé cudo resolvido, € resignado e nem sequer me honras com a Tua indignasl0? Fica se bendo que hoje, precisamente hoje, estas pessoas estio mais do qu nunca convencidas de que sio absolutamente livees ¢ t8m, enteotanto trazido a sua liberdade até nds e cém-na depositado a nossos pés. Mas = isso € obra nossa; e Ta, ser que desejasce uma liberdade assim? “Continuo a niio compreender — interrompeu-o Aliocha. — Ele | std a iconizas, a gozar? 4 —De maneica nenhuma, Antes se atribui, asi ¢& sue gente, o me) rito de cerer finalmence vencido « liberdade com a intencfo de darem = a Felicidade as pessoas. «Porque Inquisiglo) se cornow possfvel, pela primeira vez, pensar na fel ‘humana, O homem foi criado em rebeldia, seré que os rebeldes pode set felizes? Avisaram-Te — selhos, mas aio deste ouvidos aos avisos, rejeitasce 0 1 pelo qual se podia organizar a felicidade para as pessoas, mas, sorte, ao parties, eneregaste-nos a causa, Prometeste, firmaste com ‘Tua palavra, desce-nos o direito de arar e desatar e, claro, nem pets fem tirar-nos esse direito agora. Por que vieste of estorvar, entaalas 306 = Oaque significa isso de que ato falcaram conselhos e avisos? ncn Ach, : asec —E precisamente nisso que consiste a esséncia “ aa $50 que co séncia do que 0 velho quer «Um espitito tertivel e sib fe % u sibio, 0 espirico de auto-excerminacio ¢ de nio-existacia — continua 0 velho —-o grande espn Eloee contigo no desert e, nos lives, oi-nos eransmitido qu, supeses nte le “Te tencava". Seri asim? E seca possvel dizer lguma yetdade major do que aque ele Te proclamos em crs perguntas que alate ¢ qu not ios foram chamadas de “ene? No ntanto, se alguma vex foi feito na Terra algum trovejante e verde, deta mlage fo: nee dn. no din nes tonnes Pe ee mente na formulagio dessas trés perguntas que consistia o ‘erdadeizo milagre Se fesse posivel imaginary, x5 como experéncia ¢ exemplo, que estas trés perguncas do espitito terrivel foram ine mediavelmente perdidas nos livros e que era preciso recupert las volta invennilas parses intoduzir outta ver aos lion, ce ok iso se eunissmn todos os sdb da‘Teve: goverore, sumer cerdotes,cienists, Flésofos e poeta (e dazIhes ume anefar wen, tai trés perguntas, que néo s6 cortespondam a envergadurs do acontecimento mas que também exprimam, em tits palaces ome apenas crés frases Iumanas, coda a fatura hisedtia do mundo e da humanidade), enti, achas que coda a sabedora da Teta, em con | junto, poderia invenear alguma coisa igual em fo fi le jane, cm forca e profundidade _ Ssuelas erés perguneas que, de facto, Te foram propestas naquele __ Momento pelo esprito podetoso e sibio do deserto? | guntas, 6 pelo milagre do seu aparecimento, € pos __ de nfo se aca do inelecto mano tans | incelecto eterno e absoluto. Porque nestes tre : és perguntas est contida ¢ predita code a Futura hiseéria humana esto presentexes toe waa __ 8285 a que se resumem todas as irresoldvcisconttacigies histone ‘nacuresa humana em toda x Terr, Nagel tempo sso no era Ga So ise, porque ofauco era ncdgnito, mas agors, passes jinze séeulos, vemos que cudo nessas perguntas exewre fan formalado ¢ profetizado, e que tudo se campriu com mate ann ‘Ho gue € impostvel actescentarihes ou suberates alguma cosa, pee ite a9 quem sinha ro ex ow aque que enti Te ind ? Lembrate da primeice pergunts; embora aio ej ler, 0 sen. lo dela eta: "Queres ir para o mundo de mios vazias, corm ona aualquer promessa de liberdade que ces, sua simplicidae ¢ ign zar, de que eém ara 6 homem 307 2 Eseds a ver estas pedras neste Seccreo nue incandescence? Transforma-es em piles, ¢ a hum dee eaejete-4 come um Febanho geato e obedience, embora sempre co ae : sisesee pri mem Jiberdade € rejeitasce a propose reat ch com pies? Argumentaste que nem s6 de pio vive 0 homer, corer on ako que, em nome deste mesmo po cerreno, s¢ revol- into ateés dele, exelamanda: "Quem se igvalard 3 bear pe 9 7 20 fogo dos céus?” Sabes ou no que passario séculos ea human 5 melamnaed pela boca da sua sabedoria e da sua ciéncia, que ndo eases eames niio existe também o pecado, mas existem ver. ee io 04 cs 7 na bandeira que Lasers contra me eae ca novo edificio, er- a ‘e soe ‘a terrivel Torre de Babel e, embora esta também nao é ‘mo a anterior, poderias em qualquer caso a consid aa fi, come a ancerion, pod om tenes que Te amam, devem servir apenas de macerial para os grandes e for~ tes? Néo, também aos sio quetidos os fracos. Si0 pervercidos ¢ re- beldes, mas, no fim, setdo precisamente eles 0s obedientes, Véo admirar-nos considerar-nos deuses porque nés, & frence deles, con- Sentimes em suportar 0 fardo da liberdade e em governé-los: tao terrfvel acabard por lhes parecer 0 serem livies! Mas diremos que obe. decemos a Ti e governamos em ‘Teu nome. Voltaremos a engané-los porque nao Te deixaremos, desta vez, aproximares-Te de nés. Nesta falsidade consistiré o nosso sofsimento, porque teremos dle mentir. Era esse 0 significado daqucla primeira pergunta no deserto e foi isso que sejeitaste em prol da liberdade, que colocaste acima de cudo. No en fanto, nesta questo residia o grande segredo do mundo. Se tivesses aceitado os «pies», terias respondido a asia humana geral e eterna, tanto individual como da humanidade, a ansia de a gente «se incliz nat diante de alguéms. Nao hé preocupacio mais constante e rocti zante para o homem do que, 20 ver-s livee, encontrar o mais depressa possivel alguém diante de quem possa inclinarse. Mas © homem procura inclinar-se perante aquilo que jé é incontestével, co incon testavel que niaguém ple em causa a sua venerac eupagio destes seres miserdveis nfo consiste apenas em enconerar aquilo perante o que se incline este on aquele, mas em enconcrar qual- quer coisa em que todos acredicem ¢ perante « qual todos se inclinem, | © que deve ser feico obrigatoriamente por fades juntos. Esta neces B_ dade de conunidade de veneragio & justamente o tormento principal | de cada individuo em separado e da humanidade em geral, desde o | principio dos tempos. Por causa da veneragio universal, ab pessoas tém-se exterminado a espada umas 3s outtas. Criavam deuses ¢ cla ‘mavam umas as oucras: « ce deuses. F os cuttos? Que culpa cn os reseances, 05 fra- os que nfo pderam saporear 0 mesmo que os forees? Que culpa term.” io 6a decisio livre dos coragdes deles nem 0 amor que ¢ém. Foi isso que fizemos. Corrigimos & ‘Amos com amar o fardo desta humanidade e quando pecmitimos vez queitas ouvi-lo precisamente da nosto segredo! Hé muito que aio estamos contigo, mas com ele, ht cio séculos, Ha precisamence ota séulos recebemos dele aquilo que rejeixate com indignagio, aquela dermadeira dédiva que ele Te pro: panha, mostrandosterodos os reinos do mundo: recebemos dele Roma © a espada do césar e proclammos que somos reistnicos na Terr, reis, embora até hoje nfo tenhamos conseguido levar a nossa causa até 20 objectivo final. E de quem 6 culpa? Oh, a absa esti ainda no sea principio, mas j€comegou. Hi ainda muito que espera até sua com clusfo, ¢a Terra vai ainda sofeer muigo, mas alcengaremos © asso objectvo e seremus césares,e 36 entio pensatemos na flicdace uni. versal das pessoas. Hneretant, tetas podido, ja nesu altura, aceite 4 espada de césu. Por que rejitasce essa dima diva? Se evesss eel. tado 0 dltimo conselho do espicito poderoso, certs completedo edo | oque o homem procura na Terra, ou sea: diance de quem se eve a gente inclioar, a quem se deve encregar a consciéneiae de qe ta. neir a gente se pode, fnalmente unit num formigueit incontestado ¢ solidirio, porque a necessidade de uaito universal € 0 texceizo € __slrimo cormento das pessoas. A humanidade desde sempre aspirou a orgunizar 2 sua vide universamente. Houve muitos geandes povos __ com grande Hiseéiae, uanco mais altos eram esses powos, mais forte fa asua conscinca, em relagfo aos outros, da necessidade da unito | universal das pessoas. Os grandes conquistadores, os Tamerlzo ¢ 0¢ Gengis-Cio, passaram como uma tempestade pela Terra aspitando cents 0 eniveso, ma amb l,i iconceremen sn a mesma grande necessidade da unio mundial e geral da humane iverson cota do muro eset onto | cGsar¢ teas fandado 0 reino universal e dado @ todos a pez univer- sal, Porque: quem mais deve dominar as pessoas senio aqueles que doin acosioca del ue tim ne rio pes as? Foros és, entfo, que pegémos na espada do césare, 20 pegarmos nela, re jeitdmos-Te, obviamente, e seguimo-lo a ele. Oh, at sind sé culos de desmandos do intelecto livre, da cigncia © da anceopofagia } celes, porque, ao comecarem a consteuit a sta Torre de Babel sem ns, sles acabarfo, sem davida, por chegar & ancropofagia. Chegaci encio | besta, a rastejar, e comegard a lamber os nossos pés, a salfpicé-los com | % suas Ifgrimas sangrentas. E montaremos a besta, ¢ ergueremos a face, eestrk escrito ela: “Mistério!" Entdo, es6 end, chegest pare as Lec 0 reino da ee ¢ da Felicidade, Orgulhas-Te dos Teas ee 8, mas tens apenas eleeos, ao passo que nés acolheremos toda gene E eanbm ao € mesmo asin nfo ido pour ae Selon 0: Fores que poderiam tora eleitos mas que aeabaram pot se can- ar de Ficar & Tua espera e que levaram, ¢ levardo ainda, as forcas do 313 eu espitito ¢ 0 ardor do seu coragfo pata outro campo ¢ acabasfo por Jevantar contra Ti a sua bandeia lire. Mas foste Tu quem ergueu esca cia. Encretanto, connosco toda a gente seré feliz, ¢ no se vo fexterminar uns 20s outros por todo o lado, como fazem na Tus libes- dade. Oh, consegiiremos convencé-los de que serio livres apenas quando desistirem da sua liberdade a nosso favor e quando se nos sub- theterem, EnrZo, reremos razfo e mentiremos? As prOptias pessons fi- tatio convencidas de que temos razfo porque se hio-de lembrar dos hhorrores de escravidiéo e percurbacio « que as levou Twa liberdade. IA tiberdade, 0 inteleceo livre e a cidncia levé-las-io para brenhas tio jnetansieivels e colocé-las-fo perance tais milagces e mistérios irseso- livels que algumas delas, indomaveis ¢ ferozes, exterminar-se-fo a si prdprias, @ a outras, insubmissas mas fincas, exterminar-s¢-30 mas 5s ourras, e oucras ainda, as restantes, fracas e infelizes,rojar-se-3o 20s hossos pes ¢ clamacio: "Sim, efnheis razao, éteis 0s Ginicos que pos- suieis o mistério Dele, voltamos para v6s, salvai-nos de nés préprias.” ‘ho teceberem o pio das nossas mfos, vero claramence que tomamos iado pelas suas prdptias mas, ¢ 0 distribufmos por ess, Sem qualquer milagre, verdo que ni cransformmos as pedcas em pies nas, muito mais do que o pio em, si, dat-lhes-4 felicidade recebé-lo ‘as nossas mfos! Porque se lembrario muito bem de que ances, sem nds. os pes que ganhavam se transformavam em pedras nas suas mos; fe, quando voltarim para nés,essas pedras transformarim-se nas suas tos em pies. Perceberio muito, mas muito bem o aleo valor da sub~ tnissto deliniciva, para sempre! F enquanto as pessoas 0 ndo percebe- fem serio desgragadas. Diz 14, quem, mais do que todos, contribuit para esta incompreensio? Quem fragmentou 0 rebanho ¢ 0 dispessou pelos eaminhos desconhecides? Mas o rebanho vai reunir-se outta ver cidade sossegada e submissa, a felicidade das eriacuras fracas tal coma foram criadas, Ob, convencé-las-emos a que deixem de ser of 5 porque Tu as elevaste e, com isso, Ihes ensinaste o orgull provarelhes-emos que sio feacas, que sfo apenas eriangas insignifican~ fes ¢ que a felicidade infantil € a mais doce de codes. Tornar-se-30 timidas e vio por-se a olhar para nés, ¢ abrigar-se-Ko em nds cheias de medo, como os pintainhos debaixo da galinha. Vio admirac-nos cemer-nos, ¢ orgulhat-se por sermos tdo fortes e to stbios a0 levar~ mos & obediéncia 0 seu rebanho rebelde de milhares de milhécs. ‘Tremerio, sem forges, suas mentes tornar-se cimidas, 05 seus ‘imosos, como os das mulheres ¢ das cri Gas, mas endo passaci com facilidade, a ums ordem nossa, para ale- gulhos ibeia €0 rico, para a alegria despreocupada ¢ a cantige infantil. Sie,” 314 ici submisso de uma vez por todas. Bacio daremos 3s pessoas ume obrigé-los-emos a trabalhas, mas nas suas horas ganizaremos a vida deles como uma brincedeir {ga8 em coro, com dances ingénuas. Oh, pezmi O peed, els sto Finis e impocenes€ ao amar-nes com ecnaga por Ihes termos permitido pecar. Dir-thes-emos que cada pecado seré limi fr came com a nom sty ca bem, cones -lhes esta licenca para pecar porque gostamos dees © aceta at 0 estgo pelos pecador dees a nosto pepo aug Assumiemos responsabilidad pelos pecaclos, e as pessoas vo adorar-nos como bea~ icone que asuminm os poids dela pernte Deus Bo escon lerdo de nds quaisquer segredos. Vamos permitis-Ihes ‘iveem com tse mes ou amante trem ou no ccm lbs, tudo em funcio da obediéncia deles, e eles vo obedecer-nos com ale- tia. Vio contar-nos tudo, tudo, 0s mais doloresos segredos da sua consciacia, ¢ abrolvremos euo, ¢ eles vio acedicar mas nossas lecisées com alegria porque, assim, serio libertados da grande preo- cupagio e dos cectiveis conmentos de comat as decisdes pessoa elivees ‘que tém hoje em dla de tomar. E todos serio felizes, codos os millies de seres humanos, & excepcio de umas centenas de milhares dos seus governantes. Porque $6 n6s, 0s que guardamos 0 mistério, seremos infelizes. Havetd milhaces de milldes de eriangas felizes e cemm mil so- fredores que carcegam com o fardo do conhecimiento do bem e do ral Bes morrerfo serenamente, apagar-se-fo serenamence em Teu nome «©, pata 1é do cémulo, obrerio apenas a morte. Mas guardaremos 0 segredo e, para a felicidade deles, vamos seduzi-los com a recompensa celestial e eterna. Porque, mesmo que houvesse qualquer coisa no ‘outro mundo, nunca seria para criaeuras como eles. Diz-se e profetiza- -se que vinds © de novo venceris, que viris com os Teus cleitos, com 0s Teus orgulhosos ¢ fortes, mas diremos quie esses s6 se salvarem a si ‘mesmos, enquanto nds salvimos todos. Dizem que send sujeita a0 opeébrio a prosticuts que monca a besta ¢ segura nas suas mos 0 _mistrin, que 08 feacos se revolcario de novo e rasgarSo © manto de piir- pura dela, e que desnudario 0 seu corpo «tepugnante». Entio levanto- ~me eu ¢ indico-te milhares de milhes de crianges felizes que ito __ conheceram 0 pecedo. E és, que assumimes a responsabilidade pelos pecados dessas criangas, para 2 felicidade delas, compace anc, dade delas, -ceremos diane de Tie ditemos: “Jalga-nos, se podes e Te atreves Fee sebeedo que rio tenho medo de Ti. Fica sabendo que também cu estive no desert, ime alimentei de gafanhotos e rafzes, que também eu abengoei a li- [_berdade com que abengoaste as pessoas, ¢ que também me preparel para entrar nas fileiras dos Teus eleitos, dos poderosos e fortes, ansi todo por “completa 0 mmeto™ Mis cif em mim e ato quis servi a 315 oucusa. Voltei e junteieme A legito daqueles que sorigizan a Tra ob ‘Abandonei os orgulhosos e woltet para junto dos submissos, em prol da felicidade desses submissos. O que Te digo vai cumps seck construido. Repito-Te que amnanha mesmo verés este rebanho sub~ "ao eeu primeito sinal, cortesé para atear com brasas # Tus fogueirm= em que Te qucimarei, porque vieste estorvar-nos Porque ve alguma vez existiu alguém que mais merecesse « nossa fo- guém és Tu. Amanhi queimar-Te-ei. Dist.» arse. Exalcara-se muito enquanto falava, era grande 0 seu encusiasmo, mas, quando acabou, sorrit inesperadamente. ‘Aliocha, que ouvia o irmio em siléncio ¢,jé para o fim, aura emo- gio execema, quis interzomper-Ihe muitas vezes 0 discurso mas aca- bow par se conter sempee. Agora, como se tivesse perdido a contengio, desatou a far “Mas... € um absurdo! — gritou, muito vermelho. — O eeu poema um louwvor a Cristo, ¢ nfo uma injécia... como quiseste fazer rer, E quem vai acreditar naquilo da liberdade? Ser& necessirio en- tendé-la assimn? Serd essa a compreensio dela na nossa fé ortodoxa?. Isso é Roma, ¢ nem sequet toda a Roma, nio € uma verdade de todos cles... apenas dos piores do catolicismo, os inquisidores, os jesuitas.. E into é possivel cer alguia vez existido a personagem fantdscica do teu inquisidor. Que pecados humanos os outros tomaram & sua conte? Que portadores de mistério tomaram & sua conta 4 tal maldigio em prol da felicidade das pessoas? Quem os viu alguma vez? Conhecemos (0s jesuitas, fala-se mal deles, mas serdo eles tal como os cescreves? NAO, eles nfo so nada disso... Sdo apenas um exército romano para ‘ furaro reino romano em toda 2 Terra, liderado pelo imperador, que 0 sumo pont al deles, mas sem quaisquet ‘istérios e sem essa tristeza sublime... O mais elementar desejo de ppoder, dos imundos bens tertenos, de escravizacio.... um género de fucura servidio da gleba, 0 seu desejo de serem proprietiios de es- crave... e mais nada. Talver nem sequer tenham fé em Deus. O ceu inquisidor sofredor nfo passa de uma fantasia... seespern cepert see Ivan —,exaltase-re de mist Um fon dizes cu, pois que seje! Claro que € uma faneasia. Mas permite- sme que ce diga: see que pensas realmente que todo este movimento ‘eatélico dos iimos séculos é apenas um desejo de poder, que tem & Tinica finalidade de obter bens imundos? Nio seré o padre Pasi quem re ensina essas coisas? no, pelo contaftio, 0 pade Passi disse uma vex algo pa ecido com 0 que tu disseste... claro que nfo foi mesmo isso, ndo fe nada disso — emendow Aliocha. gue, es ice romano... € este 0 i 316 —E uma informagio preciosa, apesar do teu «nada disso». A per- punta que te faco € precisamente esta: por que € que os jesuftas € 0 inguisidotes se uniram para obter apenas os repugnances bens mate- riais? Por que razio € impossfvel aparecer encre eles algum ve sofredor, atotmentado pela grande amargura e com amor & Gace? Ouve, supe que foi encontrado pelo menos um, ao meio de todos aqueles que apenas desejam bens materiais ¢ imundes, pelo ‘menos um homem, como o meu inguisidor, que também comia tai- 2¢5 no deserto ¢ que também se desvairava, mortficando 0 seu corpo ppara se totnar livre ¢ perfeito, mas que apeser de cudo, durante toda sua vida, amou & humanidede e, de repence, abrix os olhos e viu que ‘io valia muito o prazer moral de atingir a pecfeigio da vontade quando, ao mesmo tempo, os milhdes das restantes criaturas de Deus continuavam a ser crindas por gozo, que nunca poderiam lidar bem com a sua liberdade, que os sebeldes miseréveis nunca se tornariam igantes capazes de concluic 2 conscrugio da Torre, que néo fora paca ‘estes bichos que o grande idealista sonhara a sua hatmonia. Ao per- ceber tado isso, voltou e... juntou-se & genee ineeligente. Seré que no poderia acontecer uma coisa dessas? —Juntou-se a quem? A que gente inteligente se juntou? — ex- clamou Aliocha & beita da exaltagio. — Nao tém inteligéncia ne- nhuma, nem mistétios, nem segredos... O segredo deles € apenas uma descreng2. O teu inquisidor niio tem fé em Deus, € esse © segredo dele! —E depois? Finalmente, pescebeste. De facto ¢ assim, € realmente nisso que reside todo o segredo.... Mas niio serd isso um softimento, ‘mesmo para tim homem como este, gue gastou toda a sua vida a far sana do desetco € no se curou do amor i humanidade? No oceso dos seus dias convence-se claramenve de que apenas os conselhos do grande € tertivel espitito poderiam onganizar, de alguma maneira, a vida dos rebeldes fracos, das «criaturas imperfeitss, expecimentais, _goz0>. Entlo, eo convencer-se disso, ele vé que é preciso seguir as in- dicagBes do espitito sibio, do tertivel espitito da morte e da destrui- ‘io, € para isso aceitar a mentira e a flsidade, e levac as pessons, ja conscientemente, para a morte ¢ para a destmniglo, enganando-as du- ante todo 0 caminho, para que nfo se dessem conta de para onde e5- favam a ser levadas, para que estes cegos misectveis, pelo menos durante o percutso, se considerassem felizes. B, separa, éa mentita em ome daqucle em cujo ideal o velho acreditava apaixonadamente du- rance coda a vidal No é uma tragédia? E se pelo menos um homem assim aparecesse & cabeca de codo este exército «ansioso pelo poder apenas paza ter bens imundosr, nfo seria o suficiente para acontecer 317 tuma eragédia? Mais ainda: basta um homem assim como Lider para «que stra, finalmence, uma verdadeira idein dirigente para toda a ceusa romana com todos of seus exércitos e jesuftas, urna ideia suprema da causa, Digo-te abercamente que tenho uma f@ sélida de que este lhomem nico nunca faltou no meio dos lideres do movimento. Quem sabe se estes atinicos» nfo apareceram também entce os sumos sacer- lores romanos. Quem sabe: talvez este velho maldito, que ama ¢ bu- ‘manidade com canta persisténcia ¢ originalidade, exista ainda hoje na forma de coda uma legit de velhos deste género, ¢ nto exista por ‘caso, mas como uma concérdia, como uma undo secreta, hf muito organizada para guatdar 0 mistério, para o esconder da gente fraca e desgragada com 0 abjectivo de fazé-la feliz. Deve existt, tem de exis- tir logicamente. Tenho a sensacfo de que mesmo 0s magdes devem ver alguma coisa semelhante a este mistério nos fundamentos deles e que (0s catélicos odeiam tanto os magées porque véem neles concortentes a fragmentagio da ideia, enquanto o rebanho deveria set nico ¢ 0 pastor também. Aliés, «0 defender 2 minha ideta, fago « Ggure de lum autor que nfo aguencou a cua critica, Basta de falar dist. —Se calhar eu proprio é magio! — escapou de siibito a Aliocha — Nito eens fé em Deus — acrescentou com grande amargura. Além disso, pareceu-the que o irmdo olhava paca ele com ironis. — Eatio, ‘qual é 0 final do teu poema? — perguntoa subitamente, olband para © cho. — Ou jé acabou? —Queria acabé-lo assim: 0 inquisidor calou-se ¢ experou algum cempo pela resposea do prisioncizo. O silencio deste é-Ihe penoso. Vica {que 0 prisioneigo 0 ouvia sempre com atengio e serenidade, olhando- 0 directamente nos olhos e, pelos vistos, no querendo responder nada, O velho goscaria que Ble Ihe dissesse pelo menos algusma coisa, nem que fosse amarga, assustadors. O prisioneiro, porém, aproxima~ se em siléncio do velho e beija-o nos labios exangues de noventa ancs. E coda a resposta. O velho estremece, Qualquer coisa the treme aos cantos da boca. Vai até & porta, abre-a e diz: «Vai-Te embora e nfo voltes mais... nfo voltes... nunca, nancal» E deixa-O sair para as ras escueas da cidade. O prisioneito afaste-se. arde-the no cotacio, mas fica com a sua ideia —E tw com ele, também? — exclamou Aliocha com crisceza. Ivan —Mas, Aliocha, isto nfo passe de uma ninhatia, € apenas om poema desajeitado de um estudance inepto que aunca na vida conse~ _guin escrever sequer dois versos. Por que 0 levas tio a sério? Nao estas 4 pensar que eu vou jé dequi a correr, diteito aos jesuftas, para me 318 juncar & legido daqueles que estio a corrigit a obra Dele, pois no? Os, meu Deus, queco li saber! JE ce disse: quero apenas chegne aos trinta anos ¢, depois... parto a tag —E as folhinhas pegajosas, e 0s imulos quetidos, ¢ 0 oéu a mulher ameda? Como € que vais vives, como é que vais ami-los?. clamou Aliocha amargamente, — Sera possivel com esse inferno no ppeito e na cabeca? Nao, com certeza vais I para re juncates a cles de oucro modo, matas-te a ti pr6prio, no aguentas! — Hi uma forga que aguenta tudo! — disse Ivan com uma ironia fina, — Que force? —A forca karamazovista... a forga da infimia dos Karamézov. —Quer dizer, 0 afundamento na depravacio, 0 esmagamento da alma na corrupedo, nio & —Talves isso, também... mas até aos erinca ainda talvez seja ca deo evitar, ¢ depois... pele de —Evitar como? Por que meios? Com as tuas ideias, ¢ imposstvel —Evito-o a maneira dos Karamézov. —Quer dizer, «cudo é petmicido»? Tado permitido, & isso? Ivan catregou 0 sobrolho e, de repente, empalidcceu escranha- mente, —Ah, ab, repetiste a palavrinha de ontem, que tanto ofendeu 0 ‘Mitssov...e que alterou de modo tio ingénuo 0 maninbo Dmnitei! — dis- alvez, «tudo permitido», jé que tal fi pronunciado. Nao 0 nego. A versio do Dmieei também aifo é mi. * Aliocha, calado, olhava para o irmio, —Meu amigo, na hora da partida eu pensava que te ‘menos 2 ti no mundo — disse de stibito Ivan com uma forga de sen- imento inesperada —, mas agora vejo que no teu coracia também ‘fo ha lugar para mim, meu caro anacoreta. Nio rejeitaria 2 fSrmula do «tudo é permitidor... E agora? Vais cejeitar-me px Alliocha levantou-se, aproximou-se dele ¢ beijou-o nos I ‘namente, em siléncio. — Pligio liteeScio! — gricou Ivan com um sibito eneusissmo, — Ronbsste-o clo meu. poema! Mesmo assim, obrigedo. Levant Aliocha, vamos, jé sto horas para mim e para ti. Salram para a rua, mas ficaram paradas & porca do rescaurante, —E 0 seguinte, Aliocha — disse Ivan numa voz firme, — Se realmente eu for capaz de amar as folhinhas pegajosas, apenas as ama- rei lembrando-me de ti. Basta-me pensar que existes algures para nio perder a voneade de viver. Isso chega, para ei? Se quisetes, toma-o ‘como uma declaragio de amor. Mas agora meco para a direita, e tu 319 para a esquerda...¢ basta, cuvise, basta, Ou seja, se porvencura eu ‘nfo partir amanhil mas parece-me que vou partir mesmo) e se nos encontrarmos por acaso, aio fales mais comigo sobre todos estes temas. Peco-te encarecidamente. B também sobre 0 nosso irmio Dmieri, peco-te em especial que nunca mais fales dele comigo —aceescentou de repente com irritagio —, esté tudo dito, esgotado, nfo € Da minha parte, fago-te também uma promessa: quando, 20s trinta anos, eu quiser «quebrar a eaga contet 0 chiio», enti, estejas conde eseiveres, virei mais uma vez para falar contigo... nem que seja preciso vir da América, podes ter a certeza. Virei de propésieo. Teel. grande curiosidade em ver-re nessa aleura: como seris tu ent? Como ‘és, € uma promesst bastante solene. Na verdade, estamos a despedir- -nos por uns sere ou clez anos. Esti bem, agora vai eer com o teu Pater Seraphicus, esté @ morte... Se ele morter sem ti, se calhar Ficas zane zgaclo comigo por ee cer demorado tanto tempo. Adeus, beija-me a tuma vez, assim mesmo, agora va Ivan, num repente, voltou-se ¢ avangou pelo seu caminbo sem olh para cris, Partia da mesma maneira que, na véspera, partira 0 se irméo Dmiferi, embora esta fosse uma pactida de outro género. Bet strana observacio passout como, uma faisea pela mence Aliocha, uma mente tio amargurada neste momento, Bsperou pouco, sempre com os olbos cravados nas costas do iemio. Por q ‘quer Fiza, eeparou de repente que o itmio andava como que a balo ‘e que 0 seu ombro diceito, visto de costas, parecia mais baixo do 6 esquerdo. Nunca ances reparaca nisso. Depois Aliocha deu mei va e deicon a corzer na dieeglo do mosteiro. Jéescurecia e estava q com medo; qualquer coisa nova, a que nifo podia dar resposta, ct dencro dele, Tal como na véspera, levancou-se o vento, 0s pinhelf seculares ramalhavam socurnamente & sua volta quando entrou 0 quedo da ermida. Ia depressa, quase a cocrer. «*Pater Serapbic Ivan deve ter tirado de alguim lado este nome... mas donde? sp sou pela cabeca de Aliochs. «Ivan, pobre Ivan, quando ce vere vvex?... E jf a ermida, meu Deus! Sim, sim, & ele, € ele 0 Seraphicus, é ele e vai salvar-me... dele e paca Sempre!» Mais eaede, varies vezes na sua vide, Aliocha viria a recordae ‘grande perplexidade como foi capaz, depois de se ver despedidp Than, de se ter esquecido por completo do irmio Dmitri, qué de manha, poucas horas antes, queria encontrar sem falta, Ne fosse preciso ficar na cidade e ir

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