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Thais Cristéfaro Silva Fonética e fonologia do portugués ROTEIRO DE ESTUDOS E GUIA DE EXERCICIOS Copyright © 1998 Thais Cristofaro Silva “Todos 0s direitos desta edigao reservados 3 Eprrota Conrexto (Editora Pinsky Ltda.) Diagramagao: Niulze Aparecida Rosa Revisdo: Sénia Alexandre Projeto de capa: Antonio Kehl ‘Dados Inernaionas de Catslogagto na Publicado (a) (Camara Brusera do Livro, s Bras) Siva, Thats Cristare. Fondticae fonclogia do portuguts: rosie de estudos ¢ guia de csereicio / Tats Critfaro Siva. 7. .~ Sto Paulo: Contet, 2003. Bibliograia ISBN#5-7244-102-6 1. Portugués = Brasil. 2. Portugués = Fonematicn 3. Portugués = Fondtica. 4 Portugats - Fonologia. I. Titulo. 8.4300 Indies para catilogo sisteratic: 1. Bonematea + Pomtagute Lingtica | 469.15 2 Foneica + Portugues: Linguistica 462.15. 3. Fonologia: Portugues: Linguistics 469.15 Eprtona Covrexto Diretor editorial: Jaime Pinsky ua Acopiara, 199 Alto da Lapa (05083-110 ~ Sdo Paulo ~ se nox: (11) 3832 5838 contextoGeditoracontexto.com.br weweditoracontexto.combr 2003 Proibida a reprodugdo total ou parcial. Os infratores sero processados na forma da lei Fonética 1. Introdugéo Esta parte é dedicada ao estudo da produgo da fala do ponto de vista fisiolégico articulat6rio. Inicialmente, descrevemos o aparelho fonador e discutimos o mecanis- mo fisiol6gico envolvido na produgio da fala. Em seguida, consideramos as proprieda- des articulat6rias envolvidas na produgio dos segmentos consonantais e vocdlicos. De posse deste instrumental podemos descrever, classificar e transcrever os sons da nossa fala. O instrumental a ser apresentado nas préximas paginas permite-nos descrever qualquer som de qualquer lingua natural. Neste livro enfatizamos a descri¢o dos sons do portugués brasileiro A fonética € a ciéncia que apresenta os métodos para a descrigao, classificagio e transcrigdo dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem hu- mana. As principais dreas de interesse da fonética si Fonética articulatéria— Compreende o estudo da producdo da fala do ponto de vista fisioldgico e articulatorio. Fonética auditiva — Compreende o estudo da percepeao da fala. Fonética actistica — Compreende o estudo das propriedades fisicas dos sons da {fala a partir de sua iransmissdo do falante ao ouvinte. Fonética instrumental - Compreende o estudo das propriedades fisicas da fala, levando em consideracdo 0 apoio de instrumentos laboratoriais. Nas proximas paginas, investigamos aspectos fonéticos do portugues brasileiro do ponto de vista articulatério com 0 objetivo de entendermos a produg’o dos sons que utilizamos em nossa fala. Nota: Os trechos do livro que possuem informagécs complementares no CD estio indicados por um feone (@). acompanhado do niimero da faixa respectiva. 24° Fonética - © aparelho fonador 2. O aparelho fonador Os érgdos que utilizamos na produgdo da fala ndo tm como funcio priméria a articulagao de sons. Na verdade, nao existe nenhuma parte do corpo humano cuja tinica fungdo esteja apenas relacionada com a fala. As partes do corpo humano que utilizamos na produgao da fala tém como fungao priméria outras atividades diferentes como, por exemplo, mastigar, engolir, respirar ou cheirar. Entretanto, para produzirmos qualquer som de qualquer lingua fazemos uso de uma parte especifica do corpo humano que denominaremos de aparelho fonador. Com 0 objetivo de compreendermos 0 mecanismo de produgdo da fala e da arti- culagdo dos sons & que passamos, entdo, & descrigao do aparelho fonador. Podemos dividir em trés grupos os érgdos do corpo humano que desempenham um papel na producdo da fala: o sistema respirat6rio, o sistema fonatério e o sistema articulat6rio. Sistema articulatério (aringe lingua, nariz, palato, dentes, labios) ‘Sistema fonatorio (laringe onde esta a glote) Sistema respiratério (pulmBes, musculos pulmonares, brénquios, traquéia) Figura 1: Os sistemas respiratério, fonatério e articulatério Consideremos cada um dos sistemas ilustrados acima. O sistema respiratério consiste dos pulm@es, dos misculos pulmonares, dos tubos bronguios e da traquéia. O sistema respiratério encontra-se na parte inferior & glote, que é denominada cavidade infraglotal (cf. figura 1). A fungdo priméria do sistema respiratorio € obviamente a produgao da respiragao. O sistema fonatério é constituido pela laringe. Na laringe localizam-se miiscu- los estriados que podem obstruir a passagem da corrente de ar e so denominados cordas vocais. O espaco decorrente da no obstrugdo destes misculos laringeos chamado de glote. A funcdo primaria da laringe é atuar como uma vilvula que obstrui Fonética - © oparelho fonador 25 entrada de comida nos pulm@es por meio do abaixamento da epiglote. A epiglote é a parte com mobilidade que se localiza entre a parte final da Iingua (ao fundo da gargan- ta) e acima da laringe (cf. figura 1). O ato de engasgar envolve o fato de que a epliglote nao obstruiu a entrada de alimento no sistema respirat6rio. O ar dos pulmées sai entiio visando a impedir a entrada do corpo estranho (0 alimento) no sistema respiratério. Osistema articulatério consiste da faringe, da lingua, do nariz, dos dentes e dos labios. Ou seja, das estruturas que se encontram na parte superior a glote (cf. figura 1). Sio varias as fungdes primarias desempenhadas pelos érgaos do sistema articulatério. Estas fungées relacionam-se principalmente com o ato de comer € podemos salientar: morder, mastiger, sentir 0 paladar, cheirar, sugar, engolir. Os trés sistemas descritos acima caracterizam 0 aparelho fonador e sao fisiolo- gicamente responsaveis pela producdo dos sons da fala. Levando-se em consideragao as caracteristicas fisiolégicas do aparelho fonador, podemos afirmar que hé um nimero limitado de sons possiveis de ocorrer nas Ifnguas naturais. Isto deve-se ao fato de ser fisiologicamente impossivel articular um som em que a lingua toca a ponta do nariz. Por outro lado, sons cuja articulacdo envolve a lingua tocar os dentes incisivos supe- riores so atestados em intimeras linguas. Em outras palavras, enquanto certas articula- des sao fisiologicamente impossiveis, outras s4o recorrentes. Considerando-se, portanto, as limitages fisioldgicas impostas ao aparelho fonador, podemos dizer que 0 conjunto de sons possiveis de ocorrer nas inguas naturais é limi- tado. Na verdade, um conjunto de aproximadamente 120 simbolos é suficiente para categorizar as consoantes e vogais que ocorrem nas linguas naturais. Considerando que seres humanos sem patologia apresentam um aparelho fonador semelhante (variando quanto as dimensdes dos 6rgaos), podemos deduzir que toda e qualquer pessoa sem deficiéncias fisiolégicas seja capaz de pronunciar todo ¢ qual- quer som em qualquer lingua. Tal afirmagao é verdadeira. Porém, parece que na ado- lescéncia a capacidade das pessoas de articularem sons novos (de lifiguas estrangei- ras) passa a ser reduzida. Precisar exatamente esta idade e as raz6es que levam aessa perda da capacidade de producao de sons novos, certamente nos levaria muito além do objetivo deste livro. © que podemos explicar aqui é 0 fato de que a maioria das criangas que venham a estar expostas a uma segunda Ifngua falardo esta lingua sem qualquer sotaque. Adultos que sejam expostos a uma segunda lingua, quase que em sua totalidade apresentam sotaque com caracteristicas de sua lingua materna. Descrevemos acima o aparelho fonador. Nas prdximas paginas discutimos a pro- dugdo de segmentos consonantais e vocélicos que sdo possfveis de ser articulados pelo aparelho fonador, Nosso objetivo é fornecer um instrumental que permita a descrigao e classificacio dos sons do portugués brasileiro. Portanto, damos énfase & caracterizagio dos segmentos consonantais e vocdlicos que ocorrem nesta lingua. Outras linguas po- dem ser utilizadas para ilustrar aspectos que nao ocorrem no portugues. Descrevemos inicialmente os segmentos consonantais e, posteriormente, consideramos a descrigdio dos segmentos vocilicos. 26 Fonética — A descrig&o dos segmentos consonantais 3. A descrigGo dos segmentos consonantais Todas as linguas naturais possuem consoantes ¢ vogais. Entenderemos por seg- mento consonantal um som que seja produzido com algum tipo de obstrugao nas cavidades supraglotais de maneira que haja obstrugao total ou parcial da passagem da corrente de ar podendo ou no haver fricgao. Por outro lado, na producao de um seg- mento vocdlico a passagem da corrente de ar nao é interrompida na linha central ¢ portanto nao hé obstrugao ou fricgdio. Certos segmentos tém caracteristicas fonéticas no tao precisas, seja de consoante ou de vogal. Estes segmentos sao denominados na literatura de semivogais, semicontéides ou glides. Adotamos o termo glide (pronuncia- se “gl[ai]de”) para referir a tais segmentos, Segmentos vocilicos e glides so tratados aps a descrigio dos segmentos consonantais. A descrigo apresentada abaixo segue pardmetros articulatorios. Hé ainda a pos- sibilidade de caracterizar segmentos adotando-se parametros actisticos. Tais parametros descrevem as propriedades fisicas dos sons da fala. Recomendamos a leitura de Fry (1979) aos interessados em investigar aspectos te6ricos da descrigfo actistica. Um texto em portugugs que aborda aspectos actisticos da fala € Motta Maia (1985). Classificamos as consoantes de acordo com a proposta apresentada em Abercrombie (1967). Embora tenha sido publicado ha tres décadas 0 texto de Abercrombie oferece recursos tedricos ainda atuais, sendo a obra mais adequada para a caracterizagio dos parmetros articulatorios dos sons da fala. Na produgdo de segmen- tos consonantais os seguintes pardimetros so relevantes: 0 mecanismo e diregdo da corrente de ar; se hd ou nao vibragao das cordas vocais; se o som é nasal ou oral; quais so 08 articuladores envolvidos na produgio dos sons e qual é a maneira utilizada na obstrugdo da corrente de ar. A descrigdo articulatéria de qualquer segmento consonantal € possivel a partir das respostas a estes pardmetros. Faremos uso das questdes abaixo para a melhor compreensfo desta descricio. QL. Qual o mecanismo da corrente de ar? Q2. A corrente de ar é ingressiva ou egressiva? Q3. Qual o estado da glote? Q4. Qual a posigdo do véu palatino? QS. Qual o articulador ativo? Q6. Qual o articulador passivo? Q7. Qual o grau e natureza da estritura? Passemos entao a considerag4o de cada uma destas perguntas em detalhes. Fonética — A descriggo dos segmentos consonantais 27 QI. Qual o mecanismo da corrente de ar? Poucos sons produzidos por seres humanos podem ser descritos sem levarmos em. consideragdo 0 mecanismo da corrente de ar. Entre os sons que niio fazem uso do meca- nismo de corrente de ar em sua produgdo o mais conhecido € o ranger dos dentes. A corrente de ar pode ser pulmonar, glotdlica ou velar. Os segmentos consonantais do portugués sf produzidos com o mecanismo de corrente de ar pulmonar. Este é 0 meca- nismo utilizado normalmente no ato de respirar. O mecanismo de corrente de ar glotdlico no ocorre em portugués ¢ o mecanismo de corrente de ar velérico ocorre em algumas exclamagdes de deboche e negacdo. Q2. A corrente de ar é ingressiva ou egressiva? Em sons produzidos com a corrente de ar egressiva o ar se dirige para fora dos pulmdes e é expelido por meio da pressio exercida pelos miisculos do diafragma. Os segmentos consonantais do portugues so produzidos com a corrente de ar egressiva. Jd nos sons produzidos com uma corrente de ar ingressiva o ar se dirige de fora para dentro dos pulmdes (como se estivéssemos “engolindo” ar). A corrente de ar ingressiva ocorre em exclamagées de surpresa de certos falantes do francés e ndo ocorre em portugués. Q3. Qual o estado da glote? A glote € oespaco entre os miisculos estriados que podem ou no obstruir a passa- gem de ar dos pulmées para a faringe. Estes misculos sao chamados de cordas vocais. Diremos que 0 estado da glote € vozeado (ou sonoro) quando as cordas vocais estive- rem vibrando durante a produgdo de um determinado som. Em outras palavras, durante a produgao de um som vozeado os miisculos que formam a glote aproximam-se e devi- do a passagem da corrente de ar e da ago dos miisculos ocorre vibrago. Em oposi¢ao, denominamos o estado da glote de desvozeado (ou surdo) quando nao houver vibraciio das cordas vocais. Nao ha vibragao das cordas vocais nem ocorre ruido durante a produ- lo de um segmento desvozeado. Isto se dé porque 0s miisculos que formam a glote encontram-se completamente separados de maneira que o ar passa livremente. Na ver- dade as categorias vozeado e desvozeado podem ser interpretadas como limites de um continuo que faz uma gradaciio de sons vozeados a sons desvozeados (passando por sons que tém caracteristicas de vozeamento intermedirias). Por exemplo, os sons [b,d,g] no portugues so produzidos com a vibracdo das cordas vocais e so portanto sons vozeados. Jé em inglés os sons [b,d,g] so produzidos com a vibragdo das cordas vocais em um grau menor do que aquele observado para 0 portugués. Embora os sons [b,d,g] sejam vozeados tanto em portugués quanto em inglés ao fazermos uma descricao destes sons em cada uma destas linguas devemos caracterizar os diferentes graus de vozeamento: completamente vozeados em portugués e parcialmente vozeados em inglés, Entretanto, estas duas modalidades ~ vozeado e desvozeado ~ sio suficientes para 0 propésito da descrig&o dos segmentos consonantais apresentada aqui. Observe a vibrago (ou no) das cordas vocais na produgio dos sons ve f. 28. Fonético ~ A descrigéo dos segmentos consonantais Tarefa Coloque a sua mao espalmada contra a parte central anterior do pescoco {onde nos homens temos o *Pomo de Addo"). Pronuncie entdo 0 som inicial da palavra "va" de. maneira continua (verifique que apenas a consoante esteja sendo pronunciada). ‘Agora pronuncie.da mesma maneira continuada o som inicial da palavra “fé”. Faca a alterndncia entre v e f algumas vezes (Pronuncie apenas a consoante!). Vocé deve. observar que durante a productio de v haverd vibracdo transferida para a sua mao e que durante a producdo de f a vibracdo niio ocorre. O som v é vozeado e o som é desvozeado. No diagrama abaixo ilustramos 0 caso em que as cordas vocais estao vibrando e portanto temos um segmento vozeado ou sonoro (esquerda) € 0 caso em que as cordas vocais nao estao vibrando e temos um som desvozeado ou surdo (direita). cordas vocais, cordas vocais, glote glote Figura 2: O estado de glote em segmentos vozeados (esquerda) ¢ desvozeados (delta). Na figura da direita os misculos que formam as cordas vocais estao separados € nao vibram com a passagem da corrente de ar que ver dos pulmées. Na figura da esquerda os misculos que formam as cordas vocais vibram com a passagem da corren- te de ar que vem dos pulmées. Q4. Qual a posigao do véu palatino? Para observarmos a oposigao entre um segmento oral e um segmento nasal deve- mos nos concentrar na posi¢ao do véu palatino. Para isto, podemos acompanhar o que acontece com a tivula, pois ela localiza-se no final do véu palatino ou palato mole, A tivula é comumente chamada de “campainha”. E aquela “gota de carne” que vemos quando observamos a boca de uma pessoa aberta (por exemplo para ver se a pessoa estd com dor de garganta (consulte a figura 5). Peca a um colega para alternar a prontincia da vogal a (como em “I4”) com a vogal 4 (como em “la”) mantendo a boca o mais aberta Fonética — A descrigéo dos segmentos consoneniais 29 possivel (somente as vogais devem ser pronunciadas!). O que vocé deverd observar € que durante a produgo da vogal aa tivula deverd estar levantada portanto o ar nao teré acesso & cavidade nasal e nfo haverd ressondncia nesta cavidade. Temos entio um som. oral, Na produgo da vogal A a tivula deverd estar abaixada e 0 ar deve entéo penetrar na cavidade nasal havendo ali ressonancia. Ternos entZo um som nasal. Concentre-se agora na posig#io assumiida por sua prépria tivula na produgio de um segmento oral e nasal. Tarefa Alterne a prontincia de a e & sentindo a mudanca de posicdo da tivula. Observar a posig&o da propria tivula durante a produgo de segmentos consonantais no € tao simples, mas vale a pena tentar verificar se 0 véu palatino encontra-se levanta- do na produgdo dos segmentos orais p.1 em oposigao ao seu abaixamento na produgao dos segmentos nasais m,n. Para isto, articule cada um destes segmentos consonantais alternadamente observando a mudanga de posigdo da dvula, (articule somente a consoan- te!). A figura abaixo ilustra uma articulacao com o véu palatino levantado — quando ‘corre um segmento oral (esquerda) ~ e uma articulacdo com o véu palatino abaixado — quando ocorre um segmento nasal (direita). Qualquer segmento produzido com 0 véu palatino levantado obstruindo a passagem do ar para a cavidade nasal é chamado de oral (figura a esquerda). Um segmento produzido com o abaixamento do véu palatino de maneira que haja ressondncia na cavidade nasal é chamado de nasal (figura a dircita). Figura 3: A posiedo da dvula na produgao de segmentos orais (esquerda) e segmentos nasais (direita) Q5. Qual o a Os articuladores ativos tém a propriedade de movimentar-se (em direco a0 articulador passivo) modificando a configuragio do trato vocal. Os articuladores ativos 30. Fonética — A descrigéo dos segmentos consonantais sfo: 0 lébio inferior (que modifica a cavidade oral), a lingua (que modifica a cavidade oral), 0 véu palatino (que modifica a cavidade nasal) e as cordas vocais (que modifi- cam a cavidade faringal). Eles sio denominados articuladores ativos devido ao seu papel ativo (no sentido de movimento) na articulagzio consonantal (em oposigdo aos articuladores passivos que sto discutidos abaixo). Identifique cada um dos articuladores na figura abaixo. 1.Cavidade oral 8, Palato duro 18. Parte anterior da lingua 2. Cavidade nasal 9. Véupalatino (oupalatomole) 16. Parte média da lingua 3. Cavidade nasoleringal 10. Uvula 17. Parte posterior da lingua 4. Cavidade faringal 11. Labio inferior 18. Epiglote 5. Labio superior 42. Dentes inferiores 49. Laringe 6 Dentes superiores 13. Apice da lingua 20. Eséfago 7.Alveol0s 44, Lamina da lingua 21. Giote Figura 4: O aparaino fonadir @ os articuladores passivos @ ativos, as cavidades oral, nasal, . faringal e a glote (cordas vocais) A Iingua é dividida em pice, mina, parte anterior, parte medial e parte poste- rior. O céu da boca € dividido em alvéolos, palato duro, véu palatino (ou palato mole) € tivula. Observe que 0 véu palatino pode também ser denominado palato mole. Identifi- que o dpice e a Jimina da lingua, a Gvula e os dlveolos na figura 5 apresentada a seguir. Fonética — A descrigGo dos segmentos consonantais 317 alvéolos Gvula lamina pice Figura 5: Esquema ressaliando os alvéolos, o dpice e lémina da lingua e a dvula Note que tanto o dpice quanto a lamina da lingua localizam-se na parte mais frontal da lingua. Enquanto o pice localiza-se na borda lateral frontal da lingua, a lamina localiza-se na borda superior frontal da lingua. Nos segmentos consonantais do portugués nao € relevante se o articulador ativo € o dpice ou a lamina da lingua. Contu- do, tal pardmetro articulatério ¢ relevante em outras linguas. Q6. Qual o articulador passivo? Osarticuladores passivos localizam-se na mandibula superior, exceto o véu palatino que est localizado na parte posterior do palato. Os articuladores passivos sio o Libio superior, os dentes superiores e o céu da boca que divide-se em: alvéolos, palato duro, véu palatino (ou palato mole) ¢ dvula conforme ilustrado na figura 4, Note que o véu palatino pode atuar como articulador ativo (na produgiio de segmentos nasais) ou como articulador passivo (na articulagdo de segmentos velares). ‘Vejamos a relago entre articuladores ativos e passivos. A partir da posigao do articulador ativo em relagdo ao articulador passivo (podendo ou nio haver o contato entre eles) podemos definir o lugar de articulag%o dos segmentos consonantais de acordo com as categorias listadas abaixo. Os mimeros que se encontram entre parénte- ses indicam 0 nimero correspondente ao articulador — ativo ou passivo — na figura 4. Observe que as letras em negrito referem-se a promincia associada a tal letra. A relago letra/som nao € uma relacio direta um-2-um. Temos casos em que uma letra corresponde 32 Fonética — A descrigdo dos segmentos consonantois a dois sons diferentes — como por exemplo ¢ em “ed” e em “cela”. Temos também. casos em que o mesmo som é representado por duas letras diferentes — como por exem- plo cem “cela” es em “sela”. O leitor deve estar atento para o fato de que nos exem- plos apresentados aqui estamos interessados nos sons produzidos e niio nas letras cor- respondentes a estes sons. Para uma discussio detalhada da relagdo letra/som veja Lemle (1987), Cagliari (1989) e Faraco (1994), Listamos a seguir as categorias de lugar de articulagdo que sio relevantes para a descrigao do portugues. Lugar de articulagéo Bilabial: 0 articulador ativo é o lébio inferior (11) e como articulador passivo temos 0 labio superior (5). Exemplos: p4, boa, m4. Labiodental: 0 articulador ativo é o labio inferior (11) e como articulador passivo te- mos os dentes incisivos superiores (6). Exemplos: faca, v4. Dental: 0 articulador ativo é ou o pice ou a lamina da Iingua (13 ov 14) e como articulador passivo temos os dentes incisivos superiores (6). Exemplos: data, sapa, Zapata, nada, lata Alveolar: 0 articulador ativo é o épice ou a lamina da lingua (13 ou 14) e como articulador passivo temos os alvéolos (7). Consoantes alveolares diferem de consoantes dentais apenas quanto ao articulador passivo. Em consoantes dentais temos como articulador passivo os dentes superiores. J4 nas consoantes alveolares temos os alvéolos como articulador passivo. Exemplos: data, sapa, Zapata, nada, lata. Alveopalatal (ou pés-alveolares): O articulador ativo é a parte anterior da lingua (15) € o articulador passivo € a parte medial do palato duro (8). Exemplos: tia, dia (no dialeto carioca), ché, ja Palatal: O articulador ativo é a parte média da lingua (16) e 0 articulador passivo & a parte final do palato duro (8). Exemplos: banka, palha. YVelar: © articulador ativo é a parte posterior da lingua (17) ¢ 0 articulador passivo é 0 véu palatino ou palato mole (9). Exemplos: casa, gata, rata (0 som r de “rata” varia consideravelmente dependendo do dialeto em questdo. Indicamos aqui a pronéncia ve- lar que ocorre tipicamente no dialeto carioca. Uma discussdo detalhada dos sons der em portugués sera apresentada posteriormente). Glotal: Os masculos ligamentais da glote (21) comportam-se como articuladores. Exem- plo: rata (na prontincia tipica do dialeto de Belo Horizonte). As categorias listadas acima caracterizam os lugares de articulago dos segmen- tos consonantais relevantes para a descrigdo do portugués. Uma vez definido o lugar de articulagdo de um segmento sabemos qual € 0 articulador passivo e qual é 0 articulador ativo envolvido na articulagdo. Além de identificarmos o lugar de articula- 40 de um segmento, devemos caracterizar a sua maneira ou modo de articulagao. A maneira ou modo de articulagao de um segmento esté relacionada ao tipo de obstru- do dos segmentos consonantais 33 do da corrente de ar causada pelos articuladores durante a produco de um segmento. Identificando o “grau e natureza-da estritura” (ou seja, a maneira como se dé a obstru- 40 da corrente de ar) estamos caracterizando a sua maneira ou modo de articulagao. As categorias referentes ao grau e a natureza da estritura sio listadas abaixo responden- do a sétima e tiltima pergunta proposta por Abercrombie (1967). Q7. Qual o grau e natureza da estritura? Estritura é 0 termo técnico para a posigéo assumida pelo articulador ativo em relagdo ao articulador passivo, indicando como ¢ em qual grau a passagem da corrente de ar através do aparelho fonador (ou trato vocal) é limitada neste ponto [Abercrombie (1967:44)]. A partir da natureza da estritura classificamos os segmentos consonantais quanto amaneira ou modo de articulagao. Definimos abaixo as categorias de estritura relevantes para a descrico do portugués. Modo ou maneira de articulagao Oclusiva: Os articuladores produzem uma obstrugio completa da passagem da corrente de ar através da boca. O véu palatino esté levantado e 0 ar que vern dos pulmdes encami- nnha-se para a cavidade oral. Oclusivas silo portanto consoantes orais. As consoantes oclusivas que ocorrem em portugués sao (brevernente identificaremos os s{mbolos fonéti- cos que sero utilizados em transcrigdes): pa, t4. ¢4, bar, dé, gol. Nasal: Os articuladores produzem uma obstrugao completa da passagem da corrente de ar através da boca, O véu palatino encontra-se abaixado e 0 ar que vem dos pulmdes dirige-se as cavidades nasal ¢ oral. Nasais so consoantes idénticas as oclusivas diferen- ndo-se apenas quanto a0 abaixamento do véu palatino para as nasais. As consoantes nasais que ocorrem em portugués so: ma, nua, banho, Fricativa: Os articuladores se aproximam produzindo friegao quando ocorre a passa- gem central da corrente de ar. A aproximagao dos articuladores entretanto nao chega a causar obstrugiio completa e sim parcial que causa a fricgio. As consoantes fricativas que ocorrem em portugués sio: fé, v4, sapa, Zapata, cha, j4, rata (em alguns dialetos 0 som r de “rata” pode ocorrer como uma consoante vibrante, descrita a seguir, endo como uma consoante fricativa indicada aqui. Or fricativo ocorre tipicamente no portu- gués do Rio de Janeiro ¢ Belo Horizonte, por exemplo). Africada: Na fase inicial da produgao de uma africada os articuladores produzem uma obstrugéo completa na passagem da corrente de ar através da boca e o véu palatino encontra-se levantado (como nas oclusivas). Na fase final dessa obstrugao (quando se 4 a soltura da oclusio) ocorre ento uma fricg4o decorrente da passagem central da corrente de ar (como nas fricativas). A oclusiva e a fricativa que formam a consoante africada devem ter o mesmo lugar de articulagao, ou seja, so homorgéinicas. O véu palatino continua levantado durante a produgao de uma africada. Africadas sio portanto consoantes orais. As consoantes africadas que ocorrem em algumas variedades do portu- gués brasileiro sao tia, dia. Imagine as proniincias “tchia” e “djia” para estes exemplos. 34 Fonética — Articulagdes secundérias Para alguns falantes de Cuiabé, consoantes africadas ocorrem em palavras como “cha” * (que so pronunciadas como “tché” ¢ “dja” respectivamente). Na maioria dos dialetos do portugués brasileiro temos uma consoante fricativa nas palavras “cha” “ja”. ‘Tepe (ou vibrante simples): O articulador ativo toca rapidamente 0 articulador passivo ocorrendo uma répida obstrucao da passagem da corrente de ar através da boca. O tepe ocorre em portugues nos seguintes exemplos: cara. brava. Vibrante (miiltipla): O articulador ativo toca algumas vezes o articulador passivo cau- sando vibragdo. Em alguns dialetos do portugués ocorre esta variante em expresses como “orra meu!” ou em palayras como “mara”. Cerlas variantes do estado de Sao Paulo e do portugués europeu apresentam uma consoante vibrante nestes exemplos. Retroflexa: O palato duro € 0 articulador passivo e a ponta da lingua € o articulador tivo, A producdo de uma retroflexa geralmente se di com o levantamento e encurvamento da ponta da lingua em direcdo do palato duro. Ocorrem no dialeto “caipira’’ e no sotaque de norte-americanos falando portugués como nas palavras; mar, carta Laterais: 0 articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente de ar é obstrufda na linha central do trato vocal. O ar serd ento expelido por ambos os lados desta obstrugio tendo portanto safda lateral. Laterais ocorrem em portugués nos seguintes exemnplos: Id, palha, sal (da maneira que “sal” é pronunciada no sul do Brasil ou em Portugal). Classificamos os segmentos consonantais quanto ao mecanismo da corrente de ar (egressiva); ao vozeamento ou desvozeamento; a oralidade/nasalidade; ao lugar e modo de articulagao. A notagao dos segmentos consonantais segue a seguinte ordem: Notagao dos segmentos consonantais (Modo de articulagao + Lugar de articulagdo + Grau de Vozeamento) Exemplos: [p]_Oclusiva bilabial desvozeada [b] Oclusiva bilabial vozeada A seguir tratamos de aspectos de articulagdes secundarias que podem ser produzi- dos concomitantemente com uma determinada articulagdo consonantal. 4. Articulagées secundérias Segmentos consonantais podem ser produzidos com uma propriedade ar- ticulatéria secundaria em relagao as propriedades articulatérias fundamentais deste segmento. Por exemplo, quando pronunciamos uma seqiiéncia como su certamente arredondamos os labios durante a articulago da consoante s. Uma vez que @ articula- ¢do de segmentos consonantais normalmente nao envolve o arredondamento dos labios ‘BIBLIOTECA REGIONAL $$ LAXOPMEP secondaries 35 dizemos que a labializagao é uma propriedade articulatoria secundaria da consoante em questo, Propriedades articulatérias secundarias geralmente ocorrem de acordo com 0 contexto ou ambiente, ou seja, a partir de efeitos de segmentos adjacentes. Para marcar- mos uma propriedade articulatoria secundaria utilizamos um diacritico ou simbolo adi- cional junto consoante em questo. A propriedade adicional de labializacao descrita acima é condicionada ao fato de uma consoante ser seguida de uma vogal produzida com arredondamento dos labios. Abaixo listamos as articulagGes secundarias dos seg- mentos consonantais relevantes para o portugués. Labializagao: Consiste no arredondameto dos labios durante a produgio de um seg- mento consonantal. A consounte que apresenta a propriedade secundaria de labializaga0 é seguida de uma vogal que produzida com 0 arredondamento dos labios. A labializagZo geralmente ocorre quando a consoante é seguida de vogais arredondadas (orais ou na- sais) como em “tut, s6, bolo, rum, som’. Utilizamos o simbolo w colocado acima 4 direita do segmento para marcar a labializagdo: p*, b*, td", k*, 2°, v9," 25%. 3% Xb ns 08, Bs, Palatalizagio: Consiste no levantamento da lingua em dirego a parte posterior do lato duro. ou seja, a lingua direciona-se para uma posicdo anterior (mais para a frente da cavidade bucal) do que normalmente ocorre quando se articula um determinado seg- mento consonantal, A consoante que apresenta a propriedade secundaria de palatalizaga0 ‘presenta um efeito auditivo de seqiiéncia de consoante seguida da vogali. A palatalizagaio geralmente ocorre quando uma consoante é seguida de vogais anteriores i, e, 6 (orais ou tis). Ocorre mais freqiientemente com consoantes seguidas da vogali como em “aliado, kilo, guia”. Pode ocorrer também em consoantes seguidas da vogal e como em “letra, leva, tento”. Utilizamos 0 simbolo j colocado acima a direita do segmento para marcar a palatalizugiio: k', gi, vd) I Velarizagao: Consiste no levantamento da parte posterior da Iingua em diregao a0 véu palatino concomitantemente com a articulagdo de um determinado segmento consonantal. A consoante lateral | apresenta a propriedade articulatoria secundaria de velarizagiio em certos dialetos do sul do Brasil e do portugués europeu. O contexto em que a velarizagao ocorre é quando a lateral encontra-se em final de sflaba: sal, salta. Utilizamos 0 simbolo {#] para transcrever a lateral velarizada que acabamos de descrever. Dentalizagio: Algumas consoantes em portugues podem ser articuladas como dentais ou alveolares. Por exemplo a proniincia de t em “tapa” pode se dar com a ponta da Ifmgua tocando os dentes (sendo portanto uma consoante dental) ou pode se dar com a ponta da lingua tocando os alvéolos (sendo portanto uma consoante alveolar). Consoantes dentais tém como articulador passivo os dentes incisivos superiores e consoantes alveo- lares tem como articulador passivo os alvéolos. Pode-se articular um segmento dental ou alveolar com o pice ou com a Jamina da Ifngua como articulador ativo. Note que o fato da consoante ser dental ou alveolar expressa uma variagio lingifstica dialetal (ou de idioleto) ¢ nao uma variag’io que seja condicionada pelo contexto (como é 0 caso de articulagdes secundirias apresentadas acima). Geralmente as consoantes listadas abaixo apresentam a propricdade de dentalizagdo no dialeto paulista enquanto no dialeto mi- neiro ocorre uma articulagdo alveolar para as mesmas consoantes. Marcamos a dentalizagio com 0 simbolo [ , ] colocado abaixo da consoante em questao: t, d, §,Z, sf 36 Fonética — Tabela fonética consonantal Vocé deve avaliar o comportamento de sua fala em relagdo as articulagdes secun- darias discutidas acima. Ao fazer o registro fonético de palavras do portugués omitiremos as propriedades articulat6rias secundarias (exceto a velarizagao da lateral [t)). Nossa escolha pauta-se em dois tipos bisicos de transcrigdes que podem ser assumidas. Podemos ter uma transcrigdo fonética ampla ou uma transcri¢o fonética restrita [(cf. Ladefoged (1982)]. Ao transcrevermos foneticamente uma palavra como “quilo” pode- mos por exemplo registré-la como ['Kil"y] ou como ['kilu]. A transcrigdo ['Kil"U] explicita todos os detalhes observados articulatoriamente. Este tipo de transcrigao € denominado transcri¢ao fonética restrita. Note que na transcrigao ['kil*U] explicitamos a palatalizacdo de [k] seguido de [i] e também a labializagao de [I] segui- do de [U]. Tanto a palatalizacdo quanto a labializacdo sdo previsiveis pela ocorréncia do segmento seguinte: consoantes tendem a ser palatalizadas quando seguidas de [i] e consoantes tendem a ser labializadas quando seguidas de [u]. Consideremos agora uma transcrigdo como ['kilU]. Este tipo de transcrigdo explicita apenas as propriedades segmentais € omite os aspectos condicionados por contexto ou caracteristicas especificas da lingua ou dialeto. Queremos dizer com isto que a palatalizagdo e labializagdo nao foram registradas em ['kilU] (pois tanto a palatalizagao quanto a labializacio so previsfveis pela vogal seguinte). No registro do [1] pode-se interpreté-lo como um segmento alveolar ou dental sem haver a necessidade de utili- zar-se o simbolo [| ]. Isto porque a generalizagdo quanto aos segmentos serem dentalizados deve ser expressa para a lingua como um todo. No caso da lingua fazer distingado entre segmentos alveolares e dentais faz-se entdo relevante acrescentar 0 diacritico [ , } a transcrigdo fonética. Denomina-se transcrigdo fonética ampla aque- la transcrig&o que explicita apenas os aspectos que ndo sejam condicionados por con- texto ou caracterfsticas especificas da lingua ou dialeto: como ['kilU] (em oposigio a ['kil"U] que é uma transcrigdo fonética restrita). Neste trabalho adotamos a transcrigao fonética ampla. Ao registrar os segmentos consonantais omitimos o registro das propriedades articulatérias secundarias previstas por contexto da vogal seguinte (palatalizagao, labializagdo) ou a dentalizagzio (que pode ser interpretada como uma caracterfstica dialetal). Marcamos, contudo, a velarizagao da late- ral [4] cujo contexto de ocorréncia depende da estrutura silabica: posigo final de sflaba. 5. Tabela fonética consonantal Apresentamos abaixo uma tabela consonantal que lista os segmentos consonantais que ocorrem no portugues brasileiro. A coluna da esquerda lista 0 modo ou maneira de articulagdo a partir da natureza da estritura conforme definido anteriormente. Quando relevante, foi indicado o estado da glote separando, portanto, segmentos vozeados ¢ desvozeados, Na parte superior indicamos o lugar de articulagdo definido conforme a relacdo entre o articulador ativo e o articulador passivo. Fonética — Tabela fonética consonantal 37 Articulagao: Dental Bilabiat | Labiodentai | ou | Atveopetatel| Palatal | Velar | Glotal Maneia Lugar antar Ocusva dew |p t k vez | b d g ‘Arca aesv § vez 3 Frcatva desv E s J x h voz v z 3 y fi Nasal vez | om a Ty Tepe vez r Vibranta vez ¥ Retollesa voz 1 Lateral vez It KP Tabela: Simbolos fonéticos consonantais relevantes para transcrigéo do portugués O quadro abaixo lista exemplos de palavras que ilustram cada um dos segmentos da tabela fonética apresentada acima. No exemplo ortogréfico a letra (ou letras) em negrito coiresponde(m) ao segmento consonantal cujo simbolo fonético é apresentado na primeira coluna. A segunda coluna lista a nomenclatura do segmento consonantal. A forma ortogrdfica do exemplo é apresentada na terceira coluna e a representacao foné- tica correspondente € fornecida na quarta coluna. Finalmente, a Gltima coluna apresen- ta observagSes quanto a regio dialetal predominante de ocorréncia do segmento em questo. Note que as transcrigdes fonéticas encontram-se entre colchetes. Adotamos o simbolo [a] para as vogais transcritas abaixo (exceto para [i] em “tia, dia”). O simbolo [!] precede a sflaba acentuada. i Classifcagéo do | Exemplo |Transcrigio| ervagdo* ane ‘segmento consonantal | ortografico| fonética os a p | Octusiva bilabial pata |[!pata] | Unitorme em todos os diletos do portugués desvozeada brasileiro, b | Oclusiva bilabial ala | [Ybala} | Unitorme em todos os dialetos do portugues vozeada brasileiro, t | Oclusiva alveolar tapa | [apa] | Uniforme em todos os dialetos do poruguts desvozeada brasileiro podendo ocorrer com articulagio alveolar ou dental | Oclusiva alveolar data | [data] | Unitorme em todos os dialetos do portugués vozeada brasileiro podendo ocorrer com artculagio alveolar ou dental k | Oclusiva velar capa | {'kapa] | Uniforme em todos os daletos do portugués desvozeada brasileiro, g | Oclusiva velar gata | ['gata} | Uniforme em todos os dialetos do ponugués vozeada brasileiro, 4 a 8 g 3 2 = é g E 3 = 4 g . : é 2 g E = * Aluno: 38 Fonétice - Tabela fonética consonantal clas: -agao do Exemplo Hranscrigao| ‘segmento consonantal | ortografico| fonética a tf [Africada alveopalatal | tia | [rfial | Proninca upica do Sulese bras. Cones desvozeada pone a primeio sem da pala “tchoeo-eslo- ‘quia em todos os dislets. Qoore tab em outtas regibes menos delimitadas (como Norte Nordst). 43 [Africada alveopatatal | dia | ['d3ia] | Prondnciatpica do Sudeste brasileiro. Ocore vozeada também em outras regies menos deltas «como Norte ¢ Nordeste). £ | Fricativa labiodental [faka} | Unitorme em todos os daletos do portuguds desvozeada brasileira, v |Fricativa labiodental | vaca |f!vaka] | Uniforme emtodos os dialetos do pomugués vozeada brasileiro, $s |Fricativa alveotar sala | tsala | Uniforme em inicio de silaba em todos os Jdesvozeada caga | [kasa} _| Jetos do portugués brasileiro podendo corer paz | [pas] | com ariculagio alveolar ou dental. Marea ‘ariag dialtal em nal de taba: pu: vast 2 | Fricativa alveolar Zapata | {za'pata] | Uniforme em inicio desitaba em todos os di vozeada casa |[kaza] | lewos do portugués brasileiro podendo ovorrer paz —||["paz] | com aniculagdo alveolar ou dental. Marea ‘aiagdo daltal em final de sabu: rasa. J |Fricativa alveopalatal ] cha Uniforme em inicio de sla em todos 0s di desvozeada acha {a Jetos do porugués brasileiro, Marea vatagio par’ _|Lafl | iat emia stabe prose 3 [Pricativa alveopalatal | j4 a Uniform em inicio de sflabaem todos os dia- voreada haja | f'agal | letos do portugués brasileiro. Marca varinglo dia-letal em final de sflaba: rasga. X | Fricativa velar ['Xata] | Pronincia tipica do dialeto carioea. corre desvozeuda PimaXa] | fiiegio audivel na regio velsr. Ocorreem int ['maX] | cio de sfaba que seja precedida por silencio [kaXta] | © ponanto enconta-e em inicio de palavra “rata: em infiode slaba que seja precedida por vogal: “area” e em inicio de slaba que sejuprecedida por consoant: “Israel”. Em al- suns dialetos ocorre em final de saba quan o seguido por consoante desvozeada: “car- 1a" eem final de sla que exineide com fi- nal de palavea: “mae” y | Fricativa velar carga |['kayga) | Prondncia tipica do diateto earioca. Ocorre voreada fricgfo audivel na egito velar. Qcore em f- nal de sflabaseguida de consoante vozead, ch |Fricativa glotal ata | [hata] | Prondncia pica do daleto de Belo Horizon desvozeada mara | [tmahal_ | te. Nio ocorre freee audivel no trato vocal mar |[tmah} _ | Ocorreem inicio de staba que sejaprecedida carta | fikahta"] | por silencio e potano enconrase cm inicio deplete nine sabacme ae precedida por vogal: “marra” o em it silaba que seja precedida por consoante: oe rael”. Em alguns dialetos ocorre em final de Fonética - Tabela fonética consonantal 39 imbotal Classiticagso do Exemplo |Transericéo| eae segmento consonantal |ortografico| fonética 7 aaa h | Fricativa glotal silaba quando seguido por eonscantedesvozead desvozeada carta” ¢ em final de sflaba que coincide com final de palavra: “mar”. fi [Fricativa glotal carga |['kafiga] | Prondncia tipica do dialeto de Belo Horizon- vozeada te. Nao ocorre fricgio audivel no trato vocal. Ocorre em final de saa sepuida de consoan- te voreada, m_ | Nasal bilabial mala ||tmala] | Unitorme em todos os disletos do porugués vozeada brasileie. na | Nasal alveolar nada {['nada] | Unitorme em todos 0s dialetos do portugues vozeada brasileito, podondo ocorrer com ariculago alveolar ou dental L_ [Nasal palatal banha | ['bapia}_ | A consoante nasal palatal [p] ocorre na fala de ou |vozeada poucos falantes do portugués brasileiro. Ge- y = ralmente um glide palatal nasalizado que ¢ [baal | tanserito como fy] corre no lugar da conso- ante nasal palatal para a maioria Jos Filantes do portugues brasiliro. Esta variagho seri dis- cutida em breve | Tepe alveolar cara |["kata] | Uniforme em posigao intervocilica eseguindo vozeado prata |["pfata] |consoante em todos os dialetos do portugués mar — |[tmar] _ brasileiro, podendo ocorrer com articulagio carta | [!kacta] | !veolar ou denial Em algun dialetos ocomre ‘em final de silaba em meio de palavra “carta” ‘oem final de sflaba que coincide com final de palawra: “ma” ¥ | Vibrante alveolar ; i ‘Ocore em alguns dialetos (ou mesmo idoletos) vozeada Fata [ata] |do ponigués trailer. Poni tipca Jo marra | ['mafa] | porteués curopeu e ocore em certas varian- tes do portugués brasileiro (por excmplo em certs diletos do portgugs paulista). Ocorre em inicio de sflaba que soja precodida por si- Jéncio: “rata caida por vogal: ‘br que sejapreceida por consoante: "Israel J [Retroflexa alveolar — | mar — | [mad] _ | Pronunciatpica do dialeto caipira dar em f- vozeada nal de flab: mar, carta, Adota-se também 0 simbolo {4}. 1 | Lateral alveolar Tata [[Hlata} | Uitorme em inicio de silaba e seguindo con- vozead plana ||*plana]_ | soante em todos os dialetos do porugués bra- sileiro, podendo ocorrer com articulagao alveolar ou dental + | Lateral alveolar sal ['sat] | Ocorre em final de sitaba em alguns dialetos (ou ‘ou | Vozeada velarizada salta | [*satta]__| idioletos) do portuguss brasileiro, podendo ocor- ['saw] | rercomaniculago alveolar ou dental. Pode ocor- w ['sawta} | FC vovaizagao da lteral em posi final de sflaba € neste caso temos um segmento com as ‘caracerfsticas aniculatrias de uma vogal do tipo [u que ¢ transerito como {w}. 40 Fonética — Tabela fonética consonantal Observagio exemple simboto | ctussteagto do segmante consonants) |-5%*"™0, A |Lateral palatal vozeada malha ou ! ‘A consoante lateral alae tal [A] ocome na fala de pou- ‘ou | cos falantes do portugues bri- sileio. Geralmente uma lateral ['mal'a] | alveolar ou dental palacalizada ue € transerita por [H ocome para a maioria dos falantes do Portugués brasileiro. Esta varia fo serd discutida em breve. Pode ocorrer a vocalizagio da lateral palatal € neste caso te- :mos um segmento com as ca- racteristicas articulatérias de uma vogal do tipo [i] que transerito como fy]: l'mayal. Olleitor deverd encontrar um subconjunto dos segmentos consonantais apresentados acima para caracterizar as consoantes que ocorrem em seu idioleto. Os simboios listados acima devem ser suficientes para caracterizar a fala sem disttirbios de qualquer falante do portugues brasileiro. Tais simbolos sao propostos pela Associagao Internacional de Foné- tica, Observa-se contudo na literatura a utilizagao de alguns simbolos concorrentes aque- les listados na tabela acima. Por exemplo, para representar um segmento “afficado alveopalatal desvozeado” a Associacio Intemacional de Fonetica propoe 0 sfmbolo [tf] (este € 0 segmento inicial da palavra “tcheco”). Na literatura, encontra-se 0 simbolo [C] para representar 0 mesmo segmento africado alveopalatal desvozeado (cf. “tcheco”). O simbolo [€] é geralmente utilizado na literatura norte-americana. Listamos abaixo sfmbo- los fonéticos concorrentes 2os do alfabeto da Associagio Internacional de Fonética ig mp ol Simpolos concorrentes J 3B 3 3 2 g to a3, jou dz 2 i Na pagina seguinte apresentamos a tabela proposta pela Associagdo Interna- cional de Fonética. Tal tabela prope simbolos para transcrever qualquer som das Iinguas naturais. A partir dos parametros articulatorios descritos anterior mente 0 lei- tor deverd ser capaz de inferir e pronunciar todos os segmentos consonantais listados ha tabela. Os segmentos vocalicos serio tratados posteriormente. Aos interessados -em ter as fontes para tais simbolos, estas podem ser obtidas gratuitamente pela internet no seguinte endereco: http://www.sil.org/computing/fonts/Lang/silfonts. html (consulte também: http:/Avww2.arts.gla.ac.uk/IPA/ipa.html desta associacio). para obter informagdes detalhadas Logo apés a tabela da A ssociagdo Internacional de Fonética, apresentamos uma série de exercicios que tem por objetivo sedimentar os aspectos tedricos apresentados nas pagi- nas precedentes. Respostas a0s exercicios propostos sto apresentadas no final do livro. Fonética — Tabela fonética consonantal 41 O alfabeto internacional de fonética (revisado em 1993, atualizado em 1996* Consoantes (mecanismo de corrente de ar pulmonar} Taste [Shoei] scout | abcobe pahcoa] room| pat | ww | woer | frist | gow! ctu pd td tdle tlk ala G 2 Nisa ™ ™ a u n a mu Vie B r R Tee on ep : t iain o Bit vie ots z{f sis ats i |X vy ix ein gs |b A Freana ac +5 a, 2 1 af ita ‘Aros 1 tf «pT Em pares de simiblos tem: que osimbolo da dircitarepresena uma concoantevozeada. Acredita-se scr imporsive a aniculagbes ras seas som Consoantes (mecanisme de corrente de ar nio-pulmonar) Suprasegmentos Tons e acentes nas palavras Nivel Contorne Cliques Implxivasvozeanies—Exectvas | * eeu primiro x C © bilabial f; bilabiat coma em eeniit & oul] muito Zou eseendente |) dental i doniaValveoler —p" bilabial | + Sento secuncltrio ) pés-alveolar —§ palatal dental’ founatifan € {ala ‘descendent alveolar |: longa « @ fase #Ietoneene 4 palsoatcolr vl Wc |S certonga et ; 1 lateral alveolar = @ uvular s° fricativa: . Y & i haa & Absino aseendente _ mitobreve i alveolar BT muito F“faseendente divisio silica sist tice descendent ee | aro ccna! menor Seu pene Vogais I erepoenionativo pica (@usbmbrseay 7 global ~ lig ousnca de vist) 4 descendenca ony in a fechods gy eure ua acy v v Diacritieos Pode-se colocar um diacritico acima de simbalos cuja mente e—oto—rts representa sea prolongads a parte inferior pr exemplo (conedieata) ° qdesvozeado gd | vor sussurado ba | denal = td ciaery ele—s\e—ato ; z}: =e (oumédie-baixs) roads = & |_vociremulane b a | apical ot swat "Ng Lal Vaspinds db] nguoubiat sd | mint ‘Quando os simblos parece em pres auc da = = § Je = 6 aproximadamenie I itepe Iibio-velarvozeada Mpgpliratczal _retraido ce |Staringstizado 18d | solmuranio-sudivel d? 1 aproximadamente 6} ariculagdo - lib palaal voreada Simaiinea def | "etalcada—& | ~ vlariadnoufringatizada t ex 7 z HL frcaivacpiglots! Para representar consoantes | “=m médin € | levantada ¢ (i= ficativa bilabial vozrads) desveveda sada uma steal TFrman sch vote $ fricatvaepiglotal pla wuliza-seumeloligandoos | “bie | gbainada (B= sproniasnte alveatar veneats) pee dois smbolos em questo. 7 a = a ee gaa e Laem [nahin = rociagio exe |yrizdalinguaretakinp * A Associagio Internacional de Fonética gentilmente autorizou a reproduc desta Tabela Fonética.

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