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2 O “Brasil autoritario” revisitado: 0 impacto das eleigdes sobre a abertura Bolivar Lamounier ‘hat v, scene 1) Introdugéo Authoritarian Brazil & hoje um pequeno clissico. Publicado tema partidério completamente distinto do que existia no ante- ior regime democratico, ou séja, no perfodo de 1945 a 1964. 83 jinha releitura transformagio liberalizante, ¢ que fatores tenderiam a deflagrar suras do sistema, mesmo no perfodo de radi- fechamento @ qu vigente justificavam essa percepgio. Nao obstante, parece-me mais produtivo encarar esta questo como uma discussio tedrica ainda relevante, em vez de dilutla nesta complacente alusio a0 regime brasileiro como jonalizada. Todos admi- conceito 6 a existéncia tico € visto por seus stiditos e pelos protagonistas televantes ‘como um fim em si mesmo, vale dizer, como uma forma com vocagio de tornarse duradoura. Trata-se, pois, de uma cocrén cia tendencial entre’a infra ¢ a superestrutura; melhor dizendo, 8 que nenhuma sociedade de larga escala ¢ altament mas € quase sempre possivel discerni-la como uma diteco ou como uma questo de grau , permitindo entrever um enorme reforgo dos elementos autoritérios da tradicéo politica brasileira. ‘A essa abordagem contrapés-se Fortemente a de Juan Linz, que Simbslico ou ideologico, nes formolas ria a curto prazo © as cesso de abertura. Cor também viram-se obrigados, ou sentiram-se ‘atrafdos, & dos fatores ressaltados por Linz, parece-me stil revisar como 0 fizeram, Desta maneira, espero identificar certos aspectos em que 0 tratamento conceitual foi inadequatdo sob o ponto de vista 6, como delineagzo de um possfvél cenério ‘na reativacdo dos mecanismos represen- Na primeira tratarei do. contexto intelectual ¢ politico, de um modo geral, ¢ destacarei, no volume, as anélises que deram maior énfase 20 novo modelo econdmico ¢ as formas tecnobu- rocréticas de dominagio implantadas ou reforgadas a partir de de Juan Linz ¢ argumentarei que sua orientacfo tedrica com- porta maior desenvolvimento, no’ que diz respeito & retomada 85 | ' dos mecanismos eleitorais, num processo de descompressio gra- cl jocumentar empiricame! as ficagdes com os dois part (ARENA e MDB). Esse aprofundamento, ‘acabou confrontando os detentores do poder com indfcios crescentes de impasse na arena cleitoral ©, conse- ide de sucessivas mudangas no ar wente, & guisa de conclusio, discuti- rei 05 da eleigdo de 1982 € a conjuntura que se Lhe seguiu, caracterizada por um agravamento sem precedentes das crises econdimica © sucesséria. O Contexto Intelectual & Politico das Andlises Originais ‘A workshop convocada por Stepan reuniu-se no campus de Yale, no momento em que o Brasil completava o sétimo ano do que viria a mai ‘experiéncia de governo ostensi- vamente autoritério, car \do pela ocupagio dircta © cor porativa do poder pelos . A nio menos ostensiva alian- fa destes com 0 ramo internecionalista da tecnocracia civil € ‘com interesses empresariais de grande porte, nacionais e estran- geiros, sugeria uma ruptura inequivoca com os padrées de com petigao politica ¢ organizagao estatal do periodo 1945-64. P ificagio desses_mudangas em estrut procedimentos fortemente burocratizados, muitas vezes gem e semelhanga da instituigSo militar, e a propria util da estrutura corporativista erigida nos anos 30 ¢ 40 tornavam irresistivel a tentagiio de representélas como um retorno a0 Estado Novo getulista (1957-45). Restauragéo ou um modelo radicalmente novo, igualmente consistente: este, como observa 86 eS Stepan em seu pre Para Skidmore e um dos debates que permeiam o livro. fe de uma reorientagao do papel das Stepan designa como uma nova concepgéo do pr mais voltada para questées de seguranga interna ¢ desenvolvi- tionamentos baseados nos mecanismos trad tago. Por isso mesmo € que 0s textos de mente sugerem que a contestagio, caso su cessariamente a forma de um ow uns poucos monoliticos, produzidos pela mesma I6gica con (© desenvolvimento dependente, ou a engrenagem nocratica, ou o “milagre econdmico” punham em marcha. Seria, quem sabe, uma faccio militar nacionalista; uma grave empresarial, ou uma desergo dos setores médios, quando a re- dugéo da taxa de crescimento tornasse invidvel a assimilagto talvez um coeso ¢ aguerrido , chamados mas nfo ¢sco- thidos. Tratar-sea, em qualquer hipéteses, de um anti- corpo gerado nas entranhas desse modelo, quer fosse ele “res- taurado” cm sua pureza ou radicalmente novo? for 0 entendimento que se tenha do processo de em 1975-74, no que diz respeito & ce, parece fora de divide que el teve origem numa fac¢o militar rebelde, populis- ta, nacionalista, ou de qualquer forma hostil ao modelo econd- mico em curso. Ao contrério, seu miicleo era constitufdo por 87 mou uma oposi- pressdo representada 1u, em parte, com o projeto talvez jarmente cauteloso e hesitante do chamado grupo Geisel, mas ao mesmo tempo reforgou-o contra outros setores militares ivi izacao. Finalmente, © projeto de abertura inclufa, desde 0 Iorizar a arena eleitoral e 0 papel dos resultados de 1974, dada a megnitude da votagio oposicis para o Senado, tenham, sem dévis iar que 0 relorno & eleig6es mais compel a que a uma imprensa mais autOnoma, era prossio. maram a importincia dos antecedentes dos processos eleitorsis ¢ das formagoes partida los a eles associados ¢ das resisténcias que potent representavam.? Parece-me iitil enumerar aqui quatro fatores que parecem ter reforgado essa subestimagio: 1. 0 efetivo endurecimento militar, com o correspondente encolhimento da arena partidéria e eleitoral, deflagrado pelas partidéria ¢ a trajetéria eleitoral brasi desde o regime anterior; 5, o tntamesio lenficente ow inedaquado que oo den aoe » A0§ com- 4. certos supostos te6ricos: sobre a relagdo entre Estado’ e defenséveis ¢ nao redutiveis a uma tica economicista sobre os processos politicos brasileiros, mormente no que diz respeito & complexidade ¢ aos elementos de pluralismo dos perfodos pré- 1964. Nao dispdnhamos, até aquele momento, ¢ talvez néo dis- ponhamos ‘até hoje, de uma literatura adequada sobre nossa his- téria partidéria e eleitoral, ainda imersa em des tipadas, nfo raro de sabor anedético, nas quais o hil de, trugdo quase dedutiva em que a crise eparecia c cia imediata do esgotamento do chamado ciclo fécil da substi- tuigo de importagées. Convém lembrar, sem qualquer preten- so sistemética, que o mapeamento bésico dos padrées eleito- rais do perfodo de 1946 a 1964, feito por Gléucio Dillon Soa- res, foi publicado pela primeira vez em 1973; que uma teori- zacao mais elaborada sobre a crise de 1964, apontando a rup- tura do mecanismo parlamentar ¢ a conseqiiente paralisia de- ciséria, teria que esperar a tese de Wanderley Guilherme dos Santos, apresentada em 1974 ¢ até hoje nfo publicada em li- ‘vro; e que 0 primeiro questionamento direto dos esterestipos predominantes na anélise dos partidos do perfodo pré-1964, fei- to por Maria do Carmo Campello de Souza, é de 1976. ¢ a derrota da faccio castelista, ¢ 0 predominio da linha dura nos episédios cruciais de 1965 a 1968. Houve nesses dois ca- a9 sos evidéncia mais do que abundante Jerfincia © de uma tendéncia A over-reaction por parte das Forcas Armadas, suge indo cfctivamente que um rompiment nef fficas que a el Guanabara) ¢ em Minas na verdade, um cerceamento quase defi- nitivo co: impuseram 0 nome do dato & sua sucesso, deram i A crise de 1968, que culmina na recusa do Congresso (num con- marcado pela agitagdo estudantil, pele inicio da guerrilha urbana e por sinais ponderéveis de oposi¢a popular) ‘em suspender a imunidade de um deputado acusadc de haver ofendido em discurso a honra das Forgas Armadas. A partir desse ponto, com o fechamento do Congresso, acentouse dras- © caréter militar do regime, agora munido dos pode- espago para atuagio de uma opo- , nfo militarizada, foi sendo veloz- 4» 80 mesmo tempo que as eleigdes perdiam sig- nificado como arena de legitimagéo: em 1970 sao alcangados in- dices recordes de abstenglo e de votos cm branco e nulos. Daf ‘até as eleigdes municipais de 1972 & quase completo o esmaga- mento do MDB (Movimento Democtético Brasileiro), chegando 90 mesmo a 3s membros dessa “oposigo consenti- mais voltados para a Iitcas fazom alustes freqientes, portincia desse component ‘A dificuldade relacionada com este ponto, como veremos em seguida, € que nem sempre 0 reconhecimento dessa complexi- do sistema politico. Os efementos 1 recem como um discurso inconseqiiente, ora como indicagio. de. uma atitude mais profunda, porém individual, ora como um posicionamento simbélico tornado necessério por constraints mais densas do sistema politico. Skidmore, por exemplo, escre- ve que os revolucionfrios de 1964 “nunca faltaram com seu em penho verbal” e sempre conservaram a intenglo de um tual retorno A democracia liberal também observa que os préprios ram repudiar publicamente a £6 da eli principios liberais (p. 44). Os revolucionérios civis de 1964, a 15 mas também (0 contrad- icias parece ser um fosso excessivo, antecedentes ideologicos (entre os qui reconhecido como impor incapaz de engendrar resis autoritéria). Como foi dito, tampouco Schi de 1971-72, que o regime brasi do como uma forma duredoura servava importantes avangos nessa diregdo, no nivel material © organizacional — a concentragéo de recursos no centro do sis- tema e a crescente penetracdo da sociedade como um todo pe- los meios de difusfo ideol6gica © pelos servigos de instaurados pelos governos disso, que 0 sistema decisério téculos quase invisiveis pareciam anteporse & portugalizardo. Que obsticulos seriam esses? Por incrivel que parega, seriam, mais uma ver, valores pluralistas, um idedrio razoavelmente Ii- beral vigente inclusive entre os cionista ¢ em seu objetivo timo de instaurar (sob sua tutela) uma sociedade democrética aberta (..:) Nio hi indicios ciais de que 0s golpistas de 1964 tenham previsto ow descjado 0 desfecho que acabaram por produzit. Eles parecem sinceramente ter acteditado que estavam dando 0 primeiro passo no sentido de demolir, e nfo de aperfeigoar, o sistema jo nenhum ‘grande designio no que cles fizeram uma mera seqliéncia de respostas res crises que iam emergindo, cada uma dade de qualquer retorno a um governo eee eee oa oe eects Gate te colsas ¢ no por um intento especitico” (pp. 228-9) Se 0s antecedentes pluralistas conservam certa efetividade mesmo cntre.os militares ¢ demais detentores do poder, € de a ama nova normatidade (sto é tirla — BL) & que festo e permanente em relagio aos simbolos da dem provavelwmente exarcerbaria a clivagem entre faccSes_mi ‘mesma forma que a resisténcia por parte dos in to, ponde- , em outras passagens.® Néo deixa de haver aqui igma. Como podem esses valores democriticos, um pequeno afinal 10. disseminados, inclusive entre os militares, a ponto volvida da evolugio politi Ora, a resposta mai: no pode ser formulada ‘Schmitter. © modelo que cana, Nesta escala de comparagio, setia evidentemente absur- do desconhecer as enormes diferengas estruturais entre o Brasil atual © 08 paises pionciros da i 92 93 ra a discussfo que ora nos interessa, que diz respeito & diff culdade de se institucionalizar um regime autoritéri i bilidade de um processo de descompressio baseado na reativagio No esquema acima referido, burocréiticas do modelo politico auto tea uma gestio € uma otientaglo ‘oa uma manipalaglo das trans- formagdes nessas estruturas, com Um custo minimo para elas, elites, fem termos de poder, riqueza e status (p. 205). Pera Schmitter, essa forma de organizagao estatal nfo é ‘uma simples heranga do Estado Novo. B, na verdade, um epa- rato institucional ¢ ideolégico “adequado” ao contexto da in- sendo expurgado de seus elementos compet tendo em vista uma adaptagio mais efetiva nOmicas e internacionais de industrializagao entendido) do Brasil. © melhor exemplo de imputago de uma consisténcia qua- se monolitica ao novo modelo é o da prépria estrutura corpora- tivista que regula as relagSes de trabalho no Brasil, herdada do Estado Novo. Conquanto reconhesam que essa estrutura pos- plesmente retornow p dos revolucionérios de 1 teressaram-se em manter so burocrética, que Jargos segmentos do si ferem deixar as coisas como esto a experiment nativas?™ Nio obstante, pareceme que as dificuldades maiores na & sociedade. Refiro-me aqui de que uma estrutura social como a brasileira € incapaz de cn- as A concentragio autoritéria do poder. Este julgamento parece persuasivo justamente porque seu modelo ex- ente qualquer preocupaco com as mediagSes ins- tadamente elitorais € partidérias) do sistema po- . A efetividade dos valores pluralistas ¢ de uma eventual alternativa democratizante € assim colocada na estrita dependén- ‘cia de que se venham a constituir atores coletivos rigorosamen- te semelhantes as classes sociais na visio marxista: puissances autGnomas, bem delineadas e claramente conttapostas a outras puissances, como sugere a anélise de Althusser sobre as bases sociais da divisio de poderes em Montesquieu.” Ora, 0 ponto-chave do modelo da “industrializagao tardia” enquanto contribuigao & sociologia politica consiste em descre- ‘Yer uma matriz social que produz justamente © oposto dessas caracteristicas, S6 essas puissances autonomas, organizadas ¢ au- torreferidas, podem servir de substrato a uma democracia com- a industrializagéo tardia impede seu florescimento; Notus Complementares sobre a Mecénica da Descompressao O Ceridrbuers dH S|. long ~ © objetivo deste retorno a Auth« rian Brazil, como disse clo, fo colher elementos de co um quais forem suas ideologias, calcula 0s custos do staius quo ¢ de solugdes alterna 65 aludidos mecanismos eleit racional diainte de situagdes’de alta e, em particular, diante da percepeo de que outras altemnativas (por exemplo, a fascista) podem acarretar riscos ainda majores.?? ‘Uma segunda hipétese geral é que processo da descom- pressdo produz seus préprios efeitos, Eleigées competitivas po- indo forem a expressiio direta de atores bem de- ineados, cuja forga social e numérica é previamente conhecida, mas, justamente ao contrério, quando funcionarem como um jo- ie formal, de grande generalidade, portanto capaz Pata seduzir os cerne da interpretacéo, transformando-se, por conseguinte, om que passaréo a canalizar novos processos ¢ novas in- teragdes. Nesta 6tica 6 que Linz questionava ainda mais radi a partir de cada oped Esta orientagdo te6rica pode ser mapeada, que a custa de algum empobrecimento, através de quatro pro- osighes: 1. todo processo de institucionalizagio politica supe uma formula de le ponente si pecificas ou ao desempenho econdmico do regime em questiio; 2. esses sfmbolos sao importantes na medida em que conser- vam a dedicagao ou aquiescéncia da populagao ¢ dos grupos so- ciais mais influentes, mas & igualmente essencial que eles as- segurem um minimo de unidade ao prdprio Estado, as organi- zages que 0 compdem e, no caso brasileiro, particularmente aos militares; 97 proprio discurso; ing e 2 busca dentemente, pela natureza das relagdes intergovernamentais © econémicas que 0 governo brasileiro € obrigado a manter © cultivar. A segunda destas proposigdes € essencial para se evitar um entendimento pobre da questo da legitimidade, em particular a tendéncia a concebéla como uma aquiescéncia genética, irrele- vante para a unidade estatal.? O mérito maior da anélise de Linz, neste particul uma contraposigio reificada entre Estado © socieda istindo em que a escolha entre di- ferentes {6rmulas de legitimagio ¢ de construgso institucional tem repercussées imediatas e profundas sobre a propria unidade do Estado. Permitome mais uma vez reproduzir a passagem crucial: (© éxito de politicas bascadas na represséo © no crescimento e&o- némico pode assegurar alguma estabilidade nas fases de prosperi- antes treicionais po. sentido. ranis estritamente ‘weboriano deste termo, Em qualquer sociedade que tenba ultrapassado esse estésio, ‘como é claramente o caso do Brasil, questOes de legitimidade serfo “a tradigio fa- @ relutincia dos idagdes ¢ interven- 8 civis potencial- um projeto dessa natureza; e, last but lade de criar no bojo do governo militar dade histérica, como s6i ser a mexicana. Estas consideragdes poem em relevo os dilemas que neces- sariamente se apresentariam ds Forgas Armadas no tocante & questo partidéria e ao processo de cons tro ponto acentuado por Linz é que a pologia setisfatéria de regimes autorité idos de 1971-72, a formulacio de hipéteses mais especificas Sobre os processos de institucionalizacio (ou de descompressi0 pode prescindir de contrastes abrangentes cot ‘grandes tipos ideais (democraci j] fy lt ¢ 94084 {4-8/9 as ideologies cléssicas, que constituem o cerne das diferentes f6r- mulas de legitimidade. Este, justamente, é © ponto onde a abor- dagem de Linz comporta a meu ver maior desenvolvimento, tendo em vista a andlise da descompressio pele via el wwe se pode suscitar aqui & se esta énfase no das diferentes {6rmulas nfo € demasiado sul sugere, com efeito, ese do avanco na que as constraints sio enormes tanto reco autoritdria quanto na do recuo no sentido, das tradigoes Essa ambigiiidade pode ser discernida na prépria @nfase salvacionista do discurso preseniagdo que as Forgas Armadas faziam de seu préprio papel ‘como uma intervencio temporaria com a finalidade de recons- figdes necessétias ao funcionamento da democracia. vordveis a’ uma democracia “social” antes que “politica”, sim por diante) que dificultariam um retorno puro ¢ simples A situagdo pré-1964, ou mesmo a Constituigio casielisia de 1967, ‘caso fosse esta naquele momento a opsao de alguma faccdo da fata de uma formula substan- , de uma doutrina politica mente. conhecidos, ton mitindo recuperar aos poucos 08 graus de liberdade per imobilismo da eta Médici."® © ponto bisico de minha argumentacdo 6, portanto, que a importincia dos mecanismos cleitorais © representatives pode ser adequadamente avaliada sem ma consideragio mais sistemética do que se poderia chamar de calculus da descom- pressio. O exame deste leva-nos a destacar pelo menos trés pon- tos de suma importincia no caso brasileiro. Em primeiro lugar, ado, a reativacéo ou revalorizacio do elas mesmas raz6es, as eleigSes funcionariam iso processual, vale dizer, como uma revita- de legalidade na aco governamental, esta por ‘vez indispensavel & coesto € a0 que Theda Skocpol chama de “apoio entre os préprios quadros do regime”. inalmente, e aqui temos.uma importante transigio da le- \g80 formal ou processual para a substantiva, a recupera- ide do calendétio eleitoral podia ser definida, de fato.o foi, como uma pega numa estratégia global de nor- malizagéo institucional. Pode-se afirmar com segurancga que as disfungGes e a exaustio dos apelos substantivos anteriores cris ‘vam tim petigoso vécuo simbélico, que delatava de maneira fla- grante o crescente isolamento do governo em relagio & sociedade, pressionando-o na direco de novas definigées."® As inclinagdes ideol6gicas algo mais 1, sua lie gagio com o antigo castelismo, ¢ a intenglo de it compresséo gradual, levaram-no, segundo esta hipstese, a pre- encher esse vécuo com um con a meio caminho entre a legit resto problemética, dada a vigéncia da legalidade “revolucioné- Jo democratizante mais explicit, segundo as {6r- ia objetar, € claro, qué esta elaboracio abstrata ‘que atribuindo aos estrategistas da distenso m ¢ um nivel de racionalidade francamente fantasioso. Esta questo mas também ex parte populi. Mais exata- mente, leve-nos a examinar os parimetros globais da estrutura da competi¢do eleitoral, no inicio da década, ¢ em fungéo das mudangas que efetivamente ocorreram entre 1974 © 1982. A Estrutura da Competigdo Eleitoral wugerem que a descom- vel, no Brasil, em vir tema politico e do elevado a jogar esse jogo em ra da competicao, vale as pa . sporténcia ponderdvel continua do jogo, com razodvel seriedade, apesar da vigéncia da legislagao ditat final de 1978, ¢ das freqiientes manipulagdes baseadas na vernista, até 1982. . 4 ‘uma proposiggo normativa, mas sim de uma hipétese sobre o comportamento efetivo dos atores, es pecialmente da oposiggo, no perfodo que vai das cleigies de 1974 as de 1982, A anilise dos acontecimentos posteriores a esta ‘iltima data exige, sem dfivida, um quadro de refertncia mais ‘complexo, tendo em vista o agravamento da crise econémica, das tensées socisis e da crise sucess6ria, tudo isso exercen- do fortes efeitos fragmentadotes sobre ambos os lados, governo. © oposicéo. Do Indo das forgas governistas, como veremos adiante, nem todos se iludiam quanto as possibilidades cleitorais da ARENA, apesar de sua momentinea hegemonia. Neste sentido, as eleigées de 1974 representam um claro ponto de inflexdo nas projegies para o futuro. Dramatizando a fragilidade eleitoral do partido nas grandes cidades, esse eleigio certamente reforgou em alguns 102 era também um produto per- spostas pelo regime militar & oposicéo, a co- mecar pela propria estrutura bipartidéria ¢ pela cléusula da fi- delidade pertidéria compulséri chamamos de fatores estru- jral do Brasil pode ser 1640, pela simples magni- o de verificar as chances eleitorais de uma oposigio partidaria convencional (como era o MDB € como séi ser o atual PMDB) ‘mesmo nos momentos mais adversos. : Entendo por contendor convencional um ‘Partido que ado- ta uma definigdo ideol6gica razoavelmente ampla, que € movido fundamentalmente por politicos profissionais ou por individuos que aspiram a tal papel, enfim, que se conformam aos meios habitusis no exere fungdes parlamentares ou nos gover- Bsta definigéo visa por em relevo que a soma de por esse partido em cada eleicao sucessiva (con- trapondo-se a um governo de base militar que detinha controle absoluto sobre a politica econdmica amplos meios. de. alicia- mento clientelfstico nos diferentes Estados) tem uma si ‘edo direta como indicador do nivel minimo de seus recursos jtimidade. Nao esté influenc hhaja assumido, Sua davida, por algumas das do jogo — os casufsmos, na parlance brasileira contemporanea 103 g zg] 5 2 ‘Tabela 2 s ¢/ ¢] a] a | $ POPULAGAO TOTAL E POPULAGAO URBANA = (1350-80) 2 al alet. |e. Grescimento 5 & g = 5 7 Cidades com | Populacio | percentual a Sal al ° Pe Ano 20.000 hab. ou +} Urbana |da populagao| I Poputagio[ NI] cbva) | das clades ) oun 20.000 = B18] &] a]. hab, ou + ej? ela] gs] 8] 3 1950) 10335 | 96 | 199) 0 2 1960 ators | 172 | 29.7 103 B\eg sig] 8j4.].f4 1970 34207 | 300 | 370 6 1a a B ae] Fl alé 1980, o12se | 4nz | 506 ™ i eter i sc Tipe nny de Vinge EF, Deena, Ui g |: £&/ 3! 2g] 2] 3/8 Hrminia "Tavares Je Almeida, ocganizadotes, op. cit, nota 23. ee = s 3S & a )m sia | | 2 aig g 2 3 z —, mas é possfvel que estas afetem muito mais a converstio dos Be ee siete ieee cee eo dos voto, & 7 at fe it it i Ponto que ora nos interessa z zo: nfo € 0 significado dessa distribuigao como medida de poder efe- 2\¢ s/ gl 2e}el.]8& tivo, Preocups-nos apenas, no momento, sugerir a ordem de a 3 3 S s a & grandeza das chances eleitorais da oposig#o nos diversos perfo- @ L a dos do regime pés-1964. Verifica-se, com efeito, que a votagio = rs a g 3 da ARENA (PDS) seguiu uma tendéncia declinante, desde a for- 8 es, 31-8 sa] a magio dos dois partidos, baixando de aproximadamente 50% 2 a a em 1966 pata 36% em 1982. Com excegao de 1970, quando foi sf drasticamente afetada pelos votos em branco e nulos, a parcela ‘2 3 cotrespondente ao MDB (2 oposicéo, em 1982) seguiu o caminho 2 ls inverso, passando de um mfnimo de 28% (para a Camara Fe- =| az | 82 deral) para um méximo de 50% em 1982." Bl sel eg : & 3 H a Estes dados mostram, portanto,.que as distoredes © singu- age | Fe 3 a lag | a laridades que possam ser apontadas no contexto social da “i E38 | 38 | 58 | 82 | 8S é dustrializagao tardia” no o impedem de produzit uma dist 2 a lo [ee | ae | é buigSo competitiva de votos mesmo em condigdes extremamen- ” te adversas para a oposigio, As restrigées nfo provém da es 104 105 Tabela 4 glue] « |$88238) 22 ¢ PERCENTUAL DE YOTOS OBTIDO NAS ELEIGOES F DE 2 2 lege: SE CADEIRAS CONTROLADAS PELA_ARENA (PDS) NO ge {S| & S85] af o INICIO DE CADA LEGISLATURA, NO SENADO © B |B Fakee| 8b 10 TE GABA FEDERAL, DE 10ee A102 ga lé a BES eee eee eee 8.8 e aan a a2 6 8 : gsp-$)2 2225 238 SENADO CAMARA FEDERAL BF Pee PERS Anos e/a] = qi = « ] % « |_% 4 2 8 g82eee2] fs 2 Votos| Cadeiras| Diference | Votos} Cadeiras | Diterenca gl Sg & 18) 6 |ggaael 2 & wos | aay] riz | cass] sos] or7 | cryin & & eae a 3 sor | 437| a94 | (44.7 | asa] mia | C4y235 = S BaEEG) fa wor | 347] 697 | crrss0 | aoa} soo | cris gi.| @ |ge288 gos wore | 3s0{ 627 | c40277 | ool sso | c+ts0 ua le Basen gs] a1 § wee | ses | 667 | crrs02 | 367] 0 | co a fa 2s . 2elelgeb-agigagag] 2 i: Fonte dos dado ecg: Toibunal Superior Ehitorl = 62/8)" = 24 2 88/2] 2 |aa8a3 a2 i trutura social desse eleitorado, mas sim das mediagSes institu: = 22/8 = ‘2 cionais, impostas de cima para baixo, no momento da conver- ge 2 |esgees £2 8 so desses votos em cadeiras; para nfo falar, & claro, nas pré- g gees 378 prias restrigdes aos poderes do parlamento, dos partidos ¢ da = gi pa ge sawn, 3888s sociedade civil organizada. © ponto € dbvio, mas precisa ser & g Sees 8) f388 ressaltado em termos numéricos. Comparando os dados da Ta- q & SeBeR 2 a 7 bela 3 com os da Tabcla 4, constatamos, com efeito, que a S¥a5 3] S8se desproporgao entre votos e cadeiras € sistematicamente favord- 2 & g 3 ens vel a0 partido governista ¢ que chega & impressionante diferen- g68.8)28 5 8 3] 25 ga, em 1970, de 45.7 pontos percentuais para o Senado e 25.5 2 3 Z| 2538 2) g2826 218 £°3 : i] 7 para Camara Federal. eg 8 gg23a)7 as Ba Observe-se, entretanto, que aqui estamos falando de trés 5 a Peer cert eee ea 438 coisas distintas. Primeiro, de mediagSes institucionais longamen- a z so gen] 30a i te estabelecidas e sujeitas a pouca controvérsia, embora sistema- g Pd ¥sexsasz i z 3 i ticamente favoregam os partidos governistas. B 0 caso do peso é = E28k6s proporcionalmente maior dos Estados menores na Camara Fe- B 8 gezen g.5 deral ¢ da representagio igual dos diferentes Estados no Sens- g 4 BERR SE 3s g do.® Segundo, intervengdes diretas no poder Legislative, que 106 au cobyiamente se abateram com maior peso sobre os parlamentares de oposigdo: as cassagdes de mandatos e suspensdes de direitos politicos com base nos atos instituctonuis.” Finalmente, os cha- mados casuismos, isto é, modificagées legais ¢ institucionais que afetaram direta ou indiretamente as chances eleitorais da oposi- do, Algumas dessas modificagdes foram também atos arbitrétios Ge., baseados di foram aprovadas pelo Legis sta pelo Pacote de abril de 1977, isGo ¢ criagio de novos Estados (Ma- 7, Rondénia em 1981), com 0 conse- qiiente aumento do némero de senadores ¢ deputados déceis a0 esto arena eleitoral © partidéria por icionais n. 2 ¢ 5 acha-se estampado em . © momento da mexicanizagio, se houve ia sido no intervalo de 1970 a 1972, quando teo- Digo teoricamente, ¢ nfio me refiro apenas & circuns- notada, de.que dificilmente os militares brasileiros , naquelas condigdes, transferir poder real para um qualquer que fosse ele. biisicos sobre as chances e a atuacio dos dois partidos no pré prio perfodo do “milagre econdmico” e do endurecimento do governo Médici — dados necessariamente salientes na atengo da cipula governamental e que no autorizariam grandes ilusbes sobre um eventual projeto mexicanizante. Mesmo nas eleigSes de 1966, no: primeiro embate dos recémcriados ¢ ultraintimi- dados ARENA e MDB, ficou patente a debilidade do partido governista nos grandes centros urbanos. No municfpio do Rio de Janeiro, entiio Estado’ da Guanabara, por exemplo, o MDB ele: 108 ‘geu 15 deputados federais, contra 6 da ARENA; no Estado do Rio de Janeiro, 11 contra 10; no Estado de $é0 Paulo, 27 con- tra 52. Referindo-se 0 comportamento desses parlamentares, um ador observou que por volta de 1968 os revoluciondri 5, que levou 2 cassacio de mandatos incl dos da ARENA. No caso do MDB, as m mente muito mais drésticas. O mesmo pesquisador citado hé pouco exer) com 0 caso de Séo Paulo, onde “os ganhos do MDB cm 1966 form apagados. Antes do AI-3, @ bancada de Sio Paulo inclufa 27 deputados federais, 53 deputados estar duais, 71 prefeitos, 10 vereadores na capital ¢ 1.185 vereadores rno interior. No fim de junho de 1969 as cassapdes sob 0 ALS fe algumas desergées para 2 ARENA teduziram a forca do par tido para 12 deputados federais, 20 deputados estaduais, 38 far, e foram medidas des- sa natureza que transformaram a eleigio legislativa de 1970 ¢ a municipal de 1972 em absolutos antieventos. Apesar disso, & preciso que se note, a “ARENA demonstrou uma acentuada fra- domesticar a oposigio politico-parl queza nas éreas mais urbanas e modernas” (Drury; p. 200), para nfo insistir uma vez mais nos elevados indices de votagio em branco ¢ de anulagéo. A sucesso presidencial, no final de 1973, 0 inicio da libe- ralizagio com 0 novo presidente, general Ernesto Geisel, ¢ em particular o impacto das eleigies de 1974 sfo a meu ver in- ‘compreensiveis sem a perspectiva destes acontecimentos de 1966 a 1970. © superisolamento e 0 imobilismo politico do governo Médici; os excessos da repressio 8 luta armada, com a conse- 109 giiente autonomizagao dos aparelhos de seguranga, esta levan- do por sua ver a uma resistencia crescente por parte de entids- des preocupadas com os direitos humanos € a uma severa repre- ‘ensio per parte da imprensa internacional; a eritica cada vez mais acentuada as desigualdades de renda, que persistiam ou mesmo se acentuavam, apesar das altas taxas de crescimento; tudo isso confluiu, no meu entender, nas avaliagSes do novo governo. Estava-se, sem a menor divida, diante desta escolhia: aceitar uma abertura politica, ndo importa quio cautelosa, ou ver-se obtigado, mais cedo ou mais tarde, a promover uma ra- dicalizagao fascistizante. Na primeira hipétese, tornava-se indis- pensével recuperar a credibilidade dos mecanismos represent ‘vos, admitindo, por conseguinte, que eles se transformassem num global do gover- ages casuistas. Este, provavel ago ctiadora” dos seu discurso de. posse, das solugdes que tornassem gradualmente des- tervengies “revolucionérias”, baseadas nos Atos A eleico de 1974 constituiu uma boa ilustragio da hips- tese segundo a qual o processo da descompressdo produz seus préprios efeitos. justamente esta hipétese que me leva a dis- cordar da em geral arguta anélise de Wanderley Guilherme dos Santos, quando ele afirma que (05 resultados eleitorsis (de 1974) nfo constituiram enum conseqiientemente, sua estratégia, eleitoral 2? uitherme tem razo, é claro, quando afirma que a novidade nfo pode ser estabelecida na comparago com as eleigdes de 1966 ¢ 1970 (que foram também cleicées legis- gertis), pois estas € que pareceriam atipicas numa série ica que remontasse ao perfodo pré-1964. Teria_ também rario se obscrvasse que a ia, em 1974, 56 se verificou na votagio para que somente um tergo das cadeiras achava-se em disputa naquele ano. Ou seja, a clei go no afctou 0 monopélio governamental sobre as de mudanga pela via le , muito menos os poderes excep- inda em plena vigéncie, io do voto urbano dos principais Estados? Segundo, a re~ eleigdes e a magnitude da do, no que concerne & massa de multipartidério anterior a 1964. A mudanca de expectativas que se refere W. G. Santos, ou seja, a perspectiva de um im passe nos pleitos seguintes, cia a essa “adogio” da nova estrutura bi ia pela opinizo piblica, a partir das cleigdes de 1974. O mfnimo que se pode dizer dessa eleico, em decorréncia do que acabamos de assina- lar, € pois que ela dew inicio & autonomizacéo da abertura co- ‘mo processo politico, transformando-a em algo bem menos rever- rate antevisto na estratégia governamental. detathe estes pontos.* significado imediatamente intuitivo de voto plebiscitdrio 6 0 de votagio polarizada em termos da simples aprovagio ou rejeigdo de uma proposicéo, ou da confianga ou desconfianga tentores do poder inspiram no povo. A contundénc jiorias macigas contra ou a favor, pectos importantes do conceito, como veremos em seguida. An- tes, porém, trataremos de duas dimensdes empfricas mais espe- cfficas, a saber: (a) 0 cardter genético © prospectivo do voto, a0 i contririo de disputas em que prepondera a avaliacio do desem- penho passado do candidato; (b) a desproporgo entre os resul- tados e quaisquer lealdades ou esforcos organizados de campa- nha, no permitindo que aqueles sejam explicados por estes. Estas indicagdes visam justamente a ressallar o carster sur- preendente dos resultados de 1974 c, em particular, que nfo confere 20 voto um sentido de avaliagdo do desempenho pas- sado da administragio, quando no de mero clientelismo, no caso dos governos locals, cio com a per sonalidade do candidato, cm todas as eleigdes para o Exe B pois evidente que o préprio parti trolasse as prefeituras das majores c: tes pélos ¢ irradiagao pol salvo do desgaste ¢ de vado desse desgaste, 0 MDB cresceu de tindo de sua grande votagao em 1974 para uma progressi ‘omo veremos adiante. O bipartida- ‘manifestagdo cleitoral, conferindo & elei- conotagio simbélica de pronunciamento acerca do regime e da situagdo do pafs em seu conjunto. Estas hipéteses, no entanto, explicam apenas uma parte do fendmeno. As eleigdes de 1966 ¢ 1970, ¢ as municipais de 1972, i afinal, essa caracterfstica. As eleigées de 1970 lo siio um caso interessante. 0 MDB consegue fazer tum dos senadores, elegendo Franco Montoro (que tinha como suplente Tito Costa, um candidato ligado aos sindicatos indus- triais do ABC), mas é uma vitéria por estreitissima margem. Na votagio para a Camara Federal ¢ ‘para a Assembléia Esta- dual, no municipio de Sio Paulo, esse mesmo cleitorado que 2 datia 20 MDB vitdtias macicas em 1974 © em 1978 dewihe, 10s da metade dos votos obtides pela ARENA. eleigdes que de que hou figurasse © uso plel por sua vez reforga) poderosas tendéncias homogencizadoras es dos eleitores. Torna-se ecessirio descartar, ‘movimentagao capaz de ext ica, bastando mencionar, a respeito, de nota entre 1968 e 1977. Mesmo , termo que passou a descrever a ida por associagdes empresari fem estabelecer uma continuidade com os partidos anteriores a 1964, vendo no crescimento do MDB uma espécie de “reba- tismo” das identificacdes partidérias daquele petiodo, Esta supo- sigGo nfo encontrou apoio nos surveys por mim realizados, e nem forma, considerandose 0 crescimento do demogréficas ocorridas desde 1965 ¢ durante a petrificagéo au- toritéria da era Médici? Um aspecto que © documentagSo mais adequada é o da propria organizagio partidéria. Como foi dito anteriormen- 113 fea gc do pafs 6 a de um erescimento de cima pata baixo, ou ‘uma méquina que conseguiu se expandir a partir dos espagos ¢ do estimulo criados pela i comporte diferenciagées © caso de Sao, Paulo € agi, para nfo dizer da franca apatia, entre os mi lectualizados, cm 1974, fora justamente a escolha, pela convengio do MDB, de Orestes Quércia como cat Senado. O candidato da ARENA, Carvatho Pinto, era tido de antemio como imbativel. A derrotando 0 “auténtico” Frei de colocar os sctores estudantis, © outros dos, diante de um te descolorido, gem negativa di ra prefeit do MDB no interior do Estado. E impossivel dizer se Freitas Nobre teria tido menos ou mais sucesso do que Quércia Carvalho Pinto. Considerando, porém, que o MDB mente uma pequena parcela dos governos locais ¢ que Quércia teve 4.6 milhdes de votos contra 1.7 mithGes dados a Carvalho afirmar sem susto que 0 fator decisivo foi o rol dio plebiscitério, e no a organizagéo previamente constituida pe- Io partido.™ Com as ressalvas que faremos adiante, 0 eleitorado dos votou, de fato, como uma massa numa ia. Pelo menos trés outros fatores se con- jo. Um, 0 inicio de um pro- cesso de reversio nas expectativas econdmicas da populagio, ivamente estimuladas pelo aparato publi- iro" 2” Outro, a ruptura da aparéncia monolitica e invulnerével do sistema, como fruto da propria promocio oficial do tema da abertura politica.” Um terceiro, fo importante efeito da televisto, que emitiu imagens gravadas, 114 mas ndo estéticas, como ‘mercé da chamada Lei Fal Os dados apresentad ia a acontecer de 1976 em diante, cam claramente que a inten¢o ex parte principis de revitalizar a legitimidade do sistema pela via eleitoral esbarrou, em 1974, numa poderosa manifestagao ex parte populi, de sentido oposto. Referimo-nos, acima, a alguns mo fruto de esforgos setoriais organizados. seria porém concebfvel, em 1974, prever a continuacao © 0 apro- fundamento das tendéncias que entéo se verificaram? Se 6 ver- dade que as projegées feitas a partir daf pelo micleo dominante as bases soc vel uma préxima diluigto ou reversao dos padroes eleitorais de 1974? ‘Trata-se de uma indagagio inarredavel, se levarmos em 6 sabido, clivagens étnicas, ou x demograficamente significativas. A resposta a estas indagagdes encontra-se, a nosso ver, no aprofundamento da identificagio com o MDB nos grandes cen- tros urbanos e na forte influéncia que estes exerceram sobre as cidades de porte médio nos anos seguintes. O surgimento, em escala nacional, de imagens contrastantes dos dois partidos 6 pra- ticamente um subproduto da eleigdo dé 19745 As pesquisas realizadas a partir desse momento invariavelmente demonstram que a ARENA passou a ser vista como 0 partido “do governo”, “dos ricos”, “da elite”, e 0 MDB como 0 partido dos “under. dogs”, “dos pobres”, “da oposicio”. Esta talvez seja apenas uma outra maneira de mencionar o sentido plebiscitério daquela dis- puta, mas hé alguns aspectos a setem destacados para um me- jor entendimento das expectativas dos atores politicos em re- ago aos pleitos seguintes. Nas grandes dreas metropolitanas, 0 a8, ou regionais, politica e 115 lup mostram, com ef gem sobre a AREN. Paulo © no Rio de jez: de um méximo de (excluindo-se os yotos declina para 48% em apresentam-se porém um pouco bbramos estes dados em fungi das as sécio-econdmicas ho- mogéneas em que se divide 0 mu bela 6). Consideradas da I até a equivalem a uma hierarquia de condisdes de vi para a mais pobre. Embora comportem cer interna quanto aos individuios ou, as familias que nelas habitam, ierarquia € indiscutfvel no que se refere as condigées globais raestrutura, 208 servicos dispontveis, & qualidade das ha- bitagdes, e assim por diante. Trata-se, portanto, de uma estrati- ficagio de contextos sociais* Pois bem: computados os percentuais da ARENA em cada Juma dessas reas, constatase que cles decrescem sistematica- mente, nfo s6 n0 tempo, como foi visto, mas também em funsio desse espaco social. Area por dea, verifica-se esse declinio, sem inversdes, na seqiiéncia das quatro cleigdes senatoriais realiza- das de 1966 a 1978, Ano a ano, ou cada uma das qua- tro eleigées, eles decrescem da érea I para a Grea II, desta para a TIL, € assim sucessivamente até a rea VIII, sem desvios ou inversdes, na seqiitncia das quatro cleigdes sanatoriais realize- ser apreciada obseryando-se 0 ocorrido na érea VIII, a mais po- bre, na Gltima elei¢do bipartidéria: a votagdo da ARENA para 0 Senado acha-se af reduzida para 7.5%, contra 92.5% do MDB.** de 116 ‘Tabela 5 PREFERENCIA POR PARTIDOS POLITICOS ENTRE FLEITORES DA GRANDE SAO PAUIO EDA GRANDE RIO 5-78 Grande So Paulo Tabela 6 VOTACAO DA ARENA NAS ELEIQOES PARA 0 SENADO, DE 1966 a 1918, SEGUNDO AS AREAS SOCIO-ECONOMICAS, HOMOGENEAS DO MUNICIPIO DE SKO PAULO (EM %)* VOTACAO DA ARENA PARA 0 SENADO Areast* MAIS RICAS ‘reas {AIS POBRES vu 48.7 i - TOTAL DO = |municrrio sao fans | m2 | rs + Excluides os votos em branco ¢ nulos. © complemento das por- centagens correspende portanto & votago do MDB. Fonte dos dados originals: TRE-SP. ‘+ Sobre a divisiio do municipio em reas homogtneas, ver Secre- taria de Economia e Planejamento de Sio Paulo, Subdivisco do Muni- cipio de Sto Paulo em Areas Homogineas, Série Estudos ¢ Pesquisas, no 13, 1977. er ae Que dizer, entretanto, des cidades de porte médio e dos Pequenos municipios, que também abrigam uma parcela conside- réyel do eleitorado nacional? Esses, como é sabido, achavam-se quaze totalmente sob 0 controle da ARENA em 1974, A debili- 118 8 pret a 2 oposiga0 niio 0 quando detém o pod . As eleigées municipais de 1976 for MDB nao conseguiu conservar a pre tara em muni triais vistos como “redutos” seus, como Juiz de Fora (em Minas Gerais) © Taubaté (em Sio Paul algumas respostas. Presidente ada passada 0 que se pode chamar de um “reduto arenista”. Nas cleigdes municipais de 1972, a vantagem da ARENA sobre o MDB fora de 50 para 1 na vot prefeito, uma das maiores do 1976, também vencida umnas, apesar da suposigo hat tipo o personalismo e o clie orientagao propriamente partidéri mo background para a Tabela 7, na qual recapitulamos a vota- parece nitidamente nesta série histérica. Observe-se que o MDB id havia vencido a cleigdo senatorial de 1970 (0 candidato era Franco Montoro), mas por estreitissima margem. Em 1974, apesar sobre a polftica Jo do abgoluto controle arenis no municipio praticamente a mesma vantagem que s¢ verificou sobre Carvalho Pinto no resto do Estado, Este, sem divida, 6 0 inicio efetivo da atividade oposicionista no municfpio, muito 119 Tabela 7 VOTACAO PARA 0 SENADO E PARA A PREFEITURA, DE 1966 A 1982, NO MUNICIPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SAO PAULO), EM PORCENTAGENS Sleleralal’|* elalol/ilels|s “Vsi)Slels(/¥]8 als ls lela] 2]a]a}3 elg{ale]-/8]8 “lS/R) A) R 1a] as 7 galals|3|2|8 “lE|® ays 2/efsl2)2]2 B/S) S]a2iayan ala 25/3 s| |tlela gl elalili HB =] * Vitoria de Franco Monto em 1970. Fonte dos dados originsis: TRESP. Vitéria de Franco Montoro © Fernando Henrique Cardoso em 1978. ‘se%+ Em 1982 colocamos como ARENA of votos do PDS ¢ como MDB ot votos dos quatro partides de oposisio.. ** Viusria de Orestes Quércia em 1974, embora ¢ MDB nao vé além de 17% dos votos para prefeito em 1976, Em 1978, a soma das duas sublegendas (Franco Montoro ¢ Fernando Henrique Cardoso) dé 20 dos votos para o Senado. A revirav com a conquista da prefcitura pelo MDB. Somados, os quatro partidos de oposi¢ao obtém 60% para o Senado e 68% para a Prefeitura, contra 22% do PDS. Este estudo de caso ilustra claramente 0 crescimento de , ou do centro para a periferia; vale dizer, a onista nos espagos aber- tendéncias achavain-se firmemente estabel res relevantes, © que aliés oxy custos em Iegitimidade assumidos pelo governo Geis mais ampla, 0 que importa reter, potém, € que a ARENA, da mesma forma que os partidos dominantes do lado conservador no perfodo 1945-65, viu'se presa a uma base social demiogra- ficamente declinante. As mudangas na estrutura’ social, respon- sfveis por este alinhamento desfavordvel as pretensdes de legiti- ‘mago pela via eleitoral do regime instaurado em 1964, sio fun- damentalmente: (a) a ctescente concentragéo da populagéo em grandes centros urbanos, acentuando @ caracteristica ao menos genericamente “oposicionista” do eleitorado; (b) a composicao segundo faixas etérias ¢ niveis educa- cionais, da qual resulta um peso também crescente do eleitorado jovem © pouco instruido; isto é, precisamente daquela parcela da populagdo que nfo tem meméria alguma dos acontecimentos invocados pelos militares como justificativa para a tomada do poder em 1964. Estes fatores, tendencialmente favordveis 20 apelo oposicionista, foram provavelmente exponenciados pela imposigo, em 1965, de uma estrutura bipartidaria, que facilitou fa transposiggo dess: agens, necessariamente difusas, para 0 plano politico-cleit 121 Concluséo * Ao contrério da redemocratizagao ocorrida na Argentina com Alfonsin e, hé cerca de dez anos, em Portugal ¢ na Grécia, ‘© processo brasileiro caracteriza-se por seu cardter totalmente endégeno e pelo seu graduelismo. Mesmo em comparagiio a Espanha, cuja redemocratizacao foi também um processo poli tico enddgeno, isto é, nfo marcado por derrotas militares graves que afetassem a coeséo ¢ a credibilidade das Foreas Armadas, i , por sua Tongevi- dade e por seu caréter ainda inconeluso. D: decorre o papel crucial nele desempenhado pelo calendé ado, 0 que & primeira um paradoxo. Explicase: no Brasil, comegando em 1974, o processo eleitoral foi de fato um teste de forgas € de legitimidade, © nao o simbolo € 0 coroamento de um pacto de transigao jé acertado noutras bases entre os atores relevantes. Foi quase o ponto de partida do proceso. Os resultados de 1974 sinalizaram 0 desejo de mudanga que se vinha formando no seio da sociedade, impulsionaram a organizagio de oposigGes variadas em um partido politico (o MDB) e reforgaram a dispo- sig20 inicial do governo Gcisel de implantar um projeto de libe- lizagdo controlada, que encontrava resistencias nos setores mais intransigentes do regime. Este processo de abertura pela via eleitoral é, como disse, algo singular. Uma anélise aprofundada dos fatores que 0 tor naram vidvel deveria comegar pelo legado ideolbgico ¢ institu. cional brasileiro, cujo carter autoritério tem sido freqiiente- mente tado, mas que também abriga importantes compo- nent no sendo concebfvel, entre nés, a legitimagio em termos dutadouros de um sistema autoritério, muito menos de uma autocracia repressiva como a que se configurou na era ++ Esta parte final baseia-se diretamente em mea texto “Apontamen- ileira”, publicado. no volume edi- snto, tim retorno a esta questéo rativo eleitoral — para con: em dois pontos que incidem de maneira mais i cfnica das mudancas ccorridas entre 1974 © 1984. pontos podem ser expressos seguradas certas condigdes minimas de dede para a disputas de expedientes de duvidosa moralidade), logrando assim no © seu objetivo de atenuar o impacto de resultados el crescentemente adversos. Entre a impossibilidade de uma “mexicanizagao" duradou- rae o simples smo ditatorial, o governo Geisel optow por uma terceira via, que seria a da distensio “gradual e se- , como sugerimos acima, tinha como condigéo bésica idade de projetar no tempo a entdo vigente estratifica- ional. Ou seje, a abertura via clei- ses foi possivel em grande parte porque as forgas politico-parti- dérias “reativadas” em 1974 estavam na realidade disputando 0 controle de um poder legislative enormemente esvaziado em suas fungdes ¢ prerrogativas, E indispensavel frisar 0 ponto do pardgrafo anterior para que se compreenda, de um lado, que o mecanismo formal da re- presentaglo, ou soja, 0 processo eleitoral, foi o campo de ago ‘distendido” pelo sistema autoritério, permitindo o crescimento da oposigéo; de outro, que essa oposicio, no inicio, estava na realidade disputando espagos, constrsindo sua prépria organi- zacGo, visto que se batia, na melhor das hipéteses, pelo controle de um Legislativo enfraquecido © sobre 0 qual pairavam incli- sive os instrumentos legais da tutela militar. Em outras palavras, o governo conservava nesses primei Fos anos, por meio de sua maioria parlameniar e dos poderes ilimitados que the facultava 0 Ato samente absoluto sobre a agenda das io da abertura, mentos nido formais, porém efic litatorial do poder. Do angulo que ora nos interessa, a consideragao relevante é, portanto, que os niveis de poder mais decisivos para a questio democratica no se achavam realmente i 880 0 acesso a0 poder da presidéncia da Repi- as expressdes legais da tutela militar , corporificadas no ALS até o final de 1978, © que sobreviveram indiretamente, por exemplo, me- diante o dispositive constitucional referente ao “estado de emer- géncia”, Neste sentido °espeeficamente institucional, as eleiges de ria absoluta na Camara dos Deputados deu a0 um caréter (como sugere Juan Linz) aproxima- damente didrquico ¢ elevou substancialmente 0 nivel do con- fronto no que diz respeiio A propria sucesso presidencial. Em- bora a representagao parlamentar do PDS ¢ os meios coercitivos ivo tenham sido suficientes para deter a primeira grande ofensiva oposicionista pelo imediato re- toro as eleigdes presidenciais diretas, em abril de 1984, néo esta divida de que © processo de abertura atingiy um novo sgotsmento do proceso de abertura inicial. Em retrospecto, parece acei- tavel o interpretdo do. que en mudangas ocorridas de 1974 a 124 1984 tiveram como base uma negociacio implicita, no sentido do ganhos que adviriam da A oposigiio, na medida em que se estruturava como forca poli tico-cleitoral poderose; na medida, também, que obteve do g verno, em 1979, a n dos poderes excepcionais consubstanciados no Ato I 5, € 0 proprio retorno ismo partid © governo, por seu turno, beneficiava-se de diversas ma- fia reduzirem-se os custos da coerg8o. Livrava-se grax do fantasma dos aparelhos autonomizados no bojo do 1, Fesponsdveis, como se sabe, por graves excessos repres- sivos que haviam comprometido seriamente a imagem interna- cional do pais. Capitalizava, portanto, os beneffcios poltticos de ‘uma atmosfera de normalizagao progressiva, como que trocando as perdas de legitimidade decorrentes de avaliagSes sobre seu pesado por genhos baseados na erescente eredibilidade de suas Se houve, ¢ é certo que houve, e10- € pois também certo que esse processo de mudanca ou a autoridade governamental (no governo Geisel nos trés anos do governo Figueiredo), na medida em que a investiu no papel de agente desse projeto de normalizagéo. © aliidido esgotamento do projeto inicial, ou seja, do gra- i a freqientes manipulagdes casufs- sto da legitimidade pleta para a democracia. Significa, porém, um primeiro passo na dirego da alternfincia no governo, ou de algum tipo de nego- ciagio explicita que © projeto politico em seu conjunto, sob pena de se ver forgado o regime vigente a romper uma vez mais com sua propria legalidade, configurando-se desta forma um novo perfodo ditatorial, Num panorama mais amplo, que ligasse estes acontecimen- tos imediatos aos dados mais profundos da formagio histérica brasileira, poder-se.ia talvez falar de uma poliarquia perversa, isto € uma sociedade que nfo se deixa enquadrar numa domi- 125 nagdo autoritéria monolitica, mas que tampouco possui a tradi- so de organizacdo politica pluralista e independente do Estado, tipica das verdadeiras poliarquias lberais Supor que esse padriio bésico se haja alterado em decorén- cia da abertura dos tltimos dezenove anos seria sem duivida teme- rério. Hé, entretanto, uma mudanga significativa no entendi- mento destas questdes. Hé elgumas décades, a tese do “amor fismo” social fazia-se sempre acompanhar de uma representacio do Estado como uma forga coesa, stiva e criadora. Um pesqui- sador cuidadoso nio teria dificuldade em localizar representa- antropomérficas, nas quais 0 Estado aparecia eneroso e altrufsta. A concentragdo buro- r do poder, a partir de 1964, justamente porque atingit nfveis nunca vistos no pafs e nem assim o impe- iu de mergulhar numa crise econdmica ¢ social de vastas pro- porgées, esté agora chamando a atencao dos analistes para as fissuras ¢ para os sinais de descontrole que the sfo inerentes. O préprio coordenador politico do governo Geisel, general Golbery do Couto ¢ Silva, fez amplo uso da metéfora do buraco negro, Imente para referir-se a um poder infinitamente con- centrado, ¢ por isso tornado indtil. Wanderley Guilherme dos Santos (op. cit.) no resistiu ao termo balcanizapao quando se defrontou com o crescente encastelamento de interesses burocri- ticos no setor produtivo estatal. Jé 0 ex-ministro Melo Franco, numa f6rmula mais ceseira, disse recentemente que no Brasil atual existe poder, mas nfo hé governo. NOTAS 1. Todas as referéncias a Authoritarian Brazil no presente artigo bbaseiam-se na edigho hard cover de 1973 da Yale University Press. 2. Nio me refiro aqui 208 textos de Authoritarian Brasil, mas sim 4 todo um clima de discussio, disperso estre intimeras fontes, inclusive jornalisicas, No que diz. respeito especificamente A alternativa militar hacionalista, observesse que ela & explicitamente discutida e descariada 126 Teen letions pos Comme Les Autres, Pats, Presses de la FNSP. A oa Poe andlise ¢ tora for aula, Dif 1973; Wander spasse in Brazilian Fara que figue claro met, cbjetivo de dlsutir © modelo de sndlke, ¢ no eventuais deficizncins da andlise de Schmitter, permito-me lembrar 127 im Brap, Sio Paulo, 1° 7, 4 meimo n0 apogeu do “milagre econdmi ‘or associations. Oa the other hand, lengthy formal politcal a prematurely large bureaucracy, ‘sustained high rates of inflation and 128 ips with militant demands for the meang of production, Frsead 1g what has already been "benevo- Past”, pape? imérica Central, patrocinada tos. Humanos, San’ José, Costa . Neste sentido, pareceme demasiado restrtive 0 conceito de eigate‘competva prope por Mermet ea. (er eagfo mn rot 3 12, Theda Skoepol, por exemplo, julga haver descartado 0 pro blema da legitimidade ‘por este camino: “o que realmente importa ia de grupos mobilizados e politicamente poderosos, faquiesencia da maioria popular da sociedade". Parecem-me Gescuidadas. suas referSncias a “soclety-centered theories of government” justamente na medida em que inciuem nesse tipo de teori- Zag fudo 0 que te refere so conceito de representagao, Ora, a repre » hobbesiane, de autorizacio formal © mesmo a transigfo hi independente sio insepardveis da constituigio do Estado moderno como um “ator” que se quer unitério ¢ autOnomo, (Estas referéncias 20 Slate”, pp. 24:33 de States and Press, 1979. Sobre a representacio, of Representation, Berkeley & Los Angeles, University of Califo Press, 1972.) 129 tendéncia adesista dos chamados “fsiol6gicos” As posigées da -maioria governista. direta dos governadores estaduais, em 1982, os parti- Montoro © Tancredo Neves), o PDT elegeu o do Rio de Janeiro (Leonel Brizola), © 0 PDS os 12 restantes, sendo nomeado o (primeiro) gover- 130 dos Santos, Poder ¢ Poiti 7 Rio de Janeiro, Forense-Universitéria, 1978, ___ 23, Plebiscitério, bem entendido, contra o regime, quando 0 célculo inicial do governo Geisel era obter nessas leigées “uma manifestacio ‘consegradora a seu favor. Bo que sugerem Cruz © Martins, com base 134 fem extenso levantamento sobre 0 periode: Desadamente nessas eleigdes, que de ie eleitores deu 2 vit6ria a0 8 favor da oposigio (73% dos Sobre as eleisdes subseqiientes, ver Fabio Wanderley Reis, ot Os Pardes « o Regime, Sio Paulo, Ealtora Simbolo, 1978, © ‘ var nalisadot por Bolivar Lamounier e Maria Judith Muszynski na mono- grafia "Sto Paulo, 1982: a Vit6ria do (P) MDB", Terios, Sfo Paulo, IDESP, n.° 2, 1983. lup © os surveys que serviram de ina nota. 24 contém abundante cevidéncia da prefertocia do cleitorado pelas eleigées diretas, A maior importincia atribuida as eleigGes exccutivas. & um ponto reiterado ma Dibliografia, desde os anos 50. Para o perfodo recente, ver 0 estudo 132 AS et ete As véspers © Instituto Gallup fez a MDB, em comparscio com 24% dos. at 2B. No Estado de Sio Paulo, o MDB detinha em 1972 apenas 58 das 551 prefeituras (excluidos os ‘municipios considerados de sepuranga nacional © 6 estincias hidrominerais, cujos prefeitos eram nomead fe 809 dos 4.930 vereadores. Dados do Instituto Gallup indicam que 0 cendidato da ARENA, Carvalho Pinto, detinba 72% das preferéncias Quércia. Dois dias antes da eleigio esas proporsdes se haviam invertido: 69% para Quércia, 23% para Carvalho Pinto. Fsses dados mostram também que a candidarura’ Carvalho Pinto era nitidamente identficada fom ermos retrospectivos (idade, experiéncia, desempenho nos. cargos ‘que havia ocupado), ocorrendo justamente © oposto com a candidatura de Quércia. 29, A exacerbaclo das expectativas, juntmente com 2 permanéncia ‘ou mesmo © aumento das desigualdades de renda durante o “milagre” €'am dos pontos salientados por Schmitier em sua contribulcio a “Authoritarian Brazil (ver pp. 197-206). E. interessante observar, porém, mento dos. desequilibrios- macroecondmicos linha coerente, alternando medidas de expansio e retracdo monetitia ¢ 133 PARTE Il um tipico padrio stop-and-go. Ver a Lamounier © Alkimar Ribeiro. Moura, citad 30, Essa_ruptu pelos novos Seniincias de abalando © A economia politica da abertura e da transic¢ao deste partido para_a Camara Federal, em 1974, cm contraste com apenas 15% dos voice dads & ENA. urbana, passam a representar nada menos de 55% do total de yotantes ‘mais detalhada, “ic duoritrime Brasero, Rio Ge act. Eaors Capen, 982, 154

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