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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO

EXCELENTÍSSIMO(A) SR(A). JUIZ(A) DA __ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA/DF

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, pela PROCURADORIA REGIONAL DO


TRABALHO DA 10ª REGIÃO (PRT DA 10ª REGIÃO), situada no SAUN Quadra 5, Lote “C”, Torre
“A”, Centro Empresarial CNC, em Brasília/DF, CEP 70040-250, vem, respeitosamente, com
fulcro nos artigos 127, caput, e 129, III, da Constituição Federal, nos artigos 83, III, e 84, caput
e V, c/c o artigo 6º, VII, “a” e “d”, da Lei Complementar n° 75/93 e artigos 1º, IV, e 5º, I, da Lei
nº 7.347/85, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


com pedido de Tutela de Urgência Antecipada

em face da empresa VALOR AMBIENTAL LTDA, pessoa jurídica de direito privado, cadastrada
no CNPJ sob o nº 07.026.299/0001-00, estabelecida no Setor SIA Sul, Trecho 4, n° 2.000, Bloco
F, sala 106, em Brasília/DF, CEP 71.200-040, e-mail valorambiental@vaambiental.com.br , e
SERVIÇO DE LIMPEZA URBANA DO DISTRITO FEDERAL – SLU/DF, inscrito no CNPJ sob o nº
01.567.525/0001-76, com sede no Setor Comercial Sul - SCS, Quadra 08, Bloco B-50, Edifício
Venâncio 2000, sala 929, em Brasília/DF, CEP 70.333-900, e-mail presi@slu.df.gov.br, pelos
fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

A presente ação tem por base o Inquérito Civil nº 002277.2019.5.10.000/3-46,


instaurado nesta Procuradoria Regional do Trabalho da 10ª Região incialmente, a partir de
denúncias formuladas contra a empresa VALOR AMBIENTAL LTDA e o SERVIÇO DE LIMPEZA
URBANA DO DISTRITO FEDERAL – SLU/DF, noticiando, dentre outras irregularidades
trabalhistas, a suposta dispensa em massa de trabalhadores e o descumprimento de cláusulas
de contrato ou acordo coletivo, durante a pandemia de coronavírus (Notícia de Fato nº
2277.2019 – Docs. 01 a 03; Notícia de Fato nº 2281.2019 – Doc. 04; e Notícia de Fato n°
2195.2020 – Docs. 05 a 07).

Conforme a denúncia que ensejou a abertura do procedimento de investigação n°


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2277.2019, bem como as reportagens a ela colacionadas (“Garis do DF paralisam atividades


em protesto à demissão de 1,5 mil trabalhadores” e “Sindicato denuncia excesso de trabalho
de garis do DF depois de demissão em massa”), 1,5 mil garis teriam sido dispensados em
outubro de 2019, em razão de novo contrato firmado entre a SLU/DF e a empresa requerida,
prevendo coleta seletiva de lixo em dias alternados.

No curso da investigação, foram recebidas duas novas denúncias contra a empresa,


as quais foram anexadas ao IC 2277.2019, para investigação conjunta, em razão de prevenção:
NF 2281.2020 e NF 2195.2020. Tais denúncias, também amparadas em reportagens
jornalísticas (“DF tem 171 garis com COVID-19 e 167 demitidos. Categoria teme sobrecarga” e
“Após mudança de contrato e pandemia, DF perde 767 garis, diz Sindicato”), noticiam nova
dispensa coletiva de trabalhadores, em plena pandemia de COVID-19 (Coronavírus), gerando
sobrecarga de trabalho aos que permanecem em atividade.

A empresa VALOR AMBIENTAL defendeu a regularidade das rescisões realizadas em


outubro de 2019 (Doc. 08 - petição protocolizada em 17/01/20), alegando que, por ocasião da
nova licitação, sagrou-se vencedora de apenas uma parte das localidades onde prestava
serviços anteriormente. De tal modo, a diminuição de sua área de atuação, com relação ao
contrato anterior, justificaria a redução em seu quadro de funcionários.

Já em relação às demissões ocorridas no ano de 2020 e objeto da presente ação, a


empresa sustentou que tais desligamentos não teriam sido exclusivamente de
colaboradores do grupo de risco, incluindo, também, aprendizes, estagiários e outros
empregados na faixa etária de 20 a 30 anos (Doc. 09 – petição protocolizada em 10/09/20).

Quanto aos empregados integrantes do grupo de risco, a VALOR AMBIENTAL


esclareceu que firmou acordo com o Sindicato Laboral, em 14/05/20, tendo este concordado
com a demissão dos empregados do grupo de risco, desde que a Valor Ambiental se
comprometesse a recontratá-los após o fim do Estado de Calamidade Pública.

Colacionou aos autos do Inquérito Civil a “Ata da Reunião Empresa Valor Ambiental
X SINDLURB-DF, realizada no dia 14 de maio de 2020”, cuja pauta foi o afastamento dos
funcionários integrantes do grupo de risco relativamente à COVID-19 (Doc. 10 – Ata da
Reunião Valor Ambiental X SINDLURB-DF). Na referida ata, consta que a empresa teria que
efetuar a dispensa dos empregados do grupo de risco e, como tais colaboradores não
poderiam cumprir o aviso prévio, foi acordada a recontratação, após a calamidade pública,
daqueles empregados que concordassem com a dispensa do aviso prévio indenizado. Com
relação àqueles que não concordassem em abrir mão do aviso prévio, não haveria
compromisso de recontratação.

A concordância com a dispensa de aviso prévio foi formalizada por meio de acordos

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individuais firmados com os trabalhadores integrantes do grupo de risco (a exemplo do Doc.


11).

Assim, a empresa procedeu à dispensa de empregados integrantes do grupo de risco


(Docs. 11 a 118), firmando acordos individuais com aqueles que concordaram em abrir mão
do aviso prévio indenizado, mediante a promessa de recontratação após o final da
pandemia. Tal conduta foi amparada por acordo formalizado entre a empresa e o SINDLURB-
DF, sem o aval formalizado da categoria por meio de assembleia e, portanto, sem força de
acordo coletivo.

O SLU/DF, por seu turno, se manifestou em 11/09/20 (Doc. 119, alegando: que não
tem ingerência sobre as atividades administrativas das empresas contratadas para realizar os
serviços de limpeza urbana no DF; que a responsabilidade pela prestação dos serviços e
fornecimento de pessoal e equipamentos necessários ao cumprimento do contrato é das
empresas contratadas; que orientou as empresas a implementarem protocolos de segurança
para todos os trabalhadores, em razão da pandemia, incluindo o afastamento temporário dos
trabalhadores integrantes do grupo de risco.

Quanto à Valor Ambiental, a SLU reafirmou que a mesma fez acordo com o Sindicato,
em 14 de maio, para rescindir temporariamente o contrato de 112 trabalhadores do grupo de
risco, que teriam sido substituídos por outros profissionais contratados. Afirmou que a
empresa assumiu o compromisso de recontratar, ao final da situação de calamidade pública,
todos os trabalhadores afastados que concordaram em renunciar ao aviso prévio indenizado.

Por força do Despacho Administrativo de 09/10/20 foi determinado ao Sindicato


signatário do ajuste, que comprovasse nos autos do Inquérito a aprovação pela Assembleia
da categoria acerca do avençado (Doc. 120). A requisição, no entanto, não foi atendida (Doc.
121 – Notificação Requisitória nº 129609.2020 e Doc. 122 – Certidão de Vencimento de Prazo
nº 17858.2020).

Foi realizada audiência administrativa com a empresa VALOR AMBIENTAL, em


19/10/20 (Doc. 123). O SINDLURB/DF, embora notificado, não compareceu ao ato.

Na oportunidade, a empresa afirmou que “o ajuste celebrado em maio de 2020


contou com a concordância do Sindicato e com a autorização individual de diversos
trabalhadores que concordaram com seus termos”. Ressaltou, ainda, que: “aqueles que não
concordaram receberam integralmente as verbas rescisórias inclusive com o pagamento do
aviso prévio”; “o DF manifestou-se pela legalidade dos procedimentos adotados no que tange
a sua atuação, não vislumbrando qualquer medida de caráter discriminatório”; “foram
desligados diversos empregados de diversas faixas etárias, e inclusive do grupo de risco”.

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Foi, então, conferido prazo à VALOR AMBIENTAL, para que apresentasse o


quantitativo exato e a relação de empregados desligados a partir de março, com comprovação
das verbas que lhes foram pagas.

A empresa peticionou em 26/10/20, juntando 108 (cento e oito) Termos de Rescisão


de Contratos de Trabalho (TRCT’s) relativos aos empregados que integravam o grupo de risco
(tanto dos que firmaram o acordo individual concordando com o não recebimento do aviso
prévio, quanto dos que não aderiram ao acordo e receberam o aviso indenizado). Juntou,
também, listagem com os 285 (duzentos e oitenta e cinco) empregados desligados entre
março e outubro de 2020 (Doc. 124).

O SINDLURB/DF foi, novamente, instado a acostar aos autos do Inquérito Civil a


autorização assemblear para celebração do ajuste que previu a possibilidade de demissão,
com promessa de futura recontratação e dispensa do pagamento do aviso prévio aos
diversos empregados da empresa VALOR AMBIENTAL (Doc. 125 – Despacho Administrativo
de 25/11/20 e Doc. 126 – Notificação Requisitória). Novamente, contudo, manteve-se
silente (Doc 127 - Certidão de Vencimento de Prazo nº 699.2021).

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Ao longo do procedimento de investigação instaurado a partir de denúncia formulada


perante o Ministério Público do Trabalho (Inquérito Civil nº 002277.2019.10.000/3-46), restou
claramente demonstrado que houve dispensa coletiva, de cunho discriminatório, dos
empregados integrantes do grupo de risco da COVID-19.

A alegação da empresa VALOR AMBIENTAL no sentido de que também teriam sido


dispensados empregados que não faziam parte do grupo de risco, não tem o condão de
afastar o caráter discriminatório do ato, na medida em que foram demitidos todos aqueles
que, por integrarem o grupo de risco, não poderiam retornar às suas atividades enquanto
perdurasse a situação pandêmica.

Aliás, dentro atual contexto, não se sabe até quando perdurará a pandemia, não
fazendo sentido a condição futura e incerta prevista no ajuste.

Com relação aos acordos individuais firmados com os empregados do grupo de risco
que foram dispensados, por certo, a mera concordância individual não é apta a autorizar a
supressão de direitos (direito ao recebimento do aviso prévio indenizado) e o acordo
realizado com o SINDLURB/DF, por seu turno, não tem força de acordo coletivo, já que não
foi antecedido de assembleia (exigida pelo art. 612 da CLT e que, durante a pandemia,
poderia até mesmo ser realizado de forma virtual, conforme autorização do art. 17, II, da

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MP 936/2020, posteriormente convertida na Lei 14.020/2020).

Veja-se que o Sindicato, em mais de uma oportunidade, foi instado a comprovar a


autorização assemblear para a celebração do ajuste, mas manteve-se silente (Docs. 122 e 127)
deixando de atender às requisições Ministeriais e, inclusive, deixando de comparecer à
audiência administrativa realizada (Doc. 123).

Feitas tais considerações, passa-se à análise dos tópicos referentes aos fundamentos
jurídicos da presente demanda.

II.1 – Da Responsabilidade Social da Empresa Valor Ambiental

A presente demanda visa compelir a empresa a cumprir sua função social (art. 170,
III, da CF), respeitando a proibição de demissão arbitrária (art. 7º, I, da CF), o valor social do
trabalho (art. 1º, IV, da CF), o princípio da boa-fé objetiva (art. 422, caput, do CC) e a proteção
à dignidade da pessoa do trabalhador (art. 1º, III, da CF).

Diante da já narrada conduta da empresa, faz-se necessário sopesar, de um lado, a


livre iniciativa e o poder diretivo do empregador e, de outro, os direitos sociais dos
trabalhadores atingidos, e a resposta está na observância da função social da propriedade
como meio de atingimento do bem comum, sob a égide da atual ordem social trazida pela
Constituição.

A toda evidência, a empresa deve ser compelida a cumprir sua função social,
tomando as necessárias providências para abrandar, de maneira racional e eficiente, o impacto
socioeconômico negativo que causou aos trabalhadores dispensados, observadas as regras
mínimas atinentes à responsabilidade social e conferindo efetividade ao princípio da dignidade
da pessoa humana.

II.2 – Da Responsabilidade Subsidiária da 2ª requerida

O Plenário do Egrégio Supremo Tribunal Federal, em decisão exarada em


24/11/2010, julgou procedente o pedido formulado na ADC nº 16/DF, para declarar a
constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93. Ressalvou, contudo, a possibilidade
de a Justiça do Trabalho constatar, no caso concreto, a culpa in eligendo e in vigilando da
Administração Pública, atribuindo-lhe responsabilidade pelas obrigações trabalhistas
descumpridas pelo contratado.

Com efeito, a Administração Pública tem o dever não apenas de contratar serviços
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com empresa ou profissional idôneo (art. 27, IV, da Lei nº 8.666/93), mas também de fiscalizar
a execução do contrato (art. 58, III da Lei nº 8.666/93).

Daí advém a responsabilidade subsidiária quando o ente público deixa de cumprir


com seus deveres, agindo com culpa in elegendo e/ou culpa in vigilando com relação à
execução dos contratos de terceirização, considerando, sobretudo, os princípios fundamentais
da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho, inscritos no art. 1º da
Constituição Federal.

Tal entendimento está consolidado no Colendo TST, pela Súmula nº 331, que
determina a responsabilização subsidiária do tomador dos serviços quando evidenciada sua
conduta culposa na contratação e/ou na fiscalização do cumprimento das obrigações
contratuais e legais pela prestadora dos serviços.

É ônus processual do Poder Público demonstrar que, de forma eficaz, elegeu empresa
idônea e fiscalizou a execução do contrato, salvaguardando o cumprimento das leis
trabalhistas e fiscais.

In casu, o SLU/DF soube da conduta da empresa e nada fez em relação às demissões


realizadas. Por ocasião da audiência administrativa realizada com este Parquet, inclusive, o
DF se manifestou expressamente “pela legalidade dos procedimentos adotados no que
tange a sua atuação, não vislumbrando qualquer medida de caráter discriminatório” (Doc.
123).

Diante da omissão, resta configurada a culpa in vigilando, que autoriza a


responsabilização subsidiária do ente público.

Nesse sentido, transcreve-se a título ilustrativo, precedente do Egrégio TRT da 10ª


Região:

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. ENTE PÚBLICO. SÚMULA 331 DO C. TST.


ADC 16 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O E. Supremo Tribunal Federal, no
julgamento da ADC 16/DF, assentou que, de fato, segundo os termos do art.
71, §1º, da Lei 8.666/1993, a mera inadimplência do contratado não autoriza
seja transferida à Administração Pública a responsabilidade pelo pagamento
dos encargos trabalhistas, a vedar irrestrita aplicação da Súmula 331, IV, V e
VI, do TST. Entretanto, também reconheceu expressamente, no julgamento
da mesma ADC 16/DF, que referido preceito normativo não obsta o
reconhecimento dessa responsabilidade em virtude de eventual omissão
da Administração Pública no dever - que impõem os arts. 58, III, e 67 da Lei
8.666/1993 - de fiscalizar as obrigações do contratado, caso que ocorreu
nestes autos. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DISPENSA

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DISCRIMINATÓRIA. TRIBUNAL DO JÚRI. Para a configuração do dano moral é


necessária a conjugação de três elementos: o dano, o nexo causal e a
conduta. A conduta patronal se mostrou inadequada e provocou a violação
ao patrimônio imaterial da Autora, razão pela qual faz jus à indenização por
danos morais, na medida em que restou provado o fato alegado pela Obreira,
no sentido de que ocorreu a dispensa discriminatória, em razão de a Obreira
ter comparecido ao Tribunal do Júri. Recurso da Reclamante conhecido e
provido. (TRT10 – Processo nº 0001046-74.2015.5.10.0008; Relator Des. José
Leone Cordeiro Leite; Data do Julgamento: 07/06/2017; Data da Publicação:
16/06/2017). Grifos acrescidos.

Há que se reconhecer, portanto, a responsabilidade subsidiária da segunda requerida


(SLU/DF), por omissão na fiscalização do contrato firmado com a primeira requerida (VALOR
AMBIENTAL).

II.3 – Do caráter individual dos acordos celebrados, da ausência de autorização assemblear


prévia e demais peculiaridades da “negociação prévia” realizada

As dispensas em massa ou coletivas devem ser objeto de especial atenção, em virtude


de seus efeitos, dado que extrapolam a relação empregatícia individual e suas questões
patrimoniais.

Suas peculiaridades denotam maior relevância social, ultrapassando a análise da


mera regularidade do direito potestativo de dispensar, já que implicam, no mais das vezes,
desmedido abalo social e econômico, demandando a criação de mecanismos protetivos ao
trabalhador e constituindo verdadeira questão de ordem pública.

A adoção de mecanismos aptos a reduzir seus graves impactos visa a observância aos
princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho e da
função social da empresa, previstos nos arts. 1º, III e IV e 170, caput, e III, da Constituição
Federal.

A negociação realizada no caso limitou-se a uma reunião das empresas requeridas


com o Sindicato obreiro da categoria, realizada sem autorização assemblear prévia e sem a
formalização de ajuste coletivo, na qual foi acordada a dispensa dos empregados integrantes
do grupo de risco, com a promessa de futura recontratação àqueles que abrissem mão do
recebimento do aviso prévio indenizado.

Transcreve-se, por oportuno, o teor da ata da reunião na qual foi celebrado o acordo
(Doc 10):

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“Aos quatorze dias do mês de maio de dois mil e vinte (14/05/2020),


às 09h30, na sede da empresa Valor Ambiental LTDA (...), reuniram-se o
representante da Empresa Valor Ambiental Diego Duarte Moniz,
representantes da entidade laboral Sindlubrb/DF (...), para tratar de assuntos
referente aos colaboradores da Empresa Valor Ambiental que estão inseridas
no grupo de risco ao Covid-19 (Novo Coronavírus).

A Valor Ambiental informou as ações tomadas quanto a prevenção ao


Covid-19 (...). Informou que desde o inicio da pandemia os colaboradores
nestas condições, colocando de férias nas competências de 04/2020 e
05/2020 conforme preconiza a Medida Provisória 927/2020 do Governo
Federal, tendo atualmente 112 (cento e doze) funcionários nestas condições
(férias), na perspectiva de melhora do cenário atual, porém não há previsão
de melhora e com a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde),
Ministério da Saúde e do SLU (Serviço de Limpeza Urbana), quanto ao
afastamento dos colaboradores de grupo de risco, a Valor Ambiental terá que
efetuar a dispensa dos funcionários.

Como os colaboradores não poderão cumprir aviso prévio, foi proposto


a dispensa do aviso trabalho, o que foi descartado pelo auto custo sem a
prestação do serviço. A Valor Ambiental propôs que os colaboradores que
concordarem na dispensa de aviso prévio indenizado, será garantido a
recontratação imediata após Estado de Calamidade Publica pelo Covid-19. Os
Colaboradores que não optarem por dispensa do aviso prévio indenizado não
haverá compromisso de recontratação. Foi acordado por ambas a partes
então a recontratação pós Calamidade Pública dos colaboradores que
optarem pela dispensa do aviso prévio indenizado, garantindo as demais
verbas rescisórias. Será feito termo de acordo individual para cada
colaborador com visto do Sindlurb. Foi apresentada relação dos
colaboradores do grupo de risco que estão de férias devido ao Covid-19. A
reposição dos colaboradores a serem desligados será efetuada após ajuste
do quadro de funcionários, dando prioridade a candidatos indicados pelo
Sindlurb, nos quais passaram por todas as etapas de admissão para efetiva
contratação. Por fim, agradeceu-se a presença e a colaboração de todos,
encerrando os trabalhos às 10:25h. Em seguida, para que surta os efeitos
legais, determinou-se a lavratura da presente ata, que vai assinada por todos
os presentes”. (Sic).

Veja-se que o acordo em questão, que supostamente respaldaria as demissões e a


redução de direitos, não tem força de acordo coletivo, carecendo da necessária autorização
assemblear prévia, exigida pelo art. 612 da CLT.

A empresa foi por diversas vezes instada a comprovar a autorização assemblear nos
autos do procedimento de investigação conduzido por este Parquet, mas manteve-se silente

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(Docs 121, 122, 126 e 127).

De sinalizar-se, ainda, que por força do art. 1, II, da MP 936/2020, já vigente à época
da celebração do acordo, foi autorizada a realização de assembleias virtuais durante a
Pandemia, de modo que nada justifica a não realização de assembleia prévia.

Não houve nem mesmo a utilização, por parte da empresa, de outras medidas
possibilitadas pelas Medidas Provisórias nº 927 e nº 936, atualmente convertidas na Lei nº
14.020/2020 (redução proporcional da jornada e salário ou a suspensão do contrato de
trabalho). A única medida adotada antes da demissão em massa foi a concessão de férias.

Gize-se, outrossim, que a concordância individual dos trabalhadores com a redução


de direitos não mitiga a abusividade da conduta da empresa.

Eis os termos dos acordos individuais firmados (a exemplo do Doc 11):

“(...)
Cláusula Primeira – Da demissão
O Empregado se declara inserido no grupo de risco, representado
pelos idosos e com comorbidade patogênica, entendendo que por esta razão
não pode permanecer na atividade laborativa, que apresenta risco de
contaminação pela COVID-19, por esta razão concorda com a sua demissão,
na modalidade sem justa causa, dispensando a Empregadora do pagamento
do aviso prévio indenizado.
Parágrafo primeiro: Em contrapartida à dispensa concedida pelo
Empregado, a Empregadora se obriga a recontratá-lo, no prazo de até 30
(trinta) dias, logo após seja decretado o fim do Estado de Calamidade Pública
causado pelo Covid-19.
(...)”

Ora, nenhuma escolha tinham os colaboradores a não ser concordar com a


supressão de direitos, para terem, ao menos, a promessa de futura recontratação - já que,
por suas condições pessoais (grupo de risco), sequer poderiam sair em busca de novos
empregos.

Em suma, em meio à Pandemia de COVID-19 (Coronavírus), a empresa requerida


demitiu diversos trabalhadores, dentre os quais aqueles que integram o grupo de risco para
a COVID-19, desprezando as alternativas viabilizadas pela legislação editada no período
pandêmico e deixando de pagar o valor integral das rescisões contratuais. Transferiu, assim,
a totalidade dos riscos da atividade econômica aos trabalhadores – incluindo aí, justamente
àqueles mais vulneráveis, que, por integrarem o grupo de risco, são os que enfrentam maior
dificuldade em se recolocar no mercado, diante da necessidade de isolamento social.

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Tal atitude revela-se flagrantemente antijurídica.

II. 4 - Da Conduta Discriminatória relativa às dispensas dos trabalhadores pertencerem ao


grupo de risco para agravamento da COVID-19

A dispensa coletiva ou em massa não constitui direito potestativo do empregador, em


razão da transindividualidade de seus efeitos subjetivos, econômicos e sociais.

De toda a sorte, mesmo o poder potestativo do empregador encontra limites no


princípio da dignidade da pessoa humana, não podendo ser utilizado como ferramenta de
punição de obreiros pelo exercício regular de seus direitos.

Deixar ao exclusivo arbítrio do empregador a identificação dos empregados a serem


dispensados abre espaço para práticas discriminatórias, pois possibilita que a decisão
empresarial seja fundada em critérios injustamente desqualificantes, tais como: idade, sexo,
raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência ou, no caso da pandemia atualmente
vivenciada, condição pessoal ou doença crônica que inclua a pessoa no grupo de risco para
agravamento da doença.

Com efeito, é vedado ao empregador proceder com discriminação, sob pena de


afronta aos artigos 1°, III e IV, 3º, IV e 5º, XLI, e 7º, I, todos da Constituição Federal.

Entende-se por conduta discriminatória aquela que dispensa a alguém tratamento


diverso do padrão geralmente adotado, sem que tal diferenciação encontre suporte jurídico
ou social plausível. Na lição de Maurício Godinho Delgado, o princípio da não-discriminação é
“a diretriz geral vedatória de tratamento diferenciado à pessoa em virtude de fator
injustamente desqualificante”.

Com efeito, garantir o convívio social livre de preconceitos é condição necessária para
a efetividade do bem jurídico maior tutelado pela Constituição: a Dignidade da Pessoa
Humana, que, nos termos do art. 1º, III, constitui fundamento da República Federativa do
Brasil.

No caso em tela, resta evidente a ilicitude da conduta da empresa VALOR


AMBIENTAL ao demitir aqueles trabalhadores que, por integrarem o grupo de risco para
contágio da COVID-19 (Coronavírus), deveriam ficar afastados das atividades laborais
presenciais, em isolamento social. A toda evidência, tal conduta afigura-se ilícita, abusiva e
discriminatória.

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Oportuno destacar a redação dos arts. 186 e 187 do Código Civil vigente, que tratam
dos atos ilícitos, assim estabelecendo:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Evidente que, na situação em apreço, a empresa violou direitos e causou dano a


diversas pessoas, excedendo manifestamente os limites impostos pela boa-fé e deixando de
cumprir com sua função social.

Os prejuízos causados adquirem contornos ainda mais severos em razão do


contexto da Pandemia Global de COVID-19, pois os colaboradores foram dispensados sem
justa causa e sem o pagamento integral das verbas rescisórias, em um momento em que não
tinham condições de ir em busca de novos empregos, face à necessidade de
distanciamento social (necessidade potencializada em relação a eles, por integrarem o grupo
de risco).

Furtando-se de negociar adequadamente as demissões e pagando a menor as


verbas rescisórias, reduziu ao mínimo os seus prejuízos, transferindo por completo os riscos
da atividade econômica aos trabalhadores.

A promessa de futura recontratação, feita àqueles que concordaram em abrir mão


de seus direitos, não minimiza o problema, especialmente considerando tratar-se de
condição incerta e futura, em momento de tamanhas incertezas.

Importante ressaltar, mais uma vez, que a alegada participação do sindicato da


categoria limitou-se à celebração de um acordo sem força de acordo coletivo, que não foi
antecedido de autorização assemblear (art. 612 da CLT), não tendo a empresa se empenhado
em realizar negociação coletiva prévia formal ou diálogo social amplo visando minimizar os
efeitos econômicos e jurídicos do ato.

A discriminação praticada viola também os dispositivos constitucionais e legais


mencionados, além do disposto na Lei nº 9.029/95, que proíbe práticas discriminatórias nas
relações de trabalho.

A referida lei veda a adoção de qualquer prática discriminatória para efeito de acesso
ou manutenção da relação de trabalho (art. 1º) e estabelece que o rompimento da relação por
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ato discriminatório confere ao empregado o direito de optar entre a reintegração com


ressarcimento integral de todo o período em que esteve afastado e a percepção em dobro da
remuneração do período de afastamento, além da reparação por dano moral (art. 4º).
Vejamos:

Art. 1o É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa


para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por
motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência,
reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as
hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII
do art. 7o da Constituição Federal.

Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos


moldes desta Lei, além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao
empregado optar entre:
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de
afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas, corrigidas
monetariamente e acrescidas de juros legais;
II - a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento,
corrigida monetariamente e acrescida dos juros legais.

A toda evidência, o caráter discriminatório das demissões em apreço configura abuso


de direito por parte do empregador e enseja a necessária reintegração dos obreiros ou a
percepção em dobro da remuneração devida, nos termos da legislação supra.

Os atos demissionais em questão são, portanto, nulos de pleno direito e


desprovidos de eficácia jurídica.

II.5 – Da impossibilidade de supressão do Aviso Prévio Indenizado

Como visto, diversos trabalhadores foram dispensados sem justa causa e, por meio
de acordos individualmente firmados, abriram mão do recebimento do aviso prévio
indenizado, mediante promessa de futura recontratação.

Conforme informação da empresa Valor Ambiental, 285 (duzentos e oitenta e cinco)


empregados foram dispensados entre os meses de março e outubro de 2020 (Doc 124).
Destes, 108 (cento e oito) eram integrantes do grupo de risco, conforme TRCT’s acostados
aos autos do Inquérito Civil (Docs 11 a 118) e que agora restam contestados na presente
ação.
Dos 108 (cento e oito) empregados do grupo de risco que foram dispensados, 85
(oitenta e cinco) aceitaram o acordo para abdicar do recebimento aviso prévio indenizado
ao qual faziam jus (Doc 128), atraídos pela promessa de futura recontratação – o que
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representa 78,7% do total de obreiros dispensados.

O aviso prévio, contudo, é um direito constitucionalmente assegurado e


irrenunciável, não podendo ser dispensado nem mesmo por norma coletiva (art. 611-B, XVI,
da CLT), quanto menos por diplomas legais de natureza inferior ou por meros acordos
individuais.

Nesse sentido, recente precedente da 3ª Turma do Colendo Tribunal Regional do


Trabalho da 10ª Região, de lavra da Eminente Desembargadora Cilene Ferreira Amaro Santos:

1. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO RESCISÓRIA SOBRE O FGTS E SUPRESSÃO DO


AVISO PRÉVIO INDENIZADO PREVISTAS EM NORMA COLETIVA. PANDEMIA
DA SARS-COVID 19. FORÇA MAIOR. EFEITOS NO A CONTRATO DE
TRABALHO. Pandemia mundial da doença SARS-Covid 19 constitui evento de
força maior nos exatos termos do art. 501 da CLT. Dessa forma, autorizado
está o pagamento da indenização do FGTS no percentual de 20%,
independentemente de norma coletiva, nos exatos termos do art. 18, § 2º,
da Lei 8.036/1990. O aviso prévio é direito constitucional irrenunciável do
empregado, logo, não pode ser dispensado por norma coletiva, nem por
outro diploma legal de natureza inferior. Observe-se, nesse sentido a
proibição do art. 611-B, XVI da CLT. Somente quando há extinção do
estabelecimento em que labora o empregado ou extinção total da sociedade
empresarial é possível a redução das verbas rescisórias. Não sendo esse o
caso dos autos, não há como autorizar a supressão do pagamento do aviso
prévio.
2. MULTAS DOS ARTS. 467 E 477, § 8º DA CLT. Em face da controvérsia não
se apresenta a hipótese da multa do art. 467 da CLT. Constatada a ausência
de pagamento do aviso prévio no prazo legal, incide a multa do art. 477, §
8º, da CLT.
Recurso conhecido e parcialmente provido.
(TRT10, 3ª Turma; Processo nº 0000530-96.2020.5.10.0002; Relatora:
Desembargadora Cilene Ferreira Amaro Santos; Julgado em 25/11/2020).
Grifos acrescidos.

Na mesma linha, o Desembargador Alexandre Nery de Oliveira deferiu pedido liminar


formulado pelo MPT nos autos da Ação Anulatória de Cláusula Convencional nº 0000601-
07.2020.5.10.0000, movida contra o SINDHOBAR e o SECHOSC, para suspender
imediatamente a validade e a eficácia do Termo Aditivo à CCT 2020/2021, firmado pelos
Sindicatos Réus, que reduzia direitos rescisórios trabalhistas em decorrência da Pandemia de
COVID-19 (supressão de aviso prévio e redução da multa de 40% do FGTS).

Eis os termos do mencionado decisum:

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“(...)

Por partes.

A MP 927/2020, enquanto vigorou, estipulou condições que,


conquanto inseridas no Termo Aditivo à CCT/2020 firmado pelas entidades
Rés, sucumbe como justificativa à adoção da norma coletiva referida.

A MP 936/2020, por sua vez convertida na Lei nº 14.020/2020.A inicial


do Ministério Público invoca a nulidade formal total do primeiro Termo
Aditivo, sob manto de irregularidade formal à luz do artigo 612 da CLT,
inclusive considerando que quando da pactuação em 07/04/2020 já vigorava
o artigo 17, II, da MP 936/2020 que asseverou a possibilidade de uso de meios
eletrônicos para o atendimento aos requisitos alusivos à convocação,
deliberação, decisão, formalização e publicidade de convenção ou de acordo
coletivo de trabalho, enquanto no caso teria sido adotada fórmula de
aprovação apenas pelos dirigentes sindicais signatários.

Sucessivamente, o Ministério Público invoca haver, quando menos,


nulidade material do contido na Cláusula 1ª, §§ 2º a 4º do referido primeiro
Termo Aditivo à CCT 2020/2022 quando afastou (1) a multa do artigo 479 da
CLT, (2) reduziu a indenização compensatória por demissão imotivada
correspondente à metade do valor do FGTS (assim 20% invés de 40%do valor
do saldo fundiário devido) e (3) considerou não ser devido pagamento de
aviso prévio indenizado.

Por fim, considerando o aspecto decorrente, busca a perda de eficácia


do segundo termo aditivo à CCT 2020/2022, ou quando menos do
considerando que indicaria atuação proativa do procurador do trabalho
referido.

Ademais, a questão contida na adoção do primeiro Termo Aditivo à CCT


2020/2022 não envolveu prorrogação de efeitos, mas estipulação de novos
normativos.

Nesse sentido, já encontrou a adoção do referido Termo Aditivo o


regramento contido no artigo 17, II, da MP 936/2020, inclusive por anterior
à própria subscrição do aditivo descrito, verbis:

“Art. 17. Durante o estado de calamidade pública de que trata o art. 1º


desta Lei:
(...)
II - poderão ser utilizados meios eletrônicos para atendimento aos
requisitos formais previstos no Título VI da CLT, aprovada pelo Decreto-
Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, inclusive para convocação,
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deliberação, decisão, formalização e publicidade de convenção coletiva


ou acordo coletivo de trabalho;
(...)”

A manifestação do sindicato patronal, então em sede de inquérito civil


instaurado pelo MPT, já evidencia que não houve uso de meios eletrônicos
para a convocação e deliberação das categorias, situando-se o Termo Aditivo
em confessada atuação restrita de seus dirigentes, fora, assim, das exigências
legais, que não foram revogadas pela legislação excepcional do período de
pandemia.

Tenho, nesse efeito, como configurado o e o fumus boni iuris e o


periculum in mora para a concessão da tutela provisória requerida pelo
Parquet, eis que inequivocamente a persistência do primeiro Termo Aditivo
resulta efeitos por norma firmada fora de padrões estabelecidos, com risco à
segurança jurídica para toda a categoria envolvida.

Concluindo, em exame inaudita altera pars, e sem prejuízo de posterior


reexame quando apresentadas as defesas, DEFIRO O PEDIDO LIMINAR para
imediatamente suspender a validade e eficácia do primeiro Termo Aditivo à
CCT 2020/2022 firmada pelos Sindicatos Réus, consequentemente assim
restando suspensa igualmente a eficácia do segundo Termo Aditivo, até final
decisão no processo decorrente da presente ação anulatória de normas
coletivas, nos termos da fundamentação.”

Da mesma forma, no caso dos autos, o acordo celebrado com o Sindicato (que
respaldou os acordos individuais posteriormente firmados com os empregados dispensados)
não atendeu aos padrões estabelecidos, colocando em risco a segurança jurídica dos
envolvidos.

Portanto, a parcela de aviso prévio não poderia ter sido dispensada por meros
acordos individuais respaldados por uma pactuação feita em reunião que não teve a
necessária autorização assemblear prévia (art. 612 da CLT), e que ainda assim, seria
questionável por seu efeito de renúncia a parcela prevista em lei.

III – DO DANO MORAL COLETIVO

Os efeitos negativos das demissões arbitrárias ultrapassam os limites da


individualidade de cada trabalhador atingido, tendo efeitos subjetivos, econômicos e
individuais que transcendem os afetados, alcançando toda a comunidade.

Como visto, a dispensa em massa de trabalhadores integrantes de rupo de risco e sem


uma negociação coletiva adequada, por si só configura dano moral coletivo (danum in re ipsa)
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e dá ensejo à reparação correspondente.

Nesse sentido, o entendimento do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, a exemplo


dos precedentes que seguem:

RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA


DA LEI Nº 13.015/2014. 1. DANO MORAL COLETIVO. DEMISSÃO EM
MASSA. AUSÊNCIA DE PRÉVIA NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO.
I. Trata-se de ação civil pública em que se pleiteia o reconhecimento
de dano moral coletivo, e respectiva indenização, em razão da
ausência de negociação coletiva que anteceda a decisão de dispensa
coletiva de trabalhadores.
II. No caso, é incontroversa a dispensa em massa, sem prévia
negociação coletiva, em decorrência da rescisão do contrato de
prestação de serviços mantido entre a empresa Reclamada e a CELPA.
III. A jurisprudência da Seção de Dissídios Coletivos desta Corte
firmou entendimento no sentido de que a prévia negociação coletiva
é imprescindível para a legalidade da dispensa em massa de
trabalhadores. Ausente tal procedimento, é devida a indenização
compensatória, pelo caráter coletivo da lesão.
IV. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.
(RR-10351-92.2013.5.08.0013, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre
Luiz Ramos, DEJT 27/09/2019). Grifos acrescidos.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.
DISPENSA COLETIVA. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES. NECESSIDADE
DE PRÉVIA NEGOCIAÇÃO COM O SINDICATO. OMISSÃO DETECTADA.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO AOS QUAIS SE ATRIBUI EFEITO
MODIFICATIVO.
Compulsando os autos, observa-se que, nas razões de recurso de
revista, bem como no agravo de instrumento e nas razões de agravo, o
sindicato não tratou da referida matéria. Assim, não houve
pronunciamento acerca da questão de mérito, qual seja, o dano moral
coletivo em decorrência da dispensa em massa. Omissão detectada.
Embargos de declaração conhecidos e providos, com atribuição de
efeito modificativo, para viabilizar o exame do recurso de revista,
somente quanto ao dano moral coletivo.
II - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM

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RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.


DISPENSA COLETIVA. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES. NECESSIDADE
DE PRÉVIA NEGOCIAÇÃO COM O SINDICATO. Tendo em vista a possível
violação do artigo 186 do CCB, DOU PROVIMENTO ao agravo para
melhor exame do agravo de instrumento. Agravo conhecido e provido.
III - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DISPENSA COLETIVA.
ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES. NECESSIDADE DE PRÉVIA
NEGOCIAÇÃO COM O SINDICATO. Tendo em vista a possível violação
do artigo 186 do CCB, DOU PROVIMENTO ao agravo regimental para
melhor exame do recurso de revista. Agravo de instrumento conhecido
e provido.
IV - RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
COLETIVO. DISPENSA COLETIVA. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES.
NECESSIDADE DE PRÉVIA NEGOCIAÇÃO COM O SINDICATO. O Eg.
Regional, conforme o quadro fático-probatório delineado, entendeu
incontroversa a dispensa coletiva de todos os empregados, para
encerramento da atividade empresarial, sem prévia negociação
coletiva. Evidenciou que a ré, percebendo a iminência do término das
atividades, deveria ter buscado alternativas, por meio de negociação
preliminar, para reduzir o impacto da medida, o que não fez. A
jurisprudência da Seção de Dissídios Coletivos desta Corte firmou
entendimento de que a negociação coletiva é imprescindível à
dispensa em massa, pois tal cenário exige a estipulação de normas e
condições para a proteção dos trabalhadores contra o desemprego,
além da redução dos impactos sociais e econômicos causados.
Ausente tal procedimento, é devida a indenização compensatória,
pelo caráter coletivo da lesão. Precedentes. As empresas que se
lançam no mercado, assumindo o ônus financeiro de cumprir a
legislação trabalhista, perdem competitividade em relação àquelas
que reduzem seus custos de produção à custa dos direitos mínimos
assegurados aos empregados. Tratando-se de lesão que viola bens
jurídicos indiscutivelmente caros a toda a sociedade, surge o dever
de indenizar, sendo cabível a reparação por dano moral coletivo (arts.
186 e 927 do CC e 3° e 13 da LACP). Frise-se que, na linha da teoria do
"danum in re ipsa", não se exige que o dano moral seja demonstrado.
Ele decorre, inexoravelmente, da gravidade do fato ofensivo que, no
caso, restou materializado pelo descumprimento de normas que
visam à dignidade e à proteção dos trabalhadores contra o
desemprego involuntário e a dispensa arbitrária, ocasionados pela
demissão em massa, sem prévia negociação com o sindicato. Sob tal

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contexto, não há dúvidas quanto à caracterização do dano moral


coletivo.
Recurso de revista conhecido por violação do artigo 186 do CCB e
provido.
(RR-1575-86.2014.5.05.0002, 3ª Turma, Relator Ministro Alexandre de
Souza Agra Belmonte, DEJT 16/08/2019). Grifos acrescidos.

No caso em apreço, repita-se, além de ter havido demissão em massa sem prévia
negociação, as dispensas realizadas foram flagrantemente discriminatórias - na medida em
que foram desligados empregados integrantes do grupo de risco, que deveriam ficar
afastados das atividades laborais presenciais durante a pandemia -, fato este que também
enseja indenização por dano moral coletivo.

Nesse sentido, a jurisprudência do Colendo TST:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEIS Nº


13.015/2014.
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. ÔNUS DA PROVA DA RECLAMADA. SÚMULA Nº
443 DO TST. A Súmula nº 443 do TST estabelece que se presume
discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra
doença grave que suscite estigma ou preconceito. À luz de tal verbete, nesses
casos, há inversão do ônus da prova e incumbe ao empregador comprovar
ter havido outro motivo para a dispensa. Precedente da SBDI-1. Dessa forma,
o acórdão regional está de acordo com a jurisprudência uniforme e
consolidada desta Corte Superior. O processamento do recurso de revista
encontra óbice na Súmula nº 333 do TST. Agravo a que se nega provimento.
REINTEGRAÇÃO. DANOS MORAIS. Ante a configuração da dispensa
discriminatória do reclamante, são cabíveis a reintegração e a indenização
por danos morais, conforme inteligência da súmula 443 do TST e do art. 186
do Código Civil. Invioláveis os dispositivos legais apontados. Agravo a que se
nega provimento.
(Ag-AIRR-10422-54.2016.5.03.0102, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria
Helena Mallmann, DEJT 20/11/2020). Grifos acrescidos.

Devidamente demonstrado o ato ilícito praticado pela requerida (dispensa


discriminatória em massa dos trabalhadores integrantes do grupo de risco, em plena
pandemia) e o abuso de seu poder diretivo, está presente o dever de indenizar.

A prática adotada pela requerida viola os princípios constitucionais da dignidade da


pessoa humana e do valor social do trabalho, bem como um dos objetivos fundamentais da
República, que é o de "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação" (art. 3º, IV, da Constituição Federal).

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A discriminação praticada afronta, ainda, a Lei nº 9.029/95, que proíbe práticas


discriminatórias nas relações de trabalho.

Conclui-se, portanto, que a conduta antijurídica da requerida causou danos de ordem


moral à coletividade de trabalhadores atingidos (danos in re ipsa), resultando, daí, o dever de
indenizar.

Com relação ao valor, considerando a gravidade do ilícito, o Ministério Público do


Trabalho entende que é prudente e razoável e fixação da indenização no valor de R$ 1
MILHÃO DE REAIS, considerando-se a gravidade e extensão do dano coletivo, o que ora se
requer.

Ressalta-se que a indenização por dano moral coletivo cumpre tripla função:
reparadora, com vistas ao ressarcimento dos danos morais suportados pela coletividade
atingida; sancionadora, no sentido de reprovar a conduta adotada; e, pedagógica, no sentido
de sinalizar para outros empregadores que poderão ser duramente penalizados caso venham
a se utilizar de expedientes semelhantes.

IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

A presente ação civil pública tem por objetivo compelir a primeira requerida à
obrigação de fazer consistente na reintegração ou pagamento em dobro os valores do período
do afastamento dos empregados desligados durante a pandemia, corrigindo de imediato sua
conduta ilícita e discriminatória, de modo a fazer cessar os prejuízos que vem sofrendo a
comunidade de trabalhadores atingidos. Tais prejuízos se protraem no tempo, com sérios
reflexos à dignidade e à saúde desses trabalhadores, bem como de suas famílias e da
comunidade em geral.

Impõe-se impedir que os efeitos da conduta ilícita perdurem até o julgamento final
da ação, fazendo-se necessária, portanto, a concessão de liminar.

O art. 12 da Lei n. 7.347/85 autoriza expressamente ao juiz a concessão de medida


liminar nos próprios autos da ação civil pública, a fim de assegurar a utilidade do provimento
jurisdicional postulado do Estado. Da mesma forma dispõem os §§ 3º e 5º do art. 84 da Lei nº
8.078/90, que integra o regime jurídico das ações coletivas, nos termos do art. 21 da Lei n.
7.347/85, in verbis (grifos acrescidos):

Lei 7.347/85:

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade
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devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica,


ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,
independentemente de requerimento do autor.

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação
prévia, em decisão sujeita a agravo.
(...)

Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e


individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu
o Código de Defesa do Consumidor.

Lei 8.078/90:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível
se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção
do resultado prático correspondente.
§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287,
do Código de Processo Civil).
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como
busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra,
impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

A concessão da tutela de urgência ora postulada está fulcrada nos pressupostos da


fumaça do bom direito (fumus boni iuris) e do perigo na demora do provimento jurisdicional
buscado (periculum in mora).

Fumus boni iuris.


Os documentos acostados à presente Inicial, colhidos ao longo do procedimento de
investigação que tramitou perante o MPT, demonstram a violação de diversos dispositivos
legais e Constitucionais, bem como a ofensa à orientação jurisprudencial dos Tribunais Pátrios,
exprimindo a veracidade dos fatos e justificando a concessão da liminar postulada.
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Periculum in mora.
Caso seja mantida a conduta da ré, deixando-se de reintegrar ou pagar em dobro os
valores do período do afastamento, desde já, os trabalhadores que foram alvo da dispensa
(demissão em massa, de cunho discriminatório, não antecedida de prévia negociação coletiva
ou diálogo social e com redução de direitos), os danos causados, de natureza econômica e
social, se perpetuarão até o julgamento final da presente demanda.

Em tal situação, os trabalhadores atingidos continuarão sofrendo os efeitos do


desemprego, bem como as suas famílias e a comunidade em geral, já que ainda perdura a
necessidade de isolamento social decorrente da Pandemia, especialmente em relação aos que
integram o grupo de risco, de modo que os mesmos sequer têm a chance de sair em busca de
novos empregos, ou serem indenizados pelo período.

Além disso, a continuidade da prática sinaliza, erroneamente, às demais empresas,


que a conduta abusiva e discriminatória das requeridas estaria sendo aceita pelo ordenamento
jurídico, não gerando consequências negativas – o que causaria um perigoso efeito
estimulante.

Quanto mais tempo persistir a conduta, mais danosos serão os seus efeitos e mais
difícil (ou mesmo impossível) será a sua reparação.

Desse modo, atendidos os pressupostos legais, possível a concessão da liminar


postulada.

V - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, o Ministério Público do Trabalho requer o recebimento da


presente ação e:

V.1 - Liminarmente:

Em sede de Tutela de Urgência Antecipada, postula:

A) A declaração incidente de nulidade de todos os 108 termos de acordos


individuais celebrados e que previram o desligamento/rescisão de contratos de trabalho de
empregados integrantes do grupo de risco, com a sonegação, em parte destes acordos (85
deles), da parcela de aviso prévio, conforme termos juntados aos autos (Relação constante
no Doc. 128 e TRCT’s acostados nos Docs 11 a 118);

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B) A determinação de que a primeira requerida REINTEGRE aos empregos


anteriormente ocupados (mantendo-se o afastamento das atividades) todos os
trabalhadores demitidos de março/2020 até o presente momento, que sejam integrantes do
grupo de risco (108 trabalhadores), OU QUE PAGUE A ELES REMUNERAÇÃO EM DOBRO DO
PERÍODO DO AFASTAMENTO, nos termos do artigo 4 da Lei n. 9.029/95;

C) Sucessivamente (não sendo possível acolher-se o pedido anterior de letra B),


requer seja determinado à empresa o pagamento da parcela de aviso prévio sonegado aos
85 (oitenta e cinco) trabalhadores que não a receberam, bem como a multa prevista no
artigo 477, parágrafo 8º e ainda aquela prevista no artigo 467, todos da CLT, e tudo com a
devida aplicação de juros e correção monetária;

D) A aplicação de multa diária por descumprimento da decisão, no valor de R$ 5


mil reais, por trabalhador afetado.

V.2 - Definitivamente:

Em sede de Tutela Definitiva, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO requer seja a


presente ação julgada totalmente procedente, confirmando-se a liminar concedida, para
condenar a 1a reclamada aos pedidos elencados abaixo:

E) Declarar incidentalmente a nulidade de todos os 108 termos de acordos


individuais celebrados e que previram o desligamento/rescisão de contratos de trabalho de
empregados integrantes do grupo de risco, com a sonegação, em parte destes acordos (85
deles), da parcela de aviso prévio, conforme termos juntados aos autos Relação constante
no Doc. 128 e TRCT’s acostados nos Docs 11 a 118);

F) REINTEGRAR aos empregos anteriormente ocupados (mantendo-se o


afastamento das atividades) todos os trabalhadores demitidos de março/2020 até o
presente momento, que sejam integrantes do grupo de risco (108 trabalhadores), OU QUE
PAGUE A ELES REMUNERAÇÃO EM DOBRO DO PERÍODO DO AFASTAMENTO, nos termos do
artigo 4 da Lei n. 9.029/95;

G) Sucessivamente (não sendo possível acolher-se o pedido anterior de letra F),


requer seja determinado à empresa reclamada que demonstre em Juízo o pagamento da
parcela de aviso prévio sonegado aos 85 (oitenta e cinco) trabalhadores que não a
receberam, bem como a multa prevista no artigo 477, parágrafo 8º e ainda aquela prevista
no artigo 467, todos da CLT, tudo com a devida aplicação de juros e correção monetária;

H) A aplicação de multa diária por descumprimento da decisão, no valor de R$ 5

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mil reais, por trabalhador afetado.

I) PAGAR, a título de indenização por danos morais coletivos, o montante de R$


1.000.000,00 (um milhão de reais), valor atualizado monetariamente até a data do efetivo
pagamento;

J) A condenação da segunda reclamada, de forma subsidiária, nos moldes do


que previsto na Súmula nº 331 do Egrégio Tribunal Superior do Trabalho;

REQUER, ainda:

K) que o valor da indenização e das multas seja revertido ao Fundo de Amparo


ao Trabalhador (FAT) ou a outro fundo, conta judicial, ou instituição pública ou privada que
permita a recomposição dos bens lesados. (artigo 13 da Lei nº 7.347/85), a critério do Juízo.

VI – DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Requer, por fim:

1) a citação das Rés, para, querendo, apresentarem defesa, sob pena de se


presumirem verdadeiros os fatos articulados;

2) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, que se fizerem


necessários para a demonstração dos fatos alegados;

3) seja este Parquet intimado pessoalmente de todos os atos processuais a serem


praticados (LC 75/93, art. 18, II, “h”, e art. 180 do CPC);

4) a isenção de despesas processuais, nos termos do art. 790-A, II, da CLT e do art. 18
da Lei nº 7.347/85;

5) a condenação das rés ao pagamento de custas e despesas processuais.

O Procurador do Trabalho signatário, na forma do art. 830 da CLT e do art. 425, VI, do
CPC, declara que as cópias anexadas a esta Inicial conferem com os originais existentes no
procedimento administrativo/inquérito civil que tramitou perante o Ministério Público do
Trabalho.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

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Nesses termos,
pede deferimento.

Brasília/DF, em 27 de janeiro de 2021.

CARLOS EDUARDO CARVALHO BRISOLLA


Procurador do Trabalho

Relação de documentos que acompanham a presente Petição Inicial:

Doc 1: denúncia – NF 2277.2019;


Doc 2: documento anexado à NF 2277.2019 – matéria jornalística;
Doc 3: Certidão de desmembramento da NF 2277.2019;
Doc 4: Despacho Administrativo NF 2281.2019;
Doc 5: Despacho Administrativo NF 2195.2020;
Doc 6: Documento anexado à NF 2195.2019 – matéria jornalística;
Doc 7: Documento 2 anexado à NF 2195.2020 – matéria jornalística;
Doc 8: Petição Valor Ambiental – 17/01/2020;
Doc 9: Petição Valor Ambiental – 10/09/2020;
Doc 10: Ata Reunião Valor Ambiental X SINDLURB – acordo demissões;
Docs 11 a 118: TRCT’s firmados com os empregados integrantes do grupo de risco;
Doc 119: Petição SLU/DF – 14/09/2020;
Doc 120: Despacho Administrativo de 09/10/2020;
Doc 121: Notificação Requisitória nº 129609.2020 – SINDLURB/DF;
Doc 122: Certidão de Prazo Vencido n° 17858.2020 – SINDLURB/DF;
Doc 123: Ata Audiência Administrativa de 19/10/2020;
Doc 124: Lista de empregados dispensados entre março e outubro de 2020;
Doc 125: Despacho Administrativo de 25/11/2020;

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Doc 126: Notificação Requisitória 150316.2020 – Sindlurb/DF;


Doc 127: Certidão de ausência de resposta do Sindicato nº 699.2021;
Doc 128: Relação de empregados do grupo de risco dispensados e aceite ou não do
acordo.

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