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N. TNS a an Sena emer Me Te Teco Mee Sn Ca te mT Ute Mn We oul mn Cuma nn) demonstrar como 0 mada de produsia escravista Co are ae Meso oO PO ae UUM om ae eu Re etme ele eid cotrangulavam o nosso process de desenvolvimento ee SEO mn aCe oa Pe MERU Un ec ucer me Coto oan trite lc ee me COC en meme Oi Moe el tc arg eee oe ire et ea eee eke ec + Comunicaydes * Direito * Economia = Educagio Oe rene) ee eet Mem Tat ae Kut) SRR Seem Oey Se ea ULL mand BRASILEIRO @ ip2aoe efi SRE naa oc 34 CLOVIS MOURA SOCIOLOGIA DO NEGRO Diego Banjomin Abdela Junior Samnira Youssef Campede i Proparagii do texto Ivany Picasso Battata Srordenagie de composiobe jon ey ‘elds Hiromi Toyota Cape soy Lao ISBN €5 08 079337 088 ‘Todos 04 dhaltes reservados Editora Auica 8. Tal. (PAB) 378 End. — Rua Barto de iguane, 110 2 — Calin Postal OHA pr8lico "Baminre” —~ S80 Paulo Sumario Introdugao i! Parte Teorias & procura de uma pratica Os estudos sobre 0 negro como refiexo da estru- tura da sociedade brasitelra " 1, Pensarmento social subordinado eee | 2.0 racism ¢ a ideologia do sutoritarisma ——————— 0 3. Repetese na fieratura a jmagen: exereotipada do pensamiento xc — — 8 4. 0 dilema @ as aliernatives = » Notas ¢ refertncias bibliograficas ——— ET IL.Sincretismo, assimilacao, acomodagao, acultu- tagdo @ uta de classes 1, Amuopologia ¢ neoeolonialigma ‘Do “primidivismo fetichista” 3 Assimlloglo para acaber com a caltura colomizada 4 4 Acateuragdo wbstita a tuts de Notas ¢ refertncas Wblogréficas Il. Miscigenagdo e democracia racial: mito @ reall- dade —— Negseo da idendade Genie 2. Btnolopizacdo da histéria ¢ eicamoteagio da veaidade social — 5 Estrategia do imobilismo toda) 4.0 Brasil teria de ser branco ¢ capitatisca ‘5. Eniiega de mercadoria que nfo podia ser devolvida, 5. Das Ordenapdes da Reino & atualidade: 0 negro discrininads 9S Notas e referéncias bibliogrifieas AO IV. © negro como grupo eepeciica au dlferenciado em uma socledade de capitalismo dependente ___ 109 1.0 negro coma cobaia vociolégiea __ 109, 2. Grupos especificns ¢ diferenciados_ 116 | 3, Grupos especificas versus socied ade global | Um simboto Iibertieio: Exu 5. Fatores de resistencia 8. Um exemplo de degradagio Notaa e referdncias Bibliograficas 2? Parte A dinamica negra ¢ 0 racismo branco 1. Sociologia da Repdblica de Paimares __ 159 1. Preferiram ‘a lberslade enive as feras que a sudelple entre os j Nagel Cibicts Ate Cae oes —— 18 i | A oie aaiaine camera ae Tonto yet” bites 4. Erolnglo dh economia palmar 8 2etes fh eo iene ee ey, ite toe ——— “Mifay + alainarthe © eps a Rp, th ot 8. Palmares: uma nagdo em formasio? ____ 181 an Rese eertryca-an — it I. O negro visto contra 9 espelho de dois analistas 187 | ‘are coat earpur uaa ea 1, Um luxe permanente de ettudos sobre 0 negro —_____ 187 © negro consiruis: wm pals para os brancos, 2S coon sane es ert cote ae House Nasco 43. Da visio apetronada & rigiéez cemificista 195 Notas o referdncina bibliogrifisas ae ee Il. A imprensa negra em S40 Paulo__204 1. Rages a exists de un tmprenss negra 208 2. Uma trajetria de herofin 206 3. Do negro bemcomportado & descoberta da “Face” _ He 4, Do lsolamento ico & paricipagio poliiea__. 213 Notas ¢ referéncias biblioaraficas ———— — Tim WV. Da insurgéncia negra ao escravismo tardio _ 218 1. Modernizagto sem mudanga ___ 218 | 2 Rasgosfundamencais do excrevisme braslvo pleno (1550/1850) 220 & Significado social da insurgéncia negro-escrava —__ 222 onperidade, excraviddo e tebeldige 226 LOdequisectmia ay 6.0 despaste politieg 200 | 7A sindrome do medo «2 | 8. Rasgos fundamentals do escravismo tardko (1851/1888) 236, 9. Encontea do esteavismna tardio com a capital monopotisia._ 239 10, Operdrios ¢ escravos em lutas paralelas u45 Novas ¢ yeferdncins bibliogréfieas 28 Introducdo Este tiveo & a sintese de mais de vinte anos de pesquisas, cursos, palestras, congressos, simpétios, observacko ¢ andlise da situacio & perspectivas do problema do negro no Brasil, 0s seus diversos niveis, as pasicdes dos grupos ou segmentos que eompdem a comunidade negra, a ideologia branca das classes dominantes ¢ de muitas cama- das da nossa sociedade. Fa2 parte, também, do nosso contato & par- ticipagao permanente na solugio do problems racial ¢ social brasileeo, Procura dar resposta a essa problematica em dols nivels. © primeiro 80 tebrico. Nele apresentamos diversas propostas de critica epistemoldgica A maicria dos trabalhos de cientistas socisis tradicionais sobre a si- tuagiio do negro em nossa sociedade, Procuramos reanalisar algumas FormulagSes conceituais j4 muito difundidas na érea académiea, sem- Dre, ou quase sempre, repetidoras de cosreates tedricas que nos vem de fora ¢ quase nunca correspondem aquilo que seria uma citncia ca- paz de enfrentar — como ferramenta da pritica social — esses pro- blemas sempre escamoteados mo seu nivel de competi¢io ¢ conflite social ¢ racial. © segundo nivel de abordagem procura, através do método histdrico-dialdtico, analisar alguns aspectas especificos do problema abordado, objetivands dar uma visio diacBniee e dindmica de mes- 1_nseenuods mo até 0 cruramento das Iutas dos cécraves com as da classe operdria ‘taquela fase que chanamos de eseravismo tardio. Tomuando como ponto de partida a Republica de Palmares ¢ fa ‘endo aandlise de trabalho sobre ascravidio, abordamos, também, a imprensa negra de Stio Paulo, apés a Abotivao e cheyamios, con- forme jd dissemas, no conceito de escravismo tarddio no tltime capie tulo que trax subsidios para se encender no apenas 0 period do trabalho escravo, mat, também, como 6 negro s¢ organizou poste. riormente, inclusive nos seus grupos especfficos, Abre perspectivas, também, para que se possa entender alguns traumatismos da atual Sociedade brasileira ‘O negro urbano brasileiro, especialmente do Sudeste © Sul do Brasil tem urna trajetbria que bem demonstra os mecanismos de bat- ragem émica que foran estabelecidos historicamente contra ele na so- cledade branca. Nele estilo reproduridas as estraréglas de seleso eitabelecidés para oper-se a qué ele tivesse acesso & patamates privi- Iegiados ou compensadores soclalmente, para que as camadas bran- cas (Sinica ¢/ow socialmente brancas) mantivessem no pasado & mantenham no presente @ direito de ocup4-los. Bloqueios estraitgi- 0s que comegam to prbpric grupo familia, pastam pela educaglo primdria, aesoola de peau médio até universidade; passam pela ros- trigho ne mercado de trabalho, na selegio de empregos, no nivel de saldrios em cada profissfo, na discriminag#o velada (ou manifesta) fem certes esparor profissionais; passam também nos coniaies entre ‘x08 oposios, nas barreiras acs casamentos interéinicos ¢ também pelas restrigdes anihiplas durante todos os dias, meses ¢ anos que re~ presentam a vida de um negro. E, como dissemos, ums trajetdriasignificativa neste sentido por- ‘ave reproduz de forma dindmica ¢ transparente os diversos niveis de preconceito sem mediagbes kleoldgicas pré-montadas como a da de- ‘mocracia racial; demonstra, por outro tado, como a comunidade ne- grt ¢ ndo-branca de um modo geral tem diticuldades em afirmar-se no et cotidiano como sendo composta de cidados e nfl como apre- sentada através de esteredtipos: como seymentos atipicos. ex6ticos, fiihos de uma raga inferior, atavieamente eriminosos, preguirasos, oeiosos ¢ trapaceiras. Em Sko Paulo, com a dindmics de uma socisdude que desen. volven ai¢ as tikimas conseqittncias os padrdes ¢ normas do capita- lismo dependence, tendo a competiglo selvagem somo ventro de sua dindmica, podemes ver como, no mercado de trabatho, cfe sempre, : venopueko segundo expressiio de um sindicalista neyro durante 0 1 Encontro Bs. ‘adual de Sindicalistas Negros, realizado em $80 Paulo, em 1986, ““é 0 Hitimo a ser admitide e © primeiro a ser demitido’’, Este quadro ‘iscriminatério, eujos decalhes serdo apresentados no presente lito, restringe basicamente o comportamento do negro urbana, quando ele ndo aeupa o-espago universitario ou pequenos espaces burveriiticas ‘A grande massi negra que atualmente ocupa as favelas, invasdes, cor- tigas, calgadas a noite, dreas de mendicineia, pardieiros, prédios aban- donados, albergues, apraveitadores de restos de comida, ¢ por exten- soos marginais, delinglentes, ladres contra o patriménio, baixas prostitutas, lumpens, desempregados, horistas de empresas multina- lonsis, eatadores de Iixo, lixelras, domésticas, Faxinelras, margari das, devempregadas, alsodlatras, assaltantes, portadores das neuroses das grandes cidades, malandtos ¢ desinteressados no trabalho, encontra-se em estado de semi-anomia. Essa grande masta negra — repetimos —, sstematicamente bar- ‘aula socialmente, airavés de insimeros meosanismos ¢ subterfgios €3- tratégivos, colocada como 0 resealdo de uma sociedade que ja tem grandes franjas marginalizadas em conseaiitneis da sua extrutura de capitatisme dependente, ¢ rejeltada ¢ estigmatizada, inclusive por al- guns grupos da classe média negra que ndo entram em sontato com cla, niio Ihe transmitem identidade ¢ consciéncia ¢tnicas, finalmente ado a accitam como o eentro nevralgico do dilema racial no Brasil ¢, com isto, reproduzem uma ideologia que justifica vé-la como peri- fitica, como @ negativo do préprio problema do negro. ‘A sociologia do negro é, por estas razGes, mesmo quando escri- {a por alguns autores negros, uma sosiologia branca. E quando es ‘revemos branca nie queremos dizer que © autor € negro, branco, muito, mas queremos expressar que hd subjacente um conjunto con: ceitual Branco que ¢ aplicado sobre a realidade do negro brasileiro, come s¢ ele fosse apenas objeto de estudo ¢ ndo sujeito dinimico de uum problema dos mais importantes para o reajustamento estrutural da sociedade brasileira. Como podemos ver, 0 pensamento social bra- sileiro, 8 nossa literatura, finalmente 0 nosso e7hos cultural em quase todos os seus niveis, est impregnado dessa visdo alienada, muites veres paternalista, oulras vezes pretensamente imparcial, O proprio negro da classe médin introjetou esses valores de tal forma que, em um simpésic sobre o problema racial, ouvimmos de um socidloge me- gro a afirmagdo de que cles deviam preparar-se para dirigirem a5 mul- tinacionais que operam no Brasil. ““Por que no?" dizia ele, sem _tuso0uc%0 ber, ou possivelmonte sabendo, que a General Motors sé contrata rabalhadores negroscome horistas, sem nenihuma garantia, sem pos- sibilidades de fazer carreira, isto &, so escolhides para desempe- tnharem aqueles trabethos sempre considerados su/os, dndignos hue middantes. Eats falta de perspestiva que impede ver-s¢ a ponte entre 0 pro- blems do negro ¢ 05 sstruurais da sociedade brasileiza, ito &, supor- se que 0 negro, através da cultura, poderd dfrigir unsa maultinacional, bem demonstra o nivel de alienagio sociol6gica no raciocinio de quern exp8e.o problema desta forma, O problema do negro tem especifici- dades, particularidades e usa nivel de problensdtica muito mais pro- fundo do qué 6 do trabathadar braneo. Mas, por outro Indo, esta 4 ele ligndo porque ndo se poders resalver o problema do negro, a sua discriminacto, o preconeeito contra el, finalmente.o racismo bra- sileiro, sem atentarmos que esse racismo nilo ¢ epifenoménice, mas tem causas econdmicas, sociais, histérieas ¢ ideolgiens que alimen- tam oseu dinamismo atval. Umi negro diretor de uma multinacional ésociologicamente um branco. Tera de conservar a discriminag0-corie {ra oncgro na divisio de trabalho inverno da empresa, terd de execu tar suas normas racistas, e, com isto, deixar de pensar como negro cexplorado e discriminado ¢ rcprostuzis no seu comportamneato empre- ial aquilo que um executive branco também faria. ‘A anticolagdo do problema nico com o sociale poiitico-€ que alguns grupos negros nto estfo entendendo, ow procuram no enten- der para se bencficiarem de cargos burocréticos ¢ espacas aberios pa 14 os membros qualificados de uma inflma classe média branqueada. Guerreiro Ramos teve oportunidade de enfatizar © perigo de se criar uma ‘‘socfologia enfatada”. E tememos que alguns clementos negras a0 coneluirem a universidade, ao invés de se transformarem em ideS- logos des mudaocas soctels que irl solvcionar 0 problema racial no. Brasil, assimilem of valores idealégicos dessa sociotogia ealatada, © _que levied o negro a continuar sendo-cobaia socioldgien daqueles que dominam as ciducias sociais tradicionais: beaneos ou negros. ‘Como se pode ver, no quero que ela, quase toda ela estruturada através de modelos tebricos e postulades metodologicos vindos de fora, abstém-se de estabelecer Ht IUD Wane kG Ce RERLEND a KitmUTLDA on SOCMDADR BULAN uma préxis eapaz dedeterminer parimetros conchusives ¢ nomas de sede para a sotughode problema sacial brasileiro nos seus dhersos niveis ¢ implicagdes Tomando-se cimo precursores Perdigitio Matheiros ¢ Nina Rar ues, podemos ve que 0 primeira absteve-se na sua Hsia da sscravidée de aptese:tar uma solucdo para o problema que estudou, ravés de medidas ndicais, ¢, 0 segundo, embebido c desiumbrado pela cigncia oficial e:ropéia que predominava no seu tempo e vinha para o Brasil, via 0 acgro como biologicamente inferior, transtetin. do para ele as causascla nosso atraso social, Em Nina Rodrigues po- demos ver, jd, essa caracteristien que até hoje perdura nas ciéncias socinis do Brasil: a subservineia do colonizado aos padedes ditoscien- tificos das metrépoks doninadorss A paitir de Nina Rodrigues os estudos africanistas, ov assim ebamados, s¢ desenvolvem sempre suberdinados a métodos gus nllo conseguem (nem pretendem) pensirar na esstncla do problema para fentar resolvé-lo cieitificamente. continuadorde Nina Rodrigues, Artur Ramos, conforme ve: remos em capitulo ssbseqtiente, recorre it psicanilise, inicialmente, eno método histdrico-cultural americano, para penetrar naquilo que elechamava de omunclo do negro brasileira, A visio culturalisa trans- feria para um choque ou harmonia entre culturas as contradigdes so Giais emergentes ou as conciliagdes de classes. Antes de Ramos, Gilberto Freyre antecinava-se na elaboragio de uma interpretagao s0- ‘cial do Brasil através das eategorias cosa-grande ¢ senza, colocando 9 nossa eseravidio eomo composta de senhores bondosos e escraves submissos, empatieamente harménicos, desfazendo, com isto, # pos: aibilidade de se ver 0 perlode no qual perdurou o excravismo enire 1n6s como cheio de contradigdes agudas, sendo.que a primeira ¢ mais importante ¢ que determinava todas as outras era a que existia entre senhores ¢ escravos © mito do bom scahor de Freyre € uma tentativa sistemitica ¢ deliberadamente bom montada ¢ inteligentemente arquitetada para interpretar 25 contradicdes estruturais do eseravismo coms simples epis6dio epilérmico, serm importancia, ¢ que nilo chegaram a desmen- existéncia dessa harmonia entre exploradores ¢ éxplorados du- Fante aquele perfodo, ‘Convém salientar que a geragdo que antecedeu a Freyre nilo pric maya pela elaborago de um pensamento isento de preconceitos con tra 0 negro. PRRSAMrITe SHC1AL SURORMIADA We (O desprezo por ele, mesmo come objeto de citncia, fol domi- nante durante muito tempo entre os nossos pensadores sociai, Silvio Romero constatou 0 fato escrevendo: Multa estianhazs cousaram am vAsion rods nacionata.o haverem 38:0 Histone da iteratura #08 Estudos sobre a poesie popular breaiere ‘tamendo contra o olvda proposital ete nas leas naclonals 28s. pelto do contingents aircane ¢ protestands contra 4 Injustign dal rained. (.) Ningude Jarnals quis eabelo, am obediénola xa prejuize dor, 20m med de, em mostiando simpatia ery qualquet gra par {00 imerso elemento da nossa popunpse,passar por descendentes Ge race eftcana, de passer por mestipo!., Ea vordade nus 6 ‘ais do excravinmo como simples epiaédio sem ieportincia, que nfo cshegaram a desmentir a enisténcia dessa harmonia entre explorado~ res cexplorados. Finelmentc podemos compreender por que toda uma seragllo que sucede a de Freyre psicologiza o problem do negro, sendo ‘que grande parte dels € composts de psiquiatras como René Ribeiro Gongalves Fernancies, Ulisses Pernambucano © proprio Artur Ra- ‘mos. Salve-se, nesse perfodo, a obra de Edison Carneiso, autor que procurou dat uma visd0 dialétiea do problema racial brasileiro, 2. © raciame © & Todos esses trabathos procuravam ver, es: ideologla do tudar ¢ interpretar o negro nfo. como um @utortarisma = ser socialmente situado numa determinada ‘estrutura, isto €, como escravo e/ou exe scravo, mas come simples componente de uma cultura diferente do ethos mcional. Daf vermos tantas pesquisus seren: realizadas sabre © seu mundo religioso em nivel etnogréfico ¢ sobre tudo aquile que implicava diferenca do padrao ocidenial, ido como normativo, «tio poucos estudos sobre a situasto do negro durante a sua trajetéria his- (Orica e social. Minimiza-se por isto, inclusive, o ntimero de eseravos entrados durante o trdfico negreito, fato que vera demousuar come ‘esses estudos, conforme ja dissemos, assessoram, conseiente ou in ‘conscientemente, ¢ municiam a subjacéncia racista de grandes cama- das da populacdo brasifeira, mas, especialmente, 0 seu aparctho de dominagdo. Nao mostram a importéncia social do trifico € no aCe HA WHO LOOIA BO AUTONRARLINE aL Procuram (na sua maioria) demonstrar como a importancia sociold- fica do trdfico ndo se cifra a0 niimero de exeravos importados, mas tna sua relevdncia estrutural o que permite os seus efeitos se eviden- clarem em grapos ¢ instituisies da sociedade ave foram organizados exatamente para impedito, jdque, a partir de 1830, @ fico era ofl- cialmentc considerado ilegal, Neste particular, Robert Edgar Conrad * mostra como toda & méquina do Estado passa 2 servir de mantenedora ¢ protetora deste tipo de comércio, citando a taxa au comissio que os fuizes recebiam (10,804) para liberar as cargas de escravos ilegalmente desembarca- os. Mas, nfo era apenas o poder judiciério 0 conivente com 0 trifi- {20 criminoso; 6 segmento militar participa também ativamente, de raodo especial a Matisha, que tinha papel substantive na repressio fo txifico negreiro. Nele estavans envolvidos os mais significativos fgurdics ¢ personalidades importantes da época: juizes, politicos, litares, padres ¢ outros segmentos ou grupos responsaveis pela Hor. mmaiidade do sistema, Em 1836, por exemplo, um certo capit&o Vasques, comandante da fortalera de $80 Joao, na entrada da bala do Rie de Janeiro, transformou-a em urs depésito de escravos, Politicos apoiavam ¢ co viviam abertamente com os traficantes. Manoel Pinto da Fonseca, um dos mais notdrios conirabandistas de escravos, era companteiro de jogo do ehefe de polfcia e foi elevado u Cavaleiro da Ordem da Rosa Brasileiea, honsa imperial concedida por D. Pedro TL Esta atitude sistematicn de defesa ideoligica ¢ empirica de um trdflco ilegalizado por peessio da Inglaterra e pelas autoridades bra sileiras nfo s¢ dava acidentalmente, porém. Era uma decorréncla da propria essincia daestrutura do Estado brasileiro, Sem se fazer ums andlise socioS6gica ¢ histérico/dialética da seu conteddo nfo pode- mos entender esses padres de comportamento da elite politico” tministrativa da €poca. Por nto fuzerem esse tipo de andlise dialética, certos historiadores académicos chegam a falar em uma “‘democra- cia coroada”" (Joho Camilo de Oliveira Torres) para caracterizar @ reinado de Pedro IJ. No entanio, como toda Estado de uma socieda de excravitta ele era inteframente fechado a tudo aquilo que poderia ser chamado de democracia, Durante toda a existencia do Estado bra- sileiso, no regime escravista, ele se destinava, fundamentalmente, a manter ¢ defender os interesses dos donos de eseraves, Sito quer di- er que © negro que aqui chegava coercitivamente na qualidade de semovente tinha contra si todo o peso da ordenagio juridica e militar 2 _csesrubea scan kono cin Hert ED Da sr DA OCEDADE RRASIETE do sistema, e, com iso, todo © peso da estrutura de dominacto ¢ ope- ratividade do Estade O historiador AntOnio Torres Montenegro elaborou, no part cular, um exquema qoe explica muito bem 0 contesido do tipo de Es tado escravista moniequico/constitucional e quabo seu papel efuncio. Diz ele: Esta (a estruturtdo Estado mondrqulcofescravists) so carseteriza po la igldez 0:pelarnicbilidace. isto se pode evidenciar ema multos ov toe sepectoscons: aescolha de eeitares scendidatos,feltaconforme ‘mere de rend 0 que axstul granda parcola da populagdo, faio que 4 luta abolelonita Roraando lure multes eacravoa) «0 prosesso de naturaiizagto de migrates tera 2 corigr a intarvencae aireta 40 aovernc nee eleydee da Chmare, sempre ee formance malerins parle Imentares comrespon dentes aos gablnstes: s excalha deur sanador vl talllo entre 08 que compuniam a lista tripice, feito pao Pager ‘Moderedor, em lungde de cildios peasouis; aexisténcia, no interior 18 settuura de jedor, db umn nagmrent witalico, 0 Consélhc do Ea ‘do (constituldo ¢© 12 membros} © 0 Sanat (constituldo ce 60 mam. br08) qué, apetr de todis a2 crises, permenecla ne poder « #4 ‘Sonatitulam na base politica do Poder Modoradr.* Esse tipo de esrutura de Estado (desptieo na sua esséncia) ak tamente centralizade ¢ tendo como espinha darsal ¢ suporte perma: ‘neste dois segmentos vitalicios (0 Conscibo de Estado ¢ © Senado) foi montado priorltarlamente para repsimir a luta, entre 05 essravos € aclasse tenhorial. Ndo foi por aeaso, por isto mesmo, que o Brasil fosse 0 Ultimo pals do miindo a abolir a escravidko. (O-que caracteriza fundamentalmente esse periodo da nossa his- X6ria Social 4 a luta do eseravo contra esse aparetho de Estado, E é, por um indo, exalamente este eixo contraditério e decisério parm a udanga social que é subestimado pela maioria dos gocidlogos ¢ his- loriadores da Brasil, os quais se comprazens em descrever detalhes, em pesquisar minudéncias, exotismos, encontrar analogias, fugindo, esta forma, & tentativa de se analisar de maneira absaagente ¢ cin tifiea as caractertsticas, 08 graus de importincia social, econdmica, cultural e pottica dessas lutas. Toda uma literstura de acomodacao sobrepde-se aos poueos clentistas soviais que abordam essa dicoto- mia basica, restituinde, cam isto, ao negro escravo a sua posture de agente social dinkinico, no por haver criado a riqueza contumt, mas, ccxatamente pelo contrario: por haver criado mecanisenos de resistén- cia e negacto ao tipo de sociedade na qual o criador dessa slqueza +a slienado de tado @ produto elaborado. “nse P 4 HCOLOOLK DO ALTONITARISNO 33 Em vista disto a imagem do negro tink de ser descartada da sua dimensio humana. De um lado havia necessidade de mecanismos poderosos de repressio para que ele permanecesse naqueles espagos sociais permitidos e, de outro, a sua dinémica de rebeldia que a iso se opunhs, Dal anccessidads de ser ele colocade como irracional, as mas mtirudes de rebeldia. como patologia social e mesmo bioldgica ‘0 aparelho ideoldgice de dominagdo da socledade eseravista ge- rou um pensameato racista que perchira até hoje. Como a estrutira da sociedade brasileira, na passagem do trabalho escravo para o livre, permaneceu basicamente a mesma, os mecanismos de dominagdo in: elusive ideoldgicos foram mantidos ¢ aperfeicoados, Dal o auroritaris- mmo que caracteriza 0 pensamento de quantos ou pelo menos grande parte das pensadores socials que abordam 0 problema do negro, aps 8 Aboticio. Vejase, por exemplo, Oliveira Vianna. Para ele o autor tarismo estava na razio direta da inferioridade do negro. Por isto de fende uma organizagao oligérquica para a sociedade brasileira, Diz Petas condigtes dentio das. quale ae procassou anoass focmagbo po {Wi estamos condenades As olgarquiss:e, ebarvanta, as ofgarqulat. exetem. Pode parece’ pacacoxal mas eume democracia como a not a, eins tim aio 9 nossa salvage, O nosso grande problema. como Molsse athures, no # acabar com as oligarqulas:¢ tranatorméiaa — Fazendo-0s paasarem 63 ava alual condo do olkaeraubns bronces para ‘uma nova condigto de oligarquias eaclarecidas. Estas cligarquias 08 ‘larecidas tenam. ent, realmente, a eipresséo da nica forma dade ‘moecacie posalvel no Brasi* Mas, segundo Oliveira Vianna, essas oligarquias, pars ascende. rem de Broncas esclurecidas teriam de se arianizar. Porque ainda para ele 8 nossa cllizagtio d obra exclusiva do homem brance. © nogro #9 Ir» ‘la, aurante o tengo proces 0-a noses formagao social, nfo dn, co- fe #6 vb, ds clagson superiores 6 dirigentes que realizam a obra do Civtizagto @ construgio, nenhumn elemento de valar, Um # outro for am uma massa peteive& improgiaesiva, sobra quatrabalhe, nem sem pre com Oxito fell, @ a980 modatadcra da rwca trance. ” ‘Toda a obra de Oliveira Vianna val nesse diapasio, Continua. 1a ideologiz do Poder Moderador de D. Pedro Il ¢ procura ordenar a nossa sociedade através da “‘selegio racial”. No € por acaso que ‘9 mesmo autor chega a elogiar as teorias racistas ¢ fascistas no plano politico, Esse autoritarismo de Oliveira Vianna é uma constante no pensamento social e ha um cruzamiento sistemstico entre essa visio antoritarista do mundo ¢ 0 racismo. 98 10006 soar o nemLG COMO KEFTING DA ESTRUTUR DA YOCiRONDE HASSLE Através de vices menos agrestivos, podemos ver que a defe- sa das cligarquias po peste de Gliveisa Vianna poderd fundirese & ddelesa dos senhores patriarcais de Gilberto Freyre. Em um dos seus livros, Preyre cscreve dofendendo, da mesma forma que Oliveira Vian- ma, a necestidade de seonbecermos realisticamente a fungi positi- va das oligarquias: No Brasil aa séeub passado, o8 publicistas « pollicos de tendénclan relermadoras, deftnsores mais de iotias e deis vagarmenteiberas ‘Que de reformas orrrospondentes A necessidades 0 hs condigces do 88a, pare eles dexconhecido, sempre excreveram @ falaram sobre oa problemas necieniis com um simplisrsinlanll. Para alguns dels 0 (Grande mel do Bra estava indistintamente nos grandes senheres: nos vagia9 dominiga; na supremacia do Corto nimero de tanniian. € pace Fetelver seas situseso beslava que ge faeesem lots eral. Apenas ito: leis Ibaraie(}. Os sannores de ongenho nBo constitulam um: ‘tents lagisiatve:t nha de descobrai-se em oxecutho.Oal ox "rei", vals" & aniig, dnkevindo na atiicade dos moradores.e escrewos, ‘que alguns doles pareceram a Totlenare. 0 wiajante france viv senho 96 Niscalzando Wabalhos: apradande a rlugsiba pret alunds Hap do& negras ano«mes, certos do prestigfo da vor @ do gesto,* As oligarquias de Olivelra Vianna tém muita semeinanga com os senhores de engenho idealizados por Gilberto Freyre, pois so as Formas diversificadas de um mesmo fenémeno. Ambos criaram € man= tiveram os suportes justificatdrios de uma sociedaée de privilegiados, xno Império ou na Republica. Entre os dois pensamentos hi uma cous- tanto: 4 inferiorizagio social ¢ racial do negro, segmentos mestigos ¢ Indios a exalcapo cultural ¢ racial dos dominadores brancos. Esta ligagdio entee racismo e autoritarisine € unia comstante no Pensamento sociat ¢ politico brasileiro, Outre socidlogo, Azevedo Amaral, um dos idedloges do Estado Nove, escreve: ‘A cniraca de corres Imioraorian de oigem europsia roeimenta ume das queetbes de malor imporncis na tase de evolucta qua staves somes @ nao na exagers stiemanse qua do némero de imipranies a ‘a branca que assimiiarmos. Nos prGimos dectinlos depend I ‘ante 9 fvture da naclonatidade(..) Uma andlisn ratrospnctiva do de- senvoivimente da economiabres|sira desde o time quartet do stculo XIK poem svidéncia um fato que alias nada tom de surpreenionie po ‘ave noe apenas reproduita em malores proporgdes wnda, 0 que |& ccae- ‘era een fags anteriores da evolvggo nacional, As resices para onde aftiramos contingantes. oe inegranites europeus receBeram vm Impulse roprous ta que a distanciou de tal modo dan toaas deslavorscidas de inlgragao que ealre as osimelras ¢ as Gitimas ee formaram aitaran- ‘gate nivel ecantmico © soclal, culga efeitos justiticam apreens CSD Ws LIFYRATINA A HIAOEEY ESTURKOTIPADA 09 PHIKAMENTE SOCIAL 38 6, Enguanto nas provinclas qué nBo receblam imigrantes ‘obparvava marcha lenin de Gosanvolvimento eoanemica sola), quande ago poattva estagnaggo do movimento progressive, a3 regides afortunadas a que lam ter em caudal continuas lavas de tra- ‘Sanadores outopeus Toram cameo os supreanantenWansomagc ‘ecandmices de que temas os exeriples maisimportantee em Sto Pe foe no Ric Grange do Su, Alls, ecenteceu ante nds o mesmo que 0" toda a parte onde ax nag roves surgeme prosperam com a eso beraqde 26 elomontos colontendares vindos 68 palane male adin {dou nabitacos por poves de racaa antropologloamerte superiores.t.) {© problema dire brasil ro ~ chavs do todo destino da nacionaidar de reouine-se 4 doteroinage Ga qual vied & ber 0 lator tiple ‘riseigens¢ae que 84040 opera queeaterk impor a aecendéncte {esutad definitive do eabseamanto, € claro que scrnente se tomar osaive! aasogurara-iérladinlca doa elamentosrepreceriailvor one faeas ¢ dn cultura da Europa se felorgaernos polo xo Conlin ue 380 Vor contingentes branes. Or obaticutos opcatot i imigrs¢to de or {Gem europbia ‘constitvem portanio ticuioades celiberadamente ‘rindas ao roforgamento dea valores éiniovs uperlores de culo prado ‘rinio final no ealsoamento deoendéen ae fvluras formas actraturals {Ea chilaagdo brasliots © as manttesiagdes do sau cetorin smo eco: nomic, goto, social eculura.{.) A noasa ainla eta longe de pe- {iodo tinal de crstalizagio. como acima ponderamos, oo mais altos Interesses saclonals impécm que 8¢ Taga entrar no pals omator nume- re-poctive! de elomantoe sinicos superores, a fim de que no epflaga ‘do ‘cakéeamento possamos alingk um Uo tecal Gapex de arcer om raponsabiondee de ume grande slivegte,* Isto era escrito logo depois da implantation do Estado Novo, ‘em livro elaborado para defendé-lo ¢ justificar 0 seu autoritarismo. ‘Como vemos hi um condlnuum neste pensanento social da inteti- sedacia brasileirn: 0 pols sera tanto mais elvlizado quanto mais bran queado. Esta subordinagio ieoldgica desses pensadorcs socials demonstra como as elites brasileiras que claboram este pensamento encontram-se parcial ou totalmente alienadas por haverem assimilade ‘edesenvolvido a ideologia do colonialismo. A este pensamento seguemmse medidas administrativas, poiticas © mesmo repressivas para estancer © luxe demografico negro ¢ estimular 4 entrada de brancos “‘civilizados"’. 3, Repete-se na literatura Este aspecto alienante que se a imagom estercotipada —encontrana literatura antropo- do pansamento social logica, histdrica esocioligica, © {que tam suas raizes socinis na estrutura despética e racista do apare- ose ypos ene GHD como HEFL Da ESERUTUNA DA SOCREDAE RAS EIBA tho de Estado escravista, ¢, posteiormente, na estrutura intecada da propriedade fundidria, encomtrase, também, na literatura de Fogo a época do escravismo, com desdobramentas visiveis e permanentes ands a sua extingao. ‘© mundo flecional, o imaghario desses romancistas ainda s- lava impregnado de valores brancos, o seu modelo de beleza ainda fa © greco-romano € os seus herds € heroinas tinkam de ser pautar dos por esses modelos, E a nossa realidade ficava desprezada como temdtica: os herdis tinkam de ser brancos como 0s europeus ¢a mas ‘sa do povo apenas pano de fundo dessas obras, Em (oda essa producio nentum personagem negro entrou ¢0- mo herdi. O problema do negro 0a literatura brasileira deve compor- tar uma revisto soclol6gica que sinda ndo foi feita. Quando surge literatura nacional romdatiea, na sua primeira fase, surge exatamente para negar a eristéncia do negro, quer socal, quer estticamente. Toda @ ago ¢ tudo o que acontece nessa literatura tem de obedeces 20s padtdes brurtcos, ou de exaltasdo do indio, mas um indio distante, ‘suropeizade, quasc um brance naturalizado indio. Ldealizagio de tn tipo de personagem que nao participava da tua de classes ou dos con fitos, como © negro, mas era uma idealizacio de fuga e escape para evadir-se da realidade sécio-racial que a saciedade branea do Brasit enfrentava na época. Era mais Rousseau ¢ romantisme de-"'bom vel- vagem”", quase um cavaleiro europeu, da que uma tentativa de-mos- trar a situaglo de exterminio do fndio brasileiro, Bra, de um lado, descartar o negro conto ser htimano ¢ herdico, para coloci-lo coma exotico-bestial da nossa literatura, ¢, de-outro, fazer-se uma idealiza- sho do indio em porigio a0 negro, Néo se abordava o indio que se exterminava nas longinguas dimensdes yeognificas daquela época des- truida pelo branco, © indio do romantisme brasileiro era, por tudo isto, uma farsa ideolégica, literdria © social, Era uma contrapartida {écll para se colocar 0 quilombols, 0 negro insurteto ¢ 0 revolucions. rio nogro, de um modo geral, como anti-herdi dessa literatura de fuga € alienasio. Esse indianismo europeizado entrava como em enclave ideol6gico necessério para se definir 0 negro como inferior ‘uma ertdticu que, no fundamental, colocava-o-de um lado como a negagto da beleza ¢, de outro, come antisherSi, como facinora ou coma subalterno, obediente, quase que ao nivel de animal coneluzide por reflexos. SMEpETEse KA LIMERATURA 4 IMAGEN ESTERESTIPADL DO PENEAMEILO SOCIAL 17 Temos 0 exemplo de Machado de Assis que escreve durante a escruvidio come se vivesse uma reaidade urbana evropéia, quere do branquear os seus personagens, herdis e heroinas. Toda a primei ra geracio roméntica, por isto mesmo, ¢ uma gerapao cooptada pelo aparelio ideoldaico ou burocrétiee do sistema escravista. Por isto mes- ‘mo ndo podiam criar uma literatura que refletisse 0 nosso ser cultu- ral, Tinham de ir busear de fora o8 elementos com ox quais repte- sentavam a sus forma de expressio ¢ de eriarao liter dria. Esereve ana. lisando esta situagfo estrutural Nélson Werneck Sodré: E interessante distinguir um sepecto & que temo conaodigo, em re (ra, steno diatanto, quando a concedemoe: aquole que ee reiare & Srigem de classe dos homens deletes, |& mancionade, de passagem, Higando-se agora ac detalne de fazerem tais homons de letras sau 0 {yd08 na Europa, © costume, préprie de clatee proprietida, de man dar ¢8 les estudat om Coimbra @, mais aGianta, nos centros unk ‘eradrios mets conheckdos,particulamente na Frenga, consttuia. no 6 um inequtvoce sina! do chansa, como oxaminno natural para a exe ‘a de talidade ds celénia6:d0 pal tho dNersa co ambiente amy que sm aptlmorar 08 conhacimantos e que Ines pareceriac model Insie petado. A shenaptio — que & olnda um tage de clance — oma vax qe ‘io podiam tals elementos soliarizar-sé com. um coro rapresentago, samagadora malcria, por spcravos @ iberioe pobres, am que a classe comaccial mal comegava 6 a6 defini 8 wra ete.com: 2o,cortaspondatia, no Tundo,a secretx sia de dstercar em cada wn ‘0-que Me perecia inferior, idemtficando-se com 0 madoke extend (8 fascinanta. E als elementos, 2vja formacso mental os eistanclava do ‘au pais, e, culas origens de classe 0s colocavem em contrastes cam ale, ipando-cs ao setrangeio, eran op que formavam + quares i Periele, quacroe a que o8 cursos juricicos atendiam: "Javentdo as Fas Cuidades de Direite eram ante-salaa da ctmere", conlorne observes Nabwoe, Por estas razées sociais toda a primeira gcracio romintica é uma ‘eracio cooptada pelo aparciho idcokégico ¢ burocratico do sistema escravista representado pelos diversos escales da poder, terminade ‘no Imperador. Goncalves de Magathaes, introdutor ofisialments do. romantismo poético, vai ser diplomata na Itdlia, tendo publicato © ‘cu primiro volume de versos ¢m Paris; Joaquim Manoel de Mace do sera preceptor da familia imperial; Gongalves Dias vive pesqui- sando na Europa as expensas de D. Pedro IT durante muitos anos; Manoel Ant6nie de Almeida com pouse mais ds vinte anos é nomes- do administrador da Tipografia Nacional, o que corresponderia hoje a diretor da Imprensa Oficial, ¢ José de Alencar, o maior fiesionista romintico (indianista), seré Ministso da Justiga cm gablucie do Impétio. | | | | 2_sTuDos sount.o Mune COL REFLES Ba REPKITURA ON SOCIEDADE weaStLNEA Tada essa ligaeo orglinica com © sistema irk determiaay ou con: dicionar, em graus muiores ou menores, 0 comelde dessa producio, Nas outras atividades olturais a subordinagio se repete ¢ a caso de Cars os Gomes ¢ conhecido: endo composto.a dpera O-escrava com libro de Taunay, foi fereuds a modifcito, substituindo 0 seu personagem Central, que era negro, por win essravo indio, Carlos Gomes também estava estudando ia Exropa através da mocenato do Imperador. Aqui cabe fazer sma distincdo: a literatura dessa época por ve~ 2es abords 0 eseravo wo seu sofrimento ou na sua lealdade, humilde Imultas ve2es, outras veoes querendo a sua liberdade. Os dernais s¢g- ‘enios cm que se dive a classe escrava slo também abordados; a nde preia, a mucama doméstica e até relagies ineestuosas cate filha de escrava com sinhotinho, filhas do mesmo pai. O que nessa lite. Fatura cst ausente ¢ oaegro come ser, coma homem igual ao brin- ‘so; disputando no seu espaco a sua afirmage como herdi ronnintico, Escreve, neste sentido Raymond S. Sayers: Als mesmo 0 santinonte-eeeravista gue originou vasta literatura no wh ula XVII na inglatera. ne Fiance © mesmo ea Alemanha de Hevoey 20m @ seu Keger Milan, esta ausante desta postica de bniiaggo, Em \reidade, ambora os negros poraassem bastaniementew panotamn se. Gial, 08 poetas prefedram ver apecas coms olnes 4a Imaginagdo nin. fas ¢ pastores ancantadoras, am vaz ds Ver a realidede ds steamvoo’y Imuintinhaa inquietos & andrajosos. Ha soanante dois powmas sm qua 28 Pages apareeem come Indiiduos, o Quifuble, de Jase Basta da ‘Gama. em que um negro nobee & 0 herdt, #9 Garemuru, do Santa Pita ur60, quo decica algunas astencas a0 episodio de Honviaue Dian. Fora disso, ne malcria dea rezen am que o negro apatece ness poesia, & Como mero pormbenor do ambiente, figure digna de piedade me egots- ‘ma molancotico de quem 8 = Outros exemplos poderiam ser dadot mas, ao que nos parece, ‘expusemos o suficiente pars demonstyar como essa literatura era Fepresentativa de um sistema social, o escravisma, ¢somente a partir da compreensao deste fato poderemos analisar em profundidade o seu conteido © 2 sua fungso, Uma excecto deve ser feita, no nosso entender, jé ma segunde fase do zomantismo: ¢ Castro Alves, provaveimente nico que tenha fessaltado na sua obra o papel social c ative do eseravo negro na sua ‘dimensiio de rebeldia, e na sua interioridade existencial, criando poc- ‘mas com personagens negros, Com Castro Alves o negro s¢ luumnani- 2a, dela de ser a besta dé carga ou o facioore, ou, entio, compo. snente da galeria de humithadas e ofendidos da primeira geragao, Cas- tro Alves é, por ista, o grande momento da literatura brasileira, pors ‘que coloca 6 negro escravo como homem que pensa ¢ teivindica, que ama ¢ Juta. Um exemple pare masirar a diferenca de universos so siais © extétios entre cle € Gonsalves Dias: Castro Alves escreve 0 seu grande poema "O navio negreito" sem aunca ter visto uma des- sas embareagSes, pols 0 tréfico foi extinto em 1850, enquanto Gon: salves Dias que teve oportunidade de vé-os As decenas, provavelmente fo S44 cofidiane, jamais © usu como temética dos seus verses. ‘Castro Alves poderia ter visto algum barco do trifico interpro- vinefal, mas nunca urs Aunbelro como ele descreve no seu poems. Por outro lado, quando esereveu "'Saudasdo a Palmares” os negros quitomboles ainda existiam ¢ eram cagados como criminoses, No-en- tanto, ele Inverteu os valores ¢, ao fnvés de apresentd-los como critsi- noses perturbadores, apresenta-os como herds Essa literatura orgdnica que funcionow como superestrutura ideologica do sistema ¢ argamassn cultural de manutenco que atra- ‘vessa 0 perfodo do escravismo e penetra na sociedade de capitalismo dependente que persis até hoje. Por isto, somente com Lima Barre: 10, que morre em 1922, 0 negro se redignifica como personager fic- sional, como ser humano na sua individuslidade. Depois de Lima Barreto, excepto feita ao romance Macunaina de Mario de Andra: de, na fase modernista, somente com 2 geraglo de 1930 ele aparece sem ser apenas componente ex6tico, sem interionidade, sem sentinen- Xs individuals, Surgem entdo, Moleque Ricardo, de José Lins do Rego. ¢ Ju- diate, de Jorge Amado, assim mesmo ainda relativamente folclori- zados. Mas, de qualquer forma, um avango no comportamente do imagindtio dos nossos escritores em relagao ao nearo, Dessa époce a diante ¢ que © negro Yai enirar mais detalhada ¢ amiudadamente na nossa novelittica. Mas a divida des nostos intelectuals ¢ roman- eistas em particular, para com o negro, ainda nfo foi resgatada, A consciénela erftica dos nosses intelectuais em relate ao problema ét- nico do Brasil em geral,.¢ do negro, no particular, ainda no se cris- talizou em nivel de ums reformulagio das cateporias ideolégicas cestétieas com as quais manipulam a sua imaginacdo, Aina $80 mui- to europeus, brancos, o que vate dizer idsologicamente colonizados. 4.0 dilema @ Toda essa produgio cultural, quer cientifica, as altemativas quer ficcional, que eicamotcia ow desvia do fundamental 0 problema do negro nos seus diversos niveis, desvinculando-o da dinimica dicocémica produzida 1209 10 son Neen Con HELENE OA KSTHUTURA 4 WOCIEDADO MLA pela lute de classes, na qual ele esti imserido, mas com paricula- idaces que o transforma em um problema especitico ou com espe= ficidades que devem ser consideraclas, fez com que pouco se acres- ‘santasse ds generalidades ow Iugares-comuns na sua mutaria ditos sobre le. Somente a partir das pesquisas patrocinadas pela Unesco, apis a Segunda Guerra Mundial, essas generalidades otimistas e ufanistas foram revistas com rigor cfentifico ¢ reanalisadas. Uma dessas gene- ralidades refere-se, constantemente, & existéncia de urna democracia racial no Brasil, exempio que deveria set tomado como paradigma para outras nagdes. Nos éramos o Laboratério onde se consegultt a solusdo para 08 problemas ¢tnicos em sentido planetiio, Os resul- tados dessar pesquisas, no entanto, foram chocantes para 0s adeptos desta flosofia racial, Constatousse que o brasileiro é alkamente pre- conceituoso ¢ 0 mito da demoeracia racial & uma ideologia arqui- {etada pare esconder uma realidade social altamente confltante ¢dis- criminatoria no nivel de relagies interéanicas, ‘Agueles conceitos de acomadapsi, assienilapto e aculturasto — conforme veremoy depois — que explicavam acudemicamente as lagdes raciais 20 Brasil foram ahamente coateslados e inicios-se um novo cicin de enfogue deste problema. Verificou-se, 49 coatririe, qué ‘a niveis de preconceito eram muito altes eo mito da democracla ra- cial era mais um mecanismo de barragem @ assensio da populagEo regia ans postos de lideranga ou prestigio quer social, cultural aw eco- némico. De outra shaneira nfo se poderia explicar a stual situagdo dessa populasho, o seu baino nivel de reuda, © seu confinamento nos sorticos ¢ favelas, not pardieiros, alagados e invasies, como ¢a sua situagdo no momento, __Bise mecanismo permanente de barragem & mobilidade social vertical do negro, com os diversos niveis de impedimento & sua as censilo na grande sociedade, multos cles invisivels, os entraves cria- dos pelo racismo, as limitagdes sociais que o impediam de ser um idadto igual a0 branco, c, finalmente, a defasagem sécio-historica giv frontal e permanentemente apés a Abolicao, como ci ida compor as grandes areas gangrenadas da sociedade do pitalismo dependente que substitu descravista, coda essa conste lasdo é-como se Fosse um viés complernentar, preferindo-se, por isto, claboracio de monogratias sobre o candomblé eo sang, assin mes so desvineulado do seu papel de resistincia social, cultural ¢ ideold- Be mes vston apenas como reminsetais religions tarda da No encanto, apos as pesquisas patrocinadas peia Unesco c que tiverum Florestan Fernandes ¢ Roger Bastide como responsiveis na cidade de Sao Paulo, L. A. Costa Pinto, no Rio de Janeiro, ¢ Thaies. de Azevedo, na Bahia, houve a necessidade de uma coor demas: te6 tea e metadoldgica por parte de alguns cientistas socials, destscando- 4¢, no particular, Florestan Fernandes, Octavio Lanni, Emilia Viotti da Costa, L. A. Costa Pinto, Cluvis Moura, Jacob Gorender, Lana Lage da Gama Lima, Luts Lalna, Décio Freitas, Oracy Nogueira, Joel Rife dos Santos, Carlos A. Hatenbalg e alguns outros que, preo- cupads no apenas com o tema académico, mas também com 0s pro- Dems dices emergentes na socledade brasileira € 0s possivels con- fitos raclais dai decorrentes, «sto tentando wma revisio do nosso passado escravista edo presente risial, social e cultural das popula gies negras do Brasil, Esta situngfo concreta ir criar nédulos de resistencia, tes8o ou conflites séclo-racistas, agudizando-se, especialmente, 0 preconceito de cor & medida que sertos sctores urbanos da comunidade negra co- mecam a analisar criticamente essa realidade na qual estilo engastados ‘¢ reagem contra cla. Desse momento de reflexdio surgem varias entida- des negras de reivindicacko, no apenas pesquisando dentro de sim- ples pariumetros académicos, mas complementando-os com uma pris atuante, Jevantando questoes, analisancio fatos, expondo ¢ questionanda problemas, e, finalmente, organizando o negro, através dessa reflexio critica, para que os problemas étnicos sejam solucionados. E uma converséncia tentada entre as categorias cientificas e a praxis que vem earacterizar altima fase dos estudos sobre-o negro. ‘O negro como ser pensante ¢ intelectual atuante articula uma ideolo- gia na qual unem-se a ciéncia € a consciéneia. Evidentemente que nao s¢ pode falar, ainda, em uma conscién- cia plenamente elaborada, mas de uma posicho critica em proceso de radicalizagio epistemologica a wdo, ou quase 1udo, 0 que foi fei= to antes, quando se via o negro apenas como objeto de estudo e mun- 2a come sujeito ative no proceso de elaboracio do conhecimento cientifico. Em face da emergéncia dessa nova realidade, muitos clentistas sociais académicos nio accitam, ainda, esta posigS como valida cien- tficamente, mas somente mensurdvel come ideologia, bundetra de dn- 1a, ponta de langa de acdo ¢ de combate. A unidade entre tooria € Driticn repugna a esses cicntistar que ainda niio querem permitir & intelligentsia negra participar do processo dialético do conhecimento. 2236s somo MND Cons RRTETXO HST HL TURA 04 9>HLOALI E nesta encruzithada que 0s estudos sobre o negro brasilcira se situam, Hé encontros e deseneontros entre as dieas tendéncias: de um lado a académica, universitaria, que postula uma ciéncia neutra, equi librada, semn inter feréncin de uma conscitncia critica e/ou revolucio- natia,¢, de outro, o pensamente elaborado pela intelectualidade negra ‘Ou outros setores étnicos discriminados ¢/ou conscientizados, (am bm interessados na reformulacao radical ca nossa realidade racial social. Exidentemente que esses movimentos negros esto comegando a elaboracdo do seu pensamento, nada tendo ainda de sistematico ou Uunitério, Muito pelo contrério, Isto, porém, nao quer dizer que seja ‘menos valide do que a producdio académica. pois ele & elaborado na prética social, enguanto 0 outro se estrutura e se desenvolve nos boratérios petrificados do saber académico. Podemos supor, por isto, dois caminhos diferentes que surgi. #40 a partir da encruzilhadn atual. Um se desenvolvers & proporso que a Lota dos negros e demais segmentos, grupos e/ou classes iate- ressados na reformuliglo radial da sociedude brasileira se ditami- zarem politica, soelale cientifieamtente, Do outro lado continuard = produpio academica, cada ver mais distanciads da prética, sofistica- de ¢ unddina. Esta produpio acadéstica cvidentermente estudard, também, co mo elemento de laboratoria, © pensamento dindmico/tedical elabo- tado pelos negros na sua lula contra a discriminagio racial, o an fabetismo, a injusta distribuigdo da renda nacional nos seus ni is soeiais ¢ étnicos. Ela chamard de ideofdgiea a proposta dessa prética polities, cuitural, social e racial, No entanto, e#fe peasamento novo, elahorado pela intelligentsia negra (nie-obrigatoriaiieate pot negros), tem a vantagem de ser testado na pritica, enquanto petisamento académico servird apenas para justificar tifulos universitarios, Notas e referéncias bibliograficas 1 Rokizko, Sivio. Mstérie da Ieratura brosilelra, S.ed. Rio de Baniro, Jo- sé Olympio, 1983. $v, v. 1, p. 137-238, * RAMOS, Guerreiro, O problema do negro na sociologia brasileire, Cader: nos do Nosso Tempo, Rio de Janeiro, 2), 1934. Ver também RAMOS, Guerreiro. fndrodupde critica a sociologte brasifera, Rlo de Janeito, An des, 1957, fae REFHARBNGI AS MALIECOANCAS 3 > Rauos, Guerttiro, Loe, et * Dia Conrad: Os mais vistosos, notirios e ricas participants do trfica Hlegaleruin, naruralmente, os proprios mercadores de escravos, proprieiie ios de froias de navios, de dispendiosas © ostentoyas casas na cidade © propriedades de campo, de depésieos na costa do Brasil e harracdes pa Ag 13, chefes de um exercito de seguidores e subordinados,¢ frequemtemente amigos imtimos da elite de plantadores ¢ governadores, Polay raates men- ‘Gonadas dela, 4 cocedade brasleia nfo menosprenava estes nepocian- tes de seres humanos. De fato, 05 novos contrabandistas descnvolveram ‘uma aura ronatica cm forno se mvlios contempordincos por eeu desafio ‘20s brtdnicos bem como por soas stividades iréguleres e pécigbsas. Le- limente aqueles que se ressentiam da inverferéncia briinica ¢ suspets> ‘yam da sun motivacto (que na verdade estava longe de sor pura) para tgueles que sereditavam que ot mercadoves de escravos rcalizavam tn se ‘ipo ersenclal 40 Frail ¢ tua economia agricola, 0 teaficaites eram ho= sens honrados merecedores de titwiog ¢ condecoractes, e da amizade © rexpeite dos politicos mais poderosos". (Conran, Robert Edgar. Tam deiros, Sto Paulo, Braslense, 1985. p. 120.) 9 MontENEORO, Anténio Torres. O ehicantinhamento politico do fim da es- ‘eraviddo (Disseracio de mestrado). Campinas, Unicamp, 1983. Mineo arafado, Viana, Olivera. fastitwicdes poilticas do drasi. Rio de Janeiro, Jone lympidy 1949, 2 V, Ve 2, Bs 28. __ Bvolesto do pov brasiera. 4. ed. Rio ae Janeiro, Jose Olyraplo, 1986. p. 158. Sobres conexo entre o persamento racsta de Oliveira Vianna «© Sua defesn do auiorlarismo € importante a conaulta do trabalbe de Jerboa Medeiros “Lmteodugto a0 estado do pensamento politica autoritd- ‘ho Benileiro 1914/1918" especialmente 6 iter 5 “*Raciseno & Elites” do capitulo I “Oliveira Vianna’ (Revisia de Ciéncia Pauitiea, Rio de Janeie 10, FOV, 172), Jun, 1974), Ver tamblm, no particulars Visuna, Evade ‘Atparo, Oliveira Viannad O estado corporative, Sio Paulo, Grijlbo, 1976, passim. "FREES, Gilberto, Regide esradicto, Rio de Janeio, José Obympio, 1941, b. 1747. AmaRaL, Azevede, O Ertade awtorddrio ¢ a relidade macional. Rio de Janciro, Foré Olympia, 1938, p. 2304. 'Sopré, Nékon Wemneck. Histria ia Nieratira brosifeirt(Seus fundamnen- tos eeanémicos). 3, ed. Rio de Janeiro, Jest Olympic, 1960. p. 19: *Lsayees, Rayenond S. © negro aa lterarura brasteire, Rio de Janeiro, Ee. ‘OCruatiro, 1958. p. 110. Cf, ambem no mesmo sentido, poréin com po sigbes mais radicals do que Sayecos BROOKSIOAW. David. Rapa ¢ cor na f- ‘eratura brasileira, Bio Grande do Sul, Mercado Abstie, 1992, Passini. Sincretismo, assimilacdo, acomodagao, aculturacgéo e luta de classes 1. Antropologia ‘No presente capitulo queremos disewtir a @ neocolonialismo insuficiéacia de conceitos comumente ma- raipulados por alguns antropSlogos brasi Iciros, especialmente no que diz respeito ao contetido das relagbes entre rnegros ¢ brancos no Brasil. O esquecimento, par parte do antropélo~ £0 0U socidingo, a0 analisar 0 pracesso de interagio, da posicio es trutural das respectivas etnias portadoras de padroes de cultura di- versos (sem levar-se em conta, portanto, a estrutura social em que esse processo de contato se realiza) leva a que se tenha, no maximo, uma compreensiio acad@mica do problema, nunea, porém. 0 seu co- rhecimento captado no processo da pr6pria dindmica social, Isto por- que, antes de examinarmos esses contates eulturals, temos de situar 0 modo de produgio no qual eles s¢ realicam, sem o que firaremos sem possibilidade de analisar 0 contetida social desse processo. £ $0- bre exatamenie essa problemiltica teérica que iremas tever considera ses para reflexito epistemoldgica dos intcressados. Queremos nos referir, aqui, particularmente, aos conceitos de sincretismo, assimilagdo, acomodurdo & aeulturazo quando aplica- dos em uma socledade politinica, ¢, concomitantements, dividida em ‘lasses ¢ camadas com interesses conflitantes ¢/owantagOnicos, inte- esses e conmftitos que servem de combustivel & sux dimamica, ou sei J2eThopo1owan E mOcSLONALENO _ produzem a luta de classes, para usarmos termo ja mundialmente onsagrado nas ciéncias seciais, Achamos, por isto, que mio seré ingtit Femetermos o leitor a uma posigdo reffexiva em relagto aquife que ‘nos parece ser mais importante para levar a antropologia ¢ as cién- clas sociais de um modo geral (num pais como 0 nosio, poliétnico 16 mesmo tempo, subordinado a um polo metropotitano externo} 4 terem um papel mais vinculado & pratica social, saindo, assim, de uma posicio de cigneia pura contemplativa, eatidistante da realidade ‘erapirica ¢ somente recouhecida na sua prixis académica (te6rica). ‘A tevisio dessee conceitos tio caros a uma certa ciéncia social colo nizadora, usada pelo colonizndo, remete-nos & prépria origem da ans tropologia ¢ & sus fungio inicial de municiadora do sistema colenisl, A ntividade pratisa que exereeu no sentido de racionalizar o colonia- Hismo 4 necessidade de uma reavaliaglo critica do seu significado ‘no conjunto das ciéncias socials, A sua posigsio euroeéntrica © umbi- Iiealnente ligads & expaasio de sistema colonial deixow, como no podia deixar de ser, uma heranga ideoldgica que permeia e se mani- ‘este em uma série de conceitos basicos, até hoje usados pelos ant pélogos em nivel significative ‘No caso particular do Brasil, 0 fendmeno-se reproduz quase que integralmeate, Come pais de evonomia reflena, evidentemente repro- duzimos 0 pensamento do péto meiropoliiane de forma sistemstiea, fato que se pode constatar allo apenas no que dix respeito & antropo- logia, de presenga bem receate, mas no noss0 pensamento social do ppassado, Desta forma, no eolocarmes em diseussBo of coneeitos aci- ‘ma explicitados, devemos dizer que 0 iraumatisme de nasclmento mio apenas da antropologia no Brasil, mas do nosso pensamento social de um modo geral, quase todo ele Influenciado, em maior ou menor nivel, pela ideologia do colonialismo, ‘Alids, o carkter de municiador ideoldgico da politica das me- trdpoles por parte da antrapologia ja foi destacado ¢ denunciade por iniimeros soci6logos, os quais, insatisfeitos com a estrutura concei- tual formalista dos antrop6logos metrapolitanos (colonizadores), co- mecam a fazer uma revisio das seus conceitosc da sua funcao, Neste sentido, numa aproximacdo critica geral do assuinto, 0 profestor Ka- ‘vengele Munanga escreve que Para to compreender a mpoitoatagie de realatbacta 6 a porsistbncia ‘Gbala atitode de recusa da antropoiogia estrangairapalas populegtee ‘atricanas, azo necessdtio fazer a hisisre critica ou aciticn ideo} ‘ca da anitopologia desde 06 inclos da colenizagéeo até as indepen 2 RHR, ASSIA, MOMDEAGAS, ACUUIAGAD ¢ UPA U6 CLAS doncias cesses palses © mesmo depotsdas Independéncias, na situa: ‘bo chamada “reacaionisitemo", ' Da nossa parte, j4 haviamos escrito ein outre Local que a tubsltulglo-de proletddie palo primitive nde fol, contude, um caso fectulte, Vale prsancher aquols vaxiodeestudas quese tavia sentir so. bre as relagses metrépolaicoldnla colocad es na ordem do dia poruma 6rle co falores. Ora, ensa literatura expectaiizada ao tempo om que mostravaa temeridade de se procures evar omnivel de rida dessas po- Pulagbes nativas ctlava tbonickt ce contiole colonial, exereendo Ai: leridadas dorvnis eamploto abawss dos cselen tribale, Adestibsil2sGt6 ‘era dosaconsethoda exolamente porque of natlvos eo abendonarem ‘95 seus valores originals.se insariam rum wnlrereo de aga complata: manie nova, Dal o interesse ¢enzos ariropdlogos am extabslocorem AGorleas de eontile parlinda dos samentos nallvos gus mantinham ‘© prestigio aoclal ante oe membros ssa respectivas tlds! Kabengele Munanga, citando: varios outros autores, refere-se 2S, Adoteri, do Daomé, 0 qual submeten essa antropologia co- loninlista (etnologia) a uma critica radical e contundente.’ Esta visio critica estd se avolumando e, mais recentemente, of professores . Grigulévitch e Semin Kostov, além de uma critica teérica radical, detiveram-te na amitise das vineulagdes dessa ef€ncia com Srgtios de inteligdncia e seguranga das nagses neocolonizadoras. * Cenirando- a sua andlise na funsio neocolonizadora dessa an- tropotogia, 0 professor Mauricio Tragtenberg escreve: Malo nitiga é a neuiaea0 ene 0 imperiatismo ® a anttepologia. Por aceslto do fim du Guetta dos Sosa (1698/1902, 08 antrondloges Ins ‘leeea jrocuravam apecar seus connctnaetos (endo am vista ns pr tices, © Royal Antiopelogiet Insitute apeesarton, na 6004 ao 84. coratirio da Esta para a8 Colas, a propssta pata que 26 eatudas- 0m anise insttuicoee da cierenciaetic Wibal na Altica de Sul Ta fatvc0 ana-em mia eda uma baze poll adminisivativa"racionet”- ‘A ediministragdo dos povos colonials sempre fol canakdrada terreno privtegisea para &aplicagaa do conheclmanta antopolsgles. O2 go. ‘omnes colori thar ngSes diverse sobre rapider do proces Ge "ecldantallzaga" dos “primiivoe O mesmo autor passa 4 enumerar a fun¢ao instrumental dessa antropologia — chamados pot ele de aniropélogas coloniais — co- ‘mo funsionétios da Adminisitago Colonial nas coldmias inglesas da Attica Tropical, dando cursos de antropologia aos governos domi- nadores. A podido da Administrasio Colonial, Moyer-Fortes osc vew sabre costumes matrimoniais dos Tallesi e Rattgray escreveu mremorotooi ENiocoLoMIALsD 1 tobre os Ashanti, tudo isto objetivando o controle colonial, via con- trole cultural, Houve também. em Tangaaica experimentos de antro- pologia aplicada nos quais um ancropdlogo pesquisow com base em Perguntas especificas formuladas por um burocrata colonial. © go- vero britdinica an Nigéria ¢ Costa do Ouro sempre partifhow a dia ‘de que 0s natives com posicio tradicional eram methores agentes lo- ‘enis da politica do gaverno, o mesmo ocorsendo com o coioniatismo belga que na formagdo dos funciondrios, segunido o antropélogo Ni -enise, dedicava mais tempo a0 estudo da etnografia edo direito 0% ‘tumeiro do que a Gri-Bretanha, Mas esta vincutacio da antropalogia com o sistema colonial vai mais além. Em 1926, fundourse 0 Institu- to Internacional Africano para dedicar-se & pesquisa em antropolo- sia ¢ lingdistica. © conhecimento (dos povos nativos) ajudaria 0 fdministrador a fomentar o erescimento de uma sociedade orgdnica ‘88 e progressiva, O East Aftican Institute, por seu turno, especializoue se em estudar as consequtneias socials da enslgragdo da m&o-de-obra, as causas de as deficincias dos chefes de aldeiss africanas atuarem ‘como agentes da politica do. governo cofonial. © Rhodes Livingstose Institute estudou a urbaniraglo fas mi- nag de cobre da Africa Central e.0 West African Institute peequison ‘as populagdes empregadas nas exploragses agricolas da Cameroons Development Corporation. Mas eatas pesquisas no $¢ limitavam & dren de explorario es0- andinica das resides colonizadas, Desdobravan-se também. mt auxi- liares de objetivos militares. Diz Mauricio Tragienberg que & ‘por ‘ocaslie da Segunda Overta Mundial que © governo norte-amerieano ‘emprexou antropélogos com a finelidade de explicar « cultura des 0nos ocupadas dqueles membros do Exército que precisavam do tra- ‘balho dos natkvos como operdrios, ou mensageiros”, ° Depoks de cl tar mumeroses outeos extiaplos da aplicagio da antropologia em projetos militares por parte dos colonizadores, Mauricio Tragtenberg sondlul: (© conhecimento antropoléglze pode sendt ao imperialisme; desse me- 0, um “antropetoga critic” nfio poder “wsquentar durante mao tempo cadeira no Centre National 6e Recherche Solenifique.ou na Unk Versicads 20 Combridge, Esgectalmente a0 ale for volta 20 ‘Como vemos hi, de fato, uma vinculugio entre as formulagdes teGricas ¢ a instromentalidade dessa antropologia. Daf um pesauisa- dor citado por Michel T. Clare afirmar que “‘autrora, @ doa receita (para vencer a guerritha eva ter dez soldados pare eada guerribhelre; hoje, des amtropdtogos para cada guerriticiro”, © M4 thcuuos, ssi Ato, ACouNIOACK, AULTURAGAD © WTA UE CLASSES 2. Do “primitivismo fetichista’’ Mas, voltando Aquilo @ “pureza” do cristianismo que nos interessa de moda central, quere: mos destacar aqui que cerios conctites ds antropologia revelam, de forma transparente, outras vezes em diagonal, a sua funcdo de cién- cia auxiliar de uma estrutura neosolenizadora, Sobre o conceito de shncreiismo, tio usado pelos antropdloges brasilciros que estudam as celagies interétnicas no particular da rel: sido, canvém destacas que até hoje ck ¢ wsado, quase sempre, para definir um contato religiose prolongadee permanente entre membros de culturas superiores ¢ inferiores. A pattir dai, de um conceita de religides animistas em contato com o catolicismo dasicamente supe: rior, © qual é, na maioria das veres, a religido do préprio antropélo- 86, passa-se & analisar os seus efeitos, ‘0 professor Waldemar Valente, em um trabalho muito difwn: dido-e acatado sobre o sineretismo afro-brasileira/catSlico, assim de fine 0 provesso: ‘Otrabahe oo sincrolame atetieto, aprncpl, como [athwnos ora $380 de asain, ndo paseou de mera acomodano Tl fenémenc, co- ime jafceu acenivado, fo devdo h momenthnesincapscldada manta ‘Sonmgre pata sesimila ea dlleaos concelton do Crieianemo. Aim ‘osereidade da uma rida ntepragge Cancieso que nto ders ae me Rooprecada na core de aestrilosle qs congitul 66 Noaso eo Br- ‘aezo final do aiteratlamo 60 toripa.O-qve parece certo, como te- ‘es operunidade de chamar a stengaa, & que oF nogros revebiam & ‘etigite como ume espécls de antepere por tds do Qual excandiam OF tistargeru Consclentemente-c8 teus proprias concatos rolgioees- {L}Oe» pevevions ave temas rellzado na nimidade dos xangds pet Tamcoanos ndo norte ei aia eanetatsaiauinc sempre ces ‘centa ue © oatoliclsmo vem exercendo sobra.0 fotichisme airieane, * Quoremos destacar, aqui, a forsha como Waldemar Valeat co Joca © problema do sincretismo: de um lado © eristianismo (alids ele ereve & palavra com € maidscula) ¢, de outro, 0 fetichismo africa fo, Uma religiSo delicada (superior) ¢ outea fetichista (inferior). Da videntemente, a influencfa sincrética ter de ser como ele cond ente da dominante (Guperior) sobre a dominada (inferior) ou, para continuarmos no mesmo nivel de argumentacdo por ele desenvalvi- do: os negros, membros de una reigi#o fetichsta, por incapacidade mental, “no tinham condigSes de assimdlar, em custo prazoy os deh cados conceitos do Cristianismo"’, o que somente se verificaria (apds 1 PROAIIVIMO PETICHISTAY A puma” oo CHISTANUIMO 2 um periodo de acomodase) através da infludncla érescente do eris- ‘tinnismo (Feligido superior) nos xangés de Recife, ‘Jamais Waldemar Valente viu a pousibilidade inversa, isto d, & ‘in fludncia cada ver maior dagulas relighSes chaniadas fetéchistar no Amago das “‘delicadezas™ do celstianisino. Naw foi visto que dentro de um critério néo-valorativo nko hd religides deliearias ou fetichis- fos, mas, em determinado context social concreto, religides domi- nadoras e dominadas. No nosso caso, dentro inicialmente de uma es- trutura escravista,o cristianismo entrava como parte importantissi- mado aparelino ideoldgico de dominagio eas religides africanas eram ‘elementos de resist¢ncia idcoldgica ¢ social do segmento dominado. ‘Parece-nos que esté justamente aqui a necessidade de sc analisar 3 Jnfluéncia do conceito de acresismo criticamente, pois ele inclu um jjulgamento de valor entre as rligidesinferiores e superiores que, pe Jo menos no Brasil, ceproduz a situagto da estrutura social de domi: smadores ¢ dominados, Numa outra aproximaghe critica, desta vez sobre © problema -especifiico do sineretismo fare sensy, Juana Elbein dos Santos escreve gue Desde bruxaia, magia eters da superstiggo, fetichlamo, animism, [a assis pudices dominagses dos cultos afvobrasloloa, toda uma multiplicidade de designagac hava Implicit nagar a carder de reilgitia 1p sistema eistcg legado polos afieanon 6 raelaboradoe pelo 46u8 deacendenies, despojandc-os de valor transcendentaiso encodes do sobretudo» papel hlléxico da aig como Inatrumento funcarnen {al = que a ncspandenoia oepital fo: durante longo tempo aur {ifeoins comportamento das soc edaces humans} 2valer da ex {ura Zomo etamentos de resittnci ac Gorin estrangete rotide no falo de te sora maniestenfovigoreea, no piano Iaaciégico cu Wea Hitec reoidade matalal ¢hisiriea Gt socledade dominada ov a o- Ininer rate da histvie do tm pow, a cultura determina. arte fou negative qua axetc2 so: pro a evslugte des ralagtes entre © homvem a 6 sax meio @ ent o8 Pamene ou grupos humanos no selo de uma Bocledade, asain core tnire aociedadoselferentes, ™ No caso espectfico do Brasil em relagiio bs cultures afro-bra- sileirns hd nuancas diferenciadoras, pois ndo estamos diante de um pais ‘ocupado por membros de uma popalagio estrangsira, ns © eostel- do do assimilacionismo, a sua estratégia idealdgica ¢ a mesma. ‘Todas: ‘as técnicas de incentivo & assimilacso, desde a.catequese « evistianiza- ‘gil aos plans regionals “cientifivos” de etndlogos contraiados por instiLuigdes colonizadoras, foram ¢ continuam a ser cempregadas para que a assimilaydo seja acekerada. Apesar dlessas nuaneas especificas nas relagdes interéinicas entre “‘branicos" € negros no Gimbito do contaro religioso, 0 aparelho de dominagia ideoldgico da religido catélica do- minadora continua aruundo mo sentido de fazer com que, via sincre> temo, as religiées afro-brasileiras sejam incorporadas 20 bojo de ‘catdliclsmo ¢ permanecam assimiladas no nivel de catolicisme popular. Estabelecicla wma eseala de valores em cima das difcrentes reli gides em contato ¢ elegendo-se 0 catolicismo coma religiio superior, AL AGAD PAR ACABAR COM A CULTURA COLOMIZADA 8 teremos como conclusde légice a necessidade de se fazer com que as religides chamudas fetichistas, inferiores, se ineorporem, também, 905 padedes eatdlicos ou cristios de um modo geral, da mesnta forma co- ‘mo, nos contatos inicos, se apregoa um branqueamento progressivo da nossa populagdo, através da miscigenario, até chegar-se a tum U- po © mais prSximo possivel do branco curopeu. Essa assimilago assim concebida tem ia esséncia escamotea dora da realidade via valores neocolonialistas, Keologla qué ainda faz parte do aparetho de dominacio das classes dominantes do Brasil ‘ede grandes camadas por elas influsnciadas, Tomando-se como pets- pectiva de anélise uma visio alienada do problema, a conclusfo que se tira € de que, de fato, essas religides fetichistas existentes devem ser incorporadas is civilizadas ¢ 05 seus membros oui grupos, nlio as- similados, transformados em quistos exdricos, em reservas religinsas ‘que no mais representam os padres da cultura que foi ¢ estd sendo elaborada: a cvitura nacional. Folclotizamsc, cntto, esses culkos re Higiosos ndo-nssimilados e eles so apresentados eau estudadas co- imo representantes de religiors enlatacss, resquicios do passaco, fdsseis religiosos sem nenhuma funcdo dinémica no presente. Folclorizados 0s. grupos representativos. das religiOes alro~ brasiteiras, passaso a no ke ver mais funcionalidade nas mesi isto 6, elas no desempenhariam mais nenhum papel religtoso dind- mico, mas, apenas, servem para serem vistas, de fora para dentro, como, niio direi um espetéculo, mas como-aniastragem de uma ma- nifestacSo religiogs que ndo se encaixa mais no sentide da dinamica da sociedade brasileira e da sua cultura nacional. S40, portanto, ob- jetos de estude para se demonstrar como a assimilagie incorporou as populagies alto-brasileiras 4o processo civilizat6rio: ea conserve ‘sho dessas religides, por outeo lado, serve para mostrar a existéncia de grupos que nfo tiveram condig6es de acompanhar o ritmo assimi- Facionista do nosso desenvalvimento social, cultural ¢ relipieso, atrasando-s¢ na histéria, Em cima disto ha, evidentemente, toda uma producto acadé- smica bastante diversificada, Ha, mesmo, a participago de persona lidades © autoridades académieas em reunides de entiades religiosas negras, todas, porém, ova sua maloria esmagadora, vendo as reli- sits alro-brasikciras como componente inferioret do mundo religios® institucional. © proprio paternalismo de alguns, que mo passado se propuseram paradoxalmente « dar uma assisténcia psiquidtrica esas cntidades (Uitisses Peraambuco, em Recife), bem demonstra co» imo ainda estamos longe de ver essas religibes como um dos compo~ nentes nomnrais do mundo rsligioso de uma arande parte da nossa so ciedade, da. mesma forma que as religibet de outras etnias que pasa aqui vieram, ; ‘0 que nose pode aceitar, mesmo sem se tomar nenbum parti- do religioso espeifico desta ou daquela religito — como ¢ 0 nosto cai — ¢ver-ie a Feligides alro-brasileiras consideradas como coisas Exbticas, e, ao mesind tempo, defender-se o recomhecimento do di- Teio — alids plenamente justificivel — para outras religides que vie ram posteriontente, como o budismo, do grupo japonés. Elas ja se incor porsram aos pares da nossa cultura, pelo menos regionaimen- te, mas a8 teligides afro-brasleiras devem ser assimiladas pelos pa- drBes do catolicismo. - ‘0 que significa, em dltima instancia, esse intcresse assimilacio- nista da parte de entidades governamentais, grupos ¢ insttuicdes re- Tigiosas, segmentos da prépria comunidad ciemtfica em relagdo as religides dos dcaceadences de africanost Temos de cristianizat oF adep- tos deseas religides da mesma forma como temos de branquear a nes- sa populaciio? Por que o candomblé coutras formas de manifestayio do mundo religioso afro-brasileiro devem ser vigiados, fiscaizados, tssistidos ¢, muitas vezes, perseguidas, enquanto as demas religi’es conseguem manter, conservar ¢ desenralver,deniro de padrOes insti- Lucionals, os seus nichos religiosos, sem que sejam considersdas infe- riores, exdticas, fetchistas, animistas ou patoldzicas? B sobreeste assunto que iremos nos deter no nosso timo nivel de reflexto sobre o assume. As religides africans, ao serem trans- plantadas compulsoriamente para o Brasil, faziam parte de padrdes ulturais daquelas etniss que foram transformadas em populagdes fscravas, Egsas religiSes assim transportadas eram., par intimeros me- anismnos esiabelecides pelo apurelho de dominseto ideolgica colo- pial, consideradas oriundas de populagses “*bérbaras’” eque, par isto {aesmo, foram escravizadas. A religito dominante, do escravizador, no €as0 coneteto que estamos analisando, o catolicismo, fazia parte -desse meeanismo de dominagio nio apenas.no nivel ideoldgico, mas também, em nivel de participacSo estrutural no provesso de escravi ragio dessas populagdes. 4, Acuttur ‘Outto conceito abundantemente willizado pe~ substitui os nossos antrop6logos ¢ socidlagos no estu- de classes do das relagGes interétnicas no Brasil, espe- clalmente no relacionamento entre brancos © negras 6 9 de dewiturapéo. ACMTUNAGAD SURITTIN 9 LIA OF CLASSI a ‘Temas aimpressio, mesmo, de que este conceito foi o mais usa do nos iltimos anos pelos cientistas soctais brasileiros na abordagem do assunto. O conceite de acullieragdo ¢ empregado coustantementc come aguele que explicaria ¢ definitia de forma abrangente ¢ satisfa- t6eia as formas de sontato permancote ¢ as transformages de com- portamento enire 4 pepulagtio acgra dominante (antes da Abolido, eserava; depois, marginaiizada) ¢ os grupos representativos da cults ra dominante do ponto de vista econdmico, social e, por extencio, cultural, Ora, este conceito, cunhado exetamente para explicar 0 con lato entre aquelas culturas qui se expandiam como transmissoras da “civilizaca0" (Colonizaderes) e aquetes povos dominadas, agrafos, considerados portadores de umna ewitra primiiniva, exétiea (colonia dos) e eujos padrdes, por isto mesmo, cram mais permedvels a uinia influéneia modifiesdora por parte da cultura dominadora, tem limi- tagdes clentifieas enormes. Toda 4 manipulicde conceitual objetivava a demonsirar como nesse-contato cultural os povos dominades softiam a influéncia dos dominadores ¢ disto resultaria uma sfntese na qual os dominades também transmitiriam parte dos seus padres a dominadara que es incorporaria & sua extrutura cultural bdsica. Com ista, os povos acts turados seriam beneficiados. Er como se ndo houvesse contradigdes soeiais estruturais que diticultassem c/ou impedissem que os padtroes ‘culturais de ctnias ow povo dominado fassem institucionalizados pe- la sociedade dominadora. Isto 4, que religiéo, indumentéria, culiné- rin, organizagéo familiar deixassem de ser vistas como padrdes ertencentes 4 minorias ou grupos daminados e passassem & posigdo de padrdes dominantes, Na verdade as coisns acontecem de forma diferente, No Brasil, 9 catolicismo continua sendo a religito dominantc, a indumentéria continua sendlo a ocidentat-ewropéia, a culindria afro-brasileira con- tinua sendo apenas uma coziaha tépica de uma minoria étnica c assim por diane, Isto é, no processo de aculturacio os mecanismos de do- minagiio econdmica, social, politica e cultural persistem do quem € superior oa inferior. Para os culturalistas, no entanto, o ato de “dar e tomar’ ot tragos e complexos culturais seria um todo harmdnico ¢ funcionaria como simples aeréscimos quaititativos de cacta uma das culturas em, contato, Os elementos de dominagdo estrutural — econdmico, social politico — de uma das eulturas sobre a outra ficaram diluidos por- {ue esses contatos permanentes trocariam somente ou basicamente <_iicna 10, ASO ACO, ACOMODMCHD, REV TING HO w LT DE SEAS osuperesteutural. Religifo, incunentria, culindria, organiaagao f8- fnilizr entrazian em inderctimbio, mas, esse movimento, essa dindmi- Tarde daz ¢ tomar info se estendeiia as formas fundamentals de pto- priedade, continuando, sempre,9s membros da cultura superior £o- Pro dominadores da inferior como socialmente dominados por mas fetem os membros da primeira a posse dos meios de produslo~ ‘Oculturalismo exstul a histarieidade do comtato, nao retratan~ ‘do, por isto, a situagdo histdrieo-estrutural em que cada cultura se fencontra nesse processo, Desa forma nao se pode destacar 0 conted ‘do social do processo c io se comegue visualizar cientificamente quis $0 aquelas forcas que proporcioeam a dinfnsies social e que, 20 10550 ver, nfo t2m nada a ver com os mecanismes do coatato entre cute as, Para nés este dinamismo nio esta nesse eontato hortzontal de a posigo vertical que os mem tragas ¢ complexos de culturas mas na posisid I que os: bros de cada cuttura ocupam na estratura social, ov seja, no sistema de propriedade Tsto quer dizer que a aculturaco nadia {er a ver com os meta nismos impulsionadores da dinimica social nem modifica, no funda mental, a posigée de dominades dos membros da cultura subalter- vn jc pba yode cx aculturando constantemente infiuindo na réligiso, na cozinha, umentiria, na mésica, na lingwa, aasfestas populares, mas, no fun damental, esse process0 nao intluird nas modificnybes da sua uscd na estrutura ccondmica € social da. eee brasileira, a nao ser em rroporgBes nlc-significativas ou individuals, ® rear isto queremos dizer que os mecanismos aque igaprimem i= nfimica h estrutura de qualquer sociedade potiétnica, dividida em clas- ses, estd em um nivel suite mais profundo do que aqueles nivels da acultursgée que no tera forgas para produrix qualquer rmudanca $0- al. Essa dindmiea surge de mecanismos internos das estruturas das sociedades polidtnicas, estabeleceado ritmos maiores ou menores de teansformacao, Enquanto a aculluragio realiza-se em um plano pas: sivo, a sociedade na qual essas culturas esto engastadas aciona ou- teas forgas dinamizadoras que nascem dos antagonismos surgidos da pasigfo que es membros-ou grupos decada einia ccupam no proces: a ee orig padermos acta 0 soeeito scufurape como aqule aque ira explicar us mudangas sosiais, mas, pelo contrério, achamos que aculturagdo.em uma sociedade composta de uma cultura domi- CT. WmAgAo Sums 4 Uta BE CLs oy nadova.e de outeas dowtisiadas cstimuila a desigueldade social dos mem: bbros das domiandas através de mecanisesos mediadores que neu- tralizam a revolta dos membros das culturas dominadas. Através des- ses mecanismos mediadores os membros das culturas dominadas submetem-se a0 controle da cultura dominante. No particular, concordamos com i. Lienbardt quando afirma que ““é necessario distinguir entre culture, como soma dos recursos ‘materials ¢ morais de qualquer populagiio ¢ 0s sistemas socials”, "7 Isto porque os mecanismos que produzem a mudanga cultural t#m pouca relagio com aqueler que produzem a mudanga social. © problema de uma sociedade poligtnica diridida om clisses ndo pods ser cesolvido apenas através da aculturacio. Muites vezes, pelo con- tnirio, a aculturagto pode servir para dificultae, amartecer ou dife- renclar 0 processo de mudanga social. Isto porque & estruturn social tem mecsnismos diferentes daqueles que atuam no plano-cultural. No easa espeeifica do Brasil queremos dizer que enquanto se realizou in- tensa ¢ continuamente o processo de aculturag&o, pouco se madifi- ‘cou no nivel econdmico, social ¢ politica a situacko do negro porta: dor das culturas africanas, ‘Em palavras mais simples, esclarecedoras ¢ objetivas: « acuhtura- ‘sto niio modifies as relagbes socials ¢ conseuiientemente as instiicigtes fundamentals de uma estrutura social. No modifica as rlages de pro- dug. No que diz respeito & sociedade brasileira, no seu relacionamen- +0 imteréinica, podemos dizer queha um proeesso constante daquilo que s¢ poder chamar aculturagdo, Uma interagio que leva n que muitos tragos das cultures afticatas ¢ afto-brasileira realizer uma trajetéria pe- manerte de contato com a cultura dominante, sparecendo isto como uma realidade no colidiano de brasileiro, No entanto, do ponte de vis- ts histérico-estrutural, 2 nossa sociedade passou apenas por dois perto- os bésicos que foram: 4) até 1888 urna socedade eseeavista; 6) de 1889 ald hoje uma sociedsde de capitalismo dependent ‘A circulasdo de tragos das eulturas afticanas, seu contato com a cultura ceidental-crist dominante, finalmente, os contatos horizon- {ais no plano cultural, quase nada influiram para mudangas substan- vas da sociedade brasileira. © culturalismo, como vemos. no d4 elementos de anilise e interpretagdo para saber-se as causas que de- (erminaran essas mudangas. Conforme veremos em outro: eapitulo deste livro, as populagies descendentes das culturas africans, ape- sar do grande ritmo ¢ intensidade do processo aculturativo, continuam congeladas nas mals baixas camadas da nossa sociedade. Os nivels {de dominasao e subordinagio quase que nfo se modificarem durante praticamente quiahentos anos. A dinmlra social que prodiss & niu danga depende de um conjunte de causas que nada 8m & ver com «a HHvc¥ETIQU0 ASSINILAGAD, ACOMCOAGKO, ACULTURAGNO E LUTA DB GASSES ‘nivel ¢ extensio do proceso aculturative, Em conseqiéncia, 0s cos fumes futerdrios, organizagio familiar, formas de casamento ndo insitucionais, religido, festas rligiosas, grupos de lazer, culto, ricual, tRonicas agricoles domésticas, aruitecura rstica, pintura et. todos esses {tapos culturais podem ser licorporados & caltura dominante, contanto (que na esirutuira social, cles continuem sendo elementos de uma cultur fa de folk, primiLivista ou agzegados suplementares & cultara domian- te. Janoais enes tragos ascenditGo ao nivel de dominantes, {sto somente eontecera se houver um prosrsso de mudenga social radical que cleve {Gs componenies da culfura afto-brasileira a dominagaio socal ¢ politica. "Absolutizando-se 0 processo aculturativo iremos desembocar di- retamente no conceito de demtocracta raciat, to caso a intimercs $0- Ciologos ¢ politicos bravleiros. Uma branca daneando em urna escola de samba com um negro nao seria simbolo dessa democrecta tao apre- canais da aculturagso? Nada mais Ibgico dentro desta dtl ise da tealidade. No entanto, socialmente, esses dois mem- pros da escola de samba cxtdo insetidos em uma escala de valores ¢ de realidade social bem diferentes e em espagos sociais imensamente ddstentes. Siniboticament, contado, cles 0 projetados come elemen- fos que comprovam como, através da aculturagao, chegamas a diluir ‘os niveis de conflitos socials existentes, "A realidads demoastra 0 contririo, O modo de produgdo que existe no Brasil € 9 copitaliamo dopendente. Ax rclacées de producso Geterminam, em ultima instancia, a estrutura bisica da nessa sovieda- de, alocarm no espuco social diversas classes e fragies de classes que, Sor set furra, sip dlaamtizadas de acorao coro ve} Ua lata ds cites, ‘Por questoes de formagio histérica, os descendentes dos afti- ‘sanos, 05 negros de um modo geral, em decorséncia da sua situacdo inicial de escravos, ocupam a5 titimas camiadas da nossa sociedade, Em consequéacia, @ sua cultura ¢ também. considerada inferior ¢ so~ rienteenra no processo de contato como senxto culkura.primitiva exd- tiea, assimétriea @ perturbadora daquela unidade cultural abmejada fe que é exstamente a brance, osidental ¢ erista. A aculturacdo, por isto, € aceita (permitida) porque cria espacos culturais neutros para ‘que os negros NAO se unam “‘ante a deseraga comum’” como ja dizia S Conde dos Arcos. Néo ¢ portanto um elemento de dinamica socisl, fas um mecanismo usado pelas classes dominantes ¢ 0s seus segul- Gores ideoldgicos para neutralizar a radicalizasao da populagao ne- fra, de um laco, ¢, de outro, mostrar-nos internacionalmente como a maior democracia racial do mundo. 'No entanto, do ponte de vista de cetrutura social, de um lado, ‘eaculturacdo, do outro, podentos esquematizar essa reelidade da se guinte forma: CULTURA BRANCA (DOMINANTE) =. Ta ol FECES | 2 & |xI TH g aa/ tit 5 ar 5 Baa rt 5 a g ae rly 8 lee t 3 3 52 ttt = [28 The | 2 se sl2l2|s|g3 = al S/S | 2/28 = B(Si3/7 Fy 2| Fs CULTURAS NEGRAS (DOMINADAS) Polo grifice acima, podemos ver que a soviedade brasiteira na sua trajetoria econdmico-secalteve apenas dois modo de produto. © primeira foi 0 escravista e 0 segundo o capitalista (dependente). Enquanto isto, houve um fluxo permanente do processo aculturativa entre as culturas africanas dominadas e a cultura banca dominante, sem que esse processotivesse inclutdo nia mudanca social estrutural, isto é, na pastagem de um modo de producio para outro. Prova de que o processo aculturativo nao influiu em nenkuma mudanca subs- tantiva da sociedade brasileira, ou scja, nay suas relagbes de produgao. (2 sncnriwo, ASKMILAChO, ApOMONAGKD, AEVLTARAGAG LLUTA DE CL ABIES AACULTURAGAO SLRTHTUN A UTA BE CASES oy ‘Alguns satiopélogos no Brasil, ao sentir a inatfeiéneia dos mé- Sikinuunadliinessea todos eulturalstasedos seus conceles fundamental, como o de aad goet co supatondade bulwral Ss am pot ce eae turaedo, procaram completé-los oom a pricandlise. Artur Ramos (01 ae euto, 1 inferioridace cutural 6 mals representativo dees ceatistas sovins, El acreditava, mes- Uns ll que sunk pots acl ornate agua nea 4 mo, que a juno da psicandlise com o m&iodo hisrico-cultural se ‘Sitatanuncs € papers cu iets ee eet maa. Une ri &-chave paraa compreenstio cientifica das relagiesinterdteicas no ‘en petonan contedo. ris hectic eres ermuurammenis;cu Brasil Bute concrito aculurardo-— surg exaamcne para ack- Fase tr renmatn, Mia Macias pare nance, palizaz 08 sontatos eolre merabros de sociodades ou grupos socials {ens de ctersngas de quale entre cultura e prope iwoncamay Colonirados ¢ prupes de dominasto cofonizadores. Ito Ramos nilo {o au 08 “cultura Introros aera adasir seas "urs sone Sha, A sua junto com a psicantlse, numa opeSo yendutar, demons- fore otcultuiag “fees an=Snmaie non tee Sear eo ee 26" superioriintoto tra a resisténcia desses clentisias sociais 2 uma o9¢d0 pelo método sein come, de pono de it clon dialético diante do problema. Artur Ramos, por isto mesmo, escreve a, a5 cultura aricenas i gram conalderadas infociores, Lambém nas cultuias aleiganas no Novo em 1937: ‘Faso. 88 culturas auropsias, Tal canceile no é aceltéval porque nao Mundo (oe Continante Americano) foram supoetas de. terem seul (© métodanistérico cultura om etnologlaeudsntmont vo trazer nox ot luzea + ullilos problomaa da pBnese ¢ dousnvotvimento daa cu {res materals @ eopituals dos grupos nemancs. Is ndoreaoivou certas quastces de peieciogie social, ainda pendin- te de soluco. Para 08 que ns oricam un NBa-exciushiere ra ph ogde dequelo mbtodo 208 maus fnros sobre as cutuas noqras no [Braall, lamdro que hoje oertos tratadistas se baatem por wma conel- (980 do criteios metodo¥6gIcos, (.) Por autro lado hal uma apraxia Sao, cada vez maicr, qntre 08 Ristorladores a 8 palablogos. Destago pened of Interessanttasi¢os trabalnos de Kurt Lewin, epioando aps ‘e6legia tocial o8 reaultadar metodoldgicoa da Goniat, ¢ a8 de Sapl ‘8 de multidéo-de outros autores aproximande a entrepotogla cultural (98 poicanilive, Bata opgo pendular entre antropdlogos que sentem a insufi- «cifncia do métedo histdrico-cultural ou funcionalista e assumem uma postura caltica em relagho aos mesmos, substituindo-os pela psicani- lise, persiste até hoje, Por exemplo, o Cultural Scientist (antropélo~ 20) Gerard Kubik, a0 eritiear es posigGes culturalistas, propOe a explicacao-do comportamente dos colonialistas através de categorins da pricandlise. Gerard Kubik esteve em 1965 no Continente Africano, especial mente em Angola, onde exerceu intensa atividade come pesquissdor, ‘particularmente sobre as instituigbes mukanda do leste daquete pais {Em entrevista concedida ao supiemento Kida & Cultura, de Luanda, ‘combate sistematicamente o conceito de aculturacio. Afirma: [Bu noje acuso o temo aculturaglo porque babelate om concep oes ‘que nile afc aceltdvels clonlilleamente pars nds que quorsmos stu ‘dar ume cultura na 3ua propria expreesgo. A aculturagho 6 quase uma hibproras contin gus oust ta accor, lara. Hoje, o mud Jo corr {uo slat oo rivet ral a oat ads pops do Cala duran ercontam, pi etaoe eles onan Soe mits aes concept que fo grovunsiag pela mera far Fernando Ortiz: & coneepeo de traviseulluvagaa, “ E prossegue Gerard Kubik: Stinson eng tin 7 sechateiarm emo decree cast rasilairs @ Outros slemanios de cultwas européias..O Brasli 6um bom: seme mrt ages reo aur ‘eae ‘om Africa, par exemple, Luands tarsbém tem # sua cultura par ee rosette ate Depois de criticar o.conceite de aculturagdo, substitu caro concsita de « substituindo-0| to de esculurio Rik procra epee co ser pose faver-se una interpretago ciemtfica do contato entre culturas. A ele lta '@ ‘solusfo pendular (culturalismo-psicandlise, psicendlise- culturalismo) de forma unilateral. Afirma neste sentido: ~ em tape, notorgo colonial che pea yn ez 1A Gone cr ur uta toma Goes Ea eel Ica & COMO rtamanto das pessoas de Africa come uma colsa seas ge re noe nacre Forme, ume price desseus pence ineceans cee {)@auopedsetas wi ona escalate hoonciante eae ne samo ror erncoeeance eh ae [irenmoncinesteseoaeacansr et ams aed ‘Sinatra vor ov snsuon: toa Causa av pan sn atte supers sue sts ee to bts spon tb posta hae Be Sos pecans ‘nx sone assuage, AEOHDNYEAO, ACULTURAGAO', ss ya se des rida, oo ea uma forma de separegt para. ot oteger, nara se de. Tonesr pre os homens de ure catia ceo UO® at ou chain eam 8 sua parsonalicade, ue el ne a hose nea pours teteaoparaate ero su tins Ui gontarta ao var eat oc fas exatamentee ¢ 7 oestrcnespeevtam Gono reugioca mncronanen a9 meanutonateade, Conor to cue rear Aen fo £4 a poderlacharnarfeagBo "aparthed” ie fa vate ec eam fain ae vive eu fra ayaa. nto urease po"Q2# Coat os membroa da out cultura, pare ete @ um perige. ; Esta longa citapio ¢ para informar leitor como certos cientis- tas sociais, a0 senthrem @ sosuicltura doe Ode ea i da, Ora, 0 ave em explicagbes mais absurdas ain ue Gerard Kable nto rialisou fol por que este mesmo feabraeno nie oneia pial ‘membros da cultura oprimide pele eotonislieen Tambéin nilo destaca of métodos repressivas que os ¢olonizadores ‘usam constaniemente, numa sistemética de dominugtio viclenta, beni i logo que se usarmos Tages dominadas. Nao vin esse antropélogs 4 Senos sicanalitiog e mais especifieamente o.conceito de ojeito para explicarmos ‘co colonialisme sua politica, o comportamento ao ‘suas elites de poder ¢ a violéacia polities comtra as | populagdes colo- tzadas ‘estamnas crliando explicagdes que justi ificam a sua cterniza- hot Porque se esse inconsciente individva #oresponsavel pelo con portamento social, potico «militar ls grupos eolonizadores $6 nos eta eeperar que aja uma ransformagdo, via rapa de iv, na ps que do colonizador para que terminem © colonialisma eo meocola mo. = ss ‘Como vemos, a fulta de historicidade, & seesthae da dialgtica por parte dos culturalistas ¢ 0 subjetivismo do método pst: canalitico aplicade para explicar processos socials globuis, | ie one SHeadstas spain a se peederem em critérios analogicas de explicario ¢ Interpretagaio que nfo sé sustentam chentificamente. ‘Os escravs formavam a cls =o" negro “bdrbaro” —— minada fundamental da socicdade 2 re ON Tecra tn Em ose cia dista, as suse seligides passaram a ser vistas, por extensilo, pelos dominadores, senhores de escravos, 5, Da rebeldia hmm DA REREBIA DO Bano “ndsBAN0” A “OOMOCRAEGA HACIAE como um mecanismo de resisténsta ideoldgica social e cultural ao sis- tema de dominagiio que existia, Deste realidade surgiram os elemien- tos que foram criados para que sc justificassem as téenicas de re. Dressifo, tanto ao escravo, que ao se conformava ¢ no se sujeitava 4 sua situapta, assurnindo a postura da rebeldtia, como as suas reli- sides, que eram o aparelto ideoldgico fundamental do oprimido ns- quelas cireunstincias, Da mesma forma como se justificava a escravidito do negra pela sua condisto de “bérbaeo”, justificava-se, concomitantemente, & perseguicaa as suas relighdes, por serem fet chistas, animistas ¢ deruais désignativos io bem enurmerados por Jus nna Elbein dos Santos. © problema historico-estrutural deve, portanto, ser levado em considerasio para entender-se a critéria de julgamento que se estabe- leveu no passade esc estende att 08 nossosdias. Assim, podemos come preender melhor a atwai situagio dos padrdes tedricos que ainda io usados para a interpretacto da funcao das religides afro-brasileiras ¢ da situacao do negro, do panto de vista social e cultusal, na socie- dade de modelo capitalista que se estaboleceu no Brasil apés a Aboli- io. Geneticamente, as situagdes estruturais eom niveis antag6nicas determinam um comportamento repressivo dos dominadores e, em contrapartida, um comportamento defensive ¢/ou ofeasivo do do- minado, Se, no plano da ordenacio secial, os senhores de escravos criaram uma ordem rigidamente dividide ¢ bierarquizada em senha- res eeseravos, do ponto de vista do escravo hd a organizarao de mo- vimemtot para desordenacem a estrutura, Unica forma de seadquirirem ‘sua condi¢io humana, do ponto de vista politico, social e existens cial, B um dos elementos apraveitacios ¢ exatamente a religifo, que tem, a partir dai, um significado religioso especitico, mas, também, lum papel social ¢ cultural dos mais relevantes nesse processo E nosse proceso de chaque entre as duas classes, inicialmente durante o regime escravista (Senhtores ¢ exeravos) e, posteriormente, ‘nize as classes dominentese os segmentos negros dominados, dist minados ¢ marginalizados, que iremos encontrar explicagio para ¢5- sa realidade e, inclusive, para o graw de discriminago cristalizado no racismo (eufemisticamente chamado de preconceito de cor) por grandes paccelas ds populasdio brasileira que introjetaram a ideolo- sia das classes dominantes. As religides afro-brasieiras, em razio dis- to, deviam ser consideradas inferiores, de um lado, e/ou exterminadas, ‘ou neutralizacas (assimiladas), de outro. Dal se procurae vé-las <0- mo elementos que representam nao uma necessidade social, histé- _siue nasa. AStiMHLAGAD, ACOMBDAGAD, ACULTURACAD ERLUTA BL CLASSES sca, cultural e paicolégien de determinada comunidade étnica que ‘compée a nagde brasileira, mas como remanesceres de uma fase jd transposta da nossa hist6ria que precisa ser esquecida Bstabelecido um eritésio de julgamento a partis dos valores do dominador em relagio'a0 negro bérbaro ¢, por isto mesmo, justificae damente escravizado, o julgamenie de inferiorizayto- das religioes ¢ ddemais padres das culruras africanas€ unve conctasto légien. Ame- dida que o sistema esctavista sente o impacto dos eseravos, procura resguardar-se contra 0 uso do aparetho idcoldgioe do# mesmos, €o- imo combustivel capaz de dar-lhes os elementos subjetivos para que les adquiram consciéncia da sua situacdo de aprimidos ¢ dissrimina-~ dos. A Histérla nos mostra indmeros exemplos no particular, Neste sentido, apela-fe paca © aparetho ideoldgico daminador, no: sso ¢ ho tempo a igrela Catélica, a fim de desarticular esta unidade exis~ tente entre 0 munde religioso do negro e a rebeldia do escravo. O antagonismo emereente gers, portanto, as diferenras de julgamento. Os opressores vEem nesaas religiSes elementos de Feichismo, de ma- forcas capazes de fazer-lhes mal, diabslieas, na medida em gia, de {quesupdem que os oprimidos delas se utilizar para combaté-los so cialmente ou se compensarem psicologicamente contra & situago de exeravos. Surge, em decorréncia, o medo a essas religibes, 2 nécessi- dale de protect ja em nivel de temor psicoldgico, pois elas, Simbali camente, so. um perigo as suas segurancas pessoais, grupais ¢ 4 ‘itabilidade © seguranga do sistema, Os mecanismos repressores 80 nto montados ¢ hd neeessidade de outra forga que se sobreponha no plano magico A daquela religido ameacadora: ¢ & religiao do do- minador entra cm seu auxilio neste universo conflitante. F com « fora material ¢ social que the ¢ conferida pela estrutura dominante, pro- cura desarticular a rcligidio dominada, perigosa, transformandora cm relteido de bruxaria, Néo entram na andlise ‘objetiva, imparcial, ADOTEMI, Stanislas. Négritude et négrodogues. Paris, Union Générale a'Editions, 1972. Chamamos & alencio em especial pars o expitulo que Inicia a 2* parte do livto, “Regard sur Veshnologie’", no qual sew pensa- mento sobre 0 astinte ¢ particularmente expose * GuiouLerrren, loss & KosLov, Semis, A citacia dos povas.¢ 0s inte- esses dos pavos (contra 0 “calonialismo sientfica" na einolagia). Cir cis Soi Contempor nea (Acadomie de Cen da URS), Lisboa 2) RAGTENDRRG, Mauricio. Sobre educucdo, politica ¢ sindicalisma. So Paulo, Antores Ascoviados/ Cortez 1982, p. 29. 1_SINcUTM0, SHIM AgKO, ACIMORAGAO, ACULTUINGAO 6 LUA DE AAS *Iiem, idem, Ainda neste senso de ura anérepologia pica para

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