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FRETILIN
CONSELHO PRESIDENCIAL
I – Introdução
As condições geo-políticas de Timor-Leste - uma meia ilha situada entre dois grandes
vizinhos interdependentes económica e estrategicamente – foram factores que pesaram
em desfavor do desenvolvimento da Luta de Libertação Nacional até Abril de1974.
Contudo, esta vontade de unir se afirmou de novo em Janeiro de 1975 com a Coligação
FRETILIN/UDT , coligação cuja vida se revelou muito curta e pouco funcional.
Mas antes de passarmos a análise sucinta de cada facto histórico queremos aqui realçar
que, ao fazê-lo, o nosso objectivo único é retirar do passado recente lições capazes de
contribuir para uma visão crítica e desapaixonada, recusando categoricamente ressucitar
fantasmas.
A passagem da ASDT para FRETILIN, mais do que uma mudança de sigla, foi uma
mudança de postura cuja profundidade política se veio revelar ao longo dos anos; mais do
que uma opção ideológica, foi de todo o assumir de uma responsabilidade perante o povo
e perante a Comunidade das Nações de criar todas as condições políticas e psicológicas
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para a Luta que se revelava como inevitável contra um novo tipo de colonialismo – o
colonial-expansionismo do regime de Suharto; mais do que a edificação de uma
plataforma política, foi a escolha de uma filosofia de vida onde o conceito da Libertação
da Nação radica no da libertação e dignificação do ser humano, na iguladade de direitos,
na justiça social, na protecção do ambiente, na emancipação da mulher, em suma, nas
transformação dos biberes e mauberes.
A Unidade Nacional como uma realidade social e política dinâmica nasce e cresce à
medida das necessidades de ordem estratégica e política.
Os paises colonizados, para desenvolver a sua Luta pela Libertação Nacional, procuraram
a nível interno criar instrumentos unificadores que exprimissem a aspiração lógica de
todo o povo pela independência.
No plano externo as alianças dividem-se por razões que se prendem com os diferentes
conflitos internacionais: i) conflito Leste/Oeste, ii) o diferendo sino-soviético e iii) o
insuperável conflito Norte/Sul. Conflitos que tinham a ideologia como pano de fundo e a
natureza do poder a edificar como sua consequência.
Por esta razão, mesmo o espaço político da alternativa não-alinhada foi-se convertendo
gradualmente em palco privilegiado dos diferendos internacionais. A afirmação da
independência nacional ou se obtinha através de um equilíbrio na corda bamba, difícil,
senão mesmo impossível, ou se determinava de modo exógeno através da inclusão do
país emergente nas zonas estratégicas de influência deste ou daquele bloco.
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Neste esforço de dinamizar a construção de uma nova Nação, nem sempre foi possível
discernir de modo a encontrar-se um equilíbrio dinâmico entre as semelhanças e as
diferenças. Muitas vezes as semelhanças eram perspectivadas como o igual, as diferenças
como o antagónico. Como consequência, algumas vezes as ideias não chegaram a fase de
projectos; os projectos não se converteram em programas; os programas em estratégia
nacional unificadora.
Mas, graças à nossa persistência, a vontade unificadora deu os seus frutos. Com o
nascimento a 11 de Setembro da FRETILIN marcou-se o início de uma fase decisiva de
todo um processo de Luta pela Independência e Unidade nacionais. Como resultado,
tivemos o primeiro ensaio de unidade FRETILIN /UDT estabelecida em Janeiro de 1975.
O rompimento da coligação contra a nossa vontade foi já resultado de uma ingerência do
regime de Suharto.
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2. negociar com a liderança da UDT o fim do conflito e a definição de
uma plataforma de entendimento,
a FRETILIN teve que assumir sozinha a liderança da luta de resistência nacional contra a
invasão e anexação de Timor-Leste pela Indonésia.
Para fazer face a um inimigo poderoso era necessário que a Unidade Nacional se
exprimisse sob a forma de uma unidade orgânica e estrutural forte onde os espaços de
consenso se alargam, sobrepondo-se as diferenças naturais entre as várias componentes.
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Assembleia Geral da ONU e assim ganhar legitimidade conferida pelo voto popular e
pelo reconhecimento internacional.
Aqui está a razão porque, não obstante o controle quase total do Território, o sucesso na
manutenção de uma situação sem guerra nem outros tipos de conflitualidade interna e,
ainda que em termos muito precários, a edificação de uma administração, a reactivação
da produção e do comércio, dos correios e telecomunicações e dos transportes aéreos e
marítimos, a FRETILIN conservou içada a bandeira portugesa diante do Palácio e de
alguns outros edifícios públicos e desenvolveu esforços no sentido de conseguir que
Portugal restabelecesse a sua Administração, mediasse o conflito com a UDT e retomasse
o processo de descolonização conforme o previsto na Lei 7/75.
Entre outras razões, a RDTL nasceu para colmatar o vazio deixado pela Administraçao
portuguesa e, assim, criar uma situação impeditiva do reconhecimento da anexação pela
Indonésia. E estas nos pareceram totalmente conseguidas. Tornava-se pois necessário
mobilizar a Comunidade Internacional, responsabilizá-la no sentido de criar todas as
condições necessárias conducentes a reposição da legalidade internacional em Timor-
Leste de modo a que o próprio povo pudesse de motu próprio, decidir em devido tempo
sobre:
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2. a reafirmação ou não daquilo que foi e é os pontos de destaque da
sequência de factos e actos que integram a História da sua Resistência;
E aqui está a questão fundamental. A questão que toca, diria mesmo, fere o íntimo de
cada maubere. A RDTL e a sua bandeira são o património inegável da nossa Resistência -
os luliks do nosso povo. Algo extremamente sensível e, por isso mesmo, merecedor de
uma abordagem cuidada, objectiva e isenta de sectarismos de qualquer natureza.
Por esta razão, alguns pensaram que bastava agitar a bandeira da RDTL, cantar o hino da
FRETILIN de punho cerrado e afirmar-se sua gema, mesmo defendendo interesses
duvidosos ou claramente pró-indonésios e era o suficiente para confundir o nosso povo e
ganhar o seu apoio. Surgiu assim um partido nacionalista que defende a autonomia na
Indonésia cujos fundadores, por sua vez, se organizam em forma de um conselho popular
sem nenhuma legitimidade conferida pela história nem pelo voto popular. Popular sem
povo, diria mesmo, popular contra o povo.
Felizmente o povo conhece bem quem nunca vacilou ao longo dos vinte quatro anos de
Luta, quem pode e deve representar as suas aspirações e quem de um modo inaceitável
procura aproveitar-se de alguma distracção sua para o desviar do caminho da
independência.
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V – As Consequências da Guerra
A FRETILIN foi lançada para uma guerra que nunca desejou, e nem tampouco a inciou,
pouco mais de um ano da sua fundação. Organizou-se para a resistência com pouco mais
de trinta homens pessimamente armados com armas de caça ou outras que restavam da
segunda guerra mundial.
Um mês depois, com a adesão dos soldados timorenses no exército português e com o
controle dos paióis portugueses a FRETILIN teve à sua disposição armas para armar mais
de vinte mil soldados. Não há registo de algum Movimento de Libertação ter crescido
tanto e em tão pouco tempo.
A FRETILIN tem clareza suficiente para poder assumir da sua História gloriosa o passivo
e o activo. Não temos é o direito de ocultar as gerações vindouras toda a verdade porque
só a verdade contribui para o reforço da nossa unidade.
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Outras das consequências da guerra foi a descida de muitos militantes e quadros da
FRETILIN para as vilas a partir de 1979. Descida umas vezes organizada pelo Comité
Central, outras vezes forçada pela situação da guerra, outras ainda sob forma clara de
capitulação por incapacidade de entender o fenómeno da guerra e de continuar a resistir.
Estas são outras questões que vão merecer a nossa atenção. É necessário um processo de
reconciliação interna da FRETILIN, condição importante para o sucesso do processo de
reconciliação nacional encetado pelo CNRT. E o sucesso da reconciliação nacional é a
base incontornável para a consolidação da paz e da independência e o aprofundamento da
democracia para a edificação de um sistema político capaz de envolver todo o povo no
processo de desenvolvimento.
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5. na consolidação da paz e da unidade nacional; no reforço do sistema judicial
independente, no combate a corrupção e as mais variadas formas de
clientelismo;
6. Na protecção do ambiente, priorizando programas de desenvolvimento
sustentável;
Estes são simplesmente alguns dados indicativos de uma futura política da FRETILIN
relativamente ao desenvolvimento social e económico do país. Naturalmente que outros
sectores como o dos transportes e comunicações, o do abastecimento de água, etc.
merecerão necessariamente a atenção da FRETILIN.
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povo na discussão da futura Lei fundamental de modo a dotar a Assembleia Constituinte
de dados para elaborar e adoptar a Constituição.
No campo das Liberdades a FRETILIN pugnará pela edidficação de um Estado que adira
e ratifique as Convenções Internacionais que garanta a defesa das Liberdades do ser
humano, que crie todos os mecanismos institucionais que assegure e aborde com
equidade a questão do género, que respeite e defenda os direitos económicos e sociais,
civis e políticos de cada ser humano.
Um país nasce e cresce não só porque tem uma bandeira, um hino e um governo. No caso
específico de Timor-Leste, uma das opções estratégicas é a escolha da Lingua (oficial ou
de trabalho) capaz de ser o veículo de comunicação e o elemento definidor de uma
personalidade colectiva diferente.
A FRETILIN, desde a primeira hora que defende a língua portuguesa como língua oficial
de Timor-Leste, a par do Tetum que deverá merecer uma pesquisa científica para o seu
desenvolvimento para lhe conferir uma sistematização própria de uma língua
científicamente estruturada.
- será membro da ONU e receberá na sua Ordem Jurídica a Carta das Nações
Unidas como um conjunto de regras com força constitucional;
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- priorizará relações privilegiadas a nivel multilateral e bilateral com a ASEAN,
o Forum do Pacífico Sul e a APEC;
- desenvolverá relações preferenciais com a Indonésia e a Austrália,
promovendo uma cooperação específica com o Território Norte da Austrália e
a NTT da Indonésia;
- contribuirá para o reforço da CPLP e manterá com países membros relações
que contribuam para a divulgação da língua portuguesa e a generalização do
seu uso a nível pluricontinental;
- desenvolverá relações de coperação com países de todo o mundo.
Caros camaradas.
Nesta Conferência priorizemos a análise sobre a saúde interna da nossa Organização, vis
a vis o CNRT e a sociedade em geral. Se o tempo nos permitir, aprofundaremos a
discussão de outros temas.
Peço a todos abertura, transparência e entrega total na busca das soluções mais adequadas
para a resolução de todos os problemas. Avancemos para uma reconciliação interna
assente sobre os princípios de
Sairemos daqui mais fortes e unidos para sermos cada vez mais merecedores da
confiança do nosso povo.
A Luta Continua!
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