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Os incentivos financeiros 4 industrializacdo do Nordeste ¢ a escolha de tecnologias Daw F. Govossss Jouo F. Pransina Se Rona CavaLeante BE ALBUQOEROCE 1. Introdugio 0 objetivo deste estudlo é o de analisar os resultados da politica de incentivos financeitos & industrializagio da Noxdeste do Brasil € sua possivel influéncia sobre a escolha de téenicas de producto in- tensivamente capitalizadas Indaga-se, fundamentaimente, se as decisées empresariais quanto a0 uso de tecnologias nas atividades industiais reagiriam a uma modificagio nos pregus relativos dos fatéres de produgio, Discute. se também a possibilidade de uma reorientagio do sistema de in- centivos atualmente cm vigor, que subsidia fortemente 0 capital com vistas a maior absorgio de miodeobra direta pelos novos empreendimentos manufatutciros que venham # ser atraidos para 2 regio, © trabalho desdobrase em quatro partes: (i) uma anilise do mecanismo dos incentives fiscais © fi ovas atividades industriais; (ii) uma discussio sbre os funda. mentos da politica industrial, 2 natureza intensiva em capital do Programa descnvolvide e sua limitads capacidade de absorgio di- Teta de emprégo; (ii) um exercicio econométrico visando a testar inceiros para o estimulo is Nota da Resacio — Daw E. Goomens possui w doutorado em Beonoria pela Universidade de Galifirnia, Berkeley, atuatinente © econonista “senior” da IPEAJINPES dentro do. programa de assténcia tecnica da Fundagio Ford — IEA, JOvO F, Frances Sena possui 0 mestrado pelo Instituto de Pesquisas Feo imicar da CSP, fox parte do quadvo de eronomistas do. TPPA/INPES. Rowxnro CaYALeANT! BF ALMUQHENQLE possui o mestrady pele Universidade de Columbia. Quando da realisacha deste trabatho facia. parte do quadro de economistes “serio do IPEAJINPES, Atualmente ¢ Superintendente de Consetho de. De. senvolvimento de Pemamburo (CONDEPE) « profeser da Universidade Federat de Pernanibnco eee eee ne Pex, Plan, Rio de Jancivo, 1329385 eer 1971 i a a hipStese segundo a qual a escolha de tecnologias reage a mudan- Gs nos pregos relatives dos fatéres de produgo, feito através da cstimagao de fungdes de produgio GES, a partir de dados dos no- vos projetos industriais aprovados para a regio entre 1962 € 1970, (ix) uma indagacio sbbre as implicagées de politica de industria. lizagio decorrentes 2. © mecanismo dos incentivos fiscais © conjunto de incentives fiscais ¢ financeiros orientados para 0 de- senvolvimento das atividades diretamente produtivas no Nordeste s0 Pesquisa ¢ Plonejamento original até hit poucas meses, quando duas iniciativas decorrentes «ly politica nacional de desenvolvimento — o Programa de Ince gragio Nacional (PIN) ¢ 0 PROTERRA4, vieram nio stmente rmodificarthe a estrutura mas, também, reduzir-lhe significativamen- te a importaneia Com efeito, durante os anos fiseais de 1971/74, 30% das dedugdes Ado impésto de renda das peswoas juridicas deverio ser automatica- mente apropriados pelo PIN ¢, durante © periodo 1972/76, mais 20%, esses recursos serdo destinados ao PROTERRA. Varificasc, por tanto, que, pelo menos entre 1972 ¢ 1974, as pessous jurfdieas di pordo de apenas 25% do total de suas obrigagées wibutdrias para coin © impdsto de renda para aplicagées alternativas em investi mentos privados, seja no Nordeste, seja nas outras regides © setores de atividade beneticiados. Essas modificagoes certamente resultario » i¢io do fluxo de recursos, inicialmente depositades no Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB), c orientados para o fi iamento de investimentos privados na regio, Porém as con seqtiéncias dessa reducio nio interessam aos objetivos déste estudo, ‘que considera apenas os investimentos industriais aprovados pela SUDENE € financiados pelo 34/18 no periodo anterior a 1971 Os depositos do 34/18 utilizadoy no financiamento de investimen- tos industriais localizados no Nordeste devem necessiriamente cons: virse a contrapartida de recursos préprios carreados para 0 em- preendimento, Sua participagio relativa & determinada pela SUDENE, de acordio com um sistema de avaliagéo que atr aimero dado de pontos a cada projeto, e cujo objetivo & classificé-lo com vistas as prioridades regionais de desenvolvimento. A emprésa bbeneficiada compete a captayio dos recursos do 34/18, nos Fimites efinidos pela SUDENE, 0 que € geralmente feito através de parti sipagio no capital social, sob a forma de ages preferenciais, incon- versiveis © sem direito a voto. As nevessidades de eaptagio propi- 4 Decreto-Let m9 1.105, de 16 de junhe de 1970 (PIN) ¢ Deceto-Lei vie: ro 1.17%, de 6 de jbo de 1971 (Programa de Redistribuigia de Tervas © de Fatimulo & Agreindistria do Norte ¢ do Nordese — PROTERRA). 5 Para uma descrigto detalhada dor incentivoe fica ¢ financetes adminis lrados pela SUDENE. no Nordeste, ver MINTER-SUDENE, Dept? de Industia Industrialivegdo do Nordeste 33 ciaram 0 desenvolvimento de um mercado de capitais frowxamen- te organizado ¢ com tendéncias especulativas, onde corretores au tGnomios e emprésas de consultoria desempenham, a0 lado do sis: tema financeito institucionalizado, fungBes de intermediagio, Mer- ado, de resto, aberto a neyociagdes diretas entre depositantes © be- neficidrios, e cuja condicio restitiva fundamental é, do lado da de manda, 0 limite de recursos a mobilizar por projeto, deverminado pela SUDENE, e, do lado da oferta, a disponibilidade de fundos de- positados no BNB. ‘Um segundo € poderoso incentive pura os investimentos no Nor- deste — componente importante da politica regional de desenvolvi- mento — sio os financiamentos de longo prazo concedidos pelo ENB pata os projetos aprovados pela SUDENE. Aquéle banco pode financiar, com recurios domésticas ou externos, até 50%, do total das inversécs contempladas em cada empreendimento, Bsses recursos, anteriormente a 1969, eram aplicados mediante juros no nis da ordem de 12% a0 ano, ¢ comissdes de 8%, 0 que equi- valia a juros reais fortemente negatives, dados os indices de inf Glo prevalecentes. Considerandose cssas possibilidades de financiamento, o princi pat estfmulo aos investimentos privados na regio decorre das re- dugées obtidas no montante de recursos préprios ou eapital de riseo aportados ao projeto que chegam a atingir apenas os 125% do to tal das inversbes necessirias, na hipotese de Financiamento de 50% dielas pelo BNB e aplicacies do 34/18 equivalentes a 3 vézcs 0 total de recursos proprios da emprésa (faixa A de prioridade, de acirdo com o sistema de pontes adotado pela SUDENE, conforme se verd adiante) 3. Os fundamentos da politiea de industrializagio As diretrizes gerais da estratégia de desenvolvimento regional foram formuladas, inicialmente, no relat6rio do Grupo de ‘Trabalho para lisagto, “Regulamento das Incentivor Fsceis ¢ Finaneciros ~ Deereto 0 G4214 (U8 de argo de 1969)" € tambm “Tncentivos Riscas e Finaneciras pare 0 Nor deste” (Resite, 1968) se Pesquisa ¢ Planejamento © Desenvolvimento do Nordeste (GIDN), publicado em 1958.6 Em 1959, por solicitagio da Presidéncia da Repiblica, 0 GTDN des. dobrou essas diretrizes num plano de agio de govérne, que se cons tituiu © documento orientacor da politica de desenvolvimento ad ministrada pela SUDENE. * Na verdade, 0 estudo do GTDN conferiu & industilizagio um papel preponderante no conjunto de sugestées de politica de de- senvolvimento concebido para superar 0 subdesenvolvimento do Nordeste e as dispari erregionais de niveis de renda, Neste contexto, cabe considerar brevemente os objetivos sociais que o GTDN avés de um proceso acelerade de in. Gustrializagio. O que fundamenta 4 implantagio, na regio, de um miicleo auténomo de expansio industrial é a necessidade de diver- sificar as fontes de crescimento regional © de compensar a tencléncia a estagnagio das exportagdes de produtos primérios, consideradas histdricamente © fator dinmico do processo de desenvolvimento do Nordeste. Abstraindo as minGcias da andlise entio empreendida, podese mencionar que 0 GTDN postulou a criacio, na regio, de lum setor industrial moderno, diversilicado, verticalmente inteyrado, modelado no implantado no centrosul do Pais, e, como éste, capaz de crescimento autosustentado, Com efeito, 0 phino de agio que emergiu do documento recomenda, especificamente, politica de dusiriatizagio visando a (i) reorgunizacio e modernizagio das in. dustrias tradicionais, especialmente a téxtil; (ii) a instalagio de ndistrias de base”, inclusive de um “nicleo de industria siderdir- gica", estimulador dos géneros metalirgico e mecinico, € (iii) 0 desenvolvimemto sistemdtico de atividades produtivas voltadas para © aproveitamento das matérias primas regionais. ® laces slumbrow ati Além de propiciar mento, # industr Nordeste uma fonte auténoma de eresci lizagio cia entio vislumbrada como uma das s0- 6 GTDN, Consetho de De deste (tio de Janeiro, 1958." 1 GTDN, Conselho de Desenvolvimento, “Uma Politica de Desencot Econémico para o Novdeste, (Rio de Jancire, 1999)", Neste veo, ase docu € denominado de GTDN, ¢ as seleréncias teportam-se 4 sua segunda edito, pu blicada pela SUDENE, em 1967 2 GTDN, of cit, pp. #87 molvimento, “0 Diagndstico da Remomia de Xor dustriatizaio do Nordest 333 lugées para o grave problema do desemprégo. Com efeito, a urgente necessidade de acelerar a criagio de empregos na regio, de reduzir incidéncia endémica de subemprégo ¢ de moificar a estrutura cocupacional prevalecente, caracterizada por uma excessiva concen- tragio da miode-obra ocupada em atividades de baixa produtiv dade, & preocupacio permanente do documento produzido pelo GTDN. Afirmava o estudo que “a massa de subempregados que se acumula diaadia nas cidades nordestinas constitui, por si s6, um ‘enorme obsticulo a vencer em qualquer politica de desenvolvimen- to da regido”. F considerava, explicitamente, as necesidades de nipido desenvolvimento industrial e de absorcio de miodeobra como objetivos complementares e mituamente interligados. Ex- pressava, ainda, confianca inabalada na industrializagio como meio de se obter, concomitantemente, ampliagio do mercado de taba. Tho ¢ elevagio de sua produtividade econémica, ao referir que “a absorgao de grandes massas de mio-de-obra a um nivel alto de pro dutividade ... 6 é possivel com a instalaglo de indiistrias manu- faturciras”. °° Admitia, finalmente, que “durante muitos anos 0 esférco de industrializagio veri como objetivo reduzir o desempre- go disfarcado das zonas wbanas”, ! se bem que rejeitasse, firme- mente, a possibilidade de vir a industrializagio a absorver “as gran- des massas demograficas excecentes da zona semivirida”, 0 que, a gumenta, “seria desconhecer a natureza real do problema e sua am- plitude”, *® Propunha, portanto, encarar o problema regional de em: prégo simultincamente em duas frentes: “a industrializagio, para absorver os excedentes urbanos, ¢ o deslocamento da fronteira agri cola e a irrigagio das zonas dridas, para aumentar a disponibilidade de terras ariveis por homem ocupado na agricultura”. Constatase, assim, & luz do documento produzide em 1959, pelo GTDN, sua constante preocupagio com o problema do emprégo e a fungio que a estratégia de industrializagio, entio definida, deveria desempenhar na redugi0 do subemprégo urbano, 2 GIDN, op. cits p58. 10 GTDN, op. cit, p #3 (Grifo dov autores) MGTDN, op. city p. 54, 12 GTDN, op. cit. p. 54 13 GDN, of. cit. p. 54 sot Pesquisa ¢ Planejamento Ocorreu, no entanto, que, a despeito de ter a SUDENE, nos seus primeiros anos, endossado a orientacio da politica econdmicosocial concebida pelo GTDN, fatéres de natureza politica, financeira ¢ operacional, impediram o desenvolvimento dos programas de co- Ionizacio ¢ de irrigacio entdo propostos, cujo objetivo explicito era fo de absorver © excedente da fOrcade-trabatho agricola ¢ impedir sua migracio para os centros urbanos. Como resultado, a politica de industrializagio, de resto significativamente modificada, a partir mesmo de seus objetivos, com a emenda, proposta pelo Congreso Nacional, ao I Plano Diretor da SUDENE ¢ de que resultou 0 34/18, % passou a dominar todo o programa de desenvolvimento re- gional executado na década passada, © programa de industrializagéo eo emprégo urbano Podese medit a importancia do processo de industrializagio decor- rente do mecanismo do 34/18 considerandose o total dos investi- mentos aprovados pela SUDENE para 0 setor, nos anos sessenta. Com efeito, entre 1962 € 1970 (até abril), foram aprovados 448 novos projetos industriais para a regio, envolvendo inversdes totais da fordem de Cr§ 4421 milhdes, a precos de 1969 (equivalente a US§ 1.091 milhdes, 2 precos désse mesmo ano). Ademais, 138 emp sas regionais viram aprovados seus projetos de modemizagio e/ou ampliagio, envolvendo recursos totais da ordem de Cr§ 1.128 mi Indes (precos de 1969). A criagio de novos empregos diretos decor vente dos novos projetos monta aos 78,5 mil, no caso de pleno em. 1} © projeto de Lei do I Plano Ditetor da SUDENE, encaminhado 30 Com sresso Nacional, nfo contemplava 0 mecanismo de deduczo do impésto de renda ‘que dou origem ao “4/8, realtamie de emenda aprerentada na Chmara. dos Deputador. A inicativa se, de um lado, vsbilizou financeiramente © programa e industrialicagto da regido, de outro, intuedueiu distorcdes relevantes nos obje- tivos originiriamente vislumbrados pelo GTDN. 15 Consideraram-se apenas of projetos aprovados para a indistria de trans formacio ¢ 2 extrativa mineral, Foran excluidos aqueles projetor que baviam, até abril de 1970, encaminhado formalmente 4 SUDENE, comunicacfo de dese tncia de implantar, bem como on projetos agropecustior, de clecomunicagées © le producto de energia financiades com recurs do 34/18, Industriatzacto do Novdeste 385 prégo da capacidade de produgio projetada, Decorre dai que a re. lagio capital-trabatho € de cérca de Gr 60,18 mil por emprégo a criar, ou seja, de USS 14,86 mil, se bem que atinja, em alguns géne. 10s de inchistria de alta representatividade regional, niveis mais ele- vados (Cr$ 158,8 ¢ 108,5 mil para os géneros quimica e metaliirgica, responsiveis, respectivamente, por 26 ¢ 16% do total das inversées programadas para 05 novos projetos). De outra parte, a absorgio de mio-deobra prevista para os projetos de modernizacio/ampliagio € da ordem de Cr$ 33,6 mil, mas é preferivel considerar ésse dado ‘mais como uma estimativa do emprégo ali mantido pelo meca- nismo do $4/18 do que como uma contribuigio Kiquida 4 demanda regional por empregos. Observase, assim, que a despeito da importancia indiscutivel do programa de industrializagio regional, quer do ponto de vista do crescimento do produto setorial, quer no que diz respeito & diver sificagio ¢ complementaridade da sua estrutua produtiva, a sua contribuicio direta para a redugio do deficit de emprégo urbano ever ser exiremamente modesta Com efeito, os resultados preliminares do Genso Demogratico de 1970 revelaram que a populagio urbana do Nordeste creseeu, entre 1960 ¢ 1970, @ taxas acumulativas anuais de 4,5%, enquanto que a populagio total evoluiu, no mesmo periodo, a apenas 2,5% a0 ano. Se bem que a dlisparidade entre 0 erescimento populacional urbano total se tenha entio reduzido, se comparada com a da década ante- rior, & fora de diivida que as migragées rurais para as cidades estio modificando grandemente a distribuigio espacial da populagio regio- nal ¢, conseqiientemente, de sua forgadlestrabalho, Essas migracbes foram estimadas em cévea de 2,1 milhées para os anos sessenta, o que representa 28% da populagio urbana presente, em 1960.7 Concomitantemente, a populagto econdmicamente ativa (PEA) do setor urbano do Nordeste cresceu a taxas médias anuais de 4,0% entre 1960 ¢ 1970 (4.8% para o secundario e 8.7% para o terciétio) 16 Para uma andlise mais detalaada sshre assunto, vejase: Dasid B. Goodman Roberto Cavalcanti de Albuquerque, A Industrializarto do Nordeste, Folume 1: 4 Economia Regional, (MINIPLAN, IPEAJINPES, a ser publicade), Cap. 9. WT Ver David E, Goodman © Roberto Cavslaantl de Albuquerque, #p. city pp. 6061. 386 Pesquisa ¢ Planejamento Em térmos relativos, as atividades terciérias predominam na for- magio da demanda por emprégo, pois eram responsivels por 72%, do emprégo urbano em 1970 ¢ por 68% do aumento da PEA verifi- cado de 1960/70. (0s resultados obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostras de Domictlios (PNAD) para os siltimos trés trimestres de 1969 para o primeiro trimestre de 1970, revelam que o desemprégo ur- bano aberto € aparentemente baixo, situandose em tormo dos 8.1% da fércadetrabalho, 0 que equivaleria a cérca de 100 mil pessoas, se se consideram as estimativas da PEA produzidas pelo Genso De- rmografico de 1970. De outra parte, 2 PNAD também permite uma andlise da sub- ulilizagio do trabalho urbano que, se no se coaduma com esquemas tedricos rigorosos, propicia, pelo menos, uma medida emaplrica do sub- emprégo wrbano.}8 Nesse contexto, destacamse, inicialmente, duas categorias de subutilizagio do trabalho: a dos que trabalham fem tempo parcial e que indicam preferéncia por emprégo em tempo integral, ¢ os que, oeupando empregos em tempo integral, estavam — ‘quando da aplicagio da PNAD — trabalhando em tempo parcial. Est mase que cérea de 12% da freade-trabsalho urbana estavam encio subempregados. Com base no Censo Demografico de 1970, cal ceulase que essas duas categorias de subemprégo visivel cotrespon- dem a cérca de 884 mil empregados, sendo 0 subsetor de prestacio de servigos auténomos} 0 que presenta maiores indices, tanto relatives quanto absolutos, de subemprégo (15% de sua fOrcde- trabalho e cérca de 106 mil pessoas). Verificase, pottanto, que uma ‘medida agregada da subutilizagio do trabalho urbano combinando © desemprégo aberto com o subemprégo visivel — envolve 15% da PEA, isto 6 aproximadamente 484 mil pessoas, uma indicagio dos ganhos potenciais a atingirse pelo uso mais eficiente dos recursos humanos Aisponiveis no meio urbano da regio. ‘Também é possivel utilizarse a PNAD para uma estimativa do desemprégo disfargado no subsetor do tereidrio de prestagio de ser- 18. Sobre os problemas conceitunis © metedoldgices enftentados nessa andlive do subemprégo urbana, ver David E. Goodman e Roberto Cavaleautl de querque, op. eit, Cap, 3. Industriatzagda do Nodeste 37 vigos, se, desconsiderando 0 rigor teérico admitirse como subutili zados os trabalhadores que percebem menos de 50% do salirio mi nnimo vigente. Com efeito, éstes equivalem a cétca de 1/3 da PEA engajada no subsetor de prestagio de servicos, © a cérea de 8% da fGrgacdestrabalho urbana total Veriticase, portanto, que a subutilizagio do trabalho mo setor we bano da economia do Nordeste, da ordem de 1/5 da PEA e equi- valente, em 1970, a cétea de 785 mil pessoas ativas, permanece um srave problema social, a despeito do estirgo de desenvolvimento empreendido na década passada, A dimensio do problema, ¢ as perspectivas de continuas migragées rurais para as cidades, indicamn que as mecessidades de criagio de emprégo continuam sendo, nos anos setenta, tio cruciais quanto o eram em fins da década dos cin. qiienta, quando o GTDN tio claramente as diagnosticou, Na ver. dade, mantidas as tendéncias observadas entre 1960 ¢ 1970, as ati- vidades urbanas necessitario empregar na década dos setenta, 1,6 milhido de pessoas, que deverio somar PEA urbana, A magnitude dessa tarefa definese melhor quando se considera que 0 setor ur- bano da economia regional teria gerado nos anos sessenta, cérca de 1,0 milhio de empregos, e que a absorcio, nesta década, de 1,6 milho de trabalhadores apenas evitard um agravamento dos niveis absolutos de subutilizagio de miode-obra prevalecentes em 1970. De tudo isso se conclui, portanto, que, por frca da natureza in. tensivamente capitalizada do programa regional de industrializagio, feve éle uma importincia extremamente limitada para a solugio da ional de descmprégo e subemprégo urbano, 5. Escolha de tecnologia e custo dos fatéres de produgio 5.1. Natureza do problema Gabe indagar aqui se a alta imtensidade de capital observada no pro- cxsso de industrializagéo em desenvolvimento no Nordeste explica se, pelo menos parcialmente, pelo mecanisino de incentivos 2 ca pitalizagio, implicto no 84/18, ¢ se uma modificacio de pregos rela tivos dos facores de produgio disponiveis poderia alterar significa 8 Pesguise ¢ Plonejanento tivamente essa caracteristica. Tal investigagio — na verdade, o prin. cipal objetivo déste trabalho — apresenta, além de interésse pura mente académico, uma preocupagio de natureza mais pragmatica, ver que poderd eventualmente orientar uma redefinigio da po- litica de estimulos a implantagio, na regio, de novas atividades produtivas que contemple insirumentos mais eficazes para a conse. uso dos objetivos de maior e mais répida absorcio de mio-de obra. Certamente que 0s subsidios 20 capital concedios pelo sistema do 34/18 resultaram ser de grande eficiéncia para a implantacio, no Nordeste, de grande nimero de novos empreendimentos indus: trials, E certo também que ésse processo de industrializagao orien Lada diftilmente teria sido factivel, nos niveis em que se verificow, na auséncia dos poderosos estimulos que 0 4/18 oferece. O que, no entanto, se pretend € verificar em que medida a decisio empre sarial reagiria a uma mudanca mos precos dos fatdres de produgio e como esta afetaria a relagio capitaltrabalho. Isto é, até que ponto haveria possibilidade de substituigio entre os fatbres de producko considerados. Dito de outro modo, especulase se seria vidvel consi. erar © preco do capital e do trabalho como variveis pas :manipulagio pelos instrumentos de politica econdmica, com vistas a obierse uma combinagio de fatéres de produgio mais favoravel a0 uso do trabalho. eis de Interessa, portanto, explicar a escolha de tecnologias realizada pe- Jas novas indhistrias que se instalam no Nordeste através de hipétese segundo a qual a decisio empresarial responde 2 mudangas nos pre- 05 relatives dos fatdres, elegendo a técnica de produgio que ma- ximizem 0 lucro, dado o sistema de pregos relativos prevalecente, 5.2. O mecanismo de financiamento de projetos © sistema de pontos para determinacio do esquema de financiamen- to para os projetos industriais aprovados pela SUDENE considera 5 faixas de priotidade, correspondentes, cada uma delis, a niveis de participagio diferentes dos recursos do 34/18, Essas faixas de prio- vidade sio designadas pelas letras 4, B, C, D e E, equivalentes, res pectivamente, a uma participacio do 34/18 no financiamento das Industratizagdo do Nonteste 0 inversdes totais do projeto da ordem de 75, 60, 50, 40 e 30%, na auséncia de empréstimos 2 serem aportados 20 empreendimento, ?9 ©s critérios que definem 0 enquadramento do projeto em uma dada categoria constituem um sistema de pontos que atzibui pesos a uma série de caracteristicas da unidade produtiva a instalar-se. A ‘Tabela 1 apresenta o sistema vigente em 1969, resultame de modifi- cages introduzidas no que até entio existia. Vale mencionar que a varidvel que interessa aos propositos desta anillise é 0 esquema de inanciamemto definide para cada projeto e que, uma vez que se dispSe diretamente desta informagio, as alteragdes verificadas no sistema de pontos mio afecam os resultados apresentados. Os pontos atribuidos A capacidade de absorgio de _mio-deobra pelo empreendimento submetido & andlise por parte da SUDENE sio calculados através da formuk + 0,025 a, onde D, = mimero de vézes em que o maior salirio minimo vigente no Pais esta contido na relagio investimento total por emprégo direto crindo, ¢ E = mimeto de empregos diretos criados, Chamandose © investimento total de K, 0 niimero de empregos diretos criados de L ¢ o maior satirio minimo de w, a equagio (1), para um dado niimero de pontos Z, pode ser escrita: L 1.2501, = 0,025L = % @. Se, com eleito, fixarem-se valores para KJIL © para Z, a equagio (2) tem L como solugio.® E, admitindose que a relagio KZ reflete a 19 Ver, a respite, MINTER-SUDENE, Dept® de Induvrializcfo, Incentvos isean € Financeivor para 0 Nerdeste, op. it, p. 37 2 A formula (I) € 3 miencionada em Incentoar Fiseis e Finmnceirox fara 0 Nondeste, amesiormente ciiado, enquanto @) ¢, como fica vio do texto, uma ‘modificagéo meramente formal de (1). A intengfo dz reformulagio feita & tio mente deixar claro ume das conseyiéncias de formula utiliza pda SUDENE, 240 Pesquisa ¢ Plenejamento tecnologia utilizada, 0 que pretende ser um incentivo & absorgio de mdodeobra convertese em estimulo a grandes unidades produ- tivas, uma ver que & possivel obter-se © mesmo mimero de pontos para qualquer valor de K/L, desde que 0 tamanho do empreendi. mento, medide por L, nio seja fixado. Sistema de pontos para determinagio do esquema de financiamentos dos projetos industrinis aprovados pela SUDENE * Numero de Carecteristicas do Projeto pentar Arribuido Projeto de indistria produtora de bens de capital ow de bens inter- termediios bésicos 20 Projeto de indlstria de bens de consumo durivel ou de céxteis 10 Projetos que sulsticuam importagies provententes do exterior ou que estinem pelo menos 40% de sua produto 20 mereado exteno 10 Projetos que apresentem participacdo de hens produsidos no Noxdeste ros custos das matérias-primas materials secundsri superior a 90% 18 Projetos que apresentem partiipacio de bens produidos no Noxdeste nos cuss das matérias-primas e materaissecundariog superior 2 50% 10 Projtos localizdos nos Estados do Matankio, Fiaui © no Territrio ‘de Fernando de Noronha 2 Projeton loclizados nos Estades do Rio Grande do Norte ¢ Sergipe 20 Projetot loclizados nos Estados do Ceari, Paraiba, Alagost © Minas Gerais (area de juvisdicao da SUDENE) % Profetos que apreentem partcpagio da mfo-deobsa no valor agre- sido de pelo menos 25% 5 Projetos de seloclizacto jou modemagso de emprisas preexistentes de que decorra auntento da prodhutividade 5 Projetos de emprésas de capital aherto 5 Projetos que prevéem participacto do trabalho no reutiada finan a empresa 5 ‘+ Para outs erierios, sobrets 2 quaoto a absorcio de mtowte-obra, ver texto. Fonte: MINTER-SUDENE, Dept? de Industatizagéo, Tncentioor Fiscois « Pinanceivos para 0 Novdeste, (Recife, 196), Industriatzagto do Nordeste s Em decorréncia do somatério de pontos finalmente obtido, cada projeto € enguadrado em uma das cinco categorias mencionadas, de acérdo com os seguintes critérios: 50 pontos ou mais — categoria Az entre 40 € 50 pontos ~ categoria B; entre 30 e 40 pontos ~ categoria G; entre 25 ¢ 30 pontos — categoria D; menos de 25 pontos — catego ria E, Unidades industriais localizadas no Recife, em Salvador ¢ nos respectivos muniefpios limftrofes, tém a categoria B como teto para financiamento. Ao total de pontos obtides, a SUDENE, “conside- rando outros aspectos gerais de essencialidade, especialmente, dos bens a serem produzidos, as desvantagens decorrentes de fatdres lo cacionais, ¢ a disponibilidade de recursos dos Artigos 84 € 18", dlerd conceder até 10 pontos adicionais, ou dedusir até 15 0 custo do capital A remuneragio do capital considerada nos projetos elaborados para a SUDENE gira em tdrno dos 12% 20 ano e € geralmnte incluida nos custos fixes de produglo, Nao existe, porém, nenhuma responsa- bilidade efetiva, por parte da emprésa, quanto ao pagamento dos dividendos correspondentes, uma ver que os recursos do 34/18 sio normalmente aportados 20 projeto sob a forma de ages preferenciais, vos da sociedade is, Em muitos casos, os atos constit andnima que devera administrar o empreendimento estipwlam 0 mesmo tratamento, quanto a distribuigio de dividendos que excedam 20s I Oi, para as aces ordinrias © preferenciais. sees, entre outros fatéres, certamente terdo repercussées sbbre o grau de risco imputado. a0 projeto, tanto pelo empresirio que néle aplica recursos prip quanto pelos que detém fundos provenientes do 34/18. © prego do capital aplicado 20s projetos aprovados depende das participacdes relativas do capital proprio € de empréstimes e dos recur- 808 do 84/18 captados para o empreendimento. Sob éste aspecto, cabe distinguir dois mercados de capital que, no caso, coexistem: 0 de 1a no Pais, € 0 mercado capitais privados, que normalmente fun 21 MINTER SUDENE, Dept? de criros para 0 Nordeste, op. cit. p. AR wluseralizagto, Incentioos Fisenis © Pinan: ste Pesquisa ¢ Planejannento cativo e subvencionado criado pela instituigio dos incentives fiscais para aplicagio em areas ¢ setores de atividade especiticos. Dada a natureza peculiar do mercado do 34/18, podemos considerar que néle 0 custo do capital menor, pois que & subsidiado, Nesse con texto, substinigio de capital proprio ou de empréstine por re- cursos do $4/18 & sempre vantajosa. Ao empresirio, portanto, com- pete maximizar 0 seu uso, que, de resto, & limitado pelo sistema de pontos adotados pela SUDENE, conlorme se verificou anteriormente. A escolha de tecnologias Os projetos apresentados & SUDENE sio geralmente elaborados por escritérios especializados, conhecedores, tanto do sistema de pontos adotado, quanto das caracteristicas mais gerais do mecanismo de anilise © dos esquemas de financiamento oferecidos. Admitindose que éses projetistas funcionam como sombras técnicas dos empre- as solugdes que deverio, prevalecer nos projetos — podese considerar que se persegue, na sirios — ou que os empresirios hes indica sua elaboragio, uma maximizagdo intencional dos lucros. Mas, em que consiste essa maxi tedricamente, influenci Observase inicialmente, que os dados utilizados nesse estudo cor vagio? Quais as vi ss empresariais ? respondem as estimativas constantes dos projetos aprovados. Elas retratam, portanto, as expectativas econdmicas que os empresirios conferem i unidade produtiva a instalarse, que, certamente, nfo Slo de todo segnras, Além do mais, a claboragio de projetos pode conduzir & introdugio néle de certas distorges intencionais, que visam a ajustilos aos modelos de analise adotados pela SUDENE. No entanto, as expectativas conferidas aos valéres das variveis que aqui interessa analisar formamse de modo muito simples. O reco do capital, conforme visto, depende da composigio do finan. ciamento das inversSes totais, mais especificamente, da participagio relativa dos recursos decorrentes do 34/18. Essa participacso, por sua vez, decorre do nimero de pontos aprovado para o projeto pela SUDENE. © prego do trabalho, de outra parte, pode ser conside- Undustrialisapfo do Nordeste #8 ado dado, a0 admitirse que a principal variavel determinante do nivel dos salirios seja a localizagio da unidade produtiva, e que sua implantagio nio venha a alterar signiticativamente a demanda local por trabalho. Ademais, 0 marco institucional do salirio minimo pode ser tomado como alternativa de delimitagio, viesando na me- dida em que nfo reflewe diferengas qualitativas do fator uabalho, ou sua composicio por sexo, grupo etdrio ete, Os precos dos bens 4 produtir, bem como das matériaspprimas, materiais secundtios & outros insumos a serem utilizados, sfo fornecidos pelo mercado quan. do da elaboragio do projeto e, se bem que possam ocorrer variagées substanciais até que o projeto entre em funcionamento, nao ha como incorporar essa possibilidade aqui. O montante das inversées totais, a quantidade de miode-obra a ser utlizada, e 0 volume das matésias pprimas ¢ outros insumos naturalmente referem-e aos niveis de pro- duglo esperados. Na medida em que no sejam os mesmos atingidos = por deticiéncias wenicas, ou devide 2 problemas de comerciali- zagio ou de mercado — os valores admitidos para aquelas varidveis poderio ser diferentes dos projetados. Essa possibilidade é, também, desconsiderada neste estudo, mas suas conseqiiéncias nio slo pertur= badoras: conforme versed adiante, watase de hipétese util para a simplificacio, tedricamente permitida, do método de estimagio das fungdes de producto concebidas. Os Iucros, como em qualquer ati vidade produtiva, dependem fundamentalmente dos trés grupos de varidveis anteriormente referidos, quais sejam: as técnicas de pro- dugio, os precos dos fatdres e os precos dos bens a produzir. Ora, ésses dois siltimos so determinados a partir de informagies dispo- niveis, € mais ou menos imediatas. E se 0 objetivo & maximizar os Iucros, restam apenas dois graus de liberdade no processo de deci. io empresarial: © montante de recursos a ser obtido através do 84/18 eas técnicas de produ © total do Binanciamento com recursos 84/18 depend da faixa de prioridade em que 0 projeto vier a se situar ¢, conforme se observou, © sistema de pontos alotado ni especifica com muita precisio as caracteristicas do empreendimento que devem finalmente pre valecer. Na verdade, ce posse de algumas informagées mais ou menos imediatas — tipo de bem a produzir, localizagio, pavcela das maté rias-primas e materiais secundérios de procedéncia regional ete, — é an Pesquise ¢ Planejamento possivel saber -, com relative grau de precisio, em que faixa de prioridade seria o projeto enquadrado. A informagio quanto a0 custo do capital pode, portanto, ser conhecida anterionmente a ela: boragio do projeto, ou mesmo, de um estudo preliminar de viabili- dade, Esti, & verdade, sujeita a considerivel margem de é70, pois simente com 9 detalhamento do projeto — ou, para ser mais preciso, iplamtaglo ~ & que o prego do capital porie ser perfei- tamente determinado. Entrctanto, o limite superior do prego a ser jimputado a ésse fator pode ser conhecido com pouguissimas infor- magies, & o desenvolvimento do projeto somente poderd diminui-lo, desde que o sistema de por de pontos negativos, salvo no caso excepcional € improvavel de vir 2 SUDENE a exercer a prerrogativa de reduzirihe 0 niimero nor malmente obtido. 10s utilizado no considera « ocorréncia Resta, assim, ao empresirio a escolhia da tecnologia de produsio, Neste caso, se se admite 2 existéncia de uma fungi de producio comum 3s varias unidades de uma mesma industria ou seja uma fun: fo que represente as possibilidades de combinagio de fatbres a0 nivel de projetos — atendidas, naturalmente, as propriedades de- finidas pela teoria neoclissica — © © mesmo prego para os bens a Produzir, inferese, do préprio axioma de maximizagio, que x tec nologia a ser escolhida dependers do prego dos Latores produtivos, Io 6 as a idades que disponham de capital a mais baixo custo deverdo produir ucilizando-se de téenicas mais intensivas em cae pital do que aquelas que obtenham capital a pregas mais elevasdos. Esta é, com efeito, a hipdtese fundamental desta andlise A anilise econométrica que s¢ segue tem como objetivo explorar a possibilidade de uma modificagio na escolha de tecnologia por parce dos cmpresitios, como resultado de uma manipulagio dos pregos relatives dos fatdres, o que seria, em principio possivel, ja que pelo menos 0 prego do capital nos projetos da SUDENE de- pende dos critérios de concessio dos financiamentos. Colocado ste mareo genérico, procuratemos, além do mais, verificar em quais ra- mos de indiistria seria mais facil influenciar a decisio dos empre- stvios, de tal maneira que técnicas mais utilizadoras de mio-de-obra Induspiatizacto do Norteste oe foxsem empregadss. 2 Ainda com relagio a0 problema de escolha de téenicas um ponto deve ser, desde ji, enfaizado. Muitos outros ele rmentos, certamente, influenciario na selegio de tecnologia, alm dos Dpregos relativos. Sendo assim, a abordagem adotada neste trabalho rio pretende, de forma alguma, ser mais do que uma eontribuigio 4 anilise do problema. Questdes concermentes formulagio de uma cstratégia de crescimento para a regiio, tais como problemas de mereado, vantagens comparativas da regiio com relagio ao Centro- Sul, serio certamente fundamentais numa reformulagio do. pro bloma nordestino, O que se pretende aqui & tio simente, fornecer dios a estas abordagens mais abrangentes do mesmo problema, 5.5. Uma breve discussio sabre o problema de agrezagio ‘As fungSes de producio sio geralmente estimadas a partir de dados agregados, Utiliamse aqui, no cntanto, informagées de natureza microecondmica a0 nivel de projetos. Para que o sentida que se pretende conferir 20 modélo que se segue resulte perieitamente claro, vale examinar a téonica de agregagio de um ponto de vista cessencialmente metodoldgico. A ideia bisica em que, intuitivamente, se fundamenta a agroge Go é a de que o comportamento de um conjunto de elementos gua da uma relagio estivel com o desempenho individual de cada um déles, Em outras palavras, admitese que o comportamento do agre. gado decorre do das microunidades que 0 compiem, Muito embora tat ideéia seja plausivel, a agregacio acarreta problemas teéricos bastante complexes, Na verdade, 0 valor explicativo da teoria macroeconémica de- pende da vatidade dos teoremas da agregagio que, se comprovados, petmitem que se considere um dado conjunto de elementos como ‘inico, ¢ a extrapolagio, para 0 agregado, do que se constatar indi vidualmente. Essa passagem do nivel micro para o macroeconé: envolve, porém, — conforme se sabe — algumas dificuldades meto- 2 Unva exploragio sistemstica desta idéia vem endo felta 20 PEA desde algum tempo, sob 4 responsabilidade de E. Hacha, Nesta linha, podese entender ‘resultados agi obtiges como wma evidéncia da factibilidade de tal solucio, 6 Pesquisa ¢ Ploncjamento dologicas, que podem originarse: (i) a partir da agregagio de fatd- res heterogéncos; (il) ante certas impossibilidades Togicas de uma fungio agregada ou de simetria com sua interpretago microecond- mica; ¢ (ii) por questies puramente estatisticas. Permitase uma breve discusio de cada uma dessas dificuldades, mais atenta para a metodologia de trabalho a ser aqui posteriormente adotada, do que para a relevancia dos problemas suscitados, [A teoria econémica neoclissica 2 considera comumente dois fatd- es de producto homogéneos: capital e wabalho. Admite perfeita pre: visibilidade, © disponibilidade de capital desvinculada dos precos relativos e da distribuigio social da renda, Ora, sabese sobejamente cita hipétese — que a noo de homoge- — para referir apenas a prin cidade dos fatéres viola a mais comezinha observagdo casual, tanto tara o twabalho, quanto para o capital, F para que se possa val damente agrupar essas varidveis, deve sempre ovorrer que a taxa marginal de substituigio entre quaisquer delas, pertencentes a um certo grupo, seja funcio de outras variaveis da mesmo grupo, ¢ que seja também constante para um mesmo fator de produgao, Ademais, o problema da agregacio de fungdes de produgio ¢ ainda ais sério porque as condigdes analiticas necessérias & sua validade so extremamente restritivas. 4 Conforme demonstrou Klein, *5 nesse ponto complementado pela generalizacio de Nataf, % somente pode. se ter uma funcio de produgio agregada que seja aditivamente se- pardvel, om seja, que 0 seu produto venha a ser igual & soma dos 2 Vejase M, Ishaq, Nadir, “Some Approaches t0 the Theory and Measure ment of Total Factor Productivity: a Survey", Journal of Keonomie Literature Dex. 1970), pp. a 24 Tada a diseusso tedrica existente presupiee skim do mais a inexintcia ‘de efeitos externos. Apesar de sua importéncia indiseuivel nas economiss con temportneas & forge reconhecer que a tcoria nfo consgui incorporiclas, pelo wos de wma maneira operaclonal. Ver, a espe, Harvey Laibemscin, “Band wagon, Snob and Veblen Effects © W. G. Stubblebine, “Esternality”, Beonomica (novembro, 1902). pp. 3 © LR, Klein, “Macroeconomics and the Theory of Rational Behavior”, Beonometricn (Vol. 14, 1946) pp. 95-108 26 A. Natal, “Sur la Possbilité de Construction de Certaing Macromodsler, Beonometrica Vol. 25, 1950), pp. 282.24, Indystietzagdo do Novdeste Mr fatores que o determinam, £ sb possivel interpretar a fungio agre ada anilogamente is microfungies quando ela fOr construlda a partir de médias geométricas dos valbres individuais. Dat porque os ados macroecontmicos usualmente publicados — ¢ utilizados para cstimagdes — no preenchem tais requititox. Mais recenemente, Fisher?” demonsttou, de maneira so que parece definitiva, que a existéncia de uma fungio de producio agregada s6 € asseguradla em condig60s extremamente restritivas: as fungies de producio de firmas diferentes devem diferir entre si apenas por wma dilerenca técnica aumentadora de capital Além dos problemas levantados no Ambito puramente teérico, as ificuldades de estimagio das fungdes agregada de produgio também so. consideraveis.28 Com efeito, Theil? analisou a validade do ajustamento de uma fungio macroccondmica de valdres agregados ¢ conclui que, mesmo na hipétese de uma especificagio correta a0 nivel roecondmico, 08 pardimetros finalmente estimados sio viesados, ‘Convém, entretanto, notar que, como mostrou Zellner, na medida fem que se descarta 0 pressuposto de coeficientes fixos utilizados por ‘Theil e se aceitam modelos com coeficientes aleatérios, podese de- monstrar que, mantidas condigdes bastante semelhantes is usadas por Theil, nao existe nenhum viés na agregacio, Anda com relagio aos problemas de mensuracio, € oportuno re. referir a distincia que medeia entre as especificagies genéricas de. finidas na teoria da producto e as formas empiricamente testiveis. 27 EM. Fisher, “On the Evistence of Aggregate Production Functions” fo. ometriea (ontubio de 19S), pp. 558-578 2 Na sua cssica andlie dos problemas de estimagso em modelos agragado, Theil, (H. Theil), Lineor Aggregation of Economic Relationships (Amsterdam, North Holland Publishing Co, 1954) observa tantos problemas que chege 3 ‘oloear a pergunta: “Should not we abolish thee models altogether?” p. 180 ‘2H. Theil, op. eft 10 Ammold Zellner, “On the Aggregation Problem: A New Appioach t0 a Troublesome Problem", in Beononic Models — Estimation and Risk Pingran ming (New York: Springer Verlag, 1969) pp 865-75 1 Conforme observa Rodney Bell: “While the begining student sees ridge negative marginal products, aud initially increasing but eveptsally dim hishing returns to scale, the intermediate student may teat only bippothetic joquant maps, and the advanced student may see nothing but mean vals of p displaying constant elasticity of substitution" (A Symposinm on CES Production Me Pesquisa ¢ Planejamento A guisa de conclusio, entretanto, registrese que, malgrado. as restrigdes que se pode fazer as fungSes de produgio agregadas, as estimagies realizadas, alicercadas em bases to pouco solidas, pro. duzem geralmente bons resultados, se se aceitam os critérios esta icacho. Usticos como elementos de qu 5.6. Os preseupostos das fungées de produedo utilizadas SupSese, neste estudo das fungies de produgio decortentes dos novos: projetos industriais aprovados pela SUDENE, uma estrutura Igica comumente utilizada nas antlises de crosssection, Para o propésito do presente estudo, em lugar de industrias, serio utilizadas emprésas de uma mesma inchistria como unidades de and lise. Mais ainda, como se utilizam dados de projetos, cada um deéles representa tuma ponto da Fangio de producio ex-ante, que por defini

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