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No presente caso concreto, como há efetivamente indícios

de autoria em relação aos acusados, não há alternativa a não ser submetê-los a


julgamento perante o Tribunal do Júri.
Dentre estes consistentes indícios de autoria, podemos
citar o depoimento prestado pela testemunha Luciana Ferrari, a qual reside no
prédio defronte onde o crime foi praticado, onde a mesma relatou que logo após ir
para a cama, pôde ouvir de seu quarto uma discussão entre um homem e uma
mulher, cujo som provinha do prédio onde os réus residiam (como demonstram
as fotografias de fls. 2524, que compõem o laudo de reprodução simulada dos
fatos), ocasião em que percebeu que quem falava mais era a mulher, a qual
pronunciava diversos palavrões em voz alta, sendo que, momentos depois,
quando já instalada a movimentação de pessoas na parte frontal do Edifício
London, após a queda da menina Isabella, põde reconhecer novamente, com
absoluta segurança, aquela voz que teria ouvido instantes antes como sendo a
voz da co-ré Anna Jatobá (fls. 2008/2032), contrastando assim com a declaração
dos réus em seus interrogatórios em Juízo, no sentido de que não estiveram
juntos no apartamento antes da queda de Isabella e muito menos que teriam
discutido no apartamento antes dos fatos (fls. 1257/1262 e 1327/1511).

No mesmo sentido o teor do depoimento da testemunha


Waldir Rodrigues de Souza (fls. 2122/2135)
Além disso, as testemunhas Geralda Afonso Fernandes e
Antônio Lúcio Teixeira afirmaram em seus depoimentos que teriam ouvido gritos
de uma criança vindos dos andares superiores do Edifício London, onde a mesma
gritava a palavra "Papai" por diversas vezes (fls. 1961/1971 e 1972/2007), tendo o
primeiro interpretado aquele chamado como se estivesse pedindo para o paI
parar com alguma ação, enquanto que a segundo entendeu que a criança
estivesse chamando o pai para vir ajudá-la.
Foi confirmado também pelas testemunhas Paulo César
Colombo, Alexandre de Lucca e Benícia Maria Bronzati Fernandes a existéncia de
um histórico de desavenças entre o casal, compatível com o comportamento
atribuído aos réus na denúncia (fls. 1656/1681, 1684/1700 e 1865/1893),
reforçando assim as mesmas acusações neste sentido feitas pela mãe e pela avó
materna da vítima (fls. 1894/ 1958 e 2050/2077). Como se isso não bastasse, a prova
pericial produzida
pelos Srs. Peritos oficiais indicou que havia marca de solado de uma sandália no
lençol da cama existente próximo à janela, através da qual a vítima Isabella foi
defenestrada, cujas caracteristicas eram semelhantes àquela que o réu Alexandre
vestia no dia dos fatos (fls. 675/676, 681/682 e 737/747), além de mencionar a
presença de sujidades difusas na camiseta que o co-réu Alexandre usava na data
do crime, as quais, em tese, coincidiriam com o desenho da rede de proteção que
foi cortada no quarto por onde a vítima foi defenestrada (fls. 713/739).

Outrossim, se a participação .. da co-ré Anna Jatobá na


defenestração da vítima Isabella foi apenas na forma de auxílio moral ou se
chegou a concorrer materialmente para aquela conduta, tal questão deverá ser
debatida em Plenária e analisada pelo Conselho de Sentença, mesmo porque não
há testemunhas presenciais quanto a este fato, tratando-se de conclusões
decorrentes dos trabalhos periciais trazidos a estes autos e suas respectivas críticas.
Além disso, a prova pericial produzida nestes autos
demonstra que havia, sim, manchas de sangue já secas, recentes com relação à
data da ocorrência, parcialmente removidas por limpeza no apartamento do casal,
de onde a vítima Isabella foi defenestrada, inclusive na fralda encontrada no
interior de um balde em processo de lavagem (fls. 674 e 802), aliado ao fato de
que, ao menos por ora, não existem provas suficientemente seguras e
inquestionáveis que comprovem que uma outra pessoa, além do próprio casal,
tenha estado no referido apartamento no momento do crime, mas apenas
suspeitas neste sentido sustentadas pela Defesa em relação a várias pessoas.

Com efeito, ainda que não tenha sido identificado em


todas as amostras de sangue colhidas no local dos fatos, que se tratavam de
sangue proveniente da vítima - uma vez que há indícios também que houve
alteração da cena do crime, com remoção de parte do material hematóide, o
quedificultou sobremaneira a identificação da tipagem sanguínea - o fato é que a
cronologia do desenvolvimento dos fatos não permite acolher, de forma
suficientemente segura - ao menos não neste momento - a tese da Defesa no
sentido de que outra pessoa pudesse ter entrado ou se escondido no apartamento
e praticado o crime - mesmo porque há prova testemunhal que confirma a versão
de que houve uma discussão entre o casal dentro da residência, poucos
momentos antes da vítima ter sido defenestrada - para autorizar a impronúncia
dos rêus, como pretendido por seus Defensores, tratando-se, portanto, de matéria
a ser explorada pelas partes nos debates em Plenário na presença dos Srs.
Jurados.
Compete aSSIm ao E. Conselho de Sentença proceder a
uma análise mais aprofundada deste conjunto probatório, a fim de proferir um
juízo de valor sobre a tese sustentada pela Defesa de que o crime teria sido
praticado por um terceiro elemento, por ser vedado a este Juízo singular se
manifestar a este respeito no presente momento processual, o que não poderia
ser feito sem uma verificação detalhada da prova.

Por ora, a simples constatação superficial de que a prova


pericial aqui produzida, em consonância com os relatos apresentados por várias
das testemunhas, como apontado acima, já constitui um arcabouço suficiente
para autorizar a pronúncia dos réus.
Portanto, como se vê, não se mostrando possível afastar,
ao menos de plano, a acusação contida na denúncia de que a vítima, antes de ter
sido defenestrada pela janela do apartamento, teria sido agredida com um
instrumento contundente na testa, ainda em vida, posto que, em tese, a localização
daqueles vestigios de sangue dariam substrato a esta acusação,
apresenta-se realmente o caso de remeter o julgamento da causa ao Tribunal de
Júri, visto que somente aquele Tribunal Popular possui competência para descer
ao exame analítico das provas periciais contidas nos autos e emitir um juízo de
valor a respeito da ocorrência ou não daquela agressão que precedeu à
defenestração ou se se tratou de lesão decorrente da queda, como afirmam os
assistentes técnicos contratados pelos réus. (até a pagina 105)

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