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Pierre Lévy O QUE E O VIRTUAL? Traducdo de Paulo Neves editoralil34 Os computadores ¢ as redes digitais es- ho cada vex mais presentes em nosse cor d A Internet — rede mundial que inter, liga milhdes de computadores ¢ de usudrios — nao para de crescer em um ritmo vertigi- no. noso, ¢ incorporon a nosso vocabuki p dowinios da fies au esp desenvalvimento ¢ ound Javea que, hd pouces anos, fazla parte dos » cientifica: o ciberespaco al. Além disso, o constante 0 vir equipamentos e progra lagiio faz cam que seja , hojz, dara um usuario a sensagao tar em outra realidade, em uma realida- frescel, Maso que é, exaramence, esse virtual, do nados 4 sim nto se fala? Trata-se, claramente, de uma revolugde, Uma ale radical na forma de conceber ‘ofemps, o espago, ¢ mesmo os relacionamen- tos. Ora, frente a toda revolugao ha sempre dois grupos antagénicos que rapidamente se definem, Face ao processo de virtualizacao, qual agdo encentramos os “apocalipticos”, que temem. ur que veem nas ditimas mudangas uma pana ceia para os males da mundo. Pierre Lévy prapée, neste livro, uma ter ceira possibilidade: “enquante tal, a virtua io nao é nem boa, nem m4, nem neutra. Ela se apresenta como movimento mesmo do ‘devir o rerogénese — do huma- . Antes de temé-la, conden ta ou langar-se as cegas a ela, propanho que se faga 0 esfor- go de apreender, de pensar, de compreender cm toda a sua amplitude a virtualizagao”, Acreditanda que a virtualizagao exprime uma busca pela hominizagio, 6 autor come- ga desmontanda aquilo gue chama de “opo- si¢do Facil e enganosa entre real e virtual”. rabalhando conceites de outros a desrealizagao geral, ¢ os “integradas™, 0’ ou pensadores franceses contempordncos — ¢o- mo Gilles Deleuze ¢ Michel Serres —, busca analisar “um proceso de transformagao de colecdo TRANS Pierre Lévy O QUE E O VIRTUAL? editoral34 EBITORA 34 Edirora 34 Lida. _ Rua Hungria, 592, Jardim Enropa CEP O1455-000 Sio Paulo - SP Brasil Tel/Fax (11) 3811-677 nw edirorad4 con al, 1996 Paris, 1995 34 Lida. (edigao by © Edirions La Découve Copyright © Edito Onr'est-ce gute li F COSPIGURA EMA p}) QUALQUER POLHA DESTE LIVRO & arorecant 15 F PATHINONIMS BO ACTOR, APROPRIACAO INDEVIDA DOS DIRETTOS INTELECT co da Lingua Portug © Acordo Orrog esa. Edigao confor Titulo origina Ou'est-ce que le vi Ale uel? fico ¢ editoragio eletrOnica: Capa, projeta ¢ Bvacher & Malla Produgdo Gr rdffca Rewisio téen Carlos Irinet Costa jo - 1996 (9 Re y=. 2011 (2¢ Reimpressao - 2017) upresstes}, Caralogagdo na Fonte da Departamento Nacional do Livro (Fundagao Biblioteca Nacional, RJ, Brasil} Levy, Pierre, 1 Leey © QUE FO VIRTUAL? Introdugio . 1, 0 Que € A VIRTUALIZAGAG? O atual eo virtual... tees A atualizagao a... A virtualizagao.... Na&o estar presente: a virtual cio como éxodo... Navos espagas, novas velocidades., O efeita Moebius .. Reconstrugies ... Percepebes cece cecseeeneavesense Projegdes Revir O hipercorpo... Intensihcacdes Resplandecéncia voltas 3. A VIRTUALIZAGAO DO TEXTO A leitura, ou a atualizacdo do texto... Aescrita, oua virtualizacao da meméria \ digitalizagaa, on a porencializagao do TeXtO, sa ‘O hipertexto: virtualizagio do texto e virtualizagéo da leitura O ciberespacgo, ou a virwalizagdo do computador...... \ desterritorializagao do texte... Rumo a uma ressurgéncia da cultura do texto... 4. A VIRTUALIZAGAO DA ECONOMIA Uma ecenomia da desterritorializagao, wee tettaeetetsetees eens © caso das finangas .ccosscssseesssensseseneveseseeneneee W 15 16 iv 19 22 24 30 Informagia ¢ conhecimento: consume ndo destrutivo e apropr Desimaterializacao ou virrwalizags o que é uma informagao? agdo nao exclusiva. Dialética do real e do possivel.... O trabalho .. A virtualizacio do mercado. Economia do virtual e inteligéncia coletiva: AS TRES VIRTUALIZACOES QUE FIZERAM O HUMANO: A LINGUAGEM, A TECNICA E O CONTRALO © nascimento das lingnagens, ow a virtualizagio do presente, A técnica, ou a virtwalizagdo da aga0 wa. sei O contrato, ou a virtualizagio da violencia... ee Aarte, ou a virtualizagao da virtwalizagio seen: 6. AS OPERAGOES DA VIRTUALIZAGAG OU 0 TRIVIG ANTROPOLOGICO O trivie dos signos O trivie das coisas.. O trivie dos seres A gramatica, fundamento da virtualizagio A dialétiea e a retérica, apageu da virtualizacgao............-- 7, A VIRTUALIZAGAQ BA INTELIGENCIA E A CONSTITUIGAO DO SUFEITO A inteligéncia coletiva na inteligéncia pessoal: guagens, técnicas, instituicdes -....... Economias cognitivas. Maquinas darwinianas.. As quatro dimensdes da afetivi Sociedades pensantes. Caletivos humanos e sociedades de insetas. 56 59 60 62 67 81 86 stivagio do contexto partilhado ...... ex de Antcopia §. A VIRTUALIZACAQ DA INTELIGENCIA FE A CONSTITUICAO DO ORJETO © problema da inteligéncia coletiva No estadio. Presas, territérios, chefes e sujeitas Ferramentas, narrativas, caddveres..... O dinheiro, o capital. A comunidade cienti ica e seus Objetos... O ciberespago como objeto . © que é um objeto?. O objeto, o humane... 9, O QUADRIVIO ONTOLGGICO: A VIRTUALIZAGAO, UMA TRANSFORMAGAO ENTRE OUTRAS Os quatro modos de ser oc eternal AS QUALrO PASSABENS ree Misturas. Dualidade do acontecimento ¢ da substancia .......4.. Epilogo: Bem-vindos aos caminhos do virtual. cao bibliogréfica comentada 119 121 123 125 126 127 128 130 132 135 136 138 141 143 O QUE E O VIRTUAL? INTRODUCAO “O virtual possui uma plena re Gille Jade, enquanto virtual” Deleuze, Différence e répétition A vealidl virtual coxromg a realidade absoluta corrompe absolutamente” rs E Roy Ascott, Pri tromica 1985 Um movimento geral de virtualizagao afeta hoje nfio apenas a informagao e a comunicagao mas cambém os corpos, o fun- cionamento econémico, os quadros coletives da sensibilidade ow o exercicio da inteligéncia, A virtualizagao atinge mesmo as mo- dalidades do estar junto, a constituigao do “nds”: comunidades virtuais, empresas virtnais, democracia virtual... Embora a digita- lizagSo das mensagens e a extensao do ciberespago desempenhem um papel capital na mutagdo em curso, trata-se de uma onda de funde que ultrapassa amplamente a informatizagao. Deve-se temer uma desrealizagiio geral? Uma espécie de de- ere Jean Baudrillard? Estamos ameacados por um apocalipse cultural? Por uma aterrorizante saparecimento universal, como su implosao do espaco-tempo, como Paul Viritio amuncia ha varios anos? Este livre defende uma hipatese diferente, nao catastrofis- ta: entre as evolucées culturais em andamenio nesta virada do terceiro milénio — apesar de seus inegdveis aspectos sambrios ¢ tertiveis —, exprime-se uma busca da hominizagio, Certamente munca antes as mudangas das técnicas, da eco Ora, ou a ponta fina, da mutagao em curso. Enquante tal, a virtualizagio nado é nem nontia c dos costumes foram tio répidas ¢ descstabilizante a virtualizagdo constitui justamente a esséncia. nreoducie i boa, nem ma, nem neutra. Ela se apresenta como @ movimento mesmo do “devir outro” — ou heteragénese — do humano. An: tes de temé-ta, condend-ta on Jangar-se as cegas a ela, proponho que se faga a esforgo de apreender, de pensar, de compreender em toda a sua amplitude a virtualizacio. Como se vera ao longo deste livro, o virtual, rigorosd definida, tem somente uma pequena afinidade com o falso, o ilu mente sério ou o imaginario. Trata-se, ao contrario, de um modo de ser fecundo ¢ poderoso, que poe em joga processos de criagio, abre futuros, perfura pogos de sentido sob a platitude da presenga fi- sica imediata. Muitos filésofos — e ndo dos menores — ja trabalharam al, inclusiv ailles Deleuze ou Michel § sobre a nogao de virtu alguns pensadores franceses rres. Qual contemporiineos como port: ambigio da presente obra? E muito simples: nao me nto, J contentei em definir o virtual camo um modo de ser particular, quis também analisar e ilustrac ae processo de transformagdo de sant odo de ser nunt outro, De fato, este liveo estuda a virtuali- > virtual. A tradigdo filosdfica, até os trabalhos mais recentes, analisa a pas- zagao que retorna do real ou do arual em diregic sagem do possivel ao real ou do virtual ao atual. Nenhum estudo ainda, ao que eu saiba, analisou a transformagao inversa, em di- dao virtual, Ora, é precisamente esse retorno 4 montante que me parece caracteristico tanto do movimento de autacriagae que fez surgir a espécie humana quanto da transigdo cultural aceler- ada que vivemos hoje. © desafio deste livro é portanto triplo: filos6fica (@ conceito de virtualizagao}, antropoldgive ta re entre o processa de honiinizagao e a virtualizacao) e sociopoliti- cu (compreender a mu aga 0 contemporanea para poder atuar nela), Sobre este tiltime ponto, é preciso dizer que a altetnativa maior nao caloca em cena uma hesitagio grosseiramente alinha- vada entre o real eo virtual, ma uma escolha entre diver ante sas modalidades de virtualizagao, Mais que isso, devemos distine guir entre uma virtualizago em curso de invengaio, de um lado, e suas caricaturas alienantes, reificantes e desqualiticantes, de ou- 12 © que é 0 vir tro, Donde, a meu ver, a urgente necessidade de uma cartografia do virtual a qual responde este “compéndio de virtualiza No primeiro capitulo, “© que € a virtualizagio?”, define os dade ede virtualidade que serio utilizados a seguir, bem como as di- principais conceiros de realidade, de possibilidade, de atuali ferentes transformacées de um modo de ser em outro, Esse capi tulo € também a oportunidade de um comego de anilise da vir~ tualizagie propriamente dita, ¢ em par ticular da “desterritoria- Iizagao” ¢ ontros fendmenos espagotemparais estranhos que The so geralmente associados. Os trés capitulos seguintes dizem respeito a virtualizacio do corpo, do texto e da econontia, Os conceitos obtidas anterior mente so aqui explor dos em telagio a fendmenos contempo- neos ¢ permiitem analisar de maneira coerente a dinamica da mutagdo econdmica ¢ cultural em curso. O quinto capitulo analisa a hominizagae nos termos da teo- a lin- ria da virtualizacao: virtualizagio do presente imediato ps auagem, das atos fisicos pela técnica e da violéncia pelo contrato. Assim, apesar de sua brutalidade e de sua estranheza, a crise de civilizagdo que vivemos pode ser repensada na continuidade da aventura humana. O capitulo seis, “As operagdes da virtualizagao”, utiliza os materiais empiticos acumulados nos capitulos precedentes para par em evidéncia o micleo invariante de operagées elementares presentes em todos os processos de virtualizagao: 0s de uma gra méatica, de uma dialética ede uma retorica npliadas para abran- ger os fendmenos técnicos ¢ sociais. Ossétimo ec oitavo capitulos examinam “A virtualizagio da intcligéncia”. Apresentam 0 funcionamento tecnossacial da cog- nigdo segnindo uma diaktica da objetivagio da interivridade ¢ da subjetivacdo da exterioridade, dialética que veremos see tipica da virtualizagio, Esses capitulos desembocam em dois resultados prit coletiva em via de emergéneia nas redes de comunicacio digitais. ipais, Em primeiro lugar, uma visio renovada da juteligdireia Introdugao 3 construcdo de wm con A segui ito de objeto (mediador sosial, suporte técnico e né das operagées inrelectuais} que vem rematar a teoria da virtualizagio, © nono capitulo resume, cimentos adquiridos através da obra, e depois esboga o projeto ilidade do acontecimento rematiza ¢ relativiza os conhe- de uma flosofia capaz de acolher a e da substancia que serd examinada, em filigrana, ao longo de todo o trabalho. O epilogo, enfim, conclama a uma arte da virtualizagdo, a uma nova sensibilidade estétiea que, nestes tempos de grande des- territorializagao, faria de uma hospitalidade ampliada sua virtu- de cardinal 4 Og kL O QUE F A VIRTUALIZACAO? O ATUAL EO VIRTUAL Consideremos, para comegar, a oposigao facil e enganosa entre real ¢ virtual, No uso corrente, a palavea virtual € empre gada com frequéncia para significar a pura e simples auséncia de existéncia, a “realidade’ terial, uma supondo uma efetuagio 1 da ordem do “tenhe presenca tangivel. © real seria . enquanto o virtual seria da ordem do “teras”, ou da ilusdo, 6 que permite geralmente o uso de uma ironia facil para evocar as diversas for amas de virtualizagdo. Como veremos mais adiante, essa aborda- gem possui uma parte de verdade interessante, mas € evidente- lL. virtualis, derivado mente demasiado grosseira para fundar uma teoria ger A palavea virtual vern do latim medieva Na filosofia escolastica, € virtual o que existe em poténcia e nfo em ato. O virtual tende a por sua vez de virnts, forga, poténci atualizar-se, sem ter passado no entanto a concretizagao efetiva ou formal. A drvore esta virtuale! te presente na semente. Em termos rigorosamente filoséficos, 0 virtual no se opée ao real mas ao atual: virtualidad de scr diferentes. Aqui, cabe introduzir uma disting&o capital entre possivel 2 ¢ atualidade so apenas duas maneiras ¢ virtual que Gilles Deleuze trouxe a luz em Différence et répé- titiou.! © possivel jf esta todo constituide, mas permanece na 1 As rete s das obras citadas se encontram na biblic. grafla comentada ao final deste volume pp. 151-7) eias camp! que € a virtualizagao? 15 limbo. © possivel se realizard sem que nada mude em sua deter- minagio nem em sua natureza. E um real fantasmatico, latente. © possivel € exatamente como o real; sé Ihe falta a existéncin. A realizagdo de um possivel nav é uma ctiagdo, no sentido pleno do termo, pois a cr acdo implica também a produgia inovadora de uma ideia ou de uma forma, A difecenga entre possivel e real é, portanco, puramente ldgica Jé o virtual ndo se ape ao real, mas sim ao atual. Contraria- mente ao possivel, estatico ¢ jd constituido, o virtual € como o complexe problematico, o né-de tendéncias ou de forgas que acor- panha uma situagdo, um acontectmento, um objeto ou uma en- tidade qualquer, ¢ que chama um processo de resolucd da atua lizagdo. Esse complexo problemitico pertence & entidade consi- derada ¢ constitui inclusive uma de suas dimensdes maiores. O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar uma arvore. A semente “é” esse problema, mesmo que née seja somente isso. Isto significa que cla “conhece™ exatamente a forma da arvore que expandira finalmente sua folhagem acima dela, A partir das coergdes que Ihe sdo préprias, deverd inventé-la, coproduzita com as circuns dincias que encontrar Por unt lado, a entidade carrega e produz suas virtualidades: um Acontecimento, por exemplo, reorganiza uma problematica antetior ¢ € suscetivel de receber interpretagdes variadas, Por oi virtualid tro lado, 0 virtual constitai a entidade: as ades inerentes a um ser, sua prablemitica, o nd de tensdes, de coercies ¢ de Projetos que o animam, as questdes que o movem, sdio uma par te essencial de sua determinacao. Aat ALIZAGAG A atualizagao aparece entiio como a solucgo de um proble- ma, uma solugda que nao estava contida previamente no enuncia- do, A atualizagin é criagie, invengdo de uma forma a partir de uma configuracio dindmica de forgas ¢ de finalidades. Acontece is O que é a vir entio algo mais que a dotago de realidade a um possivel ou que uma escolha entre um conjunto predeterminado: uma produ o de qualidades novas, uma transformagao das ideias, um verda- deiro devir que alimenta de volta © virtual. Por exemplo, se a execucdo de um programa informatica, puramente ldgica, tem a ver com o par possivel/real, a interacio entre humanos e sistemas informaticos tem a ver com a dialética do virtual ¢ do atual, A montante, a redacdo de um programa, por exemple, tra- taum problema de modo original. Ca ja equipe de programado- res redefine e resolve diferentemente o problema ao qual é con- frontada. A jusante, a atualizagao do programa em situagio de utilizagao, por exemplo, num grupo de trabalho, desqualifica cer: tas campeténeias, faz emergir outros funcionamentos, desencadeia conflitos, desbloqueia situagées, instaura uma nova dindmica de cio... O programa contém uma virtualidade ga que 6 grupo — movido ele também por uma configuragao di- calabr de mudan- namica de tropismos ¢ coergdes — atualiza de mancira mais ou menos inventiva. © real assemelha-se ao possivel; em traca, 0 atual em nada sponde-the, se assemelha ao virtua A VIRTUALIZAGAO Compreende-se agora a diferenca entre a realizagao (ocor- réncia de um estado predefinida} a atualizagado (invengdo de uma solugdo exigida por um complexo problematico). Mas o que éa viriualizagda? Nao mais o virtual como mancira de ser, mas a virtualizacdio como dindmica. A virtaalicagio pode ser definida como a movimento inverso da atualizagaio, Consiste em uma pas- sagem do atual ao virtual, em uma “elevagae a potincia” da en- tidade considerada. A virtualizagio nao é uma desrealizagio (a transformagio de uma realidade num conjunte de possiveis), mas uma mutagio de identidade, um deslocamento do centro de gr © que éa virtualizagan? 7 vidade antoldgica do objeta considerada: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma “solugio”), a entidade passa a encontrar sua consisténcia essencial num campo proble- hvditico. Virtnalizar uma entidade qualquer consiste em deseobrir uma questao geral A qual ela se relaciona, em fazer mutar a enti- dade em diregio a essa interrog: de partida como resposta a uma questao particular. eem redefinir a atualidade Tomemes 6 caso, muito contemporaneo, da “virtualizagdo” de uma empresa, A organizagio classica reiine seus empregados fo mesmo prédio ou num conjunto de departamentos, Cada em- pregado ocupa um posto de trabalho precisamente situada e seu liveo de ponto especifica as horarias de trabalho, Uma empresa F irtual, em troca, serve-se principalmente do teletrabalho; tende a substituir a presenca fisica de seus empregados nos mesmos locais pela participacdo numa rede de comunicagio eletrénica ¢ pelo uso de recursos ¢ programas que Fa egam a cooperagao, Assim, a virtualizagao da empresa consiste sobretude em fazer das coordenadas espagotemporais do trabalho um problema sem- pre repensado ¢ nado uma solugio estavel, O centro de gravidade da organizagdo nao é mais um conjunto de departamentos, de postas de trabalho e de liveos de ponta, mas um processo de coor denaga espacotemporais da cole coordenadas a que redistribui sempre diferentemente as idade de trabalho ede cada um de sens membros em fungao de diversas exigéncias A atualizagao ia de um problema a uma solugio. A virtua- lizagio passa de uma solugio dada a um (outro) problema, Ela transforma a atualidade inicial em caso particular de uma proble matica mais geral, sobre a qual passa a ser colocada a énfase onta- légica. Com isso, a virtualizagdo fluidifica as distingdes instituida aumcenta os graus de liberdade, cria um vazio motor. Se a virtuali- saga fosse apenas a passagem de uma realidade a um conjunto de possiveis, seria desrealizante. Mas ela implica a mesma quantida- de de irreversibilidade em sens efeitos, de indererminagao em seu processo ¢ de invengao em seu esforgo quanto a atualizagao. A virtualizagae é um dos principais vetores da criagdo de realidade. 18 O que é 0 virtual? NAO ESTAR PRESENTE: A VIRTUALIZAGAG COMO ExoDO* Ar amos abordar agora uma de snas principais modalidades: ds ter definido a virtualizacéo no que ela tem de mais geral, o desprendimento do aqui ¢ agora, Come assitialamos no come- go, o senso comum faz do virtual, inapreensivel, o complementar do real, tangivel. Essa abordagem contém uma indicagio que nio se deve negligenciar: 0 virt naio esta ne”, A empresa virtual niio pode mais ser situada precisamente |, com muita frequéncia, pres Seus elementos siio ndmades, dispersos, e a pertinéncia de sua posigsio peogréfica decresceu muito. 0 defi- o abstrata que se Estar © texto aqui, no papel, ocupando uma pore sico, ou em alguma organizaga iza numa pluralidade de linguas, de verses, de edighes, de tipografias? Ora, um texto em particular passa a apresentar-se como aatualizagao de um bipertexto de suporte informatico. Este nida do espaca aqua Gltimo ocupa “virtualmente” todos os pontos da rede ao qual esta conectada a memoria digital onde se inscreve seu codigo? Ele s¢ estende até cada instalagdo de onde poderia ser capiado em alguns segundos? Claro que é possivel atribuir um enderego a um arquivo digital, Mas, nessa era de informagdes on-line, esse en- derego seria de qualquer modo transitério ¢ de pouca importan- cia, Desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas verses, de suas cépias ¢ de suas projegdes, desprovide de inércia * Nesta secdo, Pierre Lévy fax uma série de jogos de palavra com @ terme frat “Hi”. Se, por um fado, hi uma remissio explicita ao Duseier ; traduzide cm portugués po de Heid: ai” € traduzidy literalm: ral de texto em fran- em francés por um “érre-ki", por outro a constreyao g cfs € bastante coloquial. Para nao dificoltar a Ieitura desta secio, por tradusir “la” como “presenga”, termo mais adequade no comtesto. M: rivemas, contudo, a expressfo “ser-ai” na passagem em que a autor ei explicitamente o Dasei de Heidegger. (N. do T.) © que é a virmalizagio? Is habitante ubiquo do ciberespago, o hipertexto coutribui para produzir aqui e acoli acontecimentos de atualizagdo textual, de navegacao e de leitura. Somente estes acomtecimentos sao verda deiramente situados, Embora necessite de suportes fisicos pesa- dos paca subsistir ¢ atualizar-se, o imponderavel hipertexto nio possui um lugar, © livco de Michel Serres, Aflas, ilustra tema do virtual 1 meméria, © conhecinen- como “nio-presenga”. A imaginagia to, a religi donar a presenga muito antes da informatizagdo e das redes di m aban- » sda vetores de virtualizagdo que nos firer. gitais, Ao desenvolver esse tema, o autor de Arias leva adiante, indiretamente, uma palémica com a filosofia heideggeriana do “seam, “Ser-a® & a traduio literal do alemio Dasein que sig- nifica, em particular, existéncia no alemao floséfico classico e existéncia propriamente humana — ser um ser humano em Heidegger, Mas, precisamente, o fato de nao pertencer a nenhum lugar, de frequentar am espago nao designavel (onde ocorre conversagio telefénica?), de ocorrer apenas entre coisas clar mente situadas, on de nao estar somente “presente” (como toda Embora uma eti- ser pensante), nada dissa impede a existénc mologia nao prove nada, assinalemos que a palavra existir vert precisamente do latim sisteve, estar colocado, e do prefixo ex, fora de. Existir é estar presente ou abandonar uma presenca? Dasein ou existéncia? Tudo se passa como se o alemao sublinhas- se a atualizagao eo latim a virtualizagdo, Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma hase de afinidade por intermédio de sistemas de comu- micagdo telematicos. Seus membros ¢: a retmidos pelos mesmos nuicleos de interesses, pelos mesinos problemas: a geagratia, contin gente, nio é mais nem um ponto de partida, nem uma coergao, Apesar de “nio-presente”, essa conumidade esti reptera de paixdes e de projetos, de conflitos ¢ de amizades. Ela vive sem lugar de releréncia esrivel: em toda parte onde se encontrem seus membros move ~ouem parte alguma, A virtualizagio reinventa uma cultu- ra némade, nao por uma volta ao paleolitico nem As antigas eivili 20 © que € 9 virtwal? zacies de pastores, mas fazendo surgir um meio de interagdes so- ais onde as relagies se reconfiguram com um minimo de inércia. Quando uma pessoa, uma coletividade, unt ate, uma infor: magdo se virtualizam, eles se tornam “nio-presentes”, se de: territorializam. Uma espécie de desengate os separa do espaco fisico ou geografico ordinarios e da temporalidade do relégio do calendario, & verdade que nao sao toralmente independentes do espago-rempo de referéncia, uma vez que devem sempre se $s, agora insevir em suportes fisicos ¢ se atualizar aqui ou alhur ou mais tarde, No entanto, a virtualizagdo Ihes fez tomar a tan gente. Recortam o espaco-tempa classico apenas aqui ¢ ali, esca- pando a seus lugares communs “realistas”: ubiquidade, simultanei- dade, distribuicao irradiada ou massivamente paralela. A virtua- lizagdo submete a narrativa classica a uma prova rude: unidade de tempo sem unidade de lugar (gragas as interagdes em tempo real por redes eletrdnicas, As transmissiies ac vivo, aos sistemas de telepresenga), continuidade de agio apesar de uma duragio descontinua (como na comunicagdo por secretaria eletrénica ou por correio eletrénico). A sincconizacio substitui a unidade de lugar, ¢ a interconexao, a unidade de tempo, Mas, novamente, nem por isso o virtual é imagindrio, Ele produz efeitos, Embora néia se saiba onde, a canversaciia telefénica tem “lugar”, veremos de que maneira no capitulo seguinte, Embora nao se saiba quan do, comunicamo-nos efetivamente por réplicas interpastas na secretiria elecrénica, Os operadores mais desterritorializadas, mais desatretados de um enraizamento espacotemporal preciso, 0s co- letives mais virtualizados e virmalizantes do mundo contempo- Mineo sao os da teenociéncia, das finangas ¢ dos meios de commu nicagdo. $40 também os que estruturam a realidade social com mais forga, ¢ até com mais violéne! Fazer de uma cocrgde pesadamente atual {a da hora ¢ da geografia, no caso) uma variavel contingente tem a ver claramen- te com o remontar inventivo de uma “solugio” cfctiva cm diregao a uma problematica, e portanto com a virtualizagao no sentido definimos rigorosamente mai em que ima. Era portanto pre 21 visivel encontrar a desterritorializagio, a saida da ‘presen do agora” e do “isto” como uma das vias régias da virtualizacdo, Novos FSPacos, NOVAS VELOCIDADES Mas o mesma movimenta que torna contingente a espaco- “tempo ordinario abre novos meios de intetagao ¢ ritmo das cro- nologias inéditas, Antes de analisar essa propriedade capital da virtualizac3o, cabe-nos primeiramente evidenciar a pluralidade dos tempos ¢ dos espacos. Assim que a subjetividade, a significn- sao a pertinéncia encram em jogo, nao se pode mais consider uma tinica extensio ou uma cronologia uniforme, mas uma quan tidade de tipos de espacialidade e de duragao, Cada forma de vida inventa seat mundo (do microbio d érvore, da abelha ao elefante, da ostra A ave migratéri a} e, com esse mundo, um espaco e um tempo especificos. O universo cultural, peéprio aos humanos, estende ainda mais essa variabilidade dos espagos e das tempo: validades, Por exemplo, cada nove sistema de comunicagao ¢ de transporte modifica o sistema das proximidades praticas, isto é, © espago pertinente para as comunidades humanas. Quande se constroi uma rede ferrovidria, é como se aproximassemos fisica- mente as cidades ou regides conec adas pelos trilhas e afastasse- mos desse grupo as cidades nao conectadas. Mas, para os que no andam de trem, as antigas distineias ainda so wilidas, O mesmo se poderia dizer do automével, do transporte aéreo, de telefone ete, Cria-se, Portanto, uma situagao em que varios siste- mas de proximidades ¢ virios espagos praticos coexistem, De maneira andloga, diversos sistemas de registro ¢ de trans- miss&o {tradi¢ao oral, eserita, registro audiovisu: I, reces digitais) constraem ritmos, velocidades ou qualidades de histéria difer tes, Cada novo agenciamento, cada “maquina” tecnossacial acres: al, uma mui singular a uma espécie de trama eldstica ¢ complicada em que as celta um espago-tempo, uma cartografia espe &. tensGes se recobrem, se deformam ¢ se conectam, em que as tual? 22 Oqu duragdes se opdem, interfere ¢ se respondem. A multiplicagio contemporanea dos espagos faz de nés ndmades de um novo es- tile: em vez de seguirmos finhas de errancia ¢ de migragio dentro de uma extensao dada, saltamos de uma rede a outra, de um sis- tema de proximidade ao seguinte. Os espacos se metamorfosciam ¢ se bifurcam a nossos pés, forganda-nos a heteragénese. A virinalizagao por descanexao em relagdo a Win meio par- ticular nao comegou com o humano. Ela esta inscrita na prapria histéria da vida. Dos primeires unicelulares até as aves e mami- fei Reichholf, “espagos sempre mais vaste 48, 08 melhoramentos da locomog’o abriram, segundo Joseph ¢ possibilidades de exis- Reichholf, 1994, p. 222). A invengao de novas velocidades é o primeiro grau da vivo ais numeErasas aos ser téncia sempre t virtualizagio. Reichholf observ: cam através dos continentes nos periodas de férias, hoje em dia, é superior ao ntimero total de homens qu no momento das grandes invasdes” (Reichholf, 1994, p. 226}, A que “o nimero de pessoas que se deslo- se puseram a caminho aceleragdo das comunicagdes ¢ contemporanea de um enorme crescimento da mobilidade fisica. Trata-se na verdade da mesma onda de virtualizagao, © turisme é hoje a primeira iadiistria mun- dial em yolume de negécios. O peso econdmico das atividades que sustentam e manti infraestruturas, carburantes) é infinitamente superior ao que era na fungdo de locomogao fisica (veiculos, nos séculls passados. A multiplicagao dos meios de comunicagio ¢ © crescimento dos gastos com a comunicagao acabarao por ? Provavelinente niio, pais até aga- ra os dois crescimentos sempre foram paralelas. As pessoas que substituit a mobilidade fisi mais telefonam sio também as que mais encontram autras pes- soas em carne e asso. Repetimos: aumento da comunicagio ¢ generalizagao do transporte rapide participam do mesmo movi- mento de virtualizagiio da sociedade, da mesma tense em sair de uma “presenga”. A revolugio dos transportes complicou, encurtou e meta morfoseau o espago, mas isto evidentemente foi pago com im- B portantes degradacées do ambiente tradicional, Pot analogia com 05 problemas da locomogdo, devemos nos interrogar sabre preco a ser pago pela virtualizacaa infarmacional. Que carhuran te é queimado, sem que ainda sejamos capazes de contabiliz O que sofre desgaste © degradagio? Ha paisagens de dados de- vastadas? Aqui, © suporte final é subjetiva, Assim como a ecolo- -lo? Bld Opds a reciclagem e€ as tecnologias adap Jas aa desperdicio © 4 poluigéo, a ecologia humana deveré opor a aprendizagem permanente ¢ a valorizagio das competéncias 4 desqualificacao € ao actimulo de detritos humanos (aqueles que chamamos de xcluidos”) Retenhamas dessa meditaciio sobre a saida da “presenca que a virtualizagao nao se content em acelerar processas ja co- nhecidas, nem em colocar entre parénteses, ¢ até mesmo aniqui- lar, 0 tempo ou © espago, como pretende Paul Virilio. Ela inven- ta, no gast € no risco, velocidades qualitativamente novas, e¢ Pacos-tempos mutantes, O EFelro Morstus Além da desterritorializagdo, um outro carater é frequen: temente associado a virtualizaca agem do interior ao ex- feito: Machius’ -gistros: o das relagdes entre pr a pa terior e do exterior aa interior, Esse declina-se em varios vado ¢ publica, proprio ¢ comum, subjetivo e objetivo, mapa ¢ territério, autor ¢ leitor ete, Darei numerosos exemplos disso na continuagio deste livro mas, para oferecer des te agor. uma imagem, essa ideia pode ser ilustrada com 0 caso j4 evocado da virtulizagdio da empre © trabalhador classico tinha sue mesa de trabalho, Em tro. ca, o participante da empresa virtual compartilha um certo nit mero de recursos imobilidrios, mobilidrios ¢ programas com ou- tros empregados, Q membro da empresa habitual passava do espaco privado de seu domicilio ao espago piiblico do lugar de trabalho, Por contraste, o teletrabalhador transforma seu espaco © que é 0 virrual? privado em espaco publico e vice-versa. Embora o inverso seja geralmente mais verdadeira, ele consegue as vezes gerir segundo critérios puramente pessoais uma remporalidade piiblica. Os li mites nao sao mais dados, Os lugares e tempos se misturam. As fronteiras nitidas dao lugar a uma fractalizagio das repartiges. Sao as proprias nogdes de privado ¢ de piiblico que so questio- nadas. Prossigamos: falei de “membro” da empresa, o que supe uma atribuigao clara das relagdes de pertencimento, Ora, é pre cisamente isto que comega a criar problema, uma vez que entre o assalariacdo eldssico c contrato indeterminade, 0 assalariado com contrato determinado, o free lancer, o beneficidrie de med das sociais, o membro de uma empresa associada, on cliente ow fornecedora, o consultor esporddico, o independente fiel, todo encde-s um. coutinnne es E para cada ponto do coufirees, questio se recoloca a todo instante: para quem estou trabalhan do? Os sistemas interempresas de gestao eletrénica de documen- tos, assim como as grupos de projetos comuns a varias organiza- gGes, tecem com frequéncia ligaghes mais fortes entre coletivos oas pertencende off- mistos que as que unem passivamente pe cialmente & mesma entidade juridica. A mutualizagao dos recur sos, das informagées e das competéncias provoca claramente esse tipo de indecisde ou de indistingao ativa, esses circuitos de rever- 9 entre exterioridade ¢ interioridade. As coisas $6 téim limites claros no real. A virtualizacao, pas- sagem a prohlematica, deslocamento do ser para a questio, é alga que necessariamente poe em causa a identidade clissica, pensa- mento apoiado em definigdes, determinagdes, exclusdes, ir sci es e terceiras excluidos. Por isso a virtnalizacdo é sempre hetero _Con- yvém evidentemente nio confundir a heterogénese com seu con- génese, devir outro, pracesso de acolhimento da altecidad trario proximo ¢ ameagador, sua pior inimiga, a alienagaa, que eal”. eu caracterizaria como reificagdio, reducgde a coisa, ao ay Todas essas nogées vio ser desenvolvidas e ilustradas aos capitulas seguintes sobre casos concretos: as virtualizagaes contemporineas da corpo, do texto ¢ da econom a virtualizagdo? 2 A VIRTUALIZAGAQ DO CORPO RECONSTRUGOES Estamos ao mesino tempo aqui ¢ ld gragas as técnicas de comunicagao ¢ de telepresenca, Os equipamentos de visualizacaia médicos rornam transparente nossa interioridade organica. Os cnxertos € as préteses nos misturam aos outros € aos artefatos. No prolongamento das sabedorias do corpo e das artes antigas da alimentagao, inventamos hoje cer maneiras de nos constrain, de nos remodelar: dietétiea, body building, cirurgia plastica, Al- teramos no! »s metabolismos individuais por meio de deogas ou medicamentos, espéci 5 coleti de agentes fisiolégicos transcorporais ou ica descabre re- as... € a indtistria farmacéut screg gularmente novas moléculas ativas. A reproducao, a imunidade contra as doengas, a regulagao das emocdes, todas essas perfor mances classicamente privadas, tornam-se capacidades piiblic: s0- intercambidveis, externalizadas. Da socializagio das fungd maticas ao antocontrole dos afetos ou do humor pela biaquimi- ca industrial, nossa vida fisica e psiquica passa cada vez mais por uma “exterioridade” complicada na qual se misturam cireuitos institucionais ¢ tecnacientihcas. No final das contas, econdmicos a8 biotechologias nos fazem considerar as espécies atuais de plan tas ou de animais (c mesmo oa género humane) camo casos par- ticulares ¢ talvez contingentes no seio de um continini bioldgi- co yirtnal muito mais vasto ¢ ainda inexplorado. Como a das informagdes, dos conhecimentas, da economia ¢ da sociedade, a virtualizagio dos corpos que experimentamos hoje é uma nova etapa na aventura de autocriagdo que sustenta nossa espécie. A virtualizagio do corpo Pracercées Fstudemas agora algumas fungbes somiticas em detalhe pa- ra desmantar o funcionamento de processa cantemporanen de virtualizagao do corpo, Comecemos pela percepgio, cujo papel € trazer o mundo aqui, Essa funeao é claramente

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