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Controle da Administragao Publica 1029 de interceptagao telefénica produzida na aco penal, desde que autorizada pelo juiz.'"® No caso, deve considerar-se a idoneidade da prova ¢ a irradiacdo de seus efeitos: se 0 fato foi provado regularmente no proceso criminal, nada impedir4 seja provado, da mesma forma, no proceso administrativo. O que prevalece, entio, é a busca da verdade real Como nao hi o formalismo dos processos judiciais, pode o servidor compare- cer sozinho ou ser representado por advogado munido do necessério instrumento de procuragao. Essa fase de instrugao, apesar de estar mais a cargo da Administracio, hd de exigir a presenca do servidor acusado. E a amplitude da fase instrutéria que permite ~ j4 0 dissemos, mas cumpre reiterar pela relevancia do assunto ~ 0 recurso A prova emprestada, desde que obtida licitamente, como & o caso, v. g., da intercepta¢ao telefénica autorizada judicialmente em proceso criminal." Aliés, convém anotar que as exigéncias probatérias da Administracdo devem ser o menos possivel onerosas para 0 administrado.™ Na verdade, 0 intuito do processo reside, como jé se salientou, na busca da verdade material. Quanto 4 admissibilidade de provas ilicitas, veja-se o que observamos anteriormente no tépico relativo ao principio da verdade material. Ultimada a instrugao, é o momento de abrir a fase da defesa do servidor, fase essa em que poderd apresentar raz6es escritas e requerer novas provas, se as da instrugdo no tiverem sido suficientes para dar sustento a suas raz6es.!"" O que Ihe é vedado é tentar subverter a ordem do processo ou usar de artificios ilfcitos para tumultud-lo ou procrastiné-lo. Nao sendo verificada essa intengao, deve a comissao funcional permitir a producao de prova da forma mais ampla possivel, porque é essa a exigéncia do prin- cipio do contraditério e do devido processo legal. Neste passo, reafirmamos o que j4 foi dito anteriormente. A defesa e 0 acom- panhamento do processo podem ficar a cargo do préprio acusado, nao sendo exigfvel que se faca representar por advogado; a representaco, por conseguinte, retrata uma {faculdade conferida ao acusado." Alids, tal faculdade esta expressa no art. 32, IV, da Lei n® 9.784/1999, que regula o processo administrativo federal. Exigivel é apenas a presenga de defensor dativo, no caso de o acusado estar em lugar incerto e nao sabido, ou se houver revelia."* Assim, parece dissonante a doutrina que considera obrigatéria a constituiso de advogado." Da mesma forma, causa estranheza a posicao do ST] que considera obrigatéria, genericamente, a presenga de advagado no proceso administrati- M8 STJ, MS 16.146, Min. ELIANA CALMON, em 22.5.2013, 1 STE QO-Ing, 2.424, em 27.6.2007, ¢ STJ, MS 14.405, j. 26.5.2010. fa correta observacao de CRISTIANA FORTINI, MARIA FERNANDA P. DE CARVALHO PEREIRA ¢ ‘TATIANA MARTINS DA COSTA CAMARAO, em Processo administrativo, Comentarios & Lei n* 9.784/1999, Ed. Férum, 2008, p. 136. 1 Como bem consigna, ¢ com razo, MARIA SYLVIA DI PIETRO, o diteito de defesa jé se iniciara com a citagio do servidor para conhecer os termos da portaria e para acompanhar a producao da prova. Essa fase, denominada de defesa, indica apenas que agora o servidor vai poder oferecer razées escritas e pro- duzir sua prépria prova (ob. cit., p. 352) 1 Em abono de nossa opinio: MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, Dircito administrativo, cit., 19. ed., 2006, p. 608, e DIOGENES GASPARINI, Direito administrativo, cit., 11. ed., 2006, p. 934. 5 F como dispoe o art. 164, § 24, da Lei n® 8,112/1990 (Estatuto dos Servidores Federais). | ODETE MEDAUAR, Direito administrativo modern, cit., 8. ed., p. 365. 1030 Manual de Direito Administrative + Carvalho Filho vo. Trata-se de orientac4o que contraria a consagrada e, a nosso ver, acertada posicao da doutrina, pela qual é licito que o interessado assuma a sua prépria defesa ou, até mesmo, que renuncie ao processo administrativo para posterior recurso & via judicial. © Supremo Tribunal Federal, entretanto, adotando posi¢ao que se nos afigura inteiramente correta, recompés o bom direito ao deixar sumulado, de forma vinculante, que “a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar ndo ofende a Constituigao”.'S* Diante de tal entendimento, a defesa de acusado por advogado (capa- cidade postulatéria) somente se torna exigivel no processo judicial, foro, alias, em que a presenga do causidico se revela de fundamental importincia.’*” Diga-se, ainda, que, se 0 acusado no tiver qualquer interesse em defender-se no processo administrativo, seja por si, seja por meio de advogado, tera sempre a garantia de fazé-lo no processo judicial, porque é nesse sentido que dispée o art. 5°, XXXV, da CF, que consagra o principio do acesso a Justia. Conclufda essa fase, segue-se a do relatério, pega formal elaborada pela comis- so processante, na qual deve ficar descrito tudo 0 que ocorreu no processo, tal como ocorre na sentenca judicial. Descritos todos os elementos do proceso, a comissdo os analisard e firmard os fundamentos que levem a conclusdo opinativa. Em outras pa- lavras, a comissdo apenas opina, mas para tanto dever4 expor detalhadamente os fun- damentos de seu opinamento. Esses fundamentos so de suma importéncia, porque a autoridade deciséria, como habito, limita-se a acolher esses fundamentos e utiliz4-los como motivo de sua decisdo, seja para aplicar a san¢o ao servidor, seja para concluir que a hipétese nao é a de apenacao. A iiltima fase & a da decisao, em que a autoridade que tenha essa competéncia vai julgar 0 processo & luz dos elementos do relatério e dos contidos no préprio processo. Referido ato decisério, contudo, merece alguns comentarios. Em primeiro lugar, trata-se de ato administrativo, que, para ser vilido e eficaz, precisa estar dotado de todos os seus requisitos de validade (a competéncia, a forma, a finalidade, o objeto e o motivo). De- pois, é preciso considerar duas hipéteses distintas. Na primeira, a autoridade julgadora aceita todos os fundamentos e o opinamento da comissao processante, inclusive quanto 4 penalidade a ser aplicada. Nesse caso, quando 0 julgador acolhe o relatério em todos os seus termos e, para evitar a repeticdo de tudo 0 que dele consta, decide no sentido da aplicagao da san¢fo ao servidor, ou de sua absolvigao, 0 ato decisério terd como motivo os fundamentos do relatério e como objeto a punigao nele sugerida. Portanto, o ato tem motivo e tem objeto; o motivo, porém, é encontrado nos fundamentos do relatério, inteiramente acolhidos pelo julgador. Se o servidor quiser impugnar a validade desse ato, por alguma raziio de legalidade, deverd identificar alguns aspectos do ato dentro do préprio relatério. 155 simula 343, ST}: “E obrigatéria a presenca de advogado em todas as fases do processo administrative disciplinar”, 58 Simula Vinculante n® 5 (texto ao final do capitulo). Vide também RE 434.059-DE Rel. Min, GILMAR MENDES, em 7.5.2008. ° Contra, entendendo violado o principio do devido processo legal, vide MARCO ANTONIO PRAXEDES DE MORAES FILHO, em Stimula vinculante n? 5 do STF e o Sistema Processual Administrativo, na obra coletiva Processo administrative. Temas Polémicos da Lei n® 9.784/1999, Atlas, 2011, p. 181-182.

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