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Re LU en ney Sten tie we USCS eee tanto seus pares quanto desconhecidos, ¢ i reas ROU eth futuro, Quando pemnrived Li WP ro uaks SCC entre OTC arquitetura rd rs veer Pry nao oa edna Sern) Senay acters er acompanhar, e nem aay ULC Matti SO CER CR Gerd se formarem pela ETH (Escola Politécnica) de Zutique, onde tiveraim a ocasiao, jac no co Ee re yi pe Ue Cn en an roe Perce PSOE SOC COn CORE Cae he er bated RT SCOR UR eet eT ey tigotosa arquitetura do arma- ee eT ad CSCO TOR eet Tae EXCESS08, © que Pao Skid Pt be foi aquela deliberada CE Cn ae cer Pree uiaad Vals ead que a arquitetura recente parecia haver Ce om a ea de um atributo inalcangavel. O armazém POSE BCR cia: antes Pe RLU Oe Lance on nee ts Cog cos rete) Ue Re eRe eet] Stern crit) Ba oe BOSC Sc asc B irate Cin TT Tie ee Pe SSE OC Oom cnt emer ta) com ac) PPE en ioe Ro eC en eee OM eer rN CUT tic ORC inteligente do material, a madeira laminada, permitiu que na leve parede fossem intro- Pree son Osi SRC ete OCs Ces ocen TTC) CEN Ord solugao do especifico, a cornija, admitiu referéncias a historia: certo sabor arcaico — Pen ceo ert le Oar eSB Linc (Ae oR aah oem eee Men ce cate set de arquitetura contempordnea. O cansa¢o produzido pelo pés-modernismo, com toda aabsurda iconografia que tal movimento trouxe consigo, acabou encontrando o frescor prereset eo eect te a Ce We [eo eee eae eee tetera PTE uso oe on eT r Ce caps Melt re Ree Meat Cas Mem aCe Ree en ee Cary muitos artistas da segunda metade do século xx perseguiram, acreditando assim estar Beene eee td ete eee cae mC eee Oy esc ee any siete Mees RCC cm ee tOGn OM ery Patera te Waren Tm CM CeCe UROL ii Ser gt eae ee ees et Ree MO Cnt ee) maneira, ao ver estes primeiros edificios de Herzog & De Meuron (especialmente o do armazém para a Ricola) nado podemos deixar de pensar em Semper ¢ em um modo de Se none ner cee nn Ok Ce en kek eae ‘ura, portanto, como resultado ~ como estrutura visivel - de uma construgdo em que Dae a et ew CnC Oana #0 para a Ricola, em que a densidade dos elementos horizontais se produz segundo Meier rir te ee Tasca CR OR LO NR a os construtores do passado, que colocavam as pedras mais pesaday muro se encontrava com o chao. Nao é portato estranho que,na bars Ode se mantém como matriz, Herzog & De Meuron nos facam voltara ger Milo qa pelo arcaico, conciliando dessa maneira todos aqueles que acreditam ig necessita de novas bases. A histéria & qual Foucault se referia como senh 4 cultury xix deve ser ignorada, Tal captura do origindrio leva, por um lado, 4 or sey na até extremos onde ndo possamos mais falar em expressio,, por nM qual é natureza dos materiais, qual 0 seu potencial. O desenvolvimento dq a8 Herzog & De Meuron parece confirmé-lo. Alguns de seus projetos mais aa ra naturalmente nas adegas Dominus, em Napa Valley) exploram o potencil materiais, sem que tal exploragao reivindique a presenca da estrutura, Por gg. -me a dizer que a sua obra é, em primeiro lugar, uma celebracao da Materia, sendy forma somente 0 veiculo que a torna possivel. ? Essa importincia dada & matéria, aos materiais ~ ¢ a0 modo como s relay constru¢ao, por meio da técnica -, é responsavel pelo esquecimento: deliberado dq imagem, pelo abandono consciente de qualquer referéncia iconografica. Poderiamos inclusive falar em oposigao aberta e clara a tudo o que implica veleidade estilistica, Para Herzog & De Meuron a arquitetura aparece e se “deposita” em volumes sbbriose prismaticos, unidades minimas de atuagao capazes de permitir o trabalho do arquiteto, Se a arquitetura oferece seu melhor ao fazer com que os materiais consigam mostrar tudo aquilo de que so capazes, qualquer submiss4o a uma forma, seja ela imposta por uma linguagem ou por vontade simbélica, deve ser energicamente combatida. Pode-e, entao, dizer que Herzog & De Meuron ignoram a iconografia, renunciam & expressio,i comunicacao, com o intuito de recuperar para a arquitetura a gravidade da construgio e, conseqiientemente, uma descoberta prazerosa da condi¢ao substancial dos materiais. Bastaria pensar em projetos como o ja mencionado armazém para a Ricola,a casa de pedra, a torre de sinalizacao ferrovidria em Basiléia e as adegas Dominus ~ eu poderia ainda citar muitas outras obras. Diferentemente do que vimos em alguns projetos de Rem Koolhaas, nos quais percebemos certa obsessdo em encontrar uma forma sintéic capaz de atender a um programa e a um lugar, e em transformé-Ia em forma simbdlica em icone com valor territorial (penso no terminal intermodal de Lille por exemP°) Herzog & De Meuron parecem decididos, ao menos em uma fase central de sua carte a eliminar qualquer tentagao iconografica: a imagem nao existe, © substancial da as0* tetura € fazer os materiais falarem, e para isso bastam os volumes mais Sobre eles os arquitetos projetam as malhas e os tragados que possibilitam @ € que, em iltimo caso, podem ser considerados como 0 territério onde age a arquite Somente em alguns projetos mais recentes aparecem referéncias Para serem negadas, Penso aqui, como deduzirio aqueles ja balhos recentes destes arquitetos, em projetos como a Rudin Anegacao da iconografia trazia implicitamente a me : nterpretada c a ane pudesse ser ir iterp! ae como simples arteb; itament a0 “ qualquer arquitetura ‘ncontramos em sua obra “gestos Pessoais”: 4 ftarea 10 do indi: ‘duo, Po i860, ndo @ lo are vino naqueld que ViMOS ao falar de Gelyp oe . ‘ int de um Siza. Talvez tivessem aprendidg ia i rquiteto & suas obras. O éxito (ou, se quis a 16 a st Planta ndo tem a eatin, eet” Com Rossi a est ori Peet, ermos, a gi sio os elementos arquitetonicos primétios e primordiais. A apron amg, do desejo explicito dos arquitetos de resolver todos os A arquitetura, portanto, é vista aqui como expressao sintética dos problemas pela construgao e pelo uso. Luz, isolamento, ordem visi Lain ual etc, revelam-se ¢ : -omo - mulos ¢ incentivos para o trabalho do arquiteto. O fato de colocar-se no mom ua : ‘ ° = ent origindrio da construgao resulta naquilo que os antigos chamavam de arquitetura: ca candura ao confrontar uma obra, ao confrontar 4 construcao, é o que Ihes permite descobrir a eficiéncia dos nimeros, das séries e, em iiltima instancia, dos ritmos. Atu: uma realidade nao-conhecida, o arquitetura, dar vida aos materiais, que adquirem no cons- Sua natureza. Hoje Herzog & De Meuron sabem disso: fazem 0 possivel para que os materiais se expressem como Sd0, € ao fazé-lo des- cobrem novas propostas e novas maneiras de usé-los. Sao os materiais que possibilitam 0 surgimento das formas. No projeto para a Ricola, a natureza plana dos painéis de madeira ¢ responsavel pela textura da parede, e é ali que a construcio se revela como forma arquitetada. No projeto da igreja ortodoxa de Zurique antecipa-se o potencial do vidro tradicional. Na Blauen Haus (casa azul) em Oberwil, Suiga, os blocos de con- enquanto Mies vivia obcecado em depuraros meios de. tem ava para estabelecer uma linguagem universal e a trabal ei em satisfazer-se Com 0 especifico, i on pares precisas e bem definidas, as qu: Devemos, con. 1 além de situé-tos ng nstrUucio com os quaig ta, Herzog & De Mey. uitetura é uma Tesposta ; ‘als associam um mater com significado a ; terial igni agoes caso, € 0 procedimento alcanca sei 's melhores moment : i im ntos quando material éde fato ac a nas adegas Dominus. Porém, ge construgao sto ManiPulacos com o propdsito consciente d osama linguagem Ginica¢ exclusiva. Algo bem diferente do qu, Voltemos, entretanto, ao ponto inicial desta reflexao, 0 de: nao esta distante de algumas tendéncias artisticas recentes, Meuron foram apresentados como exemplo do que pode ser jista. Os artistas que, partindo) do; que fora chamado de arte ¢ dencia conhecida como minimalismo enfatizam o valor das formas mas simples e aspi- ram manifestar a encrpia contida em qualquer matéria, abandonando toda alusao tanto a representagao como a expressao pessoal. Desse modo, os minimalistas propdem um entendimento reflexivo da obra de arte, transferindo ao espectador todo juizo possivel e estabelecendo critérios estéticos semelhantes aqueles usados por Herzog & De Meuron em sua arquitetura. Os prismas com os quais a dupla inicia suas divagagoes arquite- tonicas nao estao muito afastados das propostas formais de artistas como Carl Andre ou Donald Judd. A admira¢ao que sempre sentiram por Helmut Federle nos ajuda a abordar seus gostos ¢ afinidades. Federle nao é um minimalista ao pé da letra, mas seu modo de ocupar o territorio da tela, que obriga o espectador a sentir-se incluido naque- Je mundo formal absorvente e s6brio, esta muito préximo da maneira como Herzog & De Meuron usam os materiais, quando os transformam em auténticos protagonistas de um mundo do qual nao é possivel nos sentirmos excluidos. Talvez nao possamos tragar um paralelo tao estreito entre Herzog & De Meuron eo minimalismo como o que levou os criticos a associar Le Corbusier ao cubismo, porém, devemos reconhecer que poucos arquitetos hoje sao tao sensiveis as propostas dos artistas plasticos como Herzog & De Meuron. Esta pode ser a ocasido para sugerir que, se alguma ajuda do mundo externo pode ser titi] para os arquitetos, as que provéem das experiéncias dos artistas plasticos parecem ser as mais adequadas. A relagao entre arguitetura e pintura abriu espago a um amplo campo critico, e pensar, portanto, que essa relacao pode ser estendida aos dias de hoje nao deixa de ser sedutor, e faz com que a obra de Herzog & De Meuron adquira um interesse além do estritamente disciplinar. Sua atitude nao é tao freqiiente, e bastaria pensar na obra do mais proximo, cronologi- camente falando, dos arquitetos que estamos analisando, Rem Koolhaas, para avaliar a bsolu © conereto, Sua arq aiverso em +08 materiais e os meios © néo cair na armadilha acontecia com Mies, Sejo de retorno a origem € por isso Herzog & De uma arquitetura minima- ‘Onceitual, chegaram a ten- pelos suigos, Embora devamos estabelecer relagdes entre 4 arquitetur a ‘as contemporineos (0s nomes de Andy Warhol ¢ David gat) le ),o arquiteto holandés nunca declarou dietamente a ua posigio tomada de Koolhaas e alguns artist vem imediatamente a memoria ada corrente estética, enquanto Herzog & De Meuron alud lem ebida pelos estilos plasticos contemporaneos, brigatério A importancia da atitude estética desses do 8 dois divida para com determin: freqitentemente d influéncia rec Porém, como contraponto ol arquitetos, devemos falar sobre o valor que sempre deram ao que podemos chamar de ~ ou, se quiserem, devemos reconhecer 0 quanto ha de pure compromisso profissional tho. O fato é que, desde o inicio de sua carreira, Herzog & De pragmatismo em seu trabal Meuron se fundamentaram na pratica da profissdo. Assim, devemos entender a sua apa- rigéo no cendrio internacional nao como resultado de uma agao proselitista surgida no meio académico (0 caso de Venturi, Eisenman, Rossi), nem da publicacao de um manifes- to atraente e provocativo: (Koolhaas), mas como 0 amplo reconhecimento de uma pratica profissional que comecou submetida as regras mais convencionais do jogo. O armazém para a Ricola nao é, como veremos, sua primeira obra. As que a precederam mostravam uma solidez e uma consisténcia que ja antecipavam a intensidade do que estava por vir. Essa consciéncia de seu trabalho como arquitetos praticantes, esse pragmatismo, permi- te-nos dizer que a obra de Herzog & De Meuron. esta fortemente enraizada na sociedade em que vivem, em seu pais, na Suica. Desde 0 inicio, seus projetos refletem alguns dos atributos e virtudes que acompanharam a arquitetura sui¢a no passado: respeito pelo jugar, atengao a escal, rigor e cuidado nos detalhes da construcao. A inevtivel compara- cao com a obra dos outros arquitetos analisados aqui obriga a reforgar em Her2og &De Meuron sua vontade de respeitar a condigao profissional, algo que os distancia das atitu- des mais radicais dos proclamados teéricos (Eisenman, Rossi, Koolhaas), dos que fizeram provocagdes sofisticadas (Gehry, Venturi inicial) ou ainda dos que seguiram 0 caminho arduo do trabalho profissional para serem reconhecidos (Stirling, Siza). Parece-me, portanto, haver sentido em incluir Herzog & De Meuron na cadeia ininterrupta de arquitetos suicos modernos - nomes como Karl Moser, Hans Ber- noulli ou O. R. Salvisberg, ou mesmo o heterodoxo e inquietante Hannes Meyer. A medida justa, a precisdo e o rigor sao qualidades que nos vém a mente quando se fala dessa arquitetura, e nao é dificil reconhecé-las nas obras de Herzog & De Meuron. Essas qualidades acompanham uma abordagem da arquitetura baseada na razio, cri- tério que, me parece, sempre pautou nossos arquitetos a0 estabelecer estratégias para projetar suas obras, Eles buscam (ou buscavam) o prisma minimo, capaz de prescindir de toda referéncia pessoal, embora isso nao fosse obsticulo para que ‘uma janela se incrustasse primorosamente numa parede de concreto (Antipodes, residéncia estu- dantil em Dijon), ou duas reticulas fossem sobrepostas por meio de uma deliciosa geometria (edificio de escritérios Suva, Basiléia). Essa atitude deliberadamente profs sional talvez explique a continua presenga da técnica em seu trabalho, resultando em ingulares. Preocupados com outras questées, 18 arquitetos cor ait 8 questdes, pouco: rem. 8 arquitetos cont 40 das técnicas na arquite- esforgo de responder a um ugao do pano de vidro: sua sm do vidro ¢ de gran contridam esse mesmo pragmatismo profissional que os faz explorar a sends rquitetura habitacionais, em que partiram de tipos c i jaque jnsisti no seu compromitac: com 0 pais e com a pratica profiad talvez ig correto estabelecer uma continuidade entre 0 racionalismo da arquitetura suica entreguerras e a arquitetura de Herzog & De Meuron. Desse modo, con- duiriamos mais od vez que, a parte a posicao critica que pode ser tomada ante os opositos da arquitetura de vanguarda w entreguerras, eles foram referéncia obriga- toria durante toda a segunda metade do século xx. Ha, no entanto, certa contradicao entre a atitude que parece advogar pela redesco- perta do elementar - que exige profundidade e poe a obra arquiteténica em evidéncia vp proisionalismo, que os leva a aceitar as encomendas mais diversas e competir no drastico mercado. Dito de outro modo, uma arquitetura com metas tao ambiciosas difi- “ammente convive com uma pritica profissional sempre disposta a aceitar as regras do jogoea entender que a repeticao é em certos momentos inevitavel. As obras de Herzog & De Meuron nem sempre atingiram no fim dos anos 1980 e durante os anos 1990 a inten- sidade que admirévamos em seus primeiros projetos. Em algumas delas percebemos vadlusive influéncias externas desnecessérias, que os levaram a compreender os edifcios como maquinas comunicadoras, fazendo-os, assim, perder aquela condigdo opaca e her- mética que tanto nos seduzia em obras do primeiro ciclo de sua carreira. Antecipando 0 que comentaremos nas imagens, devo dizer que algumas de suas obras, como 0 edificio suva,o centro esportivo Pfaffenholz, o novo pavilhao industrial da Ricola, a biblioteca da ers em Eberswalde, os projetos no campus da Universidade de Paris em Jussieu e 0 centro cultural em Blois, nem sempre merecerao uma opiniao favoravel. Em. todas essas obras e projetos, em que sempre est presente a sua capacidade profissional, o campo de acio do arquiteto se restringiu ao controle das fachadas, a definigao da pele do edificio: os materiais agora parecem ser usados somente para isso e perdeu-se a condigao estru- tural do sélido que tanto nos admirava em seus primeiros trabalhos. Felizmente, obras como as adegas Dominus sao a feliz, felicissima, excegao, € a elas dedicaremos atengao especial. Também nos deteremos noutros projetos que, ao buscar Novos ruMOs, demons- tram forte capacidade de autocritica, como a Rudin Haus, biblioteca da su Cottbus e © Centro Oscar Dominguez nas Palmas, Todos eles nos levam a contemplar o futuro da dbra de Herzog & De Meuron com o mesmo interesse despertado pelo comeco de sua carteira. Entdo, passemos, sem mais demora, 4 andlise de seu trabalho. esto atentos para a importancia da incorporag: a sto, Her208 & De Meuron merecem crédito pelo ema #0 crucial para a arquitetura hoje como a constr probit jo para 0 desenvolvimento de novas tecnologias perm ge conjuntos atizes 46> © sei no periodo 331 GB Na casa Plywood, SO set sua primeira obra, Herzog & De spectos mais elementares da construgao, Descol Meuron exploram os brem que con, truir implica, em primeiro lugar, a criagdo de um plano horizontal sobre o qual ; Nos movimentamos, coberto por outro plano, também horizontal, que nos Protege e picia o uso do espago entre ambos. Como em Mies, a casa de Herzog & De Titan, pressupde que erguer tim plano horizontal que nos fasta do cho daterra,éum gn inaugural auténtico, o momento definitivo que origina um processo de construcao, i vedacio se produz posteriormente, de maneira quase automatica, Existe a obsessay em estabelecer uma distingao clara e fundamental entre 0 solo e 0 construido, Os pai. néis de revestimento e o telhado, bem como a localizagao do plano horizontal do teo, transformam-se em elementos-chave da materialidade que engendra um edificio, Os painéis usados sao assim responsaveis pelas aberturas e portas. O espaco é algo neuteo ¢ inerte que se produz de um modo que poderia ser considerado como automético, Porém, apesar dessa vontade de obter 0 genérico, o universal, associando a arqui- tetura da casa a intervengdes que qualificamos como “gestos inaugurais’, Herzog & De Meuron sao sensiveis as condi¢Ges especificas presentes em qualquer construgao, Reconhecem assim a presenga de uma drvore e permitem que ela gere a inflexo que dinamiza a arquitetura - mas nao a ponto de pensar que a casa Plywood deva sua forma a circunsténcia. Ninguém consideraria esta casa como a conseqiiéncia daquela circunstancia especifica, a arvore. O que importava aos arquitetos era definir a cons- trucao, estabelecer um sistema capaz, em Ultimo caso, de englobar o especifico. Pensar a obra de Herzog & De Meuron como exemplo de uma arquitetura que parte da cir- cunstancia seria fazer uma interpretacdo errénea. Muito pelo contrario, é a busca do universal, do primério, 0 que parece preocupar os arquitetos desde esses momentos iniciais de sua carreira. {8D © gosto pela construgéo mais depurada é percebido nesta obra, 0 estiidio fotogr’- fico em Weil am Rhein (1981-82), onde a arquitetura dé a impressao de querer encon- trar seu fundamento na fungao: é possivel entender este edificio como uma gigantes- ca camera fotografica, em que as clarabdias fariam 0 papel do diafragma. Prestemos atengao a planta e ao cuidadoso exercicio de articulagaio que implica a passagem da construcdo existente ao atelié. Pode-se falar em “puritanismo funcionalista” a0 co templar uma obra como esta. BD 0 projeto deste armazém no complexo industrial da Ricola, em Laufen (1986-87), deu a dupla de arquitetos suigos a oportunidade de elaborar uma proposta radicals ® arquitetura vista como desdobramento visual da construgio, Nem a planta, nem ° corte, nem 0 conceito de espaco sdo as referencias deste trabalho. O-que conta ¢ tors! a construgao visivel, tangivel ~ que, aqui, centra-se no mais simples dos elementos ® Estudio fotogratico, Weil am Rhein, 198182 334 rede,0 que @ arquiteto manipula €a pele do vario gerado por uin retingulo, Cons. Paes disso, Herzog & De Meuron, depois de decidirem 5 diss, gig de madeira - exploram 0 modo de gerat uma f incis pai construid 3 i f con pegas horizontais que tém o efeito de dotar as supe as sistema de construgao jo com base no artificio de evidenciaras juntas dos paineis, revelando-as por meio de 3 . ficies de niimeros ¢ Pro- oes, pardmetros para 0 projeto, atributos dos quais a arquitetura robes, fe pews horizontais sugerem cera nostalgia pela espessuraeenve desde pera do passado. A manipulagdo da forma repetia dos p imposta pela construcao, cria trés intervalos definidos pela largura gm cada um, € 0 us0 de medidas diferentes gera um sentido de as falarem ritmo: construcao rigorosa,a mais pura tecnica, sempre se serviu, rgadura das pare. aingis de madeira, da faixa trabalhada cens4o que nos per- a leva-nos a recuperar nogdes ¢ conceitos que parecem sempre ter estado presentes na arquitetura, Uma observacao como esta sera reforcada ao comprovar que os trés intervalos crescentes, que definiram o ritmo ascendente citado, terminam numa cornija que, ine- yitavelmente, nos remete as construgées tradicionais de madeira. A exploragao de um possivel novo modo de trabalho com os painéis de madeira compensada parece entrar em confit com tum gesto antigo. A forma do edificio lembra as construgdes primi tivas de que todas as culturas se valeram para proteger o alimento que, esforco, era retirado da terra. A sofisticada parede que parece ser o objetivo derradeiro deste Projeto nasce do desejo explicito dos arquitetos de resolver todos os problemas ao mesmo tempo. A construgao adquire, assim, um nivel de generalidade que a transforma em algo abs- trato, nao especifico. Gostaria que prestassemos aten¢ao em um detalhe singular: 0 canto. Herzog & De Meuron nao se emendam; 0 canto nao Permite uma anilise do modo como se constréi um sélido. Para eles, est claro que o canto é simplesmente o encontro de dois planos diferentes: desse modo entao se produz o encontro das duas Paredes, e um detalhe bonito e inesperado surge. O imediatismo do gesto nos atrai ¢ se converte no emblema de todo o procedimento. Porém, na verdade, 0 gesto ndo é fortuito. Se compararmos a solugao dada 4 maquete, no canto sob o beiral, com a que {oi construida mais tarde, veremos como os arquitetos refinaram a solugao final do Projeto. Curiosamente, sua busca do elementar, seu desejo de obter como resultado a construcao essencial permitem que aparega 0 singular, 0 tinico, como acontece com este bonito armazém para a Ricola. Também é importante prestar atengdo no espaco intersticial inquietante produzido entre o armazém e o talude, Deve-se ainda reforgar © aproveitamento do encontro entre um elemento vulgar ~ uma porta - ¢ 0 episédio ue caracteriza esta obra; a parede de leves painéis de madeira compensada. com tanto @DNe casa de Pedra em Tavole (1982-88) 0 projeto parece centrar-se novamente na “nstrusao da parede, Os autores do projeto voltam a fazer da construgdo a substan- 335 cia de sua arquitetura. Aqui, ao explorar a alvenaria tratam de uma questig que recorrente ao longo de toda sua carreira - a relagdo entre a estrutura e a dag g. protagonista da obra. A estrutura é, neste caso, uma reticula de concreto, que tatane, construcio dos espagos internos ¢ ajuda também a conferir estabilidade na parede i vedagio é uma parede de pedra que aparenta ter sido construida em seco, sem rejun te, uma técnica existente desde o neolitico. A pedra parece prevalecer,¢ dirfamos q,, antecipando o que se daria em muitas de suas obras futuras, Herzog & De Meuron, conseguem fazer com que entendamos essa arquitetura como elogio do material com que se trabalha. Com uma atitude que eu me atreveria a qualificar de fenomenolggi eles nos fazem percebé-la como a mais pura manifestagao da pedra. Daf a estrutura de concreto quase desaparecer nas paredes externas, assumindo um papel duplo, amy. guo: por um lado, poderia ser vista como simples unido das superficies de pedra, que dela necessitam por uma questdo de estabilidade; por outro, é possivel perceber uma intengao bem diferente ao vé-la transformar numa cruz sutil, senhora do plano vertical, os quadrantes que definem a estrutura formal da superficie de pedra. Essa cruz, por sua vez, nos leva a falar sobre a planta. Estamos diante de uma planta hermética, em que nao ha nenhum rastro de movimento nem distingdes condicionadas pelo uso ~ questdes que, em tantas ocasi6es, determinam o tracado. A planta hermética ¢ mais uma prova da intengdo, demonstrada pela dupla suica, de que sua arquitetura adqui- ra.acondi¢ao de objeto abstrato: a casa de pedra pode ser vista, portanto, como um objeto construido silencioso, que oferece poucas pistas sobre suas virtudes instrumentais. Como no projeto para a Ricola, ao inserir uma abertura na parede formada pelos painéis de madeira ou ao receber uma marquise para proteger a drea de carga e des- carga, aqui também ha momentos em que se quebram as normas que os préprios arquitetos parecem impor: as janelas horizontais em extensdo observadas no andar superior sio uma prova dessas anomalias, que devemos entender como um alivio da rigidez produzida pelo cumprimento estrito das normas puritanas. Ou seja, as ano- malias sao, para Herzog & De Meuron, transgressdes das normas que ancoram suas construgdes no mundo circundante. {4D Embora nos possa parecer uma obra menos radical e de certa maneira ambigua este edificio de apartamentos na Hebelstrasse, em Basiléia (1987-88) 6, a meu ver, uma de suas realizag6es mais auspiciosas. Comecemos prestando atengdo na planta. Nin- guém deverd se surpreender se eu disser que ela segue uma estratégia inovadora. A ocupacdo de um patio interno num terreno que parece ainda manter a meméria da divisao da propriedade medieval fez com que os arquitetos insistissem numa estruture longitudinal rente a uma das paredes vizinhas. A planta das casas respeita essa decisio primeira e primordial. A habitagdo burguesa, onde prevalece 0 comodo como element to-chave, seja para acolher um uso (sala de jantar, estar) ou um individuo (dormitério), ry es 337 a sua expresso mais direta ao pres adquire aqui a indir de qualquer articulagao espacial ectar os cémodos com 0 mais simples do: s mecanismos, © corredor. Paralela a sistir na forma elementar da Ptoposta uém ousaria dizer que a Planta gera a introduz o incidente que entra em con- fito dialético com 0 alinhamento do telhado. Como na casa Plywood, 0 edificio na Hebelstrasse reforga o valor estrutural da construgao de planos horizontais, revelados no canto delicado que surge com tanta preciso diante das varandas, A escolha do material também aqui é crucial: dele resulta nao apenas o carater, mas também a apa- réncia, a materialidade que da vida & construcao. Assim vemos, entao, como 0 modo de construir resolve ao mesmo tempo cheios e vazios, painéis e janelas. Nesse caso, a madeira ~ do tipo mais ligado ao passado, 8 tradigdo artesanal - é usada nos pila. res torneados que se transformam em elementos-chave iconogrificos. A esses pilares aparentemente ambiguos 0 edificio de Hebelstrasse deve sua imagem. A eles também possivelmente se deve tal aspecto arcaico, primario, Primitivo e atemporal, certamente afastado dos estilos e modos que decidimos chamar de modernos. A casa parece ofe- recer, como em outras obras de Herzog & De Meuron, uma licéo genérica, universal, de como construir, ¢ € nessa condigao genérica que parece se encontrar com o passado, © que justifica nossa alusao ao arcaismo. E claro que esse sabor arcaico é neutralizado pelo modo como se manipula o plano horizontal superior, o telhado, Os arquitetos usam aqui uma liberdade extrema, afastando-se da exibicdo puritana de uma constru- 40 imaculada que ocorre no resto da casa, Talvez o encanto resida nessa incoeréncia. e con eco s ‘i Je, uma varanda continua da a impressao de in: ele, planimétrica. A planta ¢ lacénica, minima: ning. arquitetura. Apenas uma inflexao na fachada i GD Nesta obra, revela-se a disponibilidade profissional de Herzog & De Meuron. Nao se trata de um programa sofisticado: é apenas um prédio residencial numa esquina urbana, o edificio de apartamentos Schwitter, em Basiléia (1985-88), que deve aten- der a um setor de mercado mais amplo que o da Hebelstrasse. Como vimos, suas obras iniciais enfatizavam a construgao do plano horizontal. Agora, essa experiéncia € retomada e eles concebem o novo edificio como simples sobreposi¢ao de planos +horizontais. Mais uma vez, a definigo da arquitetura é confiada 4 vedagao, nesse caso (¢ antecipando outros projetos que logo veremos) de vidro. Como em Hebelstrasse, © contraste entre dois perfis - os perimetros da varanda e do interior das moradias ~ €0 responsavel pela forma do edificio, O encontro de opostos se encarrega daquilo a que chamamos de “arquitetura’, A dialética, pois, é aqui instrumento para que 0 proje- 10 seja uma realidade notavel: Le Corbusier, entre outros, foi um mestre na manipula- ‘s40 desse instrumento eficaz de criagdo de formas arquitetnicas. @B Aqui est4 mais um exemplo da versatilidade profissional de Herzog & De Meu- Ton, como 0 que acabamos de comentar, Mas, enquanto a planta dos apartamentos 339 Schwitter pode ser descrita como simplesmente Correta, 0 que a edificio de apartamentos em Sadiidts (1984-93) € mais sutit ee id opinido, a planta é a coisa mais certeita deste projeto, ¢ 6 contro Ma diferentes niveis, como bem se vé nD corte, gera um espago Mel, cante. A presenga do edificio na rua é confiada as persianas, te inte Perdem sua, de elementos tradicionais por conta do material utilizado ng ia fundido. Mas, apesar da boa intengdo dos arquitetos ao tentar reipens 8 tal licenga nao ecoa positivamente no design, e nao podemos dei, ‘et, falta da leveza e eficiéncia das persianas tradicionais. A i a texto ndo chega a produzir, aqui algo de valor:o edificio prescinde dy Om continuidade entre os edificios vizinhos, sem adquirit (devido ap ene 6H presenca que teria justificado a descontinuidade. 8teia) 5 OD A idéia de modificar formalmente uma planta que parece combecida eau remete as Siedlungen racionalistas ~ exercicio cuja origem reside nas = tipoldgicas ~ levou Herzog & De Meuron a explorar o alcance de Ses princpos nm, arquitetura de maior escala. O croqui do projeto do conjunto habitacional na Pies, gasse de Viena (1987-88/1989-92) ~ um desenho que Pretende ter valor guratnoe gy evoca artistas como Lucio Fontana ~ mostra como os arquitetos stavam conscientes dy terreno onde atuavam. Sua intervengao usa a geometria, e a simples Tuptura da orden, ortogonal pode exercer uma influéncia enorme no resultado. Desse modo,o queestns submetido a tirania da visao perspectiva no tragado ortogonal origir et forma em imagem unitéria, quando as casas sao inseridas em um arco, : as em partes que configuram um elemento de hierarquia superior. Es do conjunto como gesto unitario, que tem implicita uma omissio da faz com que o espago resista A visao perspectiva, o que certamente su substancial em relagao aos modelos em que se inspirou, Herzog & rimentam a eficdcia, em termos visuais, de intervengdes que p “minimas’, aludindo assim ao territério estético no qual eles desejam s Ao fazer essas consideragées, contudo, gostaria de assinalar recortes transversais que introduzem uma rede capilar de camin tionar 0 gesto decisivo dos tragos em forma de arco, Assim, Conjunto habitacional na Pilotengasse, Viena, 1987-88/1989-92 wt Igteja ortodoxa(prcieoh Zurique, 1989 3 Poe = i I 342 pusca de uma diversidade que fizesse o bairro perder aquela visag dade futura que animara Os construtores das Siedlungen. Talvez devamos consid 8 considerar esta experiéncia arquiteténica como um sintoma da mudanga dos tempos, fe i verterel » que fe: ideais socialistas se converterem em um novo credo socialdemocrata. ns” utopica de socie- Cronologicamente proximo a Pilotengasse, o depésito para locomotivas em Basi- iia (1989-95) permitiu a Herzog & De Meuron continuarem operando na grande es Ja. Série, repeticdo e continuidade so questoes inevitaveis na construgao e na ar elie tura.A vontade de associar forma e construgao evidencia-se nos elementos defeats monumentais com os quais se recolhe a luz na cobertura. Tais volumes enormes, me parecem querer celebrar a dimensao correspondente a arquitetura das infra-estruturas, resolvem a iluminagao da cobertura gigantesca, transformando-se, assim, em rettculas abstratas no espao que nos permitem, mais uma vez, lembrar os principios estéticos nos quais a arquitetura de Herzog & De Meuron se baseia. 0 aspecto geral remete a arquitetura das Siedlungen: seja para seres humanos ou locomotivas, a armazenagem resultaria na mesma forma. Contudo, em claro contraste com o que acontecia em Viena, aqui ja nao é necessaria a busca da diversidade que na Pilotengasse fazia as moradias parecerem camufladas, e os arquitetos entao se dedicam a conversio do utilitarismo do espago em experiéncia estética (ao menos para os iniciados). @D O projeto para uma igreja ortodoxa em Zurique (1989) é, a meu ver, uma de suas propostas mais bem-sucedidas. Pena que nao tenha sido construido! Comece- mos observando com quanta inteligéncia aproveita-se o desnivel existente entre as ruas para inscrever um diedro. Os dois planos do diedro formam as fachadas dos servicos auxiliares, enquanto no terceiro - o plano horizontal - ergue-se o prisma que define a igreja, apresentada como um sélido liberado de qualquer obrigag4o com 0s alinhamentos do terreno com o qual os arquitetos trabalham. Tal artificio faz com que a construgao pareca desligada, isenta, usufruindo de uma autonomia volumétrica explorada pelo projeto. Em suas enigmiticas transparéncias, o sélido austero anuncia um espaco interno complexo e sugestivo. A dupla utiliza com talento os espacos estabelecidos entre o sdlido transliicido eas Paredes do diedro, que devem ser entendidas como fundo onde se marcam as arestas definidoras do volume da igreja. Esta se apresenta majestosa, em sua escala reduzida, @ partir do plano inferior, e quase nao é vista quando caminhamos pela rua mais alta. O s6lido aparentemente minimo que acolhe o espago sacro é construido com uma Parede dupla de vidro que favorece a proposta de uma bela fachada, Diriamos i a intengao é que a igreja ortodoxa assuma, ao mesmo tempo, a espessura ao Tomanicos e a leye transparéncia do gotico. Assim, nao ¢ dificil imaginar um ne aére0, onde os sentimentos religiosos se associam a fantasia de um espago arel og nico que levita. Entretanto, se haviamos mencionado 0 gotico € 0 romanico ag falar sobre a construgo e 0 ambiente da igreja, devemos admitir também a presenca de certo bizantinismo, j4 que as imagens nos vidros remetem inevitavelmente aos Mosai. cos, € a verticalidade do espaco lembra as igrejas de Ravenna. Tudo é luz; a Matéria se dissolve na experiéncia luminosa. Herzog & De Meuron foram um dos primeiros a descobrir o valor que teria o vidro translicido para a arquitetura dos anos i990, 4 luz difusa que emana da propria parede seria, sem diivida, a protagonista dessa arqu. tetura, Teria sido o projeto de Koolhaas para a Biblioteca Nacional da Franca 9 sey modelo? As datas permitem que se estabelega uma relacao entre ambos 08 projetos @@ A referéncia a Koolhaas e a uma arquitetura em que prevalece a atividade parece adequada para falar sobre 0 centro cultural de Blois, de 1991. Nesse caso, a coeréncia da planta nao resulta em um volume sedutor: 0 projeto convencional da fachada nao & compensado pelas mensagens 4 la Jenny Holzer’ que os peitoris ativos das lajes pro- metem, O uso (e abuso, mais tarde) do edificio como emissor de mensagens fez com que elas perdessem a sua condicao de elementos urbanos provocadores. PD A conexao entre o minimalismo e a obra de Herzog & De Meuron fica evidente em obras como a galeria de arte Sammlung Goetz, em Munique (1989-92). Diriamos que os arquitetos no buscaram nada além de isolar uma porgao de espaco abstrato, puro, para que nele a obra de arte pudesse ser oferecida em todo seu esplendor. Porém, que aspecto deve ter essa atmosfera, como apresent-la? Ou, se preferirmos, como representar um ambiente inerte, neutro, capaz de acolher as artes plasticas do fim do século xx? Essa questao imediatamente obriga a formular mais uma: que aspecto terd 0 sdlido que a contiver? Desde o inicio de sua carreira, Herzog & De Meuron perseguiram com afinco a meta de transformar 0 sélido abstrato e genérico em edificio. Por causa da eterna ques- tao na arquitetura, de ter de pensar 0 interior e 0 exterior ao mesmo tempo, os sélidos minimos com que eles trabalham nao so volumes macicos impenetraveis. Seus volt- mes contam com um sistema de vazios que, neste caso, so criados pela sobreposigio de dois pisos quase idénticos, a julgar pelas dimensdes e a posigao das janelas, mas que se fragmentam de modo diferente para definir os espacos ocupados pela colegao Goetz Mais uma vez contam a proporgao, a medida e a construcdo da parede, e a presenga do arquiteto se reduz a definigdo delas. Deve-se ressaltar a presenga da janela em extensio (que s6 pode ser qualificada como janela por habito ou costume, pois a intengio dos arquitetos foi transformar uma porgdo das paredes que definem 0 espago publico num’ faixa continua da qual emana a luz). Tal continuidade da faixa iluminada leva a igno" 2 Jenny Holzer {1950-], artista conceitual americana conhecida por seus trabalhos com textos impress ‘em meios variados e expostos em espacos publicos. [W.6.] o canto, mecanismo que provoca uma alternancia inquietante entre vidro e mostrando também como se busca, aqui, a expressio da identida atender as fungoes estruturais que Ihes foram designadas hermética e opaca, concreto, ide dos materiais sem ‘a é, mais uma vez, A planta é,m = } indiferente a0 movimento, As passa- ; : ‘Omo perfuracoes inevitéveis que pos- sibilitam a movimenta¢ao de um espago ao outro, de um modo nao muito diferente daquele de uma passagem produzida por meio de um diaftagma - fenomeng que 05 fisicos chamam de osmose -, ou seja, nada a ver com os corredores tradicionais, Estamos diante de um corpo arquiteténico que de modo algum podemos chamar de organico. Os cortes esclarecem esse ponto e nos ajudam a apreciar 0 modo de utiliza- ao do espaco: os mecanismos estao quase sempre mais proximos da subdivisio que do agrupamento. Mais duas observaces. Uma diz respeito a planta: como acontecia na casa de pedra em Tavole, a divisdo dos espacos nao é feita por meio de elementos conhecidos, e procura-se sempre eliminar qualquer referéncia possivel a eles. Por isso, as paredes que materializam os diversos ambientes (salas) quase nao tém espessura, e nao se pode identificar nem montantes nem portas. A outra nos leva a acentuar ° quanto Herzog & De Meuron valorizam o modo como os materiais se “encontram’”. Isso lembra um arquiteto que, embora parega distante quanto a sensibilidade, no entanto est presente nesse aspecto tao importante: s6 poderia estar me referindo ao modo como Louis Kahn usa os materiais. gens que conectam os espacos so entendidas c @B De certo modo, podemos entender esta proposta para um complexo museolégico em Munique, de 1992, como extensao do projeto anterior, portanto, nao nos deteremos muito sobre ele. Destacaremos somente o cardter elementar da planta. A Pinacoteca de Leo von Klenze, em frente, é um edificio que valoriza os volumes seguindo crité- tios de composi¢ao os quais podemos chamar de classicos e que ignora o perimetro do solo onde se assenta. Aqui, ao contrario, Herzog & De Meuron propuseram um conjunto de edificios que enfatizam os limites do terreno ocupado e que descompdem a area segundo uma série de formas retangulares, cuja autonomia se faz sentir nos €spagos intersticiais que, sem duvida, teriam tido um papel definitivo na experiéncia arquiteténica deste projeto, caso tivesse sido construido. @B 0 profissionalismo de Herzog & De Meuron se revela mais uma vez neste edi cio de escritérios suva, em Basiléia (1988-93). Todo o interesse reside no desenvolvi- mento da fachada de vidro que agora deve assumir as caracteristicas exigidas por um programa convencional, O resultado é um edificio eficiente, no qual a exposigio cos clementos construidos determina o contetido estético, que por aa vez . nese’ ‘um minimalismo regido pela submissdo obrigatoria a certas condigdes bem das (isolamento térmico, protegao do sol etc.) or QD Herzog & De Meuron voltam a trabalhar, dez anos depois, para a Ricola ~ 9 cliente que permitiu seu reconhecimento em meados dos anos 1980 ~ em um ef. cio que desenvolve um programa semelhante: um pavilhdo industrial em Mathouse (1992-93). Embora haja pontos de contato na atitude em rela¢ao ao projeto ~ econ. tramos o mesmo pragmatismo nas plantas ¢ a mesma falta de preconceitos para introduzir novos usos dos materiais -, ha mais diferencas. Gostaria de referir-me g elas: se no primeiro projeto para a Ricola era possivel falar em arcaismo provocativo, a construcao como substancia da forma, neste segundg projeto é a exploragao do potencial dos materiais € dos procedimentos de construgao convencionais que parecia preocupar 0S arquitetos. O novo pavilhao para a Rico- a 6 usado como laboratério para explorar 0 quanto a serializagao industrial pode transformar-se em mecanismo que possibilita incorporar novamente a imagem, « iconografia, & arquitetura. Veremos, entdo, como um pano de vidro comum parece adquirir novo status ao incorporar & obra os materiais industriais, fazendo surgir um componente iconografico inesperado: os vidros serigrafados parecem fazer alu- sao, sem pudor algum, a ornamentacao perdida. A repeticao insistente de uma figura (embora plena de ressonancias arquitetonicas, a palmeta) nos remete a um artista como Andy Warhol e a uma de suas obsessdes, a busca pela expressao artistica na cultura de massa. Teria essa repentina intromissao do figurativo algo a ver como aparente interesse dos arquitetos em fazer com que a arquitetura industrializada nao perdesse alguns dos atributos da arquitetura antiga? Teria sido Warhol a fonte de inspiragdo para esta proposta? As perguntas ficam no ar. Digamos, entretanto, que se confia a repeti¢ao serigrafica o desejo de que a arquitetura dé testemunho de uma “vontade artistica’, embora os arquitetos nada fagam para ocultar a vulgaridade dos sistemas de construgao industrializada utilizados. baseando-se na condigao d {QW Novamente um exemplo da capacidade profissional de Herzog & De Meuron. Projetos como a Antipodes, em Dijon (1990-92), justificam evocar toda aquela pléiade de espléndidos arquitetos suicos da primeira metade do século xx: Salvisberg, Moser ¢ Bernoulli, jé mencionados aqui. Porém, ao contrario do que ocorreu no projet do SUVA ~ em que prevaleceu a eficiéncia, eclipsando os éxitos arquiteténicos -.0 de Dijon mostra como a estética minimalista de Herzog & De Meuron pode alcangar resultados inesperados quando realiza suas metas sem perder de vista 0 proposit estético radical. Em Dijon, o encontro radical da estrutura de concrete com oS mentos metilicos das janelas produz uma arquitetura que ¢ uma clara manifestagae do pragmatismo. Ao tornar sua fungao aparente, essa residéncia para estudantes S€ ‘move entre a arquitetura institucional e a privada, resultando numa construgle el qliente - ninguém duyidaria de que se trata de um edificio universitarioy solidao do individuo quanto a plenitude da vida social se manifestam. E tudo isso €™ Antipodes (rasidéncia para estudantes), Universidade de Bourgogne, Dijon, 1990-92 349 350 um exercicio de arquitetura para o qual seus autores parecem ter recorrido apenas a nas sintaxe da construgao € a0 volume de concreto ativado pelas janelas, é dificil estabelecer relagao imediata entre este projeto apresentado no con- curso de uma biblioteca para Jussieu (1993) e 0 centro cultural de Blois, Embora a planta tenha aspectos interessantes ~ curiosamente apresenta ressonancias do palicio Escorial -, nao me sinto entusiasmado por essas fachadas excessivas, nas quais perce- pemos a influéncia de um arquiteto cuja obra Herzog & De Meuron parecem admirar nnaqueles anos, Rem Koolhaas. Um edificio no qual se localizam os controles de uma estacao ferrovidria (um edificio hermético por natureza) é, sem duivida, uma ocasiao perfeita para projetar ‘um sélido em todo seu esplendor. Herzog & De Meuron assim o entenderam: a torre de sinalizacao da Basel Badischer Bahnhof (estagao ferrovidria de Basiléia), de 1994- 98, € como um gigantesco artefato que nos lembra daqueles transformadores elétri- cos que sempre assustam por suas dimensdes colossais. Como eles procederam para obter um resultado tao potente? Aceitam os dados de partida - a volumetria de um edificio convencional que acolhe os equipamentos ferrovidrios - e o recobrem com uma pele de cobre: trata-se de uma operacao clara de empacotamento; algo seme- Ihante aos aparelhos eletrodomésticos comuns. A torre de sinaliza¢ao é, assim, uma exaltacao do cobre. Esse material, geralmente usado para construir coberturas, passa a ter entao identidade prépria. Porém, aplicar uma pele de cobre a um sélido nao é uma operacao literal, suposta, prevista. Ao contrario, nao ha precedentes. Herzog & De Meuron agiram com a mesma sofisticag4o de sempre, e por isso as laminas sio produzidas seguindo um esquema em que o paralelismo prevalece, para logo admitir uma anomalia visual — produzida por um desvio sutil. O sélido revestido de barbatanas de cobre vibra, produzindo uma ilusao éptica que remete aos refle- xos de uma seda. Novamente a estética minimalista possibilita que Herzog & De Meuron explorem novas aparéncias dos sélidos construidos, o que os faz abrir uma porta a um territério até entio negado, o da iconografia arquitetOnica. Sua divida com o minimalismo evidencia-se mais uma vez. O sélido que Herzog & De Meuron transformaram em edificio deseja perder seu cardter como tal e exibir somente a condi¢éo material de um dos elementos da tabela periédica. Poderia a arquitetura reyelar of atributos do cobre? Essa é a tentativa dos dois arquitetos. Infelizmente, a0 anoitecer, as laminas deixam passar a luz das aberturas convencionais, perdendo-se assim 0 mistério daquele sélido enigmatico que espera 0 amanhecer de um novo dia Para voltar a ser 0 que era, Mas sempre fica viva na nossa retina a forga iconografica daquele volume inesperado, 361 (BD Sem davida as adegas Dominus (1995-97) valeriam como justificativa para afirmar que “o veiculo de expressao da arquitetura sao os materiais” O sélido elementar usado na obra de Herzog & De Meuron, o mais simples dos paralelepipedos, mais distants que arrogante, mais silencioso que loquaz, ¢ agora uma muralha cicl6picaformada por gabides de rocha. Como acabamos de ver na torre de sinalizagao da estacao de Basiléia, esta obra de arquitetura é uma simples exaltagao e celebragio da matéria. A matérig neste caso, prescinde da forma ~ a observagio feita sobre a iconografia na caixa dy sinalizagao nao se aplica aqui -, 0 que equivale a dizer que pode permanecer ausente e muda no meio, distante do contexto, Somente a matéria permanece, somente ela tem direito a expressio. Assim acontece neste projeto em que, sem duivida, a invencio do material é seu trago mais caracteristico. Para Herzog & De Meuron, como vimos, essa invengao marca o ponto culminante de sua carreira. A primeira vista, temos a impres- sao de deparar-nos com gabides comuns, os quais encontramos como elementos opa- cos consolidados em taludes, nunca como blocos translicidos, conforme aparecem aqui. Ao intuir essa condi¢ao translicida dos gabides, os arquitetos descobriram um novo material e merecem ser reconhecidos como inventores. Ao usar um material tao sedutor, seré que eles gostariam de recordar 0 valor da matéria priméria, o solo, para o crescimento da vida? Sera que de forma nostalgica usam as pedras das grutas e cavernas onde nossos antepassados instalaram suas primei- ras adegas? Pretendem mostrar que o edificio respira, que as pedras contidas, enjaula- das, garantem uma protegao climatica que conserva a presenca de um ar saudavel, tio necessdrio para elaborar um bom vinho? Poderiamos fazer diversas outras perguntas, mas preferimos que elas se centrem mais nos gabides e na matéria contida neles. Entretanto, reconhecer a importancia do material neste projeto nao implica ignorar 0 valor do didlogo com o meio, que da sentido a construgao ~ ou seja, a relagao com a paisagem geométrica do vinhedo nas suaves encostas do Napa Valley. O sdlido construi- do nao altera a paisagem. O velho caminho que origina o vinhedo 0 atravessa, criando um vazio surpreendente onde os conceitos californianos de interior e exterior se confun- dem. E nesse vazio que pela primeira vez se descobre a “transparéncia’ literal da parede de pedras enjauladas. As paredes adquirem sua verdadeira dimensao plistica ao filtrar a luz, produzindo um plano de sombras vivo e mutante. O edificio, aqui, serve come relégio césmico, dentro do qual testemunhamos a passagem do tempo ¢ aprendemos @ valorizar o instante, Fica evidente que esta foi a intengdo dos arquitetos quando obser vamos 0s gabides que definem os corredores, onde sao usadas pedras de maior volume para produvir ali o desejado efeito de luz através e como resultado do jogo de sombras. Simplificariamos as coisas se disséssemos que todo o encanto deste projeto reside na dialética produzida entre o sdlido de pedra ¢ a leve estrutura que 0 define ¢ 0 Pro tege. Contudo, é ai que essa arquitetura se esgota ¢ atinge sua plenitude, Herzog & De Meuron estao bem conscientes disso quando se deleitam no procedimento ao eniten- 354 GD isin Hous, Loyinen-Hi, Rhin, 19 tar o plano horizontal da mesa de madeira na sala ded nos fazem caminhar pelos corredores, grado a aleatoriedade das pedras conti. legustagao do vinho, onde a leveza do vidro e 0 aco aceit idas na armagao metilica, ou quando jam de bom QP © solido que contém o programa da biblioteca da escola técnica de Eberswalde, na Alemanha (1994-97), nao encontra, por sua ‘vez, uma pele tao atraente. A steno. riedade ~ tao eficaz, tao bela - que encontramos em Dom! numa repeti¢ao mecanica de vidros serigrafados, dem ao livro e & cultura, A radicalidade com qu tro com 0 plano horizontal, no iiltimo painel qu coincidem com a dimensao de um dos painéis, de trivialidade, de falta de inspiragao, inus se transforma, agora, com imagens que literalmente alu- le 0 sdlido se define, seja no encon- € delineia, seja nas aberturas que nao faz desaparecer certa sensacao que nos impede de admirar a biblioteca tanto quanto apreciamos as adegas Dominus. Apesar do radicalismo pretendido, estrutura subjacente de um edificio convencional: por isso, resistimos em aprovar um projeto que é apenas controle da pele, fundamentalmente epitelial e que, portanto, nao atinge a condicao transcendente que nos pareceu encontrar em outras obras. sente-se a @D Poderiamos fazer, ao examinar este projeto do Institut fiir Spitalpharmazie - isp (instituto de farmacia hospitalar) em Basiléia (1995-98), observagdes semelhantes as que fizemos acerca das imagens da biblioteca. Somente algumas sutilezas no deslocamento das aberturas nos fazem prestar maior aten¢do neste Projeto. Diriamos que o esforgo em buscar “peles significantes” para os s6lidos chega aqui ao fim, e que Herzog & De Meuron acabam sentindo que o tema se esgotara: de fato, nos Projetos que veremos a seguir sente-se a autocritica 4 qual aludiamos na introdugao destes comentarios. @D Nesta pequena casa unifamiliar, a Rudin Haus em Leymen, na Franca (1996-97), fica evidente que os arquitetos desejam escapar da formula. Eles optam pela “repre- senta¢ao candnica de uma casa’, pela imagem mais direta e literal do conceito de casa. Telhado de duas 4guas, chaminés, janelas, tudo parece servir a imagem candnica que os residentes de dreas nao urbanas tém a respeito de uma casa. A virada é radical. Se antes Herzog & De Meuron acreditavam que a expresso arquiteténica estava depositada na mateéria, agora parecem interessados em resgatar a nogao de tipo, dando a entender que somente resta a imagem e nao a estrutura. Dessa forma, estamos diante de uma obra em que prevalece uma iconografia despojada de seus atributos, vazia, Talvez seja pertinente lembrar como Rem Koolhaas usou 0 conceito de iconografia no terminal intermodal €no Lille Grand Palais. Para o arquiteto holandés, ainda era possivel encontrar arqui- teturas sintéticas com uma capacidade figurativa que nos permitia falar Rovamente em iconografia: em alguns de seus projetos citados, a forma, responsavel pela imagem, inte- Brava as fungoes, dava resposta as circulagées e resolvia a estrutura. Para Herzog & De Meuron, a iconografia s6 tem sentido neste projeto enquant te b ry into la reaparecer diante de nds, é inevitavel também que apareg aa memoria. dissociagao entre forma e contetido. Ela se revela em todos os desajustes ¢ anomalias pelos quais os dois arquitetos parecem congratular-se. Comparando o primeiro projeto com a obra construida, podemos comprovar 9 propésito de Herzog & De Meuron desde o inicio: apesar das diferengas (chamings coberturas, janelas etc), sio mais importantes as coincidéncias, que se manifestam os, nas inten¢Ges - a ponto de entender og pro- onde possuem mais valor, nos propés jetos como idénticos. Mas 0 que os arquitetos pretendiam dizer? Trata-se simplesmen. te de uma referéncia académica? Pretendiam por acaso ironizar sobre 0 modo como as pessoas enxergam a arquitetura? Estaria oculto neste pequeno projeto o desejo de reconhecer a extingao de todo um modo de fazer arquitetura, aquele que Rossi pre- 1? Pode ser que os projetos futuros de Herzog & De Meuron nos déem tendera resgata a resposta adequada a estas perguntas. (AD Nessa busca de novos caminhos, vemos que o prisma perfeito foi completamente abandonado no novo edificio de escritérios de marketing para a Ricola (1997-99). A alternativa foi explorar o perimetro criado por uma planta complexa, em que a obli- giiidade prevalece ¢ as inflexdes so onipresentes. A ortogonalidade é, entdo, delibe- radamente ignorada, e delega-se ao vidro a tarefa de materializar 0 s6lido gerador do perimetro. Quem estudar estas imagens perceberd o valor da natureza refletora do vidro, responsavel por esconder de nossa percepgao a condigio sélida do edificio. Digamos também que o vidro é manipulado em grandes superficies que enfatizam a geometria dos espacos internos € demonstram, 4 maneira minimalista, a sobreposi¢ao elementar dos dois planos horizontais que configuram o espago habitavel. O plano da cobertura, por sua vez, estabelece uma dialética imediata e eficaz com a termina¢io em balango que remete as condic¢6es iniciais - 0 contorno irregular da planta -, fazen- do multiplicar os reflexos. Dessa forma, o volume se dissolve a0 sobrepor as imagens neste jogo infinito de reflexos, impossibilitando qualquer leitura que permita enten- der o edificio como realidade estatica. A imagem se multiplica e se liquefaz, parecen- do interessar aos arquitetos nao tanto os valores associados a um mundo de sélides supostamente impenetraveis, mas aqueles presentes nos espagos virtuais © atmosféri- cos usados nos sistemas a vacuo. 4D Este abandono dos prismas parece necessariamente levar a um contraponte: vm mundo formal ao qual é inevitavel associar a biologia. Um desses casos ¢ 0 da biblio- teca da Bru ~ Universidade de Cottbus, de 1993. Os arquitetos explicam: Nossa proposta de concurso se baseava na justaposigdo de dois volumes retangulares WD Pivivoreco da BTU - Universidade de Cottbus | (projeto), Alemanha, 193 Quando recebemos a encomenda para comegar 0 projeto definitivo, o programa havia mudado e um dos dois edificios fora descartado. Seria essa a razio derradeira? Herzog & De Meuron também parecem negé-lo ao dizer: Também chegamos & convicgio de que a cidade de Cottbus precisava de um novo tipo de edificio, mais escultérico e com maior cardter de marco, dentro de uma malha urbana tao genéri como aquela construda no pés-guerra.* A mudanga, portanto, nao se devia somente a raz6es funcionais. Provavel mente, o5 arquitetos viram ali a ocasiao para experimentar novas linguagens. A imagem mos- trando a metamorfose que transforma os prismas originais é tao elogiiente que me exi- me de qualquer comentario. Finalmente, 0 perimetro ondulado chega a uma situagdo final, como se um sistema de tensdes superficiais o tivesse feito alcangar um equilibrio. A idéia de forma aberta parece ser o leitmotiv de um perimetro que contém um volume capaz de absorver multiplos usos e divisées. A “pele”, o invélucro do sélido, nao parece ser tanto a meta dos arquitetos quanto a investigagao formal que leva a compreender a forma como fronteira de uma rica vida interna. Mesmo assim, é inte- ressante ver como 0 pano de vidro deixa a vista um sistema de janelas corridas de tradicao claramente corbusiana. Tudo é continuo! Projetos como este, que mantém a continua exploragao lingiiistica de Herzog & De Meuron, fazem-nos aguardar com muito interesse o futuro desses arquitetos que ainda podem ser considerados jovens. (@D Nesta casa para um colecionador de videoarte, a casa Kramlich, na California (2999-2001), Herzog & De Meuron pareciam dispostos a explorar como um padrio de curvas entrelagadas se transforma em substancia de uma planta, ao estabelecé- laa partir de um retdngulo irregular em que os dois lados maiores so curvas ¢ 0s dois menores retas paralelas. Dito de outro modo, Herzog & De Meuron medem a sua capacidade de transformar qualquer pretexto formal em planta: mais uma vez 0 fantasma da forma arbitraria como origem da arquitetura aparece em cena. Porém, esta planta - que permite certa regularidade naqueles cémodos que parecem exigi- Ja € permite espacos singulares onde a Proje¢do dos videos ¢ necessaria — joga tanto com a cobertura quanto com a planta do térreo, Pprovocando novamente um encontro dialético entre sistemas formais diversos, Dessa relagdo intima entre os trés niveis resulta uma série de espacos fluidos e sistemas de vazios, que conferem a casa uma continuidade que nds, arquitetos do fim do século xx, tivemos a ocasiio de aprender 3 |, Herzog; De Meuron, P,"La naturaleza del artficio 1998-2002", El Croquis, 109/110, Madi, p. 210. 4 Id,,ibid., p.210. tanto na arquitetura de Le Corbusier e de Mies van der Rohe como na de Wright e de Neutra. Desse modo, a fluidez da planta de acesso contrasta com a estrutura ortogonal da planta do s6tdo. Por sua vez, a generosa cobertura insiste na cond: i¢4o poligonal do perimetro que se evidencia ao encontrar-se com a vedagao curvilinea de dois lados da casa. A casa Kramlich parece, portanto, defender uma arquitetura fluida, em continuo movimento, como convém a uma cultura como esta, de fim de século, na qual preva- lece a mudanga como norma de vida. As curvas entrelacadas parecem estar dispostas a garantir mobilidade permanente, renunciando desse modo ao paradigma da arqui- tetura como “imobilidade radical”, como desejava Borchers. Isso bem poderia ser dito sobre algumas das obras de Herzog & De Meuron, especialmente sobre uma das mais bem-sucedidas, as adegas Dominus no Napa Valley. BD 20 Kramicn California, 1999-2001

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