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& UNIVERSIDADE FEDERALDE ALAGOAS dior flags: ABey oH SUMARIO APRESENTAGAO. a 1, ARTE, SAUDE MENTAL E PSICOPATOLOGIA: REVISAO SISTEMATICA ..9. na Menezes 2. TORNAR-SE ARTISTA CIRCENSE: UMA EXPERIPNCIA ESTETICA ...25 Exzane Recta Pereira Karta Maneirie 3. DAIMAGEM A AGAO: UMA ANALISE HISTORICO-CULTURAL NO ENSINO DO TEATRO Yasmin Caroutna Riot Giseie Toassa 4, PINCELANDO REFLEXOES SOBRE A PSICOLOGIA NO QUADRO DAS POLITICAS PUBLICAS DE ACESSO E PERMANENCIA NO. ENSINO SUPERIOR, Lucéuia Gomes Apétia Augusta Souto pz Ouiverra 5. A ESTRUTURA DA OBRA COMO INSTRUMENTO POSSIBILITADOR DE VIVENCLAS 75 eM A Parxio pe Cristo Danto Sercia Ine ‘Anta AucustaSovro oe Ousvama | Pauta Oncutvect Mauna (Orgunizadoes) hospitalar, Acta Paulista de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 64-71, jan, 2005. Disponivel em: http://pesquisa.bvsalud.org/brasil/resource/pt/lil-438514. Acesso em: 10 jun. 2017, VALLADARES, A. CAs CARVALHO, A.M.P.T: hospitalar em sess6es de arteterapia na internagio peditrica. de Enfermagem, v. 20, n. 1/3, p. 19-29, jan. 2006. Disponivel « pesquisa.bvsalud.org/brasil/resource/pvlil-776790, Acesso em: 10 jun, 2017. VALLADARES, A.C. A; SILVA,M.T. A arteterapia e a promogio do desenvolvimento infantil no contexto da hospitalizagio, Revista Gaticha de Enfermagem, v.32, n. 3, p. 443-450, set. 2011. Disponivel em: httpi// pesquisa.bvsalud.orgy/brasil/resource/pt/bde-23128, Acesso em: 10 jun. 2017. ES! 2 TORNAR-SE ARTISTA CIRCENSE: UMA EXPERIENCIA ESTETICA Eliane Regina Pereira Katia Maheirie presente trabalho consiste em reflexdes sobre 0 processo tornar-se artista circense. Partimos de uma compreensio sobre imaginagZo e afeto mediam os processos de criagio e, como jetivagao do processo criativo — tornar-se artista ~ faz-se iéncia estética. Para Vygotski (1999), a objetivasio artistica — aqui destacamos jrco — amplia, qualitativamente, os sentimentos, permitindo que transcenda sentimentos comuns. Ela nfo gera, em si, uma prepara o organismo para a aglo e, desse modo, nio é ida “pela simples busca ao prazet”, mas por necessidades que nés 10s eriamos de estabelecer novas relagGes com o cotidiano. A arte ‘no nos leva diretamente a nada, mas cra tio-somente ‘uma necestidade imensa e vaga de agit, abre camino di livre acesso a foreas que mais profundamente subjazem em nés, age como um terremoto, desnudando rnovas camads (..) (VYGOTSKI, 1999, p.320) Abra Aucusta Sovro pe Ounvezm | Pasta Onencer Mina (Oxganzadore) Para dar conta das reflexdes sobre a arte circense, realizamos uma pesquisa com educadores ¢ aprendizes de um Circo Escola do municipio de Penha/SC. A coleta das informagées bascou-se inicialmente em videogravagio das aulas no picadeiro da escola e de algumas apresentagées por eles realizadas. Logo, foram entrevistados os professores e 12 aprendizes do Circo Escola. Todas as entrevistas foram videogravadas visando a fidedignidade na transcrigéo produgio das informagées. O recorte aqui apresentado destaca as falas de seis aprendizes?, Ana, Emilio, Elena, Samantha, Bianco e Leopoldo, acerca de como compreendem seu processo de aprender a ser circense e como definemn a relagio que estabelecem com os educadores da escola de circo. O encantamento do citco:aimaginasio como alicerce do processo criativo nario nio é a antitese da realidade, sendo que esta, marcada pela subjetividade, engloba e dé lugar de destaque a0 imaginério, quando nos processos de eriagio, ‘como inteal (MAHEIRIE, 2006p. 150) A imaginasio, portanto, est diretamente relacionada a realidade concreta, 20 mundo, mas nio esta atrelada a ele. Assim, imaginar ¢ imaginar alguma coisa. O s percebe 0 mundo ao seu redor, depois transcende esta percepeo, e constitui sua imagem com base neste mundo, imagem essa que se mostra como totalidade da F Todos os nomies sto Betcos, Ames ENNIS percep¢o, ¢, portanto, néo mais o objeto anteriormente percebido, mais jhjeto novo. “O objeto como imagem seria, portanto, constituido ialmente no mundo das coisas, para ser, depois disso, expulso desse \do". (SARTRE, p. 26, 1996, grifos do autor). Para poder imaginar, € fundamental que a consciéneia possa ultrapassar o real, que ela ultrapasse as relagSes deterministas, constituindo-o como outro. Falando em termos de percepso humana, a imagem € algum tipo de reprodusio das casas (objetos, eventos, figuras, pessoas, et.) que permite 20 sujeito torné-las presentese evoci-las quand estio ausentes, Na medida fem que a imagem e a coisa sio entes distintos, mas dopendentes um do outro, a coisa como componente da realidade externa a imagem como experiéncia Jnterna do sujeito, devem existe estreitasrelagBes entre uma eoutra, (PINO, 2006, p.21) ‘Ao imaginar, é fundamental que o sujeito se aproprie da agio leta, em totalidade imaginaria, que se absorva inteiramente nessa ‘ciéneia, que perca a rela¢do com scu mundo concreto c invente para was possibilidades. E, por isso, pode-se afirmar que a imaginacio & bilidade criadora, pois ela inventa ampliando os possiveis,a partir da ercepeio da realidade, em uma sintese afetiva, possibilitando a0 sujeito superar a situagZo em que esta inserido, em diregio ao novo, a0 vir~a-ser. Quando pensamos no circo, compreendemos que a0 imaginar- se realizando um exercicio, é necessério que © sujeito se aproprie da completa, em totalidade imaginaria, E preciso que o sujcito se executando todos os movimentos que levem a plateia a se deliciar abeleza dos movimentos, com 0 risco que parecem correr ¢ torne apresentagio um espeticulo, Imaginar o exercicio é conseguir vé-lo sendo realizado no futuro, mais que ele nao se concretize como foi imaginado, permanecendo » presente, como exercicio ineal, ele se concretiza na imaginagio. O ipeticulo real estard sujeito as condigdes de um mundo concreto, que ‘Anfun Aucwsts SovTo.pe Ouvez| Pata Oncmet Mina (Orpen) tem na presenca da plateia, na temperatura do ambiente, na textura dos cRietos que compaem cada apresentazo, ou ainda no cansago do sete, Geterminagdes que necessariamente 0 modificam. Porém, ao imagine, cle comresponde a intengao do aprendiz, que busca tornar-e artista cicense, © espeticulo circense no expressa o artista pela palavra, sua asio € gestual e se apresenta como “inetéfora entoacional gesticulatéria” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1926). Cada movimento do artista, a forsa exigida por seus btagos e pernas, os movimentos com 4 cabera, & tranquilidade expressa em seu rosto, desestabilizam o “enunciade conereto", ou seja, 0 risco, e se tornam linguagem, porque imprimem sentido afetivo-voltivo, quando a plateia reconhece com aplausos a coragem, aalegria ea leveza com que os movimentos foram executacos, O astista circense, com suas roupas c estruturado, com a pintura em seu rosto, quan personagem, foi anteriormente autor: imaginou e criou cada movimento, Enquanto personagem, o artista parece eriar 0 movimento naquele momento ¢ tudo parece magico; é como se a criago tomasse vida Personagens criadas se desligam do processo que as criou e comegam a {evar uma vida auténoma no mundo’ (BAKHTIN, 2003, p.6), Antes de ser personagem, ele autor. Assim, domina a técnica, sabe como se arriscar sem corter riscos, sabe como. saltar, como. cait;como gira Portanto, por mais que a aso parega surpr do nada ch foi anseriormente imaginada earduamente trabalhacla.O compo fi esclpido Para ser corpo de artistae, por isso, nfo foge a esse projeto imaginitio, mas 8 faz inico, porque vai depender das condigées concretas do ambiente, Por estar de fora, 0 sujeito/autor tem uma visio da totalidade. Amagina a corcografia inteira, cada movimento, tendo, portanto, uma visio exotdpica em relasio personagem, o qual, por sua vez, quem exccuts 8 aso. O sujito/autor executs a ago em imaginasio, seguindo uma Imemtia de futuro, um projeto, enquanto a personagem vive o ambiente, Segundo um passado, Neste movimento, o sueit se recriaenquanto autor pois ele apura seu olhar e, necessatiamente, recria-se enquanto pessoa, ARTES EMUMINIDADES As cores do circor 0s afetos que medciam o fazer circense i ?, dentre elas 0 AA palavra circo provoca diferentes sensabes' de belnsa SSE aati eee sensagdes especial 20 circo, 0 colorido dos afetos. A afetvidade Sc, com a imaginasio © a estética, a base da configurasio da soa como poténcia de vida e criagéo (SAWATA, 2006). A sfetividade, em sintese, envolve todas as relagdes uma comtdenct eeponttoess, set press, imaginagio ou relleio, contempla im, 08 Seneca eee ls de relagio entre subjeividade © objetvidade (MAHEIRIE, 2003, p. 148) ‘A emosio passa a ser compreendida como uma transformasio smundo. Essa Saas no € um jogo, assim como nao é de uma consciéncia reflexiva; ela € a captura de um objeto, que impossivel de ser capturado € entio transformado. eran dente da motivagio que leva o sujeito a emogio, ela tende a se, pois as qualidades deste mundo mégico sao vividas como -ando 0 mundo (MAHEIRIE, 2003; SARTRE, 2006). A emocio nao pode ser explicada unicamente no sexi mas na relagio do sujeito com o mundo. Assim, ela Eee nee mundo. A emogio, enti é psicofisica, pois aeta o sujet be lico do corpo. (VYGOTSKI, 2004). Emogio e sentimentos sio fenémenos privados, mas sta ginese 1equéncias sto sociais. No caso do citco, a transformacio corpor: do ezine que no ee ego Pecan cone ge a det rg ue eh es ud ge 2p i ni Dna da nn kee a rac corporis vias pa de wna conse cocina «can pokuen sede ear an petemum (eivaclasreaptsen cman, » Aen Aucusta Sovto be Ouwama | Pauta Orcutuccr Minna (Organizadoes) & possivel pela apropriacao da técnica, mas fandamentalmente pelo tom afetivo-volitivo da ago em si, Fica evidenciado que, durante os ensaios, © sujeito se preocupa com a compreensio da ago, 0 passo a passo da aslo, até a compreensio de sua totalidade e a formagio da imagem. da agdo em si, mas, ¢ depois, durante a maquiagem, a preparagio do figurino que o artista circense vai sendo apresenitado para o sueito/autor. A emosio transforma esse corpo de aprendiz em corpo de artista, ens Personagem. A expressio de seu rosto, a posigdo das mios, a postura corporal tudo muda, quando a personagem toma forma (BAKHTIN; VOLOCHINGY, 1926). Sobre as apresentayées, Emilio, revela que sente fiio na barriga, sempre di isso, eu acho que de vez em quando dé errado, a gence sabe, no vai todos os shows dé certo, (..) todo o cio tem, tipo uma lei, sabe, que se errar a primeira vez-no shovr tem que fazer de novo, Dai, se ear de novo nso precisa fizer mais, é 86 cumprimentar © des, porque mesmo assim cles aplaudem, entendeu? Eles sempre gostara assim, a tipo Se tu errr a primeira acertara segunda é melhor ainda (EMILIO), Emilio fala do medo de errar, que vem acompanhado da Justificativa © da alternativa construida pelo artista para amenizar o crto; ¢ falando de erros, fala das suas emogoes, do desejo de acertar, Matos (2002) escreve que o espeticulo funciona como uma expécie de afirmasio do artista, do erescimento, das conguistase avangos;¢ no tosto do artista percebe-se o sorriso, expressando “eu conseguir. Mas quando o autor encama a personagem, ao interpreté-la, 0 corpo, seis movimentos € posturas, s6 serdo elementos artisticamente significativos na consciéncia do contemplador e no conjunto artistico da pesa, mas no na construgio da personagem (BAKHTIN, 2003), As emosSes, portanto, sto vividas no tempo presente, experimmentadas Por nosso corpo, exigindo um posicionamento, Porém, ARTES EHLMUNIDADES as emogies do momento tim tts temporidades passa, presente ¢ fituro, 0 que dignifca que todas as experiincias ‘vidas no pasado cas projetadas no fituro como espera, possbilidade ou desamparo, medeiam os afetos do instante (SAWATA, 2006 p.$6). i i rodusio de O citco passa a ser compreendido como espago de pr novos excl soi joel EO Tap detonate ea 28 css no muda porque pensaros nels tsa relas0 rota, como se 0 pensimento comandasee a6 fungées psialyias superions eas coisas fssem da order ds ids, spenas, Eas madam quand os aftos ligadosa cas maudam ‘0a quando se tomam conscientes. Os aetos emvavem a de meu earpo por objetos, pessoas ou po imagens, oneal te mudiga 0 Sera (SAAIA 200.22 0 um processo relacional, ela ndo acontece explica Espinosa (1983), ela nao é boa ou ruim, Onartistacircense sugio do processo criativo eavivenciaestética € © que pode suscitar uma percepeio a. (VAZQUEZ, 1999, p.43) A pai 1999), pode-se falar de uma nsio seastiel, enquanto modo sealidade, paucada por uma ta reconbecee a polissemia da pritico uilitrio da euleura LA, 2006, p36). ‘Aptuu Aucesa SovroDe Ouveia| Pavia Onctavct Mauna (Orgnizaors) A atividade estética pode transformar o contexto histético em dialégico, em ambiente cujo acabamento abre possibilidades de sentidos. No mundo da ética e da cogni¢o, nfo se tem acabamento, sé. Possibilidades, enquanto no mundo da estética,o acabamento permite 20 sujeito produgio de sentidos, 0 estranhamento, a criagéo, Geraldi (2003, p. 52) escreve: “Talvez. reencontremos na atividade estética o que de comum compartilhamos como homens —a capacidade de criar”, ___A experiéncia estética pode reconfigurar a existéncia de um sujeito que transcende a si e ao seu contexto, ou seo sujeito pode sair dessa relagio de forma diferente e passar a significar diferentemente seu contexto, Isso fica evidenciado em todas as falas destacadas sobre ‘o que € 0 circo”, Alegria,pra mim éalegra, a nica palavta que eu posso sizer.E paixdo. (ANA) i aoe ae [0 citco] minha vi Pra mim, nto sei, pra mim 6, nio sei te dizer, é ‘uma cultura que eu tenho hoje. O que eu acho melhor hoje € 0 circo pra mim, veo o crco como um segundo sar. (EMILIO) Eu defino o cico como uma vida. As pessoas que té Probl, nfo que clas devin enter no a 0 que vindo pra cé, clas se superam s6 na alegria. Sebe, clas vém pra cf © se contagiam com a felicidade dae ous El tf embuino dlquado la wen pa ci 1 pelo menos, digamos assim, ndo é que eu me sin {nfl mas quando eu venho pra chet me sinto, ais feliz aind, 10096, B muito bom estar aqui. (ELENA) Ana, Emilio e Elena definem o cizco como se definissem a si Proprios: “E paixio, é minha vida, é felicidade”, E como se integrassem suas vidas a0 Circo Escola, Para Duarte Jr (2010, p, 13), ‘deve-se entender estética, aqui, em seu sentido mais simples: vibrar em comum, sentirem unissono,experimentarcoletivamente”,Ocirco,portanto,pars 2 ARTES EMUMINDAES inde ser compreendido intelectualmente, é sentido, experienciado,¢ isso 08 sujeitos ofertam a ele qualidades do sensiv A arte amplia qualitativamente sentiment: to transcenda sentimentos comuns. A arte sel ido a ser apresentado, conteiido este impregnado de julgamento valor, objetivando uma subjetividade, transcendendo o cotidiano € permitindo que o sujeito, ao romper com o cotidiano, emocione-se ventemente. A “arte recolhe da vida 0 seu material, mas produz a. desse material algo que ainda no esti nas propriedades desse ceria!” (VYGOTSKI, 1999, p. 308). Desse modo, a arte nao é realizada “pela simples busca 20 1", mas por necessidades que nés mesmos eriamos de estabelecer ns relagdes com 0 cotidiano, relagoes estéticas transformadoras. Pensando no circo, a imagem nos remete ao risco, 0 que ca maclora leva o imaginario do autor/personagem a0 nfo dito ¢, im, & oportunidade de transcender e perceber a objetivagio como ago de “liberdade”. Sobre o risco, Guzzo (2004) nos propoe pensar que todo /imento, aco, escolha, é risco, “O movimento sugere o contrario da , que seria prontamente traduzida por aquilo que no muda” (p. por no mudar, nao impée a presenca do risco. Para a autora, 0 ividade” quando pensado como “metafora (..).Devir, omar ser aquilo que ainda nao é, chegar a ser”(p. A autora escreve ainda que 0 circo tem seu espeticulo alimentado co ¢ 0 vende como mercadoria que tem 0 corpo como veiculo. E a partir do risco enfrentado no dia a dia do circo, que muitas falas surgem, sendo significadas como superasao. Ali a gente aprende que a gente tem capacidade pra tudo, Alia gente aprende que nio precisa sero superman pra tentar fazer as coisas. SAMANTHA) ‘Abtia Avcusra Sovro og Ouwerm | Paura Oncrauccr Muna (Ongenzadors) Samantha fala do que nfo precisa set, pois ja sabe que tem capacidades e, portanto, fala de quem 6 fala de resste, de insisti, de no desistit, Fala da vida, quando fila do circo, fala de si. O mesmo ocotre com. Bianco, ue pereebe na aso cotidiana do cireo uma ‘poténcia de ago”, ‘Ah ew acho que tem certa magia, que cu nfo tinha visto antes, e que acaba me impressionando muita ‘mais. Eu acabo vendo que, 2s vezes, as pessoas tentam conseguem, tio ls fizendo malabazismo, corda bamba, algo assim, ¢ acabo pensando, (.) ele pode um dia ser alguém importante, e & essa garra que eu acabo adquitindo, (BIANCO) Bianco nos faz pensar na poténcia de ago, no quanto fazer malabarismo, ou andar na corda bamba do cizco potencializa o sujeito ue entio pode superar as situagbes cotidianas, pode fortalecer a si. Espinosa (1983) nos explica que ‘ser eapaz de existir é poténcia” (.98) isto porque o autor entende que, existindo, o sueito dispée seu Corpo 20 contato com outros corpos ¢, nesse contato,“o corpo humano € afetado pelos corpos extetiores de um grande néimero de maneiras” (p.211).O autor explica ainda que nestes afetos a poténcia de agir desse corpo é aumentada ov diminuids, favorecida ou entravada, assim como as idcias dessas afecges. (..) © corpo humano pode ser afetado de numerosas maneiras pelas quais poténcia de agir € sumentada ou di se ainda, Por outras que nio aumentam nem diminuem a sua poténcia de agin (..) As afbogées, com eftito, sto ‘modos pelos quais as partes do corpo humano, ¢, consequentemente, o corpo human, na sua totalidade, ¢ afetado, (ESPINOSA, 1983, p.184) O autor explica ainda que o encontro com 0 outro pode resultar em uma paixto triste, que diminui a poténcia do corpo, pos retira dele as condigles de reagir. Sio encontros perversos que enfraquecem o sujeito, ot u ARTES EHO sm resultar em uma paixio alegre, que aumenta a poténcia do corpo, indo nele a liberdade de ago, ativando-o em diregio ao devi. Eo bom encontro que aumenta a poténcia de ago que pode ser identificada na fala de outros sujeitos que, experienciando 0 circo mo espago de construgio de si mesmos, definem-se e se tornam as circenses e esta transformagio transforma o modo como esses itos veem o mundo, Nas falas de Samantha e Bianco, destacadas anteriormente, ca evidenciado que 0 contato com outros corpos no circo transforma fecsdes em forga que permite a estes sujeitos transcenderem as ligdes de existéncia, promovidas por uma reflexio afetiva, O mo € constatado na fala de Ana. A gente i parao cireo do Beto Carreo, pa Joinville, pra Blumenau. A gente ia Mi pros lugares assim, quando eu ia ‘ra li, eu senti que eu j tava preparada porque nada que ex passei fei por um acaso, Se eu fai pra Ié€ porque eu tinha alguma coisa de bor. Iso porque muitos no foram, pensei, “nossa eu tenho slguma coist que mexeu com eles, tenho algama coisa assim que eles gosta’, (ANA) ‘Ana fala das apresentagées circenses em que esteve envolvida ¢ por isso, sentia-se uma artista, sentia-se escolhida, isso valoriza 0 ssforgo. “A arte é antes uma organizacao do nosso comportamento” /YGOTSKI, 1999, p. 320). Quero fer um cetifieado,ficar aqui no institute até chegar ase formar e vé que tu t formado, ete dio 0 certificado, Com o eertifcado, vet gana em qualquer lugar, ai voeé pode se considerar um artista profissional (LEOPOLDO) Leopoldo fala do certificado que aguarda c,assim, fala do tornar- ista, O presente de Leopoldo esti amarrado no passado, aquele 35 ‘Aves Aucusta Sovto De Oxsma | Pata Oncsivect Miura (Ongunizadors) que foi. E, principalmente, no futuro, a possibilidade de reinvengio que se alicerga na dialética passado-presente-futuro, que constitui 0 seu estar sendo, E 0 projeto de Leopoldo se objetivando no seu desejo de ser ¢, assim, definindo o sujeito. E Leopoldo abandonando seu anonimato e passando a se (revere ser (re)visto, Como escreve Sartre (2007, p. 690), um sujeito se define por seus descjos, portanto, “devemos descobrir em cada tendéncia,em cada conduta do sujeito, uma significagio que a transcenda (..) [Uma] relagio global com 0 mundo pela qual o sujeito se constitui como si-mesmo”. Cada escolha singular apresenta a escolha original, ou seja, Leopoldo escolhe permanecer no instituto e, com isso, revela que é um sujeito que deseja ser sutista profissional e que quer ir além de si mesmo. Leopoldo escolhe em uma dada estrutura, frente As possibilidades que para ele se apresentam, 28 guuis ele nio pode deixar de escolher. mesmo ocorre com Elena, (.)-Acredito que, todos ppontos, mesmo que tu ndo té lé no paleo dangando, mas ém € ser um artista, é poder téIutando pra ter um futuro bom. Fica evidenciado na fala de Elena que 0 Circo Escola permitiu que ela aprendesse muito mais que dangar, Constituiu-se em uma educagio do sensivel, da sensibilidade, na qual ela é capaz de compreender que ser artista & dar conta de si, da sua prépria vida, € um projeto de ser. Em cada apresentagio — no mambo, no samba, no rola-rola ou na danga dos mortos ~ Elena vive e se apresenta em totalidade proviséria, se totaliza artista, mas, principalmente, se totaliza como sujeito capaz de ir além de si mesma. © circo escola é, dessa forma, uma experiéncia estética = experiéncia porque marca, passa e toca o sujeito — ¢ cstética Amrese Hannes »sformadora, porque oferece ao sujeito um novo olhar sobresi mesmo re a vida. Ao tomnar-se artista, o aprendiz nfio demonstra seus ” ou “qualidades inatas”, mas apresenta qualidades provenientes, sua historia, de seu desejo de ser, acima de tudo, neste espaco (re) , (re)descobre seu desejo de ser. O que & possivel que a experiéncia estética de tornar-se artista ,,confere a0 aprendiz a possibilidade de se (re)ver ampliando possibilidades de ser. Para Duarte Jr (2010), esta seria mais do que uma cducagao ‘4, mas uma educagio “estésica”, cujo desenvolvimento dos los € mais acurado e refinado, constituindo, assim, sujeitos mais 10s acontecimentos & sua volta, tendo assim mais condigées de refletir. ideragoes finais [As objetivagdes artisticas promovem 0 estranhamento com 0 , consequentemente, uma ruptura, fazendo-se experiéneia 1 transformadora. Por tudo isso, o produto final, a obra, nio se nevessariamente, como algo inovador, mas é, essencialmente, a io de um processo de produsio. Ela revela um sujeito que objetiva que representa uma totalidade imaginaviae assim o constitu. O tornar-se artista circense, portanto, foi uma experiéncia estética alora, nfo pelo simples fato de estar no Circo Escolaeparticipar ides circenses, mas porque as relagées de ensinar e aprender a passaram, tocaram € marcaram 0 sujeito aprendiz.e, com nova forma de se nomear. Estas relagées foram estéticas .doras, porque ativaram a vida, potencializaram o aprendiz, los automatismos do cotidiano, no movimento de dos sentidos acerca de si, ampliando com isso 0 seu eis, ‘Abix Ausra Sotto De Ou | Puta Onciecs Mina (Onan) prea : raginaric ai firia: oc sao. In: ase 0, A. Imagindzio e Produsio Imagindtia: reflexes em edcasao. I ‘8. Z Da; MAHEIRIE, K; ZANELLA, A. V. (Org). Relagbes tividade criadora e imaginayio: sujcitos e (em) experiencia \spolis: NUP/CED/UFSC, 2006. BAKHTIN, M. Estética da eri verbal. Si Paulo: Martins Fontes, 2003, BAKHTIN, M3 VOLOCHINGY, V.N, Discurso na vida ¢ discuso na 7% Aleore: L&cEM, arte: sobre pottica sociolégica, In: BAKHTIN, M,; VOLOCHINGY, V. N. RE, J. Esbogo de uma teoria das emogées. Porto Alegre: , Freudianism. A Marxistcrtique. New York: New York Academic Press 1926 DUARTE JR, J-R_O sentido dos sentidos: a educssio (do) sensivel, RE, J. O imaginério. Sao Paulo: Atica, 1996, Curitiba: Criar Edigées, 2010. 1 RE,J. 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Florian NUP/CED/UFSC, 2006. | a DAIMAGEM A ACAD: UMA ANALISE HISTORICO-CULTURAL NO ENSINO DO TEATRO ‘Yasmin Carolina Ribeiro Silva Giscle Toassa © objetivo deste capitulo é explanar contribuigdes de Lev movitch Vigotski — em particular, nos textos 4 educapdo estética © idade na infncia— para o ensino do teatro a criangas, a dez. anos — tendo como objeto de anilise atividades docentes das pela primeira autora, em contraponto a uma educacio de wsmissao, depésito ¢ reprodugao. ‘A educagio estética (1924/2010) —um capitulo do livro Pricalogia cae Imaginagaoecriatividade ainfancia (1930/2014) preservam, 1s da reagao estética e os conceitos de vivéncia estética e o estéticat abordados em Psicologia da arte (1925/1999). Trata- , que vivencia (per a exper tepredicativas, perpassadas de emacionaldade, P (TOASSA, 2009, p.274-275) e que a emogao é um fe eae Nos est is ‘Juma parte deste processo de eago" (TOASSA, 2009, ARTES E HUMANIDADES ‘ADELIA AUGUSTA SOUITO DE DLIVEIRA PAULA ORCHIUCCI MIURA Organizadoras

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