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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria Embrapa Amazénia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento Plantas Medicinais: do cultivo, manipulacao e uso a recomendacao popular Osmar Alves Lameira José Eduardo Brasil Pereira Pinto Editores Técnicos Embrapa Amazénia Oriental Belém, PA 2008 Apresentacao Brasil possui enorme biodiversidade em que podem ser encontradas espécies animais e vegetais que contém principios ativos potencialmente iteis & humanidade. Estudos dc etnobotanica evidenciam a existéncia de um grande acervo de plantas medicinais cujas propriedades so de conhecimento popular, 0 qual indiretamente tem contribufdo para 0 avango cientifico © para a valoragZo do saber dos povos tradicionais. Entretanto, grande parte deste acervo necesita de estudos que permitam um melhor aproveitamento do potencial das esp ‘ies medicinais existentes nos diferentes biomas brasileiros, A Organizagio Mundial da Satide (OMS) reconhece que a populagao dos paises cm desenvolvimento utilizam largamente plantas ou praticas tradicionais nos seus cuidados basicos de satide, o que nao é diferente em algumas regides do Brasil. Por isso, em nosso pais, foram estabelecidas as diretrizes da Politica Nacional de Plantas Medicinais Fitoterpicos, aprovada por meio do Decreto N° 5.813, de 22 de junho de 2006, visando ¢garantir 0 acesso seguro da populagio ao uso racional de plantas medicinais e fitoterapicos. Este livro surge num momento bastante oportuno, em que se procura valorar € valorizar produtos oriundos de nosso capital natural com a utilizagdo do conhecimento das populagées tradicionais para orientar o cultivo, uso e manipulagao das espécies medicinais. Deste modo, a Embrapa Amaz6nia Oriental contribui para que esses conhecimentos possam ser utilizados pela populagdo em geral para o uso ¢ cultivo racional ddessas espécies, proporcionando alternativas para agregacdo de valor e, conseqiientemente, melhoria da qualidade de vida des: pessoas. Claudio José Reis de Carvatho Chefe-Geral da Embrapa Amazénia Oriental Prefacio 0 objetivo deste livro é colaborar no resgate e difusdo da tradigao milenar sobre poder curative das plantas medicinais. Aqui so detalhadas informagdes que vaio desde 0 cultivo, manipulacZo, ao uso e recomendaco popular de algumas espécies. Foi realizado também um breve comentirio sobre as doengas que mais acometem a populacdo, e como elas podem ser curadas, amenizadas ou prevenidas com o uso das plantas indicadas para cada caso Consultamos trabalhos de diversos autores, estudiosos e divulgadores da medicina natural e fitoteripica, Baseamo-nos em nossas experiéncias pessoais, nos trabalhos & resultados das diversas comunidades com as quais trabalhamos, valemo-nos da tradi¢ sabedoria popular de nossos agricultores, caboclos e indios Hoje. com o desenvolvimento cientifico, temos melhores condigdes de comprovarmos os conhecimentos experimentais milenares no uso das ervas ¢ plantas € outras praticas de satide, e assim estabelecermos uma medicina do futuro, buscando nas. plantas os prinefpios ativos combinados em seu estado mais puro, Afirma-se que nos laborat6rios, os cientistas fazem, em média, 70.000 experimentagdes para uma férmula quimica bem sucedida. Por outro lado, partindo da pesquisa, metodologicamente, das plantas {id consagradas pelo uso popular, os pesquisadores se surpreendem com a constatagao de acertos e resultados positivos. Importante referéncia, a respeito dos efeitos das prescrigdes, esclarece que concomitante ao uso das férmulas, deve-se ter uma dieta alimentar saudivel, praticar esporte e cxercicios fisicos, nao ingerir toxinas e manter uma satide mental, o que por si 6. j uma receita milenar de como manter um corpo So, Estas recomenda a caracteristica do livro como fonte de conhecimento informative. es $6 Vérn reforgar Salientamos que as informagdes contidas nessa obra niJo substituem em nenhumn momento a presenga do profissional da area de satide. Os autores Sumario Capitulo 1. Historia e Importancia das Plantas Medicinais Historia Impor Capitulo 2 Cultive de Plantas Medicinais Introdugao Propagacao e formagao de mudas. Cultivo . Adubacao Planti Irrigacao. Cobertura Morta Manutencao. Controle de Pragas ¢ Doencas Colheita Secagem Embalagem e Armazenamento Capitulo 3 Manipulagao de Plantas Medicinais Introdugio . Formas Farmaceiitica Formas sem instabilidade Banho........ Cataplasma Compressa Cha... Formas com instabilidade. Oleos Pos Solugdes extrativas Aguas ai ‘as ou hidrolatos. Ungiiento e pomada. F Xarope... Supositérios Ovulos, Xampus Sabonete Algumas receitas feitas nas comunidades. Higienizaca Capitulo 4. nn 3 Substancias Ativas de Plantas Medi Principios aMargOS smmmmneneennmmnnne Heterosideos (glicosideos) antraquinénicos ou antraquinonas Saponinas Carotendide: ‘Triterpendides, Sesquisterpensides Esterdides: Polissacarideos Proteinas. Catequinas . Compostos Fe: PUrinas sense Cumarinas.. Flavondides Glicosideos .. ‘Taninos ic0s Capitulo 5. Os Principais Nutrientes do Organismo Humano. Agua Carboidratos ..... Vitaminas.. Proteinas e Aminoacidos..... Minerals ........seecsseeseeseeee Macrominerais Microminerais.. Gorduras e colesterol Capitulo 6 . Principais Doengas Humanas Tratadas por Plantas Medicinais de Uso Popular sesso Como as Ervas podem ajudar sua satide? .... Quando utilizar as planta Como dosar a quantidade? Indicagao das Plantas Medicinais no Tratamento das Principais Condigdes Mérbidas... ascccanscesssereeee OT Sistema Cardiovascular / Circulatério Acidente Vascular Cerebral — A.V.C, (Derrame) «0 97 Anemia. Anteriosclerose Hemoragia ... Hipertensao arterial Hipotensao arterial Palpitagdes Cardiacas . Sistema Gastrointestinal sss Aftas Célicas intestinais. Diarréia Dispepsia (digestio dificil) / dor estomacal 112 Gases Intestinais 113 Gastrite F ud Hemorr6ida nn 7 : 116 Prisio de ventre ee eid sre cate eepeeeencra aoa IG) Parasitoses Intestinais i 7 _ 9 Sistema Hepatico Inflamagoes do figado Hepatite Sistema Mioosteoarticular ssn Massoterapia.. Antrite Baques / Contusdes Sistema Respiratério .. Asma... Gripes! Resfriados/ Bronquite Fatingite Tuberculose Sistema Urinario.. Acido Urico Anita cn Calculos Biliares Cilculos Renais Inflamagdes Renais Sistema Reprodutor Feminino AMCNOMEIA soem Célicas Menstruais Corrimento Vaginal (Leucor Menoréia/Menorragia Ciclo Menstrual Irregular. Outras Doencas ACHES Diabetes Mellitus Ferimentos .. Micose Queda de Cabelo Queimaduras nu Tumor Cancerigeno : eenneens 7 Plantas medicinais classificadas por categorias sr. Capitulo 7 Guia das Plantas Medici Allium sativum L, -ALHO Aloe vera L. BABOS Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze - DORIL . Arctiwn lappa L.- BARDANA Baccharis genistelloides Person - CARQU) Bauhinia forficata Link - PATA-DE-VACA Bidens pilosa L. «PICAO-PRETO.. Bryophyllun calycinum Salisb - FOLHA-DA-FORTUNA Calendula officinalis L.- CALENDULA . Cecropia palmata Mig, -EMBAUBA Chenopodium ambrosioides L. - Cissus sycioides L.- INSULINA VEGETAL Copaifera reticulata Ducke - COPAIBA Contia verbenacea L. - ERVA-BALEEIRA .. Cyinbopogon citratus (DC. ex Ness) Stapf - CAPIM-LIMA Cynara scolymus L. - ALCACHOFRA Echinodorus macrophyllus Mich « CHAPE| Equiserum arvense L. - CAVALINH. Lippia alba (Mill) N. E. Brown - ERVA-CIDREIRA .. Mavtenus ilicifolia Reissek. - ESPINHEIRA-SANT: Melissa officinalis L. ME Mentha x piperita L. - HORT. Mikania laevigata Spreng - GUACO. Nasturtium officinale R.B. - AGRIAO Ovimun basilicum L. - MANJERICAO.. Pereskia aculeata Mill. -ORA-PRO-NOBIS.. Pinyllanthus niruri L.- QUEBRA-PEDRA Pilocarpus microphyllus Stapt Plantago major L. « T!ANCHAGEM Plectranthus barbatus Andrews - BOLDO-! Psyehotria ipecacuanha Stokes - IPECACUANHA Punica granatum L, - ROMA Quassia amara L.. = QUINA Rosmarinus officinalis L. + AL Ruta graveolens L. « ARRUD! Salvia officinalis L.-SALNIA Sambucus australis Cham. & Schltdl, - SABUGUEIRO Solidago microglossa D.C. -ARNICA-BRASILEIRA .. Stryphnodendron barbatiman Matt. « BARBATIMAO. Symphytum officinale L. - CONERE Tropacolum majus L.~ CAPUCHINHA . Vernonia condensata Baker, ~ BOLDO-DA-BAHIA Vernonia polyanthes Less.— ASSA-PEIXE, Zingiber officinale Ros oe - GENGIBRE Referénei Glossario Capitulo 1 Histéria e Importancia das Plantas Medicinais Osmar Alves Lameira José Eduardo Brasil Pereira Pinto A utilizagao de plantas medicinais, tanto na farmacopéia como na medicina caseira, € praticada desde os primérdios da civiliza jo humana. Na Pré-Hist6ria, o homem procurava aumenizar suas dores ou tratar suas moléstias através da acdo dos princépios ativos existentes. nos vegetais, embora de modo totalmente empirico ou intuitive baseado em descobertas 40 acaso, Essa conduta pode, ainda, ser observada entre os povos primitives, isolados, ‘omo algumas tribos indigenas da América do Sul (VAN DEN BERG, 1987). Existem registros de que no ano 5000 a.C., os chineses ja possuiam listagens de drogas derivadas das plantas. O chinés Sheu-ing, no ano 3000 a.C., dedicava-se ao cultivo de plantas medicinais. O “Hlipécrates chinés”, 0 imperador Cho-Chin-Kei, possufa a obra mais destacada na farmacognosia da China Antiga. Nessa obra, 0 autor destaca a cura de todos os males pela raiz de ginseng ¢ cita as ages terapéuticas do ruibarbo, do acénito ¢ da cdnfora (MARTINS et al., 1995). E procedente do Antigo to também um dos primeiros textos médicos, 0 Papiro de Ebers, do egipt6logo alemio Georg Ebers, adquirido em 1827, de um cidadio arabe que dizi té-lo achado na necrdpole préxima a Tebas. Acredita-se que o referido papiro, contendo cerca de 800 receitas ¢ referénci a mais de 700 drogas, incluindo absinto, hortela, mitra e mandrdgora, tenha sido escrito no século XVI a.C. Os antigos egipcios, no ano de 2300 a.C., desenvolveram a arte de embalsamar os cadaveres para evitar a deterioragao, através dat io de plantas. Essa civilizagio, que apresentava-se relativamente adiantada também na cura de algumas enfermidades que atingem o homem, utilizava, além das plantas medicinais ¢ aromaticas, muitas outras, cujos efeitos bem conheciam, tais como a papoula (conifera), a babosa € 0 dleo de ricino (catarticos). Em varios papiros descobertos por pesquisadores, foram encontrados receituarios médicos que inclufam plantas em mistura com outras substncias (LOW et al., 1999). Assim como no Egito, também na Babilonia, a medicina combinava o poder curativo (ou supostamente curativo) de determinadas substancias ¢ certas espécies vegetais usadas cm rituais religiosos, fen@meno ainda presente em varias seitas e cultos (MATOS, 1987). Na Antigiiidade, na Grécia e em Roma, de Hipécrates a Galeno, a Medicina sempre esteve estreitamente dependente da Botanica, persistindo nessa situagao até 0 século XVI Alids, éimpossi € da Cigncia de um modo geral (MATOS, 1987) el determinar em que grau a Botinica impulsionou o progresso da Medicina Na Idade Média, os estudos dos alquimistas, na elaboragao dos elixires da longa vida, ¢ a busca de plantas com propriedades miraculosas e alrodisfacas nfo deixaram de oferecer a base empirica, o embrido de futuras Ciéncias, como a referida Botanica, a Quimica ¢ também a Medicina. No entanto, esse progresso convivia com idéias confusas, tanto que Paracelso (1493-1541) — um dos principais responsaveis pelo avango da terapeutica ~ defendia a teoria da “a sinatura dos corpos”, segundo a qual as plantas ¢ os animais haviam recebidos, ao serem criados, uma “impress divina” que indicava suas virtudes curativas, Assim, 0 sapo, devido & repugnane’ que inspirava, era tido como remédio contra a peste, amais repugnante das moléstias. Ao lado da crendice, porém, observa-s em muitos casos, © pleno acerto da sabedoria popular. Muitos medicamentos originaram-se desse uso empirico, fruto de um longo processo de descobertas por tentativas, como, por exemplo, 0s digitilicos, drogas derivadas da dedaleira (Digitalis purpurea L. e D. lanata L.), coma podero: ica sobre o mi aco especi tulo cardfaco. Seus principios ativos, os glicosidios cardiot6nicos, stio hoje armas obrigatérias no tratamento de certas doencas do coragio (MORS, 1982) No Brasil, as primeiras referéncias sobre as plantas medicinais slo atribufdas ao padre José de Anchieta e a outros jesuftas que aqui viveram durante os tempos coloniais. Eles formularam receitas chamadas “Boticas dos colégios”, & base de plantas para 0 tratamento de doencas. Viirias populagdes indigenas faziam uso significativo dessas plantas e mesmo com o processo de extingiio desses povos, eles passaram muitas informa erca do uso das plantas para fins medicinais, que certamente foram transmitidas aos imigrantes europeus ¢ aos escravos africanos. Um exemplo é a ipecacuanha [Psychorria ipecacuanha (Brot.) Stokes}. O interesse por essa planta surgiu da observacao de um animal que procurava a sua raiz para se livrar de célicas e diarréias. A partir dessa observacdo, os indios comegaram a usar a planta contra disenteria amebiana, sendo reconhecida hoje pela juimacopéia. Além disso, a utilizagdo das plantas pelos negros, durante cem anos no movimento dos quilombos, concorreu fortemente para 0 estabelecimento de uma rica redicina popular: Em nosso século, principalmente apés a Segunda Guerra Mundial, com a descoberta dos antibidticos ¢ o incremento cada vez maior de remédios base de drogas sintéticas, houve um relativo abandono e inclusive um certo cepticismo a respeito das drogas naturais. Na década de 50 até a década de 70, as plantas medicinais foram marginalizadas em virtude do grande impulso que a quimica or; ica promoveu na medicina alopatica, Entretanto, a partir de década de 80, elas passaram novamente a serem valorizadas como fonte de propriedades curativas de baixo custo (MATOS, 1987) Foi neste contexto que uma tendéncia generalizada de retorno a Fitoterapia de Satide io da XXX1 (tratamento de doencas com plantas) recebeu a chancela da Organizacao Mund (OMS), drgio das Nagdes Unidas, em maio de 1978, através de uma resolug Assembléia Geral daquele Orgio, marcada pelo seguinte lema: “Satide para todos no ano 2000”. Nessa reunitio, recomendou-se 0 estudo e 0 uso de plantas medicinais regionais como forma de baixar 05 custos dos programas de satide ptiblica e ampliar 0 ntimero de beneficidrios de seus programas, principalmente nos paises subdesenvolvidos ¢ em desenvolvimento, onde persistiam os grandes “bolsdes de pobreza” (MATOS, 1987). Esta recomendacao, aliada a outros fatores tem contribuido para fazer crescer 0 uso e 0 comércio das plantas medicinais. A adocao desta recomendaciio trouxe, porém para os 6rgiios governamentais de Satide Publica uma nova ¢ custosa obrigacio: criar meios de preservagio da populagao, do uso de plantas ineficazes ou téxicas, bem como das falsificagdes € adulteragdes ndo menos perigosas, que provavelmente, surgirio no mercado com o aumento da procura. E bem provavel que o consumo de plantas continue crescendo, impulsionado de um lado, pela tendéncia 2 sua utilizagao direta sob a forma de preparagdes caseiras simples, como chs, tisanas, tinturas, lambedores (xaropes). pos € outros, e pela busca de novos modelos estruturais de moléculas naturais ativas, ¢ que sao de interesse da indtistria quimica ¢ farmacéutica (MATOS, 1987).

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