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Juan E. Diaz Bordenave O QUE E_ PARTICIPACAO editora brasiliense Coppetghn Cy foun B Diaz Bondenene ethan poerdeea peices pad re gravada. “srmssenads em satemarelemsicoy, ftocnpsta, reproduchle ot mefos mecdmicor eu Carer quater im entrain prWia 22 ealton BBN 88-11 91098-5, “Primaira Bio, 1983 Fei, 198d Prempesta2007 ovindo- Une B'S Malta Bosingela M- Die ‘Capa iasrsyJees Mise! Pale ‘aes tnernactomats de Catalgaghe-n Bablieneh9 CCTFY (Cimara Brasileira da Live, SE Beast INDICE Daz Bondenavs fe. ‘O que Zpalpasts Juda E: Die Moeseave ~ Bet =e Beatin, = Gie e _ BERRI. spn 1 toes — Necessidada humana... : — Participagao versus marginalizagio ge ee — As diversas manelras de participa. = Condiclonamentos da participaghe .. — As forpas atuantes na dinar paiepativa — As farramentas operativas .. | — Alguas "principios’ da partcipagéo — Indicaciées para letura.. eo ft args 98 Romar, canon eal Se Pose SE: Fomiasfsi OOTS.OH88 sqanex 0 ser humane no seja soments © s0r 3008) camo alpina sociéiogos nos querem fazer oer, Tas soja tamoden estar atramente lebalbare STU soit A pryas soelais que querem Tecuny Nossa Wide oecal a 1m minime, Taker (39 *ossemos MWmAnCE Be esta iarola pudeeso ser feta de ums $6 vez E fenta, @ necessidada permanente deluter a2 ip vida hamana um signifioado fever Jour GENS -pomjua ange dois ov is esiba jes eo meu ROME, fu estou alscom eles” egsace NAA Ameuis compatiolas ‘que desejam particle da construgao io eens Paragual demeocrities, JEDB, QUEREMOS PARTICIPAR Que o interessé por participar tem 9 general: zago nos Ultimos anos, no Brasil ene mundo todo, rae esta a menor divida. Aqul e acolé surgem assoc is i amigos de baitro, moviments: ‘ecolagices, associagbes ‘de moradores, comunidades eclesiais de. base, @ outras. E como se 2 civilizagio moderna, com seus enor ‘camplexos industriais e empresariais € com Time massificadot @ atomizador e, mais tarde, domo reaeio dafensiva frente 8 alienag#o erescente, Oe lovasse cada vez mais & participagao eoletiva Houve um tempo em qué o triuntalismo dos re agimes totalitgrios convenceu alguns filbsofes socials Gergue os homens tinham mado liberdade @ Por ce aocavam fecilmante sua eutonomia pole _ SS eee 5 “ponte IAZ BORDENAHE seguranga_ do autoritarismo. Tals filésofos, 99 Saye ficatiom certaments surpresot 90 os ‘movimentos populares He hoje 5 levantam no mundo inteiro contra os regimes qUe Hoputerso se sente alvieds por Not de tomer row spon, preferindo transfers 20 Gover. Peder haver gent assim. Mas a malorle prefere a democracia. E para um erescente ndmero de pes: foas, democracia no & apenas 57 método de owen onde existe eielebes. Pare elas domo estado de particinagsio. (0 usa freqdente da palavra particigaedo tamper revela 2 aspiracdo de serores cada dia mais nume- Fosns da populaggo a.essumirem ‘ocontrole do pro- prio destino. As rédlos convidam o3 ouvintes @ Sparticiparen” de sua programagiio ‘telefonando, geerevendo, solicitando discos: o& partidos politicos Senclemam @ populecgo 2 participar: & ‘vertigino89 crescimento ¢o ‘essociativismo nesta década parece: indicat que estamos entrando na era de particl- Po canto, ets interese pale particinas so nt ae scompannedo de um conhecimenss Bargratizado. do que ela 6, de SOUS gros © nfseis, Ge suas condi¢ées, sue dindmi operatives. A excassez de literaturs sobre @ tema Piste até que ponto # partieipagio 6 ur assunto rey e o aiuonto. 2 nossa soctodade tem slo PO? participativa, Mi neve necessidade no satisfelta de saber om que consista 2 participagio ns construglo de uma sociedade solidéria, Tete pequeno livro procura eontribuir pars U2 respaste com a modatia dos primelc0s PASSO% NECESSIDADE HUMANA UNIVERSAL A familia Silva esté reunida ao redor da mesa de jantar discutindo como enfrentar o desafio do eres: cente custo de vida, H importantes decisies @ serem tomadas, Alguns dos menines terdo de del xar do estuidar e comegar a trabalhar. Sero.pracisos Cortes nas despesas de alimentagto ¢ diversio. O pal pergunta a opinid de cada membro da famflis, ‘Todos tratem de participar da discussio, cade qual contribuindo segunda sua idede e situacio, ® A Associagio dos Moraderes da Favela de Cravo convoca reunitio para hoje 2 noite, O nucleo de lideranca quer convencer @ grupo comunitério da urgéncia de se mobilizar e fazer pressfo. sobre a Prefeitura para dar soluco a0 problema da dgua, Espara-se 8 participagSo de todo © pessoal porque problema interessa a todos. ave ranniceacko ” * 0 Servigo de Extensio Rural do Estado comu- nicou sos produtores do munie(pio de Reboucas que de agora em diante o planejamento des ativi- dades do Servico na regifo serd feito mediante eonwulta aos agricultores. “Estamos implantando em Rebougas Planejamento Participative”, de- clarou 0 diretor do Servigo, © Em recente comicio da sua campanha, 0 candi- dato a governador afirmou que seu Partido detende uma alternative comunitéria & que, s for elelta, pretends substiwir © patemnalisme governamental pela particlpacso responsdvel da comunidade, ® Por razSes de conjuntura histérica, na Organi zagio das NocBes Unidas cinco palses — China, Franga, Gré-Brotanha, URSS e EUA — reservam-se B condi¢do privilegioda de membros "permanentes”” do Conselho de Seguranga com direito 2o-chamado poder de “'vato"" sobre todas as decisées importan- tes do citado Conselha. Com o aumento do némero de paises membros esta desigualdade na partici- ago dos paises tem sido objeto de severas eriticas, PARTICIPAGAG. As pessoas participam em sua familia, em sus comunidade, no trabalho, na luta Polftiea. Os patses participam nos foros intemnacio- nals, onde sa tomam deciséies que afetam os desti- 95 do mundo, Como nenhum homem é uma itha e desde suas origens 9 homem vive agrupado com seus iguais, 8 participapto sempre tem aconipanhado — com ® AN E-DIRE WORDEN ‘altos € baixos — 9s formas histérices que a vida social fol tomando, Entretanto, no mundo inteir hote-se hoje uma tendéncia para a intensificagso dos processes participativos. As causes? 'A. participacfa estd na ardem do dia davide 20 descontentamente geral com a marginslizagdo do pove dos assuntos que interessam a todos © que sf0 decidides por poucos. O entusiasrno pele pertick pacto ver das contribuigdes positivas que ela ofe- rece. ‘Allés, algo surpreendente est ocorrendo com a -participagdo: astdo a favor dele tanto os setores progressistas que desejam uma democracia mais futéntica, como os setores tradiclonalmente So muito favordvels aos avangos das forcas populares 'A razso, evidentemente, & qua a participero ‘oferece vantagens para ambos. Ela pode se implan- tar tanto cam objetives de liberago e igualdade come para a manutengio de uma situacso de con role de muitos por alguns. Do ponto de vista dos setores progressistes, 9 participagao fatilita o crescimenta da conseléncia critica da populacSo, fortelece sau poder de relvin- dicagio e@ a prepara pera adquirir mais poder na socledade. Além disto, por meio da participecdo, ‘consequernse resclver problemas que ao individuo parecem insoldveis se cantar s6 com sues prOpriat forgas, tals como @ ‘construgSo de uma estrada ou uma ponte, ou 2 recuperayio de delinquentes juve nis numa comunidede marginal. Gracas & partick oquee permemscaa 0 paplo &s vezes resoivem-se ainda conflitos de uma Tnaneira pacifica @ satisfatérla para as partes interessadas. Do ponte de vista dos plenejadores democré- tics, 8 participaggo garante o controle das autori- dades por parte do povo, vista que as liderancas ‘cantralizades. podem ser, levadas facilmente & corrupeso e & malversagdo de fundes. Quando a populxego participa da fiscalizeio dos servicos publicos, estes tendem a melhorar ern qualidade e oportunidade. ‘Além disto, 08 servigas que os ofganismos off- isis, tais como ministérios de satde ¢ de agrieul ura, prestam 20 povo sfo melhor sceitos na me- dida én que correspondem & percepga que este tom de suas proprias necessidades, percepro que se expressa mediante 9 participagdo. Daf que muk ‘tos destes orgenismos da servico pUblico se empe- hem agora, depois de séculos de verticalidade @ autoritarismo, em promover 9 “planejamento part: cipativo”, capaz de gerar projetos relevantes para @ populagiio. Por outro lado, hd ume crescents consciéncla por parte dos governos de que os recursos fios pera o desenvolvimento das regides carentes so tho enormes, que uma alta proporso deles deve ser obtida nas prépriss areas. beneficiérles. Ora, © mais importante recurso no processa de desenvolvimenta 380 a8 proprias pessoas. ©, por conseguinte, os governas procuram 2 participagso " ave olazaciseuare ‘oove ¢ manorgke elas em escala massiva. ‘Além da necessidade “‘econdmica’” da partici- ETAL UM pagio, hd também um reconhecimento da neces FAR TICIPACADS sidade “pal {tica’” da mesma, no sentido de que as APETIVA @ estratégias sltemente centralizadas tém fracessado ‘na mobilizago de recursos econdmicas no deson. yolvimente da iniciativa propria para tomar s6e5 em nivel local. A participartio popular ¢ a descentralizaco das decistes mostramse como caminhos mais adequados para enfrenter os pro- blemas graves e complexos dos palses em desen- volvimento. “A participaglo disteminada em associages @ entidades equilibraria a tendéncia para a ruptura contida na participago se canalizeda exclusiva- mente através dos partides politicos, Além disto, ng medida em que expressa interesses reais © rais préximos ¢ visiveis por cada um, ajudaria a conter a tendéncia inata para o despotismo supostamente contide em toda democracia, jd que ela sempre contempla os interesses cas raiorias ¢ submate as minorias.”" Ora, a enumeragio des contribuigdes da partici- pacto poderia lever 2 um conceit puramente instrumental, com o perigo de que se veja nela algo para ser dirigida, manipulado ou explorado ‘quanto a seus resultados utilitérios. No entanto, #9 procurarmos @ motivagSo dos perticipentes de uma atividade comunitéria qual ‘quer, nataromas neles uma satisfac pessoal ¢ NAo Posso'yose (4 tig Sse a " TAL! * ANE oIAE BORSENE fntima que com freqlincla vai mito além dos resultados Gteis de sua participaggo. Ocorre que participagia néo & somente um instrumento para a soluglo de problemas mas, sobretudo, uma necessidade fundamental do ser ‘humane, como o so a comida, o sono e a satide, A participarfo & o caminho natural para 0 ho: mem exprimir sua tendéncia inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo ¢ dominar a natureza ¢ 0 mundo, Além disso, sua prética envolve a satis- fagdo de outras neoassidades no menos bésicas, tais como a interago com os demais homens, a uto-expressiio, o desenvolvimento do pensamento reflexivo, 0 prazer de criar e recriar coisas, 0, ainda, a valorizaedo de si mesmo pelos outros, Concluisse que a participago tem duas bases complementares: uma base afetiva — participamos ponque sentimos prazer em fazer colsas com outros = 0 Ums base instrumental — porticipamos porque fazer coisas com outros & mais eficaz ¢ eficiente que fazé-las sozinhos. Estas duss bases — afetiva e instrumental — deve- riam equilibrarse. Porém, as vezes, elas enteam ‘om conflito ¢.uma delas passa a sobrepor-se & outrs, Ou a participarSo tornese puremente "consume: ‘taria’ @ as pessoas se despreccupam de obter resul- tados préticos — como numa roda de amigos babendo num bar ~ ou ela & usada apenes como instrumento para atingir objetivos, como. num “comando" infiltrado em campo inimigo. social do homem, tendo acompanhado I $80 desde 9 ribo © 0 elf dos wempot priniton, até as assoriagtes, empresas © partidos politics de hoje. Neste santido, a frustrago da necessidade de participar constitui uma mutilae%o de homem Social. Tudo indiea qua 0 homem sé desenvalverd 32U potencial pleno numa saciedade que permita ¢ facilite 4 participap3o de todos, 0 futuro Kies! de homer 46 se dar numa saciedade participstiva, PARTICIPAGAO VERSUS MARGINALIZAGAO Entendar o que & psrticipagio telvez seja mais ficll_ se compreendermos 0 seu contririo, a no Participagto, isto 6, o fendmeno da marginelidede, Marginalidade significa ficar de fora de alguma coisa, 8s margens de um procosso som nolo intervir. O ‘conceito de “marginalidade”, porém, € mal entendido entre nds. Basta ver a aplicagdo da palavia “marginals” aos criminosos de qualquer tipo, como sa eles nfo interviessem ativamente, embora a seu préprio modo, nos processos socials. Outro erro freqiente é entender marginalidade ‘pens como a falta de participerdo de cartes seto- fe sociais no consumo dos bens materials ¢ cultu- rais da Sociedade. Segundo esta 6tica, a substanciel roporeio da populacia que se encontrs em situs- $80 de pobreza, ignoréncia « alienaglo seria mar- CUE paRticimpao 8 ginal porque n8o consegue usufruir dos empregos, teeolas« diversbca como 0 fazem outros seteres ‘Ora, erro ainda pior é atribuir a responsobilidade de s¢ encontrarem naquela situsglo de déficit sos Proprios setores “marginals”, com grande éntase fos "déficits educativos’ evidenciades pelo sou anelfabetismo, precdria instruggo bésica e costumes “primitivos”, Esta maneira dé. entender a marginglidade como atraso sutoprovacado tem levado a0 desenvalvi. mento de estratégias educativas “‘integradoras": 85 programas educativos emergentes desta percep. S80 visam @ incomporago dos setores populares & vida nacional, adaptando-os @ integrando-o¢ as candig&es exigidas pela madernizaeio da sociedad © prego de "participario" seria, entfo, a inte. gree 40 molde modemnizador, onde & participa. ¢80 6 entendida como a incluso entre os benefi- clérios consumidores dos bens materiais e cult fais, inerentes a0 desenvolvimento modemizader, Onde estd o erro daste enfoque? Estd em quo a “'marginalidade” de alguns grupos no é, de mansira alguma, conseqiéncia de “atra- 308", mas resultado Idgico @ natural do desenvolvi- mento modernizadar numa sociedade onde 9 ‘cess0 acs beneticios esté desigualmente repartico, = uno AR BORSERE © subdesenvalvimento de uns & provorado pele euperdesenvolvimento" de outros. Pere que alguns possam eeumular vastos patrimOnias, cutros. neces- Hitam sor explorados @ sacrificados. Para que O poder se concentra ern poucas més. a partici potitica damaiori pulacéo deve ser Nio bd, pois, marginalidade mas inarginaliza¢a0. Neste novo enfoque, a partieiparlo nfo mais consiste na recap¢do. passive dos benefcios da Sociedade mas na intervencgo atlva na sua eons: Tiuedo, o que & feito através da tomada de decistes fdas atividades sociais em todos 08 niveis. No novo contexte, @ participacde jd no thm gariter “consumiste” atribu(do pela tooria da mar: ginalidade, mas 0 de processo coletiva transforma, for, 28 vezes contestatbrio, no qual os selores tmarginalizacos 52 incorporam & vide social por 4 Tait proprio e no como convidades de pedta, Conqusstende uma preseniea ativa e deciséria Nos processos de producko, distribuic#o, consumo, vida polltiea.e eriogo euttural. De modesta espiragdo 8 um maior acesso 205 bens da sociedade, 2 participagso fixate 0 ambi ioso objetivo final da “autogestdo", isto ¢, ums folotiva autonomia das grupos populares organize dos em relagdo 30s do Estado e dat clesses Gominantes, Autonomia que no implies ume carni- hada para & anarquia, mas, muita pelo i Tmpliea 0 sumanto do gra de coneiéncia pol tien dos cidadgos, 0 reforgo do controle popular SE pave E mnricwmGao 2 sobre a autotidads @ 0 fortalecimento do grau de legitimidade do poder publico quando este raspor- de as necessidades reais da populac3o. A saguinte not{cia, pubticada num jomat pau- lista, raflate 0 novo conceito de perticipagao: SAO PAULO — 0 Cardeal-Arcebispo D. Paulo Evarivto ‘Ams disse ontern que “todos aqueles que aereditam #1 jpostfvel manipular 0 povo sentiro a retires das Coma: nidsdes de Base e de toda « ponulaslio por sles scarda da”, Ele afirmmou que a4 Comunidades Eclesials de Base "nunca utara por apetia ao poder politico mas verb moinentor dé presiio sobre 0. Poder”. E adverthu: “Passou 6 tainpa em que os politicos podiam manobrer 4 populsgfo. 0 povo ¢ quem demandarh cones dos pol ‘cos, © pracesss estd bem adlantado” A rmudanga de enfoque, naturalmente, deflagra ume nova abordagem dos processos educativos que, de um caréter meramente “integrador”, passam 3 ter cendter conscientizador e libersdor, tornando-se verdadeiras escolas de participacdo. A micro e a macroparticipacao ‘A breve discusso sobre a marginalizaggo prepa- ‘ou-nos para conceituar a participago, ‘Um pouca de etimologia pode também ajudar. Oe 22 Juan € oine aCRDENIE Dove E rannicirgho a Qual 6 a origem da palavra “participacto"? Pergunte-se a qualquer pessoa o qua ¢ partict= palo e, com toda corteza, ela meneionard a pelavia “parte’” em sua resposta, Sequramente vai dizer que “participar 6 fazer parte de algum grupo ou associaco”, au “tomar parte numa determi: nada atividede”, ou, ainda, “ter parte num nagd- cio”, — Fazer parte. = Tomar parte. = Tar parte. De fato, 2 palavra participardo vem da petavra parte, Partlcipagiio é fazer parte, tomar parte ou ter parte, Mas € tudo a mesma coisa ou hd diferen- fas no significado destas expressées? “BulhBes fez parte de nosso grupo mas rars- mente toma parte das reuniges.”" “"Fazemos parte da populace do Brasil mas nfo tomamos parte nas decisBes importantes.” “Edgar faz parte de nossa empresa mas néo tem parte alguma no negicio:”” Estes frases Indicam que 6 possivel fazer parte sem tomar parte e qué a sagunda expresso repre- senta um nivel mais intense de participapSo. Els a diferenga entre a participeeio passiva © 2 partici: pagio ativa, a disténcia entre o cidadfo inerte a 0 cidadéo engaiedo. Gra, mesmo dentro da particlpagio ative, Isto 6, entre as pessoar que “tomam parte”, existem diferengas. na qualidade de sua participagio. ‘Algumas, por exemplo, santem “ser parte” da orga- nizago, isto 6, 36 consideram como “tendo parte” ala ¢ the -dedicam sua lealdade © responsabilidade.. Qutras, embora muito ativas, talvez levadas pelo seu dinamismo natural, nfo professam uma leal- dade comprometida com a organizagio @ faci mente a abandonam para gastar suas enargias excedentes em outra arganizaro. A prove de fogo da participacso ndo & 0 quanta ‘se toma parte mas coma se toma parte. Possivelmento, a insatisfaglo com 0 democracia representativa que se nota nos {iltimos tempos em alguns palses se deva 20 fato de 0s oidadios deso- jarem cede vez mais “tomar parte" no canstante proceso de tomada nacional de decistes ¢ ndo somente nas eleigdes periddicss. A democracia perticipativa seria enti aquela em que os cidaddos sentem que, por “"fazerem parte” da nagéo, “tém parte’ real na sua conduglo © por isso ‘'tomam parte’’ — cada qual em sau ambiente — na cons: ‘trugdo de uma nove sociedade da qual se "sentem parte”. 0 homem participa nos grupos primdrios, como a familia, o.qrupo dé amizade ou de vizinhanga, & participa também dos grupos secunddrios, como as aisociagSes profissionais, sindicatos, empresas, Participa ainda dos grupos terciérios, como os partidos pelfticos e movimentos de classe. Podemos entio falar de processos de micro e de macroparticiparso. E importante distingui-los porque muitas pessoas participam somente em ilvel micro sam perceber que poderiam — e talvez overism — participar também em nivel macro, ou social ~ Para A. Meister a microparticipactio & 2 asso: clagSo voluniéria de duas ou mais pessoas numa atividade comum na qual eles nfo pretendem uni camente tirar benef cios pessoais e imedistos. Convém distinguir entre participacio em asso- ciagBes © participarSo social. As vexes pense-se, erronesmente, que participagSo social é apenas soma das essociagdes de que se & membro ativo. Se at pessoas estio atiliadas a varias sociedades, clubes, irmandades, ete., hd quem diga “elas tém muita participagie social”. Participaydo social, todavia, ou participae3o em nivel macro, implica uma visdo mais larga e ter algo a dizer na sociedade como um todo, A sociedade glabal no 4 56 0 conjunto de associapSes. 0 cida- do, além de participar em nfvel micro na famitia © nas associagébes, também participa em {vel ma ¢ro quando intervém nas lutas sociais, econdmicas politicas de zeu tempo. A macroparticipagso, isto &, a participagdo ma- crossocial, compreende a intarvengSo das pessoas ‘nos processas dindmicos que constituem ou modifi- cam a sociedade, quer dizer, na historia da socie- dade. Sua conceltualizago, por conseguinte, deve incidir no que ¢ mais bésico na sociedade, que 6 a produgio dos bens materiais e culturais, bem como oaue € marinas 5 sua administraeo @ sou usufruto. Segundo esta premissa, participando social & 0 proceso mediante 0 qual as diversas camades so- ciais t8m parte na producSo, na gestio ¢ na us fruto dos bens de uma sociedsde historicamente daterminads. (Satire Bezerra Ammann) © conceito de participacfo social & transferido deste modo da dimensto superficial do mero ati: vismo imediatista, em geral sem conseqliénciss sobre © todo, para o dmago des estruturas socials, politicas e econdmicas, Em harmonia com o con: celto, s2 uma populagdo apenas produz © nio usufrul dessa produgSo, ou se ela produz ¢ usufrui mas nfo toma parte na gestSo, no se pode afirmar que ela participe verdadeiramente, Uma sociedade participativa seria, entdo, aquela @m que todos 0s cidadfos tém parte na produgSo, geréncia @ usufruto dos bens da sociedade de maneira eqditativa. Toda a estrutura social e todas as instituiges estariam organizadas pere tornar isto possivel. Assim, a consirugio de uma sociedade partici pative converte-se na utopie-forea que dé sentido @ todas as microparticipactes. Neste sentido, a parti- cipegio na familia, na escola, no trabalho, no esporte, na comunidade, constituiria a aprendi- zagem @ o caminho para a participagio em nivel macro numa sociedade onde niga existam mais satores ou pessoas marginalizadas. Ace sistemas aducatives, formais ¢ nBo-formals, caberia desan- gunn € aa wcAcEiv volver mentalidades participativas pela prética constante ¢ reflatida cia participagdo, © interessante 6 que a luta pela participagio social envolve ela mesma processos participatories, isto &, atividades organizades dos grupos com © objetivo de expressar nacessidades ou demands, defender interesses comuns, alcangar determinados abjetives econémicos, sociais ou politicos, ou influir de maneira direta nos poderes pablicos. Concebida a participagao social como producto, ‘gestio © usufruto com acesio universal, poese a descoberto a falicia de se pretender uma partici ‘Pada politica sem uma correspondente partici- pao social eqiitativa: com efeito, na democracia liberal os cidadgos tomam parte nos rituais eleito- raise escolhem seus representantes, mas, por no possulrem nem administrarem os meios de produ: ‘odo material e cultural, sua participagso mecrosso: cial é ficticia © nfo real AS DIVERSAS MANEIRAS DE PARTICIPAR Desde © comago da humanidade, os homens tive: ram uma participeglio de fato, quer no sala da fomilia nuclear e do cl, quer nes tarefas de subsis- ‘Yéncia (cara, pesca, agricultura), ou no culto reli- soso, na recreaco # na defesa Contra os inimigos. ‘0 primeiro tipo de participagio 4, entio, a partici. perio de fato. Um segunda tipo seria 0 de participapSo espon- tdnea, aquela que leva os homens a formarem grupos om waihos, ‘de. amigos, “panelinhes"” ¢ "gangs", 1, GTUpOs fluidos, sam organizacio: estivel ou propésitos claros @ definides ano ser os de satisfazer necassidades psicolégicas de pertencar, expressar-se, receber e der afeto; obter reconheci- mento @ prest{gio. Além das formas de participaro de fata ¢ # MAE 0147 ome Naire CUE Eranticimgag sé *spontinga, sempre existiram modos de partici Rare importa, nos quais o Individuo 8 obrigadng sate Ultimo caso podese foter ap Perticipseso fazer parte de grupos e realizar certes ativilades ‘airgide ou maniputaca, | Gonsiderads indispensdvels. As ‘tribes ind igenas ‘Alouns enfoques mais ou menos institucional. ‘obrigam os jovens, por exemplo, @ 38 submeterem zados de participac3o Provocada sfo a axtensfo engeamonios de inicinggo o ritusls ae. parsageo ural, © servigo Social, 0 desenvolvimento de coma, mraiuanto as nacBes modernas os forgam a se cut? nidades, a edueago, em sade, os trabalhas de fa Hina escolar © 8 fazer parte do Prareiraee tes " zer pa Finalmente, existe ainda uma Pecticipagse com cadide, onde & mesma viria ¢ ou de intiu voluntiria, © grupo & eriado Considerada como. legitima iclpantes, que definem sua pré- Ses superiores, i estabelecem sous objetivas 0 gala ‘por ce 'o. Os sindicatas livres, as asso. mise chee is, @8 cooperatives, os partidos a Politicos, beselamse na participagio voluntivie de Implentado por alga: Nesta categoria inelui-se ainda & Participar de Acantemente nfo é 2m negécio, como sécio capitalista ou gerente, A Pardo concedida, @ as v frase: “Delfim @ eu vamos entrar mo negécio de necessiria para o @; fe Sxportacio de cares. O Ernani tem uma. parti: minagio da classe dominan Cipaclia de 30%, Voce gostaria de Participar tam. ideologia daminante objetiva mantey bém, Geraldo?” — raferese @ este tipo de partici. do individue restrit Pago voluntéria, $8es socials primérias, Todavia, nem sompre a Participagie voluntaria Vizinhanga, as i Surge como iniciativa des membros de grupo. As es profissi etc., de modo a criar uma agente tae de ums perticizeeso provecads por Participaca” patitica e sacial, sae ap Skternos, que ajudam outres a realizar Embore seja teletivamente abvis + inteneio do Seus objetivos ou os manipula a tim de atingir Estado ¢ da classe dominante, contudo, 0 planeja. Seus préprios objetivos previamente estabelecidns Sento Participative tem seu lado Positive, pais 9 participacso, mesma concedida, encerra em 5} = sun 6 giaz soncetars Ove mynicinncho 3 mesma um potencie! de crascimenta da conscién- cia eritica, da capacidade de tomer decisies © de adquirir poder. Na medida em que se aproveitem as oportunida- des de participagio concedida para tal crescimanto, e nfo para o aumento da dapendéncia, © pleneja- mento perticipative constitui um evango @ nto um retrocesso, Os graus e niveis de participagao So questBes-chave ne participagle num grupo ou organizagtio: = qual 6 0 grau da controle dos membros sobre 3s decisOes; —quilo importantes sto as decisdes de que se pode particlpar. No caso do eontvole, evidentemente nfo 6 igual ‘os membros participarem de atividades decididas pelo préprio grupo e participarem duma atividade contralada por outro ou outros. Numa astociagaio de pais e mestres, por exemplo, -05 pais podem opinar e colaborar, mss via de regra ‘0 controle é mantide pela direcdo do colégio, Num conseiho paroquial os leigos do muitos palpites, mas.o controle final no costurna sair das méos do paroco, 0 seguinte esquema ilustra alguns dos graus que Bode alcancar a participapse numa organizago qualquer, do ponte de vista do menor ou maior acesso ao controle das decisdes palos membros: ie: wrest ree © menor grau de participaco 6 0 de Informagso. Qs dirigentes informam os membros da organizago sobre 9s decisbes jé tomadas, Par pouco que pareca, isto j4 eonstitui uma certa participacdo, pois na é infreqtente 0 caso de autoridades no se darem sequer ao trabalho de informar seus subordinades, Em alguns casos, a reapo des membros 4s infor- maces recebidas é tomada em conta pelos supe- riores, levando-os 3 reconsiderarem uma decisfo eee Outras vezes, o direito de reagfo no é tole Na cansufta facultative @ adrministracio pode, se quiser e quando quiser, consultar 03 subordinadas, solicitande criticas, sugesttes ou dados para resol- ver algum problema, Quando a consulta § obriga- térla os subordinados devem ser consultados em. certes ocesiBes, embora 2 deciszo final pertenca ainda aos diretores. € 0 caso da lei que estabelece a eave e punTicinngto ae negociagSo solarial entre patrGes © operérios. ‘Um grau mais avangado administragio aceite cu rejeite, justificar su3 posto. ‘Num degrau superior esté a co-gastao, administragao da orgenizacto mediante mecanis & compartithada co-decisiio @ coleglali- inistrados exercam uma influén- do de um plano de ago e na conselhos ou outras: para tomar decisoes. ide co-gostdo foi a experi: nidades industrials” por seus antigos pro- lel, 0 coleglado de cia ditata na elel tomada de decisdes. Comités, formas solegiadas. ‘Exemplo de tentativa Sncia peruana de “comul , embora dirigidas gtérios, estabelecau'se, por rrios om poder de tomar parte nas antes reservados aos administra: define certos limites dentro tém poder de decisio. real as delegados ju dores. A administragBo dos quais os adiministradores sem referéncia a uma autoridade extema. Na auito- gestdo desaparece a diferenca entre administradores © administradas, visto que nela ccorre a auto: administragio." ‘A outra questZo-chave na participagso ¢ 2 impor. tancia das decisBes a cuje formulagso os membros ‘tém acesso. Isto significa que em qualquer grupo ou orgenizagéa existe decisSes de multa impor- tincis @ otitras. nfo to importantes. Assim, por exemplo, numa cooperativa de crédito, a decistio de passar a ser também cooperative da consumo constitu uma deeisfo importante, com amples consaqiéncias, 20 passo que a decisio de pintar fou no a sala de reunides da diratoria constitul uma docisdo edministrativa de pouca impartaneia. ‘Segundo sua importancia, as dacisSes podem ser organizadas em niveis, do mais alto ao mais beixo. Uma maneira ce distinguir os mivels & enumerar os pasos da programago, 9 saber: Nivel 1 — Formulaggo da doutrina e da politica da instituigio. Nivel 2 — Determinagaie de objetivos ¢ estabele- cimento de estratégias. Nivel 3 — Elaboragto de planos, programas projetos. 4+ ojos © tivo A avtogestto dugorieve, por Bertino Nébrene ot Guninee Coleg "Tose 4 Hlstéria™, nf 64, Eaitora Bresilones, 1982. a eee s ayn €. 162 woNDENAE Nivel 4 = Alocaglo de resursos @ edministraptio de operacBes. Nivel 5 — Exeougéo das ages, Nivel 6 — Avallagéo dos resultados. Goraimente, enquanto hd uma relative dispo- sig favordvel a permitir a participagSo dos mem- bros da instituig#o ou movimento nos niveis & ¢ 6, isto €, na axecuc%o das agies € na constatacdo de seus resultados, nos niveis de formulagéo de pol tica e de planejamento, a participagéa fica restrita uns poucos "buroeratas", “‘teenocrates” ou liderengas”, ‘A democracia participativa promove 2 subids da populaedo a nivels cada vez mais elevacios de parti- cipago deciséria, scabande com a divisio de funedes entre os que planejam e decidem id em cima € 0$ que executam e sofremaas conseqUénclas ‘das decisbes od embaixo. ‘Muitas vazes esta subida & apenas uma questo de capacitacdo e de experiéncia, mas na maioria dos casos ele é conssguida somente através de 4rduas lutas contra o establishment. Em muites comunidades rurais ¢ fayelas urbanas, entigamente pouses habitantes participavam do melhoramento das condigSes locais. Mais recente- ‘mente, alguns deles tomaram a iniciativa de apre- sentar reivindicagdes ante os poderes publices, 20 mesmo tampo que tomavam porte em agées locals de meihoria. Apés avallar sus situaogo encaminha- vam 3s autoridades queixas & domandas de s2rvigos a ‘AUN E DIAZ SORDENAKE de égua, esgotos, transporte, seguranca, saGde, etc, Hoje, essas comunidades 8 passaram de ume parti. clpéeo de nfveis § e & @ uma participac$o de niveis 3 @ 4, ganhando influéncia e intervenco em areas do decisio antes zelosamente monopolizadas elas proteituras, 1 © governo controta @ participapSo do Povo, mas nfo 6 controlade palo povo, & sinal de que ainda falta muito para se chegar 2 sociedade Participative, Nesta, 0 pova exerce o controle final das decisbee, nos mais elevados niveis, CONDICIONAMENTOS DA PARTICIPAGAO Como so explica quo, sendo a participag$o una necessidede bésica do homem, ‘to poueat pessoas Participam real ¢ plenamente des decistes impor, iE # Partieipacio, isto 8, a facilitam ou obstacu- izam * A familia Silva esta reunida aa redot da mesa Para disoutir como entrontar 0 desatio do crescante custo de vida. Mas os filhos J8 sabem de antemao GUsls set8o os decisties que a familia val tomar, Sic 2 2AM E 042 BORE NAYS Gover mnticiongad s 0 novo presidente da Astociaedio ¢ um homem que Sempre trabalhou pela comunidade e, portanto, 6 muito quetido ¢ respeitado. Ele cria um ambiente ‘onde ninguém se sente inibido de dar sua opinio, Teds gostariam de contribuir na medida de suas ‘possibilidades, ® O Servigo de Extensio Rural estabsleceu o “pla: nejamento participative” no munic(pia de Rebou- sas, Este comegou por um diagnéstico dos pro- blemas do municipio, feito pelos técnices do Servico. Mais tarde, os twenicos comunicaram aos agricultores quais eram os problemas identificados, E pediram aos produtores que elaborassem, com a ajuda dos técnicos, as solugies mais conveniontes, ® © candidato dovernador anuncia seu plano de substituir © paternalismo governamental por uma alternative comunitéria baseada na participagio responsivel da_comunidade. Contudo, como o candidsto pertence a um partido de classe média, as classes trabalhadoras perguntam-se qual sera sau Aivel de perticipago na reforma proposta, # Os novos paises membros das Necdes Unidas ‘exigem igual participegdo nos direitos ¢ obrigagbes, independentamente do pais ser ou ndo uma grande poténeis, 0 financiamento da Organizapso, porém, depende basicamente das cotas pagas pelas grandes poténcias, Sem esta contribuigso, dificiimente 2 ‘Organizaclo poderta se manter, Sdo estes os condicionamentos da participagic, Os exemplos mostram que, ombora pessoas, grupos: Ou ages gostassem de particlpar plonamente © beneficlar-se dos resultados de sua participagio, nem sempre isto € possivel. Existem circunstancias de diversas tipos que condicionam o gral, 0 nivel € a qualidade da participacio. As vezes, como na familia Silva, as barreiras pare uma_participagiio efetiva de todos os membros encontram-se em certas quatidades pestoais de algum membro: pai sutoritério, mae submisse, filhos acostumados a obedecer por temor ou por respeito. No caso da Associagio dos Moradores da Favela do Cravo, 25 quelidades pessoais do |fder atuarn a favor da participacdo. Também favoreca a nazureza do problema, cuja solucho interests a todos. A filasafia social da instituieSo ou do grupo influl também sobre o alcance da participaro per- mitifa. © Serviga de Extensfo. do munic(pio de Rebouges, mesmo oferecendo aos agricultores a participagto no planejamento das apes, reserva-se @ direito de fazer 0 diagndstico da situapdo uuli- zando exclusivaments sous préprios técnicos. Ele no confia na capacidade dos agricultores de iden- tificar seus préprics problemas, ou no deseja arriscar que o& mesmos levantem problemas que o nfo pode resolver. Sua filosofia social, instituigdo, concede 20 ténico o papel de pensar @ 20 agricultor o papel de beneticiar-se do pensamento do téenico. Atribul um papal mera- mente instrumental 4 participasio e nfo dasaja abrir’ mao do controle do proceso, co o JUAN E DIRE BORDEN ue é panning 4” Embora 0. candidato a governador do Estado. possa acreditar pessoalmente numa alternativa comunitéria beseada ne perticipacio de todss as classes socials, o fato de ele pertencer a um par- fido dominado pela classe média permite prover um sucesso apenas relative de seu plano, se ele se eercar $6 de elementos de seu partido. Os inte- esses da classe trabalhadora podem nio ser contemplados proporcionalmente ao tamanho e importincla da classe. Esta possibilidada destaca a grande Influéneia da estrutura social sobre s participacio. O feta de nossa sociedade estar estratificada em classes sociais superpostes © com interesses 46 vezes ante- génicos nos leva a pargunita se uma estrutura como. @ nossa favorece a participa¢so, admitindo-se que £6 $0 participa realmente quando sa esté- entre ‘iguais: Exenttiegpio de clans a0 Brat 1% tm borguasia (muito riot Aebrucquenle Crear! 118% paquona burgueia fereladoat 30K peslatsriads (pobre OK whovoletariado (vite gobeet) Nas Nagdes Unidas, também a estrutura social -exerce dacisiva influéneia na perticipagfo, $6 que aqui a burguesia est representada pelos palses do Primeiro Mundo {e alguns do Segundo), enquanto ‘9 proletariado compreende os paises do Tercsiro Mundo. A participago niio pode ser igualitéria ¢ democrética quando a estrutura de poder con: ‘centre as decisBes numa elite minoritérla, Desta breve anélise de alguns condicionamentas da participaso, basseda nos exemplos escolhidos, depreande-s8 a no¢So dé confite, relacionada com & partitipapso. De fato, as condicées de parti perio no munde atual so essencialmente con ‘tuoses @ @ participargo nfo pode ser estudada sem refaréneia 20 conflito social, Se desejamos consi- dades locals nos programas de tipo assistencial ou educativo, no paderios fugir & andlise de estrutura de pader @ da sua freqliente oposicgo a toda tenta- tiva de participaggo que coloque em julgamento as classes dirigentes e seus privilégios, E que em toda sociedade existe uma oposi¢io entre sistemas cle solidariedade e sistemas de fate esses. 05 primeiros funcionam sobretudo em nivel ‘comunitério @ nteles @ ago visa a identificagSo com ‘@ grupo @ a sclidariedade entre 5 pessoas, dentro do um ambiente de ralativa igualdade. Os membros " {oe 8: cian BORBENAE ‘stemas da interesses, @ aca visa o Interésse do individue, que procure distinguir-se dos demels para malhorar sua posieSo relat. a respelto eles. Pir sistemas de Interesses encontramse Hos SetOres de atuagle econdmica é mesmo poltica, nos uss indio organica. O orterne de nossa sociedad 6 que com freqQén, iavo Estado 0 alia aos sistemas de interesses 6” Fe ereento ds sisternes do solidariedade ¢ profere limiter drasticamenté @ particlpagso destes 00 Numa sociedade regida mals prot sistemas do interesses que pelos de solidariedade, © ete cn Reseto sécio-econdmica, na qual marea@fassos exploram outras, a partcipacdo seré Sempre ‘uma guerra @ ser travada para Yenec! © resisténcla dos detentores 2 privilégios. E por isto tue 2 andlise da participagso tem mals parantese que getudos dot mevimentos populares, de protesto social ¢ polftico, e do movimento operério oorrsluctonérig, da que com os trabelhos de psico- fogia social sobre liderange € cousdo dos paquenos oure maanicipagho ‘Além das condicionamentos Impostos pela esteu- tura social geral, cada erganizeglo, formal ou infar- mal — asceles, igrejas, empresas, sindicatos, parti- dos, associagdes profissionais, comunidades de base, grupos de amizade —, ctia um ambiente inter- no que pode ser proplcio ou desfavordvel & particl- pacio. Assim, um autor distingue as organizagtes que adotam, na administraggo das pessoas, "reorla X"" das que splicama “teoris Y". "A teoria X basela-se na premissa de que oe balho 6 desegradével para o homem e, para que ele trabalho, deve ser recompensado, badalado, subor- nado @ punide. De acordo com essa taoria, 3 orga nizeeio Ideal ¢ impessoal ¢ funciona ser levar em ‘considerarSo as necessidades da individue. Concei- tor como “cadeie da comando”’ e “especializaglo dda fungBes™ sBo préprios da teoria X. ‘AM teorls ¥ actedita que o trabalho é natural no homam, Gré-sé que, no desempenho de tarefas, af ‘pessoas adquirira responsabilidade voluntéria, fcharo seu lugar dentro da organizogio e tomardo iniclativas para modificar e estrutura da empresa de acordo com 2s necessidades que se apresantemn, ‘A teoria Y afirma ainda que a criatividade ests ‘amplamenta distribulda ne populagio em geval e, Conseqentemente, cada organizaeto deve dar oportunidades para que seus membros usem sue criatividade no desenvolvimento das atividades. Todavia, para que seja aplicada a teoria X ou ¥ “ _guan €cuar BONGENANEL 9 Que t aancitacho 4 ou qualquer outra, deve existir na organizagdo um consenso ideoldgico, o que quer dizer que a maior fia de seus membros deve actiter alguns valores © erengas fundamentals. Quando isto acontece 3 participagio 6 fecilitada, pois mesmo que cad Subgrupo. tenba sus objetivos proprias, todas compartilham do abjetivo comum da organizayso. Fecilita ainda a participago 0 tipo democrétien de liderange ou direpdo, enquanto o tips autccrd: tico, aligSrquiee ou centralizedo a inibe ou ditt cults, Mas, as vezes, independentemente do: tipo de lideranga, 2 estruture mesma da organizagao influl na particlpagao. Sabe-se que na medida em que uma organizaglo cresoé 6 se torna mals: complexe 1a participa¢to de todos os saus membres nas deci- ses fica mais dif(eil, exigindo 0 estebelecimenta ‘de mecanismos de delegacdo o répresentacéa., Um sspecto importante da participagio @ @ distribuigka de fungbes. Por exemplo, numa as60- clagda da moradores de um bairro ou favela, os membros distribuem entre si os trabslhos; alguns sfe liderancas, outros tomam parte am comités de sade, educagiio, saguranga, ete, Embore cada Comité seja_ relativamente auténomo em suas decisBes ©. atividades, € 2 comunidade como um {ode que autoriza 0 funcionamento dos camités, indica quem deva participar em cada sator @ recebe of relatérios e prestagdes de contes. ‘Note-se que na medida am que a esirutura de uma organizago seja flexivel e descentralizads, 2 participago desenvolwse mais naturalmente. TA mesma coisa acontece com a flexibslidade de programacSo. Quando todes 4s ceeaciagdo esto rigidamente pravistas num pro Grama éstabelecido, @ participaeio na tomada de seeisoes deixa de ser relevante @ se reduz 4s deci: ses trivials da ttica operacional AS FORCAS ATUANTES NA DINAMICA PARTICIPATIVA ‘Apesor de 2 participaco ser uma neowssidade ‘bésiea, © homem nfo nasca sabendo participar. A participagio 6 uma habilidade que sa aprende ¢ 82 Sperfelgoe. Isto 4, 8 diversas forcas e operacbet que eonstituen a dindmica da participagéo devem Ser compreendidas ¢ dominadas pelas pessoas. @ No reunigo dos Silva, haveré alguma forma de fevor_o pai @ abrir mo de seu autoriterisme para ‘que 08 membros se expressem oom menos temor € aeptribuam para encontrar solugGes mals funcio- pals pata 0s problemas da familia? t Na favela do Cravo, quais seriam os melhores caminhos pare envolver todos of membros da Asso Giagdo de Moradores na luta pela agua? @ No munic(pio de Reboucas, que poderiam fazer Os agricultores a respelto de sua participsqio no oue faAenoEARAC a planejamento supostamente participative dos tra balhos do Extensfo Rural, quando sdo exclu (dos da slaborado do diagnéstico inicial de seus pro: blemas? Se 0 condidato @ governador vier @ ganher 25 elefeBes e seu partido implantar uma alternstiva Corunitéria participative, qual seria 2 politica das Clowes trabalhadorss para évitar que sua partic pando. seja_maniputada em beneffcio das clastes frédia @ alta, como é tradicional? tue forces poderiam os paises do Tarceiro Mundo mobilizer para incrementar sus particinae3o fas decis6es mais importantes des Nagées Unidas, impedindo que.as grandes poténcias excrgam 0 sireito de veto? Os exemplos nos indica que, em cada nivel & am cada caso, a dindmice ds participagto serd dife- rente. A dindmica da microparticipaglo. em grupos primrios © assoclatives 6 diferente da dindrnica d2 rrgcroparticipaciio na luta social e politica de gran: des masses. Existem, no entanto, alguns denominadores comuns, [sto 6, algumas forces que costumem atuar fe que, bem compreendides, podem ajudar a levar adiante a participarao. Gragas aos estudos da psicologla social, as forcas atuantes nos grupos humanos so relativamente Sonhecidas, Por isso Bo as analisaremos aqui, Fezendo excegio para algumas que sa consideram mais relevantes. 1, A farce das instieuigGes sociais 6 8 primeira. Q homem & um ser essencialmente instituefonalt zado, isto 8 su comportamento é fortemente influenciado pela fam‘ia, a educagdo, a religiBo, a economia, a saguranga, InstituigBes sociais que tém sous préprios dogmas e normas. Estes dogmas e normas vim canalizados © orge- nizados pela tredipo, pela cultura. Nossa tredigaio \gtino-americana, por exemplo, & menos partici: pativa que a dos Estados Unidos, onde 6 comum que até uma humilde velhinha que possul um par de agdes numa compenhia essista Gs assembiéias para defender seus direitos. Nés costumamos dai: Xar que uns poucos se encarreguem das decisSes & das atividades, reservando-nos apenas o dirsito de criticar seu desempenho. Quantos de nés, por exemplo, fazemos questo de participar nas reu- nies de pais e mestres, de condéminos dé prédio, da comunidade paroquial, de acionistas de empre- sa, ete? 2. As pessoas que s@ encontram em contate freqilente, camo num grupe de trabalho, de vizi- mmhanga ou de amizade, tendem 2 desenvolver uma arganizepéa social informal, bem como comparta- mentos padronizados @ cédigos de comumicagia que distinguem os membros dos ndo-membros. Desenvolvem ainda certas normmas grupais, a3 vezes inconscientes e que no afetam iqualmente a todos 03 membros. Toda pessoa que deseje Ingressar no gfuno ou trebalhar com ele, primeiro tem de oque ee ihe " aprender sua estrutura de organizagia social infor: mal @ seus cédigos.e normas, Sabe-se também que os membres de grupo par- ticipam mais intensamente quando percebamn que © abjetiva da a¢fo ¢ relevante para seus préprios abjetivos. Se as membros de um grupo concordam com a nétestidade de alguma mudanca, pode ser feita uma forte pressio para alcancar a meta, pois neste caso a press$o serd exercida pelo proprio grupo. Os |idares comunitérios e agentes educativos sabem que 0 pove participa mais e melhor quando © problema responde @ sous interesses @ rio apenas aos da lideranca ou das instituig’es externas, Sabem ainda que o objetivo deve ficar bem claro para tados as membros. 3. Dentro de todo grupo existem diferengas ind videais no comportamento participative. Cada membro participa de urna maneira diferente. A variedade de maneiras de participar é uma forea positiva pera a dinmica do grupo, mas, ao mesmo tempo, exige uma tarefa de coordenaeso e.comple: mentaco, que & tunc#o de todo o grupo e, espe- cialmente, de suas liderangas. Os Iideres @ agentes educativos aproveitam as diferencas individuals construtiva mente na participaco. 4. A atmoastera geral de um grupo deriva em par: te do estilo de lideranga existente e que pode ser autoritério, demoerdtica ou permissive (laissez faire). Tal atmostera afetard tanto @ produtividade do grupo como o grau de satisfagio @ de responsa- ay UAV E peas RoR eAre bilidade de seus membros. 5. A patticipacdo & mais genuina © produtiva quando © grupo se conhece bem a si mesmo e so mantém bem inforinado sobre 0 que acontece dentro. @ fora da si. A qualidade da participaglo fundamenta'se na informaggo veraz @ oportuna: Isto implica num eentinus processo de criecio de conhecimento pelo grups, tanto sabre si mesmo coma sobre seu ambiente, proceso que requer a aberture de canais informativos confiivels @ desobs- ‘trufdos. 6, Uma forga atuante sobre a participagiio é um bom mecanismo de reelimentacso, no sentido de (08 membros reeonhecerem — de maneira répide e efetiva — as conseqiiéncias de seus atos 6 o5.resul- tados da ago coletiva. Isto & particularmente importante dado 0 cardter imediatista de nossa cultura: o povo deseja ver resultados concretos de sau esforgo ¢ nio estd acostumado a esperar recom: pensas tardias. A capacidade de aguardar recom ensas demoradas vem com a educaggo. 7. Ora, a maior force para a participagto 6 0 didtogo. Dislago, alids, néo significa somente con: versa. Signifiea s2 colocar no lugar do outro para compreender seu ponto de visto; respeltar @ opini¥o alhoia, aceitar a vitéria da maioria: par em comum a expariéncias vividas, sejam boas ou ruins; parti« thar a informac#o disponivel; toterar longes dis- cusses para chegar @ um consenso satistatorio para todos. Save E Paar pag 1 G diélogo tem seus requisites. Compreende nfo 88 0 melhioramento da capacidade do falar 9 escutar mas também o dominio das técnicas da dinémica de grupos {discussto, dramatizacSo, lideranca de reunides, etc.) @ 0 usa efetivo dos meics de comu- nicagdo grupal, 8. O padréio de eomunicapiio dé um grupo &, a0 menos em parte, determinedo pelas personalidades Individuals dos membros. Por sua vez, 0 padréa de comunicagio exerce influgncla sobre © comporta mento dos membros. A desigualdads, ou a percepeSa de desigualda. ‘des, conspira contra a participacdo. Na presenca do patro os operdrios nfo utilizam a mesma franque- 28 que quando © grupo ¢ homogéneo. O didlogo verdadeiro sé 8 poss(vel entre iguais ou entre pessoas que desejam igualar-se, 9. 05 membros que muito contribuem para as discusses, intervindo com freqiéncia utilmente, tendem a converterse em elementos focais da camunicaséo. Os membros com status mais ele- vade, @ que gozam de malor aceitag#o por parte dos demais, tendam a iniciar mels comunlcagies que outros, modificande assim a direco da comu- nicagio. Em grupos grandes, os participantes tendem a dirigir suas comunieagSes 3 pessoas somelhantes a eles mesmos. Isto explica em parte a téndéncia para 4 formag3o de grupinhos e fracées @, eventuatmen- te, para o surgimento de antagonismos, ® N08. O12 BORDENArE oust eanncingis 5 10. 0 tamanho dos grupos influl sobre o grau de Participaggo. Embora um grupo grende conte mals recursos qua um pequeno, o nivel de pa Paro de cada membro tende a baixar. Dal porque tém s@ desenvolvido técnica para quebrer um rupo grande (assembidia) em grupos pequenos. Em nivel de sociedad global, a participacio se ‘tora um processa muito mais complicado do que ‘em nivel de grupos ou associsgses, Com efeito, & ‘nessa nivel macro que se manifestam dé maneira mals forte 05 condiclonamentos dssfavordveis & Participacio, 1. A grande causa da resisténcia 6 a contradi¢go de fundo entra a igualdade de todos os cidadas na estora pablica w sue desigeraldeds na estera privada Vivemos dentro da um sistema que niio pode fun. clonar senfo daclarando a igualdade e aplicando a discriminaedo; um sistema que transfere & socie- dade politica o esquema de dasiguetdade da socie- eda civil, abrindo para @ burguasia a possibilideds de fazer politica com toda 8 forca de suas posigdies ‘Adquirides no esquema civil de desiguatdade. Daf 0 surgimento, nas Gitimas décadas, de uma distinedo entre os que consideram “participacso politica” movimentar-se dentro das regras socials vigentes, esperande extrair seu potencial igualité. ‘fo, @ aqueles que stuam dentro da estrutura mes. / ma da desigualdede a fim de derrubé-la @ destruf- la, A primeira & a alternative parlamentiria © 4 segunda ¢ a alternative da lute de classes. 0 tipo de participagao inerente a uma e outra é marcads. mente diferente, 2. Outra questo que afeta @ participaclo social! a politica é @ mareada diviséo existente em nossa ledade entre 0 setor oficial e 0 setor civil. Tra: dicionalmente supBe-sa que o setor oficial 6 o inielador e promotor do desenvolvimento, sendo o setor civil apenas seu beneficidrio . . ow vitima, Esta dicotomia tem tido como saldo a existéncia de um verdadsiro abismo entre os dois setores. De um lado ero os teenocratas © burocratas que plane. jam, decidem 9 executam. Do outro lado, uma enorme massa de pessoas somente dedicadas a seus préprios interesses e negécios. ‘A comunicagso entre os dais setores & precdria @ ngo ratamente conflitante. Lembremas o destino dado palas eutoridades a uma peti¢go, com mitha- res de firmas, apresentada pelo Comité de Luta contra a Carestia, Lambremos a greve de maquinaria feita pelos produtores de arroz do Sul, que colo- caram seus tratores e colhedeiras nes estradas como proteste contra ds baixes pracos fixados pelo. go- Verne para seu produto, Lembremos que u nova ‘no fol consultado para o pals assumir ura divida externa superior aos 100 bilhBes de délares @ qua o ove terd que ajudar a pagar, 3. Daf a crescante popularidade das propostas say favor oe uma democracia diteta — quer dizer, seis comma participaeso — am substiwuigie fle uma democracia indireta, isto 6, democrann Halitiva tem um grave defeito: a criagsa do poll tice profissional, com @ conseguinte despolitizecdo & sandidatos. Distinto seria 0 caso se, na lgosldvia, os representantes da, 929088) continuassem no exercicio de fu $6l8, vinculados as bases que os forma dirsta:e continua, @ pusdessem sor destitul. dos @ qualquer tempo. pala assembléia da Organi Zeedo ou comunidade que representa, mesmo tendo um perfodo de mandato definido, 4. Os acelerados avangos dio assaciativisme ne Spoca presente podem também vir a Serums res. Posta, pelo menes parcial, pare o dilema aur Sociedade civil, sam desconhecer 9s paderes © og Geveres do. Estado, trata de fortalecar-se através da Perticipaggo am organizecBes de todo tipo, para Sr ltt. tethor interlocutor do governo, para methor fiscalizé-lo © orienté-o, Desnecessério dizer que a socledade ci nlio re NG substituir 0 Estado, mas também nde Heer isixéto como dono 8 Sanhor das decisbes nacionals, Ela no aceita assumir uma contribuicgo. Gus Eraanicienghe maior dé recursos sob o pratexto de “planejamenta Participativo' © outros engodos de Estado para que sejam construidos, a menor prego para esta, estra- das, escolas 8 postos de satide. Porém exige ser consultada no planejamento @ execuclo destas obras, visto que é ela, a sociedade civil, que vai utilizé-las. Neste sentido, a participagge social ¢ politica é a luta des classes. populares para qua as classes dirigantes cumpram seu dever. Ao mesmo tempo, 8 participaeso nestas Iutas pelas estradas, escolas, postos da satide, etc. serve para fortalecer a cons. ciéneia de classe preparandé o povo para passar 8 luter por vansformagSes mais drésticas das estru- turas socials. A participagdo néo tem, pois, somenta uma fun- Gao instrumental na co-direezo do desanvolvinenta pelo Bove eo governo, mas também exerse uma fungio educativa da maior importéncia, que con- siste em preparar 0 povo para assumir © governo ‘como algo préprio de sua soberania, tal como esté ‘escrito na Constituigdo. Através da participa, a populagdo eprende 2 transformar o Estade, de Srado superposto a socie- dade @ distante dala, em érg8o absolutamente de- pandente delaa préximo dela, A microparticipagéio come ‘base da macro Uma grave deficiéncia da democracia liberal é Pretender que 03 cidedgios exercam @ macropartiei- Packo sem que necestariamente passem pela apren- dizagem da microparticipardo. Nem na familia, Rem na escola, nem na fabrita a nem mesmo no partido politico se ensina @ participar. Conseqiién- clas: os cidados esperam tude do paternalism do governo; as leis se formulam mas nfo $e cummprem {bois no fol desenvolvida a responsabilidade s0- cial}; © povo permanece atomizada © desorgani- zado; 08 demagogos ¢ caudilhos papulistes mane- jam © povo a seu bel-prazer @ 03 ditadares o do: minam por longos perfodos, sem encontrar firme © geral resisténcia popular. Na nova democracia, que se pretende participa: ‘tiva, 6 fundamental a micraparticipacio, aquela ‘que 38 dé nas comunidades, sindicatas, assaciagSes de bairro, grémias estudentis, sociedades profis- sionsis, grupas de igreja, clubes esportivos, escolas de samba e muites outras expresses assoclativas, E af onde a praxis participativa e a educagio para 8 participagdo se desenvalvem e ampliam. Entretanto, se # microparticipacio € sempre crientada somente para reivindicagbes especiticas, tais como melhor salério, construgio de escolas, estradas ou postos de sate, isto & como um fim a we oek2 agaoExave ‘em si @ nfo como parte org3niea da macroparti papio, a luta do povo correo risco de ser integrade no-paternalismo @ assistaneialismo do sistema pol tivo geral Nos trés exemplos seguintes, de participagio na comunidade, na escola @ no munic (pio, observamos como a microparticipagdo, atém de cumprir objet vos imediatos de elevada relevéncia social, prepara para a macroperticipacéo, A participagado na comunidade A participagiio comunitéria consiste num micra- cosmos pol tice-social suficientamente complexo ¢ dindmico de forma @ rapresentar 2 propria socieda- de ou nagdo, Quer dizer que a participagio das pessoas em nivel de sua camunidade 6 a melhor prepara¢io para a sua participago como cidadéos em nivel de sociedade global. Para a andlise aproveiteremos as observacdes feltas por Frances O'Gorman ém diversas comuni- dades de base no Brasil. Elas fazen parte do livro Dindmica comunitéria nes palavres de povo (Edi tora Vozes, 1881). Quer no interior de um municipio rural, quer da um bairro de. periferla urbana, 0 grupo camuni- tério & um nidcleo retativamente coeso dentro de uma viginhanga maior, ne qual existem também Dobe e manmicientha a de interesse ou de classe (sindicato, escale de samba, time de futebol, seltas religiosss, etc.). © grupo comunitério geralmente possui um nbeleo de lideranca, que é uma equips, um gru- ‘pinho firme que estimula e sustenta a organizerdo ‘8 mobilizagge de grupo comunitério e interage mals de perto com os agentes educetivas ou da I. O niicleo de lideranga, agindo palo grupo eomu- nitério, sé relaclona com 2 vizinhanga, ou seje, com 08 moradores da rua ou do pavoada, @ com os grupos de interesse Diese participatéria, se tom procurado desmisti- de comunicarso, ensinando um "vo de membros da comunidade ausé-los. Km resume, alémm da preocupactio sobre quem detém @ poder de controle final das decisdes num proceso participative, 6 necessirio também mantér reoeaiho wigifante sobre a escolha dos instrurmons os uM odolegicos da ago participative, pols ume pparcela substancial de poder de controle costuma beompanhar a eseolha feita. eee caus ErasmoIacho 7 @ a participario, que compreende es anteriores, Privar os homens de satistazerem estas necessidades equivale a mutifar o desenvolvimento harménice de sua personalidade integeal. 2. A perticipaséo justifica-se por si mesma, no por ‘sous resultados, Sendo uma necessidade © um direito, a partici- page no consista apenas numa opc#o metodold- ‘gica para cumprir mais eficientemente certos obje- tivos; ela deve ser pramovida ainda quando dela resulte a rejeicSo dos objetivos estabelecidos pelo promotor ou Uma parda da eficiBncia operativo. ALGUNS “PRINCIPIOS” DA PARTICIPACAOQ 3. A participagSo 6 um proceso de desenvolvimento da consciéncia critica ¢ de aquisigfe de poder, Quando ea promove a participapo deve-se acei- tar 0 fato de que ela transformerd 9s pessoas, antes passives @ conformistas, em pessoas ativas e criti: ‘cas. Algm disso, deve-se antecipar que ela acasio: ard _uma dascentralizacSo e distribuicso do poder, antes coneentrade numa autoridade ou num grupo pequeno, Se no se estd disposto a dividir o poder, 6 melhor no iniciar em movimento de participagio, 4. A perticipagiio leva a apropriaggo do desenvolvi- mento pelo povo, ‘Toda vez que o povo participa do planejamento © execugio de uma atividade ou processo, ele se sente proprietério do mesmo ¢ co-responsdvel de A guisa de s(ntese final dos diversos aspectos da | participario abordades neste livo, gostaria de Propor aigumas afirmagSes que, sem pretensio dogmdtica siguma, considero bésicas para orientar ‘este importante proceso social. Evidentemente, ‘sutras pessoas podem encontrar outros “princt. pics", i que um proceso amplo @ multifacetado, somo a parti¢lpacgo ndo cabe em estreitas simpli ficagtes, 1. participagio & uma necassidade humana e, Por consoquinta, constitui um direito das pessoas. Q ser humano possui cartes necessidades dbvias, como. 0 alimento, 9 sono # a sade. Mes também Possui necessidaces nGo-davias, como o pense mento reflexivo, a autovaloraego, a auto-expresséo 7” unt oun Bes AN Ove € asrieAcO ts ‘seu sucesso ou fracasso, Um projeto participative nfo se acaba quando se retiram as fontes externas de assisténcia, pois as pessoas 0 consideram “seu”, 5. A participargo Salo quese eprende ¢ aperfeicos, Ninguém nasce sabendo participar, mas, como se trata de ume nécessidade natural, 8 habilidade de participar cresce rapidamente quando existe ‘oportunidades de praticéi-la. Com a pritica e a autocritica, @ participario vei se aperfelgeendo, pasando de uma etapa iniclal mais diretiva a uma etapa superior de maior flexibilidade @ autocon: trole até culmingr na sutogestéo. 6. A participagao pode ser provocada e organizada, sem qué isto signifique necéssariamente manipu- Tago, Em grupos sociais nfo acostumados & partici. pagio, pode ser necessirio induzilos & mesma, & claro que, a0 fazé-lo, pode aver ocaslonalmente intengScs manipulatéries, mas também pode haver um honesto desejo de ejudar @ inielar um proceso que val continuar de maneira cada vez mais autér noma. 7.A participecao & fecilitada com a orgenizagio, 8.8 criagéo da fluxos de camunicagso, Por consistir numa tarefa coletiva, & partici: pagio se torna mais eficiente com a distribui¢go de fungdes © 2 coordena¢o dos esforgos indivi duais, 0 que demanda organizagSo. Além disto, a0 cansistir na coloca¢io em comum de talentos, fexperiéneias, conhecimentos, interessos recur- 05, 2 participago requer meios de expresso ¢ ‘toca, Exige também que as pessoas aprendam a sz comunicar, quer dizer, a usar bem diversos meios de camunicagiio 2 métodos de discussio e debate _que sejam produtivos e democréticos. 8. Devern sar respeitadas as diferencas individual na forma de participer. Nem todas a5 pessoas particinam da mesma manelra, Hé pessoas timidas @ outras extrovertidas, mas gregérias @ outras que gostam de certa sali: dio, umas que so Iideres ¢ outras que gostam de —, sequilos, O sucesso da partieipacio descansa em parte no apreveitamento da diversidade de “ca ' riamae", sem exigir comportementos uniformes 0. pouco naturals das pessoas. 2 8,A_participaggo pads resolver conflitos mas. também pode geri-los, — E umerro esperar qué a participagdo-traga neces; sariamente paz @ a auséncia de conflitas, O que ela traz @ uma maneira mais_evoluida e civilizada da resolvé-los. A participagso. tem inimigos exter- nos @ internos: em nossa Sociedade classista @ hie rérquica nem sempre se aceita o debste com “inferiores” na escala social ou de autoridade, Dentro do préprio grupo haverd pessoas que, 0 JUKE DIAE SoRBENAGE mesmo admitinda que todos sie iguais, eonside- ram-se "mais iguais”” que os demais. 10, No sa deve "sacratizar’' a participagiio: ela no 4 panectia nem & indispensivel em todas es oca- sides, Q fata de um grupo ter adotado um enfoque Rarticipatério nfo quer dizer que todo 0 mundo deve participar em tudo, tode o tempo, Isto pode- Fla acarretar ineficléneia e enarquis, E clare que 80 proprio grupo que deve decidir, participative- mente, quando tals ou quais membros devem participar ou nfo, em qual atividede, @ quais assuntos devemn ser objeto de consulta geral ou somente objeto de decisso por um grupo delegado, A participagso no equivale a ums assembléia Permanente, nem pode presindir de utilizer mecanismos de representagdo. A participagdo € compativel com 0. funcionamento de uma auteri- dade escalhida democraticamente. “A participacdo deve e pode ser um instrumento de reforgo dos ca- nals democréticas de representago e nfo a eterna devolucio 80 povo dos problemas da prépria camu- nidade." Deste mado, com a demarcaro rigorasa dos canais de perticlperso, a autoridade publica cumpre O Seu papel & assuirne sues responsabill- dedes de governar com a mandato que recebeu das unas. Todos ostes “principios devem ser lidos e entendides dentro do pracesso geral, histérico, de (ove emancionpAo 8 construpSe da uma sociedade democrities partici pativa, na qual, grepas propriedade eomunitéria dos melos de produglo, todes os membros da sotiedsde tenham parte na gesto e controle dos Processos pradutivos e tenham parte eqiitativa no usufruto dos benef{cios conseguides com seu trabalho e sou esforgo,

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