CAPITULO | 5. Ensaio Comportamental VERA REGINA LIGNELLI OTERO O Ensaio Comportamental é um procedimento utilizado em priticas de intervengao, em diferentes situacdes, para ensinar comportamentos por meio de treinamentos. Ele também pode ser chamado de treinamento de papéis ou £uma técnica inspirada nos procedimentos desenvol- vidos por Moreno (1946/1955), criador do Psicodrama. Os trabalhos de Wolpe (1949/1958) e Wolpe e Lazarus (1966) também fundamentam 0 desenvolvimento do Ensaio Com- portamental. Esses autores lidavam com comportamentos complexos, como os apresentados por pacientes f6bicos. As técnicas propostas por eles visavam a aprendizagem de novos padrées de comportamentos que deveriam ser emi- tidos diante dos estimulos que anteriormente provocavam reacdes de medo. Wolpe acreditava na importancia das con- seqiiéncias ambientais para a aquisic¢ao de novos compor- tamentos assim como na possibilidade de se ensinar 0 cliente a resolver problemas no contexto terapéutico. Outra contribuigao a formulagao da técnica foi dada por Salter (1949). Ele enfatizava a importancia da aquisigao de comportamentos chamados assertivos nos processos tera- péuticos em geral e nao apenas nos comportamentos pa- tolégicos. Ele propés um conjunto de técnicas que visavam Jevar a expressao de emogoes, opinides etc. Nessa mesma época (1949), Skinner sistematizou suas andlises para a compreensio das leis que regem os com- portamentos. Os conhecimentos produzidos pelas pesquisas com sujeitos animais e humanos, ao lado dos estudos sobre 0s procedimentos e resultados das intervengGes terapéuticas, deram um novo rumoas praticas clinicas, a partir de entao, fundamentadas em dados de pesquisas. Digitalizado com CamScanner206 1 Terapia Comportamental Den igbes levaram a formulagao de procedimentos s pessoas a resolverem seus problemas. ‘Ensaio Comportamental é uma das técicas otiginadas desses conhecimentos eutlizadas na préticaclinica Nest, feqdentemente- dopara-secom pessoas yue- apresentam varios tipos de dificuldades de interagao social e que, em decorréncia disso, vivem muitas situagdes problematic possuem déficits em seus reper- {6rios comportamentais e, em fungao deles, desenvolvem, dentre outras coisas, uma intensaansiedade ques conduz aos estados de sofrimento eas impedem de. teruma vida semelhante a da maioria das pessoas. Isolam-se em seus mundos, privando-se de convivéncias que thes seriam queri interagbes desas-, fangansquncompro miter ells TEMEICRIATICRTER as sofrem porque nao conseguem dizer o que querem ou sentem. itadas pelos déficits em seus repert6rios comportamentais que, as vezes, s20 inadequados ou inexistentes. ‘OEnsaio Comportamental éum/procedimento por meio do qual s ilidades interpessoats que ajudam o clienteamelhorarsua vida. Euma das principais técnicas utilizadas parao desenvolvimento daassertividade. A.assertividade ¢ entendida como um conjunto de habilidades de interagéo social que permitem a expressto de vontades, de opinides ou de sentimentos. Diz-se, ueuum comportamento é assertivo quando ele pode ser categorizado como apro-. Priado, adaptativo ou socialmente aceito, ‘Ocomportamento assertivo, segundo Rimm e Masters (1983), 6: 1. Interpessoal e envolve a expressdo genuina, honesta e relativamente diretay de pensamentos e sentimentos; 2. Socialmente apropriado de acordo com a comunidade em que estd inserido; 3. -Aquele que, quando emitido, leva em consideragio.ossentimentoseobem- estardos outros; 4, Diferente de comportamento agressivo pois nao é socialmente repreensivel, no é coercivo endo desconsidera os direitos das outras pessoas. Comportando-se assertivamente, a pessoa sai de um estado de sofrimentoe "de ansiedade, passando a ter uma sensagao de conforto e de bem-estar. Ela tem maior probabilidade de obter recompensas sociais significativas! ara desenvolver assertividadeuma pessoa poder’ passar| assertiv, o qual inclui varios procedimentos para aumentar habitidades de interagbes sociais. Dentre esses procedimentos, Comportamental que € 0 objeto de interesse deste capitulo. Ensaio Comportamental « 207 CONCEITO Ensaio Comportamental é uma téenica de intervencio que visa o aprimora- mento do repertériocomportamental existente ou instalaggo de novos com- Tortamentos. &um tipo de repre : Paris da vida da pessoa nas quai iente representam seqiéncias, das futuramente pela pe ‘desempenhar o papel do = ore quando isso ocorre, diz-se que ele esté dando um modelo. Esse proce. Grmento pode ser repetido varias vezes com alternancia dos papéis epresentados por cada um. Isso € chamado de inversdo de papéis, (© Ensaio Comportamental pode ser empregado em uma grande variedadede problemas clinicos em atendimentos indviduais ou de grupo owem terapiadecasal | bu familia, Pode ser usado com criancas, adolescentes ou adultos. (0 Ensaio Co1 amental também é realizado em contextos institucionais escolas (t (treinamento de snes fungdes ou papéis) ou em igrejas, penitencidrias etc. PROCEDIMENTO Para utilizagdo da técnica de Ensaio Comportamental as situagdes a serem trabalhadas devem contemplar os seguintes passos: L tyme tordaaiapSoeninblania aa danecscoOerTe rencias precisas sob! + QOllBocorreurminncomanoudeveria ecomennasinacies * QUEM emitiu (oundo) o comportamento, estava ou estard presentena situagao; + COMO foi ou como deverd sera interagio; * QUANDO foiou Aserai * ONDE foi ou deverd sera interagao. E necessério que a descrigao contenha informagdes sobre os com- ‘enio verbais. Por meio de perguntas ereforcamento., diferencial de respostas, 0 terapeuta modela, no cliente, o comportamento de relatara situagao a ser trabalhada. Nesse processo, 0 cliente identifica os com- Ponentes internos e externos de sua dificuldade e, a0 mesmo tempo, aprimora, Seu repertério comportamental, 2. Decomy \iiéncia ¢ ema por vezs . it yeloe paraociiente; + Limitar-se ao problema exposto naquele momento; . Simulasinteragdesbreves que dren msimo,3 minutos Digitalizado com CamScanner4, Representar a cena: + Tsumular alien para que ele sigaasinstrugies dads ou reprodura as.cenas por ele observadas, 6. Inverter papéiss, * Quand necessério, podem ocorrertrocas de papdis entieo dienteen " terapeuta com o objetivo de aprimorar o desempenho. 7. Reapresentat: | if entation + Ascenas podem ser repetidas quantas vezes forem necessétias. O tera. ‘ ) desempenho, reforgando os aspectos positives: oferece uta deveavaliar constantemente seas repeticoes esta senda porta, a ‘Sgeeeineanes menus espera repeiictods coeeraeveedarapmeneay 10 cliente naqucla situagao, evitanda desyastes desnecessirion, | seannuasioa aczzasdri, a6 qu: ambou conslcRAteGEDjetos foram aringkson, 10 0) aval 9, Progsamara generalizagio: * Para que o Ensaio Comportamental possa atingir seus objetivos, 6 ne- tamentais si colocadas em pratica 10, Aallat a desempenho ni situagio ; ‘ai cpa : ‘ou malsucedido, Digitalizado com CamScanner210 Krag Compost Movetacem ron Arroxinacbes Sucessivas F-um procedimento no qual se reforgam postiva e Ercan Cargeetamertel ® 214 1, VaTO Ver Se tern USM Out Go mogo do post eee antes © voce val janga fica parada e nao atende a sugest “Vamos, faga de conta que ser pra “Voce viu que cu esperci? Eu também nao estou com raiva. Na sua sso, de voce ficar com raiva?” cho que vocé nao se lembra que a outra pessoa tern outras as pra fuer alm das suas, Vamos pegar 0 caminhiio? Ag é outra vez, a consegue esperar ej sabe que, as vezes, a x i ina.” Vou ver quem esta me chamando.” imula uma conversa com outra pessoa, enquanto ) tal aparece como um instrumento pelo qual se revelam, na presenga do terapeuta, os comportamentos encobertos que levam a construgio Digitalizado com CamScanner212» Terapia Comparamental ir pode-se idk do e cle modelay lostaria que vocés tentassem reproduzit, com a maior fidelidade a discussdo de ontem & noite.” jue ela quer acabar com a minha vida, Eu nao vengo tra- faz isso pra me agredir.” lar, nao é nad: a ‘que voce esta sa antes de falar): “Med ‘vocé se sente em casa qu: ‘Do mesm 'Vocé diz isso para ele?” nao da. S6 quando a raiva vai crescendo e ja virou briga.” importante que se identifique o que se sente e se diga para nio ‘os. Tente dizer pra ele. José, tente ouvir, pensar no que a Esposa:"Eu queria que ele me deixasse falar. Que ele acteditasse em mim.” ‘Terapeuta: “Como voce pode dizer isso para ele? Diga.” : Esposa: “Eu quero que vocé acredite em mim, cu nao gasto pra te agredir... Marido: "Como se eu nao te conhecesse! ‘Terapeuta: “Tente escuté-la. Maria, fale olhando pra ele.” - 08a: "Eu compro porque eu gosta. Eu compro escondido porque voce s6 ‘Pense. Vocé acha que ela esta dizendo a verdadet" Matido (faz uma pausa antes de falar: “Pode ser. Eu sei que ela fica triste. Eu tamb 'u ndio gosto que voc compre escondido. Faz uma coisa e diz que Terapeuta: “Como voce se sente?” Maric ido, nao posso confiar nela, Vou ficando com raiva." ‘Terapeuta: ‘Diga pra ela, Tente falar olhando pra ela.” Ensaio Comportamental 213 falea verdade." 1 chegasse mais cedo em casa, perguntasse andonada, ignorada, desvaloriz 1e vacé faz com isso, com estes s rimentost” vinganca. Eu sei que Eu gasto. Além de gostar de comprar, eu me vingo.” erapeuta: “O que voce acha disso, José?” ; Marido: “E verdade, ela me pede pra chegar cedo em casa e eu s6 trabalho. Eusempre quero ganhar mais dinheiro. Chego em casa exausto. Nao quero nem. 4 conversa voces nfo fazer um programa gostosojuntos™ “Terapeuta: "Vocés se esqueceram dos prazeres? Nem perceberam que o comprar eoimpedir de comprar tem outra fungao no re to de voces. Servem de ppunigdo miitua etem sido a maneira mais freq iamento entre voces. Gostaria de sugerir para vocés, como tarefa de casa, que tentassem propor um a0 ‘outro e fizessem acontecer algo que o outro goste de fazer em conjunta” Resumidamente, o Ensaio Comportamental se mostra como uma técnica ex- ara a instalagao e aprimoramento de habilidades de interagdes “Sd ax qual judam as pescone a rharem assertivas. E um instrumento so : coadjuvante nos processos terapeuticos ede aprendizagem, em diferentes tipos “de instituigées, podendo ser utilizado em situagées para se avaliar quais pessoas - irao se tornar mais habeis, social e emocionalmente. Sua utilizagdo também é uma opgao relevante para o ensino, porexemplo, de pessoas portadoras de problemas médicos, como hipertensio arterial, cardiop: diabetes, a manejarem sentimentos como a raiva (Larkin e Zayfert, 1996). Também se emprega como uma técnica para auxiliar e promover o desenvolvimento do tepert6rio comportamental de pessoas com necessidades especiais e deficits em diferentes éreas. Ensalo Comportamental, portanto, € um procedimento essencial e eficaz no desenvolvimento de comportamentos assertivos, na identificagao de sentimentos ‘Sepeprendzapem, da maneira adequada de exprimi-los. Também é efi aauisigdo do comportamento de observar asi eaos outros com quem se interage. SRdeve serutlizado, a exemplo de qualquer outra técnica, apéso estabelecimento ‘deuum bom vinculo (terapéutco ou nfo) edo dominio dos princpiosnelaenvolvidos. ReFeREncias CABALLO.V. €. Manual de técnicas de terapia e modificagéo de Comportamento. Séo Paulo: vrata Santos Editora, 1996, LARKIN, KT, ZAYFERT, C, Anger manegeme Journal of Behavioral Medicine, 19:41 ining with mild essential hypertensive patients, 96, Digitalizado com CamScanner214 & Terapia Comportamental MORENO, J. L. Psychodrama. v.1. In: RIMM, D.C., MASTERS, J. C. Terapia Comportamental: Técnicas e Resultados Experimentais. Sao Paulo: Ed. Manole, 1983. RIMM, D. C., MASTERS, J. C. Terapia Comp Paulo: Ed. Manole, 1983. ortamental: Técnicas e Resultados Experimentais. Sao ROJAS-BERMUDES, J. G. Introducéo ao Psicodrama. Sao Paulo: Editora Metre Jou, 1977. SALTER, A. Conditioned reflex therapy. In: RIMM, D. C., MASTERS, J. C. Terapia Comportamen- tal: Técnicas e Resultados Experimentais. Sao Paulo: Ed. Manole, 1949. SKINNER, 8. F. Ciéncia e Comportamento Humano. Sao Paulo: Ed. Martins Fontes, 1953 WOLFE, J. Psychoterapy by reciprocal Inhibition. Stanford: Univertsity Press, 1958 WOLPE, J. A prética da terapie Comportamental. Sa0 Paulo: Ed. Brasiliense, 1976. WOLPE, J., LAZARUS, A. A. Behavior Therapy techniques: A guide to The treatment of neuroses. New York: Pergamon Press, 1966. Digitalizado com CamScanner