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CAPITULO V Sin reeiprocos 11 Ag. — Raciocinaste bem; agora vé se é possivel encontrar sinais que se signifiquem reciprocamente, de manei- ra que assim como éste significa aquéle, também, a- quéle signifique éste; pois nio me parece que con- cordem entre si aquéle quadrissflabo (¢ pois), enisir (se no), cergo» (logo), (porque) e outras semelhantes: porque aquela palavra sézinha signi- fica tédas estas, mas nfo ha nenhuma entre estas liltimas que possa significar aquéle quadrissilabo. Compreendo e desejo conhecer quais os sinais, que se significam reciprocamente. Nao sabes, entdo, que, quando dizemos «nomes ¢ «pa- lavray, dizemos duas palavras? Sei, sim, E nao sabes que, quando dizemos «nome ¢ «palavra>, dizemos dois nomes? nbém sei. Por conseguinte, sabes que tanto 0 nome pode sig- nificar-se com a palavra, quanto a palayra com 0 nome, Concordo. E podes me dizer, salvo 0 fato de que se escrevem ¢ pronunciam diversamente, em que diferem entre si? Talvez possa, porque vejo tratar-se da mesma coisa de que falei hé pouco, Com efeito, quando dizemos «palayray, entendemos tudo o que com algum signi- 45 12 Ag. — Ad. — Ag. — Ad, — Ag. — Ad. — Ag. 13 Ad, — ficado proferimos pel do nome, & palavra, 1a articulagdo da voz; assim to- ainda © proprio térzno enomes, € uma mas nem toda palavra é nome, embora quan. do dizemos «palavras entendamos enomer Mas se alguém te afirmasse e demonstrasse que assim como cada nome & palavra, também cada palavea & nome, poderias determinar em que se. difereneras afora 0 diverso som de pronineia? . Nao poderia, e ereio que nio haja Como? Pois se tudo 0 que, com algum significado, se profere pela articulagio da voz tanto sao palavrag como nomes; €, contudo, por certas razdes, sto pas lavras ¢, por outras, sio nomes, nenhuma distingto haverd entre nome € palavra? Nio compreendo, como possa ser isto. Isto ao menos entende: tudo 0 que & ecoloridos & visivel e tudo 0 que é visivel & «colorido, embora estas duas palavras signifiquem duas coisas distin. lus € separadas. Entendo. E ser-te-i iferenga algu- dificil admitir que assim também téda palavra é nome e todo nome é palavra, embora éstes dois nomes ou palavras, isto é os térmos nome e pa- lavra tenham significacao diferente? Ja vejo que isto pode acontecer, mas espero que me mostres de que modo acontece. Reparas, creio eu, que tudo quanto, com algum sig- nificado, se profere pela articulagio da voz, fere o ouvido a fim de ser percebido, ¢ é enviado & meméria para ficar conhecido. Sim, reparo. Acontecem, portanto, duas coisas quando algo emi timos com a voz. Assim &, Que dirias tu se por uma destas qualidades fdssem chamadas palavras (everba», de «verberares, percur- tir, bater) € pela outra nomes (cnomina», de , eprata> sio nomes com que, mais plenamente, que com os mesmos pronomes, as coisas sio significa- das. Vejo ¢ estou de acérdo. Enuncia-me agora algumas conjungdes; as que qui seres. «Ey (et), «também» (que), «mas» (at), «sendo» (at- que). Tudo que disseste, parece-te nome? De maneira alguma. Mas, ao menos, te pareceu que eu falei bem dizendo: «tudo istos, «tudo 0 ques disseste? Completamente bem; e agora compreendo quio ad- miravelmente tu assim mostraste que enunciei no- mes, pois de outra maneira nio se poderia dizer «tudo isto» (haee omnia), «tédas estas coisas». Mas agora me surge a divida que a tua locucio me «pa- receu» justa, porque nfo posso negar que estas qua- tro conjungdes sejam também palavras (verba); de forma que também destas se pode dizer corretamen- te, tédas estas coisas (haee omnia), como se pode- ria dizer corretamente tédas estas palavras (haee omnia verba). Se porém me perguntares a que par- te da oracdo pertence «palavra», responderei que é 49 um nome, Eis porque a éste nome acrescentaste 0 pronome, para que a tua frase estivesse correta. 14 Ag. — Sem diivida estas enganado; mas, apesar disso, de- monstras certa agudeza; entretanto, para por fim ao engano, presta mais atengio ao que vou dizer, se conseguir dizé-lo como quero, pois, falar sébre palayras com palavras é Lao complicado como entrela- car os dedos © assim querer esfregé-los, quando sé- mente quem os mexe pode distinguir os dedos que tém comichio dos que ajudam a acalmar os que tem prurido. Ad, — Eis-me aqui com téda a minha alma, pois esta com- paragao despertou-me profundo interésse. Ag. — As palavras resultam certamente de som e de letras. Ad. — Assim é ‘Ag. — Ora, para servir-nos especialmente de uma autori- dade, que nos é carissima, quando 0 apéstolo Paulo diz: «Nao havia em Cristo o sim e 0 mente havia néle o sim» (1), nao creio que se deva pensar que estas trés letras que pronunciamos di- zendo «sim» (est), existissem em Cristo, mas, antes, © que com estas trés letras significamos. Ad. — E’ verdade. ‘Ag. — Compreendes, portanto, que quem dizia: «Havia néle © sim» (est), no disse mais do que o «sim» (est) era néle»; como se dissesse: «Virtude era néle», nio diria senio que se chama virtude 0 que era néle, ¢ nao pensariamos certamente que se encontravam né- Je aquelas duas silabas que proferimos quando dize- mos evirtus» (virtude), mas aquilo que significado por estas duas silab: (1) 2 Con 1, 19 — A frase do texto latino «Non erat in Christo est et non, sed est in illo eraty, foi tredurida ‘aqui colocando «sims em lugar de <6», que serie o exato correspondente portugués do est» latino, mas que no daria © mesmo sentido do latim. No entento, mais adiante, pera nao desvirluar © texto original, mex fiverios 0 «ests, que — como se sabe — em latim to fembora verbo, seria também pero expressar 0 advér bio de ofirmacdo sims, que no existia na Iinguo, 51 Ad. — Entendo e acompanho-te, Ag. — E certamente compreendes que nao ha diferenga entre dizer: ou ? Ad. — E’ claro, ‘Ag. — Assim é portanto, igualmente claro nao haver dife- renga se alguém diz: ou (¢ — sim) é nome, se o que havia em Cristo se chama est» (¢ — sim). Nao posso nega-lo. Mas se te perguntasse a que parte do discurso per- tence «est» (é — sim) creio que nao responderias nome, mas verbo, embora tenhamos demonstrado com © raciocinio que ¢ também nome. Ad. — E’ exatamente como dizes. Ag. — Por acaso duvidarés ainda de que também as outras partes da oragao sejam nomes, como demonstramos no caso do verbo (em Cristo); tanto mais 53 Ag. — 16 que éle mesmo se confessa indouto na arte de fa- lar? (1) Como pensas que se possa refutar essa obje- io? Nao saberia 0 que opor, e rogo-te que procures al- gum daqueles, em quem se reconhece maxima auto- ridade na arte da palavra, para demonstrar 0 que desejas. Parece-te, pois, que a razdo por si mesma, sem 0 apoio da autoridade, nio seja suficiente para de- monstrar que tédas as partes da oragio significam algo e que, por isto, cabe-Ihes uma denominagao; ora, se se chamam, também se nomeiam, e, se se nomeiam, terdo de nomear-se com um nome; 0 que se vé maui facilmente nas diversas linguas. Pois, quem é que nao vé que, se perguntarmos como os Gregos no- meiam © que nés nomeamos «quis» (quem), respon- der-se-ia. <{g ; Como nomeiam 0 que nés nomea- mos «volo> (quero) responder-se-ia 00 i lo que nés nomea:mos «bene» (bem), éles Yakdg + 0 que nés nomeamos «seriptumy (escrito), éles sd yeyeappévoy jo que nds «et» (e), les xa 3 © que nés «ab» (por, de), éles dma 3 0 que nds cheuy (ai), les of 5 @ em t6das estas partes da orago que agora enumerei, retamente fala quem as- sim interrogar; € seria possivel isto se no fossem nomes? Que sob éste aspecto 0 apéstolo Paulo te- nha falado corretamente, podemos demonstré-lo me- diante éste processo, sem invocarmos a autoridade de todos os oradores: que necesidade hi, portanto, de procurarmos em outros 0 apoio para a nossa opiniao? Mas se houver alguém tao tardio ou tio teimoso que ainda nfo ceda e firme nao ceder sem a au- toridade daqueles autores, aos quais, por consenso de todos, se atribuem as normas da arte de falar, quem se poderia encontrar na lingua latina mais excelente do que Cicero? Ora, éste, nas suas nobi- lissimas oragdes que apelidamos (diante de), ainda que na- quela passagem possa ser tomado como preposicao ou como advérbio. Mas, porque poderia acontecer (1) 2 Cor, 1h & 55 Ad. Ag. Ad. Ag. Ad. Ag. Ad Ag. Ad. Ag. Ad. que eu nao esteja cor Sagem, que poderd ser interpreta ditto ek okey You Sirus eae’ aoe em, 0 a que no creio se possa objetar nada, Os mais conhecidos mestres de dialética dizem que uma frase completa resulta for- mada pelo nome e pelo verbo, quer seja afirmati- va ou negativa; o que Tilio (Cicero), em certa pas- sagem, denomina enunciado ou proposi¢io. Quando © verbo esta na terceira pessoa, dizem que 0 caso do nome deve ser © nominativo, e dizem bem; e se quando dizemos: «0 homem senta, 0 cavalo corre», examinares 0 que ficou dito, reconheceras, segundo penso, que ocorrem ai duas proposigoes. Reconhego-o. Ves tu que em cada uma ha um nome, na primeira, ghomem», ¢, na segunda, «eavalox, e que, em cada uma, existe um verbo «sentay ¢ «corres? Vejo-0. Logo, se eu dissesse somente «sentar ou ceorres, com toda razao me perguntarias quem ou que coisa, para que eu respondesse homems, ou ccavales, ou ganimals, ou qualquer outra coisa pela qual o nome referido ao verbo completasse o enunciado, isto é, a proposicio, que poderia ser afirmativa ou negatl- va, Compreendo. Fspera mais um pouco, € supde que estamos vendo algo bem distante e nfio sabemos se é um animal ‘ou uma pedra ou outra coisa e que eu te diga: «por que é um homem, é (também) animal», nao faria uma afirmacio temeraria? Muito temerdria, mas nao falarias tao temerdriamen- te se disseses: «Se é um homem, é um animal>- Dizes hem, Portanto, na tua frase o «ser agrada mim e a ti; e, ao contrario, aos dois desagrada © «porque> da minha. Concordo. Observa agora se estas duas proposigdes, «se ¢#Ta da», cporque desagraday, esto completas. Completas, certamente. 57 Ag. Ag. Ad. Ag. Aa. ‘Vamos, dize-me agora quais sejam os verbos e quais os nomes, Vejo que os verbos sio cagraday ¢ cdesagraday; © ‘os nomes, quais outros haveriam de ser senio «ses © «porque»? — Logo esti suficientemente demonstrado que estas duas conjungdes sio também nomes. Sim, sufieientemente. E poderias por ti mesmo, seguindo esta regra, de- monstrar a mesma coisa nos confrontos das demais partes da oragao? — Poderia. 7 18 Ag. Ad. Ag. — Ad. — Ag. - Ad. — CAPITULO VI Sinais que significam a si mesmos. Passemos adiante ¢ dize-me se, assim como achamos que todas as palavras sio nomes, e todos os nomes im também te parega que todos os no- mes sio vocabulos e todos os vocabulos nomes. Nio encontro entre éles outra diferenga senio a do som das silabas. Por enquanto nao me oponho, embora nao faltem os que encontram entre éles uma diferenca de signifi cado, 0 que no é conveniente discutirmos agora. Porém, certamente compreendes que j& chegamos a- queles sinais, que se significam reciprocamente, sem outra diferenga que a do som, e aqueles que signi- ficam a si mesmos junto com as demais partes da oragio. Nao estou entendendo. Nio compreendes entao que nome significa vocabulo e vocdbulo nome; e que assim — além do som das letras — nao ha outra diferenca no que diz respei- to ao nome em geral; mas que, quanto ao nome em particular, dizemos ser uma das oito partes da ora- c4o, sem que naturalmente inclua as outras sete. Compreendo, No entanto era isso mesmo que estava dizendo quan- do afirmaya que vocabulo e nome significam-se re- ciprocamente. Entendo, mas pergunto o que pretendias dizer com as palavras «ainda significam a si mesmos junto com as demais partes da oragio>. Nio nos demonstrou a discussao anterior que todas as partes da oracio podem chamar-se tanto nomes palavras, a 61 Ag. — Ad. — Ag. — Ag. — Ad. — Ag. — Ad. — como vocabulos, isto ¢, podem ser significadas pelos térmos de nome e de vocibulo? im é. Se te perguntasse como chamas 0 proprio nome, isto © som expresso por estas duas silabas, nio me responderias corretamente «nome? Corretamente. E por acaso também significara a si mesmo o sinal que proferimos com quatro silabas, quando dizemos «coniunetios (conjuncio)? Nao; porque éste nome nio pode ser incluido entre as coisas que significa. Compreendo perfeitamente. Foi isso mesmo que afirmamos: que 0 nome significa a si mesmo junto com os outros nomes que significa; © que por ti proprio podes entender também do evo- cabulo>. Sim, é facil, mas agora me ocorre que o térmo «nome> pode ser tomado em sentido geral e em sentido par- ticular, ¢ evoedbulos, 20 contrario, nfo esta inclufdo entre as oito partes da ora¢io; parece-me, portan- to, que os dois térmos se diferenciam, ndo sé pelo som mas também por isso. Julgas tu que «nomen» (nome) e Gyoya (nome) se diferenciam por algo mais do que pelo som, que também distingue a lingua grega da latina? Aqui, sinceramente, nada mais encontro. Chegamos, portanto, aqueles sinais que significam a si mesmos e, com inteira reciprocidade, um significa © outro, ou seja, os seus significados reciprocameate se signifieam, de forma que o que éste significa também aquéle significa e vice-versa, diferencian- do-se entre si apenas pelo som: éste quarto caso viemos encontra-lo agora: os trés anteriores refe- rem-se a «nome» e «palavra». Chegamos. 63 19 Ag. — Desejaria que resum Ad. - CAPITULO VII Resumo dos capitulos anteriores es 0 que encontramos discu- tindo entre nés. Farei quanto puder. Antes de mais nada lembra- me que por certo espaco de tempo indagamos por que raziio se fala ¢ achamos que se fala para ensinar ou para recordar: pois, ainda quando interrogamos, nao pretendemes nada mais do que fazer saber a quem for interrogado o que déle queremos ouvir; depois vimos que, quando cantamos, aquilo que fa- zemos apenas por prazer néo pertence propriamen- te & locugdo; e quando na oragio nos dirigitros a Deus, a quem nao cremos poder ensinar ou recordar algo, as palavras tém valor ou para admoestar a nds mesmos ou para, por nés, admoestar e instruir aos outros. Sucessivamente, depois de suficientemen- te ter demonstrado que as palavras nada mais sio do que sinais © que n&o pode existir sinal sem sig- nificar algo, apresentaste um verso, cujas palavras procurei explicar, no seu significado, uma por uma; o verso era: «Si nihil ex tanta superis placet urbe relingui>. Quanto & sua segunda palavra (nihil) n: conseguimos, no entanto, encontrar o que significa- va, pois a mim me parecia que nés, quando falamo: nio a empregamos inatilmente, mas para ensinar algo 2 quem nos ouve; isto é parecia-me que con esta palavra se indicasse, talvez, 0 estado mesmo da mente, quando acha que no existe a coisa que pro- cura ou que julga té-lo achado, e tu me respondeste, evitando com uma brincadeira aprofundar nio sei 65 de que maneira a questo, e adiando para outro :no- mento o esclarecimento: nao acredites, pois, que eu me esqueca dessa tua divida para comigo. Depois, enquanto eu procurava explicar a terceira palavra do verso, fui por ti convidado a no indicar outra palavra que tivesse o mesmo valor, mas, pelo con- trario, a mostrar a propria coisa significada pelas palavras. Depois de eu responder, durante a nossa conversacio, que isto nfo seria possivel, passamos para aquelas coisas que podem ser indigitadas aos nossos interlocutores. Pensava eu que tais féssem todas as coisas corpéreas, mas achamos serem assim sdmente as visiveis. Dai passamos, nao sei de que modo, aos surdos e aos histrides, observando que significa pelo gesto © sem a voz no apenas as coisas visiveis, senio muitas outras e quase tédas as que expressamos com a palavra, e concordamos em que os gestos também sao sinais. Entdo reco- mecamos a indagar como poderiamos indicar, sem nal algum, as mesmas coisas que se indicam pelos , sendo que aquela parede e aquela cor e tudo sivel e que se indica apontando 0 dedo, devemos convir que é sempre indicado por certo sinal. Aqui, eu, errando, disse que nada de seme- Ihante poderia:nos encontrar e, nao obstante, ficou assentado entre nds que se poderia demonstrar sem sinal aguelas coisas que nés nio fazemos no mo mento em que somos interrogados, mas que pode- mos fazer depois da interrogagio; a locugio, porém, nao é desta espécie, pois se, quando falamos, alguém nos perguntar 0 que é falar, isto se demonstra fa- cilmente por si mesmo: falando. Com isto ficamos avisados de que: ou se mostram sinais com sinais ou, com sinais, se mostram outras coisas que sinais nio sao, ou entio, sem sinal podem mostrar-se as coisas que podemos fazer depois de interrogados: ¢, désses trés casos, detivemo-nos a con- siderar e discutir com mais minucia 0 primeiro. Me- diante esta discussio, ficou esclarecido que existem sinais que nio podem, por sua vez, ser significados pelos sinais que éles significam, como acontece no 67 caso do quadrissilabo «coniunetioy (conjungio); ao passo que existem outros que, ao contrario, 0 podem, como quando dizemos «sinal» e entendemos significar também «palavray, pois sinal e palavra sio dois sinais e duas palavras (sinal-palavra, palavra-sinal). Neste caso, em que os sinais se significam recipro camente, demonstramos, ainda, que uns nao tém o mesmo valor, outros o tém igual, e outros finalmen- te sio idénticos. Assim, quando proferimos éste dis- silabo «sinal», certamente indicamos todos os sinais com que uma coisa pode ser indicada ou significada: mas, se dizemos «palavray, esta nao é o sinal de todos os sinais, mas apenas dos que se pronunciam articulando a voz. Donde resulta manifesto que embora ¢palavra> também seja indicada com um sinal, e «sinal> (signum) com ¢palayray (verbum), isto é, estas duas silabas por aquelas, e aquelas por estas; — no entanto, «sinal» vale mais que «palavra», porque a- quelas duas silabas (sinal) denotam mais coisas que estas (palavra). Tém, porém, o mesmo valor «pala- vra» em geral e enomes em geral. Ensinou-nos, pois, 0 raciocinio que tédas as partes da oracko também sio nomes, sendo que a todas podemos substituir pelo pro- nome e de tédas podemos dizer que é gnome» também, no entanto, ndo séo idénticos. Vi- mos, durante a discussio, com bastante probabilidade, que uma é a razao por que se diz «verbay (palavras) © outra porque «nominay (nomes). A primeira refe- 0 (everberation) do ouvido, a segunda imento (ccommemoratior: «notion, «os- cere») do espirito; por isso dizemos muito bem, quan do falamos qual é 0 gnome» desta coisa desejan- do grava-la na memoria, e nao dizemos, a0 contra rio, «palavras. Entre os sinais que no tém apenas © mesmo valor, mas sio completamente idénticos, di ferenciando-se sé pelo som das letras, encontramos «nomen» (nome) e gyoya (nome). 69 A respeito désse género de sinais que se significam reciprocamente, escapou-me que no encontramos ne- nhum sinal que, além de significar os outros, signi- ficasse também a si mesmo. Eis tudo que pude recordar. Tu que, nesta discus- Sio, nada disseste sem saber e sem ter a certeza, po- deras ver se recapitulei tudo correta e ordenada- mente, 7 CAPITULO VIII Nao se discutem initilmente estas questées. Assim, para responder Aquele que interroga, devemos dirigir a mente, depois de percebermos os sinais, as coisas que éstes significam. 21 Ag. — Sem duivida resumiste bastante bem tudo o que eu queria, ¢ confesso-te que todas estas distingdes me parecem mais claras agora do que quando, indagan do € disputando, ambos as tiravamos de nao sei que esconderijos. Porém, aonde eu deseje chegar con- tigo por meio de tantas vollas ¢ rodeios, é dificil dizer neste momento. Talvez penses que, ou nos di- vertimos, ou afastamos a mente das coisas sérias com questdezinhas pueris, procurando, quando mui to, uma utilidade qualquer, pequena e mediocre que seja, pois, se destas discussdes tivesse de sait algo de grande ou de importante, gostarias de sabé-lo ja ou, a0 menos, ouvir disto um aceno. Eu, porém, de- sejaria, antes de mais nada, que nfo julgasses que quis, com esta conyersagio, fazer uma brincadeira inoportuna: embora as vézes brincasse:;os, a minha brincadeira jamais poderd ser considerada infantil ¢ eu nunca pensei em bens pequenos e mediocres. No entanto se te dissesse que é precisamente a vida bem- aventurada e sempiterna o lugar aonde, sob a guia de Deus, isto 6, da propria verdade, pretendia che- gar com passos de certa maneira ajustados ao nosso pé mal firme, teria médo de parecer ridiculo por haver comegado percorrendo caminho tao longo, nio em consideracio as préprias coisas que sio signifi- cadas, mas aos sinais. Espero que me perdoes, por- tanto, se quis fazer contigo uma espécie de prelidic. 7306 22 Ad. — Ag. — Ad. — Ag. — Ad. — Ag. — Ad. — Ad. — Ad. — nao para brinear e sim para treinar as forcas e a agudeza da mente, gracas as quais possamos depois ndo s6 suportar, sendo ainda amar a luz e 0 calor daquela regio, onde se encontra a vida bem-aventu- rada. Continua como comegaste, pois eu nko poderia jul- gar desprezivel ou de pouco valor qualquer coisa que digas ou facas. Entio, continuemos! E consideraremos aquela parte da nossa diseussio relativa aos sinais que nao signiti- cam outros sinais, aquelas coisas que chamamos esig- nifiedveiss. Em primeiro lugar dize-me se é out coisa que . Nio ha divida, Mas negards que estas duas silabas unidas déem ; ¢, certamente, o sdbrio falou assim seguindo essa mes- ma regra (2). Pois, 0 comilio sé desagradou por- que avaliava tio pouco a sua vida, que a tinha em menor conta do que os prazeres do paladar, afir- mando viver para comer; 0 outro, isto é 0 sébrio, é digno de louvor porque, compreendendo qual des- tas duas coisas (comer e viver ) é feita pela outra, to 6 qual esta subordinada a outra, avisou que antes deviamos comer para viver do que viver para comer. Analogamente tu, e todo o homem que apre- cie as coisas pelo seu justo lado ¢ valor, a um char- (1) — Rom, 16, 18. (2) — [que estabelece que tudo o que 6 dovido 2 cutra mo o comer é devido ao viver — 6 coisa, assim co inforior & coisa pela qual existe). 87, 27 Ad. — Ag. — Ad. — 28 Ag. — latao que dissesse:

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