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COLECAO DOS GRANDES TEMAS SOCIAIS Fazem parte desta eolesko as segulntes obras de Métio Ferreira oe Santos: 3) ‘Peatedo de Reonomia T vol. 2) ‘Prstado de Heonomia TE vol. 8) Filosofia e Histéria da Cultura 7 vo © Filorofin ¢ Histérla da Cultura TI vol 5) Filopofia © Histérin da Cultura IIL vol 6) Andlise de Ternas Soctate 1 vol. 7) AnAlige de Temas Socials TE vo 8) Anise de Tomas Socinie TH vol 9) 0 Provieme MARIO FERREIRA DOS SANTOS TRATADO DE ECONOMIA Rua 15 de Novembro, 197 - §® andar ~ Tel.: 85-6080 SAO PAULO 14 edig&o, em fevereiro de 1962 ADVERTENCIA AO LEITOR ‘Sem davida, para a Filosofla, 0 vocsbuldrio 6 de maxims Importanein ¢, sobretade, o elemento etimo fico da composigio dos térmos. ‘Como, na ortogratia tual, elo dlypenaedas certas conseantas, raudas, en- trotanto, na Tinguagem de hoje, nde as conservemos apenas @uande conteibem para apontar élmos que facilitem q methor compreensto da formagio hlsté- wea do tino empregade, ¢ apenas quando julgamos convenlonte chumar a atengtio do Ieltor para thes Fazemos esta observacio somente para evitar a es: ‘romheza que posse causar a concervagio de tal gratia MARIO FERRRIRA DOS SANTOS "TODOS O8 DIREITOS RESERVADOS » 2 3 5) w Bncielopédia de Ciéncias Filoséticas ¢ Soci de Mio Ferreira dos Santos VOLUMES PUBLICADOS: Filosofia. © Coemoviato Logica e Dialéetica Psicologia ‘reotia do Contiecmento Ontologie © Cosmotogia ‘Tratato de Simbolles Filovotia da Crise (‘Tematiea) © Homen perante o Infinito (Teologia) Noologis Geral Filia Conereta 1 val Filosofia Concrete 1 vol ‘ilsotia Gonereta 1 vol. ilewotia Conereta dos Valores Sociologia Fundamental © tea Furdamental THagoras eo Toma do Nimero (Tematica) ‘Ariststetes © oa Aiutavon (Tométien) O'Gin eo 3taltipio em Pistao (Lemsttca) drotodos Légioos © Dialéeticos 1 vol Métndos Logiooa e Diaiéeticos IK vo. Metados Lagicos « Dialgeticos IX vol Fllosofias da. Afirmagho 0 da Negscio (Temsiton Di ‘Teatado de Beonomla I vo Piowtia e istéria da Coltura T wl Filnvotle © Historia da Cultura I you stlosofia © Histdrla da Cultura ZC vo ‘Analise de Temas Soclis Z vol. ‘nalie de Tomes Soelais I vol Andiise de Tomne Sociais IIT vo © Probiema Social sea) NO PRELO: ‘rratade de Enquematologia As Tris Criticas de. Kant Problematies da Pilososia Concrete A Sau: $8) Zemation e Problemitica da Cosmologia specutativa 16) Teoria Geral das ‘Tenses I vob 35) Teoria Geral das Teneoes 10 ve 36) Tematica e Probiematica da Critriotogia 37) Dicionario de Miosona e de Ciencias, Culturais T vol 588) Diciondiio de iosoGa ‘© Ciéneiae Culturais, 1 vel 438) Dlelondrio do Fiiosonie © Cisneias Culturaia IIE ol 40) Dicionatio de Pilosotia ¢ Citnelaa Culturats IV vel M1) Dielondrio de Fulosotia. © Ciencias Culturals V you Os volumes subsoalentes serio oportunamente aminciados OUTRAS OBRAS DO MESMO AUTOR: — ,0 Homem gue Fol um Campo de Batatha> — Prétogo de «Von tade de Poténcian, de Nictzeeng, et, Globo — Bayete = sCurso de Orateria © Retoricay — 8" ef £0 Homem que Naseow Postumo: — {Temas nictzscheanos) — — tAssim Falava Zaratumtras —~ Texto de ‘Nictzeche, con eatliog simbélica — 3 od = — Com o peeudoniino de Dan Andersen a agotada = SAniliae Dialéctiea do Marsdamos — magotada = sCur50 do Integraeio Pessoals —- (Ietuoa ceracteroldgivos) — ee — — = Sconvite a Extaticas = sGonvite & Psicologia Praticas ~ Scanvite & Flosotian A PUBLICAR: eHegel 9 a Dialectica Diciondvio de’ Simbolos « Sinaisy = episearsas’ ¢ Confertnciass = «bras Completas do Platéon — comentadas — 12 vols «Obras Completas de Arisioteless —~ eomentadas — 10. vols, ‘TaDUCOES: — sNontsce do Poténeiar, de Nietzeche = *Aléin do Hem e do alo, de Nivtasche = churoras, de Nietssche = Diane tatimon, de Amtet = Saudagdo ao Sedo, de Walt Waltman INDICE specigiomo ¢ Generatisms Introducho © Acto Beonbutleo — Facto Boonémica © Comnecimento Heontmico : ‘Do Conhscimento Beomonsica . Os Método no Estwfo da Beonomia Universo de Discurso Ga Noonomla — Conceltos Fundamentals Chasstiongie daw Utttdades € dos Bens Condigies Técnicas © Jutidicas da Produogho 4 09 Métodos ma Eeonomia A Bvonomia A Téenlea © 8 Historia. © desenvolvimento da Téentea A. Botbeniea Pateorsenten ‘Sintese Tistiriea dos Sistemas Beondmatoos A Formaglo do Capitatismo © Capitalisme Indwstriat ‘As Batguotures Hoondnleas (© Aspecto satructural do Capitatisme Modero SSintese do Pensamente Boonéunica ‘As Tendéncine Soclatisins no Séeulo XIX ‘A Heonomla Nacional ¢ @ Escola Histériea, na Alemanha PARTE ANALITICA © Factor Humano, Meo Netural e Téenica Os Bens Capital, Lucre, Poupangs © Trabalho 18 2 33 a “ 9 “s 0 at 8 ao 325 ay 136 155 139 act 12 MARIO FERREIRA DOS SANTOS © Cancelto « Formas de Poupanca © Teabaino © Capitatiema «© Téenien A Orgunlzaoin ao Trabalho © Maguinisme Organizagio Juriiea ¢ Social do Capitatismo Direito do ‘Trabaiho Bvolueto do Diteito de Propriedade ae ast a 200 a 219 ma ESPECIALISMO E GENERALISMO Um preconeeito bem proprio de nosea mado valor que se da ao especialismo, em térno do qual gira um conjunto de outros preconecitos, ‘que tém feito époea se lornam como verdades definitivas, nova essa hiper-valorizagio actual do especialis- crates 0 ridicularizava em sua época. e ria-se do afl extremado dos sofistas em quererem dar um valor ex- cessivo A espeeialidade, como se ai apenas houvesse 0 nico caminho para o conhecimento humano trilhar com segu- ranga a sua marcha, Os defensores de tal posicio redinem suas razées ¢ elas parecem realmente poderosas, e para alguns até definitivas. Os argumentos, que esgrimem, podem ser reduzidos aos se- guiates: 2) Bu fave du desenvolvianenty eresvente do vonieei- menio hamano e da limitagso da vida, e da disponibilidade rolativamente curta de tempo, torna-se cada ver mais dificil a0 homem abranger um ambito muito elevado de conheci mento, 2) ‘Tomada apenas uma matéria, verifica-se que o cam po de seu conhecimenta elevouse a proporgoes tao grandes que 0 eonjunto do que se sabia no passado representa apenas uma fracedo minima em comparacio ao volume actual. Os rnossos eonhecimentos no século passado sébre o mundo si- deral podia ser contido num mepa do nosso cosmos que perfeitamente eaberia num espago de um metro quadrado, Hoje, se desejassemos realizar uma carta do cosmos, que incluisse todos os planétas, astros, satélites, nebulosas, ete., que j4 conhecemos, em suas proporgées, teria éle o tamanho da Lua, O mesmo pode verifiear-se no referente & Fisico- Psicologia, & Sociologia, & Historia, ete 4 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 3) A impossibilidade de a mente humana poder abran- ger ésse volume tao grande de eonheeimentos Ievaria, quem desejasce postuir um conhecimento eneielopédico, apenas & uma visio infima de cada eiéneia, tio restricta que seria um quase-nada. Desa maneira, a tentativa de ter um conhe- cimento enciclopédico equivale 2 uma ignordnela quase total, 4) Um conhecimento tao minimo da cigneia, embora abrangendo a totalidade, traria, como eonsegiiéncia, que o grau de saber, em ves de aumentar, diminuiria de tal modo ‘em nenhum sector, seria eapaz de realizar cole 5) preferivel, pois, que se tenka um eonhecimento maior num tinieo sector. pelo qual possa o estudioso ser mais ‘itil e eompetente, do que possuir um conhecimento enciclo- pédico, carente totalmente do minimo indispensdvel, pre- Terivel conheeer-se bem uma pequena regitio do conhecimen- to do que desconhecer-se quase tudo. 6) Consegiientemente, todo o ensino deve orientar-se para a formagéio de especialistas e deve-se combater com energia a tendéncin enciclopedista, que é um fantasma do passado, anaerénieo, intempestivo,’ ineficiente, Nesses seis argumentos esto compendiadas us_prinei- pais © “poderosas” razdes dos defensores do especialismo, Antes de mostrar a defieldneia que apresentam, deseja- riamos avanear um pouco aais nos mesmos argumentos, le- vando-os @ todas as conseqi@neias que déles decorrem, Por tais razSes, com o erescimento constante do conhe- cimento em todos os sectores do saber humano, pode-se desc 34, Tundado no mesmo modo de pensar, dizer que € impossi vel uma plena especializagio em qualquer distiplina. Nao se pode mais falar, seguindo tal caminho, na especialidade da Medicina, nem da da Fisiea, nem da Sociologia, Eseas especialidades devem cada vez atomizarem-se em outras es- pecialidades até alcancar-se ao especialismo de que falava Nietzsche do “eserupuloso intelectual”, que se dedicava ape- nas ao estudo do eérebro da sanguessuga. Teremos fatal- monte de chegar ld, se tal maneira de conecher 6 verdadeira, Perder-nos-faros, ‘com o decorrer dos anos, numa ato mizagio de especialismos dos mais estremes, porque, real- RATADO DE BCONOMIA 15 mente, s6 0 estudo do eérebro da eanguessuga exige nfo uma vida, mas milhares de vidas. Por essa concepefio, proclamar-se-la, definitivamente, 0 fim do conhecimento, porque tal atomizaeao em intensidade, corresponderia a atomizagio em extensidade do eneiclopédi- eo, © do mesmo modo que éste nao seria mais capaz de Higar 03 conheclmentos minimos numa totalidade eocronte e bem Zundada, também 0 excessivo especialista estaria nama {ha isolada de todos o3 outros estudiosos e a comunicag entre os homens de saber tornar-se-ia impossivel, Podem parecer extremadas estas nossas palavras, mas, snegavelmente, 6 onde nos levam se aceitarmos fundamento nna tese dos defensores unilaterais do especialismo. De antemio, antes de respondermos aos sofisticos argu- mentos aleima expostos, queremos dizer que no somos i musts do especialismo. ” Somos sim adversérios, e exporemos nussas razbes, désse modo de conceber o expecialismo, de mo- do monstruoso, como monstruosa é€ também a maneira de avaliar © saber enciclo Vejamos os argumentos, Tomemos de inicio 0 primel~ re, Bste, como todos os outros, pecam de infeio por dois dcfeitos fundamentais: olham o conhecimento apenas pelo lade quantitativista e revelam a influéneia de um sentir muito préprio da époea mercantilista em que vivemos. Quanto 4 influéneia marcante do quantitative nas n0s- sas apreciagses € algo que ja foi muito bern denunciado e analisado por varios autores e que qualquer pessoa de me- diana Inteligéncia, se prestar a devida atencéo, Sacilmente captard a sua influencia malétiea, que tem afastado uma avaliagdo mais justa e consentinea tas grandes conquistas do conheeimento, do proprio homem e das suas coisas, Nao sabe mais Historia quem conheco mais factos da Historia, quem sabe mais datas, quem pode relatar mais aconteci« ‘mentos, mas quem nela penetra com uma visio mais profun- dla, e capta a signifieagho dos factos, as razdes das grandes correntes historieas, da motivaggo revelada pelas correla goes © analogias qué cla apresenta, Acaso alguem que ¢0- mhega Don Quixote de Ia Mancha todo decor, © que soja ca- paz de repetir uma por uma as passagens da obra, dar to- dos 08 personagens que nela penetram, enfim um “cervan- 16 DARIO wie IRA DOS SANTOS tista” quantitativisia, apenas por isso conkeee Don Quixote € captou suas mais intimas significagées? ‘Uma das caracteristieas da forma de producgiio capita. lista tem sido a exeessiva especializagio das funcdes e tam- bem dos bens de consumo. © eapitalismo inaugurou uma Aactividade especializadova imensa, ¢ sem diivida impregnou em muitas mentes o seu grande peeconeetto: 0 da expeciali- zagéo. Influiu em muitos a sua viedo quantitativista, 0 ‘que nos demonstra perfeitamente a grande forca propagan- ea yue dispov o capitalismo para colocar seus esquemas ou manchettes em muitos cérebros, Por éste ponto de vista, sO poderé conhecer Plataéo Aristoteles, nao quem apenas tenha lido algumas vézes a sua obra, mas, sim, aquéle que se tenha totalmente dedicado 2 Jer todos os comentarios feitos sobre a obra dos dois gran des fil6sofos, percorrido todos os eaminos da exegest, e palmilhado, palmo a palmo, o campo das indmeras contro- vérsias. Por ésse ponto de vista, ¢ inexplicavel que Toms ae Aquino, tendo lido apenas o “Timeu” e numa traduegio ‘que muitos julgam poueo recomendavel, pois o grande aqui- natense nao conhecia grego, tenha conseguido fazer a mais ‘coorente e justificada interprotagio do pensamento de Plato, ‘© que mio conseguem fazer aquéles que dedicam a vida in- telra a estudé-lo, e que #6 tem aerescentado notfelas sobre noticias, apresentado uma problemdtiea sem mutto funda mento, complicando 0 que era simples ¢ tornando obscure © que era claro, Por sua vez, também o segundo argumento encontra ‘4 sua refutacio no que acima dissemos, pois por ésse ponto de vista, tornar-ce-ia, impossivel o estado da Astronomia, 34 que seria, num futuro ndo muito remoto, necessario “um mapa do tamanho de todo o nosso sistema’ solar part néle ‘eneaixar, com suas proporgdes, os plandias, astros, estrélas, tele, que povoam a imensidade dos espages. Também nao haveria mais historiadores, mas apenas um especialista nas Fivelas dos sapatos usados durante 0 primeiro poriodo do reinado de Luis XIV, e ésse mesmo pobre especialista ainda @aria suspiros de tristeza poraue ante o set conhecimento wualizaria a Imensidade de sua ignoraneia no assunto, pela falta de elementos de estudlo e pela limitagio de sua vida, TRATADO DE BOONOMIA ci que nfo Ihe permitiria aprofundar-se numa especialidade dessa natureza, Désse modo e para sempre, estaria vetado ao homem o conhecimento, 0 tereeiro argumento de capeiosidade extrema. Para le, 0 eonhecimento enciclopédieo é urna ignorineia enciclo pédiea, porque no 6 possivel conhecer-ee sono um minimo £0 cada especialidade e to pouco que seu valor seria dimi ato e inoxprossive. © quantitativo domina ainda éste ar gamento sotistico, "Eé féell verificar a improcedéncia de Suas premissas. Perguntamos, e que nos respondam le boa 46 os que defendem essas idéins: que progresso nos ofereceu A soluefio dos magnos problemas do conheeimento, tanto espe- ialismo? Por aeaso nao continuam em pé as grandes Inter rogagtes e foram oferecidas melhores rospostas que as pro- postas pelos grandes filésofos? Néo mergulhou 0 conhecimento moderno num mundo de trovas © de confusdes, fazendo ressuseitar velhos erros 44 refutados com antecedéncia de séculos e milénios, e que ‘gozam até do aplauso e do carinho de tantas cétedras? ‘Todos os outros argumentos fundam-se em razées do mesmo valor e talhe, ¢ sto estabelecidos pelo mesmo modélo. Para respondé-los, com uma série de argumentas finals, va: ‘mos apenas explicar 0 que seria 9 generalismo em nossa épo- a, cm contrapoaigiio ao eapteialisme, embora considerernos antbos, por serem extremados, duas’ maneiras dofeituosas, porque nossa posicho nfo nega validex ao especialismo nem 8 bons resultados que tem oferecido, Mas o que a nossa posiedo afirma 6 que o especialismo leva a uma visio unila- feral e deformada da reahdade, a um abstractismo perigoso e maléfico, O que 6 mister é'uma s{ntese bem combinada a especialiomo ¢-generalismo, ot um expocaliamo-nera- lista. Realmente, ante o vulto dos conheetmentos actuals, 6 mister um miétodo de conexdo, que realize a entrosagem do conhecimento espeeislizado com uma visio goral coerente positiva do conhecimento, Bese método realmente nio © tinhamos antes, porque nao era mister entio, mas o 6 hoje. Contudo, encontramos nos estudos ontolégicas, as bases fundamentals que unificam os diversos conhecimentos es- 18 MARIO FERREIRA DOS SANTOS parsos. Nunca, como hoje, deveria preocupar tanto as men tos dos que desejam contribuir para o progresso do conheci- mento humano problema ontolégies, em vez de_satista- zerem-se numa total ignorancia dos grandes trabalhos que esse sector realizaram os grandes fildsofos do passado. A escoldstica realizou, no campo da Filosofia, a andlise mais ampla em intensidade e extensidade, chegando alguns escolésticos menores a excessos realmente indesculpéveis, & que serviram, posteriormente, de argumento contra 0 carpe geral da obra realizada pelos medievalistas, Ha uma analo- gia ¢ correspondéneia désee analitismo intensista e exten- sista, realizado nos séculos XIT 20 XVII, com os cinco sé culos da historia grega, que vio desde os fisidlogos a Pitigo- ras, Platéo, Aristételes até os sofistas, correspondendo a especializagio déstes com a que se verifiea no periodo actual de dominio quantitativista no ocidente. Contudo, # ansise intensista realianda era acompanha- da de uma fntensista analise da. Ontologia, porque era im possivel deixarse de fundésie em campos Geterminados © Yrios, sem que houvesse uma preocupagao mais profunda Ga positividado, do atiemative, porque tudo isto, quanto hs fi, nao pode ser apenas uma ficgao, umn grande nada, pov aqie nada & nada, ¢ 6 que ha deve ter um fundamento posi- fivo.""'O exame das earucteristieas do ser e dot modos de fer, 0 conrelacionamento e a transeendénela. que realizavam 2 coneeio dos clemontoo dicpernon em unidudes catracturnis, ¢ estas na grande unidade euprema, impediam que 1s ante Tises dispersas so tornassem abisealmente separads tmae das otras ¢ eriassem didstemas inveductiveis entre os diversos Seclores do eonheetmento. Para que se institua um generalismo eapaz de dar 0 con- tetido transcendente ao conhecimento, € mister que tenha ale bases fundamentalmente ontolégieas e razées haseadas em argumentos ¢ demonstracdes apoditieas, euja validez nf possa ser posta em divide por qualquer sofista de segunda Muitos que leiam estas palavras poderéo sorrir e afir- mar que tal € impossivel. A aciual situngio da Filosofia, @izem, demonstra que nada obtomos neste sector. Iniimer homens de grande valor negam qualquer validez aos proces- RATADO DE ECONOMIA 19 808 filosétieos e, depois de Kant, dizem, é impossivel ter qual- ‘quer iusto nese terreno. Respondemos-the apenas 0 se- guinte: em primefro lugar tais “autoridades” revelam ap. has deficiéncia filos6fiea, porque o filosofismo no é Filoso- fia, mas vieio filosotieo. $6 ha Filosofia onde ha domons tragies rigorosas; 0 resto & exposigao filosotista a0 sabor dos gostos estétieos e afeetivos de eada um. Por outro lado Kant néo destruiu coisa nenhuma, ‘Téda a sua argumenta- gio é fundada em sofismas elementares, que qualquer estu- dioso de Légica, mesmo ineipiente, 6 capaz de mostrar a in- validade, como 0 fazemos em "AS ‘Trés Critieas de Kant”, E verdade que para aleancar-se o sreneralismo eapaz de dar a base transimanente e fundamental ao espacialismo mister um método. A Matematica e a Logica tém sido as iseiplinas auxiliares do conheeimento, ¢ gragas a elas somos capazes de aleangar generalidades que dispensam 0 exame do vario e do heterogeneo, o que nos permitem constrair as [eis, as constantes, os invariantes, as normas gerais, que formam a estructura superior de um conhecimento, Pode alguém ter a maior soma de conhecimentos fisicos, mas se desconhecer as leis da fisica, seu conhecimento sera apenas uum brique-a-brague de noticias. Pois bem, tanto a Mate- mitica como a Légica sao indispenséveis ao conhecimento hodierno. Mas, enquanto falamos em Logica nfo falamos apenas nos conhecimentos elementares da Légica Menor, s nos mais elevados da Logiea Demonstrativa e da Dia Heetica bem orientada. Gragas a essas matérias, quando bem conkecidas, e nao siio muitos os que as conhecem bem poucos 08 que as saber apliear, chesaremos, eno, a _possuir os meélodos eapazes de dar a visio geral, néo de uma, mas de ‘muitas especialidades ¢ com mais sélidos fundamentos do ‘que @ mera acumulagéo de noticias © mais noticias » mais noticias, de himalaias de dados, de pesquisas, de Zontes, de polemicas, de divergéneias, Para finalizar, queremos apenas dizer 0 que se segue a mania especialista passara como passaram muitas outzas manias. Também ha de se verifiear que se cometeu ai um érro que se iguala a muitos erros cometidos no passado, Ha ainda de chegar a hora de se eompreender que o espeeia- Jismo nfo 6 ésse monstro voraz que ameaga tragar 0 conhe- 20 MARIO FRRREIRA DOS SANTOS cimento num atomismo monstruoso, nem que o generalismo € uma Impossibilidade. Tinto, ha de raiar uma nova auro ra ao conhecimento humano, e nos eabera 20 mesmo tempo que deploremos os preconceites do passado ter uma especan- ga melhor para o futuro (1) Mério Ferreira doa Santos 1) Realmente, won dos tuctos que mals causam estranneza 6 a fertldade, extrema productivigade que algumas possoas revels través dos, tempos. Diz-se mesmo que ningum hoje € capa de oo: Bhecer sendo medioeremente umn epecialidade, quanto avais poder Ponelrar em diversos sectores do couhesimen', eomio alias aconteee Som a minha pessoa e aos muitos livros que enteets, publique, ¢ ane fa esto em vias de publieagho ‘bre oa mals yariador acsuntam, Hssa espacidade, que chamavam os grogos de polimantelay € Um yer- Gadciro escindaio para agutles que ‘ain mais consosuem senso eos Ihocer midiocremente algema espselalicade © que nin admitem que aiguém possa realizar o de que nio aio capezss de fazer essa mancira, em téda a histérla, vetios negar a capacldade olimantelon de Pitigoras, a panto de alguns autozes vosiferarar corn Yoifnela ¢ negarems sia capacidads, nao trepicando até cm cha malo do charlatdo. Vimos muitos espantaremee ante a. velumosa obra de Atistoteles, om grande parte perdida, a ponte de atrbuirem f auloria a um. verdadeiro colégio de esertores, de ctjas obras Arietdteles haveria se aposiado © emprestado ludovidameate eeu home, a ponto dos terem levantad inameras controversiay quasi A'tuluris dayuslas que chogaram ate 26a, Luvitonse, tambien Ge fteemenda fertiidade ‘do Bplouro, gir eo atebultem, teezentas ‘obras, perdidas, da fertiidado do Avtetareo de Samoa, di fertldade de Tht, transtormadn mim mito, ao cual se atribuieam cers, Ge 34.000 tratathos, das quate restaram apenas tres dezenas ‘escaseas fe: J om nossa gpoca, posse em duvida a generoea,ferelhinde. de ‘Toinas de Aguine, de’ Scot, de Siarex, pairando dividas sdbre maul. fap de sas obras, como teimosamente Se disentin também a auto rin do Shakespeare ante wns onmécias, dramaa, tragedies © poeman Rouve ‘sempre quom duvidasse da Proditividade,precisamente, os fntertels, os mproductivon ‘Tulgam multos que uma vida 6 sempre pousa para 9 conhecer wna especinlidade. Mas esquesem que, naa eapecinlidades, hi a ages aco de wna soma imensa do obras sein velor, de veraseiras feta Sades, ce Lraballios quo anais trouseram confusion e despertaram luna problematica falta e infundada, Pansam que para alguéa co wecer matematica $ mister que se dsbrice a vide hnfsita a ler o evtuder 2 obra de tantos ¢ tantos matamations, como. se slo. ous ‘yesse exemplor do jovens que aleangain un Ambilo tmenso em pouco tempo’ e cor bases adidas, TRATADO DE RCONOMTA 24 Hoquecem que um homem sem nenhuma eapackéade para pintar pode dlspor de tna tela, de uma palhta, de tintss e placa © pasar 4 vida intelra som consoguir pintar coisa que o valha, enquanto ‘um Yerdadelro artista, em poucas horas, € capaz de reallawr um quadre Folavel. squecem qua um omiem pode dedicar-se a vida intelra ‘bo estudo da mUsica e jamais escrover ums obra de vator, enquanto tue Mozart, na {dade om que ainda ae brince, € capa do cscrsver ‘concertos, sinfoniss, ete ‘uve eoquccimento é grave, cobreludo para aqutles que se jul- gum to snteligentos, Hequecemn tale senhoras que hi os que maser fom certoa dons e que no tém culpa disso, como Mozart nto tein ‘culpa de ter nascido com talento must. Kista pessoas, raras fem Gdavida, atspoem de tneios, do métodos capazes de, com poucos ele- entog construir'o que outros, dspondo de tudo, alo reallzam na- Ga, HA cieatistas que num simples galpo improvisam wm labora- arto @ sto capazes do fabslosas descobertas, enquanto outros, em {grandes inatituton, dispondo de todos 08 mciog ao seu aleance, jamais Fealzam nada, senio peoquisea © male peaqulsar, sem nenuma con lurk velloss, Poss digpensar outros comentérion, Se sou eapas de penetrar in Lantus ‘discipinas e sobre laa escrever tantoe'Livzos, ‘que me perdoem os que ndo sto capazes do nem sequer na disciplna que Sizem conhecer mediocremente sejam capazes de realizar nada. No ‘veje nenhura crime nesee mea acto, nem me sito etipado do que Indo dependeu totalmente do mim. ® verdade que me esforgo, dedioo fodo 0" meu tempo ao estado, sou organizado. em minhas horas de tratelho, Gepanao divectimentos, « teriho una atencko quane morbid sobre o gue Jeio e extudo, mas jamais poderia joigar que 1e00 sea fem crime ¢ que tase euldade pudasso eer esgrimado contra mim como ‘uma. atronta. © AUTOR, INTRODUGAO Considerar uma eiéneia pelo seu aspecto genoralista 6 tomé-la segundo 9 gonero que compde a estructrara de sua definigio. Ora, @ através deste que ela se conereciona com ‘outros, porque la so ceupa do siesmo sob determinado as- pecto éspeeifica, pois o que distingue uma eléne'a de outra &o seu objecto formal, que & 0 aspecto especifico em que é ale tomado. Se a Geometria estuda 0s earpos sob Angulo Guantitativo tomado abstractamente, néo possivel aleancar 2 Geometria em sua maior profundidade sem a Cosmologia, ue tom om seu objecto tados os s€res eorpéreos. A Goome ‘ria € uma linguegem matematica dos séres corpéreos, e to- maila isoladamente tornar-se-la meramente absivecta. E ‘em ela uma aplieagio conereta aos faetos, preeisamente de- vido & sua ligaelo generalista com a Cosmologia. Assim se 4 com a Matematica, como também com a Logica, que m0 ‘como julgam multos, uma disefplina meramente abstracta, Bla pode ser tratada abstractamente, sem duvida, ¢ o tem side pelo fflosofiamo idealista e racionalista, nia, porém, po- Jos eseolistieos de primeira plana, que jamais esquecem a ‘base empirista que serve de esteio & formiagdo dos nossos es- quemas idétieo-noéticos, impedindo que eainmos em inuni= dades verbais, como éles né0 cafram e, no entanto, cacm tamios que se julgam mais objectives © réalistas, coma temos emonstrado, e que, por sua vez, acusam os primeires de erros que, na Verda, so. éates titimos o2 que’ os eometem, A visio generalista de uma disciplina é aquela que se fundamenta nas raizes ontoldgieas, enquanto 0 especialismo se fundamenta no contingentismo da mesma eiéneia, funda ‘dg mais na aceidentalidade do que na essencialidade, No se conhece mais Keonomia por so conhecer maior nuimero de factos, estatisticas, teorias, doutrinas, opimoes ‘varias de autores de todos os quadrantes do pensamento. © 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS lum grave érro, muito peculiar & nossa época, julgar-se que aguéle que pode discorrer mais sobre tals minticias, ques embrenha mais tempo pelos caminhos disperzos dos factos econdmicos, possua uma visio mais profunda da Economia, 2 que, para conhecéJa, 6 mister embrenhar-se apenas por tai sectores. O que dé a garantia de uma visio clara de qual- quer diseiplina é a capacidade de coloed-la em seu verdadeiro lugar ontolégieo, conhecer suas raizes e a8 comexdes que & conerecionam com outras diseiplinas. Na verdade, no hé ninguém eapaz de couhecer todas as minteias de uma disci- plina, todos os factos que constituem o acervo dos elementos materiais, thdas as hipdteses, doutrinas e opinides que o pensamento humano 6 capa de eriar em térno de uma ma- féria, quanto mais de um volume extensivo de doutrinas, Sem ‘divida & assim. Mas também é verdade que nfo é possivel ter um conhecimento seguro de nenhuma delas sem uma base generalista ontoldgicamente bem fundada, A pri- ineire maneira de conhecer 6 a abstractista, unilateral e de- formadora da realidade, porque o especialista de tal eunho no é eapaz de ter uma visio clara nem da matéria sobre a qual se especializou. Sem a segunda posi¢&o, nio ha saber seguro, porque sem a capacidade de entrosagem concreta todo conhecimento é um fragmento de saber sdlto, separado por um didstema intranspontvel, Se a mente humana 6 incapaz. do primeiro conhecimento extensivo e quantitative, nfio © 6 do segundo, que 6 mais profundamente seguro, além de ser o que dé a melhor base fa todo saber, Podem realizar-se as experidneias que se quiser, mas ne- nhuma até hoje, nem ontem, nem amanhd destruird uma lunica das leis ontolégicas a que aleangou a filoscfia concre- ta, Quando se examinam as leis cientificas, propostas atra- vés dos tempos, verificase desde logo que thdas aquelas que ofenderam um prinefpio ontologico nio resistiram ao tempo, e eafram fragorosamente. A cidneia tem sido um campo de batalha de doutrinas, no qual jazem mortas infmeras teorias e hipéteses. Nao tinham elas fundamentos ontolégicos, eo- ‘mo 0 demonstramos em nosso “Teoria Geral das ‘Tensdes”, onde examinamos as leis ontol6gicas, risorosamente deco rentes de prinefpios insofismaveis, Por essa postulagho cui- Gadosa de tals lels, ¢ facil comparar tidas as proposigbes ‘que os cientistas ofereeeram atraves dos tempos. Todas as ‘TRATADO DE ECONOMIA 25 proposigdes que ofenderam um principio ontol6sico nao se Sustentaram nem se sustentarao, Incgivelmente, 0 filosofismo féz tanto mal ao filosofar, que eriou entre os cientistas a desconfianga na inutilidade da Filosofia, E nao faltam professores de filosofia que promo- vem essa deseonfianga e proclamam até a inanidade do filo- sofar, e apresentam os que filosofaram com rigor, como se “eseom outros tantox faniasmas do filosofiemo, ‘Tudo, isso contribuiu tremendamente para eriar o estado actual em certos seetores de desconfianga contra a Filosofia, 0 que 86 tem servido para alguns energtimenos atacéla com uma tei- ‘mosia, uma audacia e uma auto-suficiéncia simplesmente ri- dicula ¢ agsanhadas, 0 resultado foi o aumento dos conhe- cimentos especifieos (o que realmente deveria ser um bem para o saber humano), mas infelizmente desacompanhados do necessario generalismo, que conexiona e conereciona as fontes de todo o saber. Dasse modo se impediria que o es pecialismo promovesse tantos estragos e permitiria que os especialistas se tornassem criadores no campo a qual se de- dicamn, dissipando-se assim a confualo de idélas em que vi- vernos nesta nova Torre de Babel. Como a finalidade primacial desta colecgio é dar a0 lei- tor a maior soma possivel de conhecimentos, que 0 tornem ea- paz de julgar com proficiéncia os magnos problemas da actualidade, e encontrar caminho novo a ser trilhado, novas possibilidades a serem despertadas e realizadas, oferecemos nos livros desta colegio, sob os aspectos gerais, os elemen- tos necessérios para que tal estudo poss ser realizado. Examinaremos a Economia sob o angulo generalista e nko sob os Angulos especialistas, os quais poderdo ger trilha- dos, posteriormente, pelos qué tonham j& construfdo as bases fundamont © terrivel preconceito de nossa época, que supervalori- ou 0 especialismo, colocou o estudioso dentro do campo do contingentismo puro, provoeando uma visao unilateral © pri- maria do restante do saber, som situar precisamento 2 pro- pria matéria sobre 2 qual dediea o seu melhor esf6rgo. Ne~ mhum especialista se tornard criador nem constructivo, se s@ 26 MARIO FERREIRA DOS SANTOS apegar apenas A estreitera da especialidade, Ademais é im- possivel uma visto clara de qualquer saber em que faltem as luzes da s& filosofia e nfo do filosotismo viirio e disper- sivo dos enuneiados meramente opinativos, Quando fala mos em Filosofia positiva, falamos da que se funda em ar- gumentos rigorosos « em demonstragées de méxima apoditi- cidade, como é a que segue a linha iniciada por Pilagoras, através de Socrates, Platio, Aristételes @ os grandes eso Kisticos, como Tomas de Aquino, Sio Boaventura, Duns Scot e Suarez, Néo se trata, portanto, de seguir esta ow aquela maneira de filosofar, mas de seguir ¢ que chamamos de silosofia conereta, que & 2 que néo separa, sendo para a analise, mas que imediatamente realiza a eoncregiio que uni- fica, ¢ fundamenta seus postulados em demonstragées rigo. rosas. Nao é possivel ostabelecer um estudo aenrado dos factos socials de nossa época sem uma visio de tidas as ma- térias que siio compendiadas nesta colecgéo. E quanto a0 campo da Economia, dispensamos as providencias especia listns, pois estas, pelo exeessivo grau de eontingentisino, nao oferecem nada de suficiente © de duradouro se nao se fun- damentar numa visao genevalista conereta, devidamente po- sitiva (1). 1A filovin conereta ¢ uma decorrineln inevitivel da filosotia pritica, que mais dig ow menor dia. tera de surgit. © ato que ce fez entre 0 que os gregos vam reanzado eos medieval Gia que of Midsotoe modemnes prossegussem © ant 6 slesncassem assim a eoncrogso quo cra. postive. O preconceita de que a escolsstica era ‘ua flosofia da Tgreja e nio na Tgetja, level bs ‘adversarios do cristaniamo § fazerem. silencio uz timo es realizagves cscotastioas, © ainda mais, a falsifictlas ea caluldlas (© rrocultado fol toda wash florigio de eras e de Sncomaeytenciae co Hosorar moderne, com a Snevisavel gecorréaeia de prejulzas pare Imumantdade, © mister compreader que a Fiototia. pertence ao patrimdnlo ‘universal, venham suas eonteibuicbes da Tndky da Chind, do onde. vo- nha, e também, ¢ sobretido, Wo ocidente, ‘onde teve’ aa genuiina foragio. “Nao # posstvel poremco de lado we obras dos gramues tne” Glevallsias, sob’ a alegaeto da que. pertancam sles a tima.contissao rebgiosa, Uistinta da. gue algyeim segue. Nao € posalvel aeixemoe Ge Indo 0 estudo dos grandes Miosofes do budiemo, simplemente [oF {Guo nto somos budisiat. Por amor A flosofia, por amor ao saber, deveros, umiide © onestamente, ‘debragsr-noe sdbre as obrae fe todos, @ evltar tow transtarmemos ein outros tantos. porta-Yowes fo infamieg, © © abibuir falsldnder 9 aulorus que no letios TRATADO DB ECONOMIA Fra nosso intuito, A proporeaio que examinamos os prin- cipais conceitos e categorias da Economia, tecer a anélise ialéetico-coneret que merecem, permitindo, assim, a eriti- ca que se torna necessaria. Mas essa erftiea no poderé ser feita se nao abrangemos 08 conheeimentos que se impdem para que seja realizada com o rigor que exige a nossa di ection, © facto econdmico nfo se dé isoladamente, mas sim con- erecionado com factos sociologieos, peieologicos, historieos, politicos, juridieos, ete., o que obriga, portanto, examinar todos as outros elementos que nos fornecem essas cigncias para que o axfoma possa dar-se com o rigor desejado. Seré, assim, nos volumes finais desta obra, que fare- ‘mos a eritiea das principais dontrinas, eoneeitos ¢ eategorias dda Economia, permitindo que ee d& a essa diseiplina o seu verdadeiro valor, significado e importaneis, pois, de eontra- rio, eairemos nos defeites proprios do especialisno, sem ex pacidade de concrecionar a especialidade A generalidade, que fonte ¢ 0 yerdadeiro ambiente ciretmstancial em que 08 actos eeondmicos se processam. © ACTO ECONOMICO — FACTO ECONOMICO Ante o mundo e a vida, o homem é corpo e 6 espirito; vive, ama, eria. escolhe, aceita, repele, deseja, anseia, an- gustia-ge,"Passivo e activo, sofre e actua, experimenta ¢ intenta fazer. Luta, antagoniza-se com seus semelhantes, ama também. Por entre os seus actos, e no conjunto de sua vida, 6 Gle um ser, um corpo; tem uma anatomia, uma constituigio, 6 carne e 6 espirito, nasee, alimenta-se, eresce, envelhece € more. No aue éle €, tanto éle como © seu man: do, no que dle faz, ha actos bioldgieos, fisicos, psicoligicos, socioldgieos e também ceondmicos, Como a sux vida é um todo, ésses actos se processam contemporaneamente. Mas, 0 proprio homem, para couhe- cé-los, para sobre Glos meditar, para sobre éles reflectir, para compreendé-los, dominé-los, precisa separd-los, tomé: clos como se féssem isolados, observé-los sob aspectos parti- ealares ¢ precisns. o, par isco, eonstmnin a diversidade do seu saber, do seu conhecimento, que tem por objecto tédas casas partienlaridades englobadas sob 0 nome de Ciéreia, guando permanecom dentro (imanente) dasses factos, e de Filosofia, quando os ultrapassa ¢ busea as razées mais aitas, que esti além déles, que os transcendem. ‘Mostra-nos o fendmeno ital, que os séres vivos, conti- nua ¢ reiteradamente, nocessitam retirar do meio arabiente 03 elementos de que carecem para a conservagio da vida, Retiram as energias em maior ou menor soma para incor- poré-las ao seu corpo, transformando-ns, através de com- plicadas operacdes, que constituem o metabolismo da vida devalvendo ac ambiente as matérias nflo ineorporadas. Cha- mam-se integrugsea bioldgiene as ineorporacdes; desinte. gragées Dioldgicas, as dovolugées. Dé-se o nome de anabo- Tismo a0 primeird processo, e de eatabolismo a segundo, ‘que, sintéticamente, formam 9 metabotiemo da vide. 30. MARIO FERREIRA DOS SANTOS Para a realizagio désse procesto da eaptagio, ha certo esforgo da parte do ser vivo, que Lem de vencer as resistém cias exteriores, Mas o ser vivo néo permanece sempre vic vo: depaupera e more. Em compensagao, reproduzse a0 atingir certo estado de sua vida. Observs-se, no entanto, que 08 séres vivos proeurain permanecer vivos; isto 6 tudo fazem para conservar a vida, Desta forma, estabelecem os bidiogos duas constantes: 1) Constante biolégica da conservagio do individuo. 2) Constante biolégica da conservagio da espéeie. Podemos dividir a vida humana em duas fases: a) 8 vida intra-uterina, quando ainda permanece no iitero materno, & b) a vide extrauterina, inieiada logo apé mento. © nasei- Salvo og casos anormais, o individuo, na primeira fase, esté em equilibrio organieo, ¢nquante na Segunda, @ mudan: ca de ambiente, as mudancas elimiticas e as do metabolis. mo so diversas © o equilfbrio passa a ser instivel. A ali- mentagio, que na primeira nfo Ine dava trabalho, passa a ser ustosa, onerosa, e dle deseja restabelecer 0 equilibrio, © dcimestar de que tem uma reminisetneia ndo consciente Precisa o homem, para viver, extrair do meio ambien- te os alimentos de que carece. Mas, nem thda quanto eon tém o meio ambiente é susceptivel de ser assimilado ao seu corpo, nem tudo é alimento. Ble precisa escolher entre 0 que é © 0 que & embora possa errar nessa escolha. Des- ta forma, o meio ambiente Ihe d& uma quantidade limitada de alimentos para o seu consumo. Esse acto, pelo qual 0 homem efectua uma eseolha num. conjunto limitado de bens Pare consumilos, déles tirendo 0 maior partido posstvel, ¢ 2 que se chama acto ceonémio, & Tell desde logo compre- ender que os actos econdmicos aeompanham todo o desenro- Jar da vida humana, coordenando-se com ela. Uma variedade de processos, variedade extrema, com plexa, 6 empregada para tal fim. "£, portanto, téell também compreender que x Heonomin std assim eoordenada & vida humana ¢, portanto, também a historia dessa vida. E como os mefos empregados sie diversos, est cla também ligada 8 téenica (aos instrumentos © sua utilizagdo) por éle usada, ‘TRATADO DE ECONOMIA 81 Assim, a vida econdmiea € um conjunto de actos eustozos, anerosos, que so empregados sobre o meio exterior pelo homem, para manter a sua subsisténcia. Que éa vida hue mana sendo uma adaptacéo do homem & natureza, adapts ao ora passiva, ora activa? Que sendo a transfermacao da natureza e das forgas naturais em seu proveito? ‘A caracterfstiea fundamental e simples do acto econé- mico & 0 essérgo despendido pelo homem para a obtengdo dos meios exteriores que possim permitir a manutengio da cua subsisténcia, Nesse aspecto particular funda-se a eco- nomia. Essa onerosidade € inoartante, enquanto as formas em due ela se apresenta na histéria, isto 6, 0 seu conteddo, Para executar essa apreensio dos meios que the for- neve 0 ambiente, esse esforgo pess, € penoso, portanto custo- su, oneroso, porque Ihe exige esforgo. Até aqui permanece ide dentro de actos eeonémieos de uma economia individual, fie uma economia que s2 processa entre um individuo ¢ 0 ‘meio ambiente, ‘Mas, sucede que o homem nfo é um animal isolado. fle vive em soviedade, F essa soviadas, &pro- ‘orgéo que se complexiona, condiciona também uma. com- Dlesidade neste eaforeo, que tem seus graus de intensidade, como também trocag de bens entre os homens, como veremos ‘ais adiante Nota-se, assim, que os aspectos econdmicos nfo so os ‘anieos, mas alguns dos numerosos que compoom a vida, ha- mana,’ actividade do homem vivo na sociedade. Mas ésses aspecios, crescem de importancia, impéem-se de tal maneira que so naturalmente xotados, sclientados, embora nunea se ‘dgem tsolados, auténomos dos outros. Nao sio absolutamen- te autonomos! no hé, désse modo, uma actividade econémi- ca rigorosamente pura, Sao les separades pela mente hu- mana, separados pela andlise de nosso espirito, que, assim procede porque é 0 meio indéspensdyel para estudaios ra- cionalmente, No acto econdmico, hi ora uma éroca entre o homem € 0 meio ambiente, ora entre diversos sdres humanos, mas esa froca nfo é a mesma que se dé, por exemple, entre dois v sos comunicantes, ou “entre duas matérias que reagem qui- mieamente uma sdbre a outra”, Esse esforgo emprevade & coordenado com actos psicologicos, pessoais ou adquirido: Néle penetram disposigdes psieolégicas individuais ou colec- 32 MARIO FERRSIRA DOS SANTOS tivas. e também o passado condensado na edueagio, na re. petigio, na instrugio, ete, O trabalho, assim, nao é apenas tum aeto fisico, mas psicolbgico © cultural, Os economistas liberais © também os marxistas tratam acto eeondmico como algo abstracto, eomo #utonomo. Con fundem as anilises abstraetaa que déles se fizeram (quando foram tomados isoladamente, pela mente humana), como se essa abstraegiio se desse na realidade, ‘Transformam es- sa autonomia muramente espeovlativa em uma autonsmia real. Os marxistas, através désse abstraccionismo, acabam por distinguir uma super-estiuetura ¢ uma infra-cstructura, esta formada pelo conjunto dos factos e relagées econdmi: eas, eujos aspectos e helerogeneidade estudaremos adiaute, enquanto a super-estruetura inelui tédas as outras activida: des ja do espirito; culturais), tais como o Direito, a Poli- tiea, as erencas, a actividade religiosa. Bstes procédem da- queles, so determinados por aguéles, ‘Ha, contudo, algum rigor na opiniie dos marsistas, ¢o- mo veremos. A colocacdo abstracta do facto econdmica le- vou-os @ uma unilateralidade prejudicial compreensto da Feouomia, como a posicao diametralmente contraria dos [i- beraig nfo impediu que também éstes aceitassem a autono- mia do facto econdmies. A actividade ceondmica é um as- pecto das actividades humanas (do homem enquanto indi- vidluo, © no pessoa), mas coordenada a estas, formande com estas um todo, aue nds separamos, para, sobre elas, ox pecular, esiudar, analisar, Dissemos enquanto iediniduo e nfo pessoa, e esclarece- mos: como individue, 0 homem € um organism, um con junto de células, de uma vida psicoldgica. Como pessoa, uma sintese da’ consciéncia psicolégiea, com sous valéres culturais, de aspecto expiritual, ete. (Empregamos o t8rmo espirito em seu sentido genvinamente cultural, e no no sen- tido espiritualista), Os actos, que pratiea como pessoa, ul- trapassam 9 campo do econdmico, sio gratuites. Quando i, nao pretende reeeber em troca um equivalent’, Nao se dirige a uma utilidade, porque nao perde o que dé, A pes- soa, como pessoa, enriquece-se quando d4, enquanto no ter- reno econdmico, 0 que se da, sui, & firado do patriménio. Tais aspectos, que so importantes, serao melhor compre- endidos com a Jeitura dos artigos sejruintes. Antes, estuda- remos 0 importante tema que 6 o conhecimento econdmico. © CONHECIMENTO ECONOMICO # natural que, ao iniciar-se 0 estudo de um tema, déle se tenha, desde logo, um conceito formado. EB mesmo co- mum Iniciar-se pela definicio, Para estabelecer-se uma de. {finigao, impde-se que obedecamos a Légiea. Vimos que nem todas as actividades humanas so actividades econdmicas. Estas costumam ser definidas de acdrdo com o fim a que se destinam, A Feonomia politiea, ou a Ciencia eeondmten, tem por objecto essencial o estudo dessa espeeifiea manifestacdo da actividade humana: a econdmica. Conservar a vida é um fim comum de tedoe os séres vivos. B éstes agem de um modo ou de outro na obtencho do que Thes parece necessi- rio ou desejével para a vida. Contudo, nessa actividade, ‘quo os séres vivos empreendem, hi outras caracteristicas. Se nos animais 6 ela dirigida pelos instintos, entre os homens € ela, em parte, raciowal, BE quando essa vacionall- zacdo se transforma num eonheeimento ordenado, explieador de muitos factos, torna-se ela ndo uma pritica, mas uma teoria, um saber culto. Entéo temos, em resumo: 1) 0 facto econdmico uma actividade. 2) Hoan actividade 6 especifiea isto é tem caracteres essenciais que a distinguem das outras actividades 8) ¥ uma actividade humana (inclu o aeto Aumano, estudaremos em "Filosofia e Historia da Cul. 4) Tende @ um fim, que é a conservagio da vida ou 0 seu bem-estar, . 5) Como actividade encerra um esforgo e, como estar ¢0, tem um custo de energia para quem o empres: 34 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 6) ‘Tendo o ser humano a diminuir geu esfOrgo na acti- vidade econdmica, 7) Tende também a obter 0 maior proveto dessa acti- vidade, ‘Nio podemos por ora dar uma definigdo da Eeonomia, mas apenas um répido enunciado, 1 a razdo 6 a seguinte: a defini¢do de uma diseiplina exige 0 clareamento dos prin- ipais eoneeitoe que a integram, ¢ como temos diversas Leses a defender, no tocante a esta matéria, preferimos deixar a Cefinigho para sor dada em “Filosofia e Historia da Cullu- ra”, onde, a0 examinar, dentro do ambite filoséfico, o “acto econémics”, poderemos precisar com mais seguranga © con- tetido, que ‘mostraremos ser o mais valido, do conceito de Economia, apés as demonstragées que faremos. Por porém, pode-se dizer que “s economia é a que estuda 9 teoria e a prétien do acto pacitieo, eonsistente ha conseeugio de bens para satisfagao das necessidades hu- manas, no intuito de obter 0 maior provelto com © menor dispéndio possivel de energias.” Desde logo ressaltam no emmeindo algumas idéias, provocarao a eposigio de muitos, tais como a afirmacko de que & uma diseiplina étion e que o acto econdmico 6 funda jentalmente pacifico. Mas, desde que consideremos o que foi examinado em “Sociologia Fundamental ¢ Btiea Funda- mental”, € inegsivel que a Economia gira no ambito da Etica, indeviddmente muitas vézcs confundida com a Moral. Que © acto econémico € pacifico, demonstraremos naquela obra, antes citads, porque excluimos 0 cardter de economico a. pilhagem, a0 furto, ao roubo, ¢ a todo acto de apropringio violenta dos bens, quando essa violéneia é feita sobre pes- sas ou sdbre seus direitos. Inclusive a afirmacao de uma “economia escravagista” tema de andlise oportuna, bem como a da expropriagao realizada sObre povos mais fracos, Gominados pela forea, cuja expropriagdo ineluimo-la na pi- Thagera, como mostraremos, que & um dos factos mais im- pertantes da Historia e em euja actividade ha a presenea de certos factores pricolégicos, que merece exame especial. Déste modo, 0 enunciado que oferecemos é apenas pro- visério, j& que Sua justificagao viré oportunamente. As diversas denominagGes, tais como ECONOMIA PU- RA, ECONOMIA SOCIAL e ECONOMIA POLITICA, estio TRATADO DB ECONOMIA 35 genéricamente inelufdas nesse enuneiado, Necossdrio se tor- nna esclarecer o sentido da expressio tradicional “Economia Politica”. A expressio 6 formada de duas palavras gregas oileds, que significa easa, ¢ potis, cidade. De oikds deu eco- nomia, eam a conjugacio do térmo xomos que, em grego, quer dizer regra, lei, norma. A Economia politiea dé a entender, assim, o alargamento da idéia econdmica para as activida: des combinadas dos individuos numa comunidade, ¢ desta com outras. Nao se deve confundir a Economia politica com a série de doutrinas relativas ao govérno, wo Estado moderno, nem com 0 sentido hodierno de politica. Numa époce de especialismo como a nossa, cuja acen- tuagio decorre da propria divisio do trabalho ¢ das oeupa- ies expecificas, que ‘Téenica eriou, impnlsionads, ate- Mais, pela acgao realmente proveitosa que {ez a escolistica, eviando, na Filosofia, um fabuloso movimento anal: € de admirar que muitos julguem que hasta alguem dedi~ tear-se ao estude da Economia, deixando de lado 0 necessario euidado que ee deve ter com a Btiea, a Sociologia, a Histé- ria, 0 Direito ¢, consegientemente, ao abranger das, de- Gicar-se ao estudo da Filosofia. Ora, quando falamos em Filosofia ndo queremos nos referir a0 filosofiemo, ao expe- cular apenas com idéias e delas extrair novos juizos opina- tivos. Quando falamos em Filosofia, falamos daquela que se fimda em demonstragSes rigorosas, Na Cidneia Natu- val, a Gnica e verdadeira autoridade é 2 experiéneia, a com- provacho, a prova em cma; na Filosofia, tambon? é 4 de- Ionstragho, aqui, a «iniea autoridade, a demonstracdo mais rigorosa, Portante, quando falamos’em Filosofia, falamos da que se baseia em demonstragdes rigorosas ¢ a0 da expo- sigdo filos6fiea que pertence mais & Estétiea, ao campo das epinides, dos pontos do vista, das hipdteses e teorias bem arquitetadas, porém néo fundamentalmente demonstradas. ‘Em Filosofia nfio se deve adotar um postulado, darse um enunciado, que no tenha a fundamenté-lo razdes ontologicas ‘igorosas, suficientes pelo menos a dar-The uma dose de va- lidex, Sem essa Filosofia, todo especialista eai muma visto de. formada, limitada e faisa da reslidade, pelo exeesso de abs- ‘ractismo primario, que fatalmente o dominara, Para que alguém, em qualquer sector do conhecimento, possa ter tuma visio segura, capaz de servir de guia para melhores 36 MARIO FERREIRA DOS SANTOS anéilises, ¢ mister que esteja provido de um senso erftico hem fundado, que s6 0 filosojar conereto, que preconizamos, 6 capaz de the dar. Para que tenha alguém uma visio clara dos Zactos econdmicos impoe-se a dos histéricos e sociolégi- eos, © mio & possivel tratar de um problema de tanta mag- nitude como @ “questao social”, sem que se disponha de das essas bases que acima citamos, sob pena de realizar maior dissolugio confusio em vez de clareza e profundi- dade, DO CONHECIMENTO ECONOMICO © conhecimento dos Zactos econdmicos est condicionado pelas coneepedes fundamentais que se podem formar da acti- vidade economica. Sao trés as principals. Resumamo-las, 1) Concepedes mecanicistas 05 que seguem tals coneepedes véem & actividade ceond- mica como vm "ajustamento. de quantidades de bens e de ‘ervigos sob ima forma, que € 0 prego”. Os termos tados sho emprestados da Mécanica: equiltbrio estivel ou insta- vel, resisténcia, nivel, ete. Prestam Gles atengo apenas aos aspectos quantitatives dos factos econdmicos, viriualizando os aspectos intensivos. Separam a Soclologia da actividade economia. Jul- gam que S6 sera ciéneia a Economia Politica se se ativerem apenas 208 aspectos objectives exteriores ao homem, as Gquantidades, aos precos, ete. Tem, assim, uma visio par- clal, abstracta, meramente extensista da actividade econd- mica. Nomes' representatives: Léon Walras (1884-1910), Wilitedo Pareto, ete. 2) Concepedes organicas Para éstes, a actividade econdmica é apenas um con- Junto de operagdes que se realizam, visando satisfazer as hecessidades do organismo social. Seus térmos sfio empres- tados da Biologia, como fungoes, érgaos, aspectos fisiolégi- ros ¢ patoldgicos da funcio tal ou qual. "Nomes representa- tivos: Robertus, Schaeffle, Worms, Marshall, ete. 38 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS 3) Concepedes humanas ‘Tém ésses uma concep¢do humana, sem deformé-la com © simplismo do mecanicismo nem do’ organicismo, Nesta corrente, tanto os factéres quantitativos como os qualita- tivas s0 considerados. Para ela, nfo é a actividade eco némica separavel dos quadros politicos, juridieos, sociais, variéveis, nem da Técnica, nem da Histéria em geral. Duas posigdes podem ser tomadas em face da Eeo- a) Pode-se tomd-la como uma cigneia, como um conhe- cimento universalmente vélido para todas as pocas, para todos os lugares ou, ao contrario, é ela apenas uma série de conhecimentos de ordem histérica, de carieter expect fico, valida para certos meios e limitada ao tempo? b) Ha, na Economia, apenas uma base de conheci- mento indiferente no sentido eientifico, ou nela se ineluem também juizos de valor e, conseqdentemente, The & possivel estabelecer uma regra de acgio? Um paréntese torna-se necessério antes de responder a essas duas perguntas, Que 6 um juizo de valor? Antes vejamos que & valor, Em todos o actos, ante todoz os factos, © homom de fine, qualifica, estima, aceita ou repudia. So vemos um Itz vro, podemos dizer que éle é retangular, que & pesado, que € vermelho ou azul. Mas podemos, também, dar-lhe certos epitetos que o engrandecem, quando 0 chamamos de atil, Ddenéfico, belo, ou que o diminuem, quando o chamamos dé prejudicial, feio, etc. Podemos dizer que o livro esté em cima da mesa, esté ‘20 lado direito do tinteiro, Em tudo cuanto temos dito, afirmamos factos ou relacdes que veri- ficamos estarem ou se darem nas coisas de que falamos. © retangular podemos ver na forma estereogréfiea do livro; também que é pesado, avaliamos quando o seguramos; que é vermelho, indica-nos’ a visio; que esté em cima da mesa ¢ ao lado direito do tinteiro, iamhém podemos intuir tudo isso. Mas, quando dizemos que éle 6 util, benético, belo ou prejudicial ou feio, néo estamos nos referindo a aspectos que podemos intuir pela intuigko sensivel, Ao TTRATADO DE BCONOMIA 39 chamarmos 0 livro de belo ou de felo, nada tiramos, nem nada pomos no Iivro, No entanto, se 0 chamamos de ver- melho é que néle se apresenta essa cdr. Ao chamarmos 0 livro de belo ou feio, no acrescentamos nem tiramos nenhum dos atributos que éle tem. Realizamos uma valorag@o, A histétia humana 6 uma valoragio da actividade do hhomem. Ela relata a cringlo, a deseoberia de valoragées, como também a transmutagao, a oposigao e a concordancia das valoragées. ‘Toda renegdo humana apreciativa ante um facto ou um acontecimento é uma valoracao. A valoragio é uma apre- einefo de valores. Ba Aziologia a disciplina que estuda os valbres, sua génese, transformagées, mutagies, ete. Os valores sho objectos especificos © o seu estudo per- tenee i Ontologia, Mas podemos caracterizar alguns as- pectos suficientes para déles nos dar uma visio. Os valo- es nao se ligam to ser dos objectos, mas ao sea vader, & sua dignidade. Ao sfirmarmos que ‘um vale ou nao vale, nfo aerescentimos nem tiramos nenhum dos seus atributos, Sao os valores algo em si mesmos ou valem para nés, ou estio nae coisaa? A cigneia dos valores 6 uma diseiplina nova, que, s0- bretudo, depois de Nietzsche, comegou 2 tomar corpo na Fi- losofia © a ter um campo proprio de acgio. ‘Trés tio as doutrinas principals que estudam os valé- res 1) A platonica: para esta os valéres silo independen- tes das coisas. Sio algo em que a8 coisas valiosas estao fundadas, Desta forma, um bem s6 seria um bem pelo facto de participar de um valor, situado numa esfera me- tafisica ¢ ainda mitolégica. Os valores seriam assim abso- lutas existéneias, independentes das coisas. 2) A nominalista: por essa doutrina, os valores se- riam relativos a0 homem ou a qualquer portador de val6- res. Os valdres seriam assim gubjectivos, porque seria 0 40 MARIO FERREIRA DOS SANTOS sujeito o criador dos valdres, ¢ éstes eonsistiriam apenas no ser uma coisa considerada valiosa, que uma coisa produz agrado, etc. 8) A doutrina de Scheller é a woria, da apreciagio. Noga ‘a independéncia dos fendmenos estimativos ét.c0s, ‘Aceita a subjectividade, mas limita-a pela apreeiagio do valor que esta na propria apreciacdo ou se revela mediante a apreciagao, quando nao € produzido por ela. Ha, assim, para Scheller, uma base material do valor. H& uma distingto na légiea moderna quanto aos jutzos a) jutzos de exist bv) jufzos de valor, Nos primeizos se diz de uma coisa 0 que a coisa Enunciant-se propriedades, atributos, predicados dessa eoi- s& que perteneom ao eeu proprio ser. Os juizes de valor enunciam algo que nfo se junta nem se tira a existencia nam a esséneja da coisa. Assim, quando dizemos que é justa ou injusta tal for ma de produegao, ou quando dizemos que tal produeto devia destinar-se ou ngo a tal elemento da produeedo, etc., enun- ciamos juizos de valor. ‘Todo valor tem um contra-valor, Bom ¢ mau — ¢o- rajoso e covarde — forte e débil — belo e feio. Bo que se chama de polaridade dos valdres. Quanto & Reonomia, os valéres sfo siteis e podem ser considerades como adequadas ou inaddequades — eonvenien- tes ow tneonvenientes, Tiveram as perguntas que acima fizemos diversas res- postas no decorrer do desenvolvimento do pensamenta cea ndmico, Mas, aproveitando 0 que j4 expusemos, podemos acei- tar um tneariante na Economia, que se dirigivia a uma rea- "RATADO DE ECONOMIA a1 cade econémica mais profunda, mais escencial, comum a todos os sistemas econdmieos, independentemente dos acei- dentes da Historia, o que muitos chamam de economia pura, © outra parte, variante, que se atenha as diversidades, as helerogeneidades, ao diferente, que se da em cada facto num conjunto de factos, sem esquecer o que ha de perma- nente e de continuo, A escola austriaea, a escola de Viena, com Karl Men- ger, Bohm-Bawerk, ¢ outros, defendia a economia invarian- fe, enquanto a escola alemd, com Bucher, Werner Sombart, Schmiller, procuravam as difereneingdes, o estudo dos sis. temas economics distintos, A conjugagdo das duas orientagdes di um sentido mais concreto, procurando através das diversidades e heteroge- neidade dos factos econdmicos, proposigdes que enunciem uniformidades de alcance geral, Isto 6 conereeionar 0 parecido com o diferente, o in- variante com o variante, 0 que se repete, por entre o que © novo. Desta forma, a andlise dos factos diversos é umm mas 0 fim deve ser a construggo da ciéneia econdmica. Confundir um com o outro foi o érro da escola alemi, en- quanto ao da austriaea foi desprezar 0s meios pelo fin. Assim, no estudo das escolas, pode earacterizar-se a se guinte distingso Economia pura ¢ Beonomia aplicada, ‘A Economia pura pode ser considerada de dois modos: a) como a parte da ciéneia econdmica que actualiza © estudo do invariante, inibindo as particularidaties do meio em que se desenvolve 2 actividade economica; b) como estudo das relagdes que se estabeleceriam numa sociedade hipotética, segunda um certo ideal Os eeonomistas, que estudam a Economia pura, estu- am © facto econdmico simplificado pela abstraccio, quer se apresente como um residuo pela abstracgo ou como cons- trugdo ideal. 42 MARIO FERREIRA DOS SANTOS A Economia apticada estabelece “as regras de utilida- de, segundo as quais se deve efectuar & produegao da riqueza social,” Mas a Heonomia aplicada deve ser uma ciéncia e néo una arte, razio pela qual ela deve procurar apltcar-se x08 factos, reemhecendo a sua heterogeneidade, como variantes que sio, e procurar os principios ‘mvariantes, que possam ser captadcs € estudados pela Beonomia pura, $6 ai a Feonomia serd conerela, como a preconizamos, ‘Todos ésses elementos nos preparam para compreonder © conhecimento do facto economico. A actungio do Estado, como vemos hoje na Riissia, ¢ como vimos na Alemanha hitlerista e na Italia, mostra-nos ‘8 sua interferénela no conhecimento do facto eeondmico ¢ iambém como neste penetram os juizor de valor, 0 que te- remos oportunidade de examinar quando chegarmos & and- lise eeondmiea désses sistemas, ‘Veremos quanto a vontade ¢ as idéias humanas pene- tram na Economia, Mostram, entretanto, os factos, que a escola de um fim, na Economia, ultrapassa as nossas pos- sipilidades, desde que a eonaideremos sob certo aspecto © como também se verifica que 6 possivel certa acgdio em de- terminados momentos @ quais os meios apropriados para po la om execute, ‘Mag tal verificagio, dizem muitos, nfo é suficiente para afirmar-se um caréeter finalista na Economia. So precisamente os jufzos de valor que querem forgar a marcha normal dos acontecimentos para que éles se coadunem eom os fins préviamente aceitos. Naturalmente, aquéles que e:- tabelecem, por uma apreciaco, em que penetram elementos abstraccionistas, uma finalidade para o acontecer econémi- co, Yeagem onérgicamente quando os factos mostram um desvio désse fim. # em casos como éste que a accio politica tenta dirigir 2 Beonomia, como na Rassla, apés esta tltima guerra, cor batendo as experiéneias espontaneas do povo russo, mas 20- nas que mais. sofrertm com a campanha guerreira. Ali houve comunidades que se orientaram para a realizagio de novas formas coleetivistas mais avancadas que as existen- TTRATADO DE ECONOMIA 43 tes naquele pais, mas foram en’rgicamente reprimidas pela aetio policial do Estado. ‘A Economia, para permanecer como uma ciénela, deve verificar os factos, déles extrair as normas gerais invarian- Yes (ou constantes), registré-las, explicé-las, ¢ aprovelta- las na acco pratica, Quando a Economia serve A politica, ela € desviada. do stu verdadeiro campo de acgio. Com um aleance prético, a Eeonomia torna-se uma arte, desde que consista num’ conjunto de juizos de valor Qualificadores dos facios ou dos actos, e quando ésses ten- dem a um fim préviemente estabelecido ela torna-se uma doutrina, wand, porém, ela se atém aos juizos de exsténcia, cexprltinde reagoes yerficavels,eomo an charadss Tes, 04 GrBnas nupottae’ como as hipoteses entre os fuctas oeond- teow cla'se tone ama. tora. Nio deve @ Economia abdicar das suas fungies prd- prias, e 0 Estado, quando dela usa, deve reconhecer 03 li- mites que ela tem. Quando procura transformé-la num meio para garantir 0 cen dominio, ele desvirtua a sua fmalidade e a deturpa. (© conhecimento do facto econdmico nos € dado por uma série de elementos que vamos sintetizar: 19) 05 organismos estatais extra-ostatais, tais como ox minisérios, com as documentagies weondmicks que, for: necem, 08 baneos «lo emissAo © os grandes bancos, os insti- Tatos, que estudam 2 conjuntura, a Organizagio das Nagoes Unidas, © Bureau Internacional do Trabalho, as revistas ‘economicas, os institutes internacionais ¢ nacionais, ete. & foi 108 que a Eeo- 2.2) Com o que jé foi exposto, verificamos que a nomia se processa no terreno onde’ predomina a ordem di Namiea da tntensidade, © que, portanto, 0 mais dificels experiéneias no sentido que eonhecemos na Fisica, por exem= pln. Tal ndo impede que empresérios realizem em. seus eS- Jabelecimentos inovagées téenicas, que fornecem dados pre- a4 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ciosos aos economistas, bem eomo também algumas expe- rigneias feltas nas organizagdes do Estado, Certas coldnias suctalistas, como as que se verificam na Palestina, € as co Ietiidaes fundadas ma’ América, oferecem dados impor rantissimos, Os seguros sovais, as leis trabalhistas © sua aplicagho, também Sho vllous plas informagdes que ministram. Como # Econcmia 6 easencialmente social, deve tomar- 2 gat eonsideragso as reaegdes individuais e psiguieas que se observam, A estatistiea fornece daiios de grande valor, embora te- aha os seus limites. Os recenseamentos, quando feitos eri= teriosemente, fornecem elementos importantes, que Va0 ser vir ao economista para seus estudos, Os tratados eomer- cials, 08 movimentos dos pregos, seus indices estabelecids, ‘io também elementos importamiiesimos. " As monografias dos diversos autores, os estudos sobre factos particularizados ¢ localizados, os inquéritos, aa infor- mages das associagbes.profissionais, todos éstes elementos sio importantes para o conhecimento dos factos evonémicos. 08 METODOS NO ESTUDO DA ECONOMIA. Como expusemos, mio se deve separar 0 facto econdmi- co do facto social em geral, a ndo ser mentalmente para catudé-lo. Assim, 08 factos écondmicos pertencem ao ambi- to dos étieo-histérieos, pois a actividade econdmica é uma actividade humans. ‘A. cléncia econdmica estuda esta actividade quando aplieada A consecugio de bens para satisfagio das necessi- Gades humanss. Considerando déste modo 0 estudo da His- foria. (que também € uma diseiplina étiea), nfo como um simples relato de factos cronolégicos, mas como a biagrafia a sociedude humana, deve aquela acompanhar 0 estudo es pecifico da actividade economies, © estudo das instituigées histéricas 6 impreseindivel |As grandes erises econémieas, 0 desenvolvimento dos agru- pamentos humanos devem estar patentes aos olhos do ecc~ nomista. ‘Também Ihe é imprescindivel certo conhecimento dz Sociologia. |A vida econémica compde-se de actos quo se repetem ‘quotidianamente, e entre ésses hé lagos que os ligam, ¢ que pao apurecem sempre & primeira vista e, para conheeé-los, do basta apenas a Dusen. histériea. ‘Andlises demoradas, uma ampla especulagio sdbre 0% factos, 2 conyparagdo de uns com outros permitem que o Gconomista consiga realizar andlises e sinteses mais com- pletas. Assim 0 eeonomista, no terreno do facto eeondmico, tom que proceder também como historiador e soeiélogo (@ sobretudo, eomo ético). 46 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Apresentam ainda os factos econdmicos caracteres quantitativos (mensuréveis) como qualitatives (intensistas). Sobre o fingulo quantitative, podem naturalmente ser medidos, Bste aspecto quantitativo permite a intervengao dia estatistica, da Légiea Formal e da Matemdtica, Mas, se considerarmos que os factos econdmicos sao ‘também 0 producto de actos conseientes, intencionais, poxs tendem a um objecto e a um fim, ndo podemos deixar de considerar 0 factor intelectual e psiguice do homem, que re- presenta 0 aspecto intensivo déstes fendmenos, A concreedo, isto 6 a coneaiio de todos éstes aspectos com 0 auxilio de uma dialéetica segura, nos facilitard meios habeis de empreender com bom éxito 0 nosso desideratum, Em face dos factos econdmicos, procura 0 economista captar os aspectos gerais, que se repttem, relaciona-los, para com éles estabelecer uma interpretagéio de eardetor goral, ‘Um facto econdmico, em certo momento da histéria, re- pete-se em seus aspectos gerais em outro facto, com’ cir eunstineins diferentes, Quando 0 economista formula, no tocante a ste fend- meno, um conjunto eaerente de proposi¢des interpretativas, elabora éle uma teoria, Bas, para chegar a Cate resultado, The é necesssivio ana- Fisar a realidade, isto 6, decompé-la em mas partes, buscar zhu complexidude’ ranscunte aguéles elementos: trodrantes, que The permitam coordend-los racionalmente, ¢ tal 56 & conseguide por uma eonstrucio dialéctico-concreta segura, no estilo de nossa Filosofia Conereta, 0 processo, que nos oferece a Légica Formal, 6 a n do deduetivo-induetivo. Partindo de um principio de ordem goral ja adquiride, poder& aplicd-la aos casos. particulares ©, nessa operacdo, proceders Gle deduetivamente, isto 6, de duzirg (tirara) do geral o caso particular, que nayuele esta ‘inelufdo, Por exemplo, hé um prineipio em Economia, que chamado de “lei da oferta e da procura”, pela qual se ¢s- iabelece que, normalmente, quando a procvra é superior a oferta, os precos sobem, e baizam quando a oferta é maior ‘ue a’ procura, No caso de se dar uma baixa de pregos, em qualquer circunstineia, poder éle concluir que deve ter havido pro TRATADO DE RCONOMIA a velmente um aumento da oferta sébre a procura. Entio ale procederd deduotivamente, Procederd induetivamente, quando partir dos casos par- tieulares para estabelecer, na averiguagio do que se repete, lum prineipio geral que os ligue, conexione. Assim, em face de um numero indeterminado de factos semelhantes, em que todos revelam uma causa ou uma raza0, que se repete cons- tantemonte, procedendo *nduclinamente, poders 0 economista estabelecer’ um nexo geral, Através dos dados fornecides pola estatistiea e pelas chservagdes dos economistas é que, fregientemente, pode realizar, no apenas uma constatagao dos factos, mas capéar um ner eausal, que os ligue na re- lagao de dopendéncia, Num aprofundado estudo sobre a induegiio e a dedue- fo, poder-se-ia afirmar que nao existe uma induegao nem Umi deduegdo puras, ‘Todo racioeinio implica simultaneamente induegao e de- du Entretanto, verifiea-se que, na Economia, se dio duaé tendéncias predominantes, que poderiamos chamar a dos deductivistas © dos induetiviatas, isto 6, a dos em que predomina a deduecdo ou a inducgao. Nés, que proferimos o método dialétice, juleamos que aio devem ser despremdos, nos factos econdmieas, os 28+ pectos particulates ot singulares em beneffeio dos gerais BS concebemos a Hconomia como ineluida na ietOria, 9 oxta ha Elica, temos de neeonhecer que em todo facto eccnomieo Hd um facto histérico, “Portanto, hi néle agpectos que se repelom e aspectos que ndo ed repotem. Actualistedo de tis © 8 virhualiengd de otros nos levara as atitudes abs traclas ou” abstraceioutetas a BeonomiaEnquanto pro- Cusamos analisar os {actos econémics, milo apenas pelos axpectos ineariantes, mas também pelos wariantes, teremos thm visio mais conerota dos mosmabs Notaremos, através de nosso estudo, quantas explica- ges retletem uma ceria comodidade de raciocinio, 0 que leva os tratadistas a conclusoes precipitadas, as quais, con sideradas como constantes e até como “leis”, vao encontrar, posteriormente, formais desmentides na prética, UNIVERSO DE DISCURSO DA ECONOMIA — CONCEITOS FUNDAMENTAIS 0” da Evonomia. 6 formada pelo conjunto de coneeitos e categorias que nela s¥o usados. Essses coneeitos, representados por seus térmos, (que sfo 08 sinais verbais que os representam), traduzem as generali- dudes, as muilas actividades ou aspectos que se repetem, © que, portanto, so semelhantes, ¢ tao semélhantes que pare coi tdénticos, As palavras usadas nas linguas sao sinais que representam e indicam algum aspecto, algum facto, ete. Aum certo eonjunto de factas semelhantes damos © nome de fivro. E tidas as palavras so nomes de coisas, fuetos, idéias, que se dio na existéncia. Ora, para fazarmos um estudo rigoroso ¢ seguro da Economia, precisamos conhecer ésses coneeitos fundsmen- fais, ter déles uma idéia precisa, para que nos sirvam de instramentos para a compreenato clara dos factoa econ micos, e nfio park obscurecerem ou falscarem o que deseja- mos estudar. Em suma, precisamos conhecer 0 vocabuldrio da Economia Politica, Essas palavras, que traduzem con- ceitos, sto em geral tiradas da vida quotidiana, da Tingua- gem dos negécios e das relagbes eeondmicas; mas, se na vida comm tem elas um sentido muito vago, muito ample ou muito estreito, na Keonomia devem ter um sentido preciso e claro, Como serdo elas constantemente manejadas nesta ma térla, iremos estudélas em seus aspectos gerais, para, de- po.s, quando analisemos ox clementos da Eeonomia, tratar delas analiticamente, penetrando mais a fundo em seu con- teiido, Assim faremos, por ora, apenas um exame désses conceitos fundamentals, deixando a parte analitica para a veasio oportuna. ‘RATADO DB RCONOMIA 9 NECESSIDADES Quando nos falta alguma coisa que perturba, pela sua auséncia, o equilibrio organico, chamamos de necessidade fa ese falta, Para sané-la, precisamos retirar do meio lanibiente os elementos de qué careeemos, portanto ésses ele- mentos sfio neeesnérios, A falta déles poe em perigo cor- poralmente 0 homem, A lista day necessidades humanas & smensa, e dificilmente poderiamos apresenté-la, porque falem das corpéreas, ha as culturais, e algumas eam origem na fantasia, além das que se originam na realidade, Ha necessidades mais exigentes do que outras. Por centro lado, elas também varian de homem para homem, de classe para classe, de pove para povo e de época para época, Eo homem obrigado a satisfazer as necossidades e essa 38: {isfagio se torna tanto mais imperiosa quanto mais exigen~ tes forem elas, As necessidades podem ser de cartictor exis- teneial ¢ de cardeter cultural Muitos chamam as primeiras de essencinis, ¢ as semun- das do relations. As primeiras so aquelas de coja satis facao depende 2 vida humans, como por exemplo: o aplaca~ mento da fome, 0 vestuario nds elimas frios. Se nfo orem apiaeadas, porko em perigo a existOncia dos individuos. Por i3so, empreende o homem todos os esforgos para aplacé-las, enfrentando 08 obstaeulas que se Tho anteponham. Ag se- rundus allo aquolas caja satisfagay € exigida pela culturn 6u pela eiviizagéo & qual pertengam. A nao satisfagio nao pee’ a vida em perigo, mas a desvaloriza em face de certs Esmadas socials, que delas nfo sofrem tio agudamente Subdividem muitos as necessidades culturais em SO- CIATS, quando reclamadas pela coleetividade ou por ela im- pastas, e SINGULARES ou PESSOAIS, quando represen- tam gostos e inelinacées do individuo. 'No primeiro caso, temos a necessidade de andar vestido; e no segundo, o dé nos vestirmos mais apuradamente. AS necessidades podem ser PRESENTES e PUTURAS, isto ¢, dadas imediatamen- te ou dar-se-do no decorrer do tempo.’ Podem também ser PERMANENTES, PERIODICAS 0u ESPORADICAS, 00 ‘mo tarabém podem ser UNIVIWRSAIS, quando comum a to- dos os homens, ou PARTICULARES, quando limitadas & tum certo nimero de pessoas. 50. MARIO FERREIRA DOS SANTOS UTILIDADE, Qualifieamos de siteis os objectos que permitem dar sa- tisfagho as necessidades e chamamos de whilidade a esse ca racter. Consideramos a utiljdade maior ou menor, quanto sauior ou menor for a necessidade que ela puder s Para um fisiologista, os alimentos sio dados const valem pelo seu poder nutritive. Para a homem, depende a vtilidade do julgamento que dela faga quem dela precisa. Para © economista, sho iteis todas as coisas que respon dem a necessidade do homem, sem se preocupar em siber lo elas naturale, imaginérias, ou até vieiosaa, Embora 4 Beonomia olhe assim as necessidades, az enears, porém, sob 0 Angulo meramente quantitativa e extensista, e nfo sod © angulo qualitative e intensista, euja diferenga fundame tal ressaltara, quando estudarmos o valor. na parte anal: ten, RIQUEZAS — BENS As coisas, que servem para satisfazer qualquer neces- sldade, (e como j4 vimos sho evisas iiteis), recebiam, na economia elissiea, a nome de riquesa, e seginde a termine logia mais moderna, o de bens, Entretanto, convém que ressaltemos desde j# alguns aspectos importantes quanto a0 emprégo do térmo bens © riquesa, © ar & til, pois som respirar nfo poderiamos viver por muito tempo; no entanto, nao o consideramos entre os ene de que dispomas. Assim também a gna do mar, dos Fins, a luz e 0 calor solares, sem os quais néo poderiamos viver. So éles também siteis, no entanto md o8 inventa- sfamos entre as riguecas, Assim procedem os economistas, porque 0s bens somente séo considerados eeonémicos, quan do juntam A utilidade 0 canieter de existirem em quanti- dado timitad: Os economistas véem na necessidade um earécter sub- jective, o qual é mais ox menos ressentido, segundo € mais iu menos satisteito, Desta forma, 6 eonsiderada, mula a tuilidade € cessam de ser bens (naturalmente om sentido econmico) as coisas que existem em quantidade ilimitada «ae, por Hss0 mesa, a noctssidade, que Thee corresponde, eld Virlualmente satisfetta TRATADO DB RCONOMIA 51 Dizia Nietzsche que € a dificuldade que d& valor is cotsan, "Rentmonte 0 homen, em seu fulgamento de valor, coeetie don forma, comn’a vida, para set muntign, exc vrs samem eaforgos, pertanso ‘onerores, custsos, est Be dpuonta imbue ese espiito de 96. jaar como, Hen Scomomico aguéles euja obtengio nos eustose. As Aguas seers due seem fs atgeridades de uma, popultgio, feetide pide wear & vontade, n80.afo considera ‘im econ, My ce san se foram propriedade eae para bac, 6 necessérlo dare trace alguns ae aleve Pag yepresmnt, dese in en dian passat teats ewes Seren consiseradas um bem econanieo. SERVICOS |A satisfaeao de uma necessidade nem sempre exige vtitizagao de uma coisa concreta, Ela pode muitas vézes Ser obtida por meio de um veto do homem: esforgo, xeali- jade para si ou para outro, Um cantor pode encontrar no Seu canto uma setisfagdo ao seu gosto musical, como tam- bem av do auditorio, Um médico, um engenheiro, um exis do oferecem aos seus semelhantes servigos, que, desde que Correspondam diretamente a uma necessidade, (podem ser Chusificados de fteis, Nom “magazine”, pare atender a Srepuesin, necessita o proprietirio de eolaboradores assala Fidos, ove prestam sexvigos. ‘Também as coisas podem restar servigos, como um vefculo que transporta, ou & ca23, que oferece um sbrigo, CLASSIFICAGAO DAS UTILIDADE E DOS BENS J4 vimos acima a classificagho entre mecossidades exe tencicis © culturais, Os bens sho classifieados nfo 36 de- baixo do ponto de vista do seu grau de utilidade, como tam- bem de sua natureza e de seu papel. Hé bens naturals que so 0s elementos materiais ou fontes de energia, que t8m uma utilidade directa ou indirecta, como 0 solo, 0 ar, a gua, a luz ¢ 0 calor solares. J4 vimios que, sob o ponto de vista econdmico, nfo sto tomados em consideracao. Mas, a éstes bens naturais, juntam-se os bens produzidas, 08 adaptados as necessidades por meio de trabalho do hemiem, como a drvore cortada, 6 Zrato colhido, a planta cultivada, © trigo convertido em farinha ou em pfo, etc. [Bases bens servem directamente a satisfagio das neces- sidades, como, por exemplo, um pedago de pao. Dissemos que servem dircctamente porque nia exigem qualquer outro eaférgo de adaptagio, sonao aquéle quo empragara 0 con- sumidor. Mas, ha outros que servem indircetamsnte, como © arade, o caminhéo, destinado ao transporte da mercado- xia, comio as méguisis, ete. Os primeizos eio. chamados dens de consumo @ 03 Semundas bens de us9. Wstes 880 bens dic producgdo, bens intermedidrios ow bens indirectos, que 08 ceotiomistas costumam classificar eom 0 nome do bens ea pitais, Entre os bens directamente titeis, hé os que so de truidos quando consumidos. Sao os bens que os juristas chamam de consumtveis, como os alimentos, e 08 economis- tas de bens de consumo, Outros sho usados sem destruigho imediata, como as roupas, os utensilios domésticas, ete. E a duragio que os caracteriza, 0 que é importante sob mui tos aspectos. Entre os bens’ indirvelamonte siteis, como 08 dens de producgéo, bens eapitais, pode ser feita uma distin. {ga0: bent que decaparecem no producto acabado, oma os TRATADO DE ECONOMIA 58 minerais, © ago, enquanto outros podem servir mais longa- mente, como 08 edificios para as fébricas. So 03 primei- ros chamados pelos economistas de enpitais circulantes € 08 segundos de capitais fives. Hsquematicamente, podemos classificé-los assim: on de utilidade indirect BENS NATURAIS Go utitidade directa bens de consumo bens de uso jens de fruigho Bens de fruie ‘bens de uso durdveis: PRODUZIDOS bens de producgao a, |, B80, durdveis Bens de producgio | pens de producglo duraves OUTRAS CONSIDERAGOES SOBRE OS BENS Podemos ainda considerar os bens sob vérios outros aspectos, "Os bens conpéveos podem ser méveia, imévets ou Srmoventes, Maveis sao os que permitem uma deslocagao hho espago, sem perda de suxs qualidades, | Tmévcis, os que por sta naturem nao podem ser tranaportadoo som perda AeTeuas qualidades, ou os que fazem parte do solo, Semo- entes, o& que, por ace dos seus proprios érgdos, podem Trumsportarse de um ugar para outro, Uma mesa ¢ um em movel; um prédio, um imovol; e um bof, um semovente, Esta € a classificacao juridiea dos bens, mas encontr ms outs simon reais 08 pene Orton de passagem, os direitos de creder, as patentes de invengao, (oe poder tor elatsifieados entte os bens de um individuo bu de uma eclectividade, como Bena ctivos, No. entanto, servidées, dividas hipotecdrias ou quirogrdtarias, sto inven- Teriados como Bens passives. Esses bens #0 eonsiderados pel contatitan cio Bens contabete. "0 economia no rrcede de outro modo e, assim como aquéle, 08 batanceia, Tato é, ele poe de um lado as obrigagdes aetivas, e do lado. rontravio as chrigagdes passivas. Desta forma, pode ter tama vislo cequra do padrimanio, bi MARIO FERREIRA DOS SANTOS PRODUCCAO E PRODUCTIVIDADE Para atender as exigéneizs, para salisfarer suas neces sidades, precisa os homens dos bens. 0 proceso, que em- pregam para obté-los, chama-se produegde. Diz-te eon: mo a aplicagéo que for dada a éles. Assim, produair 6 @ nerividade cconimien cousistente om obter bens, Esces bens, naturalmente, destinam-se @ atender as exi- séncias individuais ou colectivas do homem. Mas, produar, como actividade econdmica, tem essa direceao. 0 verbo produzir vem de dois radieais latinos pro e ducere ¢, em seu sentido etimolégico, signifies condustr (ducere) ‘para a frente (pro), por em evidéneia e, extensivamente, signi- fica erlar, engendrar. © proceso mais simples de produceto é a ocxpagio, consistente em colocar alguém uma coisa sob sua acgio, to” mando-e, ou pondo-se nela, se mével ou imével. Essa de- vera sor a primitiva forma de produegdo do homem. Pro duzir nfo significa criar ex-nihilo, mas tomar bens de na- tureza para atender as necessidades. Uma divisao do pro- eesso de produeg&o logo se nos torna patente: A actividade produetiva do homem nfio se realiza sem- pre pela ocupagao simples. Exige 0 emprégo de utensilios, instruments, aparelhamentos maiores ou menores para a realizacio de tal actividade. Entao temos: produecao sim- ples: @ a que nfo reclama aparelliamentos, ol! 0 se 08 exige, Sho insignificantes; produegdo téenien: nessa intervém um aparelhamento mais complexo, conhecimentos aplicados. Nossa necessidade de alimentos exige a utilizacdo de objec tos que contenham elementas nutritives, que devem corres ponder &s exigéneias como &s condigdes do nosso organism. Ao fazermos roupas, precisamos observar caracteres fi sieos, eondigdes do tacto, qualidades ealdricas, Quando fa zemos instrumentos musicais ou cientifieos, é mister estu- Gar os materiais, suas qualidades, sua resisténcia, caracte- risticas peculiares, ete, E dsse 0 aspecto tecnoldgien que pata quase totalidade dos economistas, nao interessa a Economia, sendo incidentalmente, Nos pensamos 20 con- trario e provaremos a nossa posigao, Tanto a Téenica co- mo a Histéria, em seus aspectos gerais, so importantes para a compreensdo eonereta do facto eeonémico, que se da, |RATADO DE BCONOMEA 55 correlacionadamente aos factos psicolégicas, sociais e ins- tories. Tmpoe-se uma visi mais eonereta da Economia, que néio pode nem deve continuar sendo uma eiéneia abs- tracta, como dela o fizeram cs cconomistas lbercis € 08 ‘smarzistas, No estudo que faremos da ‘Técnica oportuna- mente, voltaremos a abordar éste ponto tito importante. ‘A produccfio pode ainda ser classifieada: Produeedo in- dividuel, qaando feita para atender as necessidades do préprio productor. Prodnegdo familinr, quando se destina A sociedade, Essas formas podem coeristir. Outras clas~ sifieagdes podem ser apresentadas como: regional, estadual (provincial) “nacional”, continental, mundial, ete. CONCEITO DB PRODUCTIVIDADE A eapaeidade de dar lugar ou de surgi bens di-se 0 nome de productividade, Assim se fala na productividade do solo, na de ama fabries, de um homem, de um eseritor. ‘A produegio pode ser material ou ‘material. Como mate ‘ied temos: ooupagda, eujo sentido ja estudamos; coleta, con- siste na aglomeragio de bens para dispor déles quando ne- cesstirio; extracgi?, quando das coisas colectadas € extrai= do, tirado qualquer elemento stil; transformagde, quando se a as coleas outrn Torma ou se’ lies muudifica as proprie- dades. Na imaterial, tomos a produegao de bens que se des tinam a uma aplieabilidade psiquica e intelectual. B necessirio aproximer os bens das necessidades para satisfazé-las, E ésse acto chama-ce transporte, Desta for ma, 0 transporte faz parte do processo da producgao, tanto como a transformacho, O transporte facilita as trocas. Pode considerar-se como acto que vise d satisjagio de uma hnecessidade, mesmo que ndo sj éle aeompanhado de trans~ formagao, nem de transporte? Os economistas elissicos negam que seja acto productive. Entretanto, economistas: modernos consideram como um prodaetor a eozimheira ou a dona de casa, que preparam a comida, como um eozinhei- ro que @ prepara num restaurants. Quiros pensam que €s- sa afirmagdo 6 uma violéncia feita sbbre a palavra pro- duceiio, 56 MARIO FERREIRA DOS SANTOS _ Assim, aquéle que oferece seu sorviga, © que néo par- ticipa ém nenhuma fase do processo productive, nao deve ser compreendido na categoria de productor. Entretanto, hoje, os economistas dio a0 térmo produeeao sua maxima extensao, englobando entre os productores todos os qite pa tieipam da actividade econdmica, seja de que forma fér, todos os que fornecem qualquer prestagio, com o fito de si tistagao de uma necessidade, Desta forma se estubelece una ‘completa concordaneia entre # nogéo de producgao © a Ge necessidade e, conseqiientemente, uma coneordancia en tre os coneeitos de utilidade e os bens ou servigos. Assim podemos hoje visualizar a actividade de uma colectividade de maneira mais conereta, 0S FACTORES DE PRODUCCAO Examinando a produecdo, podemos destacar trés gru- pos fundamentajs e indispensdveis de factores (do verbo latino facere, que significa fazer). Segundo: 0 tyabctho — Sendo as co.sas inertes, 0 ho- mem, para consegui-las, deve nelas intervir, captalas, des. pendendo deliberadamente um forgo (uma energia), e-m. a imtengao de aplici-lo & produeglo de bens, _ Terceiro: cap tal — contando apenas com 0 seu proprio esforgo fisieo, poucos seriam os bens que poderia produzir, Desta forma, com a evoiuedo téeniea, aparelhou-se 0 homem gom meios que Ihe permitem veneer dificuldades até entao insuperaveis, Esse aparolhamento, em linhas gerais, ehama-se capital, © €ecmpesto pelos utenstios. Diseutern muito os econorals. tas para suber qual dos trés Factores, natureza, trabalho ow capital € 0 mais importante. Entretanto, no estado aetual TRATADO DE ECONOMIA oT da humanidade, sio todos trés essencisis & produccio, ¢ a va- Jorizagdo estabelecida em beneficio de um ou de outro representa uma falsa colocagio do tema. Pode-se conside- rar a naturezi e 0 trabalho como os factOres eronoldgica- ite anteriores a0 capital. Os economistas modernos ex- cluem o capital dos factOres necessérios e suficientes, eon- siderando-o como um factor eomposto, ‘Toda sociedade humana possui riquezas adquiridas, & centre esas algumas que serve para a producc&o de novas riguezas. ‘Temos instrumentos, matérias primas, ay quais servem exclusivamente para a fabricagdo de outros bens, € que tém um papel na produecao de novos bens. Esta foi a azo que levou os economistas a classified-los entre os £ac- tres de produegio. Assim © solo, transformado pela cul= tura, pelo estabelecimento de vias de comunicagao, pela vi- zinhinea de aglomeraeées humanas, oferece novas eondigses, Assim a terra se toma um producto da natureza e do tra- balho e, conseqilontemente, um capital. Vé-se, desde logo, ‘que 0 capital um factor composto de natureza e trabalho. © TRABALHO 44 vimos que o trabalho 6 energia despendida com a inteneao de conseguir bens. O homom é compelido, pela sua condigao, ao trabalho, por ser o melo de obtencso de bens, ou para a realizagio de servigos. Os economistas modernos consideram 0 sérvigo, embora no tendam & fabricacéo, & manutengdo, nem a distribuigay de bens materiais, como, per exemplo, o dos médicos, professores ¢ magistrados como trabalho, porque tendem a realizacho de bens nao materiais, Como demos um sentido amplo ao eonceito de produecio, também o devemos dar ao conceito de trabalho. Diseutem ‘65 economisias 0 valor moral do trabalho, considerando uns foma serviddo, outros um castige. A idéia do penoso € asso eiada a idéia de trabalho, o que é natural por influéneias remotas, porque tendo sida dificil a eonsecugha de bens, esta, sempre exigiu esforgos. Entretanto, na Psicologia, verios que nem todo esfrgo 6 penoso e pode até ser agradavel, Hstudos feitos sohre 5 condigées de trabalho revelam-nos que podemos aumen- 58 MARIO FURRSIRA DOS SANTOS tar ou diminuir o esforgo e @ desagradivel que ao trabalho te associa. Tamém ae verifien que hi pessoas que enein- tram réadeiro prazer, quando éste representa om realina uma eriacho, 0 que o éleva e também os tonifica, A ecticngho tom um papel sallente na acentungo ou m8 do str peo aio Bs os hme st elu ts, endo no trabalho sige devagradgvel€ naturel que co Predisponham a actualizar o caractor penoso, vietualizand Braue poses cer ngrudivel. Ensina-nos a Peicclogia que hé Pram slid, dal lrad determinatos trate, pod fe tomar: Se a agradiavel e até dolorosa. A Economia Frapoe ele, "Tem que, cilaborando com a Teenie, at: Say ¢ methoria das condigdes de trabalho e a transfor gio déste de penoso em agradavel. some CONDIGOES TACNICAS B JURIDICAS DA PRODUCGAO Demos até aqui os coneeitos fundamentais num sentido amplo, sobretado extensista, apliesivel a qualquer economity ciqualquer parte do mundo © em qualquer époea. No en {ante a produeeao tem, como coordenada, ¢ meio fisieo, que Tarr, Gdentico em, todas as latitudes, © também o homem J iaiverso, Diversidades raciais, de cultura, de civilizagio, ea lagdes entre a natureza ¢ 0 homem variam, como tam- fam virlam as relagées entre os dois factores. ‘As necessidades diferem segundo as ragas, 0 melo am: piente, a eultira, como também diferem os meios de satis- Risélus, Como estio em relagZo reciproca, — natureza © trabalho — e tambérn as necessidades e o trabalho, as com [igoes de trabalho modificam as necessidades como aquelas Wneieems directamente no primeire, Desta forma, a nevessl- dade tende a muitiplicar-se A proporgio que se aperfeigoam cade ede producedo, A complexidade da produecio com- Flewiona as nevessicades que, por seu tunno, Heluaa sobHs Trabatho, complexionando-o cada ver mais, e éste, por sua Vex, sdbre as necvssidades., Essa interactuagio é importan: YSina porque a reciprocidade, aqui, tem oan Thngdo eta Gora de necessidades © de trabalho. Considerando tudo quanto dissemos acima, vé-se, des Ge louo, que néo poderfamos explicar nem compreender seg Boonomlca de uma sociedade se nfio tomarmos em con- {ad meio em gue se desenvolve, 0 estado de eivilizagio; em Suma, se-ng0 considerarmes técnica ¢ as instituigote jurk- Stent “Oportunamente, quando estudarmos a Téenic&, é (onseatientemente, seu papel em nossa civilizagio e cultura, Compreenderemios’ que influéneia cla exerce na, actividade Ceondmiea, como também na compreensfo das idéias ¢ das frogdes que eopstituem o fet areabougo intelectual. 60 MARIO FERREIRA DOS SANTOS E muito maior do que se pensa o papel que a Técnica Gesempenha no pensamento econémico, © teremos oportuni- dade de ver que muitas das leis fundamentais da Reonomia Sio leis de caracter tecnolégico. As profundas transforma ‘goes que ela tem dado a producedo, em todos 08 seus aspectos, modificaram a vida humana, penetrando até no terreno da Historia, que, numa coneepsiio conereta da Economia, como @ que exporemos, 6 inseparavel daquel As condigdes juridieas da produegio siio importantes, pordue esta toma “aspectoe variados, segundo @ influencia Gas instituigdes juridicas adotadas, ' Basta que atendamos para a propriedade, e compreendamos a producgao bascada sébre a propriedade individual ou a coleetiva, para que, des Ge logo, tenhamos patente sos olhos a importancia tas con. digdes juridicas. Por isso, no decorrer das andlises das diversas categorias da Heonomis, teremos sempre tanto quanto possivel, as condigdes juridicas, presente, consumo. 44 wimos que consumo 6 a apleagio dos bens na satise fa das necessidadcs, como desaparecimento testas. ta jes que hit bens, cujadestruigao.€ imediata, como alimentos, enquanto outros tm, pelo uso, um dagaste mais moo ventas Habe, 0 cansur te et aque 440 empregados para produzit guttos, Quanto a0 mee do de se realizar esse consumo, polese tstabelceer tee os bens podem oferecer um mézino proveto ou nd. Chart, se 0 consumo de entiacomémica HO Dried ehso, trae sto desperdigadas wilidades, isto &. ao aproveitadas CIRCULAGSO, J6 vimos que os bens nem sempre se destinam ao cone sumio de quem os produz, mas @ outros. A actividade es peeifica de passarem mediatanente (por meio de...) os bens do produetor ao eansumidor 0 que se chama de cir. culaedo, Para muitos, essa cireulag&o fax parte da produce cdo, € um simples desdobramento desta, Para outros, € um TRATADO DE ECONOMIA 61 fendmeno autdnomo. Embora as razies sejam muitas, de parto a parte, devemos sempre eonsiderar que tomamos 0 facto ceortmieo concretamente com os outros factos da vida, raxfo pela quel nflo accitamos essaa separagies como reals, mas apenss como distingdes abstractas, Por isso se separa © fenémeno da circulagao para melhor estudé-lo, nunca po- rém se deve julgar que as abstracgées que fazemos, por uma exigéncia de ordem menial, signifiquem que reaimente se ao, separadas umas das outras. Dessa forma. a Eeono- ‘mia deve procurar as earacteristieas que pecullarizam a cir- culagao, nunca porém consideré-las como. autonomas. MERCADORIA © bom que eireua, que passa de uma para outra mo, de diforents possins,rectbe 0 nome de mereadoria, "tent b name de mérendoria quande, quem a entregs, neosbe em componsagao, bem ou bons que eto dados om troen dausles, BE Chas bene, que se dlp em troce, constitvem 9 PRECGO Para facilitar ou tornar mais répida a troca (que puma vida humana primitiva era feita segundo os bens disponi- Yeis), cuit # cummplexidade da vide e para tornar mais eff cliente essa troea, escolheram os homens bens. eonheeidos, ne servissem para representar o bem trocado, temos a MOEDA & mister, exeminemos préviamente ax diversas moda- Kiludes de troea, essas operagdes econdmicas, pelas quis 08 individuos © grapos de individuos fornecem-se reciproca- mente bens e servigos. Numg sociedade primitiva, a troca € feita sob a forma de um eseambo directo de um producto av de uma prestagio de servigo, por outro producto ou por outra prestagio de servigos. Esse acto se decompoe, geral~ mente, em uma venda e uma compra. Com a introdueao da moeda, que, como 36 vimos, € um bem que substitul, que re- presenta outros, cujas caracteristieas estudaremos oportu- 62 MARIO FERREIRA DOS SANTOS namente, a troca poe ser feta entre 0 producto ou a pres- taco de servigos, pela moeda que pode ‘representar, até certo gran, productos o presingios de serviges, Nao ha necessidade de amplas explanagdes sdbre a moe da agui, porque é tal 2 familiaridade que temos eom ela que a8 definigdes tomaram-se desnecessiirias, pois um estudo mais aprofundado exige que primeiramente abordemos ou- tros temas. ‘Tem essa parte sintéticn apenas a funcao de nos familiarizar com os concoitos fundamentals, para ate, na fase analitica, no tenhamos necessidade de explana. ‘des elementares, ‘Todos sabem, sem terom estudado Eeonornia politica, ue a moeda é uma coisa que recebemos em troca de uma mereadoria ou de um servigo prestade, ou que damos em froea de mereadorias ou servigos. Assim, a moeda se torna também uma moreadoria, um sinal representative concrete, diversas modalidades de troca tomam 0 nome de venda, impréstimo com juros, august, depésito @ contracto de tra: batho, eujos aspectoe’ sero oportunamente estudados. facil perceber-se que em téda 2 explanagio que fizemos dos conceitos fundamentais, esforgamo-nos por nig empresar um térmo, que denomina um dos conceitos mais importantes da Heonomia politica, que 6 0 de VALOR. VALOR Nao iremos estudislo pormenorizadamente, porque as Giversas teorias ¢ opinides sobre ésse tema tém tal importing cia na formacao do seu contetido proprio, que exige um cas pitulo especial. © conecito de valor é muito complexo © também muito confuso na Economia. Vamos, por ora, ape- nas dar-Jhes um enunciado geral. O valor eorrespoude a tm porténcia econdmien de wm hem ou de um servieo. Um hem ¢ uma coisa itil conforme A sua importincia, econdmica. 0 velor deve ser estudado intensiva e extensi- vamente, qualitativa e quantitativamente, objectiva e sub- jectivamente. Vamos, agora, apenas consideré-lo por éstes ois ultimos angulos.’ Tomado objectivamente, toma o no- me de valor de troca, ¢ éste & representado pela mereadoria TRATADO DE ECONOMIA 63. dada em compensacao, representada pela moeda e, neste ea- s0, fala-se em prego, “Trocamos um terno por dois sacos de arroz, Dizemos, pois, que um tern 6 igual a dois sacos de arroz, Coneluimos entao, que um terno vale, como valor de troea, dois sacos de arroz, Mas, digamos quie, em moeda, © terno vale X. Entéo esta visto que cada saco de arroz vale a metade de X, que 6 0 seu prego. Dizemos, ento, que © prego de um saco de arroz 6 de X/2 (meio X). ‘A eseala dos pregos registrados sobre todos os merca- dos, permite-nos, da mesma forma, representar 0 conjunto das relagdes de valor existente entre uma quantidade dada de uma mereadoria ou de um servigo e uma quantidade dada de qualquer outra mereadoria ou servigo que se torna objecio de uma troca, Rsses aspectos, que #40 importantes, serao estudados pormenorizadamente, sobretudo no que se’refere A formacdo dos preeos, cuja andlise é de grande importancia A bon compreensio dos factos econdmicos. Subjectivamente, temos o valor de uso. A nogho de v lor no 6 necessiriamente associuda A de troca. | Podem considerar, fora de tdda troca, a importéneia econdmiea re~ lntiva de Gertos bens ou servigos, que estéo & nossa dispo- sigdo ov que desejamos ter & nossa disposica A diferenga entre o valor de uso e 0 valor de troca, J fa encontramos em Aristételes. As grandes polémicas, que se travam na Economia sobre os verdadoiros sentidos d@sses dois valores, coma: se s80 contrartos, se um s6 pude reduzir~ -s¢ a0 outro, ete, sero examinados no lugar competente, Entretanto, algumas consideracées ainda podem ser feitas aqui. O valor de uso é essenelal a tda mereador‘a, portan- to a todo valor de trova, mas hé bens, com valor de uso, que ndo so mereadorias; porque nfo se trocam, como, por exemplo, a gua dos ris. O valor de uso € eondicionado pelas propriedasles do bera, na sua eapacidade de satisfazer sas necessidades humanas, RENDIMENTO B RECEITA Dé-te o nome de rendimento a tudo quanto 0 individao percebe num determinado periodo, tudo quanto constitui fra to cu resufiads de sua actividade econdmiea, tudo quanto po- de-apliear ds suite neeessidades e dos que déle dependem 64 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Receita 6 tudo quanto 0 individuo percebe, independen- temente de uma actividade econdmica, eomo uma doagio, uma heranga, Desta forma, 0 rendimento esta includ ma re- ceita, mas nem tudo que é receita é rendimento, Dominados ésses conceites, podemos entrar nes métodos para o estudo da Economia e, depois de térmos examinado 4 Técnica ¢ a Histéria, faremos uma vintese dos sistemas econémicos. OS METODOS NA ECONOMIA Para o exame de alguma matéria segue 0 ser humano Aiversos eaminhos julgados positivamente bons, hébels, ca- paves de aleangar 9 termo desejado, que 0 conhesimonto Imais exacto das relagdes de causalidade; ou sei, de depen- Géncia real dos factos sucessivos aos anteriores’ e da inte- racluaglo que os mesmos podem exercer uns sobre os outros. -A tais providencias dio-se o nome genérico de métodos e em tédas as disciplinas alinham-se muitos numa. grande varie- dade, uns mais eficazes que outros, em certo ou determinado sector. ‘Também a Economia tem seus métodos, © muitos foram aplicados, no intuito de penctrar com seguranca no carpo de sua matéria, Assim, empregouse desde a ples observagio ao méiodo histirieo; analisou-se a correla- {lo entre os factos econdmicos ¢ 08 factos psicolbgicns atra- Vés da Psicologia. ‘Também concepeées do mundo tais ecmo a materialista foram tentadas muitas véves, eomo ademas {So fer a aplicagao o a nedueghe a0 métada matemstion Ans tae: ‘uss eeondmieos, bem como se tenton combinar divensos mé= todos para com éles alcangar resultados mais seguros. © elissico método deductive, e 0 induetivo-deduetive foram aplicados intensamente (1). Em toda eléncia, tende- sse a aleangar uma concepedv generalista, fundada’ontole- wicamente; ou seja, em bases positivas na positividade do (2) Houve sempre na Eeonomia, 0 daseo de estabelocer alguns rincipioa attiomations, dow quis fie Posslvel deduair 0 restante {Gam proposigber dese dsciplina. Poda-se mesino dizer quo esse Tot Sinétodo predominate, métedo deductive, muito embore tate axiamas fs puessern ser constitution aps n oSesevagao des facto evoaamicus, fou seia Induzides. [Nao se admnite mais hoje, na Kconemia, a oposteio entre ob dots sétodos, ve, na verdade, se comiplementam © canstituer ‘un 26 rciodo real 66 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ser que constitui a matéria e a forma de uma ciéneia deter- mmada, que toma em geral o nome de.purt Assim, fa seem uma Matematica pura, em uma Misiea pura, em Pai cologia pura e também em uma Eeonomia Pura, Nao toma ai o térmo o sentido restricto que Ihe deu Kant de mora- mente 6 priori, porgue nao seria possivel estabelecer-se urna fisiea pura apenas aprioristicamente, mesmo porque no hé um a pridri em sentido puro. Na dialéctiea concreta, po- Gense éstabelever a8 bases de wma ciéncia, desde que paria- mos do eonceito do seu objecto e das suas intengdes e tenka- mos alguns dados experimentais, Néo 6 0 homem eapaz Ge construir uma cigncia pura sem a presenga désse elemen- to experimental, sobre 0 qual éle aplica os contetidos eidé tico-noeticos do eonceito fundamental da ciéneia que preten- da examinar. Assim no seria possivel falarsse 108 elemen- tos fundamentais e puros da cristalografia, vem se saber primeiramente que significa eretal ¢ tamblm grafia, des fricdo, e ter aliruma experiénela de cristais, Julgar-se que 0 homem 6 ezpaz de erinr uma ciénein ¢ priori, pura, sem au- xilio da oxperiéncia € um érro lamentavel, "'E sa0 precisa” mente tais factos da experiéncia sébre os quais se aplicam 08 ennteides eldético-noctieos, e que fucilitam, quando bem conduzidos, que, dos juizos estabelecidos como seguros, 80 porsam deduzir’ og julzos virtuais que néles estio contitos, bem como os que éles permitem estabelecer, como temos Gemonstrado em nossas anélises dislécticas (© que so costuma chamar por cléncia pura nao é a citn- cia completamente separada da experiéncia, mas a ciéncia reduzida a formulas, embora captadas da experiéneia, que possam ser empregadas antes desta, e que sirvam como fo mulas matematieas, como vemos entre os economistasma- tematicos, eomo Cournot, Gossen, Tinbergen, Leontiev, Chait, A, Marchal, Divisia, e todos aquéles que se dedicam A econo- metria, na qual se pretende sintetizar, como 0 expée Chait, 2 Economia Politiea, a Economia Matemétiea, a andlise es tatistica @ @ andlise matemdtica, A Economia Matemética era desconhecida dos econo- mistas clissieos e a aplicagho do método matemético aos factos cconémicos significa realmente um desejo de tornar mais apoditica essa ciéncia, dar-lhe o rigor que 8 Matemé- tica exige e oferece, como 0 pode realizar a Logica quando conduzica com o rigor dialéetico que The imprime a Légica TRATADO DE ECONOMIA 67 Mator, a Légiea Demonstrativa. Déste modo, o emprégo de tais métodos buseam emprestar & Economia maior regu aridade, Como os factos econdmicos nao se dae de per si, independentemente de tudo © mais, ¢ a0 contrério acompa- nhados dos factos extra-ceondmicos, e que tém uma impor- tancia capital na formagao © no processuamento daqueles, nio ¢ de admivar que a tentativa de matematizar a Beonomia eneontrasse suas resisténeias, sérios obstéculos, e no eonse- guise éxito em equacionar todos os acontecimentos econd- micos possiveis, o que forneceu razdes podercsas para os ad~ versiirios negarem validez as tentativas de matematizagio, 5 “inatemséticos” chamam de “Iiterérios" aos outros cconomistas, © afitmam, ademais, que representam éotes um Sevdadeire perizo publicn, pois os prejuizos que eausam na toeiodado ede menses, inealeulaves, como altma M. Brechtt Contudo, os dltimos respondem que nfo é possivel ma- tematizar 08 factos sociais © muitos apdiam-se em Com que embora matematico, afirmava que, nos factos feria melhor emprear a Légiea que a Matemétiea, como também se pode dizer quanto & Psicologia. Como a polémica ainda continua, & semelhanca de ou- tras que também surgiram quanto a outras disciplinas, po- demos, contude, tecer os seguintes comentarios. Em primeiro lugar, é mister que se esclarega bem 0 que signifies, ou pelo menos, em que seutido se toma 0 Yérmo imatemético. Como se entende a Matemitica ape- nas no sentido quantitative, como a disciplina que se de- dica ao estudo das quantidades abstraidas, em segundo grau die abstracgdo, a matematizagso da econoinia ve processaria apenas tomando 0 aspecto quantitativo dos factos econd- Imicos, que no abrange a totalidade du realidade possivel Ge ser captada pelo ser humano. Ademais, grave defel- to ¢ julgar-se que podemos cstudar devidamente uma ma- téria, coneiderando-a sempre como separada do restante da ealidade conereta A qual’ pertenee, como 0 considera 0 ex- pecialismo caolho e eso, que separa mentalmente e julga, Hepois, que a separagao € real-real, extra-mentis, A matematizagio da Economia s6 6 aplictvel até onde abrange 0 quantitative, ao que pode ser tomado por ésse modo abstracto, e falha lamentavelmente no que ultrapassa 68 ARIO FERREIRA DOS SANTOS fa ésse aspecto. Por sua ver, 08 “literatos” da Keonomia poderio actuar e obter éxitos relatives no sector que per ite divagagdes e espectlagdes tio 20 gosto das_opiniGes diversas, do due é julsado o mais acertado e facil de empregado e aplieado, Nao hd davida que hé certa posi- tividade em ambos os lados, mas apenas no que realmente 6 positive, € ambos pecam quando negam as possibilidades reais da outra posi¢do. Nenhuma cigneia pode aleangar a plenitude de sua factuacio se nfo se eonsiderar como fazendo parte de uma concregao, e essa concregio abrange 0 que 6 extra-scientiany, mas gue Actua no que eonstitui 0 ebjecto formal termina: tivo e também do formal-motivo e do material da mesma, ¥ um Grro pensar-se 1a Beonomia separada da Historia, da Btiea, da. Psicologia, da Sociologia, da Poltiea, ete. B pensar quo tal abstracgao, por ser possivel de realizar-se mentalmente, correspond cla a uma realidade insofisma- vel, como jullzam racionalistas e ideaiistas. Nenhuma ix’ pode ser devidamente examinada com ura especialismo de tal espécie, que se situa fora do que eonstitui a gonern- ligade da qual aquela cigneia faz parte. Nunca o especia- Jismo realizou tantos desgastes © tanfos malen como na época de hoje, em que vivemos numa verdadeira Torre de Habel, em que dialogamas uns com os cutras num. verda- deiro didlogo de surdos, porque cada um fala ume * ‘que o outro no entende. B tudo isso surge da ma Tizagio da especialidade, que fot confundida com a separa 80 mental e esta como se reaimente se desse na natureza fio mesmo modo como se dé em nossa monte Na Economia, como em tidas as outras eiéneias, 03 ‘métodox abstractot, que so os especialissimos, produairam, males inumeriivels. $6 um método pode realmente produ ‘ir bons resultados, e os maix seguros, ¢ 6 9 métado con ereto, como o chamamos, que segue uma diatéetiea conereta, que considera a natureza da coisa a ser estudada, a sua emergéncia, a0 lado da predisponéneia e, nesta, considera quel que 6 factor esseneial da coisa e a8 factires que silo extra, mas que exercem também um papel determinador. Ou, em outras palavras, toda clécia deve considerar 0 que é extri-scientiam, e que acta no campo da primeira, Assim & impossivel a’ Pedagogia em a Psicologia, a Mer cina, a Sociologia, a Histéria, a Sociologia, a Btiea, ete., a "RATADO DE ECONOMIA 69 impossivel sem considerar o que & extra-pedagégico, Do mesmo modo 6 impossivel examinar bem a Economia sem considerar o que ¢ extra-econémico, © que exeree um papel importante naquela, Por tais razdes, esta obra obedece a uma hierarguia dialéetiea conereta: 'examinamos abstraclamente cada see- tor do conhecimento, para concreciond-lo com outros aos poueas, alé aleangar tima coneregao mais vasta, que nos per- mita ter uma visao superior dos temas e problemas de cada diseiplina, em beneficio de um conheeimento mais conereto, Por isto, nesta parte, examinamos a Neonomia nas bases em que em geral a colocam os economistas, embora dei- xando desde logo algumas sementes concretas, que yermi- nario no futuro. Queremos ter uma visto de condor dos factos de tadas as cincias afins e nfo uma visio de batré- quio, © espeeialismo tende e gestar esta visio, mas o ge- neralismo conereto permite a primeira, que preferimos e demonstramos a razo da nossa preferdneia, Mas outras provas virko a seu tempo. A ECONOMIA A TEC! SICA E A HISTORIA Podemos agora estudar condensadamente, de forma conereta, a interponetragio da Historia, da Téeniea e da Economia, aproveitando os conceitos, eujo estudo sintético tivemos oeasifio de fazer. Uma répida visio panoramiea da Histéria nos mostra que, nestes times mil anos, nfo a6 a base culsural como a material sofreram profundas modificagdes no ocidente, & ‘ufo grande foi © papel que nossa transformagio exerceu 8 maquina. Como da Histéria o que nos interessa, por ora, 6 0 que se refere 4 Economia, e 0 que contribuiu para a formagao das condigdes econdmticas do mundo actual, 6 fécil com- preender que vamos tratar da Hist6ria, aqui, absoluiamen- te fora da explanacdo comum das obras especializadas no genero, para fixar os faetos historleos englobadamente com ‘05 téenicos ¢ os econdmicos. Nesse estudo, nos fundaremos em muitas obras do género e sobretudo nos notiveis estu- dos empreendides por Lewis Mumford, cujas idéias prinei- pals accitamos, ¢ &s quais acrescentaremos algumas contri- buigies nossas. # comum ouvir chamar-se a nossa Era de “era meca- niea”, como ¢ comum também afirmar-ee que a transfor macao, que se observa na inddstria moderna, comeca com. a inivengao da méquina a vapor, atribufda a Watt, ou como © fazem alguns economistas, na “maquina automatica de tecer”, 0 desenvolvimento, porém, da méquina provessou-se durante pelo menos, sete sécules, na Europa, antes que se dessem as mudaneas dramatieas que acompanham @ ehama- “revolugio industrial”, TRATADO DB BCONOMTA a A mocanizagio do homem no mosteiro ¢ no exéreito, precedem @ que se verificou na. Fabrica. 10 Silo a mecanizacdo © a sistematizagdo fexdmenos novos na Histéria. O que se deu de novo foi a organiza sao das formes que dominam agora toda a nossa existéneia, 0 meeanico domina hoje quase totalmente a nossa vida. Os elementos fundamentais da tecnologia moderna, ¢o- ‘mo o relégio, a imprensa, o moinho, a biissola, 0 tear, o torno, 2 polvora e o papel, como as matematicas, a quimi- ca 4 mécinica jf existiram em outras culturas. ‘Tanto os gregos como os érabes haviam dado um gran- de passo para a méquina. As grandiosas obras dos cre- tenses, dos egipeios e dos romanos revelam trabalhos ex- traordindrios de engenharia ¢ demonstraram habilidades téenieas elovadas. “Tinham méquinas, mas nao haviam jesenvolvido a maquina” diz Mumford. Foi 4 Europa Oci- dental que coube 0 papel de adaptar a vida ao ritmo © & capacidade da méquina, como a ela caberd incorporar o inorgantco co orginico, a maquina a vida. D& Mumford tres momentos sucessives de penetragio da mfquina na, nossa civilizagio, A primeira deu-se no séeulo X, a se- gunda no século XVII, e, finalmente, em nossos dias, te- mos 0 inicio do tereeiro momento. ‘Vejamos antes de tudo a que 6 maquina. Segundo Reulau, “maquina ¢ uma combinagdo do cor pos resistentes, dispostos em forma tal para que, mediante ‘les, as forgas mecinicas da natureza possam ser obrigadas 1 fazer trabalho, acompanhadas por certs movimentos de- ‘terminados”. A maquina serve para poupar forgas ¢ obter maiores proveitos com menos esforco do homem. Quando um ho- mem trabalha com uma ferramenta e executa, depois de Tuite aprendizagem, trabalhos perfetos, 6 do ta verda- jera maquina, Com a maquina, o automatismo & maior ¢ adquire uma exactiddo mais completa, reduzindo o trabalho humane. 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Conservou a civilizagio ovidental os conhecimentos de cultura greco-romana, apesar das invas6es de barbaros ¢ a luta dos primeiros cristios contra aquela eultura, Foi nos mosteiros do ocidente que o desejo de ordem de poder, distinto do dominio militar, manitestou-se mais plenamente, A orem reinava dentro dos mosteiros, com a mais com- pleta disciplina. Foi o relogio a primeira grande maquina, Inventada e usada nos mosteiros, que teve sua Influéneia cecisiva sobre a formagao técnica da humanidade ocidental. Nos mosteiros, sobretudo nos dos benedietinos, onde imperava a ordem e a diseiplina, € que se da uma das gran des revolugées que sucedem a Tevolugio eristé, Sdo os benedictinos em grande parte os fundedores do capitalise modern, © trabalho, que havia sido apresentado como uma mal- digo, encontrou naqueles uma redengao, Realizaram éles grandes obras e santifiearam o trabalho, Basta dizer-se que, em certa época, houve eérea de 40.000 mosteiros de benedietinos na Europa. © relogio servia mio s6 para marear as horas, como para sineronizar as acg6es dos homens. No século XIli, € ue nas cidades apareeeram os relogios mecinicos, At fis camentivins precisam sor Zaitos aqut. Com a vitoria do Cristianismo, com a queda do império romano ¢ a invasio erescente des povos birbaros da, Eu- ropa, ae condi¢des de vida da Europa tornaram-se diferen- ‘es, como diferentes eram a opinioes enlao dominantes, Na cultura grega, predominava 0 orgdnieo, a vida, que cera plenamente vivida, amada, apesar de todo 6 pessimismo rego. Os romanos também foram em parte origanicos era sua visualizagio da vida, embora nio tivessem aguéle sen- Aido téo natural e vital dos grexos. O eristianismo, no ini- cio, nao dava & vida aquela beleza simples e natural dos hielenos. © mundo era um vale de ligrinas, o trabalho um castigo, a vida uma preparigdo apenas para a morte, Os primeiros eristios esperavam pelo juizo final que os profetas haviam prometido para os dias de sua vida, Toda 4 Europa crista preparavarse para a morte, TRATADO DE BCONOMTA 3 © império romano tombon fragorosamente. O Cristia- nismo dominou a Europa e impedia que os bérbaros des- truissem tudo. Com 0 nity advento do juizo final, aos poueos o espirito ristieo do Cristianismo fol sofrendo um refluxo cada vez maior © os homens comegaram outra vez a olbar para a vida e para o corpo com outra atenglo. Este 6 mais wm dos elementos que vao constituir wna das eoordenadas da eapitalismo em sua fase ascondente, como veremos, Nao podiam, porém, os europeus tornar a0 espfrito simples © orginico dos gregos. ‘A eae cra jf demasiadamente duvidosa, fonte do pocaddo, para gue a exaltassem, Por isso, a peneteaelio do mecdnieo, em ver do orgé- nico, para a’ méquina, om sua, era 0 tinico camino que se oferecia, como também o desvio do homem para as coi- sas, JA que a visio de si mesmo ofercein o repugnante 2 pefaculo das paixoes pecaminosas. Examinemos outros aspectos: foi 0 religio a méquina- ehave da Gpien industrial moderns, e no a méquina a vapor que, ao sobrevir, j& abre o campo 2 uma outra fase no terreno téenieo, O rel6gio 6 0 simbolo mais tipico da inéguina, pois é a méquina mais importante da téenies mo- Gera, como também a que sempre manteve a dianteira na preeisdo. Servin o relégio de modélo para muitas outras classes ae fumgdes meeinicas, como também permitin anilise do movimento, os tipos ‘de engrenagens e transmissoes, © a exactidio da medida. Com o reldgio, o tempo adquiviu um sentido quantita- tivo, separando-se do sentido intuitive, qualitative, que Ihe ere ‘proprio. Passou a ser medido, separado em minutos, segundos, e permitin que se tivesse da existancia uma outra concepeao, favorecendo, assim, o advento da ciéneia. A idéia de tem- ‘po tornou-se tao grande que o maior ideal burgués foi a regularidade: “ser regular como um relégio”, “funcionar ‘como um religio”. 4 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Ser dono de um relégio foi durante muito tempo o simbolo do sucesso. "Tempo 6 dinhefro” é uma das muitas frases prediletas dos burgueses do século XVIII em diante, quando o relé. gio atingiu a sua grande perfeigio cronclogica, A vida humana pessou a ser regulada pelo relogio. E a nova idéia do tempo pormitiu que se desenvolvesse @ conceito da Historia sob outros aspectos e 0 interésse 86. bre 0 tempo passado tornou-se tio forte, que o Renasse mento, em set aspecto cultural, foi uma tentativa de revi. Ver 0 que jd se dera, 0 esplendor das antigas eivilizagges greco-romanas, Depois da atomizacio européia, que decorrera da ine Yasio dos bérbaros, com seus castelos fortificados, seus burgos fortifieados, com a vida segregada nos mosteiros, 0 mundo tomara uma feigio espacial estreita, limitada, Mas as Cruzadas, a separacéo entre 0 ocidente cristo ¢ 0 orien. te muculmano, permitiram que novas geraedes, criadas em ambientes estreitos, empreendessem novas marchas por ter ras deseonhecidas A amplifieagio do espueo foi também uma influéneia da idéia nova de tempo. A divisio do espaga ea nova cone cepelio que déle se forma tém seu inicio sobretudo nos séeulos XVI ¢ XVII, na época das descobertas, 0 espago nAo 6 mais ums hicrarquia de yaloresy anus um sistems de magnitudes. O sentido quantitative predomaina definitiva- mente. As leis da perspectiva na pintura 36 poderiam sur. air A relacdo simbélica entre os objectos 6 substituida por uma relacdo visual. A fase méstion-espiritual dos erisidos, gue substituiu a fase organica dos gregos, foi substituida pela fase mecénien do Renasclmento. O homem posse 4 conquista do tempo e do espago. AA arte da guerra, cuja importaneia sobre a Economia em breve estudaremos, tem um sentido de eonquista do es page, Surgem o canhio e 0 mosquete. Nessa epoca foram. feitos projetos fantastieos para your, como. os interessair. tes e extraordinarios de Leonardo da Vinel. O Titmo do trabalho aumentou, as magnitudes eresceram, a cultura en- tregou-se ao espago © ao tempo. Max Weber chamou essa RATADO DE ECONOMIA 6 Gpoea de “romantismo dos nimeros”. Para comerciar © suerrear, os homens baralharam ndmeros e, “finalmente, medida que se genevalizon 0 costume, s6 08 mimeros fo- vam tomados em conta.” Nessa fase, surgiu, com Galileu ¢ Leonardo, uma nova oreitagao no pentamonto, que favoreesu 0 advento da ci éncia moderna. Em vez de procurar saber por que um corpo eai, preo- capouese Galileu em estudar com caia. 0. modo tornow-se mais importante urgente de conhecer-se do que 0 porgué, entregue apenas A Filosofia, A ciéncia inielava-se ai, para entrar no campo das coisas contingentes e experimentaveis. ro, representado pele ouro, tomou um vulto extraordinério Gesviada para o “ganho e a perda”, ¢ surgiram grandes © podiaan of eristfos, nos primelros séctlos do Cris- tianinme, ermprestar dinheizo com jares, No entanto, a reform potetanc o permit além aso os jude, no jeitos ft eveas, reste ede, faziam.graniies mepocios com empréstines a jeros.. Bsees elementos so importantes ¢ a0 consttair 28 coordenadas do espitalismo modsrno, gue, Conjugadas com ae anteriores, formam as condigees con: cretas das grandes transformagées que a econimia cores ntao a sofrer. Por outro lado, protestantes, como Cale 76 MARIO FERREIRA DOS SANTOS vino, julgavam que a vitéria no mundo dos negécios era uma’ mnanifestacao da graca diving. Os hamens que ven ciam, que aumentayam seu pecdilio, eram ugraciados por Deus, 0 que significava uma reviravolta importante nas restrigGes que os catélicos ainda faziam, gue essa época_mareava a predominan- cia do quanéitatine, Bstas palavras de Kepler, em 1595, sho bastante significativas: “Assim como 0 ouvido esta feito para pereeber 0 som, e a vista a cér, 2 mente do homem fui formada para compreonder, nio téda classe de coisas, mas quantidades. Quanto mais ee aproxima uma coisa, quanto A sua origem, as quantidades nitidas, tanto melhor a percebe a mente, ¢'A medida que uma coisa se afasta das aumentam nela, em proporeso, @ obscuridade © capitalismo ter-co-ia de tornar racional, portanto quantitativista pois o mereador pesa, mede, compara, conta, A razio € a iungio do espirito que mede, pesa ¢ conta, eom- para, O racionalismo, como a racionalizagao do Cristia- nismo, que passava do dominjo platonico para o aristotélica, era uma decorrente dessas condigées, 0 moreantilisme eas trocas mais constantes entre as partes atomizadas du Europa tinham que predispor a for- magio dos grandes paises ja sob outro aspecto. Os mer eadores, que iam e vinharm do oeidente a9 oriente, formaram contra coordenada que constituiria os fandamentos da nos- __ Grandes mereadores eram também experimentadores na cléneia fisien, como os fundadores da Royal Society de Londres, Se os hibitos abstractos do pensamento, os interésses pragméticos e as estimagoes quantitativas preparam 0 am- biente do eapitalismo, nfo foram, porém os inicos eomo ja 0 desenvolvimento téenieo influin sébre 0 eapitatismo como 0 capitalismo sébre a téoniea, TRATADO DE ECONOMIA % So a inddstria necessitava de grandes eapitais, ¢ tendia a erescer, gracas & mecanizacao, 0 coméreio oferecia tam- ‘bm possibilidades de grandes Iueros. A economia feeha- da, que entéo predominava, abriase agora o procurava mercados, matérias primas. Os mereadores, trazendo ne- vos materiais da india e das Amériens, permitiam que se descortinassem novas possibilidades. A maquina foi aproveitada, nfo para estimular o bem estar social, mas para aymentar fucros, ¢ em heneficio das lasses dominantes. A maquina, assim,’trazendo em si ésse interésse privado, era desvirtnada. As virtudes da méqui- ‘no nao sto devidas aa eapitatiamo, A éste apenas eo devem ‘muitos de seus mates. Convém que se note desile j4 um ponto importante: o capitalisme existin em outras épocas, mas com téenieas di- ferentes. A técnica permitiu que 0 capitalismo ocidental tomasse essa feigio que eonhecemos. A téenica ndo depende do capitatisma, portanto, como julgam tantos, ¢ entre Glos Marx, que esereveu as pagina inais entusiastas sobre aquéle. E'tudo isso, aos poucos, ire- mos abordando para que se exelarega ben, © mundo, para o homem religioso ocidental, nao era a realidade que’ apareeia, Havin outra-realidade atras desta, As coieas permitiam que se vistem as intencdes de Deus e 0 mundo era demasiadamente insignifieante para ‘ser valorado em extremo, A visio era mistica, e $6 a valo- riagho da visio natural e a libertagio do misticismo d xiimeros valorativos, como 8 4, 7, 9, 12, poderia permitir a céncin de formar-se sob uma base reslista, Neste pon- to, 6 papel dos artistas da Renascimento, e antes até, & im- portantissimo, e deve ser considerado como uma das coor- Genadas da economia moderna, 0 livreto de notas de Vil~ lard de Honnecourt, um mestre de obras, nos mostra em. seus desenhos uma visio realista das coisas, Quando os jo- vens estudantes, em pleno séeulo XII, faziam perguntas © cesejavam conhecer 28 condigGes do globo, eram critieados pelos mestres religioos, apegacos mais A Teologia ¢ &s ex plicagses religiosas, 78 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS Os estudos sdbre 0 corpo humane, 9 qual se pode, sob certo aspecto, considerar uma grande miquina, o desenvol- vimento da anatomia ¢ da fisiologia, a Ansia de eonhecer © mundo, os animais, sua forma de vida, enfim o conheci- mento intensivo e extensiva, da naturera, permitiram que Leonardo, por exemplo, construisse tao maravilhosos inven- tos. 0 desejo das descobertas, as grandes aventuras atiga- yam o espirito humano ao conhecimente das coisas e nfo da divindade, Note-se que a maquina comegou per imitar a vida, os homens e os animais. As primeiras méquinas tinham representagées animais; 86 depois, no desenvolvi- mento da téenien ¢ 34 em nossos dias, 6 gue ela tomou ésse aspecto puramente mecanico que hoje’ conheeemos. Por nfo serem as méquinas mais feins ¢ repulsivas que © corpo human, tao desprezado por eertos religiosos, dsees néo a combateram, apesar de eneontrar-se na Cronica de Nuremberg, em 1988, frases como esta: "o diabo é 0 r zador das maquinas © rodas que realizam estranhas ac € trabalho.” Mas, nos mosteires, entre os benedictinos, por exemplo, as méquinas eram construldas, Teve a maquina seu. maior desenvolvimento nos mosteiros, nos campos de Yatalha ¢ nas mings, ¢ menor entre os camponenses, por Nio se deve considerar o papel do protostantismo na formagio do capitaliamo ocidental como. & predominiante, mas apenas como um dos factdres eoordenados, como vere- mos, Bsereve Mumford: “A vida, em tida a sua varieda- de sensual sua eélida delicia, foi excluida do mundo do pensamento protestante; 0 organivo desepareceu.” ‘0 tempo & uma coisa real: aproveite-o! © trabalho 6 uma coisa real: pratique-o! O dinkeiro 6 ums coiea real economize-o! O espago € uma coisa real: eonquiste-o! A. matéria 6 uma coisa real: meca-a! Essas oram as realida- des e os imperativos da classe média.” A mecanizagio eresce nas coisas @ no espfrito, O om ganico dos gregos ¢ 0 espiritual mistieo dos primeiros eris- ios 6 reduzido agora ao mccinico, Nao era possivel ao homem, imbuido pelas maximas do eristianismo, duvidoso TRATADO DE ECONOMIA 79 da carne pecaminosa, voltar aos_gregos. O Renascimento foi assim um grande eglivaeo. E éle nfo voltava, dle ape- nas justificava, através da arte, uma nova visio da vida, que nto era mais orginies, pois proeurava até no organiea apenas o aspecto mecanico, extensista, quantitative, e ini- bia, virtualizava, o intensista e qualitative, Em “Filosofia ¢ Histéria da Cultura” examinaremos outros aspectos © ou- ‘tog factires do Renascimento. Tudo tomava “fins praticos”. Se precurarmos bem, veremos em Séerates a origem dessa concepgio. Ao des- Viar-se dos filGsofos jonicos, preocupados com o mundo e © organico, Socrates procurou o ldgicv-extensista, o mundo homogeneo das idéias, estavel, imutével. O dinamismo do quantitative s6 poderia surgir, como surgiu, na cultura dental, como j4 vimos até aqui e como veremos ainda, quan- do penetrarmios em outros campos e plenos da Técnica, Sio muito expreseivas estas palavras de Galileu, que abaixo reproduzimos: “Enquanto coneebo uma substancis material ow corpé= ea, simultinesmente sinto a necessidade de imaginar que em uma ou outra Zorma tem limites, que em relagho com outras substancias é uemasiado grande ou pequena, que est oate ou miguele Inger, neste ou nagwcle tempo,” quo eat fem movimento ov em repouso. que toca ou nao toca outro corpo, que € tiniea, ara ou comum; e nfo me & possfvel, mediante um acto do imaginaedo, abstrai-la dessas qualida- es. Contudo, nfo me encontro absolutamente obrigado apreendé-la como se estivesse necesaariamente acompanha- dda por certas carscteristieas, como, por exemplo, a de ser branea ou vermelha, amarga ou doee, sonora ow silenciosa, de odor agradavel ou desarradavel; @ se todos os sentidos niio tivessem destaeado essis qualidades, a linguagem ¢ & maginagio, por si sos, jamais terlam podido descobri-las. Portanto, ereio que ésscs gostos, odores, eéres, ete, com res- peito ao objecto, no quel parceom residir, nao sho outra eoisa que nomes. $6 existem no eorpo sensivel, pois, quan dio se suprime a eriatura viva, tidas as qualidades desapa- recem, embora nos tenhamos impésto nomes particulares, fe resultaria vio todo esférco para conveneer-nos que de 80 MARIO FERREIRA DOS SANTOS facto existem. Nao creio que exista nada nos corpos ex- ternos pura exeitar os gostos, 08 odores, 08 sons, ete, cepto o tamanho, a forma, a quantidade e 0 movimento, Esté af sintetizado o sentido quantitative que tomaria esea fase meefimiea, a qual comeca hoje, por uma imperic sidade do espirito, a ser substitufda, como veremos mais adiante, Grandes inventos foram realizados nessa época, como também grandes antecipagies foram propostas. Notemos eslas palavras do monge Roger Bacon (1214-1204) “Mencionarei agora slgumas obras de arte maravilho- sas ¢ também algumas obras maravillosas da natureza, que mada tém que ver com a magia, e que esta néo poderia reali zar. Pode fazer-se instrumentos racas aos quais gran- Ges bareos serao guiados por um si marinhelro; tals bar- cos viajarfio mais rapidamente do que ee tivessem a bordo wma grande tripulagdo. Poder-se-ao construir carros que se transladario de um tado a outro com inerivel rapidez, sem a ajuda de animais, Talvex se construam aparelhos para voar, nos quais, o homem, sentado com téda comodi ‘bre qualquer tems, possi bu 8 artificiais, tal como o fazem os passaros... © também maquinas que permitiréo aoa homens caminhar no fundo dos mares ou dos rios.” DESENVOLVIMENTO DA TEONICA ‘Tudo quanto estudamos até aqui foi para dar um pa- norama do pensamento europeu que serviu de preparagao ao desenvolvimento da maquina e do mecan‘cismo, e que permitiu um grande salto qualitative da Téenica, 0 qual ser estudado no capitulo correspondente, quando éxamine- mos as fases daquela, como também de suas profundas re- lagdes com a Economia, Nao seguimos nesta explanagao, até aqui, uma ordem cronoldgica, mas dialéctica. Procura- mes fixar alguns planos e, 20 feché-los, abrir os sucessivos, ‘com og retornos no tempo que se tornarem necessérios. Apresentamos uma visio geral do periode de prepara- Go para a maquina, que comega no séeulo X, e termina no séeulo XVII. fu se pode deixar de eousiderar a Wenien mals pi mnitiva, 0 emprégo de objectos modelados pela natureza, pe- ; eonchas, para transformé-los em utensilios, e, ‘com les, cavar, partir, martelar, fiar e modelar até as ferra~ mentas, segundo éram exigidas pelas necessitiades © pelas habilidades do artesio. Accidentes felizes, como 0 do fogo, e posteriormente 0 do vitro, permitiram transformagées importantes do am- biente material, O uso do ferro meteérico, o emprégo de fios corlantes que tém certas conchas sip descobertas hu- A linha de desenvolvimento da eivilizagdo humana en- contra-se nos vales, apraveitando os eaminhos naturais des ios ou & beira do'mar. © trabalho nas minas é um dos mais primitivos, e tenieamente ainda em nossos dias & realizado em geral por meios primitivas. 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS A necessdade de alimentos cbrigou 0 homem a cag, perocyulr's coyas lpeily Rrmar 0 olan er abt ng ettugio de ermadilns, invadi, na. pereyugko de ant Sine a repi6o de ouires, econ des erento. cons tiates ‘Nas selvas, aprenden a tornar éeas as érvores e trans- formd-las em eanoas, inventou o arco e a flecks, o mais efi- ‘caz dos instrumentos primitivos, inventou os dispositives para fazer o foyo, cortou as drvores, eonetruiu a roda, AO Gerrubar as Arvores, deixou cair sementes no chao. © com ‘elas deseobriu a agrieultura, Nos eampos eriou cabras e vacas, ¢ inventou as formas primitivas do fuso e do tear A ordem ¢ a seguranga das civilizagdes agricola © da pastoril reprosentam o progresso mais importante cbserva- do no periado neolities, A estabilidade procurada permi- tiu que surgisse a vivenda, a comunidade permanente, uma vida de cooperagdo econmica e social. Posteriormente, surgiram os mereados, 0 interedmbio, Esses elementos da cultura primitiva nunca esto num equilibrio completo. B o lavrador © pastor que ocupam as posigdes mais importantes, ¢ é a agricultura que oferece as ‘modalidades princfpais da vida, tanto na religiao como nos conhecimentos da époea. As culturas de lavradores sofriam com os ataques vo- razes dos cacadores © pastOres, que dilatavam seus territé- rios de caga, ¢ em Tasos mais adiantadas, comegaram a exi- gir tributos'e a exercer o dominio sobre tribos inteiras, ‘Trés eulturas tém continuidade na histdria: as cultu- am pacifcns da Tiina da Chins © eullara urbana dos As formas predominantemente militares foram sempn auto-destruidoras. ss Foran me A Europa ¢ a reo de eagadores © de eomquistadores de homens. . . ist A primeira ferramenta oficiente parece ter sido uma pedis Gintda pels fe inate trdaformio em mar telo. ® ‘ras “ TRATADO DE ECONOMIA 83 silex era eomum no norte da Europa. Ao partir-se, forma ios cortantes , por isso, fol aproveitado para fer~ ramenta. Com a ajuda do corno de rena e pedras, extraia © minelro 0 silex e, com o tempo, o martelo aleangou sua forma perfeita actual, em fins do periodo neolitico. Oferece a indiistria mineira, desde os tempos primiti- vos, grandes sugestées para a formagio das idéias huma- yas, mas tals aspectos nfo poderfio ser examinados aqui Como a civilizagéo industrial de nossos dias esté liga, da & producgio das minas, ésse tema voltara a ser exam nado debaixo do ponto de vista téenico, sempre que neces- © trabalho nas minas é 0 mais penoso que se conhece, Os riseos S80 ntimerosos, 0s desastres quatro vézes mais numerosos que os de qualquer outra profissio. © mineiro Vive num mundo estranho, de umidade, sombras, falta de ar, peritos. Néo tem cores, luz diurna, formas, ‘mas ape- ‘has materia bruta, informada, terrivelmente a mesma, Em suas fases primitivas, procurava o imprevisto, a fortuna, que poderia surgir de um momento para outro, € encontiava, a maior parte das vézes, o malogro, As gera- goes de mineiros formaram uma psieologia toda especial Gom as deseobertas de uma maquinaria complicada de bom- bear agua, ventilar a ming, com o aproveitamento da ener~ gia hidvauliea para accionar os grandes furnos, tornou-se hnecessiirio 0 emprégo de capital, que nao possutam ox pri- meiros trabalhadores. Desta forma, grandes capitais particulares comecaram, fa ser aplicados na indistria da mineragio, ofereeido por patroes que nao tomavam parte no trabalho, os quais, com O decorrer do tempo, foram apropriando-se ‘plenamente da peopriedade da mina © transformando os antigos patroes trabalhadores em meros assalariados No século XV, dé-se na Europa um grande desenvolvi- mento da indistria minciva, que, desde entdo, prosseguia em ascensio, E agudizou a luta de classes, 0 desenvol~ Vimento da indistria mineira atraiu o ewprégo de grandes apitais, gracas aos Iucros fabulosos que oferecia, Jevando também a conguista de ontros territérios para explorarem 84 MARIO FERREIRA DOS SANTOS as jazidas minerais, provoeando guerras de conauista. Se considerarmos que a mineragio € a base das guerras: mo. dernas, e que para manter os exéreitos sao necessdrias no- vas jazidas de mineral, vemos que os ciclos das. guerras modernas formam um verdadeiro eirculo vieioso: ¢ mister minas para fazer a guerra, e fazem-se guerras para ter-se E como a guerra é um consumo completo, poraue é um consumo total, é ela anti-econdmica, e tem custato mais males & humanidade do que beneficios, tanto para veneidios como para veneedores, Empregaram os homens, nas guerras, esforgos combi- nados € reservas, que, se utiligadas féssem para seu bene- ffvio, nfo. para a sua dostrulgdo, outro seria 0 penoraana da vida humana. m mbora seja uma verdade tao simples, no é faciimen- te compreendida nem aceita, por um lado, pela influéncia dos interésces criados e, por outro, porque, dizem alguns, @ guerra estimula a criagdo de novos inventos. Um est do, porém, conseiencioso, nos mastraré que grandes inven. tos nfo foram criados propriamente pela guerra, mas sim guardados para cla, para os momentos oportunes, yor ague- les que tinham intorésses direetos naquela. © minciro primitive trabalhava para enriquecer, ¢ 0 seu espirito impregnou o capitalismo’e, assim ome este, ‘sua concepedo do valor 6 também meramente quantitativa, € quando estudemos éste toma, tio importante, teremos oeasiéo de ver a influénela do mineiro sobre a coneepeao do valor predominante na Economia Politica, Entretanto, a conquista do ambiente por melo de mé- quinas, deve-se & acgio do madereir, A' madeira pres -se & manipulago, e foi por isso 0 elemento que exerceu mais influencia, e'a matéria prima por exeeléneia da pro duegio. © aproveitamento da madeira e das condigdes ofe- recidas pelas sarvores serviu para os empregos mais diver sos. Por ser um material dictil, por se prestar a uma gran de variedade téenica, foi possivel construir, nao sé instras mentos de trabalho, ‘mas também casas, pantes primitivas, defesas, estacas e combustivel, permitindo assim que éle de- TRATADO DE BCONOMIA 85 nvolvesse 4 sun tfenien e aproveltasse ainda mais as pee tras ees, melais. Os primeiros tornos" foram feitos de madetra, Grande é © papel da pilhagem na Historia, 0 que me- rece estilo espetial, Foi um dos meios de. poupar trabac Thee’ guerra permit obtar mulhore, vbtsn poder pel da targa. Ante destas possiblidades, 0 eagador, & pro- porgao gue te desenvolvia, ¢ransformou-se em conguistador Mtematico & procura de eseravos, pilhagem, poder © desenvolvimento da guerra foi dando, aos poucos, uma superioridade ao soldado, € pelo progresso téenico, a sua eapacidade de matar foi aumentada, Os p Jas ¢ pastéres nio cavaleiros so em geral pac! Jam a cdoperagdo amistosa, e déles sairam os grandes pre- adores da paz e da cooperacio entre os homens, como ‘Moisés, Confiicio, Jesus, Rama, ete, ‘Tais factos vem salientar a nossa “teoria da pilhagem” como facto da Histéria, por oferceer cla a acquisigho de uma soma maior de bens a custa de outros, com emprégo de exforgos, 1B 0 que veremos em “Fil Historia da Cultura” Se moe rescrdarmos que Lats XIV. tinh om exéreto de 100 mil soldados, v que o exéreito € um grande eoneu mnidor, cajo consumo nde € reprodactivo, pedemor ISRiner 86 MARIO FERREIRA DOS SANTOS que procura extraordindvia de mercadorias estandardizadas ale exigia, As necessidades individuais dos gostos eram postas de lado para atingir-se a uniformizagio, o que tina fatalmen- te que levar & eringdo de uma indiistria em série, ja que 0 exéreito é um consumidor ideal, que tende a reduzir a zero 0 produeto, e sendo todo-poderoso em suas exigéncias, ¢ nao olhando pregos, foi 6le o estimulador da industria moderns. Se observarmos também a psicologia do militar, se considerarmos as abstengées e cruezas bestiais dos campos de batalha, os excessos praticados apés os eombates, a exa~ cerbagio do erdtico, 0 gasto descontrolade, 0 luxe, tido isso tinha de provocar_ uma amplingio da producgio. Num campo de batalha nao se fazem restrigses a0 consumo. No decorrer da idade média, os senhores fendais e os grandes chefes militares procuratam, por todos os meios, aumentar © seu poder & custa dos outros. Tal prética levou os im- peradores a centralizar o poder num poder superior, decor- rendo dai a formagao das cOrtes. Estas, pela necessidade da magnificéncia, eapaz de impressionar aos menores, fo- ram levadas ao uso de um luxo desmedide. Os que se dei- xaram arrastar por ésse plano inclinado de luxo, aeabaram per gasiar mais do que podiam, terminando por eompro- meterent seus bens junto aos grandes banqueiros © merea- ores; de quetn obiinkam empréstimos, acabande por se empobreecrem, A consegtiéneia foi a decadéncia da classe dominante €.0 dominio eeondmico de uma nova classe detentora do ca pital, que, no século dezoito, ja senhora do eampo econdmi- 0, tornot-se finalmente senhora no campo politico, A aristoeracis, levada pelo Iuxo, era obrigada a rele- cionarse, por meio do easamonto, com os morcadores e fa- bricantes. Com a vitoria econdmiea e politica da burgue- sis, esta transformon a classe aristocratiea em subservien- te,"e permitiu que ela existisse enguanto nfo @ prejudicou _ Acostumados ao luxo @ ao consumo oxagerados, a vité- xia da burguesia trouxe, como conseqtiéneia, um aumento ‘do consumo e tia produegiio, do que em parte se aproveita- ram as classes inferiorizadas. A BOTECNICA Foi Patrick Geddes quem dividin as fases da Téeniea em trés: a eotdenien, a paleotéenica e & nevtéonicn. Na realidade, Geddes estudow as duas tltimas, tendo deixado de lado 2 fase preparat6rin anterior, que Mumford chamou de eotéeniea, palavra formada de eos, que em grego quer dizer aurora, enquanto paleos, quer dizer antigo. Essas trés fases so sucessivas, mas superpéem-se uma A outra; isto & estamos hoje, nos’ paises mais eivilizados, ha neotécniea, mas ainda perduram elementos da cotéenica € da. paleotéeniea, Cada Zase tem sua origem em regides determinadas apresenta @ tendéncia de aproveltar matérias primas espe- “Cada fase tem seus meios especfficos de utilizar e ge- rar energias © suas formas espectals de produeyiiv. | Tinal- mente, cada fase eria tipos particulares de trabalhadores, fespecializa-os de aedrdo com modalidades determinadas, es- timula certas aptiddes e atenua outras, e desenvolve certos aspectos da heranga social.” Hé exemplos que sio elaros: @ pena de ganso é wm producto da, eotéeniea; a pena de aco, da paleotéenica, ¢ @ canetatintetro, da neotéoniea, A eotienten, quanto A energia e os materiais caracte- risticos, 6 um eomplexo de agua e madeira; a paleotéenica, tum complexo de carvao e de ferro, ¢ a neoféentea, um com- plexo de clectricidade. A chamada biotéenien, eujos tragos gerais defxamos para mais adiante, sera 2 epoca da energia atdmica e ou- tras energias a serem descobertas © controladas. 88 MARIO FERREIRA DOS SANTOS A cotéenica, no Ocidente, vai eonhecer seu momento mais alto no periodo compreendido entre o ano 1000 ao ano 1750, que € 0 da evtéen‘ea euperior, e 0 anterior € 0 da, eotéeniea inferior. Durante éste perfodo, foram aproveitados 03 problemas © as sugestice téenicas de outras civilizagies. Néle foram idealizados og prineipais inventos que eondicionaram o de- senvolvimento da maguinaria. Os trabalhos de Leonardo da Vinei, de Galiley, entre ontros, mostram os pontos altos desea época, Foi um momento grandioso, apesar de seus malogros politiecs, que realizou todo ésse grande areabougo da arte © a filosafia dessa época, Do ponto de vista sociolégieo, © Renaseimento nao foi a aurora de um novo dia, mas sim seu crepisculo, afirma Mumford, No terreno sociol6yrico, o sentido organico dos gregos ¢ dos romanos, {Ora substituldo pela diregio espiritual-mis- tica do Cristignismo. Com 0 Renaseimento, ha um desejo. de retOrno ao organieo, mas é j4 impossivel, porque a vida eo mundo estavam irremediivelmente modificados pela vi- silo cristé, Dew-se 0 inevitivel: retiraram do organico he- Honico apenas sou aspecto quantitative, 0 meednieo, que en- cerra 0 movimento, o dinamismo, JA nao vital As artes se debilitaram, ¢ as artes mecanicas tiveram seu mator desenvolvimento. homem diminuiu no sentir, ‘mas aumenton no, poder. ‘Tivemos, nas eras anteriores & eotéonica e durante a primeira fase desta, exclusivamente, o emprégo da fOrca Fisiea do homem, livee ou escravo, e/a dos animals, Eram Esses os eradores e produetores da energia. No ariesic, temos 0 exemplo dessa fase, onde se une & habilidade hu mana aos instrumentos de trabalho. 0 perfodo eotéeniea mustza um aumento da utilizagiio do animal para a produecio da energia. A introdueeio da ferradura de ferro nos cavalos, aumentando seu poder de tragio, permitiu maior rendimento, bem como 0 aproveita- mento do arnés, no séeulo X, que ja os chineses conheciam duzentos anos antes de Cristo, 0 que permitia aos eavalos tirarem pelas espdduas, em vez de pelo pescogo, como era, antes, TRATADO DE ECONOMIA 29 Foram usados os eavalos para mover os moinhos de trigo e para bombear a agua, Com os cavalos, agora apro- veitados, a agriculiura teve um grande desenvolvimento, permitindo, por seu turno, que se pudesse erir mais cava~ Ins, dadas as possibilidades maiores de alimentacéo. Os progressos téenicos mais importantes se deram nas regides, onde os rios sio de corrente mais répida, como 0 Rodano ¢ Dandbio, 03 arvoios da Ttilia ¢ nas regides do Mar do Norte e do Baltieo, agoitadas por fortes ventos. ‘A nova civilizagdo teve af suas expresses culturais mais felizes. As rodas hidriulicas, para levar &gua, foram deseritas por Filon de Bizincio, no tereeiro século’ antes de Cristo. No século XIV, 0 moinho de agua era empregado nas fébrieas de todos os grandes centros industriais, como Bo- Yonha, Ansburgo, Ulm. Em 1290, 0 meinho sorviu para reduzir os farrapos de panos em uma polpa, que se convertia em papel, ¢ foi em: pregado também para ace‘onar miquinas portadoras das fabricas de ferro, para serrar madeira, para bater couros nos cortumes, para fiar séda, Em 1400 foi aproveitada para bombear figua nas mi- nas € nesse mesmo séeulo empregaram-se moinhos de éxua para triturar minerais, Gragas a @les foi possivel fazer foles mais poderosos, aleangar temperaturas mais altas, empregar fornos maio- tes, aumentando. a produce do ferro. Rsse aumento da cnergia e da produiceao possibiliton a maior difusdo das po pulagdes e pormitiu que houvesse maior equilibrio entre as Riversas regides da Europa e entre a cidade ¢ 0 campo, Gorn a concentragio do poder financeiro e politive. nos oulos RIV e XVIL surgitam ag grandes eidades de Lon- Gres, Amsterdam, Pais, Lyon & Napotes Outen fonte importante de encree foi ministrada pelo vento, "Hmm fing do ceulo XIL, et moinhos de vento propa param-se rapidamente a Europa, Bm 1438 eriouse a sxmelen turbina de vento que no eéculp XVI tiveram maior desenvolvimento eom os hokznde 90 MARIO PEREIRA DOS SANTOS E nesta époea gue se di o grande desenvolvimento in- austria dos Pulses Baixos cotio de proucylo Ge onere, como seria x Inglaterra ‘no. regime do earvlo e do ferre Sendo ima regido batida pelo vento, os moinos, na Holan- Ga, permitizam um grande. deseavlvmento eeondmien, co- tio também ganhar terra ao mar, evilando as inundagoes, Estes tereas concuistadas ao mar, depois de extrafdo © sal broporelonavam teas ystagens eram de grande fori ace, Existia na Holanda, em 1886, doze mil moinhos, que forneciam uma férca motriz aproximadamente de cento e Vinto mil cavalos, o que era dex vévex maior que a fOrea, motriz de que dispumha a Alemanha na mesma época. Con- vom nota que o moinho, depois de construidd, dé ener sia sem nenhum custo de producedo, o que j4 nao se veri- Fie com a méquina a vapor gic, no infelo, era eustoze Por cutro lado, os moinhos de vento eontribuiam para en= riquecer a terrae facilitavam a implantacéo de uma x cultura estivel, enquanto as indistrias mineiras deixavam Atrds de si ruinas e vilas despovoadas, além de terras can= sadas e de matas derrubadas, devido ao grande emprogo da madeira para a constracgio das galerias. No séeulo XVI, a grande produegao das indéstrias Aextols decorrew da ulllzagio da energia hidraulice, uenevron eriara uma turbina hidrautiea de grande eficiéneia e, em meados do sécuto XIX, eonstruiram-se tur- Dinas de quinhentos cavalos de forea (500 HP). Pode-se coneluir desta maneira, que a revolugio indus- trial moderna podia ter-se registrado sem a necessidude da extragio do carvio. Jé vimos que foi a madeira a matéria prima da eco- nomia eotéeniea. $6 no séeulo XV, comecam a aparecer as ihas de cortiga, depois da inveneio das garrafas dev dro. Ae méquinis empregadas na indistrig eram feitas de madeira, como o terno, Mas a necessidade de armad ras, canhées @ balas de canhfio, a necessidade de metal para a guerra, favoreceu o desenvolvimento da arte da mi- noragio. Foi o vento, a agua e a madeira que se combinaram para uma produegdo teniea importante: a eonstrucedo de TRATADO DE ECONOMIA 1 barcos. A arte da navegagio desenvolveu-se extraordina- rlamente, gracas aos grandes Iucros que oferecia, e nile 86 serviam aqueles para 0 comércio oceanic como também para os transportes regionais e locais, gragas aos sistemas Ge canis organizados na Europa hi muitos séculos. 'A velocidade dos navios também foi aumentada, Ou- tra matéria de grande importancia na economia cotéenica, que permitiu empregos dos mais variados, foi o vidro, um desedbrimento feito pelos egipeios ou provavelmente por povos mais primitives. No séeulo XH, teve a indistria do video um grande desenvolvimento, que colimou, no século XIII, com as famo- sas fabricas de vidre de Murano, perto de Veneza, 0 vidro mudou completamente o aspecto da vida doméstica, sobre~ tudo nas regides onde imperavam longos invernos e dias nublades. (© video das janelas permitia uma visio da natureza ‘emoldurada e das suas perspectivas, 0 que influin na trans- formagio da pintura do séeulo XV em diante, Com 0 vidro, surgin’ a descoberta das lentes e, em 1615, Johann Lipper~ sham inventou o teleseépio, permitindo a Galileu as suas ob- servagbes astrondmicas. Outro holandés, Zacarias Jansen, inventou 0 microses- pio eomposto, e provavelmente também o telescépio. Essas Fiveuytes, pesuaitiram catender 9 macracosmns e 9 micro- ‘cosmos, isto é, 0 mundo do imensamente grande ¢ o do imen- Eamente pegueno, Desta forma, a coneepgaio do espago mo- dificou-se radicalmente, litou 0 advento das teorins de Leibnitu, Com 0 vidro, a visto ampliou-se mais, tornando-se um érgf0 ainda de maior valor para o homem, Com 0 vidro, a tauimica objeve o seu grande progresso, por ser éle um cor po de propriedades Gnieas, nao 6 transparento, come por Hie ser efetado pelas composicées quimicas. Além de neu- tro as experiéneias, permitia que 0 observader as acompa- nihasse com 0s olhos. Ademais, por ser passivel de sofrer femperaturas relativamente altas, e ser um grande isolador, fo que seria importante no séeulo XIX, permitiu, além da triacdo da retorta, do frasco de distilagao, do tubo de ensaio, ao barometro, do termémetro, das lentes também, e na Tudo isso

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