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Arqueologia e historia da cultura material na Africa e na diaspora africana Vanicléia Silya Santos luis/Claudio Pereira Symanski Augustim Holl (organizadores) a 4 ORGANIZADORES VANICLEIA SILVA SANTOS é professora associada de Historia da Africa da UFMG. No Brasil, coordena o projeto in- ternacional “African Ivories in the Atlantic World : a reassessment of Luso- African ivo- ries” ¢ 6 membro do Comité Cientifico Inter- nacional da Unesco para elaboracao do 1X Volume do Historia Geral da Africa. LUIS C. PEREIRA SYMANSKI @ professor associado do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG e co- ordena o projeto “Arqueologia da Diaspora Africana em uma Perspectiva Comparativa: os contextos do Oeste e Sudeste do Brasil e as origens das culturas africanas diasporicas’. AUGUSTIN HOLL 6 professor do Departamento de Antropolo- gia e Etnologia da Universidade Xiamen (Bujian, China); Diretor Adjunto do Centro Nacional Franeés do Instituto de Pesquisa Cientifica das Ciéncias Humanas e Sociais (Paris, Franca) e Presidente do Comité Cientifico Internacional da Unesco para elaboracio do TX Volume do Histéria Geral da Africa. Arqueologia e historia da cultura material na Africa e na diaspora africana Este livro é resultado de um 30 debate, promovide pelo Centro de Bstudos Africanos da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre a significineia da materialidade para o entendimento da tra- jetoria historica e cultural das populacdes africanas e afrodiaspori- cas. Trata-se de esforco pioneiro realizado no Brasil de unir arque- dlogos ¢ historiadores da Africa, do Brasil ¢ do Caribe que té dedicado a producio de conh Africa e a diaspora af se ato historico e cultural sobre a Je no cana com base na cultura mate papel ativo por ela exercido na construgho da memor dades. Nesse sentido, a cultura material abordada nas contrib deste livro engloba aquela recuperada em escavacdes arqueologicas e das identi- icdes: n contextos como cemitérios, senzalas, quilombos ¢ portos — em ises como Gana, Estados Unidos, Suriname e Brasil museus ¢ guardada em acervos pessoais em cumentos do Brasil colonial, e expressa em ruinas, monumentos ¢ paisagens dos dois lados do Atlantico que foram conectados pela ex- periéneia africana. Esse foco na materialidade permite aos antore: resgatar a capacidade de ag tes, ¢, assim, coloci-Ios no centro de suas proprias historias, contri- buindo, dessa forma, para a construcio de uma historia Atlantiea ‘ia dos africanos ¢ de seus descenden- tivocal e descolonizada. ce Sh UF MG CENTRO OF DIRETORIA coo CEA mcs wnrmucouns BRAZIL PUBLISHING ee [aii Formato: 16x23 Tipologia: Adobe Caslon Pro Papel: Pélen 80g /m2 (miolo) Cartio Supremo 250g / m2 2019 Curitiba/Parana ‘Nio encontrando nossos titulos na rede de livrarias conveniadas ¢ informadas em nosso site contactar a Editora Brazil Publishing: Tel: (41) 3022-6005 www.aeditora.com.br acditora@aeditora.com.br ARQUEOLOGIA E HISTORIA DA CULTURA MATERIAL NA AFRICA E NA DIASPORA AFRICANA Editora Brazil Publishing Consetho Editorial Internacional Presidente: Rodrigo Horochovski (UPPR - Brasil) Membros do Conselho: Anita Leocadia Prestes (Instituto Luiz Carlos Prestes ~ Brasil? Claudia Maria Elisa Romero Vivas (Universidad Del Norte - Colombia) José Antonio Gowailer Lavaue (Universidad de La Habana - Cuba) Ingo Wolfgang, Sarlet (PUCRS - Brasil) Milton Luiz Horn Vieira (UPSC - Brasil) Masilia Murata (UFPR - Brasil) Hosin-Ying Li (National Taiwan University » China) Ruben Silvio Varela Santos Martins (Universidade de Evora ~ Portugal) Fabiana Queiroz (UFLA ~ Brasil) Pm © Editora Brazil Publishing Presidente Executiva: Sandra Heck Rua Padre Germano Mayer, 407 Sala - 1 Cristo Rei - Curitiba PR - 80050-270 +55 (41) 3022-6005 www.acditora.com.br ARQUEOLOGIA E HISTORIA DA CULTURA MATERIAL NA AFRICA E NA DIASPORA AFRICANA VANICLEIA SILVA SANTOS Luis CLAupIO PEREIRA SYMANSKI AucustTIn Hou ORGANIZADORES BRAZIL PUBLISHING Comité Cientifico da area Ciencias Humanas Presidente: Professor Doutor Fabricio R. L. Tomio (UFPR ~ Sociologia) Professor Doutor Nilo Ribeim Janior (EAJE — Filosofia) Professor Doutor Renee Volpato Viaro (PUC-PR ~ Psicologia) Professor Doutor Daniel Delgado Queissada (UniAGES — Servign Social) Professor Doutor Jorge Luiz Bezerra Novos (UFBA — Sociologia) Professora Doutora Marlene Tamanini (UFPR = Sociologia) Professora Dautora Luciana Ferreira (UFPR - Geografia) Professora Doutora Marlucy Alwes Paraiso (UFMG = Educagao) Professor Doutor Cezar Honorato (UPF — Historia) Professor Doutor Clovis Ecco (PUC-GO ~ Cinclas da Religiio) Professor Doutor Fauston Negreiros (UPI — Psicologia) Professor Doutor Luiz Anténio Bogo Chies (UCPel = Suciologia) Protessor Doutor Mario Jorge da Motta Bastos (UFF — Histéria) Professor Doutor Isracl Kujana (PPGP da IMED — Psicologia) Professors Doutora Maria Paula Prates Machado (UFCSPA — Antropologia Sosial) Editor Chefe: Sandra Heck “oy Diggramagio ¢ Projero Grifico: Brenner Silva al Arve da Capa: Joao Paulo Neto Revisio de Texto: Os autores a Revisiio Editorial: A Editora Brazil Publishing PLATAO. DOL: 10.31012/arqueologiachistoriadacultura pus Stie CATALOGACAO NA PUBLICAGAG - EDITORA BRAZIL PUBLISHING $257 Arquevlogi e historia da culeura material na Africa e na didsporaafticana / Organioadores Vaniekeia Silva Santos, Luis Symanski, Augusta Holl; Curitiba, PR: Brazil Publishing, 2019 460p 16223 cen ISBN 978-85-68419-93-9 Papel 78-85-6849 94-6 E-book Virios autores 1 Angucologia. 2. Historia, 3, Africa. 4. Cultura |. Titulo. H. Santos, Vanickéia Silva. 11L Symanski, Luis, IV. Holl, Augustin DD 930.1 CDU 930.26 Curitiba / Brasil 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS REITORA Sandra Regina Goulart Almeida VICE-REITOR Alessandro Fernandes Moreira COMITE COORDENADOR - CEA/UFMG (2018) Francisca Izabel Pereira Maciel (Faculdade de Edueagio da UFMG) Vanieléia Silva Santos (Faculdade de Filosofia ¢ Ciéncias Humanas da UFMG) Mauro Martins Teixeira (Instituto de Ciéncias Biolégicas da UFMG) Uende Aparecida Figueiredo Gomes (Escola de Engenharia da UFMG) CONSELHO CONSULTIVO Amadeu Chitacumula (Instituto Superior de Educagao do Huambo, Angola) Ana Cordeiro (IIhéu Editora, Cabo Verde) Qdete Semedo (Instituto Nacional de Estudos ¢ Pesquisa, Guiné-Bissau) Rafael Diaz. Diaz (Pontificia Universidad Javcriana, Colombia) Sénia Queiroz (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil) Tukufu Zuberi (University of Pennsylvania, Estados Unidos} Vanicléia Silva Santos (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil) REVISAO Marina Pacheco APRESENTACAO DA SERIE ESTUDOS AFRICANOS DO CEA/UFMG O Centro de Estudos Africanos da UFMG foi criado oficial- mente em 2012, e tem como missio promover 0 encontro de pesquisa- dores que trabalham com a Africa ¢ divulgar os resultados das pesquisas desenvolvidas sobre o tema no ambito da UFMG, em outros centros de pesquisa no Brasil ¢ no mundo, contribuindo assim para o estabe- oe para 3 Iccimento da area de pesquisa no interior de nossa institui consolidag ito dos estudos africanos no Pais, As parcerias com universidades e outras instituigdes de ensino e pesquisa tém como objetivo a realizagao de atividades conjuntas, 0 intercambio de publicagdes € projetos de mobilidade académica de es- tudantes ¢ professores. Por meio de a © pesquisadores da UFMG ja puderam cursar disciplinas de sua area no ‘ordos internacionais, estudantes exterior ¢ alunos estrangeiros vieram a UFMG com o mesmo intuit, Nos primeiros anos de existénc a, 0 CEA também promoveu confe- réncias € seminarios em torne de temas relacionados a Africa, além de reeeber professores estrangeiros para ministrar disciplinas em nossos programas de Pés-Graduacao. A Série Estudos Africanos do CEA/UFMG nasce com o objeti- vo de publicar obras que envolvam redes de pesquisadores, brasileiros ¢ estrangeiros, filiados ou nao a instituigées de ensino superior, e que desenvolvem trabalhos com diferentes perspectiv: Visande a formagio de um pensamento multidisciplinar, contemplando a diversidade étni caracteristica de nossos povos. Com essa nova frente de trabalho, pretendemos dar materialidade ‘Africa que vem sendo construida pelo CEA/UFMG desde sua criagao, bem como estreitar os lagas com editoras africanas. A parceria entre o CEA/UFMG e a Editora Ku Si Mon da Guine-Bissau, na Série Estudos Africanos, pretende atuar para ampliar & cooperagao Brasil a circulagao da produgao académica sobre os estudos africanos, tanto nos paises africanos quanto no Brasil ¢ em outros lugares do mundo. Organizada por Augustin Hall, Luis Claudio Pereira Symanski ¢ Vanicléia Silva Santos, Argueologia e histéria da cultura material na Africa ¢ na didspora africana é o nono titulo da Colegio Estudos Africanos do CEA/UFMG e 0 segundo em parceria com a Editora Ku Si Mon da Guiné-Bissau, Vanicléia Silva Santos Universidade Federal de Minas Gerais Abdulai Sila Escritor e Diretor da Editora Ku Si Mon Titulos da Série Estudos Africanos da UFMG 1. VANICLEIA SILVA SANTOS (Org.). O Marfim no Mundo Moderno: comércio, circulagao, fé ¢ status social (Séculos XV-XIX). CEA/UFMG e Editora Prismas. 2. WELLINGTON MARCAL. A defesa incansavel da esperanga: fei- des da Guiné-Bissau na prosa de Odete Semedo e Abdulai Sila. CEA, Ku Si Mon Editora ¢ Editora Prismas. 3. RAISSA BRESCLA DOS REIS, TACIANA ALMEIDA G. RESENDE E THIAGO MOTA (Orgs.). Estudos sobre Africa Ocidental: dinamicas culturais, didlogos atlinticos. UFMG e Editora Prismas. 4. RAISSA BRESCIA DOS REIS, TACIANA ALMEIDA G. RESENDE (Orgs.), Cultura e Mobilizagio — Reflexdes a partir do I Congresso Internacional de Escritores ¢ Artistas Negros. 5. FELIPE MALACCO. O Gambia no mundo Atlantic. Fulas, ja- lofos e mandingas no comercio global Moderno (1580 - 1630). CEA/ UFMG, Ku Si Mon Editora ¢ Editora Prismas. 6. CAROLINA PERPETUO CORREA. Trifico negreiro, demogra- fia ¢ familias escravas em Santa Luzia, Minas Gerais, séc. XIX. CEA/ UFMG e Editora Prismas. 7. VANICLEIA SILVA SANTOS, EDUARDO FRANCA PAIVA E RENE LOMMEZ GOMES (Orgs.). © coméreio de marfim no Mundo Adlintico: circulag3o ¢ produgio (séculos XV a XIX). CEA/ UFMG e Editora Clio. 8. VANICLEIA SILVA SANTOS, EDUARDO FRANGA PAIVA E RENE LOMMEZ GOMES (Orgs.). O comércio de marfim no Mundo Adlantico: circulagiio e producao (séculos XV a XIX), 2a. edigfio - E-book. CEA/UFMG e Editora Clio. 9. VANICLELA SILVA SANTOS, LUIS SYMANSKI E AUGUSTIN HOLL. (Orgs.). Arqueologia ¢ historia da cultura material na Africa ¢ na diaspora Africana. CEA/UFMG, Ku $i Mon Editora ¢ Publishing Brazil. AGRADECIMENTOS Aiideia da elaborago deste livro surgiua partir do convite ao pro- fessor Augustin Holl para participar do Programa Citedras de Professor Visitante do Instituto de Estudos Avangados Interdisciplinares/IEAT- UFMG no ano de 2016. A possibilidade de convivio académico com este que € um dos mais eminentes arquedlogos do continente africano nos levou a ideia de aproveitar a presenga de Holl para organizar um evento que congregasse arquedlogos e historiadores da Africa e da di- ispora africana, Para a efetivagao do evento, homénimo ao titulo deste livro, contamos com o apoio do IEAT, Centro de Estudos Africanos/ CEA-UFMG e Diretoria de Relagdes Internacionais da UFMG. Agradecemas, assim, a esses trés orgies da UFMG, cujo suporte foi fundamental para a producao deste livro. Agradecimentos especiais aos professores Estevam Las Casas e Fabio Alves. evento em questao foi realizado no més de novembro de 2016, durante o periodo de ocupagao da UFMG pelos estudantes em protesto contra a PEC 241, que previa o congelamento dos gastos pi- blicos e que viria ter impacto deletério na area da educagio em todos os niveis. Por esta razao, o evento, que inicialmente ocorreria em um dos audit6rios da Faculdade de Filosofia e Ciéncias Humanas na Pampulha, teve que ser transferido para o prédio do Conservatério de Musica da UFMG, no Centro da cidade, que era um dos poucos espagos nao ocupados pelos estudantes. Agradecemos, deste modo, 4 Diretoria do Conservatério pela disponibilizacao da infraestrutura necessiria, Agradecemos igualmente a todos os pesquisadores e pesqui- sadoras que vieram de diferentes partes da Africa ¢ da diaspora afri- cana compartilhar os resultados de suas investigagdes, nomeadamente, Bruno Pastre (Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha -MG), Camilla Agostini (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Carlos Magno Guimaraes (UFMG), Cheryl White (University Anton de Kom - Suriname), Emmanuel Ababio Ofosuh-Mensah (University of Ghana), Fernando Myashita (UFMG), Irislane Pereira de Moraes (UFMG), Isabela Suguimatsu (UFMG), Kodzo Gavua (University of Ghana), Marina de Mello ¢ Souza (Universidade de Si0 Paulo), Mateus Rezende de Andrade (UFMG), Patricia Letro (UFMG), Nick Shepherd (University of Cape Town), Patricia Marinho (Museu de Arqueologia ¢ Etnologia da USP), Renata Romualdo Didrio (Universidade Federal de Ouro Preto), Rogéria Alves (Universidade Estadual de Minas Gerais) Samuel Gordenstein (Instituto do Patriménio Histérico e Artistico Nacional - Bahia) e Tania Andrade Lima (Museu Nacional do Rio de Janeiro), O evento teve ainda por objetivo propiciar a aproximagio entre a produgio académica e professores da Educagao Basica, Nesse senti- do, a Secretéria de Educagao do Estado de Minas Gerais, na pessoa da professora Macaé Evaristo, colaborou para que os docentes da Educagio Basica pudessem acompanhar as apresentacdes ¢ debates. Agradecemos ainda aos monitores e bolsistas do CEA/UFMG. Por fim, mas ndo menos importante, a Sonia Queiroz, membro da co- ordenagio do CEA, cuja dedicagao ¢ perfeccionismo foram primordiais para que tudo ocorresse bem, Esse livro foi originalmente pensado em um momento de gran- des transformagées na politica ¢ educagae do Estado brasileiro. As mu- dangas que vieram no ano seguinte foram desastrosas do ponto de vista institucional para o Centro de Estudos Africanos da UFMG. Entre 2012 e 2017, 0 CEA realizou alguns dos mais importantes debates com intelectuais africanos residentes na Africa ¢ na didspora, aproximou-se de algumas das principais universidade africanas e produziu mais de 10 livros sob 0 selo Estudos Africanos na UFMG. Este livro, assim, é mais um dos resultados deste esforco do CEA em mostrar a forga das pesqui- sas produzidas no ambito da arqueologia e da histéria da cultura mate- rial africana no Brasil, em didlogo com pesquisadores de outros paises. Concluimos, assim que independentemente do que venha a acontecer nos proximos anos, o CEA/UFMG teve um papel funda- mental na produgao de um contetido essencial para um melhor conhe- cimento nao somente da historia dos africanos na diaspora mas também do prdprio continente africano. Os organizadores. ABSTRACT ‘This collective work seeks to place Africans and their descen- dants in the center of their own histories and to rescue the agency of individuals and groups. The issues approached will attract the interest of historians, archaeologists, anthropologists, general public and anyone interested in the fields of arts, museology, material culture, and the his- tory of circulation of objects in the Atlantic World. PALAVRAS-CHAVE PARTE 1 - PAISAGENS, LUGARES E CULTURA. MATERIAL NAS SOCIEDADES ATLANTICAS Place, Graves, and People: Archaeology of New York African Burial Ground (ca 1650-1796) Augustin Holl - Cemitério africano, New York, Século XVIII, Escravidio, Praticas de sepultamento Researching the Legacies of the Historic Enslavement and Trading of People in Ghana Kodzo Gavua Gana, Patriménio cultural, , Escravidao, Meméria Um Lugar Entre Dois Mundos:a paisagem ideativa de Mbanza Kongo, Angola Bruno Pastre - MBanza Congo, Paisagem, Lugar, Século XIX, Kulumbibi, Cemitério, Ntotila, Congo Mining in Ghana and its Connections with Mining in the Brazilian Diaspora Emanuel Ofosu-Mensah - Tecnologia africana, Minerago do ouro, Transferéncia de tecnologia, Ashanti, Gana, Escravidio, Minas Gerais, Brasil De Mvika a Cabitina: a dinamica social de pessoas e lugares no proces- so de escravizagio durante o segundo escravismo Camilla Agostini ¢ Marcos Abreu Escravidio, Trafico Transatlantico, Cultura material, Baixo Congo, Rio de Janeiro, Brasil PARTE 2- RELIGIOSIDADES, COSMOLOGIAS E MEMORIAS NO ATLANTICO NEGRO Usos ¢ significados do nkangi kiditu no Congo cristo, séculos XVI-XVIII Marina de Melo e Souza - Crucifixos catdlicos, Cosmograma Bacongo, Reino do Congo, Séculos XVI ao XVIII, Fontes visuais, Bisimbi Objetos divinatérios de marfim do Golfo do Benin na didspora africana no Brasil Vanicléia Silva Santos e Tukufu Zuberi = Objetos de marfim, Iroké, fi, Culto divinatério, Salvador, Brasil, Reino do Benin, Didspora africana, Religiosidade, Cultura material Rebelides, ferreiros ¢ cultura material: transcrigdes escondidas ea materialidade da resisténcia nas fazendas de café do vale do Paraiba Luis Cliudio Pereira Symanski e Flavio dos Santos Gomes Vale do Paraiba, Senzalas, Arqueologia, Ferro, Ferreiros, ‘Tecnalogias afticanas, Religiosidade, Cultura material Arqueologia do Axé. Consideragées sobre o estudo do Candomblé baiano oitocentista Samuel Gordenstein domblé urbano, Arqueologia, Século XIX, Terreiros, Cultura material, Salvador, , Reino do Benin, Diispora africana, Religiosidade PARTE 3-ORNAMENTOS E SIMBOLISMOS NA DIASPORA AFRICANA Para adornar e proteger: contas de colar, corpos € escravidao Isabela Suguimatsu ~ Contas de colares, Arqueologia, Senzala , Rio de Janeiro, Século XIX, Campos dos Goytacazes, Escravidio, Resisténcia, Brasil, Teoria do ator-rede , Identidades © Cais do Valongo ¢ suas contas: comércio ¢ participagio escrava Patricia C. Letro de Brito ~ Cais do Valonge, Contas de colares, Escravidao, Rio de Janciro, Brasil, Século XIX, Concepgies estéticas “Marfim, corais € auro”: um estudo sobre determinados bens materiais da populagio alforriada (Minas Gerais, Século XVII) Rogéria Cristina Alves ~ Marfim, corais, ouro, Cultura material, Inventirios, Escravidao, Minas Gerais, Brasil PARTE 4— CULTURA MATERIAL E ESPACO DOMESTICO NA COMUNIDADE AFRICANA E. AFRODESCENDENTE Africanos libertos: estruturas domiciliares ¢ redes de sociabilidades (Minas Gerais, século XIX) Mateus Rezende Andrade - Vale do Piranga, Minas Gerais, Sociabilidade, Século XIX, Rede relacional, Rede de compadrio, Mulheres forras Usos do espaco e habitagdes escravas: legados e memérias na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Fernando Myashita ~ Arqueologia, Senzala, Rio de Janeiro, Habitacécs, Quintais, Escravidao, Resistencia, Hierarquias sociais SUMARIO ARQUEOLOGIA E A HISTORIA .. PARTE 1 PAISAGENS, LUGARES E CULTURA MATERIAL NAS SOCIEDADES ATLANTICAS .... woes 3D PLACE, GRAVES, AND PEOPLE: ARCHAEOLOGY OF NEW YORK AFRICAN BURIAL GROUND (CA 1650-1796) .... Augustin F.C, Halt RESEARCHING THE LEGACIES OF THE HISTORIC ENSLAVEMENT AND TRADING OF PEOPLE IN GHANA... Kedzo Gavuwa UM LUGAR ENTRE DOIS MU} MBANZA KONGO, ANGOLA ... Bruno Pastre Maxime MINING IN GHANA AND ITS CONNECTIONS WITH MINING IN THE BRAZILIAN DIASPORA .. W131 Emmanuel Ababio Ofast- siete DE MVIKA A CABIUNA; A DINAMICA SOCIAL DE PESSOAS E LUGARES NO PROCESSO DE ESCRAVIZACAO DURANTE O SEGUNDO ESCRAVISMO 7 saan Camilla Agostini e Marcos Leitio de Almeida ARQUEOLOGIA ene COM OS Sees DBO SURINAME Cheryl White oo BOS - PAISAGEM IDEATIVA DE DSS PARTE2 RELIGIOSIDADES, COSMOLOGIAS E MEMORIAS NO ATLANTICO- NEGRO... 213 USOS E SIGNIFICADOS DOS NKANGI KIDITU NO CONGO CRISTAO, SECULOS XVI - XVII. 215 Marina de Mello ¢ Souza OBJETOS DIVINATORIOS DE MARFIM DO GOLFO DO BENIM NA DIASPORA AFRICANA NO BRASIL..... Tuukufu Zuberi ¢ Vanicléia Sikva Sanios REBELIOES, FERREIROS E CULTURA MATERIAL: TRANSCRICOES ‘ONDIDAS E A MATERIALIDADE DA RESISTENCIA NAS "AZENDAS DE CAFE DO VALE DO PARAIBA v..escssnesneseseeneninn261 Luts Claudio Pereira Symanski e Flivic dos Santes Gomes PARTE3 ORNAMENTOS E SIMBOLISMOS NA DIASPORA AFRICANA... 293 ARQUEOLOGIA DO AXE SONSTDERACOES SOBRE O ESTUDO DO CANDOMBLE BAIANO OITOCENTISTA ... dD, Samuel Lira Gerdenstein PARA ADORNAR E PROTEGER: CONTAS DE COLAR, CORPOS SCRAVIDAO...... Isabela Cristina Suguimatsu © CAIS DO VALONGO E SUAS CONTAS: COMERCIO E PARTICIPACAO ESCRAVA Patricia C, Letro de Brite “MARFIM, CORAIS E OURO”: UM ESTUDO SOBRE E RMINADOS BENS MATERIAIS DA POPUL. AGAO A ALFORRIADA (MINAS GERAIS, SECULO XVIII) *. Rogéria Cristina ‘Aboes 363 PARTE 4, ‘CULTURA MATERIAL E ESPACO DOMESTICO NA COMUNIDADE AFRICANA E AFRODESCENDENTE.. snvesnsessonsssennsnesssessesssrs eens SID APFRICANOS LIBERTOS: ESTRUTURAS DOMICILIARES E REDES DE SOCIABILIDADES (MINAS GERAIS, SECULO XIX) .. 395, Mateus Rezende de Andrade USOS DO ESPAGO E HABITAGOES ESCRAVAS: LEGADOS E MEMORIAS NA FAZENDA DO COLEGIO, CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ ssssoosee427 Fernando Sitoa Myashita SOBRE OS AUTORES... teas susseseasssessssansvanesseses GOS ARQUEOLOGIA E A HISTORIA Vanicléia Silva Santos Luis Claudio Pereira Symanski As relacGes entre a arqueologia e a histéria tém sido tema de um prolongado debate. Perspectivas conservadoras consideravam a pri- meira como uma “serva” ou ciéncia auxiliar da segunda, de modo que o registro material teria por propdsito somente complementar ou ilustrar as informagées fornecidas pelos registros escritos ou, em uma perspec~ tiva mais técnica, fornecer material que seria interpretado pelo historia- dor', Nessa concepgac a histéria era ainda tida como idiografica, preo- cupada com o esclarecimento de eventos tnicos, visando a elaboragao de uma sintese em que os encadeamentos das agdes humanas seriam explicados com base no contexto no qual ocorreram®, Para escapar dessa. subordinagao, a partir da década de 1940, arquedlogos buscaram aderir as metas de uma antropologia cientific , focada na explicago de um dado fenémeno: o fenémeno cultural, que seria o objeto de exceléncia do estudo antropoldgico. Buscava-se, assim, estudar os casos particula- res com 0 propésito de extrair dos mesmos regularidades, que scriam explicadas em termos de princfpios gerais que viriam a conformar uma teoria geral da dinamica e da estatica cultur: Essa perspectiva cientifi- ca, que Visava aproximar a arqueologia das ciéncias naturais, comegou a 1 HAWKES, Christopher. Archaeological method and theory: some suggestions from the Old World. American Antbropologise, v. 56, n. 2, p. 155-168, 1954; JONES, Sian, Categorias historicas e a prixis da identidade: a interpretagao da etnicidade na arqueologia historica. In: FUNARI, Pedro; ORSER JR., Charles; Schiaverto, Solange (Orgs.). Idensidades, discarsos ¢ poder: estudas da arquealogia contemporinea. Sao Paulo: Annablume, 2005. p.27-45; JORGE, Vitor O. Arqueologia ¢ historia: algumas reflexes prévias. Revista da Faculdade de Lerrat, Lisboa, n. 7, p. 367-374, 1990; 2. TAYLOR, Walter. dm study of archacoiogy. Menasha: American Anthropological Association, 1948, p32, 3. Ver, entre outros, KROEBER, Alfred, History and science in anthropology. American Anibropolegist, v.37, n.4, p. 539-569, 1935; TAYLOR, Walter, dl study of archaeology. Menasha: American Anthropological Association, 1948; WILLEY, Gordon; PHILLIPS, Philip. Mechod and theory in American archacolegy. Chicago: University of Chicago Press, 1958; BINFORD, Lewis, Archaeology as anthropology. American Aneiquity, v. 28, p. 217-225, 1962. 22 YASICUEI SILVA SANTOS, 1 G1 AUDNO PEAPIRA SYNANSKA EAUGLSTIN HOLL | ORGANEZADONES ser desafiada na década de 1980, quando arqueslogos, influenciados pela abordagem interpretativa da antropologia simbdlica de Geertz* e, nesse sentido, pela filosofia hermenéutica, retomaram a defesa do entendi- mento do particular em detrimento da explicagdo do geral.Os aderentes dessa perspectiva, que ficou conhecida como arqueologia pés-processu- al, defenderam a reaproximagao da arqueologia com a histdria, dado que a chave do entendimento, e, assim, da interpretagao, estaria na recons- trucao detalhada dos contextos aonde transcorreram as agdes humanas’. A arqueologia pés-processual emergiu justamente em um pe~ riodo no qual a histéria estava se tormando mais antropoldgica e a an- tropologia, por sua vez, mais histérica’. De fato, a partir dessa época, a influéncia das teorias relacionistas da pratica, de Bourdieu, e da estru- turacao, de Giddens, comegaram a ser crescentemente incorporadas na antropologia e na arqueologia’. Ao focalizar nas praticas dos agentes ¢ grupos humanos, essas abordagens solaparam a dicotomia historia/ estrutura, dado que as priticas so determinadas pelas condigoes do passado, as quais, por sua vez, produziram o principio da sua produgio. Essa relacionalidade foi bem expressa por Sahlins, em sua formulagao de uma antropologia estrutural histérica, ao considerar que a historia € ordenada culturalmente da mesma forma que os esquemas culturais so ordenados historicamente’, H4, assim, um relacionamento recursivo entre a historia ¢ a cultura, dado que as pessoas organizam ¢ dao sentido as suas vidas com base na compreensio pré-existente que mantém sobre a ordem cultural. A arqueologia histé a disciplina que estuda 0 processo de formacgio do mundo moderno a ‘a, por sua Vez, AO se caracterizar como 4 GEERTZ, Clifford, Ze interpretation of enftures, New York: Basic Books, 1973, 5 HODDER, lan. Reading the past: current approaches to interpretation in archaeology, Cambridge: Cambridge University Press, 1986; JOHNSEN, Harald, OLSEN, Bjornar. Hermeneutics and archaeology: on the philosophy of contextual archaeology. merican Antiquity, v. 57, n.3, p.419-436, 1992. 6 Ver BURKE, Peter, O gue ¢ Historia Cuérural, Rio de Janeiro: Jonge Zahar Editor, 2005. p. 44. 7 BOURDIEU, Pierre. Outline ofa sheory of practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1977; GIDDENS, Anthony. Central problems in social theory. action, structure and contradiction in social analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1979; ORTNER, Shery. Theory in annthropology since the sixties. Comparative Stables in Society and Hiseory,v. 26, n.1,p. 126-166, 1984. 8 SAHLINS, Marshall. lidas de Aistéria. Rio de Janeiro: Zahas, 1987. ARQUTOLOGIA E MISTORIA DA CULTURA MATIRUIAL NA AFRICA EMA DUSRORA AFRICANA 23 partir dos vestigios materiais’, manteve, como um aspecto inerente de sua identidade, o didlogo com a histéria. Se isto é verdadeiro em termos da disciplina como um todo, é ainda mais no caso da arqueologia da didspora africana. Essa area emergiu nos Estados Unidos, no final da década de 1960, quando foram realizados os primeiros estudos arqueo- logicos em senzalas de plantations nos estados da Flérida e da Georgia. Esses estudos iniciais tinham por meta descobrir as bases africanas da cultura afto-americana, com base em um paradigma de aculturagio ini- almente formulado por Melville Herskovits ¢ colegas". Dado o insu- cesso na busca de africanismos expressos na cultura material presente nos contextos de ocupagao afro-americana, o foco das pesquisas mudou, ao longo dos anos de 1970, para a caracterizacdo do status e das condi- ges materiais de vida dos grupos escravizados, com base, sobretudo, em uma abordagem funcionalista que visava descobrir padroes arqueolé- gicos que remetessem a padroes de comportamento que seriam tipicos desses grupos", Essa abordagem prosseguiu ao longo da década de 1980, sendo, contudo, atacada por adeptos de vertentes criticas ¢ marxistas que passaram a dar uma crescente atengio as relagdes de poder no espaco das plantations*, A década de 1990 marcou a retomada da questio do processo de formagao da identidade afro-americana, contudo, nio mais fundada no paradigma da aculturacao, criticado por sua perspectiva unidirecional das relagdes de poder, em que os colonizados passivamente perderiam os seus referenciais culturais proprios 4 medida que adotassem aqueles da cultura dos colonizadores"’. Antes, esse processo passou a ser considera- 9 ORSERJR., Charles. 4 historicaf archacofagy of the modern tworld. New York: Plenum Press, 1956. 10. Ver: REDFIELD, Robert; LINTON, Ralph; HERSKOVITS, Melville, Memorandum for the study of acculturation, American Anthropologist, m. 38, p, 149-152, 1936 11. Ver: FAIRBANKS, Charles. The Kingsley slave cabins in Duval County, Florida, 1968. The Conference on Historic Site Archacology Papers, n. 7, p. 62-93, 1972; FAIBANKS, Charles, ‘The plantation archacology of Southeastern coast. Historical Archacology.v. 28, 0.1, 1984 12. Ver, por exemplo, HOWSON, Jean. Social relations and material culture: a critique of the archacology of plantation slavery. Historical Arebacology, v.34, 0. 2, p. 18-91, 1990. 13. Uma critica ao modelo de aculturacio em arqueologia pode ser encontrada em: CUSICK, Jumes. Historiography of acculturation: an evaluation of concepts and their application in archaeology. In: CUSICK, James (Org). Studies fr culture contact: interaction, culture change, and archaeology. Carbondale: Center for Archacological Investigations, 1998. p. 126-45. 24. \VANICLELA SILNA SANTOS, LUIS CLAUDIO PEREIRA SYMANSKI E AUGUSTIN HOLL | ORGANLZABORES do como uma via de mao dupla, na qual todos os envolvidos no cenario colonial — europeus, afticanos e indigenas, bem como seus respectivos descendentes — se influenciaram mutuamente, criando culturas criouli- zadas tipicas desses cendrios". Nesse modelo de crioulizagao se consi- derava, ainda, que profundos principios estruturantes africanos teriam sido mantidos na senzala, servindo como a base sobre a qual africanos de diversas origens teriam forjado as culturas afro-americanas. Assim, a presenca de itens materiais europeus na senzala nao seriam indicativos da adesio passiva 4 cultura hegeménica dos senhores ~ como no modelo de aculturagao —, pois os modes de usé-los seriam pautados por regras — uma gramitica — de base africana". O medelo de crioulizacao, assim, levou a um esforgo para en- tender a cultura material dos grupos escravizados com base em seus referenciais culturais proprios, considerando as particularidades do registro arqucoldgico suas relagées contextuais. Essa abordagem foi particularmente relevante para abordar as expressGes religiosas desses grupos, que haviam, até entao, sido desconsideradas", © modelo de crioulizagao, contudo, apesar de mais dindmico que o de aculturagao ¢ busear, até determinado ponto, resgatar a agén- cia das populagdes escravizadas, nao esta livre de problemas, tanto no campo te6rico quanto no operacional. Em primeiro lugar, ha um funda- mento estruturalista subjacente ao modelo, 4 medida que se assume que © uso dos artefatos € regido por uma gramatica propria das populacoes afro-americanas. Essa gramdatica se manteria invariavel, rejeitando a ca~ pacidade de agao dos sujeitos, de manipular diferentes repertérios de regras de acordo com 0 contexto/cendrio social em que estao atuando, 14 DAWDY, Shannon, Creolization: Preface. Historical Archaeology, v.34, n.3, p. 1-4, 2000, 15 Ver, por exemplo, FERGUSON, Leland, Usreommon ground: archaeology and early African America, 1650-1800, Washington/London: Smithsonian Institution Press, 1992, 16 Ver exemplos erm: FERGUSON, Leland, Uncommon grawndt archaeology and early African America, 1650-1800, Washington/London; Smithsonian Institution Press, 1992, BROWN, Kenneth, Material culture and community structure; the slave and tenant community at Lev Jordans Plantation, 1848-1892. In: HUDSON JR, Larry (Org,). Herking foward freedom: save society and domestic economy in the American South. New York: University of Rochester Press 1994. p. 95-118; WILKIE, Laurie. Magic and empowerment on the plantation. Saucbeaslern Archaeology, v.14, n. 2, p. 136-57, 1995. ANOQOLOGIN EISTSRA n CULTURA MATEREAL NA AFRICA ENA DUASPORA APRICAXA 25 nao dando margem, assim, a agées criativas e estratégicas!’. No dominio operacional, muitos estudos arqueoldgicos cairam na armadilha de assu- mir esse processo a priori, utilizando a cultura material das senzalas sim- plesmente come ilustrativa do mesmo, talvez devido 4 forte influéncia de trabalho seminal de Mintz ¢ Price”, que alegavam que esse processo corre em um ritmo rapido, forgado pela imensa diversidade cultural presente na senzala. A linearidade ¢ rapidez desse processo tem sido, contudo, contestados em alguns estudos, que tém buscado demonstrar como expressdes de diferengas podem ter sido atuantes em contextos com uma alta taxa de africanidade, sendo somente superadas quando o cendrio demogrifico foi dominado por uma populacio afro-brasileira”. O aprofundamente dos estudos sobre o trifico Atlantico ¢ da hist6ria das populagdes africanas envolvidas levou, nas tiltimas décadas, a esforcos mais consistentes no sentido de colocar os africanos ¢ seus descendentes no centro de suas préprias histérias ¢, assim, de resgatar a capacidade de agéncia de individuos e grupos. As emergéncia de uma histéria do Atlantico negro, focada nas conexdes entre as populagdes africanas ¢ afro-americanas. Estudos sobre o trafico Atlantico tém demonstrado que cle seguiu padrdes regionais, privile- giando, em perfodos distintos, grupos de diferentes regides da Africa, que eram encaminhados para regioes especificas das Américas™, Nas ‘tiu-se, assim, a 17 Para criticasa essa perspectiva ver: SINGLETON, Theresa. Cultural interaction and African American identity in plantation archacology. In: CUSICK, James (Org). Seudies in culture contact interaetion, culture change, and archaeology. Carbondale: Center for Archaeological Investigations, 1998. p. 177; GUNDAKER, G. Discussion: creolization, complexity and time. Historical Archaeology, v. 34, n, 3, p.124-133, 2000; SYMANSKI, Luis C. P. A arqueologia da diispora africana nos Estados Unidos e no Brasil: problemiticas e modelos. Afro-Aiia, n. 49, p. 177-78, 2014. 18 MINTZ, Sidney; PRICE, Richard. The birth ofafrican-americanculrure:an anthropological perspective, Boston: Beacon Press, 1976. 19 SYMANSKI, Luis C. P. Slaver and pianters in Western Brazil material culture, identity and power:Tese (Doutorad em Antropologia) ~ University of Florida, Gainesville, 2006. SYMANSKI, Luis C. P. Slaves and planters én Western Brazit: material culture, identity and power:Tese (Doutorado em Antropologia) ~ University of Florida, Gainesville, 2006; SOUZA, Marcos A. T;; SYMANSKI, Luis C, P. Slaves communities and pottery variability in Western Brazil. International Journal of Histerical Archacclagy,v. 13, n. 4, p.513-48, 2009. 20 THORNTON, John. Africa and Africans in the making of the Atlantic world. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, p. 191-192; SWEET, James. Recrearing Africa: culture, kinship and religion in the African-Portuguese world, 1441-1770, Chapel Hill: The University 26 VANICLFLA SILVA SANTOS, LUIS CLALIDIO PEREIRA SYMANSKI E ALOUSTIN HOLL | ORGANIZADORES Américas, esses grupos tenderam a reconstruir suas identidades pauta- dos em afinidades culturais, como linguas, crengas ¢ tradigées, que eram compartilhadas em suas regides de origem”. Na arqueologia da diaspora africana, essa busca pelas conexdes Atlanticas se tornou mais evidente a partir da primeira década deste século®, embora ainda inexistam pro- jetos conjuntos que busquem unir a dindmica de populagées especificas em ambas as margens do Atlantico. Além da afinidade tematica que une as pesquisas de arquedlo- gos e historiaderes que contribuiram para este livro, com foco na hist6- ria e na cultura de povos africanos na Africa e na diaspora, ha um outro ponto de conexao entre as pesquisas. Ele diz respeito ao foco na cultura material, seja aquela presente em museus, descrita em documentos de arquivos, ou exumada de sitios arqueoldgicos. James Deetz, em 1977, caracterizou a cultura material como “aquele setor de nosso ambiente fisieo que madificamos através do comportamento culturalmente deter~ minado”®, Essa definigao, bastante ampla, tem por propésito ir além do foco nos artefatos, considerando elementos tao diversos quanto cortes de carne, campos arados e mesmo os nossos corpos em todos os seus aspectos cinestésicos. O uso da cultura material como fonte para produgdo de co- nhecimento sobre as sociedades humanas emergiu no comego do século XIX, nos primérdios da arqueologia cientifica, quando foram desen- volvidos, na Escandinavia, os primeiros métodos de cronologia relativa, baseados em principios classificatdrios que levavam em consideracao 0 of North Carolina Press, 2003. p. 1-2; LOVEJOY, Paul. Identifying Enslaved Africans in the African Diaspora, In; LOVEJOY, Paul (Org,).ddentity in the shadow of slavery. Londres; Nova York: Continuum, 2000. p. 9-11. 21 HALL, Gwendolyn M. Slavery and African ethnicities in the Americar, restoring the links. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2005; THORNTON, John. Africa and Africans in.the making of the Atlantic world. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. p. 322-324; KARASCH, Mary. 4 vide dos escraves no Rio de Janeive: 1808-1850, Sa0 Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 45; OLIVEIRA, Maria C. Viver e morrer no meio dos seus: nagies © comunidades africanas no século XIX, Reviséa USP, n. 28, p.174-193, 1995. 22. Ver OGUNDIRAN, Akinwumi; FALOLA, Toyin (Orgs.). Archacology of Atlantic Afrita and the African Diaspora, Bloomington: Indiana University Press, 2007. 23 DEETZ, James. Jn Smatl Things Forgotten. An Archacology of Early American Life. Segunda edigao, revisada, Nova York: Doubleday, 1996. p. 35-36. ARQUEOLOGIA F HISTORIA DA CULTURA MATERIAL NA AFRICA E NA DIASPORA AFRICANA 7 contexto dos achados". Nas ultimas décadas os estudos de cultura ma- terial emergiram como um campo de natureza transdisciplinar focado na produgao material da humanidade, tanto passada quanto contempo- rinea, envolvendo, além da arqueologia ¢ da antropologia, disciplinas como a histéria, a geografia cultural, a sociologia, a museologia e os estudos de ciéncia e tecnologia”. Essa énfase nos estudos de cultura material esta relacionada ao reconhecimento de que as relagdes humanas io simultaneamente sociais € materiais. Nesse sentido, o mundo material, antes do que mero pano de fundo no desenvolvimento da ago social, passou a ser reco- nhecido como o meio de construgado da meméria, dando coeréncia e continuidade a vida social e, assim, a reprodugao cultural. A definicao ampla de cultura material fornecida por Deetz tem 0 mérito de englobar todos os objetos, lugares, ¢ paisagens que sio abor- dados neste livre, incluindo itens tio diversificados como as cruzes nkangi iditu do Congo, expresses de um didlogo entre uma religio tradicional africana € 0 catolicismo do colonizador; os irokés de marfim (ponteiras) do culto de Ifa da Costa da Mina que também foi utilizado no contexto diagpérico, as contas de vidro e de missangas, marfins e corais, que ador- navam corpos de escravizados e libertos em Minas Gerais e no Rie de Janeiro urbano e rural, atuando na protegio espiritual e na constituigio da identidade dessas pessoas; ¢ os blocos de eseéria de ferro da senzala da fazenda Santa Clara, no vale do Paratba, que remetem a cosmologia do ferro e ao poder dos ferreiros nas sociedades centro-africanas. Do mes- mo modo, engloba os lugares sagrados ¢ carregados de memorias e sig- nificagdes, como o Cemitério Afticano de Nova York, a capital do povo 24 Ver TRIGGER, Bruce. history of archaeofogica? hough. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. p, 73-79 25 HICKS, Dan; BEUADRY, Mary C. Introduction: material culture studies: 1 reactionary view, In: HICKS, Daa; BEAUDRY, Mary C, (Orgs.). The Oxford Handbook of material cleure studies. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 1-21; LIMA, Tania A. Cultura material: a dimensio conereta das relacées sociais. Boletim do Museu Peranacnse Emlio Gocldiy. 6,1. 1, p. 11-23, 2011 26 GOSDEN, Chris. Ancbropology and archaeology: a changing relationship. Londres, Nova York: Routledge, 1999. p. 120; McCALL, John C. Structure, agency, and the locus of the social: why post structural theory is good for archaeology. In: ROBB, John (Org,). Material symbol culture and economy in pre-history. Carbondale: Southern Illinois University, 1999. p. 16-20. 28 \ASICL 41 SLA SATO, ES CLALONO FERBIRA STAARSKIE AUGUSTIN HOLL | ORCANIZADORES baconga, Mbanza Congo, em Angola, as ilhas no litoral norte do Rio de Janeiro e Sao Paulo ea colina Krobo,em Gana, onde populagoes diversi- ficadas buscaram refigio do destino da escravidao. Tratam-se de lugares extremamente significativos para as populacoes africanas ¢ diaspori por remeterem, em todos os casos, 4 ancestralidade ¢ a processos politicos de formagio e afirmagao de identidades em cenarios marcados pelo co- Jonialismo. Inclui, por fim, os espacos domésticos. Esses espagos mantém um relacionamento mutuamente constitutive com as pessoas que neles habitam, ¢ exercem, assim um papel central na transmissao de memorias ¢, por conseguinte, na reprodugao cultural. Este livro foi dividido em quatro eixos tematicos: Paisagens, lugares ¢ cultura material nas sociedades atlanticas; Religiosidades, cos mologias e cultura material no Atlantico negro; Ornamentos e simbo- lismos na diaspora africana; e, Espago doméstico na comunidade afri- cana e afrodescendente. Esses eixos devem ser considerados mais como uma forma de organizar os trabalhos ao longo de linhas de afinidade do que come pontos estanques, dado que ha diversos temas abordados nas contribuigdes deste volume que perpassam essa divisao. Esse é 0 caso da religiosidade, que ¢ um tema que extrapola a parte 2, sendo abordado de modos mais ou menos explicitos, na maioria dos capitulos. Do mesmo modo, as paisagens ¢ lugares ¢ seus si icados cosmologicos e sociais consistem em uma tematica que ultrapassa a parte 1, sendo um compo- nente integrante de todos os capitulos das partes 2 e 3. Na parte 1, Paisagem, lugares ¢ cultura material nas sociedades atlinticas, o foco recai nas paisagens e lugares da escravidao e da di- dispora no mundo Atlintico, Sao abordades diferentes contextos dos dois lados do Atlantico, que vio da capital do povo Bacongo, Mbanza Congo, em Angola, aos assentamentos Saramaka do alto rio Suriname, na floresta amazénica. O interesse em paisagens e lugares caracteriza a arqueologia des- de a sua emergéncia, dado que sitios arqueologicos podem ser concebidos como locais de concentragio de atividades humanas distribuidos no es- 27 HENDON, Julia. Living and working at home: the social archacology of houschold production and social relations. In: MESKELL, Lynn; PREUCEL, Robert (Orgs.).d companion te social archaeology. Malden: Blackwell Publishing, 2004. p. 272-286. sRQUEOLOGEA HMSTORIA D4 CULTURA MATERIAL NA AFRICA ENA DIASPORA AFRICANA. 29 pago geografico. A arqueologia histérico-cultural caracterizou-se, nesse sentido, pelo estudo da distribuigao geografica de sitios que mantinham componentes materiais similares, assumindo que tais distribuigdes diriam respeito ao territério da populacao responsavel pela formacao desses si- tios, assumindo, assim, que a similaridade material equivalia a similaridade cultural®, A partir da década de 1950 os arquedlogos, devido inicialmente @influéncia da ecologia cultural e,a seguir, da nova geografia, comecgaram a focar nas relagdes dos assentamentos humanos com o ambiente. Tais es- tudos tiveram um forte impacto, pois permitiram aos arquedlogos abordar questdes relacionadas 4 economia ¢ organizagao social de populagdes do- passado que nao eram possiveis de operacionalizar na perspectiva descriti- vo-classificatéria da abordagem histérico-cultural. Tais estudos foram ex- plicitamente focados na espacialidade, considerando a inser¢io ambiental dos sitios, suas distribuigées em diferentes ambientes e suas integracdes funcionais”. O ambiente, assim, era visto como uma fonte de recursos € um pano de fundo onde se desenrolava a ago social. A partir da década de 1980, as reflexdes pds-processualistas sobre o papel ativo da cultura material se estenderam também as formas de se pensar a espacialidade, o que se deveu, em grande parte, ao ditlogo com a geografia cultural. O espago, ¢ por extensio a paisagem, deixou de ser considerado come mero cenirio ¢ produto das relagSes sociais ¢ pas~ sou-se a destacar o seu papel na produgio e reprodugao das mesmas Essa mudanga de orientagao levou a uma énfase nas dimensées sociais ¢ simbdlicas da paisagem, destacando as nogdes subjetivas de experiéncia percepsdio humanas, ¢ as formas como simultaneamente formam e sfio formadas pela paisagem". Augustin Holl, no capitulo de abertura da parte 1, apresenta um detalhado estudo do Cemitério Africano de Nova York com foco na organizagio e conteddo dos sepultamentos. Por meio de um cuida- 28 JONES, Sian, The archaectogy of ethnicity: constructing identity in the past and present Routledge: Londres; NovaYork, 1997. p. 1 29 TRIGGER, Bruce. bistory of arcbacological thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. p. 279-285 30 LEFEBVRE, Henri. TBe production of space. Oxford: Blackell Publishers, 1991. 31 KNAPP, A. Bernard; ASHMORE, Wendy. Archaeological landscapes: constructed, conceptualized, ideational. In: ASHMORE, Wendy; KNAPP, A. Bernard (Orgs). Archacologies of landscape, contemporary perspectives. Malden: Blackwell Publishers, 1999. p.1-32. 30. \VANICUFIA SILA SANTOS, LA/IS CLALIDIO PEREIRA SYMANSKI F AUGUSTIN HOLL | ORGANIZADORES doso estudo da locasio e distribuigio espacial dos sepultamentos, Holl consegue definir trés fases de uso do cemitério, se estendendo de cerca de 1650 a 1796. Essa periodizagao permite ao autor abordar mudangas nas formas de sepultamento assim como na composicio dos individuos através do tempo, com foco em perfis de género, idade, ¢ condigdes de satide. O quadro que emerge é um retrato das cruéis condigées de vida da populagio escravizada da Nova York colonial. O arqueélogo Kedzo Gavua traz uma importante discussio a respeito das diferentes categorias de lugares relacionados & escravidao em Gana: as fortificagées relacionadas ao patriménio mundial, que atu- aram como entrepostos de cativos para o trafico Atlintico, como a for- taleza de Sio Jorge da Mina; o templo da Companhia Numero $ Abese, uma companhia paramilitar do sécule XVIII envolvida no comércio ¢ na escravidao; a comunidade Tabom, composta por descendentes de africanos escravizados no Brasil que retornaram a Africa, que se esta~ belece em Gana durante a primeira metade do século XIX; ¢ a colina Krobo, local de um assentamento de populagées diversas que buscavam refiigio da escravidao, Gavua chama a atengio para a multiplicidade de significados atribuidos a esses lugares por publicos distintos, realgando que essa multivaléncia ¢ fluidez de significados deve ser levada em conta tanto nos estudos de arquedlogos ¢ historiadores quanto nas politicas de valorizagao cultural relacionadas a esse patriménio, Defende, assim, uma agenda de pesquisas que seja ativamente engajada com as percepges € as demandas das diversas comunidades relacionadas a esse patrimdnio. Emanuel Ofosu-Mensah discute as conexées entre a regiao de ocupagdo Asante de Obuasi, em Gana, ¢ a regiio de Sabard, em Minas Gerais. Essas conexdes dizem respeito as evidéncias que apontam para a transferéncia da tecnologia de mineragio do ouro tradicionalmente em- pregada em Obuasi para a regido das Minas Gerais no século XVIII. O autor faz uma detalhada descricao das técnicas tradicionais de minera- cdo dos Asante, que incluem a bateia ¢ a mineragao de eixo ¢ de buraco, as quais foram também descritas por cronistas como empregadas pelos africanos escravizados nas minas de Sabara durante o periodo colonial. A partir de suas pesquisas, Camilla Agostini e Marcos Abreu, analisam duas partes do mesmo processo ¢ do mesmo drama —o modo ANgTOUOGIAEMISTORLA DA CUTURA MLETERIL NA AFRICA XA DUSPORA AFRICANA 31 de escravizag4o de meninos no Baixo Congo ¢ a chegada desses ao li- toral sul do Rio de Janeiro, no século XTX. Redes se articularam, de forma complexa, em ambos litorais do Atlintico Sul para responderem as demandas do trafico clandestino de pessoas escravizadas. O artigo esti baseado em fontes de natureza linguistica, achados arqueoldgicos, entrevistas, documentos cartogrificos, relatos de viagens, testamentos, documentos oficiais e didlogo com a historiografia mais atualizada sobre o tema dos agentes escravizadores. Foi discutida com bastante minticia, as diversas etapas do processo logistico para recepgao dos falantes de quimbundo € quicongo no norte fluminense. O estudo da paisagem das ruinas das praias ¢ ilhas que sobreviveram mostram a logistica da ilega- lidade do tréfico bem como o drama vivido pelos africanos na nova‘ terra onde viveram um segundo escravismo. Bruno Pastre analisa a paisagem do sitio arqueolégico da an- tiga capital do Congo, Mbanza Kongo, por meio de relatos e imagens deixados por viajantes dos periodos pré-colonial ¢ colonial ¢ da pesqui- sa etnolégica realizada por ele. Os conceitos de “paisagem ideativa’ ¢ de “lugar” foram mobilizados para analisar a formagio da paisagem de Mbanza Congo no século XTX. Para o autor, trés lugares estruturam a paisagem desse lugar pois sio referenciais histéricos para a populagao da ade. O primeito é 0 Kiudumbimbi,o lugar onde eram enterrados os reis do Congo, situado nas ruinas da igreja construida pelos portugueses no século XV, que tem sido desde entao local de ceriménia em reveréncia aos ancestrais. A Arvore Yala-Nkuwu, ou mulemba, que representa os elos entre as autoridades reais os espiritos da terra, isto ¢, na “paisagem ideativa” de Banza, a arvore é um elemento sagrado que representa 0 “lugar” de exercicio da justiga ancestral. Por fim, o Néotila Kongo, ele- mento fundamental na paisagem de Mbanza Congo. O Ntotila tem o poder supremo porque ele vive em Banza Congo ¢ também ¢ 6 media dor entre os mundos visivel ¢ invisivel. Assim, essas paisagens € pessoas sio considerados lugares sagrados pela populagéo que guarda a tradigio. Nesse sentido, fontes escritas e pesquisa de campo foram fundamentais para compreender essa triangulagao — os poderes sagrados do Ntotila, da mulemba ¢ do Kulumbimdi. 32 SANICLELA SILVA SANTOS, Ls CLAUDIO PEREIRA SYMANSKI E AUGUSTIN HOLL | ORGANIZADORES Cheryl White traz um interessante estudo sobre os quilom- bolas Saramaka que ocupam, desde o final do século XVII, a regito do alto rio Suriname, na Amazénia surinamenha. White propoe uma pesquisa interdisieplinar, eneaixando a arqueologia e seu foco nos si- tios arqueoldgicos e na paisagem cultural envolvente com os métodos da antropologia cultural, da historia e dos estudos de ecossistemas que envolyem © mapeamente participativo, Para tanto a autora conta com 9 envolvimento das comunidades locais Saramaka, que se torna funda- mental para se obter informagdes sobre os locais de interesse arqueolé- gico, sobre a histéria de ocupagio desses locais, ¢ sobre a significincia que atribuem aos diferentes tipos de sitios ¢ de vestigios arqucoldgicos. Realiza, assim, uma pesquisa de arqueologia participativa, coletivamente engajada e publica, que tem por propésito reconhecer a agéncia dessa populacio na escrita de sua prépria historia. A segunda parte do livro tem igualmente seis capitulos. Em veligiosidades, cosmologias, memorias e cultura material no Atlantico negro, ha uma importante discussao sobre a presenga do catolicismo no reino do Congo ¢ os didlogos culturais acerca da cosmogonia bacongo, assim como da religiosidade dos africanos na diaspora. As origens das culturas africanas no Brasil, abordadas neste livro, referem-se a duas regides da costa atlantica, Africa Central ¢ Golfo do Benim. O reino Congo € um dos temas mais estudados pela historio- grafia, devido a grande quantidade de fontes produzidas pelos proprios reis, missionarios, comerciantes, administradores portugueses, ¢ outros viajantes. A conversao do reino do Congo tem sido um dos temas mais intrigantes porque a conversio do rei teria levado 0 reino a tornar-se cristao. Hi varias interpretagdes sobre o tipo de cristianismo que se de- senvolveu no Congo, como a tese de John Thornton, que considera que desenvolveu-se um “catolicismo africano”, pais a dinamica da cosmogo- nia bacongo, na qual o mundo se divide em duas partes, o mundo dos vivos ¢ o mundo dos mortos, nao perdeu sua centralidade no Congo vom a conversio dos congueses ao catolicismo, porque havia um sistema correlagao entre as duas religides, especialmente as revelagées". Nesse 32 THORNTON, John. ct Africae os africanas na formagae do munde Atlintico. Rio de Jancio: _sab#OLOGIN HAMETORLADA CULTURA NATERAL NA AFRICANA DLASPORA AFRICANA 3B sentido, o texto de Marina de Mello e Souza apresenta um importante debate historiografico acerca dos significados dos crucifixos catélicos no antigo reino do Congo, dos séculos XVI ao XVIII. A autora utilizou-se de um rico acervo de fontes eseritas deixadas pelos europeus ¢ congue- ses, fontes visuais produzidas naquele periodo, bem como de achados arqueoldgices do século XX, a partir dos quais apresenta um importante debate historiografico acerca dos significados dos crucifixes no antigo reino do Congo, dos séculos XVI ao XVILI. Para a autora,as figuras que aparecem nos bracos dos crucifixes sio os bisimbi, figuras que represen- tam os espiritos da natureza, simbolizados pelos gémeos ¢ 0 poder dos chefes mortos. Para a historiadora da arte, Cécile Fromont, com quem Marina de Mello e Souza dialoga, as figuras nos bragos seriam figuras “ancilares” ou permedveis que vivem entre o mundo das vivos ¢ dos mor- tos. A cruz, um elemento importante do cosmograma bacongo, desde muito antes da chegada dos europeus, ¢ tomada como objeto de estudo da cultura visual para acessar os dialogos estabelecidos com os europeus ¢a insergao de elementos comuns as duas religioes. © tema das religides africanas ¢ importante porque, desde o inicio do século XVI, os relatos de viajantes europeus sobre as praticas religiosas dos africanos denunciavam estas como sinais de “gentilida- des”, superstigao, feitigaria e adoragao de falsos deuses (idolos). Nas l- timas décadas, antropélogos e historiadores tem buscado rever as fontes ¢ produgées curopeias que restringiam o olhar sobre a religiosidade afri- cana ao discurso cristao da idolatria. Essa mudanga de olhar, bascada em novas perspectivas tedrico-metodolégicas, tem sido fundamentais para retirar a ideia de feiticaria como conceito-chave da histéria intelectual europeia e para compreender a religiosidade africana’. Sobre as tradi- oes de origens africanas no Brasil, tanto centro-africana quanto do Golfo do Benim, tema bastante estudado por historiadores ¢ antropdlo- gos brasilciros ¢ estrangeiros para compreensio das herangas africanas no Brasil, |, temos aqui importantes contribuigdes no campo da cultura material ¢ da histéria. Elsevier Campus, 2004. 33, PARES, Nicolau. O pai, ¢ ie a Morte. A religido Vodum na Antiga Costa dos Escravos na Africa Ocidental. Si Paulo: Cia, das Letras, 2016, 4 ‘se Fin v4 4705 rs cLbuorragaRa sans cesT ion. | onGANIZAORES O primeiro capitulo desta segunda parte é um didlogo em tor- no das recriagdes de praticas religiosas da Africa Central no Brasil. O texto de Luis Claudio Pereira Symanski e Flivio dos Santos Gomes dis- cute as pesquisas arqueoldgicas realizadas na senzala da fazenda Santa Clara, localizada na regio produtora de café do vale do Paraiba. As escavacdes revelaram uma escassez material que contrasta com a abun- dancia de itens materiais encontrados nas senzalas ja pesquisadas de regides produtoras de agticar do Sudeste e Centro Oeste. Para os autores as razGes dessa escassez dizem respeito ao controle dos proprietarios so- bre a alimentacao dos escravizados e a tentativa de supressao, assim, de uma importante feigao das praticas culturais africanas. A presenga, con tudo, de determinados itens como niicleos e lascas de quartzo e escéria de ferro seria indicativa da manutengao de valores que sdo amplamente compartilhados nas sociedades centro-africanas das quais muitos dos escravizados tiveram origem. Tais valores dizem respeito a uma cosmo- logia centro-africana relacionada ao ferro ¢ aos poderes sobrenaturais que eram associados aos ferreiros. Os autores finalizam o texto discutin- do o papel crucial que tais sistemas de crengas exerceram nas rebelides de escravizados que emergiram nessa regiio em meados do século XIX. No artigo, Objetos religiosos de marfim Iorubas nas caleyées de arte africana ocidentais ¢ na didspora Africana, Vanicléia Silva Santos e Tukufu Zuberi, analisam sobre a importancia do marfim para manufa- tura de objetos para o culto divinat6rio de If no antigo Reino do Benin (atual Nigéria) ¢ na diéspora africana, A andlise se detém nas pontei- ras ou bastées divinatorios, feitos de marfim, chamados em ioruba de iroké Ifa. Com base em pesquisas em acervos da Europa ¢ dos Estados as de antropélogos realizadas no Benin ¢ na Bahia e também em fontes eserit: Unidos, onde ha exemplares da referida pega, pesq 08 autores tomam 0 objeto de marfim para mostrar a prioridade de seu uso pela realeza ¢ pela alta hierarquia dos babalads no Reino do Benin e a sua sobrevivéncia cultural na Bahia, onde o iro&é também foi empregado para a consulta de If’. No ambito do amplo debate sobre os marfins “afro-portugueses”, que privilegia aspectos do hibridismo cultural de simbolos africanos ¢ curopeus presentes nos objetos e a suposta deman- _MggLOLOGUA EHISTOMLA D4 CULTURA MATERIAL NAAFRICAE SADLASPORA AFWICANS, 35 da que definia o tipo de objeto confeccionado, a proposta desse capitulo parte de outro problema — a producao, a simbologia ¢ o uso do froké If para a comunidade religiosa dos babalaés, mesmo que mais tarde te- nham sido levados para compor colegdes ocidentais. Como no capitulo anterior que trata de objetos de culto divinatério na Bahia, de origem ioruba, Samuel Gordenstein também faz referéncia a cultura material de origem jeje ¢ ioruba presente em um terreiro de candomblé urbane do final do século XIX, localizado no pordo de um sobrado de Salvader. O cuidadoso trabalho arqueoldégico permitiu a evidenciagao de uma série de conjuntos materiais rituais (potes, ossos de peixe ¢ de animais como porco e vaca, moedas, corais, ferro e outros itens) que foram enterrados em todos os recintos. O autor se utiliza de analogias etnogrificas refe- fentes aos rituais de praticas passadas ¢ atuais, realizadas nos terreiros de candomblé baianos, assim como de informagées orais de especi dessa religido ~ pais e mae-de-santo — para discutir as caracteristicas ¢ significados dos referidos conjuntos ¢ de suas fangées relacionadas a prote¢ao e consagracao do solo para a pratica ritual. A terceira parte deste livro trata dos ornamentos ¢ simbolismos na diispora africana. Objetos de protesio foram largamente utilizados pelos africanos em seus contextos de origem ¢ também na didspora, com a finalidade de proteger o corpo das doengas, dos maus espiritos ¢ da morte, Elencd-los aqui tomaria uma longa lista de trabalhos sobre esse tema. Acerca do Brasil colonial, o mais estudado objeto da cultura negra foi a bolsa de mandinga, um amuleto confeccionado em couro ou tecido, dentro da qual eram inseridos elementos do mundo natural (pedras), ani- mal (pedacinhos de ossos) assim como objetos catélicos, como héstias, pedagos de pedra de ara e papelinhos com oragdes catélicas. A bolsa de mandinga foi imensamente utilizada por brancos e negros, mas recafa so- bre os negros a fama de serem talentosos produtores das bolsas. As bolsas também se tornaram muito conhecidas porque a Inquisig¢%o portuguesa clegeu esse objeto como simbolo da superstigao ¢ das praticas gentili- cas que atrapalhava a conversdo dos africanos da Alta Guiné ¢ também aparecia na América como um poderoso instrumento de protecio dos corpos dos africanos, que competiam diretamente com os objetos religio- stas 36 [VANICUENA SILL SANTOS, LUIS CLAUDIO PERFIRA SYBANSKI E AGUSTIN HOLL | ORGANIZADORES sos autorizados pela Igreja Catélica, como escapulirios, reliquias sagradas etc.*, Outros objetos usados por africanos ¢ descendentes, como colares e braceletes, feitos de contas de vidro ¢ missangas, balangandas compostos de diversos materiais e joias foram vistos durante o periodo escravista mais como elemento de ornamentacao do que simbolo de religiosidade e de identidade, Contuda, novos estudos, como o de Isabela Suguimatsu co de Rogéria Alves mostram que joias feitas em metais caros como ouro ¢ prata combinados com elementos da natureza como os corais, ou puramente feitos de missangas e contas de vidro eram usados para além da sua aparéncia estética. Os adornos eram também simbolos de poder e autoridade, bem como podiam expressar a religiosidade. A partir do estudo de inventirios de africanos escravizados em regides mineradoras de Minas Gerais, o capitulo de Rogéria Alves mos- tra que 0s materiais mais recorrentes dentre os bens dos africanos eran marfim, ouro e coral. O ouro foi usado em forma de joias e de objetos re- ligiosos. Os corais foram empregados em braceletes e colares, associados em metais como ouro ¢ prata. O marfim foi utilizado para manufatura de imagens marianas e brincos. Este ensaio aponta para as possibilida- des de africanos, africanas e seus descendentes terem utilizado os mate- ais como forma de distingao social no ambiente em que viviam, como reserva de economia ¢ como referéncias ao contexte original de onde vieram ou aprendidas na didspora. © estudo de Isabela Suguimatsu tem por objeto, ou, talvez, mais adequadamente falando, por sujeito, as contas de colares que foram utilizadas pela populagio escravizada da provincia do Rio de Janciro oitocentista, com base, por um lado, em fontes histéricas como relatos de viajantes ¢ antincios de jornais, ¢, por outro, no material arqueolégico 34 SANTOS, Vanicléia 8, Arqueologia das bolsas de mandinga: cultura material da didspora Atlantica: artefatos Africanos de protesio no Brasil colonial. In: AGOSTINI, Camilla (Org.). Qbjetos da escravidas abardagens sobre a cultura matertal da escravidae ¢ seu legads, 1, ed.v. 1, Rio de Janciro: 7Letras, 2013. p. 221-244; SANTOS, V. S. Mandingueizo nao é Mandinga:© debate entre nagdo, etnia ¢ outras denominagies atribuidas aos africanos no contexto do trifico. I PAIVA, Eduardo Franga SANTOS, Vanieléia Silva, (Ong.), Africa e Brasif no mundo mederno, 1 ed.v. 1, Sdo Paulo: Annablume, 2012, p. 11-27; SOUZA, Laura de Mello ©, O diads ea Terra de Santa Cruz: feitigaria ¢ religiasidade poputer no Brasil colonial, Sao Paulo: Companhia das Letras, 2002; LAHON, Didicr. Inquisicio, Pacto com Deménio ¢ “magia” africana em Lisboa no século XVIII. Topoi,n. 8, v. 5, 2004. ARQUPOLOGIA F HISTORIA DA CULTURA MATERIAL NA AFRICA IE NA DLASPORA AFRICANA 37 exumado de diferentes setores da senzala do Colégio dos Jesuitas de Campos dos Goytacazes. Com base no principio da simetria da teo- ria do ator-rede de Bruno Latour”, a autora destaca a capacidade de agéncia desse material que vai além do dominio representacional, tendo exercido um papel central na constituigdo das identidades e da prépria nogao de pessoa mantida pelos escravizados. O capitulo de Patricia Letro de Brito aberda, igualmente, con- tas de colares utilizadas por escravizados, porém, nesse caso, aquelas exumadas de Cais do Valongo, no Rio de Janciro imperial, que foi o principal porto de entrada de africanos nas Américas durante a primei- ra metade do século XIX. A autora delineia o comércio desses itens na cidade ¢ as formas como a populagio escravizada ativamente participou do mesmo. A seguir, demonstra como a grande popularidade de deter- minados tipos € cores de contas relacionava-se a concepgoes estéticas dessa populagao. Desse modo, segundo a autora, os escravizados foram capazes de influenciar na farmacao de um mercado grandemente volta- do para eles e, assim, gerenciado por suas préprias expressdes de gosto. A quarta e ultima parte deste livro aborda O espago domeéstico da comunidade africana e afrodescendente, como lugares de negociagoes de conflitos € de sociabilidades. Apés os anos 1980, com o aumento considerativo dos estudos sobre a escravidao no Brasil, os historiadores passaram a dar maior ateng&o a agéncia escrava, assim temas como a familia, a religiao, a vida material dos escravos e de seus descendentes ¢ também a moradia escrava, considerando estilos arquiteténicos e pa- drdes de relacionamento e sociabilidades”. Este livro traz duas impor- tantes contribuigdes para este debate: o capitulo de Mateus Resende, que tem como base empirica os registros de batismo e listas nominativas 35. Ver: LATOUR, Bruno. Reascembling she social: an introduction to actor-network theory. Oxford: Oxford University Press, 2005. 36 SLENES, R. W- Na senziala, mea flor, Esperancas e recordagdes da familia eserava — Brasil Sudeste,século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999; FARIA, Sheila S. deC. Fontes textuais ¢ vida material; observagoes preliminares sobre casas de moradias nos campos dos Goitacazes, sécs. XVIII ¢ XIX. Anais do Museu Paulista. Histéria e cultura material, Sio Paulo, Nova Séric, nl, p 107-129, 1993. MARQUESE, Rafael de Bivar, Moradia escrava na cra do trifice ilejgal senialas rurais no Brasil ¢ em Cuba, ¢. 1830-1860. An. mus. paul, So Paulo, v.13, n.2, p. 165~ 188, dec, 2008, DOK: hrep://dx.doi.org/10.1590/$0101-47 142005000200006. Disponivel em: chttp://wmwsciclo.br/sciclo. php?script=sci_arttext&pideS0101-471420050002000068dng=" nicarm=iso>. Acesso em: 15 set, 2017, 38, VANICLEIA SILVA SANTOS, LUIS CLAUDIO: PERERA SYMANSKI E AUGUSTIN HOLL | ORGANUZADORES de homens ¢ mulheres escravizados, forros e brancos livres para andlise da estrutura relacional das redes de compadrio constituidas no Vale do Piranga, Minas Gerais, no século XIX. A pia batismal, assim como os espacos domiciliares so evidenciados, ao mesmo tempo, como lugares de construgio de lagdes de sociabilidade e de compadrio na sociedade escravista, Resende explora, por meio de mapas/organograma, a rede relacional de trés mulheres libertas ¢ os lagos delas com a comunidade afrodescendente ¢ os seus escravizadores porque essa teia era importan- te elemento de sobrevivéncia no universo escravista, O ultimo capitulo deste livro, que foi escrito por Fernando Myashita, discute uma série de questoes relacionadas aos usos e trans: formag6es no espago das senzalas no Brasil, que tém sido abordadas com base no uso de fontes documentais e arqueoldgicas, com o propé- sito de abordar o caso da senzala do Colégio dos Jesuitas de Campos dos Goytacazes. O autor aborda, por um lado, as distintas formas de organizagdo desse espago ¢ as continuidades e mudangas pelas quais eles estiveram sujeitos, em detrimento das tensdes ¢ negociagbes entre a casa grande ¢ a senzala. Ele chama a atengiio para os usos do espago externo as habitagdes, sobretudo os quintais, que podem ter sido mais habilmente agenciados pelos escravizados em contraste com a disposi- io e estructura das unidades de habitagio que compunham as senzalas. Por fim, com base no caso da senzala do Colégio dos Jesuitas, ele dis- cute as possibilidades de estruturagao desse espago com base em uma hierarquia ocupacional de seus habitantes, que separava aqueles que do- minayam oficios especializados (que teriam maiores possibilidades de obter alforria) dos demais cativos. Tal situagao acabava por ressaltar as ambiguidades € tensdes com o dominio senhorial, resultando em fugas ¢ outras formas de resisténcia aberta que foram documentadas para o caso em questio. Finalmente, este livro traz importante contribuigSes de diver- sos paises, sob diversos temas acerca da Arqueologia e da Historia da populagdo negra na Africa e na didspora africana. Esperamos que esse esforgo possa ampliar o conhecimento acerca dos conhecimentos lev: dos pelos africanos para a didspora ¢ que novas investigagdes venham iluminar esse campo de investigagio. SOBRE OS AUTORES AUGUSTIN HOLL ¢ professor do Departamento de Antropologia ¢ Etnologia da Universidade Xiamen (Fujian, China); Diretor Adjunto do Centro Nacional Francés do Instituto de Pesquisa Cientifica das Ciéncias Humanas ¢ Sociais (Paris, Franga) ¢ Presidente do Comité Cientifico Internacional da UNESCO para elaboragio do IX Volume do Historia Geral da Africa. BRUNO PASTRE MAXIMO Doutorando em Antropologia, ha- bilitagio Arqueologia, na Universidade Federal de Minas Gerais ¢ Mestre em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Sao Paulo. Desenvolve pesquisas sobre narrativas da paisagem arqueologica em Guiné-Bissau ¢ Angola. Email: pastrebru- no@gmail.com CAMILA AGOSTINI Mestre em Histdria pela Universidade Estadual de Campinas e Doutora em Historia pela Universidade Federal Fluminense. Professora adjunta no Departamento de Arqueologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Organizadora do livro Objetos da Escravidao: abordagens sobre a cultura material da escravidao ¢ seu legado. Desenvolve pesquisas nas areas de teoria ¢ método em praticas interdisciplinares, estudos de cultura material, historia social da cultura e arqueologia dos séculos XIX ¢ XX. Email: camilla.rio.br@gmail.com CHERYL NICOLE WHITE Doutora em Antropologia pela University of Florida. Professora efetiva da Anton de Kom Universiteit Van Suriname. Desenvolve pesquisas sobre quilombos e arqueologia da diaspora africana na regiio do Caribe, Email: enw37@hotmail.com EMMANUEL ABABIO OFOSU-MENSAH Doutor em Histéria pela University of Ghana, Legon. Professor do Departamento de Histéria da mesma universidade. Desenvolve pesquisas sobre histéria da minera- a0 em Gana € no mundo Adintico. Autor do livro Gold Mining in Adanse: pre-colonial and modern. Email; eaofosu-mensah@ug.edu.gh 456 VANICLELA SILVA SANTOS, LUIS CLAUDIO PEREIRA SYMANSK] F AUGUSTIN HOLL | ORGANLLADORES FERNANDO SILVA MYASHITA Mestre em Antropologia, con- centragio em Arqueologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve pesquisas sobre arqueologia da didspora africana arqueo- logia publica e colaborativa. Email: fernandomiyashita@gmail.com FLAVIO DOS SANTOS GOMES Mestre ¢ Doutor em Histéria Social pela Universidade Estadual de Campinas. Professor do Instituto de Histéria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Autor de va- rios livros, coletineas e artigos em periédicos nacionais e estrangeiros. Desenvolve pesquisas em historia comparada, cultura material, escra- vidio, histéria da educagae e instituigdes escolares para escravizados e libertos no Brasil oitocentista, ¢ pés-emancipagio nas Américas, espe- cialmente Venezuela, Colombia, Guiana Francesa ¢ Cuba. Email: esera- yo@prolink.com.br ISABELA CRISTINA SUGUIMATSU Mestre em Antropologia, concentragio em Arqueologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve pesquisas sobre arqueologia da escravidio, corpora- lidade e identidade. Email: zorabela@gmail.com KODZO GAVUA Mestre em Relagdes internacionais pela University of Ghana, Legon e Doutorem Arqueologia pela University of Calgary,Canada. Professor do Departamento de Arqueologia ¢ Estudos do Patrimonio da University of Ghana, Desenvolve pesquisas sobre arqueologia publica, et- noarquelogia, antropologia visual ¢ antropologia econémica. Organizador do livro Politics of Heritage. Email: kgavua@ug.edu.gh LUIS CLAUDIO PEREIRA SYMANSKI ¢ professor Associado do Departamento de Antropologia ¢ Arqueologia da UFMG e coorde- nao projeto “Arqueologia da Diaspora Africana em uma Perspectiva Comparativa: os contextos do Oeste ¢ Sudeste do Brasil ¢ as origens das culturas africanas diaspéricas”. MARCOS ABREU LEITAO DE ALMEIDA Mestre em Histéria Social pela Universidade Estadual de Campinas e Doutorando em Histéria da Africa na Northwestern University. Desenvolve pesquisas ARQUEOLOGIA E HISTORIA Da CULTURA MATERIAL NA AFRICA ENA.DIASPORA AFRICANA. 457 sobre Histéria do Mundo Atlintico, especialmente do trifico negreiro ¢ da diaspora africana no século XIX, com énfase na histéria social das linguas aficanas e do contrabando negreiro (1831-c. 1850). Email: mar- cosrrs21@gmail.com MARINA DE MELLO E SOUZA Doutora em Historia Social pela Universidade Federal Fluminense e Professora do Departamento de Historia da Universidade de Sio Paulo. E autora, dentre outros livros de: Reis negros no Brasil escravista, Africa ¢ Brasil africano,e Além do Visivel. Poder, Catolicismo e Comércio no Congo e em Angola (séculos XVI ¢ XVII). Desenvolve pesquisas sobre historia da Africa Centro- Ocidental dos séculos XVI ao XIX, com atengio especial aos temas li- gados 4 presenga do catolicismo entre os povos centro-africanos € suas articulagdes com 0 comércio € com as organizagées politicas. Email: marinamsouza@usp.br MATEUS REZENDE DE ANDRADE Mestre e Doutor em Historia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador do Department of History, College of Arts, University of Guelph, Canada. Desenvolve pesquisas sobre sociologia histérica, economia e populagio, demografia historica, histéria da familia, sociedades escravistas, andlise de redes sociais, mobilidade social, hierarquias e desigualdades, geogra- fia histérica ¢ histéria do espaco. Email: mateus.rezende@gmail.com PATRICIA CAROLINA LETRO DE BRITO Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janciro ¢ Doutoranda em Antropologia, concentragao em Arqueologia, da Universidade Federal de Minas Gerais, Desenvolve pesquisas sobre arqueologia da didspora africana, arqueologia urbana ¢ arqucologia da mineragao, Email: pat_letro@yahoo.com.br ROGERIA CRISTINA ALVES Mestre e Doutoranda em Historia Social da Cultura pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora do Departamento de Educagao da Universidade do Estado de Minas Gerais, Bolsista da Fundagao de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas 458 asic AA SILA SA, Hs CLALINO PERTH SYMANSAT E AUGUSTIN HOLL LORCANIZADORES. Gerais (FAPEMIG), pelo Programa de Capacitagio em Recursos Humanos (PCRH). Desenvolve pesquisas sobre a circulagio de marfim entre Angola, Brasil e Portugal. Email: rogeria.alves@uemg. br SAMUEL LIRA GORDENSTEIN Mestre em Arqueologia Historica pela University of Massachusetts at Boston e Doutor em Antropologia com concentracao em arqueologia pela Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisas sobre arqueologia da didspora africana, antropo- logia do patriménio, arqueologia urbana ¢ turismo cultural. Email: sa- muel liragordenstein@gmail.com VANICLEIA SILVA SANTOS ¢ professora Associada de Historia da Africa da UFMG, No Brasil, coordena o projeto internacional “African Ivories in the Atlantic World : a reassessment of Luso-African ivories” ¢ é membro do Comité Cientifico Internacional da UNESCO para ela- boragao do IX Volume do Histéria Geral da Africa.

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