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10 * Pés-graduando da Goografia - USP. “tn: Cadernos da ‘ldade de So Paulo. Largo Séo Bento Viaduto Santa Efigénia - Banco lta - Fev. de 1993, Paisagens ~ Ano 1/N't Pesquisapor Convmapo: Anselmo Alfredo * RENovagAo po Centro ou Espago "Estatista” po Capitan ? ‘L’action étatique ne se borne done pas & gérer par les voies institucionelles et administratives |’éxistence sociale et ‘privée’ de millions de gens, les ‘citoyens’, les ‘sujeis’ politiques, Elle procéde parune voie plus inderecte mais non moins efficace en se sevant de cet instrument privilégié: V’éspace." (Henri Lefebvre), F comum nos dias de hoje ouvirmos falar da importincia do centro ‘metropolitano de S40 Paulo para a lade como um todo, Caso sua importine'a fio seja colocada exclusivamente segundo aspectos econémicos, vale 0 discurso ce preservagiio do patrimdnio que este coniém, Isto como forma de conservagao do passado hist6rico de uma sociedade especifica. O processo dle desenvolvimento e eresci- ‘mento de Stio Paulo sempre se deu a partirée exigéncias inerentes asnecessidades de ci culagio ¢ produgo de mercadorias queres- tabeleceram, através de agentes, uma espect- fica conformagao do espago da cidade, Ba partir da segunda metade do século XIX queacidade tem um novo cenfrio atrs~ ‘vés_ da entio nascente industrializagao, O poder péblico, por um lado, cria um imaging tio de progresso através da imitagao de ar- quitetura européia - o Largo So Benlo 6 modelado segundo moldes franceses'- cons- tituindo assim um vira ser jé presente, ou seja, ‘o processo de transformagiio social eriado per cum desenvolvimento tecnolégico deste perio- do jase fazia como presente e representava seu sentido final na medida em que ganhava, nas formas arquitetOnicas, um nexo de mo- dernidade, de integragao ao tio distante mun- do desenvolvido. O futuro jase inseriana con- formagio do presente. O pasado comega a se apresentar como o velho, o rememorado, ‘oposto a esta modemizagao, valorizado como ‘monumento, meméria institucionalmente pre- servada, referéncia do atual como superagio do anterior, Isto porque as formas estéticas que nfo correspondiam & necessidade da produgao de mercadorias seriam entGo arra- sadas, embora e somente, restassem festermu- hos. Por outro lado, as instituigdes piblicas remodelavam 0 préprio sentido da rua, O andar ¢ © encontro motivado pelas ruas estreitas © casas proximas, que permitiam ‘uma maior sociabilidade substitui-se pelas grandes avenidas onde o trajeto, 0 movi- ‘mento ritmico de carros e pessoas, mercado- rias ¢ trabalhadores dao uma nova modela- Nae Ap ete gemajorma urbana, A expresstioméxima disto talvez seja o Plano de avenidas de Prestes Maia ¢, atualmente, o projeto de ttineis realizado pelo governo Maluf. Contudo, esta discussio tentar-se~a limitarao sentido que a atual administrago dé ao centro de Sto Paulo, através da Associagdo Viva 0 Centro, a partir de minha propria experiéneia como repre- sentante da AGB-SP na CPPU (Comissiio para a Proteglo da Paisagem Urbana) no ano de 1996, principal mote desta intervengiio no centro, baseia-se na sua revitalizagao, preservacdo da meméria ¢ dissolugo do “eaos”? desta regiti, Isto seria de extrema importincia para Sao Paulo jé que, segundo a inteng&o oficial, é a tinica forma dela se inserir na globalizagao do século XXI. Para 08 6igio oficiais, é no centro metropolitano onde as “contradig6es do processo de metropolizagio se apresentam de forma ‘mais aguda ¢ atual” “é 0 locus de onde deverio surgir as respostas para os formi- daveis desafios urbanisticos...”. Neste sentido prefeitura do municipio tenta criar, a partir do centro, um “projeto de cidade” ‘baseado em duas premissas: a insergaio de So Paulo na economia globalizada e uma maior participagtio popu‘ar no sentido de ‘que tal populagaio conheca os problemas do ‘centro, € atte no sentido de resolvé-los, Contudo, como ja dissemos, a elimi- nagio do caos se daria pela remogiio de lixos, eum uso mais “Funsional” desta érea ccujo mote principal baseia-se na legalidade do uso de espagos piiblico. Daqui depreen- de-se que a maior luta ¢ principal estratégia € a expulstio dos camels desta regio. Como diz um informe oficial: “O disei- plinamento das atividades dos camelds no Centro da cidade & condisio sine qua non para que 0 organismo eeondmico e social daregio nif se desintegre e, com isso, toda a metropole venha a sofrer um agudo proceso de decadéncia e anarquia”. ‘A beleza estética - preservagiio arqui- tetOnica - © funcional - disciplinamento - 11 2 Forma Urbana no sentido de LEFEB- ‘VRE, especiaimen- 3 Expressio uth Nada om boletine de érg8os oficals. Paisagens ~ Ano 1/N*1 © Bibliografia ASSOCIAGAO VIVA ‘0 CENTRO - In- Forme , Ns. 46-48; LEFEBVRE, Henri - Espacio y poll- ica: 0! derocho Ja cludad - Bar celona, Peninst- la, 1976, © diroito 3 eldade - S40 Paulo: Editors Moraes, 1° ed, 1991, Do L'stat contradic- tions d'état mo- dorne. La dlaloe: Tome IV - cap. V VI (pp. 286/402) -UGR, 1977. Palsagens - Ano 1 /N'1 ganham status de elementos decis6rios no processo de climinago das contradigoes que a cidade apresenta. O Centro garha 0 valor simbélico de uma cidade bem admi- nistrada, status da utopia urbana de umavida ‘melhor. Contudo, para que isto se realize 0 poder piblico identifica-se no outre, no inimigo pablico contra os quais todos devem se rebelar: a ilegatidade, ou de um modo ‘mais simples os camelos, A insergio na globalizagio seria a estratégia fundamental para a realizago desta vida melhor. E neste sentido que o poder piiblico visa criar, desenvolver un espago propicio ais novas formas cc reprodugio do capital. A justificativa para © estabelecimento funcional desta regio & tornd-la um espago mais atrativo para a inversio de capital. Esté para ser votado na Camara do municfpio de Sao Paulo a Operagdo Urbana Centro, a qual se beseia numa espécie de novo zoneamento urbano, © coeficiente de aproveitamento do solo urbano que hoje é de 3,5 residencial e 4 comercial (nas areas da Av, Duque de Caxias, Mercado Municipal, Praga da Sé, Av. Ipiranga) passaria para 8 ¢ 12(!!!) analisados caso a caso, segundo informe do assessor de imprensa da Viva 0 Centro, AA institucionalizagiio do espago, neste-caso do Centro, resulta assim numa hierarquizagio de usos, que éao mesmo tempo a insergéio de individuos ( ou da sociedade como um todo) numa moldura coetcitiva, Por qué? O espago piiblico aqui, ao tomar seletivo seu uso, real za-se como publicizagdo do privadot, pois ‘a pro-eminéneia dos interesses particulares (empresas de grande capital que terdo condi- ‘gBes de investr: setor imobiliério e hotcleiro, prineipatmente) realiza-se pela mediagiio do poder politico institucional nas relagbes soci- ais conformando uma hierarquia deuso ede satisfagdio das necessidades; o privao se re- alizana esfera piblica, caracterizando 0 po- der piblico como exclusivamente politico. Ha uma seletivizagio do uso na regio central que, no extremo, & a descaracterizagaio deste es- ppago como piiblico. O Estado, através de seu poder local/institucional, toma a regio cen- tral o suporte de interesses extremamente pri- vados. Huma centralidade burocrética que organiza os espacos de tal modo queos usua- rios tornam-se passivos - quando nfio hé em- bates - ¢ assim reproduzem sua existéncia desigualmente coneretizada, embora o diseur- 0 oficial seja de melhoria do caos dos espa- 608 pliblicos e outras bobagens como estas. Se a proposta € de que pelo Centro se resolvam as contradigdes metropolitanas, esta atitude nada mais é do que a exacerbagiio das mesmas. Embora os vendedores ambulantes, 0s “desocupados” ‘seam expulsos ou colo- cados em camelédromos - a expressio dos representantes oficiais & deque serio coloca~ dos em Shoppings populares - a sua condi- fo de oprimido, explorado, humilhado néo modifica, pelo contro se agrava, na medida em que sua agdo estar ainda mais sujeita as nor-matizagées de um estado que privilegiaa produgiio de espagos privados, homogenios, hierarquizados. A ago governamental pelo centro, agrava a contradicdo centro periferia, jdque aos pobres cabe 0 uso de locais menos privilegiados. A melhoria da cidade nose dé, mais uma vez, sem se realizar pela opressiio dealguma parcela da pogulagdo, ou seja, sem negar a forma contraditéria do crescimento capitaista, Contudo, forma como se coloca a ques- {0 da renovagiio do Centro & pela via da nao iddentificagdo de ajeitos, forma crassa de ali cenagiio politica. Na verdade, 0 sujeito apare~ ce aqui através da transformago da metr6- pole em um organismo vivo, com vida einte- resses prOprios, eliminanco assim, até onde s¢ja interessante para a popularidade de cada ‘govern, aresponsabitidade do politico e, prin- cipalmente, esfuma os agentes desta agio. ‘Assim, “ametr6pole tem necessidades”, “ela influino cenério mundial’, enfim, ganha vidae aliena dos citadinos, no discurso c praticamen- tc, apossibilidade de identificagio daqueles ‘que executam as ages que reproduzem uma cexisténcia social desigual. 8 13 4 Expressio anota- da no curso Capita- lismo Contempor’- neo @ as Classes Socials, ministrado por Francisco de Oliveira, 199 “Expressio oficial rolatada om bole- iagao Palsagons = Ano 1/N®*

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