You are on page 1of 341
Ce oplor Cortyporde a prdacd” pire Ba domedicd dobar pure qqaede Qwr “ Cam? ie aoanjunes abet ee al, OO NEGOCIO DO MIGHT do. Viril em Sao Paulo Dissertacéo de Nestrado em Antropologia Social apresentada ao Depart Ciéncias Sociais do Instituto de Filosofia e Ciéneias Mumanas da Universidade Estadual de Campinas, sob orientacao da Prof? Dr? Mariza Corréa Campinas, 1986 UNICAMP BIBLIOTECA CENTRKA | | | A Marea Vorora Aarie A Mar por sev apoio nos tramos inicisis da pesquisas a Corr 8, pela sua orientauio; a Peter try, Jorge Schwartz, por seu porminents estimuloy x fats Oriani, Sucly Roinik, Maria Manuela Carneiro de Cunha, latiz Buarde Soares, Heloisn Pontes, por suas discusses do projetes a forge Reloqni, dodo Silverio Trevisan, Eduardo José de Sean, Antonio Carlos de Paria, Libians Marta Peenindes, Ludemar Lvangelista, Veriano Terto ¢, sobretudo, a Pedro pen colaboracée na Juta contra um persistente portunhel; vdes e snr indi el observe! suits de Souza, por 1 Edward MeKae diauco Mattnse, por suas sugestées © materiais de pesquisa; a Pedro Sunes, Roberto 5 vablow Piva, Darey Penteado, dee Melysir, per sh a Monique Augras, Graciela Barbero sus infornagdées Sara Torres, par seus comentarios erftivos; aos he i ¢ Ventondides" da noite paulistana, quc me guisram pelos iabirintos do gueto; 2 CAVES © & FAPESP, por se imprescinliveis Cinanciamente Angélica Campos Bastos ¢ Sania Regina Zan Guimardes, por sua datitografinea Naria Eloisa Pires Tavares, por sua revisio final; a Isabel Corbatio, pelo de- senho do plane. “Yormina = cmpieza - alguna cosa. Una experiencia se suclda con otra pero no se confunde - frato de un compromise particulars no repetir os Ta const ra seguir investigands donde el comino se taterr Oven siests hubra de revetar lo gue otres escondieron o most raron pore ne supimos describirs w veces sucetis aunque no durara. Los signes muitiplicur neue’ cabal Conveimienta imped por cireuystancia diletocias pocos wins, poca plata. Asi Gatsby 0 Stahy contemplan lu expuesta en Ja vitrina de un café, ROBERTO ECUAVARREN, "Au 1985, p.89) AG INTRODUCAG Ubiero un A Hesquis. we 48 Perspectivas s...eee- : fence eee . : PRIMBZRA PARTE - ETNOGRABLA BAS MARGENS UAPITULO 1 = 0 GUETO BA BOCA cco cece cece cece eect eee eee BF A Regifio Moral .... ne + A Boca do Lixo bu @ Guete Gay a CAPTPOLO FL = TRANSEORMACORS NO ESPAGO URBANA: G GUPTO GAY PAULISTANO ENYRE 1959 E1984 0. 80 Perfedo p59/i97e Perfodo 1979/1984 . Micropotitica do "Coming Our” .. CAPITULO TTL Us Pontos Os Géneres . Os Clientes . Quadra Geral de Nomenclaturas Classi ltcatsrias A Varidvel Cor sieeeeeeee eee Quadros Gerais de Entrevistados SEGUNDA PARTE - 0 NEGECLO CAPTTULO TY = DERIVAS E UIVIRES cos... f+ Sexo NOmade - PSedentario vc c cece eee © Nomagismo Urhano ..cecceeese ee \ Reterritorial X Derive th ner sxe \ kstratégia da taquer b Apondice = Cinen nheiros .. = fleviy, Carreiea ou Trajerdris de Vide + listé APTIULO Y= AS TRANSAS . GQ Pispositive Libidinal vo... cee O Niserete Encanto da Sodamia ss. As Reiacdes “Horitontais" + Amor ¢ Comércio CAPITULO VE - O CONTRATO Lo... eee A Série ¢ A Série de © A Série de Rava + A Série GEMETO vee ee es \ Violéicia do Contrate 2. INTRODUCAL ORJETO Esta dissertacio trata dos velucionamentos entre um tipo particular de prostituto - conhecido con > miché na giria do "mundo da noite” paulistana - ¢ os seus clientes masculinos, mun circuito espacial determinado: o “gucte. pay" do contro da eidade de io Paulo © terno wiché tem dois sentides. Um alude ao ato mesmo de Se Prostituir, sejam quais forem os sujeitos desse contrato. Assim, & 4 expresso utilizada por quem se prostitui para se referir ao aro préprio da prostituicao. tim alguns contextos . espe clalmente entre prostitutas © travestis ~ 0 termo pode ser apli do tamhém ao cliente, uma segunda acepedo, 0 ter miché € usado para denomi- nar uma espécie sui generis de cultores da prostituicdo: vardes geralmente jovens que se prostituem sem abdicar dos Prototipos ges- tuais e@ discursivos da masculinidade em sua apresentacio per cliente, \ origem etimoldgica do termo é obscura. Aluizio Ramos trinta, na sua traducio de A Sombra de Di de Michel Mar (1985, p.120) relaciona, baseado no D onnaire Mistorique des Wrgots Francais de G. Esnauir, ("seio"), miches ("ndde- gas"), a Cldoenca venérea” niche ("o que paga o é michetonner ("pagar © amor"), Monique Augras (198 > ps 107) remete a fo termo ao argot francés, onde até hoje designa Mo homem que di dinheiro a muhere: para conquistar-Ihe os favo » Signifi- cado semelhante a9 recothide pelo Novo Diciondrio da Giria Brasi~ leira, uel Viotti (1987). Para Augras, esta duplicidade do termo desvelaria certa indistingao ca do mecanismo da prosti- tuteio, onde “quem vende se iguala a quem compra, Cunhamos a nocdo de pres para diferenciar esta variante de prestacio de servicos sexua em troca de uma re- Cribuicde ecomimien, de eutras formas vicinha Prostituicue how mosses, Gunto do esercida pete travesti = que “cohra al aache por sv aatifitecosa vepresontacide de fa feneneidud, a fa qhe no de son emis las turbideras turpencias del fetiche” (Pertuarher NISTh, p08) =, quanto de outros dois ce géueros Francamente minor ic Jest o homassexnal efeminudo 4 ep vende seu corpo Cchamele mich pichal, © am tipo de transicde, que pursce estar energindn inte Fimidan ©: 0 michG=gay Uh principte podersse-ia falar de uma especie de con Fincun sla prostituicie homoxsexual, que vai desde a “feminil: nde" dg travesti ats amy seulinidade" do wiehd. voréu, considerar so. parmiunente este Witiao nas suas refacoes vom clientes “hamas se xuais" (no sent ide cq avencional de termed, vicm de se sustentar em diferencias So mereadas phane empivice, permite ressaltar uma wisgular Circunstinein na gia! a maseutiaidade = tidw por “point ré obscur du discurse", Brent a partiy duquel se dégagent les EciPscitGs sexuettes™ (Queroail, 1978, pe102) = vol ser posta d venda no mercade recive do sexo. \s difercncas manifestas entre nerUSs “ma iere. OS os g de prostitutos se exphicitam nas desericdes seguintes rice de um travesti “D gue mais me impre Slonou vm Agatha foi o reste - parceia um Saquetes rostos que o cinema nort americana Cabrica esyt fine— (ro por cent ferro guidoude, aig Pair amis fein perfeican, Se cabelas Touros the cata en caseute até os unbrus. A pele volo era sedesu oe heonsedds = os seios, qrumfes Menitis, eran Vixerosamente cretos, Valtande ao rosto: os sigomas - as ‘po metes', como o shanuva = cepuxavan leveneate ws seus idhios, dando ao conj fo ul ar atrevide que os thos completavan — eran castanho-douridas" (Silva, rsisis, Elgves, Genet descreve assim o eneentre ite Seek Gorgut com Divén “Richa do relator, Seck precisava de slinkeive: nico catdo pa “Ele mantinha-se ereto, firme, se bem que a deus nenias de seeola nm na posigd muios joelhos ara wijar contra o lurando sobre os ty 1) Colossa de Kodes, que na pose ( pose mais vi- abertas pousadas sabre hotas, entre ios sentinelas: coxns as qusis, ele 2 atd a boca, cles agarran com as m§os fechadas um pbaioeta.” (Genet, 1984: 183) (fufase adicionall. Para superar a distincia entre travesti eo mich, abpuns autores recor analogia. Tanto Fry/MoRae (1983) quanto Otteni en "omic mom attr 60 travesti do bowen, LIVaHi coine td ar que issim como a travesti o & da muther'. Rechy C1980), um prostitute memarigso, extrem: este paralelo: "A bich#t se proteye enventinlo roupas de mother; 9 halterofisista se veste do aiisculos = ‘reaps coutas'. A anatogia pede ser valida enquent de hones , atinal de “auturesa® feminina on mas aponta que niio h& alge assin como sume culina - tretare de "construgdes” sux pertanéncia v, la se se estaria, ee melhor dos asiderar Qu ente atribuld eRsosy imste do travesti, © aa sexo bioliwico, a lim distanciamente, uaa ruplera vom es protétiyos rat, Ymplicard sestuais ¢ comportamoutais maseniimos = configaramdo acuso ama es~ pecie de “Movir amthert” (Gnattari, G81). Contrarianente, qualquer paderia, eventuaimente, Cuzer miché, sem inae de aye til orinai Curivge cuméreio, on pre: ? homem joes bn Corte na apardue ia maser tina (1h lina Dicha entrevistads exp Licu oss versatiiidade: recom todos mito michdes, rica em GUE cu trabalho, os homens p 3 que transan bicha. ACitL, cles pussam muito pouco tengo do di sendo o papel de 'narido oxemplac!: trabathan ito ou dea horas, lo: ficam i de os “normais" aparecem prostituindo-se para os "“desviantes". 5 Se, como quer Paul Veyne (1982 , cada pratica “lanca as objetivacées que ihe correspondew ¢ se fundamenta nas realidades do momento, quer dizer, nas objetivacdes das préticas vizinhas" (p.166), ndo se podem desconhecer certos mecanismos similares en- tre o negécio do miché e a prostituigdo de travestis © mulheres. No entanto, estudar autonomamente a pritica da prostituicao viril obriga a desfazer a costumeira associacdo entre a venda de favores corporais ¢ a feminilidad nseca (1982) a no se referir 4 prostituicao masculina, na sua flist6ria da Prosti- ©. Associacdo que leva, por exemplo, o ratar exclusivamente de travestis delegado Guido tuicdo om Siio Paulo - apesar de registrar 0 caso de cinco "pederas- tas ativos" Fichados na policia em 1923 (p.221). Bruckner ¢ Finkiel- kraut (1979) interpretam: "Si la prostitucién femenina se desarrol~ ja entre mujeres, seguirfan siendo las clientas las tratadas de ideramos prostituido no es putas tanto el cuerpo vendido como el cuerpo pues es evidente que lo que con enetrado. Sdlo alcanzan es- ta abyeccién 1as mujeres, 0, a falta de elias, los enculados” (ptt). Correlativamente, a pritica da prostituigdo viril - mui- ada do que a feminina - costuma carecer to menos institucionali miticamente a dos ares de fatalidade irreversfvel que impregn: condicdo de prostituta. Os michés no somente costumam encarar sua prdtica enquanto proviséria, mas descarregam sobre seus parceiros homossexuais 0 peso social do estigma. 0 fato de nio abandonar a cadeia discursiva e gestual da normalidade, Ihes possibilita ess recurso ... bebendo no bar, logo a viagem até a casa (os trens da periferia sao uma coi- sa fascinante, af di para ver como operarios muito misculos acabam transan- Go). Claro, quando eu me insinuo e 0s convido 4 minha casa, falam que so por dinheifo, so por tma nota... Nas eles nio so necessarianente michés; Be que qualquer macho pede dinheiro para dissimilar o [ato de estar tran- sando com un outro homem." itra diferenca destacdvel com a prostituicho Semin o dada peta habitual auséneia de proxenetas no meio dos rapazes de Litude ma is estrutural, que rua.) Haveria, alias, uma diss mete ao diferente status sociatmente atribufde a “machos" ¢ no caso da prostitu cio femin naa meas". Conseqlentemente, discurso social dominante, exploracao” da mulher é explicita a superioridade sécio-econédmica do cliente no negécic do mi sinpen ry pode aparecer, até certo ponto, ada" pela valo- comprad acdo do miché mascule em detrimento da inferiorizagéo do cliente picha". De modo globtl, 0 prostituto viril seria uma cho ou bofe, um varie q dentro de um tipo mais extense: 0 brir mio do protétipo miseulo, nem necessariamente se prostituir, se relaciona sexuaimente com “bichas” (ou seja, homossexuais efemi- nados). Esse modelo de relacionamento sexual intermascuiino & ico no Brasil. Trata-se de (como ji nostrou Peter Fry, 1982) elf cha é a solu de um medelo "popular" ou "hierdrquico” ("a sapato lo macho", condensa perante Fry uma das suas vitimas), conforne o qual os parceiros se classificam pela sua posicéo no coito. Mas es~ outro, "moderne" i ujeito ass. corréncia ca em c se modelo "bicha/macho" est iva se s ou “igualitdrio", onde j4 nao a biche efeminada ativo", mas um ido cone mete um bofe viril e eran sexual" (como os “entendidos" de Gu es, 1977) se relac homo: ssexual - modelo “gay/gay" na de igual para igual com outro hom Assim, a irrupcdo de um novo modeio classificatdrie (num mos historicamente, através de uma andlise das processo que levantal is no seio de gueto gay paulista- oriais e territoris muda de Barbosa da Silva - ec no entre 1959 - data do trabalho pioneiro 2) Nio se re entante, esse per dia carioca. jo de michés"" no gueto paulistan ainda em forna incipiente, na Cinel 1984), ao se deslocar © se superpor ao anterior, produz una proii- cate- feracho, confusio ¢ acentuada mutabilidade/precariedade da gorias. Essa oscilacdo atinge sua expresso categorial com a apa- rigdo, ainda incipiente, de um novo personagem: 0 miché gay ~ que, ainda que mindo" discursivamente sua condicgdo de homossexual, hos} © “maricoa, nio deixa de se prostituir para “coroas" (ve u principio, a andlis vai se centrar no michS-mesmo (nio interessa se fingidamente ou nio) nas suas relaq com clientes ais asculinos. Novamente, os lugares categori ¢ nao Se apresentan como entidades fecha as ¢ exciusivas, mas como a, de uma rede circulatéria, Assim, um miche - G pontos de um continus como os internos do Mettray yeneteano podera ser macho au variagdo poderd contexto ¢ bicha (ou gay) no outro; vezes, acontecer no mesmo espaso. Conta um mich “Cheguei numa fest com um cliente que cu transava; af is. Mas cu bebi de~ tinha boys (bofes, michés) ¢ maricon, mais © comecei a desmunhecar, ter trejeiros femininos, virei bicha, Af a bicha que estava comigo virou macho e m Os outros comecou a me disputar ¢ que queriam me come: Também pode acontecer q tenhan relagdes com mulheres, seja ou nfo por dinhoiro, Na drea da prostituicio de rua eminina & insignificante. que estudamos, a incidéncia da clienteia elas Cogem A respeito igdes Maio itutivas dos mich por Genet, 0 internos estavam divididos em “familias” conforme a idade: cada "fant lia” tinka tn “immio niaior’ que doninava, despética ¢ scxurimente, os sicnores. Mas este “irmio maior” podia ocupar un iugar de inferioridade na sua propria "familia", assim: "los her- manos mayores de las familias C y D eran siempre garzon de un bravo de 1a familias A y B" (Genet, 1980, p.239). (3) No reformatério de Metra lo campo do nosso trabalho; nao obstante, no ¢ ipitulo dedicady js ea clas. Porém, essa heteros- transas, referimos sumariamen invocada muito mais vezes do que efctiva- soxualidade pare nente praticada. Como os miches eat rey istatos Tem profundidade™ 0 clam, gihar-se de heterossexualidade soma pontos perante os ctieates, que, em grande parte, procuraa rapsices que Wo Sefam ho- mossexuais. Aqui nos encontramos com um primciro paradoxo due wal narear o negdcin todo. Num aprecisdyel admero de casos, es rapazes que se prostituen nao sdo ou ndo se considers homossexusiss ¢ ¢ exualidade vai de encontro & demanda dos clic) ta recusa da hom tes, 05 quais, como o grosso dos homossexuais mediterrancos, segus do Pasolini aman ou queren fazer amor com wn hetcrossexttl disposte a uma eaperieneia homossesual, mts cuja heterosexual ida- de ndo scja em absoluto questionada, Ele deve ser ‘macho! donde a falta de hostilidade para com 6 heterossexual que aceita a relagio sexual como simples experiencia ou com efeito, isso garante sua heterossexua lidade) (Pasolini, 1978, este primeiro paradoxo pode ser pensade como uma ma- neira de legitinar a transgressio do interdito que desestimula as praticas homossexuais (com raciocinios do tipo: “lu cobro para nao a esta permanente contradicao ¢ instabitidade passar por bicha") © ou niio homossexuais, ¢ is- (ja que nunca se sabe se os rapa sa constitui uma fonte de polémicas, conflitos, gozos ete.) , 0 ne- jécio do miché sona una outra pecutiaridade, que fas referéucis dliferenca de idades entre o prostitute e seu cliente. Im gera jdade cléssica para o exercicio da prolissio oscila entre os os 28 anos, emgikinto os clientes costumam ter mais de 35 anos = observam A minoridade econdmica ¢ sexual dos rap stir episodicamente a forma Sehérer ¢ Hocquenghem, 1977 - pode rev de prostituicio nas suas relagoes com varoe adultos, sem que isso se torne necessayiamente institucional, declarade ou sistemitico. Por outra parte, sendo a pedofilia sociatmente desestimilada, o pederastas maduros mio teriam As vezes outro recurso senae pagar para aceder a um objeto sexnal "rare", preso numa constelagaa de instituicdes custodiais: 0 adolescente. Esta depreciacio erética dos "coroas" uo 6 privativa das relacoes de prostituicdo viril, mis - como jd registrava Hooker (1973) no gueto gay de San Francisco ~ parece caracterts tica do que cla denomina o “mercado homossexual". Esse mercado ho- mossexual esti compost de massas de individuos a procara de um parceiro seaustl ocasional © sem compromisse (programa de uma_noi- te). O Nencontro de estranhos como fim essencial de fazer um uma atividade cordo para engajar sexual (paqueral ou crui- constitui, no dizer de Hooker, “um dos modelos mais padroni- ados © caracterfsticos do mundo homossexual"! ainda que seria também comum, achamos, As préticas estraconjuyais ¢ promfscuas em geral, préprias do “mundo da noite" - expressio de uso popular acaso preferivel A de "mundo homossexnal", que imagina o homos- sexualismo como um universo fechade ¢ contrastivo. 0 campo de circulagdes se urde om territérios mais ou me nos cireunseritos, cujos focos sido tanto bares, boates, saunas, ci- hemas © outras opgées de lazer consumista, como meros pontos de pas sagem © perambulacdo (pragas esquin, banheiros, estagdes ote.). Park concebe a nocio de “regia moral" para referir-se is zonas de perdigao ¢ vicio das grandes cidades (espécie de esgoto libidinal das megalépoles, condig&o residual que cco em alguns topsninos, como "Boca do Lixo"). © ato de que o "gueto" ou "nereado" homossexus esteja encravado no seio da "regido moral" - isto é, om relagdes de co tiglidade com outros "eddigos 198 territérios" (Meleuze ¢ Parnet, , p.140) marginais, ndo apenas tem conseqliéncias em termos de “paisagem" urbana, mas também em termos de “passagem" relacional. certo que os pontos de michés © bichas, ¢ os pontos de prostitu- tas © cafetoes, costumam estur sutitmente demireados. Mas os mi 16 chés ~ com freqU@ncia lumpens, desempregados, "desarraigados", so- , Que, Come apontava Riess (1965) a respeito dos hustle: americanos, "consideram sua atividade como um substituto aceitdvel de outras formas de delinqlléncia -, podem constituir uma espécie de. ponte entre as marginalidades sexuais e criminais. Essa proximidade com o crime se denota em certa disposi- cao & violéncia confiscatéria - ou predatéria - que, porém, nao se verifica em todos os casos. Essa violéncia pode ser constitutiva do protétipo de masculinidade encarnado pelo miché. Mas esses estouros podem surgir nio apenas como reacio perante "excessos" Limentarem nas efusdes Libidinosas dos clientes, mas também se de diferencas de status sécio-econémico, as vezes gritantes, entre © prostituto e o pederasta. Como examinaremos mais detathadamente, 0 quadro relacio- nat que esbocamos faz referéncia, grosso modo, a pelo menos trés grandes oposicdes bindrias (Deleuze e Parnet, 1980), que sobreco- dificam o socius global. Essas oposicées seriam - de idade (veihe/jovem); - de status sdcio-econémico {rico/pobre, ou ainda “integrado"/mar- ginalizado) ; - de género sdcio-sexual (masculino/feminino: bofe/bicha). Em torno basicamente desses trés grandes eixos vio se articular os atributos que se valorizam no negécio da prostituigdo viril. Para poder reconhecer nao somente os lugares ocupados pelos sujeitos na ceriménia do encontro, mas também situar a re- lacdo no entramado de um continuum "sexo-dinero" onde fluxos 1ibi- dinais sdo convertidos a segmentos monetdrios, sera preciso um di- latado percurso. En primeiro lugar, procurar-se-i situar o negécio num contexto histérico e geogrdfico, procedendo a uma “Etnografia das Margens™ (C pital 11, pa qual se monta un esquen histérico du erndican de “mete wate paulistang, Panta pea sna bee territar ial quanto vategorial, abrangenda os fitines 2h mos. Aosequir, nna etnoprafin das tereatdriv: © populacoes envelvides oo cireuito da prestituicue virtf. Tneluemese também in quadre geral de nonenelaturas classifiedtrias © um qidre gers de entrevistalos wiches, clientes o Ventendidos™, sepresalos sewn sovioldy do varidvei Jlesenvo ly pois wm tentative de nuvimentar a ann — transerigie addline dos dre situacional, dividile ou "Nerivs mocunismos de abordagem cntre prostitutos ¢ clientes, ds porspec- tiva do nomadiame urhano - 6 "Devieest. pu sejn, as trajetorias existoneiais de alguns prostitutes que poder-se-ium considerar co~ mo "modetares’. Xo Cupttulo seguinte, "As Transas", introdus-sc uma dis- cussde wis iedrica, [0 Dispositivo bikidimal", que preteade for- never subs ilies paca entender os destcamenton de deseje ae ebdi~ da prostituicio. Abordamos logo - seb o tftuta de “8 discrete encanta da sodomia’ = amt temirien mais etnogrdtica, tentando dis- eutis a centrstidade do coito anal es s derivacdes, entre outras "técnicas corporais". No momento préximo, fala-se a respeito dus relagdes "hovizontais” dos mighés (com outros mich@s, com malan- dros, com mulheres), para passar @ andlise de algumas relagses mais protongadas entre prostitutes ¢ clientes, sob o puradigma “tio/sobrinho" Aborda-se, entdo, & mancira de condensacio, a distribut- cio dos atributes ao contrato da peostituicae virit, conforne un series: de idade, de el esquema experimental de trés ey de yene~ ro, © uma quacta Mocultal: rac. Sus conelusdes, procuracsey basicamente extrais postuta- dos tedricos velevantes para a questdo, dinde conta dos processas ale dosterriforidlicacdo e reterritoerialisacde que marcan, nes caso espectfico, a conversio econdmice-libidinal, quanto das pe culiares comlicues dessa troca,y onde corto desmesrady impulse de perda = que fas Lembrar as andl abre o potlatch de Mauss ¢ Kalai lle - se coaduna com uma proliterante “paisae pelo codigo, pernitindo ver como o desejo “investe" as regras sociais, ou & capturato por clas. Mostrar um caso singwlar onde intensidades pulsionais ¢ nornas Sociais se agenciam, misturando-se quase que inextricavelmen te, pode ser considerada # aspiragio final da dis ertacao. A_PESQUISA Os dados foram tomados na drea do centro da cidade de So Palo, que configura uma especie de “yueto gay" eneravade no seio da "regia moral", © cothidos a partir de observacgoes de cum po realizadas entre marco de 1982 ¢ janeiro de 1985. A pesquisa nio se pretende estatistica - 0 infreqliente recurso 4 aritmética tom apenas um valor indies oO. A investigacio pode se definir co- mo tiva ec qualitativa. 0 método utilizado para as observacées concorda com essa caracterizagde da pesquisa. Primeiramente, procedeu-se i delimita- cio de um territério (ver Planta, p. ), privilegiando a prosti- tuicdo de rua sobre as formas fio em locais fechados Je prostitui (saunas, boates, bordéis, casas de massagens}. Nido obstante, se incluem alguns dados dessas var antes de prostituicio a nivel com- parativo, Im segundo lugar, recorreu-se as téenicas antropolégicas de “observacio participante", cujas condicdes de utilizacao me- © wn tratamento especial. No que diz respeito ao universo da pesquisa, cle inclui os mi goria sui chés, seus clientes ¢ uma cat generis, os entendides = ou seja, aqueles que ainda sem se envol- verem diretamente no negécio participam das transagdes do mercado homossexual © conhecem os mecanismos da prostituicdo viril. A pesquisa aspira se enquadrar no campo da antropolo- nN Veh z "1 Bia vata quae, Ft dhe des Locamenta has ant eupétugns sleuan aden. fe pele Ges dr doninagan cmtonial « werd extinmin dn ob Fetes de estinio deve peugeitas HPP remors der ieadi. ote ma STA Matai de context, da teiby primitive a megatepuie von. te nordines ele pela ahseryacea de My ferouniitales retas Pe propria she sutrepatusia em peral, ne S fom Mth pie Mas chides a exigéneia de Munidade de Tatar ou ters itGric mites deverd sex dedsada de tule em benerfeia da plari docs ilade des “Sociedades comptexss", privilegiando os spaces Intermed id— Tost dn vishi soviat, os pereursos, teuletdvia, deviven cba expes rienein catidiana. Tamhem Vorfpida cxipencin Dose poderd impor Huimgeneddale do geupo absereade, propria da ctiolouia exotin ca", nin set ntara detectar “unidades reais ae Mine donamente™ Medel te © Wetauney, 18: a me sanr Mesto de paupe wera Liminerril « Re contesto urbane, sua tmportanciay om iver das "wicker relactonai ON vssimy a Pesqnisa datrepoliyica go meio urbane feniiesecd ne nivel migra; as relacies inteysessuaty van vane. Hitwin, no diser de Mtthabe, oi Yunidinte Jovat da ernofegia urbana, Wiis, esse nivet micro & pupa pode Se processa a interionris S80 be Mreproducae das SMES SOE TAL SS 8 Cambim pode tune ion Hon Sone wu Lugar de resistencia & orden sue ial dominante, onde se D¥elvem Fendnenos Grredutiveis a nfeel macro, Nia h veriay ene fre sabes os miveisy ama velagao de enusul iabnte Fixadt Com neece- Senete, mos uma lindmica de tensio continua, carret Itivamenre, nie UP besa Citi ‘in diy anteopologia ¢ histiricn e ractuats «nde pretonde ies Vilar Fears (LMMUS smttrepologos por slesvinetiaron s disehol inne len Unbele femporal os outros, constletlocs nip set mevele ale ubservagan abordagen, © ne por” seus, objetos circunstunciais, © interessante a SuyOs— Kio de Verne (82, potidd, ao sentido de cine rlenuy eboney social com, Wiscipling ous idist da histurta, (ot Tot ima visio da cide cone un “espace HMuide", utravessado por "reseauy invisibles", verieehini, Givimn (198%) Mabel Metropole, e diterns Lismal, mT, Paris) autome). 20 send perCinente vonsiderar a capa empirsce coms an plane de enn Lataciy de hi pete Vigerosamente preestabeleeidis, win ene Foes de exper imentacay concei tuys Avaim, as simcnes inst rumentai tondera oa seguir os movimentos reais das pratic. S observadus, vi- rundo, se for preciso, flutuantes (coue acontecers » Por exenplo, come prépria nocde de "gueto homossesuat"). No que Wiz respeite wo campo especi tice da ant ropotopia brasileira, x pesquisa ingere-se av projeto, ainda proviadtio, uk Hay Tatrepotorte dus relacoes sexuais" convocuda por try ¢1ge2 Proprtanente, na linha de pesquises antrepoldgicas sobre sesualidude, aleumas de cujas contribuicdes serao mencionadas ag longo da esposicdo. ‘©? 9 enquadramenta antropoldépice trumsparece ma abordagem do fen@meno. Da mesma mineira quo a antropdlogo das soviodades "exdt ic procura conhecer ¢ descrever - mum momento, emhora superdvel, inevitavel — as "teorias nativas", nossa premis— S46 que corta “reoria espontanea" inform as retucses loewis on. fe PFESTLOMOS v clientes, Conseqtientemente, tentarsse-d detectar e Mearificay esses "tedricost, cn deteinento do ama aprox imac estutTstieosquantitutiva, cuia vonereedip 6 Vids, mite problemi tnd lidades de Abordagem A princirs dificuidade que enfyenta um estndo sobre prestitiivee viril passa, comforme Schérer o Hoequenyhem (197 im pela ctandestinidsde em que tais relaedes so consumait. A at} mcs bol Cito alguns: Regina Nusziviot (NICIMP, 19701 ested as pros nalas ef Campinas; Camnen Guimaraes (Museu Macon tare: titutas confi. Hconst invicta do enters] ili"! nme gripe liomusseacitl We clitsne peal realty Renin et de bre} Fas TMIERE, HISSL, “negociaca de ident iditle” entry prostititan ¢ chiens tes mun beret mineiras Abiria Putce Caspar thie Nacional, 1982), 4 "cons tructio ale islet idkile™ das (SP, 1983) pesyu to. ts a "alTrmay ale prowraiy earincus; © Fuicid Selive honosscxusI" do Grupo Somos de Sia, Pau ccs sie de Scherer e Hocypenghew 6 de i905; no Foteriny a prostituieae mesculioa tei preriferado sob formes tegiis ou semileqais: cane We massugem, bordéis, saunas, servigos a domivflio e1e., substie Pande P86 Como Toca tiniea de reerutamenzi. Coutintos a « hima Matsa prestituicdo, que yecorre B prfticn du trotwin » cout inna Gstondo Cireundada de am véu de mistérie. O primeire trabalhn dn pesquisador seed, entie, planeiar ama estratse ta pirw fenaler pemumbra. . 7 OS estiados sneiotigivos sobre a questae (7) gue dites Fong btrese conforme a extratigia de aicessi escathidas A ahosdagem cisUtaedonal ou custodial = entrevistandy prostituies juternados eu Yeformatrios — esti deseartade por easdes tanto pol ft iens accu to técnivas. Py as prineiras, prefere-su ahordar os sujeitos em Li bomtnle, ae U Mhahitat™ ntarat. \ posstbetidade de entreyisig Tes dando prisioneivos + completamente wilidy on se tratamu a Meestuda Sobre adelescentes comecutrilis + alesvela, pos simul, ure especie de cori awhilicat que a a prastitui for Mis mTES engajadas de delinaliGueia ou “tlamteapew" om sepab, Vopean lo aberdir os prestitates mos seus locas de vps batho abee duas modaiidules diversas, conforne o conhecimenta entry AS partes da relagie (iver Ligar em espace "reehudes 1 nui che y on Nabertos": osquinas, pracas, bares, wictirigs ete. (1 Os estudos especifives sobre a yuostdo nso so mumeresos. mire os que abor haw prost itutos recothidos em contras correcionais, Riess (165) eng revi stil FabGes entre 12 ¢ TF anos de idle intermlos na Tennessoe State (raining (USA IG Procura estabelocer as regris qoe repeat 0 comereios Isto uniearte, nredousnie de interesse geaniticu sobre sl itis base eat reducue do conto dd telacio buca-penis; distineia atetivas © mio secorrer al vintene Eas Peo nye ede SE MRENHh conor essay nornkis, que Ser ian tapos Beene eek PASS eos de Felator del ingllentes". Por stu prtte, Schmid! Ketenborg et wit 1975, citale por Scherer 6 [locquenphem, F977) ertravia. se eRe fe 28 rapases num centre de trisgom de jovens prost itutos ¢ telingtiontes se ibunbirye; cans cone hsiay do estiglo, “eterna le Pimina So da prost ituicdo miscuLina, Cavorecendo a integrase dos prostitutes no sonvivio homosseNuul, como forma «de inseres No sowindo grape, de ahordagem Livre, Hays Jonathan trike (1909, ajaxt Scherer ie na ordeat soviat Jur duley dle Demis Drew HOLTUCEIGH, 1977) Sittiese at mein ca Cade am lesise pages vai exigir Lormes di lerene dad as de oproximaccte © tanto ds parte dh entrovistidlor quante dos dates pessades ua Transauses No caso das prostitutes de suunat, bordel, casa de massa- gent, o aves 6 facil itado por se tratar de sm local fixe de teaba Thor basta divigdrese ao local para af avehar os prastitute trivia) Caci lide chocaese, poréa, com um vbsticulo: o prege do ingresse ao Tova), ua de acesso ao proprin prostitute. Por osemplo, ae caso dy atgumis saunas, 0 usetrin deve Pagar Ne fat gle ingresso @ depeis um prece extir petas servigus do prostituto. A conra pode atingie por volta dus US$ 20 na ssuna Fragata (Pinheivos). O avesse a prestitutos em borddis depende do lueat: no deserite por Alves de Almeida (1884), convers © Livremente com os rapases antes de passar para o quarte. Mas, para entrevistar um prostitute carioer, Trevisan (nov., 180) teve que fazer 9 tra. batho na préprio quarts, carpe a vorpo. Também os services a dowicTtio devem see pagos, indepen- dentemente de uso, segundo a experiéneia ~ com Sins jornalfsticos ~ de Aguinatde Sitva (nov., 1980). - minha enere st in termeg: iw vorifiivel ea extrapotigee lelirante, entrovis= tando 22 rapazes do pocte de New Yerk, cote [2 ¢ 19 anas de idwe, © fore nese ulkt imagen da prostituicle dos rspizes mis ou menus FHanerapice, nde contralitéria com a inserciio familiar e social. Da sua parte, lonnig, (978) sbi rune ingen Puente ce "geographic du pasisage sre neescacl in!” tie SESS gear cons de passe" haver isi inventado, reprodasinds entyevistss 4 prostitutes deo vhas, Tratvestis, saxlomisaquistas, fuiciomirton soe iris Gum cbiente, ats gatis nig sia objeto de umm anilise’sistemitica. A tose de Alves le Atte da, Miché (1984) ¢ cminentemente descritiva, ¢ classifica os prostitutes segunda 0 [avs] ue trahitho: casas de ngissatens, saunas, hordets, ruas, boates, sendo, mais que wi cstudo analitico, umi especie de “guia social", inspiride no Guin Cay do Grupo Outra Coisa [1982). Outros autores trabalham basicamente sobro fontes secundérias, como Sivon Raven (El Prostitute en Lomires", 1651, Hoffngm (Male Prostitute", 1/79), Weeks (USI) eo ja Citado "Sur 1a Prostitution des jeunes yargans" de’Schérer e Hocquenghem {1977}. Tonto estes quanto outros textos (literdrios, jornalfsticos etc.) so Citados av longo da exposicao. 25 én do obstienlo representady pelo papamento existe um © invonveriont@, que Ga selecie provia A qual om caer, sac subne tides por parte dos administrageres dos lenis feclidos de prostituicdo masculina, visaado garantir as condicdes de sequrane ve qualidade vendidas ap cliente. & grande rigur da setecao dimi- mui nes Tocais onde o contraro 6 estuhelevide diretamente entre o prestitwte ooo fregues Csanna Tyga ta, howtos Wall Show © vad tne provisso y Stu ALLeresss eto.) © cumenta nis casas de massagen ¢ nas agéncias a domicflio. O ebjetive da selecao & impedir que o rapas agrida ow roube a cliente. Restringinde @ oliservacde sos lovais fechados, lid verre-se o isco de conccher uma imagem escessivamente lem-compor. tada dos prostitute » em detrimenta da sua proverbial perieniosi- Jade. Neste risea parece air ! soem decorrencta das prdpxtas Pimita- edes do seu campo ou de sust eseassa insereda no mein Cele se dee clara “hotorossesnal copvietol), Alves de Almeida, quem bende a dar unl panorama exces: yamente feliz da "vida fei l'. Na mesma ius fo enyeredam alguns avtigos jornalfsticns timternacional, sq; Voia, MISO1, ne medida em que outergam ana atencae preferencial A Hitt pros tiGurcae e deixam pum segunda plano a arciseada prosti- tuicde de rae. Fese risco agraya-se quando intervém a pretensie de dare ama imagem global da prostituiede miscutina om side Panto. Nesse sso, preferimos renunciar a essa pretensio tota- Jisante, restyinginde-nos a ume modatidude particular dw prostitel che virits o mich Je rua sou seja, ayuele que vende sens encaa- tas em pontos ~ esquinas, bares de Livre acesso, Sipperamas, ruas te. Lmhors o ostude abranga a trea do Centra da Cidade de S40 Baalo, teues privilegtade alguns puntos de observacdo: as ireas" de Ipiranga, Sho huis, Marques de Clue barge de Avouche, @ anljaq eéne as. f vordade que, dado o elissicu comadismo dos michés de Mut, elos Costumam no se restringir a um dnice ponto, mas peram- bular de oum Loew! para o outro. Poréu, a rua pode finesonar coma o grande coletor das diferenios formas ¢ géneros da prestituigde Minit: nae Co inceanim, adi que rect inti. de sauna an abe boats my vith int Pits bibs Dari Preduelos fieurag £900 he ca preponderante de ubsereacas do contato prévin A relagio. Assim tumba, para estan nelecer e¥ses comtatos, foi precise seguir ox “ritusis du intera o" préprios do aeio. Isto 6, ainda reconhecendo algum rapas como niche, min ers tecnicamen te: recamemdive! chess he ele sem a ris | de elhares, estos ¢ loslocumentos yun precede rot ined ramente btyottary lamest tre deswontue icles nes cirenite A nip-expligitacao da condigdo de pesquisader fei decors vente entie das prdprias comlicdes shy mein. Os propring mich’ prererizm, por vezes, ignorar esse detalhe, emhora estivessen dis- postes a falar. Assin, um wiché cow gion mantive uma relagde conti. nua Cjulhe 1982/setembre 1984) desaparceia cada vex que cu umengaa va gravart pordu, participow animadanente da diseussin de algrens pontos da pe bende que suas declaracdes seriam reproduzi- quisa, sa iticamente dei das "de cor". Un ourre ni thé - vontatado na rua = pri sou de falar quando eu tirei caneta e papel pronte a registrar seu Jiscurso (felizmente fes isse quando a conyers estava ja muito adiantads © foi possfvet contimul-la). Nao houve problems, mo ene tanto, pars gravar una entrevista com um prostitute enviade por um vlients. Un exemich® tamhém nao opds resistencia A yravacde, ten- de realisado quatro sessées de conversa. Alpine desses longos de poimentes vonfiguran de fag histdrias de vida. Tinhore a i ficuldacde dle gravar ce cntrevistas com prasts tutos possa incidir na Lidelidade do material colhido, também nie era recomendivel percorrer os perigoson itinerdrien do miché pre- vido de um Jor, que teria side provavelacate confiseado, Para entrevistar os clientes, recorri a vontatos inter pos do pevprio gaicto. Gone miites desses elientes cxam mis oa me nos eothes ilos, ou reromenbides por contales comans, ane cram pre veliveis diticuibales para entreyistd-tan. lwbora alguns dese sc arrependersm no memeate di cut eewists ew se recussaranl a wrayar. Ne Tinwl das conta SOHTPOLT Shir us ebientes aeuben somta ate mais HiPFeiL de qne aveder aos prostitutes. Esse incenvenionts ox pYOSSH na mostra, ja que us ontrevistas com Clientes silo nemeri = Cumente Inveriares As entrevistas com miches. bow parte da infors magdo recuss da foi reeuperada sob o expediente de entrevistar vlieates, aceitando-os enquanto "entend ides”. Fodos esses eselarccimentos tendem a delimitur o campo cuptrice da pesqii 1. Susi condicdo uxploratdria decorre, em parte, dessas y Creunstige is. @ fate de ter comteguide im pra consider vet de insersae no auoda da noite, nie elimina o risen de interte- rene its sublet ivas, qe resud tam dessas menmes commblijae: de bases sho. Meneioned jf a idtade, que me situaya em determinada Six de nercido. Também minha qualidade de intelectual we "subempuet izava" No tune espect tion dos "professures". Par aatra parte, minha pre He cond cae s eeomomieas one uiped isa grandes, daequernlin <0 6 Rao tor curve tornave problesdticu a uprosimacag a cote h In. Coneretamente, resultava nuis propfeio trabathar em e tie de mi, sivamente i Creyucsia motorda Ss, adeptos oxen rtas droas. je de um Mo crs pertinente, por exemplo, interromper a exibic? prostitute perante o [luxe dos carres - como acantece sohretude na Sido Luis. Alias, por Ses de seguranga, evited por veces os locais excessivamente periculoses ~ come os jardins da Praga da Repiibticw ou da Praca fom José Gaspar depais da ueinenoite. pat Jue ATguNS locsis mens densos come “potas! de aig como u | yo Avouche, mostrarunt-se, porém, pelas suas proprias caractert tivas orhanisticns, mais apropeiades para as entrevistas, por se fratie de um espace de "repausol, onde os candidates fienm seta dus nos banvos. A gray istide das distyreoes pode, cuntudu, se torman mais tolerfvel levande em consideragie as condiches particulares da pesquisa. Estatisticamente fata >, elas podem se detectar em cor ia Hos entrevistados meagre beectyste baie, mn on se focaen das clientes, Lai de Sate aie tien) aes fer DSINSeHN tes qe Hes totaricados. binbera eda pesqniia ite we opretende Trepresen trl ices peste teanqai becre anes pie lesa jem cosin some iderd- Lay advert inde que ela vende a dar conta antes da SO see de MALE PRUE Eig EPL. Tre athena miner ca usm PSitae ceria can ivaléne ia + euhora nuespentunt < entre no pipe de Jivates © 0 tipo de miches cntreristades. & uniter amplidae da axe sade entendidvs pode funcinnar, do fete, crime um espeeie ede cnn broly. Por TI imo, me pcarre aventuar um certe carndter arte yack pesasisn anteopotdyica costume reiviadiear para si - sue sretials sas snay poldmicas vom os socislogos. A antropologia, iu do sutil, nao tem as snas téenicas predeterminadas rigida- wator: © necessdrin iaventilas cada ven, cuntorme ay propria cae sicteristicas das popwlicdes ostudadas. Além lo mais, cahe recanhecer « possibilidade de que ¢ souso temba fidu, weste pesquisa, um peso superior ae que habitus mente fem em outrus Lavestigacdes, realisadas sobre camunidudes te cludes ou de limites prefixadus (como geapos ou bairras). Porés, e mundo da rua @ de certa maneira, o munlo do acsse = mae de um aeaso castico, mas de um acase orientido por usdulos de censisten cia mis "frousa' que os que repem nos espacos da case ou do tra. bathe. Min cube consideray esta pesquisa como un estado sobre wit “commidade”, nem soquer sobre um "grupo", mas como uma abor- sagem de certa prdvica ¢ das populacées nela cavolvidas. 0 fatn de yue sua confeccdo compartilhe as imprevisibilidades (relativasi do trottoir na tiva, avhamos, valor Ss conelusbes que se inferem: po- vom, as suhmete & mares des sa prdtics. Que um estude sobre o real love na sual construgdo as jupressées desce mosino real deverin Calves, wates nos aliviar de que nes envergonhar. PERSPECT VAS. Vvisibitiesyae dhs homossesiad ism 2 om se tay 9 fate de tormicte visfyel - Gu espetiente de nessa dpoct. Como observa Avid (TUN4, pov, Mo enfraqueeimento da Unberdigae alt Temesse cua Vidade Sum dos trayos surpreendentes da staal situag jlossas sociedades ocidentais'. A “safda das sembras™ da homasse sua Lidade fou, como sugevem Tell & Bainhery Uges, ihes homossesuali- diles, ein atencda & varicdade de fendmenas que a cnganosa hometen ia dy teem encores imptica verdadeieus movimentos dy mascas que eine gem do umt Semighamdest inidade “doentia™e esverunnlaty, Carte na for mat de grupos organisados que reivindicum ruidosamente seus direi~ tos, quinte ne natério © vistvel aunouto da presenca de homossesuais amifestes NUS rHas Con mebhor, er certs reas) das grandes cidete jo Qeidemre, dnettiade o Brasit. Simaltaneamente, uur west a eener— vialisacie da vibr gay acinnava tanto a aeeiGrcne relat iva oi tt lerancia vepressiva' divia Marcuse, (270) dos ant igos sedomi tas, gounto a recuperacio, por parte do capital, de eventual potencial subversive das perver W resistencia Sy enguanto envarnadera libidinal A domesticncdo supereadicn do "prince ?pio de rend pierre" silt. Aina que pareiatmente reciglida nes ctrcuites du cupitalis hr consumista, festa guy pureeia intermindvel. Boueault (4Y81 coments coma os hanio. 2 ando, “por una cur iosa sexmais acabariam discorcdo' da escrarey do dispositive de sexualidade, "de svi sayor libertad imelaso que los heteressesnitles en sus relic iones 5), desenvolvendo verduleiros “Laboratdrios le ox tisteas” ip.2ay/ perimentacidn sexual" ip.3ir. O panerams ost nudando ahruptamente com a irrapeio da AIDS = Cujo efelte me ctrenita de Tynete yay’ pant istana eseapa, - 1 per varies cronoligicns, ans limites da pesquisa. (im now HIYA pesymisie « ciciiee om janeiro de BSS, ea cagpanhar dit ALIS comecnt Ase sentir com Fores jo guetu paulista a partiv de arco desse une, D efei to do painico foi wm csvazimonto earal, especiatwente do xueto da Marques iver Nogueira de si, Po O/OR/SS1. Aids, a pal feia aprovei~ terrerismo, de inspirncio médica, consegue esvariar o rehulico dos guetos, © amiga reeondusie ex homo: eis a um Revi Fenda “patoldgico™. Contudo, s yisualizagio, longe de ter diminutde on retrocedide, parece ter até aumentade, wa medida om que os mais tos detalhes do antigo "peeado nefando™ scabarian ganhando a s piblica, pelo show dos shocks das midia. Aids, as emunciages desta cumpanhé nde parecem ter-se diripide tunto oo sentide de une extirpacde, mix de uma pormativigacde ¢ “conjugalizacio" dos homos esualismes, asonselhande, por precaugio sanitdeia, reduzir o nie ro de parceiros ¢ de variantes seausis. So que dis vespeite espeeifivamente de prostituicua de Tapazes, essa Visibilisacto tea resultadas ambfyuos. be nm lade, parece notarese ian visfvel sumente das pangues de jevens que od : Wom a rac a precura ade om etiente homssesuil. TY suo Int, poem, los estatfsticas quo confirmem essa evidéncia, No caso uo Brasil 2 prestituicdo viril continua rodeada dy certa auréola de mistério swe parece constitutiya da prética - diferentemeate da prostitui~ so dos travestis, pablicamente celehrads. Tamponco os qrupos de homossexuxis organizados tém abundado em yellexdes sobre a ques tiie da prostituigs ulina, © isso se explica: tanto o miché miscu. oma To come 6 travesti "Cémea"” constituem espantilhes com os quais as cig ileologias da ignatdade sexual preforirian ndo se entrentar fou a desert iVivacsio do Chissico pomto de michés di Avenida S80 Iie para Vingd-lol A moviaentacilo parece terse rciivivady a partir de novenbro de 1985, coine Wlentenente com os efhivios da verio, mis sem recuperar os nf yeis unterioves, Sobre o dispositiva da AIDS, ver Perlonghor, 1985: C11) 0 aiehé & um personages intersacionel: hustler nus Jos Unidos, chapert rat Tspimba, taxiboy om Buenos Aires ete. Siti presence & registrakt por di- versts reportagens? entre out res, Abeaham & Diners” (182) ei Awsteedmy Monmingy (IOS 1 cm Doris. “iigoid'a TMESt" Way Piel an? Sil, junto RZ) ty ti da prostituicio msentine na lungyin. No Bras Leampiive edie cm ete were especistl nai de 1980) a0 tenn, alén ce artigo? Tispersos. C12) sunbos Eenémenos parccem contraditérios. Nao obstante, sepundo detects Cardin (1984) na Espanha ¢ parece taabéin acontecor no Nrasil, a nova yisibilt ide homossesual Condusiv a uma populeriziesio dos protatipos mais ass iados Fominithkale, ov soa, ae mbdele “oldssivo" de relicoes interauscul ious, enquinto os grupos homossexnais organizados escolhen outre paradigms mats Mi guilitivio, Corre lat ivamente a esse resative silem jamento, as dada NistSr dees sre Tamblyn emesis sess. Ervemeass cine Leases pees ihnicae auiseulina parecem ter sido freqitentes aa Antiglidule. Relgis, an sist Wistar is Sesust ve st thu Winidad CHO11, pinta assis a atwoste= ba de desenfreio imperante na Rowa pags: “Los pinliaderes, Cuyori- fos de Lis mitrnnas, se entregaban ea piblieo, af ipl que lo clone atqiiladas, i lis mis yreseras orefas. bn la via Sacra o via Apia na habTa mis que adultes; en los hasquecii ian eb fanaa oe en fos hunos pudlicas se eneantraban tambien ninvs de amos sexes, entondidas en todos los refinamientos sesuale Aly . AM temple ¥ Hegatan los aficionados a placeres sat inaturates Pore. mies pretende sci tragar amr c=peeie de arqueategia da prostituicde wasculing ne Ueidente, em parte porque, como adverte Paul Yeyne, as simititudes entre esses fendnemos ¢ a prostituicin Sontempordnea nde deyem ser rxagenndes SPeastitiieda fee vant palavra demasiado forte, visto que, em Roma, os dnstrumentos sex snai Sou rapises, eram de tal forma considerados instru mentos passives que se eferecia claramente dinheiro a essas peques nas eriateras (...); fazer a corte consistia em oferecer uma soma” aD. Werne, térico que, aa 1) culos SVIT @ XIX, str partir do geande corte h walidade iT.11, Poncault traca entee as 8 Syme se poderin comegar a Caley usis propriamente, de prosticule gio homossexugi masculina. Benning (Fo 0 repistea, por volta de ISO, oO surgimento de ume singular gominagau: “prostiqueds'™ © en menta: “Le met fevisenment jnusite f Lépaquel recenvee, en Cait, quelsue chose de trés iétévogine: (...) des petits vagabonds, des sattres-chanteurs et fours appats, des coquvttes de Ta palerie Aelsans ou des joyous suceuhes des Turlerien” Cpt). Sue pbstan te, © Campo semintico do terme privilegiaya os atributos passives Fewindides o marginalicava os Cuturos miches: “Je petit tapin, ctest le suns-nom” lid}. Similar privilégio aes travestis, @ con- vedide, no caso do Brasit, pele cronists Pires de Almeida tas. suas danteseus descrigées do Rio de Janeiro orgidstica do final XIN; registra- " ly Século se, porém, 0 case de us coronel que a ya pelus costas" seus soldades (citado por Fry, 1982). oO Cato de se tratar de um fendnems ainda poneo estudasls justifies. de ponte de vista da amp lisnca dis Promtedeas de saber oeial, uma pesquisa sobre o tema. Se bem que o tritamente du pros Lituicho viril nie & inteiramente neve no campa académico brasi- Loire ~ hi duas teses recentos: Miche de Sérpio Alves de Mtmeida yigs4ie Reis ¢ Ruinhas po esterco, de Regina Marta lrdaan C981) nao @ sonde ate una date relativamentes pruxin: — 95 Deimos 10 on te anos = que fe Len aberte posibitidedes obser ivan de que bemit i ca semelhante pudesse ser abordada de um tien dilerente b deting qtioncial. Assim, Riess, cm 1961, pode tratar # prostituicin mascu- Lina como uma "delineuencis sexuale., que implicu una deswiaeion Ge las p Jad portesmericanan, eseripetones uormativas de ti specie ae fade de outras prfttcas tais comp “relay tones beterosrsuale prematrinanial pederastia y feilatio™ (Riess, M85, pany, # partir de uma pesquisa realisada com senores deliigilentes interna Ges mun contro de recuperacde. ® olhar socioldgice nao somente nio vacila em qualificar os sujeitos contorme a lei social, mis ele mesmo se converte em re qulamentadar ¢ preseritive, como party de mm vaste dispositivo de recuperacdo © controle que define as cféneias seviais epquante ‘ns quina abstrata de sobrecadificacae™ HPelouae e Taynet, UHM, que aspira a entrar em conesio preferencial cv o poder do Fstado. Es- gu cumplicidade com as ingtituigdes dominantes niv @ exchusiva dos ostinlos sobre prostituicde ¢ homossexnaliswe - que resittam porém particularmente sebrecarregados peto fate de se tratarem de "des— vios paradigmiticos" que pie om questao aio apenas @ plano sim nSlico da tei moral genérica, mas as prSprias unioes Sexuais dos sorpos. ia prépria Sociologia Urbana di fiscota de Chicago fdéca- da de 203 colecay gern} de esanadri- sea service de una empre nhamente das popntacdes citadinas. A voeacio nermativicadora desta Lscols deixava purém re~ serviade Um espaco, no territério urbane, para que essas relacdes dese iantes = homessexualiswe, prostituicay efe, © 6 Constr era a ido mo aU. Assim, Park CLS) Pe85) propio Nontender as Forcas que om toda cidade grande tendem a desenvelver pssus amhientes isolades nos quais os impulses, as paixdes © ideais vagas ¢ reprimides se onsineipam da orden moral deminante™ ~ onde pe Npestintes @ apetites, micontretadis 6 unbiserplinadost, es “impntson selya 5", veprimidos on suhtinades na ardem srhene da normalidade, eucontearian ¥ Dizfamos que a Sociologia clissien teade a reconhever ex os imputsos “Wescontredades” como intuitu, precigamente, de cons trold-los, Essus ucusagées soam uitrapassadas, uma vez que poten- tes transrormeses no plane do saber social tenderiam a cspantar 5 pelo recurse a relativi- ¢ "Gesmascarac" os preconceitos, as ve sobre o delicudo tema das relacdes sen reo. AS pesquisas sociais Autis contomparineas io apenas téw padecide = © acompanhade ~ a Judaram cm considecdvel medida a forca dessas transformicdes, mas implementa-las. No caso espectfico da homosseaualidade, sua din das sombras! - passando de ilegalidade a certa Jegitimacie po- litiea © social, As venes miis retdrica do que real = vinese om respeitavel grau procedids, © at impolsionala, por invest iyacde produzidas nu droa da ciéneia social, O exemple, tulvez mais elo- qliente deste decisive deslocamento ext dhide pelo Kelatério & a Sey, que Yai revoluetonue — ao revetar sna realidade estat istiea = as visdes predominuntes sobre a howossesuatidade, @ cujae Biigde Us teses de Liberacas homossesuat ¢ clara (ver, por exemple, territerivs ¥ Guerin, 19303. Bosd inhos, outros cientistas so- ciais contribudem para retirardasociologia sen estigna de diseiptina colaboracionista™, J& Wainwright Churchill (169) questionava a houofobia ocidental, ¢ Weinberg (1975) lancava o paradigma do “ho- tiossesual feelin". Ra sua parte, becker (187TH) auuneiava sua dispe- se, enguante a ohjetividade © ncutralidude cient f= sigho a alinhar-se, fics dis vespeito, no bande dos marginatixades ¢ desviantes + mi- conheires © homossesuais, entre outros. Como conelut Monique Augras WAngrin ct alii, bogs, € differ? manter a objetividade yuando se trata de homossexual ismo. As vere bs posivionamentos desejantes Travestom de mune isdos idooligicos, tanto eriticos ¢ “bihertadores", yuauto preseriti- vos © conservadores. Esse curvter “micropalitico" assumide qua ity que instentancanents peas discursos sobre a homassexualidade, se (ig respeite Gd tnexistencta eam teneir cont itatdi ue Campa dts relagdes sexuais (Veyne, T9SSh, p.i7i, deve se entender no quadeo Ge ita intensa sebrecodificacie [proliferugne de discursos ede micradispositivos de saber/poder que dvterminam, no dizer de hotease, cemplesos “edi gos-territerins'’ |. Tal explosie discursiva estd ae damage da instanragav de um dispositive de sexuatidade, que vein deslocar © Se superpor a wun outro anteriue, @ dispositive de aliae (Foucault, (9791. © corpo individual = ¢ J mao os vinen- jos de sanguc c terra = Se converte nea else econbmice, ohjeto de atribuicde de uw valor mt secindade burguess. Seo corpo do indi yidue $ o suicite da vida social, seri uljete dos saberes aaali Lo @ desdobr lo, pereverer suas articulicocs © inpressbes, regis- trar (traduzirt seus desejos co suas perversées. Miquina de sohre- calificacde que trabulla - diriam Neleu eo Suattari, [980 - ne plano da espressde, mus que no deisa de eravay suas garras ma sue perficie de inscrigo dos corpes (o plano de conteiide, mélange das corpos, das suas agdes © paisdess, da maneira de dispor corte "re- gime soxual", um neiamente" que articula enumeiacoes e encon~ Tros, presericdes ¢ A medicina desempenha, de corta forme, um papel de van~ quarda ua instauracdo de so dispositive. A passagem dis ini ipecads nefande que coudenaya a yiem desperdiciaya sen esperm par canals ingratos & repraducdio de siditos para tens e seus testa de-ferros terrenos) 3 homosse. Lidade (tera recém-inventade por ui wedico hagaro, Benchert, em 186%, subst ituindo so mis poético de “wanismoy, '') corresponde com o destocamento do poder sobre 0 corpe da teologia para a medicina © seus aliades psiconn- ligiais, yue elaboram detathados catSlogos sobre todas a» perver- (151 Para it desenvety iment dln questae, ver "OU pitti "As Transas". positive Libidinal’, no Cin (HN Para im histSrico do processo de "sa fda dis soubeas” dit homossesna] dade, vor Jauritson ¢ tharstad (19771; Hocuenghem 1979). sGes possiveis ¢ imagindvots, tentando descrovéelus, analisd-jas e sohretudo, Classified-lus, eneaisande a diversidade de proticas Hibeetinas 1? gus ndehos dem Pandpt ice pereerie “Psiquiatricagan do prazer perverse", "preliteracan © Mixagde dus perversdes sesuuis": os cnnme tudes de Foucault) Gape dem vero provusso de saturagito das unides homersticas le sana Face meranente repressiva; Cratave-se, nether, le um Flovesei- mente tritégico, que visave fis ves ty metd vera da Mearre- io", A construcde de certos oper " adores de “identite disciplinaire (Foucault !, que funeioaari + JH mio come encastramentos despati- imagem e seme Thang do héspata Cou ae Densi, mas coun ee vepecie de imbeadares semisticas mittiplos © pontuis, uma vasta © complesu rede de eddtyos, que orientaria o duria sentido ke cire ulagdes das sujeites pela vaaranhade das curpes aa sociedute can Lempordnes ta multiddo, como quer Benjamin Leiter de Baudelnire, coms modelo ¢ forma da modernidade). Girenlacdo do sujeite e¢ de seu deseio por um ent ramide ve eddiges locais ("microdispositivos moleculares estratégicos", no dizer de Baudrillard, 1979) que destocam ~ ou pelo monas ve - 8 fisitade da lei. Certs ubiqlidade da regra tornurd prohies saa aplicaca 0 de nogdes como do “desvin™ que mascara, segun de culverte Guimerses (1977, p.r3si, Tatura da relacio de pos » Modelo "I turuante” (como o da ysicandlise ticada por Delonge, Lys, pt) dors aber-praser eri- y que nae apenta a Livrar o sujeite que deriva aos debochos da lihestinagen, So imsta a encontrar (sua idontidude ou sua conlicio, sua per onalidade ou Jai vardin (1884) sitienta o Yoarsrer purumente tramsicioant del ibe ge vendria a ser ta actemtlizacion monentanet del tipo! fmeien Re: solomita, oa una Space de cambio eulturat™ (p.22) “arta pronto tagar a una diseci i Hdel Libertine heterosse— Swil, por mn bdo, sitowla Jel lado de to sineiatmente recanbeklny ya del perverso hoaysewutt, sit det lado de lo prohilido'. liste “WinarPisno bie sical = contingt Cardin, p.23 - "se vorTa rodoude de un constetacion de perversiones menores (voycuristas, sadomisoquistas, corréfilos, fotichic- tas ete) ambiyalentes con respeeto it to escision Socin-seauial bisieu, y aceptables sogin el doble eje de su perversidad intrinseca'’. vino, ten Régime’ do Cipo tesiisicfenal que wGN | bp usseneda, cemumdo as cseadast nu case, Vanni cecil on ad vel eyplin ity desego ovat ern torah de art iidacan ai jositivos de poder/saher. 0 flasy dos curpos “Libres? foam a Lis hendade dos eorpes qredetdrias), aqui be ae ps eden rene ii je ues wtyes, vai sve superffeie de dnsericas © repistra de Conelenasdas ast gue rama vontuda, as corp yenes, Therm. Esse amv imedte de fag - saracterfaticn, como quer Hetense, ii dinanien social » pos Ge se euvarnar tambsr seb a farm: dy una "eesistencia', umidy on Hheumide nelt. Birese sia que us mage inners sn poder predic paides, vhios ap corpo socind, sonas de tries Tnstahi didide, que podem se Configtrar so mesmo temp cone “puntos de fupal’ da estre de fisague ecotlura dessa mein or tara seis] © enquanto poatos waiver entre a tei en deseiny catre a hipercodi fica Spica ¢ AS micromubilinacves pul setmis que turnia © ue mic ro) correwadia, viseosa, sua tradugdo aos stamps “comunicut ives! lhyas tardi, € que a prition da prostitulcdo humossexual comtempordnea agrece ser situada ao € om Si mest Prost ituicie hemossexuat: a constr onaunos, [4 que encebre uma yariedade de relacionanentos que re~ ixtom sua Suhmissin a ain gategarin homogencr, Naw obstante, sue oy tem relagie com certe va de misterio que ronda essas halo Twp resi ebscuras transiedes, de maneira nenhume transparentes. Es gic penumbra ¢ sordidez que rodeia a “prostitution des jounes gar- cons = como Schérer o Hocquenghen (19774 excolhen denomind-1a, jhrangends a prostituicgio infantil - derivaria, segundo eles, de veterencia Ti vonalidude of es- un tripio interdite: um, que f tensivo historicamente A prostituicde no sen conjunto; dais, que Gosestimilt ainda majoritariamente a pelagic homossexualy © um forceira, talves o mais oxplicitamente predominante, qne penslica as relagees vutre menores © aidul tos. Esse interditas ain decent a “ le : cer pewsados como unt aera proibicde, EM mis vambén engrante in dicaderes do Mobieto dt cobica™ (Batailled, da mesa Sormi yi o oxtigma, explicitamente exctudente, pade ser pensidy "lo svesso” cnqianto operador de intensidades libidinais. Assim, so episddio Ga prostituigde dos rapazes, contradigues © interdicues socinis to hutuabicnbes'y na dicer de Baud Gey ¢ 1 Wy sap Madness osbidas eiras de idade, mas tauhdm de ctasse: ja apenas bar LIMS]) registraya a fascisavdo dos hompssesaiis du itl ta cinsse nédia da Inghaterra de 1990 por parceiros rudes e viris da lasse mais baixa, nos que procuravam acl pele recursa monetd- rio, 2 ouréntica masculinidade, wn macho “slat min, bk € esse procures pelo aacho “ndo-howossesual que wat constituir tanto o rasgo distintive do negécio (a prestituigsa virill, quanto @ To- co de una infinidade de querelus, ambighidades ¢ discussees, que tui Semen te vo Yeuriqnecer v comsunicde Ein idi ea hy amis taulycn vie tramscender a intimidade des quartes qaira atimentar iwi pole tics "nievopolitica” sobre a prépris homasest | ibule em gnestiy inalmente, trata-se ou nao de “homassexnalidade’? Issa potémica estd, de algoms: mincira, ne cerne dt pres posta de “antropotogia das retacdes sesuais, lancada mode rnamente no Brasil por Peter Fry (1982), © remete a certa tensao ~ novamen— tes ontre e nivel das designmigdes soe tatsente cstataikes 6 0 plan no das praiticas concretas. Fry pergunti-se até que porto & legt- timo, na Reiém de Mard ve 1980, aplicar a categoria de "homosse~ aud" para definir os homens que se deitavam com outros homens, sificacie retdrien era alheia aos prdprios oti unui esta che Chantes iexchifde am peqaene seter yay de classe elie i Tastee tle) Base Foucault os interditos nie serisut sd repressivus, mis taken pos iti quer MAS proibicies existem, sin numeyescs 6 fortes. Ms L209 pieren de Lent ceonomiia comptes) on aie existent an Lento she neh bagoes, le mean ies i coos, de valor izagoes. Sie sompre intend ites qe sau cufutiziades! Cau cant, 98, pedal. any dale Pry resolve cirgutumente esse impasse, amstrando a superposi« io entre dois sistemas contTanos de neminicio ¢ valorizacin da priticas sexutis imtermascadinas, que eesumimes comrninente: 0 primeira, tradicional, "popular" ¢ "hicrirquico™, que classifica vs parceiros conforme a posicao ocupada Can pelo menos preseritur no ato sexual om ative (mache on hole ¢ passive (hichar. Besa Uisposicie nio € privaticw do Brasil: Carrier CIY7T) yecouhece sua neia em diferentes sociedades (México, Grévia, Turquin ete. i. vig Lacey Ha considers wr traco prototipica do "machisme Jatino- umericano" © estaria inserita grosso mode no chamado "sistema me- diterminoa" de velagées entre os sexos ideatiaade por Pitt Rivers CHW). Precisamente Carrier procura comparar esse sistent com oun a7) tres, vigento ja entre os g: ys da classe média americana, e sietecta nesta comparagio uma tensiio de clusse, jf que © chamado “modelo popular” vai predominar entre os rapazes pobres dos sus Mirbies norto-ameriganoes mndo sistemy “ijuali- No avange desse sey cdes personolopicas do Primei- tirio", [é-se o influxe dus modelic ro thunlo, como a expansao ao campo dos comportamentos homverdticos ste certa cruzada demoerdtica, encarnado no plano sociat mais vasto pet difusdo do feminismo. Roconhecer esse choque de cédigos con- Tlitantes & certamente tegitimo, (18) parém, atgnumas farmilagoes podem deixar chert a porta pars o fantasma do evoluctonismo, que superia uma especie te transicg&o para um estigio mais fraterno ~ LIT) Esta superposigto de modeios poder-se-is atribuir, conforme Oliven (9x5 D.33), Ao Pato de que om pafses cow o Brasil “existe un cupitalismo tare dio ¢dependente, onde o ‘tradicional se articule vom o moderne @ nos guais 0 desenvolvimento se a4 soh forma designs] ¢ comhinada". CIS) A divisio das relagdes intermasen tints em dois modelos — um “popular” on “hierdrysico © ontre, “moderne” on ipmblitirio", permite au sito gran de Formal Listesio do “chogtie de codigos" patente no colwirin homosexual pant ise timo, Pordn, new seupre as consegliencias dit irragcue do move alee, so= bretudo de ponto de vista de “contetido de classe’ da sua tapos ig. M, S40. extrafdas radicatmente, No decorrer do trabalho, usa-se 0 esquem de Peter Toy, salientande porém a "rosisténeia das sexunlidades populares" oa con plorifieacae barrece das categorias resi inte vessa imisyiu.

You might also like