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my PROJECTO FISICA UNIDADE 2 MOVIMENTO NOS CEUS TEXTO E MANUAL S32 S25 = = DE EXPERIENCIAS C_IG@@CUCICI E ACTIVIDADES CI@ CICS TUSHTUTS BE FISICA? essa iii 305M81019785, FUNDAGAO. CALOUSTE GULBENKIAN Prefacio da Edigdo Portuguesa Na segunda metade da década de 50 iniciou-se nos Estados Unidos amplo movimento de renovagdo do ensino das ciéncias experimentais que cedo se alargou d Ewupa e a varios paises da Africa, Asia e América Latina e do qual se dé conta numa obra publicada em 1972 na Univer- sidade de Maryland, intitulada “Eighth Report’ of the International Clearinghouse on Science and Mathematics Curricular Developments”. Aqui se enumeram e descrevem sumariamente os novos projectos de ensino produzidos em mais de 50 paises das mais diversas partes do ‘mundo e nos mais diversos estados de desenvolvimento, mas onde é notével @ auséncia de Portugal. 0 desencadeamento do movimento atribui-se frequentemente ao Physical Science Study Committee (PSSC), que produziu wm dos mais conhecidos curricula de fisica ¢ do qual quatro edigdes em lingua inglesa, traducdes imimeras e adaptagdes diversas, constituem o balango de 20 anos de influéncia, Alguns anos mais tarde no Reino Unido a Fundagdo Nuffield decide também empreender um grande projecto para o ensino das ciéncias tendo neste caso sido considerado como prioritério 0 ensino da fisica, quimica € biologia do nivel “O”, isto é, 0 referente ds idades entre os 11 e os 15 anos. A revolusao principal provocada pelos novos cursos resulta de estes assumirem novos objectivos e preconizarem novas metodologias de ensino, dos quais resultam também sequéncias teméticas diferentes das que nos hhabituimos a ver nos livros de fisica. Pretende-se que os jovens aprendam @ ciéncia, participando activamente em todos os processos cientificos, vivendo as dificuldades ¢ alegrias préprias da descoberta cientifica. De uma ‘maneira simples deseja-se que os alunos se comportem como “pequenos cientistas”. Uma nova visto do ensino das ciéncias comeca a esbogar-se na segunda metade da década de 60. Os jovens tornam-se cada vez mais sensivels ds interacedes da ciéncia com a sociedade e exigem que a sua discussdo seja feita nas classes de ciéncias, E neste contexto que um grupo de professores reunidos em torno da Graduate Schoo! of Education da Universidade de Harvard, atento @ camada jovem que comegava a desinteressar-se da ciéncia, assume com notdvel clareza as aspirasdes da época ¢ decide iniciar estudos para a organizagiio de um curso de fisica em que os aspectos humanisticos fossem amplamente contemplados. Alguns destes professores, depois de varios ensaios avaliagdes, produzem mais tarde 0 “Project Physics Course” cuja primeira edicdo aparece nos Estados Unidos em 1970. consciéncia que tinhamos do divércio existente entre Portugal ¢ os demais paises em matéria de ensino da fisica, aliado ao facto de termos tido um conhecimento profundo do Project Physics Course, levou-nos a pro- curar 0 Servico de Educacdo da Fundacdo Calouste Gulbenkian, instituicdo ‘J entdo conhecida pelo acothimento dado ds iniciativas no campo da biologia, ¢ a propor-Ihe um plano cuja meta final consistia na adaptacao ao sistema de ensino portugués de um projecto de fisica reconhecido como 0 mais adequado e actualizado. A Fundagdo Calouste Gulbenkian acolheu do methor modo a iniciativa, tendo-se estabelecido, depois de discusses e decisdes varias, adaptar 0 Project Physics Course num plano dividido em trés fases. ‘Com a presente tradugdo dé-se cumprimento @ primeira fase a qual tinge jé um duplo objectivo: 1—torma 0 projecto acessivel a todos os professores € alunos que desejem participar na adaptacao, € 2—proporciona wn aprecidvel conjunto de recursos de aprendizagem tutilizdveis em diversas sitwagdes de ensino do curso complementar, prope~ déutico ow mesmo universitario. ‘Na segunda fase pretende-se realizar wma série de «workshops» ¢ semindrios com o objectivo de permitir um contacto mais completo com (8 wirios recursos de aprendizagem do projecto, nomeadamente filmes, transparéncias e equipamento de laboratério. A terceira fase ser dedicada & adaptagao dos textos. Pretende-se que esta resulte do maior imero possivel de criticas ¢ sugestées surgidas durante a segunda fase ou trazidas ao nosso conhecimento por outra qualquer via, nomeadamente por escrito e dirigidas ao Servigo de Educasdo —Ensino da Fisica, Fundagéo Calouste Gulbenkian, Avenida de Berna, Lisboa - 1 Todos os que neste projecto tém trabalhado dedicadamente esperam deste modo ter contribuido para que em Portugal se abram novas erspectivas no dominio do ensino da fisica Pelo Grupo de Coordenadores Manta Overe Vavewre A ceiéncia & uma aventura de toda a raca humana para aprender a viver ‘¢ talvez « amar 0 universo onde se encontra. Ser wna parte dele & compreender, 4 conhecer-se a si proprio. & comecar a sentir que existe dentro do homem wna eapacidade muito superior a que cle pensava ter ¢ uma quantidade infnita de possiblidades humana. Proponho que a ciénca seja ensinada a qualquer nivel, do mais baixo a0 ‘mais alto, de um modo humanistic. Deve ser ensinada com uma compreensio histrica, com wm entendimento filosifico, com um entendimento sociale humano, ‘no sentido da biografia, da nanureca das pesioas que fizeram a sua construcdo, dos trunfos, das tentativas e das tribulagdes. 11. RABI Prémio Nobel da Fisica PREFACIO Generalidades © “Project Physics Course” baseia-se nas ideias e nos resultados experimentais de um projecto curricular nacional que se desenvolveu em trés fases. Primeiro, os trés autores colaboraram no estabelecimento dos objectivos princi € nos tépicos de um novo curso introdutério. Trabalharam juntos de 1962 a 1964 com o suporte financeiro da Camegie Corporation de New York, sendo a primeira versio do texto ensaiada com resultados encorajadores. Estes resultados preliminares conduziram a segunda fase do projecto, altura em que o U. S. Office of Education e a National Science Foundation concederam uma série de bolsas com inicio em 1964. Foi igualmente concedido um inestimavel suporte financeiro pela Ford Foundation, Alfred P. Sloan Foundation, Carnegie Corporation e Univer- sidade de Harvard. Um nimero clevado de colaboradores de todas as partes do pais trabalhou com o grupo durante mais de quatro anos sob o titulo de “Harvard Project Physics”. No centro do projecto, localizado na Universidade de Harvard, Cambridge, Massachusetts, © corpo principal do projecto € dos consultores incluia fisicos, astré- nomos, quimicos, historiadores ¢ filésofos da ciéncia, professores de universidades e de escolas secundirias, educadores de ciéncia, psicélogos, especialistas de avaliagao, engenheiros, realizadores, artistas e projectistas. s professores das classes experimentais assim como os alunos dessas classes foram de vital importancia para o sucesso do Harvard Project Physic. A medida que se desenvolvia uma versio experimental do curso, ela era ensaiada nos Estados Unidos ¢ Canada. Os professores ¢ alunos comunicavam as suas criticas e sugestdes aos membros do projecto em Cambridge. Estes relatos constituiam a base para a revisio do ‘ano seguinte. O nimero de professores que participaram na fase expe- imental elevou-se a 100. Cerca de 5.000 alunos participaram no Ultimo ano de ensaio num programa de pesquisa formal, em larga escala, levado a cabo para avaliacdo dos resultados obtidos através do projecto. No auge do desenvolvimento do curso ¢ das actividades de colheita de dados, entrou-se na fase final do projecto. Durante os iiltimos dois anos, 0 trabalho do projecto centrou-se no desenvolvimento € na realizagdo de programas de preparacdo de professores, na dissemi- nagdo de informagdes acerca do curso, na analise de grande quantidade de dados resultantes da avaliagdo e na redacgdo de um relatério completo sobre os resultados, numa tentativa de se descobrir como poderia © curso ser reformulado adaptando-se @ audiéncias especificas. Gostariamos se fosse possivel de enumerar todas as contribui- gdes de cada uma das pessoas que participaram nalguma parte do Harvard Project Physics. Infelizmente isso ndo é possivel, uma vez que a maioria dos colaboradores trabalharam em diversos materiais ¢ tiveram responsabilidades miltiplas. Acresce ainda o facto de cada capitulo do texto, experiéncia, aparelho, filme ou outro elemento do programa experimental beneficiar das contribuigdes de muita gente. Havia de facto muitos colaboradores para ser possivel mencioni-los todos, Estes, incluem administradores das escolas ¢ universidades que participaram nas experiéncias, directores e professores das instituigdes de formacdo de professores, professorés que utilizaram o curso a seguir ‘a0 ano de avaliagdo ¢ em especial os milhares de alunos que no so concordaram em usar a versio experimental do curso como estavam também decididos a aprecié-lo criticamente a contribuirem com as suas opinides € sugestdes. Objectivos Desde o inicio o Harvard Project Physics teve trés grandes objectivos: organizar um curso de fisica orientado humanisticamente, atrair um numero maior de alunos para o estudo da fisica introdutéria € descobrir algo mais sobre os factores que influenciam a aprendizagem da cincia. © iltimo envolveu pesquisa educacional extensa cujos resultados foram ja publicados em revistas. Ha cerca de dez anos tornava-se claro ser necessirio um novo curso introdut6rio que atraisse maior nimero de candidatos. O problema que se punha ao Harvard Project Physics era o de projectar um curso humanistico que fosse itil e interessante para alunos com uma gama variada de capacidades, conhecimentos.prévios e projectos futuros de carreira. Na pritica, significava projectar um curso que deveria ter 08 seguintes efeitos: 1 —Ajudar 0s alunos a aumentarem o seu conhecimento do mundo fisico concentrando-os nas ideias que melhor caracterizam a fisica enquanto ciéncia, em vez de os centrar em pedacos isolados de informacao. 2— Ajudar os alunos a verem a fisica como uma maravilhosa actividade com muitas facetas humanas. Isto significa apresentar 0 assunto numa perspectiva cultural e historica, e mostrar que as ideias da fisica tém uma tradigZo ao mesmo tempo que modos de adaptagao © mudanga evolutivos. 3—Aumentar a oportunidade de cada aluno na participagdo em experiéncias de ciéncia, imediatamente compensadoras, mesmo enquanto adquirindo 0 conhecimento € as capacidades tteis a longo prazo. 4—Tornar possivel aos professores a adaptagio do curso aos interesses ¢ capacidades variados dos seus alunos. 5 — Ter em conta a importincia do professor no processo educativo no vasto espectro de situages de ensino. Como respondeu o Harvard Project Physics a este desafio? Num certo sentido, cada aluno que entra neste curso deve responder a esta questiio pessoalmente, Contudo, é um prazer indicar que 0 estudo x dos muitos resultados e opinides de alunos, levado a cabo em univer- sidades ¢ escolas nos Estados Unidos e Canadé conduziu a resultados sgratificantes, desde as excelentes classificagdes obtidas nos testes de Conhecimento de fisica, até a satisfagdo pessoal de cada um dos alunos. E evidente que a composigao diversificada dos alunos dos grupos experi- ‘mentais correspondeu bem ao conteido da fisica, a énfase humanistica do curso © aos seus flexiveis e variados materiais de apoio. © “Project Physics Course” hoje Utilizando a altima versio do curso desenvolvido pelo Harvard Project Physics como ponto de partida ¢ tendo em consideragdo os resultados das experiéncias realizadas, os trés colaboradores originais decidiram desenvolver uma versio adaptada a uma publicagdo em grande escala. E com especial prazer que agradecemos a assisténcia dada pelo Dr. Andrew Ahlgren da Universidade de Minnesota. © Dr, Ablgren foi de inestimivel valor pelas suas capacidades como professor de fisica, pelo seu talento editorial, a sua versatilidade ¢ energia © sobretudo pelo cometimento aos objectives do Harvard Project Physics. Gostariamos também ce especialmente agradecer & senhora Joan Laws cujas capacidades administrativas, confianga ¢ reflexdo tanto contribuiram para o nosso trabalho. O editor Holt, Rinehart and Winston, Inc.,de New York forneceu a coordenagdo, o suporte editorial © 0 trabalho de base necessirio ao grande empreendimento da versio final de todos os componentes do Project Physics Course, incluindo textos, aparelhos de laboratério, filmes, etc, A Damon-Educational Division localizada em Westwood, Massachusetts, trabalhou de perto connosco no melhoramento dos desenhos dos aparethos e na verificago da sua integragio adequada ao projecto. Desde a sua altima utilizag%o na versio experimental, todos os mate- riais tém sido mais intimamente integrados de novo escritos. O curso consiste hoje em uma grande variedade de materiais de aprendizagem entre 05 quais 0 livro de texto ¢ apenas um; existem ainda as colectaneas de textos, manuais de actividades, guias para o professor, livros de instrucdo programada, filmes sem-fim “loop”, filmes de 16 mm, trans- paréncias, aparethos e livros de testes. Com a ajuda dos materiais de instrugdo e a orientagdo do professor, com o proprio interesse do aluno ¢ esforgo, cada aluno pode esperar ter com o curso uma expe- ritneia bem sucedida e valida. Nos préximos anos, os materiais do Project Physics sero revistos tantas vezes quantas as necessérias para a remoc&o das ambiguidades ainda existentes ¢ clarificagZo das instrugdes de modo a tornar os ‘materiais mais interessantes ¢ relevantes para os alunos. Deste modo pedimos a quantos usem este curso que nos enviem (ao cuidado de Holt, Rinehart and Winston, Inc, 383 Madison Avenue, New York, New York 10017) todas as sugestdes e criticas. E agora — bem-vindos 0 estudo da fisica. F. James Rutherford Gerald Holton Fletcher G. Watson xr O sistema de compromisso de Tycho 54 ‘7 Surge um Novo Universo — A Obra de Kepler ¢ de Galilew abandono do movimento circular uniforme 61 [Ale das tes de Repe 63 “A lei das Orbitas clipticas de Kepler 65 A Iei dos periodos de Kepler 70 © novo conceito de lei fisica 74 - Galileu ¢ Kepler 76 A evidéncia telescopica 77 lileu concentra a controvérsia 80 Cincia ¢ liberdade 83 8 A Unidade da Terra © do Céu— A Obra de Newton ‘Newton ¢ a ciéncia do século XVII 91 Os Principia de Newton 95 ‘A lei do inverso do quadrado da forca planetiria 98 ‘A lei da pravitagdo universal 100 Newton ¢ as hipéteses 105 A iintensidade da forga planetéria 107 © movimento planetirio e a constante gravitacional un ‘valor de G eas massa reais dos planetat 113 3 ¥: wis de cem anos antes da adopeo do nosso calen- de vinte dias cada Movimento nos céus CAPITULOS 5 Onde Esti a Terra? — As respostas dos Gregos 6 Mover-se-a a Terra? —A obra de Copimnico de Tycho 7. Surge um Novo Universo—A obra de Kepler ¢ de Galilea 8 A Unidade da Terra e do Céu— A obra de Newton PROLOGO A Astronomia, a mais antiga das ciéncias, lida com objectos que hoje se sabe estarem situados a enormes distincias de nés. Para os primeiros observadores, o Sol, a Lua, os planetas © as estrelas ndo pareciam estar assim to longe. Contudo, desde sempre 4 majestosa exibigdo dos acontecimentos celestes estimulou fortemente a imaginagiio e curiosidade do Homem. Os povos antigos apercebe- ram-se da grande variedade de objectos visiveis no céu, da regularidade dos seus movimentos e das variagdes estranhamente lentas que se obser- vavam nas suas posigdes e no seu brilho. Todo este misterioso esquema de movimentos exi ser, a sua explicagdo. que se Ihe procurasse a causa, a sua razio de Felizmente, as estrelas e os planetas apresentam-se como miniisculos pontos luminosos. Torna-se assim facil observa-los e segui-los com preciso, ao contririo do que acontece com a maioria dos outros fend- menos naturais. O céu forneceu assim o “laboratério” natural para iniciar uma ciéneia baseada nas capacidades de abstraccio, medigio simplificagao, Os primeiros capitulos desta unidade descrevem a descoberta das causas ¢ significados dos movimentos celestes observados. A unidade comega com as tentativas pré-historicas de interpretagdo das observa- ‘ges, pela sua incorporagdo em mitos ¢ lendas. Termina na Revolugao Cientifica do século xv, que nos forneceu as explic es que ainda hoje sio validas. Estas explicagdes forneceram ainda todo um novo Mesmo nos tempor modernos &frequente que as pessoas, ao ar livre, utilizem 0 Sol como relégio, durante 0 dia, © as extrolas, durante a noite, Ao natcer © ao pér-se,0 Sol Indica direcgées geogré- ficas; 20 meio-dia pode obter-sea direcsio sul a partir da posiglo do Sol. A Estrela Polar permite a localizagio do verdadeiro norte, durante a noite. A posisfo do Sot pode ser utlizda, grosseiramente, como tum calendério, A sua altitude a0 meio-dia varia com as ertagdes. Stonchenge, Inglaterra: aparentemente tum observatério astronémico pré-his trico, 2 Movimento nos. Céus conjunto de métodos para a resolugdo de problemas de uma maneira cientifica Os acontecimentos astronémicos no afectaram apenas a imagi- aco das pessoas; tiveram mesmo um efeito pritico sobre a sua vida quotidiana. Na verdade, o dia de trabalho comegava com 0 nascer do Sol e terminava com 0 seu ocaso. Antes da descoberta da ilumi- ago cléctrica, a actividade humana era dominada pela presenga ow pela auséncia da luz do dia € pelo calor solar, varidveis de estagdo para estagio, 0" antiga de todas as unidades de tempo usadas na pratica. Para a medigio de intervalos de tempo maiores, a “lua” ou més constituia uma unidade bvia. Ao longo dos séculos, os relégios foram sendo concebidos para subdividir 0 dia em unidades mais pequenas, e os calendarios para registar a passagem dos dias e dos anos. ia” € provavelmente a mais fundamental e, seguramente, a mais As primeiras tribos némadas sentiram a necessidade de um calen- dirio quando finalmente se fixaram em aldeias, hé cerca de 10000 anos, Prélogo 3 tornando-se dependentes da agricultura para a sua alimentagdo: o calen- dirio era-Ihes indispensivel para o planeamento das suas actividades agricolas. Ao longo da historia, a maior parte dos povos foi-se envol- vendo na agricultura, necessitando assim de um calendario, Se a sementeira fosse efectuada demasiado cedo, as sementes poderiam apodrecer no solo, ou os tenros pés recém-brotados poderiam ser mortos por uma vaga de frio. Se fosse efectuada demasiado tarde, a colheita nao poderia ser feita antes do Inverno seguinte. Consequente- mente, tornava-se fundamental para a sobrevivéncia humana o conhe- cimento tio exacto quanto possivel das alturas em que se deviam cfectuar a sementeira e a colheita” Como as festas religiosas dos tempos primitivos estavam muitas vezes relacionadas com as estagdes do ano, a tarefa de concepedo ¢ melhoramento dos calendarios foi na maior parte dos casos desempenhada por sacerdotes. Tais melhoramentos Fequeriam a observacio do Sol, dos planetas e das estrelas. Por isso, (65 primeiros astrénomos foram, provavelmente, sacerdotes (Fotografia aérea reproduzida com permissio do Instituto Geogrifico Cadastral), - Cromelech dos Almendres, Evora Monumento megalitico do tipo frequentemente associado com obser- vagées do movimento aparente do Sol. As posigdes de Japiter, desde 132 A. C. 260A. C., esto registadas nesta placa de argila da Babildnia, presentemente ‘no Museu Britanico, 4 Movimento nos Céus ‘As necessidades priticas © a imaginacdo actuaram em conjunto, de maneira a dar 4 astronomia, muito cedo, uma importancia real Muitos dos grandes monumentos dos tempos antigos foram construidos tendo em conta uma cuidadosa orientagdo astronémica. As grandes pirdmides do Egipto, timulos dos faraés, foram construidas de modo a que as suas faces se orientassem nas direogdes norte-sul € este-oeste. Os impressionantes circulos de pedras gigantes, em Stonehenge, na Inglaterra, parecem ter sido compostos por volta de 2000 anos antes de Cristo, de maneira a possibilitar observacdes astronémicas muito precisas das posigdes do Sole da Lua. Os Maias € os Incas, na América, tal como os Chineses, desenvolveram esforgos tremendos na construgiio de edificios a partir dos quais se pudessem medir as variagdes da posi¢ao do Sol, da Lua € dos planetas. Os Babilénios © os Egipcios desen- volveram, mesmo antes de 1000 A.C., conhecimentos consideriveis a respeito da marcacdo do tempo. Os registos das suas observagdes ainda hoje estiio a ser desenterrados em escavagbes. Vemos assim que, ao longo de milhares de anos, 0 movimento dos corpos celestes foi cuidadosamente observado ¢ registado. Nenhuma outra ciéncia teve uma acumulagdo de dados to longa e profusa como a astronomia. Mas a nossa maior divida é para com os Gregos, que comegaram tentar lidar de uma nova mancira com os dados que obtiveram. Eles descortinaram o contraste existente entre os movimentos aparente- mente ocasionais ¢ de curta durag&o dos corpos terrestres ¢ os inter- mindveis movimentos ciclicos dos corpos celestés. Por volta do ano 600 A.C. comegaram a por a si proprios uma nova pergunta: Como se poderdo explicar estes acontecimentos celestes, ciclicos, de uma maneira simples? Que sentido de ordem, que significado poderemos extrair destes factos? As respostas que encontraram, que sero discutidas no capitulo 5, tiveram um efeito importante sobre a ciéncia. Por exemplo, os trabalhos de Aristételes (cerca de 330 A.C.) foram largamente estudados ¢ accites na Europa ocidental, depois de 1200 D.C. e cons- tituiram factores decisivos na revolucdo cientifica que se seguiu. Depois das conquistas de Alexandre, 0 Grande, 0 centro do pensamento grego ¢ da ciéncia deslocou-se para o Egipto, para a nova cidade de Alexandria, fundada em 332 A.C. Ai foi criado um grande museu, semelhante a um moderno centro de investigagdo, que floresceu durante muitos séculos. Mas, no declinar da civilizago grega, os Romanos — povo eminentemente pritico —capturaram 0 Egipto ¢ 0 interesse pela ciéncia morreu. Em 640 D.C. Alexandria foi capturada pelos Muculmanos, na sua expansio pela margem sul do Mediterraneo € pela Espanha, até aos Pirenéus. Pelo caminho eles reuniram e preser- varam muitas bibliotecas contendo documentos gregos, alguns dos quais foram mais tarde traduzidos para a lingua drabe e cuidadosamente estudados. Durante os séculos seguintes, .0s cientistas muculmanos fizeram novas © mais perfeitas observagdes celestes, embora sem alterar Significativamente as explicagdes ou teorias gregas. Prélogo 5 Durante este petiodo, os trabalhos gregos foram quase comple- tamente esquecidos na Europa ocidental. S6 mais tarde foram redes- cobertos alguns deles, através de tradugies arabes encontradas em Espanha, apés a expulsio dos Muculmanos. Por volta de 1130 D.C. existiam em Italia e em Franga manuscritos completos de pelo menos um dos livros de Aristoteles. Apés a fundagdo da Universidade de Bolonha, nos fins do século xm, ¢ da Universidade de Paris, cerca do ano 1200, foram encontrados muitos outros trabalhos de Aristételes. Estes escritos receberam a atencdo dedicada de estudiosos, tanto em Paris como nas novas Universidades inglesas, Oxford e Cambridge. Durante o século seguinte, Tomas Aquino, um monge Dominicano, fundiu numa filosofia tnica alguns dos elementos principais do pensa- mento grego e da teologia Cristi. © seu trabalho foi largamente estudado e aceite na Europa ocidental, durante varios séculos. Na elaboragio da sua sintese, Aquino aceitou a fisica e a astronomia de Aristoteles. E, porque a ciéncia estava fundida com a teologia, qualquer interrogagdo cientifica parecia constituir também uma interrogagio teolé- ica. Por isso € durante largo tempo, potica ou nenhuma accao critica efectiva se fez em relacdo a ciéncia aristotélica. © movimento da Renascenca, irradiado na Europa a partir da Itétia, trouxe uma nova arte © uma nova misica. Trouxe também novas ideias acerca do universo e do lugar nele ocupado pelo homem, Tornou-se aceitavel, mesmo desejdvel © recompensada, uma atitude curiosa e intertogativa por parte das pessoas. Os homens adquiriram uma nova confianga na sua capacidade de estudar o mundo a sua volta. Entre aqueles cujo trabalho introduziu e iniciou a nova era contam-se Colombo e Vasco da Gama, Gutenberg ¢ da Vinci, Miguel Angelo ¢ Rafacl, Erasmo ¢ Vessilio, Lutero, Calvino ¢ Henrique VIL (© esquema do Capitulo 6 mostra como se distribuiram as suas vidas € como se enquadraram no movimento renascentista). Nesta cultura renas- centista florescente viveu Niklas Koppernigk, mais tarde chamado Copérnico, cuja reanilise das teorias astronémicas € discutida no Capitulo 6, Outros desenvolvimentos importantes na astronomia foram efec- tuados no século xvi por Kepler, principalmente através do raciocinio ‘matematico, ¢ por Galileu, através das suas observacdes € escritos; estes so discutidos no Capitulo 7. No Capitulo 8 retomaremos 0 trabalho de Newton, na segunda metade do século xvit. O génio de Newton generalizou as i tres, de maneira a explicar os movimentos celestes —uma magnifica sintese da dindmica terrestre € celeste. Estes homens —e outros como cles, em cigncias como a anatomia ¢ a fisiologia — literalmente alte- raram o mundo. Os resultados por eles obtidos e os caminhos por les trithados durante o seu trabalho mostraram-se de to grande alcance que as alteragdes consequentes ocorridas na sociedade humana fecebem frequentemente o nome de Revolucdo Cientifica, ias acerca dos movimentos dos objectos terres- No séeulo XIl, 0 sibio Maometano Ibn Rashd tentou uma simbiose ansloga entre © Aristotelismo € 0 Islamismo. THE ORIGIN OF SPECIES ama samt ttn, Luis XIV visitando a Academia das Ciéncias de Franga, fundada por ele ‘em meados do sécuio XVII. Através da janela da direita pode ver-se 0 Observatério de Paris, em construga0 na altura 6 Movimento nos Céus Os grandes progressos cientificos podem afectar —e assim acontece muitas vezes — ideias exteriores & propria ciéncia. Por exemplo, a impres- sionante obra de Newton ajudou a formar um novo sentimento de auto- confianga. © Homem comegou a sentir-se capaz de compreender todas as coisas, celestes como terrestres. Esta importantissima alteragdo de atitude foi a principal caracteristica do século xvi, denominado a Idade da Razio. Até certo ponto, a nossa maneira actual de pensar ¢ 0 modo como nos comportamos ainda assentam no efeito das descobertas cientificas feitas séculos atras. Grandes alteragdes da atitude intelectual foram desenvolvidas a partir do inicio da Renascenga ¢ germinaram durante cerca de um século, desde 0 trabalho de Copémnico ao de Newton. De certa maneira, essa época de invengdo pode ser comparada com 0 periodo de evolugio apidissima que ocorreu durante os iiltimos cem anos, Este petiodo pode considerar-se enquadrado pela publicacdo do trabalho de Darwin, A Origem das Espécies (Origin of Species, 1859) € pela primeira explosio nuclear, em 1945. Nele viveram cientistas como Mendel Pasteur, Plank ¢ Einstein, Rutherford Fermi. As ideias introduzidas ee LLL ee TS)" Prélogo 1 por eles € por outros na citncia tém-se vindo a tornar cada vez mais importantes. E estas ideias cientificas tém um papel fundamental no nosso mundo actual, tal como as ideias e 05 trabalhos de pessoas como Martin Luther King 0 Papa Joio XXIII, Marx ¢ Lenin, Freud ¢ Dewey, Picasso e Stravinsky, Shaw ¢ Joyce. Se compreendermos como a ciéncia influenciou os homens do pasado estaremos methor preparados para compreender como a ciéncia influencia hoje 0 nosso pensamento € a nossa vida, Esta é uma das finalidades mais importantes deste curso. Em suma, 0 assunto tratado nesta unidade, embora tenha uma natureza tanto hist6rica como cientifica, é ainda de primordial impor- incia para quem quer que seja que esteja interessado na compreensio da ciéncia. Entre as razdes para apresentagdo da ciéncia no seu contexto histérico pode ainda incluir-se o seguinte: Os resultados finalmente obtidos so ainda vilidos ¢ incluem-se entre as ideias mais antigas usadas quotidianamente no trabalho cientifico. As caracteristicas de todo o trabalho cientifico sio clara- mente visiveis. Pode-se observar o papel das hipdteses, da expe- rigncia ¢ das observagdes, da teoria matemitica. Podem-se notar ‘mecanismos sociais de colaboragiio, ensino e discussao. E pode-se apreciar a possibilidade de que as descobertas cientifieas venham a fazer parte do saber estabelecido da epoca. & interessante o conflito que existe entre as teorias rivais usadas para explicar as mesmas observagdes astrondmicas. Ele ilustra 0 que essas disputas tém de comum com as que ocorrem hoje e ‘ajudam a ver claramente que padrdes devem ser utilizados para julgar uma teoria face a uma outra. Esta matéria inclui as razdes principais do progresso da ciéncia, tal como o apreciamos hoje. A historia da revolucdo cientifica do século xvit € dos seus miltiplos efeitos fora da propria ciéncia € crucial para a compreensio da ciéncia moderna, tal como 0 & ‘a Revolugio Francesa para a compreensio da Europa actual. Movimentos do Sol ¢ das Estrelas 9 5 5.2 Movimentos da Lua B 5.3. As “estrelas vagabundas” 1s 54 O problema de Platio 18 5.5 0 conceito grego de “explicaci 19 5.6 A primeira soluco com centro na Terra 2» Uma solugo com centro no Sol 5.8 O sistema geocéntrico de Ptolomeu 5.9 Sucessos ¢ limitagdes do modelo de Ptolomen BEN © Sol da meia-noite, fotogr intervalos de 5 minutos, no Mar de Ross, na Antirctida ee Pe CAPITULO 5 Onde Esta a Terra? — As Respostas dos Gregos 5.1 Movimentos do Sol ¢ das estrelas Os factos comuns da astronomia, os préprios acontecimentos celestes, so os mesmos hoje que no tempo dos Gregos. Qualquer ‘observador poderd facilmente verificar, a olho nu, a maior parte do que foi observado e registado por aqueles antigos cientistas, Poderé observar alguns dos hd muito conhecidos ciclos e ritmos, tais como a variagio da altura do Sol ao meio-dia com as estagdes do ano, as fases da Lua, © 0 glorioso especticulo do lento carrocel celeste nocturno. Se pretendéssemos apenas obter previsdes precisas acerca de eclipses, de posigdes planetérias © das estages do ano poderiamos, tal como fizeram os Egipcios ¢ os Babilénios, focar a nossa atenc&o no registo dos pormenores daqueles ciclos € ritmos. Se, todavia, tal como os Gregos, pretendermos explicar aqueles ciclos, deveremos usar aqueles dados para construir algum tipo de modelo ou teoria simples, que permita prever as variagdes observadas. Mas antes de explorarmos as varias teorias propostas no pasado vamos rever as principais obser- vagdes que as teorias deverdio explicar: os movimentos do Sol, da Lua, dos planetas ¢ das estrelas. ‘O ciclo celeste fundamental observado da Terra é, naturalmente, 0 da sucesso dos dias ¢ das noites. Em cada dia, o Sol levanta-se no horizonte local do lado leste € pde-se do lado oeste. © Sol descreve um arco através do céu, tal como esta esbogado no diagrama (a), no cimo da pagina seguinte. Ao meio-dia, a meio caminho entre o nascer € 0 por do Sol, este esté na sua posigéio mais alta relativamente ao horizonte. Em cada dia pode ser observado um movimento semelhante, de nascente para poente. Na verdade, todos os objectos celestes exibem um padrdo de movimento diério deste tipo. Todos eles se evantam a leste, alcangam 0 ponto mais alto © poem-se a oeste (embora nem todas as estrelas cheguem realmente a descer abaixo do horizonte). A medida que as estagdes vaio passando vao-se alterando os porme- nores da trajectéria do Sol através do céu. Durante o Inverno, no hemisfério norte, 0 Sol nasce e poe-se mais a sul, a sua altura ao meio-dia é mais baixa e, portanto, a sua passagem no céu diurno leva menos tempo. No Vero o Sol nasce e pée-se mais a norte, a sua altura ao meio-dia € superior e a sua passagem no céu leva mais tempo. O ciclo total demora um pouco menos do que 365+ dias, GE 5. (Os movimentos destes corpos, essencil- ‘mente os mesmos que ocorriam milhares dde anos atris, nfo sio difleis de observar —deverd Insisti-se em observé-os. (© Manual apresenta virias sugestdes para ' observagio dos céus, tanto a olho nu como através de um pequeno telescépio, Esta descrigio referese a observadores do Hemisfério Norte. Para os observa ores a sul do equador bastard trocar norte» por esuls e vice-versa. GE 52. GE 53, Para redux © nimero de dias de tran- sigdo de 100 para 97 em 400 anos, os snot iniciis dos séculor nfo divisves or 400 nfo sfo considerados como bis- sextos. € por Isso que 0 ano 1900 nfo {fol um ano bisexto mas que o ano 2000 ners. GE SA, 10 Onde esti a Terra? — As respostas dos Gregos 4 Sei no verko wea oe a Ser oe Ma (a) Trajectoria do Sol no céu, num (b)_ Altura do Sol ao meio-dia, ao. dia de Verio e num dia de Invern. longo do ano, tal como € visto de St. Louis, Missouri Este ciclo para norte e para sul, com a duragdo de um ano, é a base do ano solar e a origem das estagdes do ano. Aparentemente, os antigos Egipcios pensavam que 0 ano tivesse 360 dias; mais tarde, no entanto, acrescentaram cinco dias de festividades, de modo a ter um, ano de 365 dias, que estava em melhor acordo com as suas observagdes das estagdes do ano. Sabemos hoje que o ano dura exactamente 365,24220 dias. O pequeno excesso em relago a um mimero inteiro de dias, de 0.24220 dias, levanta um problema a quem quer que queira fazer um calendario, que, naturalmente, trabalha apenas com dias inteiros. Se se trabalhar com um calenddrio de exactamente 365 dias, 0 dia de Ano Novo chegara um dia mais cedo, ao fim de quatro anos. Ao fim de um século ter-se-4 um erro de quase um més. Ao fim de alguns séculos, a data a que se convencionar chamar de “I de Janeiro” chegari no Verdo! Nos tempos antigos foram de vez em quando inseridos dias inteiros © mesmo meses imteiros, de modo a manter um acordo razoavel entre as estagdes um calendario de 365 dias. Um tal expediente no é todavia, satisfatério, Em 45 A.C., Jilio César decretou um novo calendirio de 365 dias (0 calendario Juliano), em que se previa a insergdo de um dia inteiro (um “dia de transigio”) de quatro em quatro anos. Ao fim de muitos anos, portanto, a média seria de 3654 dias. Este calendério foi usado durante varios séculos, durante os quais a pequena diferenga entre 4 € 0,24220 se foi acumu- lando, até atingir alguns dias. Finalmente, em 1582 D.C. foi anunciado um novo calendario, sob a égide do Papa Gregorio (0 calendirio Gregoriano). Este previa apenas 97 dias de transigdio em cada 400 anos © esta nova aproximacdo mostrou-se satisfatoria até aos nossos dias. Toda a gente j4 notou, certamente, que algumas das estrelas sio brilhantes © que muitas outras so dificilmente visiveis. As estrelas mais brithantes podem parecer maiores, mas nem por isso deixam de constituir meros pontos de luz, quando observadas através de potentes bindculos. Algumas das estrelas mais brilhantes exibem coloragdes varias, mas a maior parte delas parecem brancas. Ao longo do tempo, a maior parte das estrelas mais brilhantes foram sendo agrupadas, constituindo aquilo a que se chama constelagdes. Por exemplo, a conhecidissima Ursa Maior © 0 Orion. Seegdo 5.1 Uma combinagio fotogrifica (pose ¢ fotografia “instantinea") da constela- so Orion. O diafragma da céimara fotogrifica esteve aberto durante varias hhoras, enquanto as estrelas se move- ram através do cfu (deixando os rastos visiveis na fotografia). Depois, o dia- fragma esteve fechado durante alguns minutos, sendo em seguida reaberto, Exposigdo fotogritfica, mostrando os ercursos aparentes das estrelas em tomo do pélo norte celeste. A linha diagonal foi provocada pela. répida passagem de um satélite terrestre arti: ficial Poder-se-4 utilizar um transferidor para determinar a duragio da exposigao; as estrelasmovem-se cerca de 15* por hora. fuiando-se a cmara de modo a seguir ‘© movimento das estrelas. Toda a gente ja notou, com certeza, que um grupo qualquer de estrelas se vai deslocando, durante a noite, para oeste. Porqué? Uma observagdo mais pormenorizada, por exemplo recorrendo a uma foto- gratia com um tempo de exposigo muito longo, mostraria que toda a esfera estelar se move de leste para oeste—aparecendo novas estrelas a leste € pondo-se algumas a oeste. Quando observadas de um ponto qualquer do hemisfério norte da Terra, as estrelas parecem mover-se, durante a noite, em torno de um ponto, denominado o pélo norte celeste, no sentido inverso ao dos ponteiros do reldgio. Este ponto estaciondrio esté bastante proximo da estrela chamada Estrela Polar, como se pode ver na fotografia A direita, ao cimo da pagina. Algumas das constelagdes, tais como o Orion (0 Cagador) © 0 Cisne (também chamada a Cruz do Norte ou o Cruzeiro do Norte), foram observadas € receberam os seus nomes ha milhares de anos. Uma vez que as formas descritas por esses remotos observadores ainda hoje se conservam, podemos afirmar que as posigdes das estrelas variam GE 55, Veja-te «The Garden of Epicurus» (Colec- tdnea de Textos) a 2 Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos ee URSA MAIOR URSA MENOR —_CASSIOPEIA CISNE LIRA ‘ ORION (© Manuel explica um meio muito féeil ‘mas preciso de marcar 0 tempo nos movie mentot das estrelas. ‘As diferencas entre os dois sistemas de refertncia—o horlzonte © as estrelas ‘fixas —constituer a base para a deter- ‘minagfo das coordenadas de um lugar, tanto em terra firme como no mar. muito pouco, ou mesmo nada, ao longo dos séculos. Foi esta cons- tancia das posigdes que levou A designacdo de “estrelas fixas”. ‘Assim, encontram-se nos céus relagdes imutiveis ao longo dos séculos, ¢ movimentos suaves e perfeitamente ordenados, observiveis de dia para dia. Mas embora os ciclos didrios do Sol ¢ das estrelas —o seu nascer e pér—sejam semelhantes, nao sio idénticos. Ao contririo do que acontece com o Sol, as trajectorias das estrelas néo variam de altura com as estagdes do ano. Além disso, o ritmo do ciclo didrio das estrelas no é igual ao do Sol, antes € um pouco mais rapido. Algumas constelagdes que possam hoje ser vistas bem alto nos céus, logo apés 0 pér do Sol, aparecerdo mais baixas a oeste, algumas semanas depois, quando observadas 4 mesma hora. Em felagio ao tempo solar, as estrelas pdem-se quatro minutos mais cedo em cada dia. ‘Até agora, descrevemos as posigdes ¢ os movimentos do Sol ¢ das estrelas relativamente horizonte do observador. Mas este mio é um sistema de referéncia imutavel, em relagdo ao qual todos os obser- vadores vejam as mesmas posigdes e movimentos nos céus, ja que diferentes observadores terdo diferentes horizontes. Todavia, o sistema de referéncia constituido pelas estrelas fixas é realmente 0 mesmo para todos os observadores. As posigdes relativas destas estrelas ndo variam, se 0 observador se mover sobre a superficie terrestre. Além disso, os seus movimentos didrios so simples circulos, que ndo variam ao longo do ano ou através dos anos. Por esta razo, as posigdes dos corpos celestes so usualmente descritas relativamente a um sistema de refe- réncia constituido pelas préprias estrelas. Uma descrigdo do movimento do Sol, utilizando as estrelas fixas como referéncia, deverd incluir o seu percurso diario através do céu, © intervalo de tempo difrio entre o nascer ¢ 0 pdr, ¢ a variagdo da altura ao meio-dia com as estagdes do ano. Ja vimos’ que, pelo tempo solar, as estrelas se pdem quatro minutos mais cedo em cada dia. Podemos igualmente dizer que, pelo tempo estelar, 0 Sol se poe quatro minutos mais tarde em cada dia. Isto é, 0 Sol parece atrasar-se gradualmente em relagdo a0 movimento diario das estrelas, de leste para oeste. A variagéo da altura do Sol ao meio-dia ao longo do ano corresponde a uma oscilagdo para norte e para sul da trajectoria solar, BiMae. Blum. 23 Sat. Rede. Zi Mae. Secgdo 5.2 3 relativamente ao fundo de estrelas. No primeiro dos diagramas apre- sentados mais abaixo, 0 aspecto da parte média do céu esta repre- sentado por uma faixa a volta da Terra. A trajectria anual do Sol, projectada no fundo de estrelas, esta representada nessa faixa por uma linha negra. Se cortarmos e planificarmos esta faixa, tal como se mostra no segundo e terceiro diagramas, obtemos um mapa da trajec- toria do Sol durante o ano. (A linha de © & © equador celeste, a linha celeste imaginaria exactamente acima do equador terrestre). A projecedo da trajectéria do Sol no fundo de estrelas chama-se ecliptica —o seu desvio maximo para norte € para sul do equador celeste ¢ de cerca de 234°. Além disto, precisamos de definir um ponto da ecliptica, de modo a podermos localizar 0 Sol, ou qualquer outro objecto, a0 longo dela. Desde ha séculos que este ponto tem sido aquele em que 0 Sol, deslocando-se para leste ao longo da ecliptica, cruza o equador de sul para norte —o que acontece por volta de 21 de Margo. Este ponto é chamado “equindcio vernal (ou da primavera)”. E 0 “zero”. a partir do qual sio medidas normalmente as posigdes das estrelas. Ha, portanto, trés movimentos aparentes do Sol: (1) 0 seu mor mento didrio para oeste, através do céu, (2) 0 seu desvio anual para leste, em relagdo as estrelas, (3) 0 seu ciclo anual de oscilagio para norte e para sul (altura ao meio-dia). Estes fendmenos so tanto mais intrigantes quanto é verdade que se repetem de uma maneira absolutamente infalivel e precisa. Torna-se imperativo explicar estes fenémenos a partir de um modelo simples que os represent. Ql —0 pir do Sol adiantar-se-4 ou atrasar-se-, de um dia para ‘© seguinte, se 0 tempo for marcado relativamente as estrela Q2 — Quais as razdes priticas que exigiram a concepgdo de calen- darios? Q3— Quais os movimentos solares observados durante um ano? 5.2 Movimentos da Lua ‘A Lua apresenta também o movimento diario de leste para oeste, comum ao Sol e as estrelas. Mas a Lua desliza para leste, relativa- mente ao fundo de estrelas, mais rapidamente do que 0 Sol. Na verdade, la levanta-se uma hora mais tarde por cada dia que passa. Quando ela se levanta a leste por alturas do por do Sol (ou seja, numa posigio oposta a do Sol), mostra-se brilhante e com a forma de um disco perfeito (Lua cheia). De ai em diante vai aparecendo cada vez mais tarde © menos redonda, acabando por surgir quase de manhazin! com a forma de um fino arco. Ao fim de cerca de catorze dias, quando a Lua passa pelo céu bem proximo do Sol, levantando-se com ele, nem sequer a conseguimos ver (Lua nova). Depois da Lua nova, a primeira vez que a conseguimos ver ¢ quando ela aparece muito baixo, do lado este do céu, ao pér do Sol, com a forma de Estar perjuntas que se fazem no fim de cada secpio destinamae a ajuda o litor 2 verifear © seu grau de compreensio dda matéria exposts, antes de entrar na secgio seguinte. [Uma emela-luay ocorre a um quarto do ciclo © & por isso chamada pelos astré- ‘nomos de «primeiro quarto» ou quarto- cerescente, ‘A Lua chela ocorre a melo } 23 dias depois da Lua nova “4 Onde'esté a Terra? — As respostas dos Gregos um fino arco, Depois, & medida que a Lua se afasta do Sol, em direcgdo a leste, a sua imagem vai engordando, primeiro até metade de um disco, ¢ depois, ao fim de outra semana, novamente com a forma de um disco completo. E o ciclo repete-se a seguir a cada Lua cheia, 17 dias depois da Lua nova 3 dias depois da Lua nova. Ja em 380 A.C. 0 filésofo grego Platdo tinha observado que as fases da Lua podiam ser explicadas supondo que a Lua era um bo que feflectia a luz solar ¢ que se movia em torno da Terra, com um periodo de cerca de 29 dias. Antigamente supunha-se que Lua com que ela aparecia e ao facto de ela se mover muito mais rapida- mente que as estrelas. A trajectoria lunar _no céu @ proxima da trajectéria anualmente percorrida pelo Sol; isto é a Lua est sempre proxima da ecliptica Mas a trajectoria lunar esta ligeiramente inclinada em relagdo do Sol se assim ndo fosse, ela apareceria exactamente a frente do Sol em cada Lua nova (provocando um eclipse do Sol) ¢ estaria exactamente fo ao Sol em cada Lua cheia, internando-se na sombra da Terra (¢ provocando um eclipse da Lua), Os movimentos da Lua tém sido estudados desde hi séculos, em parte devido ao interesse na previstio dos eclipses, e desde hi muito que se sabe serem muito complicados. A previsiio exacta da posigto da Lua constitui um teste muito sensivel para qualquer teoria que trate dos movimentos nos céus estivesse muito préxima da Terra, devido as grandes dimensdes em oposi Seega0 53 5 Q4— Desenhe um esbogo ripido que mostre as posigdes relativas do Sol, da Terra ¢ da Lua em cada uma das quatro fases da Lua. Q5— Por que € que ndo ha eclipses todos os meses? 5.3. As “estrelas vagabundas” Além do Sol e da Lua, podem-se ver, sem a ajuda de qualquer telescdpio, cinco outros objectos bastante brilhantes que se movem entre as estrelas. Sdo os “vagabundos”, ou planetas: Mercirio, Venus, Marte, Jipiter € Saturno. Trés outros planetas foram descobertos, com obser- ‘vagdes telescopicas: Urano, Neptuno € Plutdo; mas qualquer destes era ainda desconhecido, cerca de um século’ depois da morte de Isaac Newton. Tal como o Sol ou a Lua, todos os planetas se levantam diariamente a leste e se poem a oeste. E, da mesma maneira, movem-se lentamente para leste entre as estrelas. Mas além destes movimentos, eles apresentam um outro, simultaneamente notavel e intrigante: em determinadas alturas, cada planeta para de se mover para leste em relagio ao fundo de estrelas e, durante alguns meses, volta para tris, viajando para oeste. Este movimento em direcgo a oeste, ou movi- mento no sentido “errado”, ¢ designado movimento retrégrado. As tra- ject6rias retrogradas de Mercirio, Marte e Saturno, durante 0 ano de 1963, esto desenhadas na pagina seguinte. Saturno, Jépiter e Marte podem eventualmente ser observados em qualquer local do céu, embora sempre muito préximo da ecliptica. O movimento retrOgrado de cada um deles ocorre quando 0 planeta esté aproximadamente em oposicdo em relagdo ao Sol (isto é, a meio caminho da sua trajectéria nocturna, 4 meia-noite). Mereirio e Vénus, todavia, niio se podem afastar do Sol mais do que uma certa distancia; como mostram as figuras desenhadas acima, a maior distancia angular, para cada lado do Sol, € de 28° para Merciiio e de 48° para Venus. O movimento retrogrado de Vénus © Mercirio comeca quando o planeta esti o mais longe possivel do Sol, para leste, e visivel no céu da tarde. © britho dos planetas varia consideravalmente. Quando Venus é observada no céu da tarde, como a “estrela da tarde”, 0 seu brilho nao é nada de extraordindrio. Mas durante os quatro ou cinco meses seguintes, a medida que se afasta do Sol em direcgao a leste, Vénus vai-se tornando to brithante que pode mesmo chegar a ser observada durante dia, se a atmosfera estiver clara e transparente. Algumas semanas mais tarde, quando Vénus se esta a destocar para oeste, em direcgo ao Sol, 0 seu britho diminui rapidamente; passado 0 Sol, o planeta reaparece no eéu da manha, como a “estrela da manhi”. Passa entio pelas mesmas GE 56. Diz-se que um planeta esté em opasicdo quando ele € observado na dircosio ‘exactamente oposta do Sol. Os movi- rmentos retrogrados de Mart, Jépiter « Saturn sfo observados na altura em que esto em oposigio, Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos Secgdo 5.3 0 variagdes de brilho, agora por ordem oposta: grande brilho primeiro, esvaindo-se depois gradualmente, As variagdes de Mercurio seguem aproximadamente 0 mesmo esquema. Mas estas sio bastante mais dificeis de observar, jé que o planeta esté sempre muito préximo do Sol (sendo por isso visto apenas ao alvorecer € ao entardecer). Marte, Jipitér e Saturno sio mais brilhantes na altura em que esto no seu movimento retrégrado, em oposi¢do ao Sol. Além disso, © seu brilho maximo varia ao tim de uma série de anos. A variagio € mais facilmente perceptivel em relagiio a Marte; 0 planeta apresenta © brilho maximo quando esta em oposig&io ao Sol, por volta de Agosto ‘ou Setembro. © Sol, a Lua e os planetas movem-se em geral para leste em relagdo ao fundo de estrelas; mas, além disto, a Lua e os planetas (@ excepcio de Plutdo) podem ser sempre encontrados numa faixa de apenas 8° de largura, para cada lado da trajectoria do Sol. Estes so, portanto, alguns dos principais fendémenos celestes obser- vados. Todos eles so conhecidos desde ha muito e, pela sua regulari- dade intrigante e pelas suas variagdes, parecem exigir, antes como hoje, alguma forma de explicacao. Q6 Qual a zona do céu a prescrutar, se se pretender observar os planetas Mercirio ¢ Vénus? Q7 Para que parte do céu se deverd olhar, se se pretender ver um planeta que esteja em oposicao? Q8 Quando é que Mercirio © Vénus estdo em movimento retré- a Q9. Quando é que Marte, Jépiter e Satumo estio em movimento retrégrado? Q10 Poderdo Marte, Jupiter e Saturno aparecer em qualquer local do céu? s Angulos méximos, em relacdo a0 Sol, a que se podem observar Mercirio e Vénus. Em determinadas alturas, ambos os planetas podem ser obser- vyados ao nascer ou ao por do Sol. Mercirio nunca é observado a mais de 28° do Sol, e Venus a mais de 48°, GE 57. Movimentos retrogrados tipicos dos panetas Planeta Dias _‘Deslocamento, ara oeste Mereario 4 1s° Venus a3 19° Marte 83 a Japiter us 10° Saturno 139 r Urano 152 * 160 x Plutao 156 x Virios séculos mais tarde, a maturagio da ‘cultura isimica levou a um estudo exten- sivo ea comentirios eruditos sobre o que restava do pensamento grego. Virior sbculos ainda mals tarde, uma cultura cris mais amadurecida uclizou as ideias preservadas pelos maometanos para de- senvolver os primeiros passos da ciéncia moderna. 18 ‘Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos 5.4 © problema de Platio No século 1 A.C.,0s fildsofos gregos interrogaram-se sobre um novo problema: Como explicar as variagdes ciclicas observadas nos céus? Isto é, que modelo poder ter em conta, de uma maneira consis- tente € precisa, todos os movimentos celestes? Platdo concebeu uma teoria que tinha em conta aquilo que era observado ou, como cle proprio disse, “que salvava as aparéncias”. Os Gregos foram dos primeiros povos a procurarem explicagdes para os fenémenos naturais que nio exigissem a intervengdo de deuses ou de outros seres sobre- aturais. A sua atitude constituiu um passo importante em direcgio cigncia, tal como a conhecemos hoje em dia. Como comegaram os Gregos as suas explicagdes dos movimentos observados nos céus? Quais foram as suas hipoteses? Qualquer resposta a estas perguntas ndo pode deixar de conter uma certa dose de especulagdo. Embora, ao longo dos séculos, muitos escolisticos se tenham dedicado ao estudo do pensamento grego, os documentos nos quais se baseia 0 nosso conhecimento dos Gregos sio, na maior parte dos casos, cépias de cépias € tradugdes de tradugdes, nas quais existem muitas vezes erros e omissdes. Em certos casos conhecem-se unicamente relatérios ou comentarios, feitos por autores muito mais recentes, a respeito do que certos filésofos gregos fizeram ou disseram; estas afirmagdes sdo frequentemente distorcidas ou incom- pletas. A tarefa dos historiadores é dificil. A maior parte dos escritos originais gregos foram feitos em rolos de papiro ou de pano, que se deterioraram com 0 tempo. Guerras, pilhagens e incndios destrufram também muitos documentos importantes. Particularmente trigico foi © incéndio da célebre biblioteca de Alexandria, no Egipto, que continha varias centenas de milhar de documentos. (A biblioteca foi incendiada por trés vezes: pelas tropas de César, em 47 A.C.; pelos cristios, no século tv D.C.; e pelos mugulmanos, em 640 D.C. quando Alexandria estava sob o seu dominio). Assim, embora se tenha uma ideia geral bastante boa acerca da cultura grega, a verdade é que se desconhecem muitos pormenores interessantes. ‘A maneira como os Gregos (€ os seus discipulos intelectuais, a0 longo de muitos séculos) encararam o problema estava ja impli numa afirmagao de Platdo feita no século 1v A.C. Este definiu o problema aos seus alunos da seguinte maneira: as estrelas — represen- tando seres eternos, divinos e imutiveis —tal como as observamos, movem-se a velocidade uniforme em torno da Terra, na mais perfeita € regular de todas as trajectorias, 0 circulo interminavel. Mas alguns outros corpos celestes, designadamente 0 Sol e os planetas, vagabun- deiam nos céus, em trajectorias complicadas, chegando mesmo a sentar movimentos retrégrados. Todavia, sendo corpos celestes, movem-se certamente da maneira mais adequada 4 sua elevada categoria. Os seus movimentos, nao constituindo embora circulos perfeitos, sio certa- mente combinagdes de circulos perfeitos. Quais as combinagdes de mo mentos circulares a velocidade constante que poderio explicar as variagdes peculiares observadas nos movimentos acima de tudo regulares que sio descritos nos céus? Seepdo 5.5 9 Note-se que a formulagdo do problema o concentra unicamente na variagdo das posicdes aparenies do Sol, da Lua ¢ dos planetas. Os planetas parecem ser apenas pontos de luz, em movimento de encontro ao fundo de estrelas. A partir de duas observagdes efectuadas em alturas diferentes, poderemos obter uma taxa de movimento: uns fantos graus por dia. O problema consiste entéo em encontrar um “mecanismo”, uma combinagdo de movimentos, que reproduza os movi- mentos angulares observados, conduzindo a previsdes que concordem com as observagdes. Os astrénomos antigos ndo tinham dados experi- ‘mentais acerca das distincias que separam a Terra dos restantes planetas, muito embora conhecessem direcgdes, datas e taxas de movi- mento angular. Embora jé se relacionassem as variagdes de brilho dos planetas as suas posicdes relativamente ao Sol, estas questdes no foram ineluidas no problema de Platio. Plato € muitos outros fildsotos gregos admitiram a existéncia de alguns, poucos, “elementos” basicos, que misturaram da maneira mais conveniente, de modo a reproduzir a aparente variedade de materiais existente no universo. Embora nem todos concordassem com 0 que eram esses elementos, gradualmente acabaram por ser aceites quatro deles como fonte de explicagdo dos fendmenos observados na Terra. Esses elementos eram o Fogo, o Ar, a Agua ¢ a Terra. As substancias compostas existentes na Terra (planeta), que se supunha serem consti- tuidas por misturas variadas destes elementos, deveriam ter propriedades muito diferentes. (Veja-se a Unidade 1, capitulo 2). Nos céus, todavia, separados da Terra ¢ residéncia dos deuses. s6 poderia existir a perfeicao. Tal como os movimentos celestes deveriam ser eternos € perfeitos, da mesma maneira os corpos celestes imutiiveis nao poderiam ser compostos por elementos normaimente encontrados na Terra ou proximo dela. Portanto, supunha-se que eles eram compostos por um quinto elemento (quinta-esséncia) imutivel —o éter. ‘Oproblema de Platao, posto para explicar o movimento dos planetas, foi o problema mais importante dos astrénomos tedricos durante cerca de dois mil anos. Para apreciar os esforgos posteriores € as conse- quéncias das diferentes interpretagdes, desenvolvidas por Kepler, Galileu € Newton, examinaremos primeiro as solugdes do problema de Platio, tal como foram apresentadas pelos Gregos. Teremos de confessar que, ‘para 0 seu tempo, estas solucdes eram iiteis, engenhosas ¢ verdadeira- mente belas. QI Qual foi o problema proposto por Platio em relagio ao movimento planetario? QI2 Porque nao € completo o nosso conhecimento da ciéncia ” QI3. Porque pensaram os Gregos em utilizar unicamente 0 movi- ‘mento circular uniforme para explicar os fendmenos celestes? 5.5 O conceito grego de “explicacio” A formulagao de Plato do problema historico do movimento plane- tario ilustra trés contribuigdes dos filésofos gregos que, com certas Em lati chamavase ao éter a «quinca cessentian (quinto elemente); dal 0 actual terme aquinta-esséncian, © movimento anual norte-sul do Sol (com as etagdes do ano) era explicado colocando-se 0 Sol numa esfera cujo cixo estava inclinado de 234° em rela eo a0 cixo da esferaeterna dasestrelas. 20 Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos modificagdes, so ainda bisicas para a nossa compreensio da natureza das ciéncias fisicas: 1, Uma teoria deve estar baseada em ideias simples. Plato foi mais além, reclamando que a ideia de que os corpos celestes se moviam uniformemente ao longo de trajectérias circulares era ndo s6 simples como também auto-evidente. S6 hi poucos séculos se compreendeu que tais crengas de senso comum poderiam ser enganadoras. Mais do que isso — compreendeu-se que embora se tornasse muitas vezes neces- sirio partir de hipéteses ndo provadas, estas deveriam ser criticamente analisadas € nunca aceites sem reservas. Como veremos frequentemente a0 longo deste curso, a identificagdo de hipdteses ocultas na ciéncia tem sido extremamente dificil. E, em muitos casos, 0 identificar e por em questo. tais hipdteses foi o primeiro paso para a formulaglo de teorias inteiramente novas. 2. As teorias fisicas devem concordar com os resultados de medigdes efectuadas na observacio dos fendmenos, tal como 0 do movimento dos planetas. O nosso propésito, ao construir uma teoria, € 0 de descobrit a uniformidade de comportamento, a simplicidade subjacente as aparentes irregularidades. Para a organizagdo das observagdes torna-se Util recorrer & linguagem dos nimeros ¢ da geometria. Esta utilizagio das matematicas, largamente aceite hoje em dia, ¢ em parte devida aos pitagéricos, um grupo de matematicos que viveu no sul da Itélia por volta de 500 A.C. e que acreditava que “todas as coisas so niimeros”. Na realidade, a utilizacdio da matematica e da medigiio expe- Fimental s6 se tornou importante numa fase posterior do desenvolvimento da ciéncia. Na sua astronomia, Platéo s6 realgou o papel fundamental dos dados numéricos, enquanto Aristételes evitou mesmo, largamente, medigdes pormenorizadas. Este facto foi particularmente infeliz, ja que, como se diz no Prologo, os argumentos de Aristételes influenciaram zrandemente estudiosos posteriores. Os seus argumentos, que no incluiam a ideia da medig&o das variagdes como ferramenta de conhecimento, foram adoptados séculos depois por filésofos tio influentes como, por exemplo, Tomas Aquino. 3. “Explicar” fendmenos complexos significa desenvolver ou inventar um esquema (um modelo fisico, ou matemitico, ou outra construcdo matemitica) que tenha as mesmas caracteristicas que os fenémenos a explicar. Assim, por exemplo, se se construir um modelo de esferas interligadas, um ponto numa das esferas deve ter os mesmos movi- ‘mentos que o planeta representado pelo ponto. 5.6 A primeira solugio com centro na Terra Os Gregos constataram que a Terra era grande, solida e permanente, enquanto que os céus pareciam ser povoados por pequenos ¢ remotos ‘objectos etéreos, continuamente em movimento. O que seria mais natural concluir sendo que a nossa enorme e pesada Terra deveria ser 0 centro permanente ¢ imutdvel do universo? Um tal ponto de vista —universo com centro na Terra —chama-se geocéntrico. A partir dele, 0 movi- mento diario das estrelas pode facilmente ser explicado:: elas estio ligadas Seegiio 5.6 2 (ou constituem pequenos buracos) a uma camada esférica bem grande e negra que envolve a Terra, estando todas a mesma distancia desta. Esta esfera celeste di uma volta didria em torno de um eixo que atra- vessa a Terra, Como resultado disso, todas as estrelas nela fixas ‘movem-se em trajectorias circulares em torno do polo de rotagdo. ‘Vemos assim que um modelo simples, & base de uma esfera celeste em rotaglo ¢ de uma Terra estaciondria, & capaz de explicar os movimentos didrios das estrelas. Os trés movimentos observados do Sol jé requerem um modelo ‘um tanto ou quanto mais complicado. Para explicar 0 movimento do Sol em relacdo as estrelas imaginou-se uma outra camada invisivel, sepa~ rada, que transporta 0 Sol em torno da Terra. Além de estar fixa a esfera celeste © de compartilhar consequentemente do seu movimento difrio, esta camada possui um movimento proprio, lento e em sentido contririo, descrevendo um ciclo completo de 360° por ano. Para explicar 0 movimento solar anual do Sol, de oscilagio para norte € para sul, imaginou-se que essa camada estava inclinada relativa- mente a esfera celeste € que, portanto, 0 proprio Sol estava inclinado em relagdo a cipula de estrelas. Os movimentos dos planetas visiveis — Mercirio, Vénus, Marte, Jépiter e Saturno —eram mais dificeis de explicar. Eles compartilham © movimento didrio das estrelas, mas possuem também movimentos peculiares proprios. A esfera de Saturno foi suposta ser a maior mais préxima das estrelas, jé que ele € 0 que se move mais lenta- mente (efectua uma revolucdo em cada 30 anos). Por dentro desta estariam as esferas que transportariam Jupiter e Marte, de movimentos mais ripidos (12 anos e 687 dias, respectivamente). Acreditava-se que estes trés planetas estariam para la da esfera correspondente a0 Sol, é que qualquer deles levava mais de um ano para completar uma tevolugdo. Vénus, Mercirio a Lua foram colocados entre 0 Sol ¢ a Terra, SupOs-se que a Lua reflectia a luz solar ¢ era o planeta mais proximo da Terra, Um tal sistema imagindrio de camadas ou esferas transparentes constitula uma espécie de “maquina”, mais ou menos grosseira, capaz de reproduzir os movimentos gerais dos objectos celestes. Escolhendo convenientemente as dimensdes das esferas € as respectivas velocidades € direcgdes de movimento podia-se obter um acordo aproximado entre ‘o modelo e as observacdes. Novas esferas eram acrescentadas ao modelo, se observagdes adicionais revelavam outras variagGes ciclicas, de modo a ‘efectuar os necessirios ajustamentos. Eudéxio, amigo de Platdo, concluiu que um conjunto de 36 esferas ‘era capaz de reproduzir todo 0 padrio geral de movimentos. Mais tarde foram acrescentadas 29 outras esferas por Aristételes. (Dante di uma descrigdo interessante deste sistema geral ou esquema cosmoldgico, na sua obra Divina Comédia, escrita por volta de 1300 D.C., pouco depois de serem conhecidos na Europa alguns dos escritos de Arist6teles). No entanto, mesmo Aristételes sabia que 0 seu sistema ndio conseguia reproduzir as posigdes observadas dos corpos celestes. Ainda mais: ndo onseguia dar conta das variagdes observadas no brilho dos. planetas. Poder-se- ter a impressio de que a ciéncia grega era mi, por ser diferente da actual, ou por ser menos precisa. Mas compreender-se~a, Um esquema cosmolégico geocéntrico. AA Terra est fixa no centro das esferas rotativas concéntricas. A esfera da Lua (lone) separa a regido terrestre (composta pelas camadas concéntricas, dos quatro elementos, Terra, Agua, Ar « Fogo) da regio celeste. Nesta dltima estio as esferas concéntricas que trans- portam Mercirio, Venus, Sol, Marte, Japiter, Saturno e as estrelas. Para simplificar o diagrama mostra-se ape- nas uma esfera para cada planeta. (Extraido da cdpia feita por DeGolyer da obra Cosmographia, de Petrus Apia- nus, 1551) A rixiiia, que a. Torte wirapasta' um planeta na sua drbita em torno do Sol, © planeta parece mover-se para tris no ctu, As setas mostram as direogdes obtidas das sucessivas posigdes da Terra «em direcyo ao planeta, Os pequenos circulos numerados que estio repre- sentados na parte de baixo da figura indicam as posigSes aparentes resul- tantes para o planeta, projectadas no fundo das estrelas distantes. n Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos do estudo deste capitulo, que tal conclusio nao é correcta. Os Gregos estavam apenas a comesar o desenvolvimento das teorias cientificas ¢ fizeram, inevitavelmente, hipéteses hoje consideradas erradas. A sua ciéncia ndo era “ma”, mas era diferente da contemporaine, em muitos aspectos. Além de que néo deveri esquecer-se que esta também nao constitui a dltima palavra. Nao sera dificil imaginar que 0s esforgos actuais paregam estranhos € ineptos, aos olhos dos cien- tistas de daqui a 2000 anos. Mesmo as teorias cientificas mais modernas no sdo capazes de explicar todos os pormenores de cada situagdo particular. Os conceitos cientificos so idealizagdes que tratam apenas de aspectos seleccionados das observagées. Nao cobrem a totalidade dos dados experimentais e da experiéncia que existe no universo. Além disso, cada periodo histérico apresenta as suas proprias limitagdes 4 capacidade de imaginagdo humana, Como se viu jé na Unidade 1, conceitos gerais importantes, como por exemplo os de fora ¢ de aceleragio, sio especificamente imaginados para ajudar a organizar as observacdes. Sao invengdes humanas. Como seria de esperar, a historia da ciéncia apresenta iniimeros exemplos de situagdes em que certos factores ignorados por um inves- tigador se mostraram mais tarde muito importantes. Mas como desen- volver melhores sistemas, que fornegam melhores estimativas, sem se ‘comecar por uma primeira tentativa? As teorias silo melhoradas através de verificagdes ¢ revisdes e, por vezes, silo mesmo inteiramente substituidas por outras melhores, Q14 © que & um sistema geocéntrico? Como poderd um sistema desse tipo explicar os movimentos do Sol? QI5 Descreva a primeira solugdio dada ao problema de Plato. 5.7. Uma solugio com centro no Sol Durante cerca de dois mil anos apés Platdo e Aristételes, o modelo geocéntrico foi geralmente aceite, se bem que certos pormenores fossem debatidos pelos estudiosos. Mas um modelo radicalmente diferente fora apresentado no séc. 1 A.C., baseado em hipdteses distintas. O astrd- nomo Aristarco (talvez influenciado pelos escritos de Heraclides, que viveu um século antes) sugeriu que uma interpretagdo mais simples dos movimentos celestes poderia resultar de se considerar 0 Sol no centro, com os planetas, a Terra ¢ as estrelas movendo-se sua volta. Um sistema destes, em que 0 centro ¢ colocado no Sol, denomina-se heliocéntrico. © que se sabe actualmente do trabalho de Aristarco resulta funda- mentalmente de comentarios feitos por outros autores, jé que.a maior parte dos seus escritos se perdeu. Segundo Arquimedes, Aristarco afir- maria que o Sol estaria pelo menos dezoito vezes mais distante que a Lua e que 0 corpo de maiores dimensdes, que além disso era a fonte de luz, deveria estar no centro do universo. Seegio $.7 B Aristarco propés-se explicar todos os movimentos observados nos ‘céus supondo que a esfera celeste permanecia imével, enquanto a Terra todava em torno do seu proprio eixo, uma vez por dia. A aparente inclinagdo das trajectérias do Sol, da Lua e de todos os planetas era explicada simplesmente pela inclinagdo do eixo terrestre. Além disto, as variagdes observadas anualmente nos céus, incluindo 0 movi- mento retrégrado dos planetas, poderiam ser explicadas supondo que a Terra e os cinco planetas visiveis efectuavam um movimento de feyolugdo em torno do Sol. Neste modelo, 0 movimento previamente atribuido ao Sol em torno da Terra era substituido pelo da Terra em torno do Sol. Além disto, a Terra tornava-se apenas em mais um entre varios planetas. Pode-se ver, no diagrama apresentado & margem, na pagina anterior, como este esquema permite explicar 05 movimentos retrogrados de Marte, Jupiter © Saturno; neste diagrama supde-se que tanto a Terra como o planeta exterior se movem em rbitas circulares em torno do Sol. © planeta exterior move-se mais lentamente do que a Terra. Como consequéncia, quando a Terra esti exactamente entre 0 Sol e 0 planeta, aquela ultrapassa este rapidamente. Relativamente a Terra, portanto, © planeta parece mover-se para tris durante algum tempo, ou seja em ‘movimento retrogrado através do ctu. Desapareciam assim todas as esferas concéntricas interligadas. A hipotese heliocéntrica (de centro no Sol), que também usava apenas movimentos circulares uniformes, apresentava uma vantagem adicional: explicava o facto de os planetas serem mais brilhantes durante 0 seu ‘movimento retrégrado, j que era precisamente nessa altura que eles ~_estavam mais préximos da Terra. Mesmo assim, a proposta de Aristarco foi desprezada durante a antiguidade. Foi severamente criticada por trés Tazdes bisicas. Uma delas era a de que uma Terra mével era inacei- ‘tavel, Contradizia as doutrinas filoséficas de que a composigao da Terra ‘era diferente da dos corpos celestes ¢ de que o seu lugar natural, | tanto fisica como teologicamente, era 0 centro do universo. De facto, ‘0s contemporineos de Aristarco consideraram-no um impio, pelo simples facto de ter sugerido que a Terra se movia, Além disso, esta nova eoncepgao do sistema solar contradizia o senso comum e as observa- Ges vulgares: era evidente que a Terra estava em repouso ¢ nio numa “corrida desenfreada através do espago. — — Uma outra critica assentava numa certa evidéncia experimental que parecia refutar a hipdtese de Aristarco. Se a Terra se movesse numa érbita em torno do Sol, mover-se-ia também para tris € para diante, em relagdo as estrelas fixas. Como se mostra no esbogo ‘desenhado 4 margem, 0 dngulo de observacdo de qualquer estrela seria ‘enti diferente, de um ponto para outro da trajectoria anual da Terra. Este desvio anual das estrelas fixas deveria ocorrer se a Terra se movesse em torno do Sol. Mas tal-ndo tinha sido observado pelos astrénomos gregos. Este facto poderia ser explicado de duas maneiras: ou (1) a Terra ndo se movia em torn do Sol, ndo existindo por isso qualquer desvio, ou (2) a Terra movia-se em torno do Sol mas as estrelas estavam to afastadas que 0 desvio era demasiado pequeno ‘para ser observado. Mas para que fosse esta segunda hipdtese a verda- deira, isto €, para que-o desvio fosse téo pequeno que nio pudesse * Se a Terra se move em tomo do Sol, entdo a direcgdo segundo a qual se observa uma dada estrela deverd variar a0 longo do ano, Chama-se paralaxe um tal desvio nas posigdes relativas ‘observadas para os objectos, provocado por um deslocamento do observador. A maior paralaxe estclar observada, devido 10 movimento anual da Terra ‘em torno do Sol, é de cerea de 1/2500", Isto é devido ao facto de quea distancia a estrela mais préxima nflo é apenas de centenas de milhdes de quilémetros, ‘mas de 40 midhdes de milhdes de quilé- metros. ade u Onde esti a Terra? — As respostas dos Gregos : ‘ ser observado, as estrelas deveriam estar a distancias enormes — talvez a centenas de milhdes de quilémetros. Usando telescpios, podemos hoje observar o desvio anual das estrelas e assim saber que 0 modelo de Aristarco é de facto itil. O desvio € to pequeno que, mesmo com a ajuda de telescdpios, s6 foi medido em 1838, O maior desvio anual cerca de 100 vezes mais pequeno que © minimo eventuaimente observavel a vista desarmada. O desvio existe na realidade, mas torna-se compreensivel a atitude dos Gregos, que recusaram a teotia heliocéntrica em parte por no terem conseguido observar o desvio exigido por ela. S6 Aristarco imaginou que as estrelas pudessem estar to tremendamente distantes quanto hoje sabemos que * estiio. Finalmente, Aristarco foi criticado por ndo ter desenvolvido porme- norizadamente’o seu sistema € por ndo o tet utilizado para a previsio de posigdes planetirias. O seu trabalho parece tersido essencialmente de natureza qualitativa, isto é; um esquema geral de como as coisas poderiam ser. ‘Os sistemas geocéntrico e heliocéntrico constituiram duas maneiras diferentes de tentar explicar as mesmas observagdes. Mas este ultimo exigia uma to drastica alteragdo da imagem do homem no universo gue acabou por ter uma reduzida influéncia no pensamento grego. Felizmente, os seus argumentos foram registados e transmitidos. Dezoito séoulos mais tarde, tomaram nova vida nas reflexdes de Copémico. As idgias no sio limitadas pelo espago ou pelo tempo. Q16 Quais as duas hipdteses radicalmente novas feitas por Aris- tarco? Qual a simplificagdo resultante? QI7 Como pode o movimento retrégrado ser explicado pelo modelo heliocéntrico proposto por Aristarco? QI8 Qual a varigdo prevista pela teoria de Aristarco que néo pode ser observada pelos Grego: QI9 Por que que Aristarco foi considerado impio? Porque foi desprezado 0 seu sistema? 5.8 © sistema geocéntrico de Ptolomeu Desprezando 0 modelo heliocéntrico sugerido por Aristarco, os Gregos continuaram a desenvolver a sua teoria planetéria na base do sistema geocéntrico. Como vimos, faltava rigor 4 primeira das solugdes encontradas, aquela que assentava nas esferas concéntricas. Durante 05 500 anos a seguir a Platdo e Aristételes, os astrénomos comecaram a sentir a necessidade de uma teoria mais precisa que desse conta dos hordrios celestes. Tornava-se necessiria uma complexa teoria matematica relativamente a cada planeta, para explicar as observacdes efectuadas. Varios astronomos gregos fizeram importantes contribuigdes, que culminaram na teoria geocéntrica de Claudio Ptolomeu de Alexandria, por volta de 150 D.C. O livro de Ptolomeu acerca dos movimentos celestes constitui uma verdadeira obra-prima de anélise. Seccdo 5.8 . 2s bY Ptolomeu pretendia um sistema qe previsse de uma maneira precisa as posigdes de cada um dos planctas. O tipo de sistema ¢ 0s movi- ‘mentos que ele aceitou bascavam-se nas hipdteses de Aristételes. A defi- nigdo do problema e a apresentacdo das hipoteses sao feitas por Ptolomeu 0 titulo érabe dado 20 lvro de Ptolomeu, no prefiicio do seu livro Almagest: Amogest, significa «© maioro. «a partir das observagdes feitas pelos antigos ¢ por nds proprios pretendemos descobrir aquilo que é evidente e aquilo que é aparente, € aplicar as consequéncias destes conceitos por meio de demonstragdes im ‘geomeétricas. E assim, de uma maneira geral, temos de reconhecer que 0 céu ! € esférico e se move esfericamente; que o aspecto da Terra é . sensivelmente esférico...; que a sua posigio € exactamente no meio jo universo, tal como um centro geométrico; que, no que diz respeito as dimensdes € distncias, [a Terra] se comporta como ‘um ponto em relagdo a esfera das estrelas fixas, nao tendo ela qualquer movimento local. j Ptolomeu argumenta a seguir acerca da necessidade destas hipéteses € da maneira como elas concordam com todas as observagies. A forga do seu convencimento esti bem ilustrada na afirmagdo “...¢ evidente 5 de todas as aparéncias, de uma vez por todas, que a Terra esta no 7 meio do universo ¢ que todos os corpos pesados se movem em direccdo a cla”. Note-se que ele apoia a sua interpretagdo das observagdes astronémicas na fisica dos corpos em queda. Esta mistura de astro- nomia e de fisica, quando aplicada a Terra e ao seu lugar no sistema, ‘ -tomma-se altamente importante ao referir-se a proposta de Aristarco, ‘que a Terra poderia ter movimentos de rotagdo € de revolugio: Ora certas pessoas, embora nada tendo a opor a estes argu- i ~—-mentos, concordam com algo, na sua opinido, mais plausivel. Parece-ihes a clas que nfo ha nada que se oponha a que, por exemplo, os céus permanegam iméveis e a Terra rode em torno do mesmo cixo [que as estrelas] de oeste para leste, muito aproxi- madamente 0 ritmo de uma volta por di ‘Mas escapou-lhes 0 facto de que, na verdade —embora talvez , nada se oponha a que as coisas -estejam de acordo com. esta hipdtese mais simples, no que diz respeito i aparéncia das estrelas — uma tal nogdo seria toda cla um absurdo relativamente ao que se passa no ar, & nossa volta, Prolomeu acreditava que, se a Terra rodasse, ndo arrastaria consigo a camada de ar a sua volta. Consequentemente, todas as nuvens, todas as aves ¢ todos 0s objectos no ar voariam para oeste, Mesmo que a camada de ar fosse transportada pela Terra, isso continuaria a nao impedir que os objectos que estivessem no ar tivessem tendéncia a ser deixados para trés, em direc¢o a ceste, no movimento constante do, are da Terra. ___ 05 pardgrafos transcritos acima contém um dos temas fundamentais desta Unidade 2. Ptolomeu reconheceu que os dois sistemas eram -igualmente bem sucedidos na descripdo do movimento — na cinematica; =| . GE 5! mas um deles era preferivel ao outro, porque se ajustava melhor as eausas do movimento —a dindmica — tal como elas eram conhecidas na altura, Muito mais tarde, ao ser desenvolvida por Newton uma dindmica completamente diferente, a escolha recairia na outra hipotese. Ptolomeu desenvolveu processos engenhosos e bastante precisos pelos quais podiam ser #btidas as posigdes de cada um dos planetas, a partir de um modelo geocéntrico. Nas suas solugdes, ele ultrapassou larga- mente © esquema de esferas concéntricas dos primeiros Gregos, cons- truindo um modelo a partir de circulos ¢ de trés outros artificios geométricos. Cada um destes artificios reproduzia um determinado tipo de variagdes na taxa de movimento angular, tal como era vista da Terra Para apreciar a soluedo de Ptolomeu vamos examinar uma das muitas Pequenas variagdes que ele tentou explicar. Podemos dividir os 360° da trajectéria solar anual de encontro ao fundo de estrelas em quatro partes de 90° cada. Se o Sol estiver no ponto a 0 a 21 de Margo, estaré 90° mais para leste a 21 de Junho, outros 90° mais a 23 de Setembro, ainda outros 90° mais a 22 de Dezembro, ¢ regressara ao ponto de partida a 21 de Marco do ano seguinte. Se o Sol se mover uniformemente ao longo de uma circunferéncia em torno da Terra, os intervalos entre cada duas destas datas deverdo ser iguais. Mas, como se poder ver, consultando um calendario, assim no acontece. O Sol leva mais tempo pata percorrer 05 90° correspondentes & Primavera e ao Verio do que os correspondentes ao Outono € ao Inverno. Portanto, nenhum sistema circular simples, baseado em movimento a velocidade constante, explicaré 0 compor- tamento do Sol. s trés artificios usados por Ptolomeu ao propor uma teoria geocén= trica melhorada foram 0 excéntrico, 0 epiciclo © 0 equanto. De acordo com Plato, os astrénomos tinham até ai sustentado que 0 movimento de um objecto celeste deveria ser angularmente uniforme € a uma distancia constante do centro da Terra. Embora Ptolomeu acreditasse que a Terra estivesse no centro do universo, néo continuou a insistir em que ela fosse 0 centro geométrico de todos os circulos perfeitos. Propés, pelo contrario, que o centro, C, estivesse afastado da Terra, numa posigéo excéntrica. Assim, 0 movimento — que seria re mente uniforme em torno do centro C — nao parecia uniforme quando observado da Terra. Uma érbita deste tipo para o Sol, excéntrica, seria entdo capaz de explicar a irregularidade observada na taxa de movi- mento do Sol ao longo do ano. qusaaees, 2 IMae. Bun. 23 Set. 22 Dex. ZI Mae A trajectéria anual do Sol projectada na esfera celeste Secgdo 5.8 n Embora o excéntrico possa também ter em conta pequenas variagdes na taxa de movimento dos planetas, é, no entanto, impossivel explicar & sua custa algo de tdo radical como 0 movimento retrogrado. Para isso, Ptolomeu concebeu um outro artificio, o epiciclo (figura 4 dircita) © planeta é suposto mover-se a velocidade uniforme sobre uma circun- feréncia de pequeno raio, denominada epiciclo. O centro do epiciclo, por sua vez, & suposto mover-se sobre uma circunferéncia de maior taio—o deferente—em torno da Terra. a velocidade do planeta no epiciclo for maior do que a veloci- dade no circulo grande, o planeta — observado de um ponto acima do sistema planetirio — parecer descrever caracéis ao longo da sua trajec- toria. Se o ponto de observagdo estiver na proximidade do centro, estes caracdis exibirdo exactamente 0 aspecto do movimento retrdgrado efectivamente observado para os planetas. As fotografias que se apre- sentam abaixo mostram dois aspectos dos movimentos produzidos por um modelo mecanico simples, a “maquina de epiciclo”, na qual foi colocada uma limpada no lugar do planeta, A fotografia a esquerda foi tirada “de cima”, isto é, corresponde ao diagrama desenhado & margem; a fotografia da direita foi tirada “de viés” quase tangencial- mente ao plano da trajectéria; nesta, portanto, o aspecto do movimento elhante ao que se poderia observar a partir do centro. Os epiciclos podem ser usados para descrever muitos tipos de movi- mentos. Nao seria dificil reproduzir um sistema que tivesse todos os aspectos principais do movimento planetirio observado. Um ponto particularmente interessante do sistema de Ptolomeu reside no facto de 05 epiciclos para os planetas exteriores terem todos 0 mesmo periodo exactamente um ano! Mais, como se indica nos esbogos desenhados na pigina ao lado, as posigdes dos planetas exteriores, nos respectivos epiciclos, correspondem sempre exactamente a posigdio do Sol relativa- mente Terra, Esta correspondéncia dos epiciclos em re Iago ao movi- mento do Sol em torno da Terra seria, catorze séculos mais tarde, um ponto de preocupagao bisica para Copémico. Movimento retrdgrado criado por uma simples miquina de epiciclo. ) Fotografia estroboseépica do mo: vimento epiciclico, Os disparos foram feitos a iguais intervalos de tempo. Note-se que o movimento é mais lento nna pequena argola da trajectoria. (b) O movimento visto segundo uma direce¥o quase tangente ao seu plano, GE 5.9, Ptolomeu niorepresentou ot movimentos planetirios como os de uma méquin Incerigato, em que cada planeta deter- mina © movimento de veguinte. Por nfo possuir informagio acerca dos afsstamen- tos dos planetas, Ptolomeu colocou-es segundo a vetha ordem de distincas em relaglo 4 Tecra: ap estrelas como sendo ‘ot objectos mas distances, depois Saturno, Jipter, Marte, © Sol, Vénus, Mercério fea Lua. As érbitas foram normalmente presentada entrelagadas umas ns outras ‘de modo a nto haver sobreposicbes dos ‘icicles, Representagio simplificada do sistema ptolomaico, A excala do desenho de cima, que mostra os planetas que estfo entre a Terra e 0 Sol, € oito vezes a do desenho de baixo, que mostra os planetas mais afastados do Sol. Os Onde esté a Terra? — As respostas dos Gregos epicielos planetirios sto representados a0 longo de uma linha recta, para realgar as suas dimensdes relativas. Até agora, o sistema de epiciclos © deferentes tem “funcionado” suficientemente bem. Explica ndo sé 0 movimento retrogrado como também o maior brilho dos planetas durante esse movimento. Uma vez que 0 planeta esta do lado de dentro do epiciclo durante o seu movimento retrégrado, ocupa uma posigio mais proxima da Terra, parecendo consequentemente mais brilhante. Este facto constitui um bonus inesperado, j4 que o modelo nfo tinha sido concebido para explicar o fendmeno. Mas Ptolomeu ndo foi capaz de reproduzit de uma maneira precisa ‘05 movimentos dos cinco planetas, mesmo 4 custa de combinagdes de excéntricos © epiciclos. Por exemplo, como se pode ver nas trés figuras apresentadas acima, 0 movimento retrogrado de Marte no tem sempre a mesma dimensio angular, nem a mesma duragdo. Para ter ‘em conta estas variagdes, Ptolomeu usou um terceiro artificio geomé- ‘rico, a que chamou o equanto, resultante de uma modificagdo do excéntrico. Como se mostra ao lado, a Terra é mais uma vez deslo- cada do centro geométrico, C, do circulo, mas agora o movimento ao longo do perimetro desde j nao ¢ uniforme em torno de C; em vez disso, supde-se que o movimento angular é uniforme relativamente a um ‘outro ponto, C’, tdo descentrado como a Terra, mas do lado oposto de C. 5.9 Sucessos e limitagdes do modelo de Ptolomeu ¥ 0 modelo de Ptolomeu recorreu sempre a taxas uniformes de movi- ‘mento angular em torno de algum ponto, mantendo-se, desse ponto de vista, constantemente proximo das hipéteses de Plato. Mas Ptolomeu mostrou-se disposto a deslocar os centros do movimento do centro da Terra, tanto quanto fosse necessirio para reproduzir as observacdes. Descreveu as posigdes de cada um dos planetas, separadamente, a custa de combinagdes de excéntricos, epiciclos e equantos. Para cada um deles Ptolomeu descobriu uma combinagdo de movimento capaz de prever as posigdes observadas durante largos periodos de tempo, com ‘um erro inferior a cerca de dois graus (aproximadamente quatro. tros da Lua) —methoria considerivel em relagdo a sistemas anteriores. sucesso do modelo ptolomaico, em particular a inesperada expli cago da variagao de brilho, poderia ser tomada como prova de que ‘05 objectos celestes se movem realmente em epiciclos ¢ deferentes, em tomo de pontos descentrados. Parece, no entanto, que 0 proprio Prolomeu ndo acreditava ter obtido um modelo fisico real do universo. Contentava-se com consideri-lo um modelo matematico capaz de efectuar © cilculo das posigdes dos objectos celestes. Marte, representado a intervalos de 4 dias, em t1€s oposigdes consecutivas, Notem-se as dimensbes ¢ formas dife- rentes das curvas retrograd: Um equanto. C € 0 centro do circu. © planeta P movese a uma taxa uniforme em torno do ponto descen- trado C. GE 5.10. ‘As observagées astronémicas consistiam todas elas de medigées de Gngulos— um [pequeno arco no céu poderia ser um pequeno arco relativamente préximo, ‘ou um grande arco muito mais distante. GE Sul GE 5.12. GE 5.13, 30 Onde esti a Terra? — As respostas dos Gregos Naturalmente que continuaram a existir dificuldades. Por exemplo, para explicar os movimentos da Lua, Ptolomeu teve que utilizar epiciclos {Go grandes que, durante um més, a imagem da Lua deveria aumentar e encother de tal maneira que por vezes pareceria ter 0 dobro do didmetro de outras vezes! E claro que Ptolomeu sabia que isto era uma consequéncia do seu modelo —e que nio se verificava na reali- dade. Mas o seu modelo nio pretendia ser “real”; pretendia apenas ser uma base para 0 calculo de posigdes dos corpos celestes. A descri¢do ptolomaica constituia numa série de artificios mate! miticos, concebidos. para reproduzir e prever 0 movimento de cada planeta, separadamente. A sua andlise geométrica era equivalente ao processo de descoberta de uma complicada equagdo de movimento para cada planeta individual. Apesar disso © durante os séculos seguintes, muitos homens eruditos, incluindo o poeta Dante, acreditaram realmente que os planetas eram transportados por alguma espécie de esferas cris- talinas, como foi sugerido por Eudéxio. Além disso, eles sentiram que ‘os movimentos de todas estas esferas separadas deveriam estar rela- cionadas de alguma maneira. Mas no trabalho original de Ptolomeu no existia necessariamente uma ligagdo entre cada planeta e todos os restantes. Embora desacreditada hoje em dia, a forma ptolomaica do modelo geométrico do sistema planetirio, proposta em 150 D.C., foi utilizada durante cerca de 1500 anos. Havia boas razées para uma tio longa aceitagao. Previa, de uma maneira razoavelmente precisa, as posigdes do Sol, da Lua e dos planetas. Explicava por que ¢ que as estrelas fixas ndo mostram um desvio anual quando observadas a olho nu. Concordava em muitos pormenores com as doutrinas filos- ficas desenvolvidas pelos antigos Gregos, em particular com as ideias de “movimento natural” e de “lugar comum”. Continha uma boa dose de senso comum, atractiva para todos ‘os que vissem o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas em movi- mento a sua volta. Concordava com a hipdtese confortante de que a Terra era imével € estava no centro do universo. E estava de acordo, mais tarde, com a sintese da fé crista € da fisica aristotélica, efectuada por Tomas de Aquino e larga- mente aceite, No entanto, © sistema de Ptolomeu acabou por ser substituido por uma teoria heliocéntrica. Porqué? Quais as vantagens desta nova teoria, em relagdo a antiga? Que podemos aprender hoje, a partir da discussdo épica entre duas teorias em oposi¢ao, acerca do valor relativo de teorias rivais na ciéncia? Eis algumas das questdes a considerar no capitulo seguinte. SOs materiais de estudo deste curso de fisica, parti- cularmente adequados para o Capitulo 5, slo os seguintes: Astronomia a olho mu (cont.) A dimensio da Terra ‘A altura de Piton, uma montanha da Lua (0 movimento retrograde Actividades ‘Medidas angulares Epiciclos © movimento retrdgrado Modelos da esfera celeste Quanto dura um dia sideral? Modelo, a escala, do sistema solar Construglo de um reldgio de Sol Desenhe um analema Stonehenge ‘Nomes das crateras lunares Literatura ‘Textos du Colectines “The boy who redeemed his father's name” “Four poetic fragments about astronomy” ID movimento rectgado de Mare Filmes sem-fin O movimento retrégrado de Marte ¢ de Mercirio Movimento retrogrado — modelo geocéntrico Acctatos ‘0 movimento estelar A esfera celeste © movimento retrdgrado Excdntricos ¢ equantos estes pontos, t8m ainda um interesse geal para toda ‘Unidade 2 os seguintes textos da Colectinea: “The black cloud” “Roll call” A night at the observatory” “The garden of Epicurus” “The stars within 22 light-years that could have habitable planets” “Scientific study of UFO’ Como se poderia usar a sombra projectada no solo “oriontal por tm pa colocado na posigho vertical para -— determinar: (0) Guando ocoria © dia 21 de Joan ‘roma © dia 21 de Jusho? (©) draio de un ano solar? $3 Qual é a diferenga entre 365,24226 dias © 365} dias: (a) em segundos? (b) em percentagem’? S41 (a) Faga uma lista das observagdes de movimentos de corpos celestes que possa efectuar e que tam- bbém possam ter sido feitas no tempo da Grécia antiga. (b) Para cada uma das observagdes indique algumas ‘anes que possam te levado os Gregos a concluir da importancia desses movimenton SS Quais os movimentos estelares aparentes que podem ‘ser explicados d.custa de uma Terra plana ¢ de estrelas fixas a uma cipula rodando & sua volta? $46 Descteva os movimentos da Lua durante um més. (Use as suas proprias observagdes, se possivel) 5.7. Mererio © Venus apresntam um movimento rerS- ‘vado depot de teem ccupado a porto tas afutada Ties do Sol, visivel no ofu da tarde. & entdo que cles Comesam a moverserapdamente pare oeste em arcedo fo" Sol, que 0. urapasum, reapareendo no cfu a tanh Durante et perodo, ets planets movem-e para ccste em relagdo"is eens, como ae toss mo Meera risus Mewes ae piece oe oie to moveeno hot Ge Mercttiee da Vesey 27 e mea 0 ‘graus de cada um dos quatro quadrantes. ‘Considere cada grau em torno de C como um dia. Cons- trua uma tabela que registe 0 niimero de dias que 0 planeta leva a percorrer cada um dos quadrantes, tal como & visto da Terra $9 (@) Quanto graus de longitude perore Sol uma (b) Diga como se poderia obter aproximadamente -didmetro da Terra a partir do seguinte con- junto de dados: 1 As cidades de Lisboa e de Washington tém aproximadamente a mesma latitude, Como se poderia verificar isto facilmente? i, Um avo a jacto, sem eseala, voando a uma velocidade de 800 quildmetros por hora em rela <0 ao solo, leva 7 horas e 15 minutos de Lisboa ‘Washington. ‘Um homem liga o seu aparelho de televisto, ‘em Lisboa, exactamente ao por do Sol, para yer tum longo’ programa de tclevisio que comeya esse preciso momento em Washington. O iltimo ‘numero do programa & um jogo de basebol. 4 horas © meia depois de ter comecado o pro- rama, 0 locutor comenta que a dltima jogada Se desenrolow exactamente 0 pir do Sol ‘5.10. Na teoria dos movimentos planetirios de Ptolomeu ‘existia, como em todas as teorias, um certo mimero de hinotees.. Quais des seguntes foram conideradss por '# cipula de estrelas tem forma esférica; erta est imével; a Terra é esférica; a Terra esta no centro da esfera estelar; 4 dimensio da Terra é extremamente pequena, Comparada com a distincia as estrelas;, ‘© movimento angular uniforme ao longo de cir- culos (mesmo quando medido a partir de um pponto descentrado) € o nico comportamento ade- quado para os objectos celeste, ‘5.11 Tanto quanto tocava os Gregos e, na verdade, tanto quanto nos toca a nds, pode ser apresentada uma defesa rzoivel quer para a teoria geocéntrice quer para a teoria, Iheliocéntrica do universo. (a) Sob que pontos de vista foram bem succdidas fambas as ideias? (b) Indique algumas vantagens © algumas desvanta- gens de cada um dos sistemas, em termos da signeia grega. (©) Quais a6 contribuigdes principais de Ptolomeu? 512 Por qué'foi a astronomia a primeira cigncia a ter sucesso, em vez de, por exemplo, 4 meteorologia ou a zoologia? a 6.1 O sistema de Copérnico 6.2. Novas conclusdes Argumentos a favor do sistema de Copérnico 64 Argumentos contra o sistema de Copémnico 65 Consequéncias histéricas Tycho Brahe As observagies 68 O sistema de 8 cho so de Tycho diagrama do sistema heliocentrico de Copémico (do seu manuscrito de De Revolutionibus, 1543). Esta representacio simpliicada omite os | viirios pequenos epiciclos realmente usados no sistema. goeaeese CAPITULO 6 Mover-se-a a Terra? —A Obra de Copérnico e de 6.1 © sistema de Copérnico Nicolau Copérnico (1473-1543) era um jovem estudante, na Polonia, quando a América foi descoberta pelos europeus. Astrénomo © mate- mitico de génio, Copérnico foi ainda um talentoso e respeitado homem de Igreja, jurist, administrador, diplomata, médico e economista. Durante 0s seus estudos em Italia, lew os escritos dos fildsofos ¢ astré- nomos gregos, além de outros, Como Cénego da Catedral de Frauenberg, ocupou-se de assuntos civicos e eclesiasticos, trabalhando simultanea- mente na reforma do calendario. Diz-se que viu o primeiro exemplar da sua grande obra no dia da sua morte, em 1543, obra em que trabalhou a maior parte da sua vida e que abriu uma visio comple- tamente nova do universo, Copémico intitulou o seu livro De Revolutionibus Orbium Coelestium, ou seja, Sobre as Revolucdes das Esferas Celestes, 0 que sugere a nogio grega acerca das esferas concéntricas. Copérnico preocupou-se, efecti- vamente, com 0 velho problema de Plato: a construgdio de um sistema planetirio pela combinagdo do mais pequeno némero possivel de movimentos circulares uniformes. inicio do seu trabalho consistiu em desembaragar-se do sistema de equantos de Ptolomeu, contririo fis hipéteses de Platio. Nas suas proprias palavras, tiradas de um pequeno resumo escrito por volta de 1530: «ls teorias planetirias de Ptolomeu e de muitos outros astré- nomos, embora consistentes com os dados numéricos, apresentam igualmente dificuldades que nao sio pequenas. Isto porque estas teorias ndo so adequadas a nio set que se concebam determi- nados equantos; parece entio que um planeta ndo se move com yelocidade uniforme nem no seu deferente, nem relativamente ao centro do seu epiciclo. Consequentemente, um sistema deste tipo no parece ser nem suficientemente absoluto, nem suficiente- mente agradavel a0 espirito. 3 Tycho GE 6 Nicolau Copémnico (1473-1543). (O seu nome polaco era Koppernik, mas, se uindo a tradigaio escolistica da époc: adoptou a forma latina Copernicus, es sso at Copan te tugués) Sricanoo if Coa ne a TID NENRIOUE » Nevo “rvoie wane Peas rors Crowne ature ( anrisno corn — oe | om “raaxcors vit.on

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