You are on page 1of 6
-KARL MARX Para a Critica da Economia Politica Salario, Preco e Lucro O Rendimento e Suas Fontes A Economia Vulgar Introdug&o de Jacob Gorender Tradugdes de Edgard Malagodi, Leandro Konder,/ José Arthur Giannotti, Walter Rehfeld EDITOR: VICTOR CIVITA Prefacio’ Considero o sistema da economia burguesa nesta ordem: capital, proprieda- de fundidria, trabalho assalariado; Estado, comércio exterior, mercado mundial. Nos trés primeiros titulos examino as condigées econémicas de vida das trés gran- des classes em que se divide a moderma sociedade burguesa; a conexao dos trés seguintes é evidente. A primeira parte do Livro Primeiro, que trata do capital, com- pde-se dos seguintes capitulos: 1— a mercadoria; 2— a moeda ou a circulagao sim- ples; 3— o capital em geral.’ Os dois primeiros capttulos formam 0 contetdo do presente volume. Tenho diante de mim 0 conjunto do material sob a forma de mo- nografias que foram redigidas com longos intervalos, n3o para serem impressas, mas para minha prépria compreenséo, e cuja elaboragio sistemética, segundo o plano dado, dependera de circunstancias exteriores. 2 A notvel obra Para a Critica da Economia Politica (Zur Krk der poltischen Okonomvie) representa um marco impor- tante na forma;éo da Economia Politica manisla. Fol escnila no perfodo entre agosto de 1858 e janeiro de 1859. Na resenha que escreve para o Volk (Mare-Engels Werke. v. 13, p. 468). Engels ressalla 0 significado deste lio para “partido proletéio alemso" e o método da “dlalética materasta" empregedo. O proprio Marx escreve a Engels em 22 de julho de 1859: "No caso de que escrevas algo [sobre 0 livro], n8o deves esquecer: 1) que o Proudhonismo € anigullado ea suas bases, 2) que exetanente na fornia mais simples, forma da mercadorie, € analisado © caréter es pecficamente social da produgdo burgueso, mas nBo se trata de forma alguma de seu caréter absoluto". A realzacao da obra custou a Marx um de quinze ans, durante os quais Marx estudou uma enorme quantidade de htera- {ura séclo-econémica e elaborou as bases de sua propria teria econémica Em agosto de 1857 Marx inicia a sistematzacio do material colecionado e a redacéo defnitva, e, em 26 de janeiro de 1859, envia o manuscrto a Frenz Dunker, 0 seu editor em Beri. O lio, que deveria ser 0 primeiro de uma série de “cademos", apareceu em Junho de 1859 contendo apenas dois capitulos: “A mercadoria"€ "O dinheiro ou a crcu- Jagéo simples", mas como primetos capftulos do “Lito Prmeiro: Sobre o Capita” (que deveria sero primetro num to- tal de seis) e da "Secao I: O Capital em Geral” Marx pretendia pubicar o segundo cademo logo em seguida, onde trataria das questbes ligadas 20 capital. Contu- do, pesquisas continuadas obrigaram-no a alierar seu plano original, Agora, em vez dos seis livros planejados, 8 obra eve consiar de quatro tomos sobre o capital. No lugar dos “cademes periédicos”, Marx elabora o Das Kapital, onde retoma as teses principals de seu escrlo Zur Kritk der polttschen Okonomie. No prelicio & primeitaediglo de O Copt- tol, diz Marx a respeito da relagdo entre as dues obras: “"A obra que entrego agora ao piblico € a continuaco do meu excnto Para a Critca da Economia Politica, publicado em 1859. A longa pausa entre o inicio © @ continuagso deve-se 2 uma enfermidade prolongada por muitos anos que me obrigou a interomper vires vezes 0 trabalho, O conteddo daquele esctto esi resumido no capitulo I desse livro. Essa incluso nBo se deve apenas ao contexto ou a integridade dda obra. A exposicto esté melhorada. Na medida em que a implcacao dos fatos tenha permitido de alguma forma, ‘muitos pontos, que foram anteriormente apenas mencionados, aparecem aqui mals desenvohidos, enquanto que ou- tros pontos desenvolvides naquela obra, 20 contrério, sBo aqui meramente mencionados. A parte referente & histrio da terra do valor ¢ da teorla do dinheiro fica agora totalmente fora, mas © letor dequeie escrito anterior encontraré nas notas do capitulo I nowas Fontes sobre a histéa daquela tear. ‘A teleréncia sobre os "outros pontos desenvolvides naquela obra", que serd tratada por allo em © Capital, consste sobretudo no capitulo sobre o dinhelro que, juntamente com a parte sobre a istéia da teora do dinheto, consti a ‘rbosigio mais delahada da tea do dnhlto de Mare. Tratase aqu de quest6es da creulagso do dint eda teo- 23 24° PARAACRITICADA ECONOMICA POLITICA, Suprimo uma introdugdo geral? que havia esbocado, pois, gragas a uma refle- x&o mais atenta, parece-me que toda antecipaco perturbaria os resultados ainda por provar, e o leitor que se dispuser a seguir-me ter que se decidir a ascender do particular para o geral. Por outro lado, poderao aparecer aqui algumas indicacdes sobre o curso dos meus proprios estudos politico-econdmicos. Minha especialidade era a Jurisprudéncia, a qual exercia contudo como disci- plina secundaria ao lado de Filosofia e Hist6ria, Nos anos de 1842/43, como reda- tor da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung)? vi-me pela primeira vez em apuros por ter que tomar parte na discussdo sobre os chamados interesses materiais. As delibe- ragbes do Parlamento renano sobre o roubo de madeira e parcelamento da pro- priedade fundiaria, a polémica oficial que o Sr. Von Schaper, entéo governador da provincia renana, abriu com a Gazeta Renana sobre a situagao dos camponeses do vale do Mosela, ¢ finalmente os debates sobre o livre-comércio e protecao adua- neira, deram-me os primeiros motivos para ocupar-me de questdes econémicas. Alem do mais, naquele tempo em que a boa vontade de “ir a frente” ocupava mui tas vezes 0 lugar do conhecimento do assunto, fez-se ouvir na Gazeta Renana um eco de fraco matiz filos6fico do socialismo e comunismo francés. Eu me declarei contra essa remendagem, mas ao mesmo tempo em uma controvérsia com 0 Jor- nal Geral de Augsburgo (Allgemeine Augsburger Zeitung)* confessei francamente que os meus estudos feitos até ent&o nado me permitiam ousar qualquer julgamen- to sobre o contetido das correntes francesas. Agarrei-me as ilus6es dos gerentes da Gazeta Renana, que acreditavam que através de uma atitude mais vacilante do jor- nal conseguiriam anular a condenagéo de morte que fora decretada contra ele, pa- ra me retirar do cenério pablico para o gabinete de estudos. O primeiro trabalho que empreendi para resolver a divida que me assediava foi uma revisdo critica da filosofia do direito de Hegel, trabalho este cuja introdu- ao apareceu nos Anais Franco-Alemaes (Deutsch-Franzdsische Jahrbiicher),® ria dos melos de cculagio, em um sistema de producso capitalist tolalmente desenvelido, que em O Capital sé se- ‘Bo tatadas no Livto Tercero, depois de ter sido fella andise do processo de produgso e do processo de circulaglo do capital e a andlse da taxa iédia de luco. Se, por isso, a cries ¢ formalmente apenas um comego, e O Capial a sua continuacSo, pode-se afrmar também que ela abrange muito mais do que a mera ctculagio simples de metcado- tas Ela fornece ja, no campo da leoria do dinhelro, os grandes tracos de obra total. (N. da Ed. Alera.) ‘A edigdo que uillzamos como texto basico para esia tradugSo fol a da Diet Verlag Berlin (1972), da colecso Manx. Engels Werke, v. 13. Procuramos realzar ume traducSo que, além de se manter fil a0 texto, deasse transparecerto- ddo-0 Jogo diaiético das categorias, Para isso fol mulias veaes preciso quebrar o uso coments de cetas palavras ¢ até mesmo formar outas. Exemplo signifcatvo de ruptura com o sentido tradicional ¢ a tradugdo de Geld, quando no ‘aparece composta com outre palavte, como em Geldstick (pega de moedal, por “dinheiro”, quando frequentemente ‘etpregamos “moeda”. Mas entre Geld e Munze existe uma oposicgo entre o ideal ¢ o encammado mum ser percular, '3-que-o bom senso portugués sempre fol cago. Para dstngulr Bestimmung (detenminacio) de Bestimmhelt (uma de” terminaggo que advée 20 objeto por sua poso no processo}, inventamos “determinidade”, Assim ¢ que 2. moeda, que encama a ideaidade do cine gragae a0 proprio movimento calétco dessa uluma categona, ¢ una determin dade formal do dinheiro. (N. do.) 2 Vela neste volume lntrodugto [8 Critea da Economia Politica. (N. dos T.) 3 Rheinische Zeltura fir Polk, Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poltica, Comérco e Indistia) — Diésio pu biicado em Colénia, de 1.° de janeiro de 1842 até 31 de marco de 1843, Fundado por representantes da burguesia ana, que se opuntiam a0 absolutism prussiano, o Jom aaiu também alguns jovens hegeliancs, Marx fol seu cola- borador a parti de abril de 1842, ¢ seu redator-chefe a partir de outubro do mesmo ano. O jomal publécou também uma sete Ge artigos de Friedrich Engels. Sob a infludnca de Marx, o jomal assumiy um carter revoluconério-demo crdtico, tendénda exia que se acentuava progressivamente. A linha do Rheinische Zeitung, cuja populeridade cresci, ha Alemanha, provocou preocupagdo e insaisiagSo nos circulos govemamentals, © a Imprensa reacionéra langou-se ‘enfurecida conta ele. O jamal foi colocado sob severa censura, depois de 19 de janeio de 1843, por forga de um de- ‘rete do governo prussiano, e proido definivamente em 1.° de abri de 1843. (N. da Ed. Alem) ‘Allgemeine Zeitung (Jomal Geral) — Diao conservador fundado em 1798. Entre 1810 ¢ 1882 fol publicado em ‘Augsburgo. Em artigo. publcado no Rheinische Zeitung (O Comunismo ¢ o “Allgemeine Zeitung’ de Augsburgo) Mare ataca esse joral por haver flsiiado as ieias do socialismo e comunismo us6picos. (N. da Ed. Alem.) 5 Os Deutsch-Fraratsische Jahrbucher (Anais Franco-Alemdes) loram publicados em Paris, no idioma alemSo, por Kal Marx e Amold Ruge, ¢ epareceram apenas uma Gnica vez, er fevereito de 1844, Neles foram publicados os t= balhos de Marx A Quesido Juda e Para Critia da Filosofia do Direito de Hegel: Invoducdo, bem como o Esboco para ‘uma Critica da Economia Poltica e A Sltuagdo da Inglatera. Post and Present by Thomas Carlyle, Londres, 1843, de Friedrich Engels. Esses trabalhos marcam a passagom de Marx e Engels para 0 materalismo e comunismo. Contido, ivergéncias de principio entre Marx e o burguds radical Ruge lmpediram que a revista continuasse a ser publicada, (Noda Ed. Alem) PREFACIO. = 25 do: relagGes juridicas, tais lo, lem ser compreendic fem @ partir de si mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento. geral lo espirito humano, mas, pelo contrério, elas se ental 3 i i de vida, “cuja i resumida por Hegel sob o nome de “'sociedade civil” (biirgerliche Gesellschaft), seauindo_os inaleses e franceses do século XVIII; mas jue a anatomia da socie burguesa (biirgerliche S ‘ser procu- yada_na Economia Politica. Comecei o estudo dessa matéria em Paris, mas tive ‘que continud-lo em Bruxelas, para onde me transferi em conseqiléncia de uma or- dem de expulsao do Sr. Guizot. O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio condutof aos meus estudos, pode ser formulado ert pore cas palavras: na producao social da propria vida, os homens contraem relagSes de- ferminadas, necessarias e independentes de sua vontade, relagdes de producao es- fas que correspondem a uma elapa determinada de desenvolvimento das suas for- ‘(as produtivas materials. A totalidade dessas relagoes de producao forma a estrutu- raece ice sociedadé, a base real sobre a qual Se levanta uma_superesirutura GeO bibl da eckson de conse ‘oducao da vida material condiciona o processo em geral de vida Social, politico e espiritual. Néo € a consciéncla dos homens que i ser, mas, ao contrério, é © seu ser social que determina sua consciéncia, Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forcas produtivas materials da sociedade entram em contradigéo com as relagdes de produg&o existentes ou, o que nada mais € do que a sua expresso juridica, com as relacées de propriedade dentro das quais aquelas até entéo se tinham movido, De formas de desenvolvimento das for- @@s produtivas essas relagdes se transformam em seus gnilhdes, Sobrevém ent&o uma €poca de revolugéo social. Com a transformacéo da base econémica, toda a enorme superestrutura se transforma com maior ou menor rapidez, Na considera- gao de tais transformacoes é necessario distinguir sempre entre a transformagao material das condigées econémicas de produgao, que pode ser objeto de rigorosa|| verificagdo da ciéncia natural, e as formas juridicas, politicas, religiosas, artisticas ou|| filossficas, em resumo, as formas @deol6gica®)pelas quais os homens tomam cons- | ciéncia desse conflito e o conduzem até o fim. Assim como no se julga o que um individuo @ a partir do julgamento que ele se faz de si mesmo, da mesma maneira Mew 43 , p» No orginal l-se:“..Rechtsverhatnisse we Staatsformen (..) in den materelle’Lebensverhatissen wurseln, deren Gesomthett Hegel, nach dem Vorgang der Enalinder und Froraésen des 18. Jahrhunderts, unter dem Namen. birger: liche Geseltchaft” susammerfasst, dass aber dir Anatomie der blrgerichen Geselschaf in der pollischen Okonomie ‘a1 avchen sei". Em breves polavras, pode-e dur que u burgerione Geselechaft (wocieaede civil, pare Ylege, se ape. senfa como a antese da familia, e 0 Estado surge como a sintese de ambos, como uniSo dos respects pricipios. A scone c¢2 ca onde ox as, ame puoas hd, «slg ce ws eee, Nor ‘20 contrério, dstingue a concepeic hegelans de sua propria: 8 "socledede ck” comesponde 20 nivel onde se dé "0 Telacionamento dos possuidores de mercadorias”, as celactes materials de vide” ou matabolismo social’. Ela const {ui a anatomia ou a bose da estrutura socal. Mas » sociedade burguesa (o terra alemo €, também, como s€ vis, BU seriche Geselbchoft reine, para Marx, no somente 0 mado burgues de produgo como também as relagbes judh- 2s, 0 Estado burguts etc, que implica. Em sua realdade histérica, a birgeriche Gesellechot ¢ @ socedade capitalist, (om todas as formacbes socials que lhe sfo propries(N. do T.) “Na tradugfo francese de Maurice Husson, o mesmo wecho da obra de Marx teve a seguinte redagéo: "Mes recher- ches aboutrent & ce resultat que les roppors juridiques — ainsi que les formes de Etat — ne peuvent etre compris ni ‘par eux-mémes, ni par la préiendue évoluion génerale de esprit humain, mals quis prenment au contaire leur ra. es dans les conditions existence matérelles dont Hegel, 3 exemple des Anglls et des Francais du XVII siéle, com. rend ensemble sous le nom de ‘soceté cule’ et que anatomic de la socleté clile dolt tre cherchée 2 son tour ‘dans "économie poltique.” (MARX, Karl Contribution @ la Critique de lEconomie Poltique. Pars, Editons Sociales, 1957, p. 4), A tradugSo de M. Husoon, em portugues, teria e segunie ""Misias pescusae conduttam 80 Te: sultado segundo © qual es relagdes juridicas —- bem como as formas do Estedo — no podem ser compreendidas ‘nem por si mesmas, nem pela pretensa evolucSo geral do espito humano, porsm que, ao contro, eles s¢ entfzam ‘as condligdes materials de existénca, cujo conjunto Hegel, a exemplo dos ingases e dos franceses do séeulo XVill, tetine sob 0 nome de ‘sociedade ci, © que a anatomia da sociedade cil deve ser procurada, por su vee, na Econ: ‘mia Politica” Como se ve, Husson treduau burgeriche Geselichaf, em ambat at passagens do techo, igualmente or socledade cil. (N. do Ea) 26 PARA A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA nao se pode julgar uma época de transformagdo a partir de sua proy Sia; ao contrario, € preciso explicar essa consciéncia a partir das contradigées da vi- da material, a partir do conflito existente entre as forgas produtivas sociais e as rela- Ses de _produgdo, Uma formacao social nunca perece antes que estejam de- evden todee a forcas produtivas para as quais ela é suficientemente desenvol- vida, e novas relagSes de produgéo mais adiantadas jamais tomardo o lugar, antes que suas condigdes materiais de existéncia tenham sido geradas no seio mesmo da velha sociedade. E por isso que a humanidade sé se propde as tarefas que pode re- solver, pois, se se considera mais atentamente, se chegaré 4 conclusdo de que a propria tarefa s6 aparece onde as condigdes materiais de sua solugao j4 existem, ou, pelo menos, sao captadas no processo de seu deus, Em sania. ato podem ser caracterizados, como épocas progressivas da forma¢éo econémica da socieda- de, os modos de produgdo: asiatico, antigo, feudal e burgués moderno. As rela- ‘Ges burguesas de producao constituem a ultima forma antagénica do processo so- cial de produgdo, antagénicas nao em um sentido individual, mas de um antagonis- mo nascente das condig6es socials de vida dos individuos; contudo, as forgas pro- dutivas que se encontram em desenvolvimento no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condigées materiais para a soluco desse antagonismo. Dai que com essa formacao social se encerra a pré-hist6ria da sociedade humana. Friedrich Engels, com quem mantive por escrito um intercambio permanente de idéias desde a publicagao de seu genial esbogo de uma critica das categorias econdmicas (nos Anais Franco-Alemies), chegou por outro caminho (compare o seu trabalho Situagdo da Classe Trabalhadora na Inglaterra) ao mesmo resultado que eu; e quando ele, na primavera de 1845, veio também instalar-se em Bruxe- las, decidimos elaborar em comum nossa oposicéo contra o que hé dé[ideol6gico) na filosofia alemé; tratava-se, de fato, de acertar as contas com a nossa antiga cons- ciéncia filoséfica. O propésito tomou corpo na forma de uma critica da filosofia pés-hegeliana. O manuscrito,” dois grossos volumes in octavo, j4 havia chegado ha muito tempo a editora em Westfdlia quando fomos informados de que a impressao fora impedida por circunstancias adversas. Abandonamos o manuscrito critica roedora dos ratos, tanto mais a gosto quanto j4 haviamos atingido o fim principal: a compreensdo de si mesmo. Entre os trabalhos dispersos de ent&o, através dos quais submetemos ao ptiblico nossas opinides sobre questdes diversas, menciono apenas 0 Manifesto do Partido Comunista, que Engels e eu redigimos em conjun- to, e uma publicagéo minha, o Discurso Sobre o Livre-Comércio (Discours sur le Libre Echange). Os pontos decisivos de nossa opiniao foram indicados cientifica- mente pela primeira vez, ainda que apenas de uma forma polémica, em meu escri- to Miséria da Filosofia’ (Misére de la Philosophie etc.), publicado em 1847 e dirigi- do contra Proudhon. Depois, numa dissertacao escrita em alem&o sobre o Traba- lho Assalariado,* onde sintetizei as minhas conferéncias sobre este tema feitas na Unido dos Trabalhadores Alemaes de Bruxelas,? cuja impressio, todavia, foi inter- rompida pela Revolucao de Fevereiro e por minha subseqtiente expulséo da Bélgi- a. 7 Trata-se de A Ideologia Alema. (N. da Ed. Alem8.) Essa dissertagao fol posteriormente divulgada em folheto intitulado Trabalho Assalariado e Capital. (N. do Ed.) ° A Deutsche Arbeiterverein (Unio dos Trabalhadores AlemSes) foi fundada em agosto de 1847 por Marx e Engels em Bruxsas, com o objetivo de esclarecer policamente os vabathaderesalemes que vviam na Belgica, e par levar Se clos ae lea do comumismo centfes. Sob a GregSo de Nar, Engels e outos seve companheron, 2 “Lrigo” se transforma em um centto dos trebalhadores alemes revaluconéios. A Deutsche Arbeerverin mantinho esti con talo com a8 assoclagBes operdias belgas, Seus membros mal progresisias enleram para a Comunidade de Brixelas da Liga dos Comunistas. associagio desempenhou um papel destacado na fundacao da Association Démocrati- gut de Brusels, Loup ands a Revol de Fever a Fang (1848), plc bel dtm e exp 8 maoga membros da “Unido”, com o que essa associag3o teve que paralisar suas atividades. (N. da Ed. Alem&.) ent, PREFACIO 27 A publicagéo da Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung), em 1848 e 1849, e os acontecimentos posteriores interromperam meus estudos econdmi- cos, que s6 puderam ser retomados em 1850, em Londres. A enorme quantidade de material sobre a historia da economia politica que se encontra acumulada no Museu Britdnico, a situago favordvel de Londres como ponto de observacdo da sociedade burguesa e finalmente © novo estégio de desenvolvimento em que esta parecia entrar com a descoberta do ouro na California e Austrélia determinaram- me a comegar tudo de novo, e estudar criticamente até o fim todo o material. Es- ses estudos, em parte por causa de seu proprio caréter, chegaram a disciplinas apa- rentemente afastadas do plano original, nas quais tive que deter-me por mais ou menos tempo. Mas foi sobretudo a necessidade imperiosa de exercer uma profis- so para ganhar a vida que me reduziu o tempo disponivel. Minha colaboragao, j4 de oito anos, com o primeiro jornal anglo-americano, 0 New-York Tribune," ter exigido uma extraordinaria dispersio dos estudos, uma vez que apenas excepcio- nalmente me ocupo com o jornalismo propriamente dito. Contudo, artigos sobre fatos econdmicos de destaque, ocorridos na Inglaterra ¢ no continente, constituem uma parte tdo significativa da minha contribuiggo que me vi obrigado a familiari- zar-me com pormenores que ficam fora do ramo da ciéncia da Economia Politica propriamente dita. Esse esboco sobre o itinerério dos meus estudos no campo da economia politi- ca tem apenas o objetivo de provar que minhas opinides, sejam julgadas como fo- rem e por menos que coincidam com: os preconceitos ditados pelos interesses das classes dominantes, so o resultado de uma pesquisa conscienciosa e demorada. Mas na entrada para a Ciéncia — como na entrada do Inferno — é preciso impor a exigéncia: Qui si convien lasciare ogni sospetto Ogni vilta convien che sia morta,” Londres, janeiro de 1859 Karl Marx ¥® Neve Rheinische Zeitung. Organ der Demokratie (Nova Gazeta Renana, Gngéo da Democracia) — Diétio cuja reda- «0 esteve a cargo de Marx, € que foi pubicado em Coldnia de 1.° de junho de 1848 2 19 de maio de 1849. A ele Tonceram também Friedrich Engels, Wilhelm Wolf, Georg Werth, Ferdinand Well, Emst Dronke, Ferdinand Frell- rath e Heinrich Bargers ‘Apesar das pressBes e perseguicSes polis contra os seus redatores, o Neue Rhehnische Zeitung delendia corgjoss- rants os interesses da democracia revoluconétia e com isso 05 interesses do proetriado. Em malo de 1849, quando ‘8 contra-revolugdo passa & ofensiva, 0 govemo prussiano determina a expulsBo de Marx da Prissia, depois de ter negado a nacionalidade. Sua expulsdo e as represélas que se sequiram, contra os outros redatores, obrigam o Jomal fechar. O silimo ntimero da Nova Gazeta Renana fo impresso em vermelho (n° 301. de 19 de maio de 1849) e traz Lume proclamesso de despedide dos redatore, dirgda ees operéios de Colénis, em gue afrmam que “a akima pale- ‘va do Jornal sé por toda parte e sempre: Emancipacto da classe operéral” Q Neue Rheinische Zetung "Tol o'me- Thor e jamais superado Srgio do proletarisdo revolucionério” (Lenin). (N. da Ed. Alem.) 3!New-York Daily Tribune — Jornal americano, que exisiu de 184i a 1924. Nas décadas de 40 e 50 o jomal assumiu um carater progressista ¢ se engajou contra a escravidso. A colaboracso de Marx comesa em agosto de 1851 e se es- fende até margo de 1862, Uma boa parte dos artigos fol escrila por Engels, por solicitagio de Marx. Os artigos de am- bos nesse Jornal talam de questtes importantes do movimento operéio, de police intema e extema, e do desenvoli- mento econdmico dos pafses europeus, como também questOes igadas & expansio colonial e aos movimentos de I- bbertagso nos pases dominados e dependentes.(N. da Ed Alem& } "Que aqui se aaste toda a suspeita (Que neste lugar se despreze todo o med”. (DANTE. Divina Comédia.) (N. da Ed. Alema.)

You might also like