You are on page 1of 6
42 INSCRIGAO KUNERARIA DE ADEGANHA Em meados de 4980, fomos infurmades de achado de uma inscrigdo latina, efectnada pelo sr. Abrado José Vilela numa sua lurta, no sitio denominada Corgas, na freguesia de Adeganha, coneelho de Torre de Moneorvo (4, O seu achador levou-a para sua casa, onde s¢ conserva. Foi-nos dito que no local de unde micos, além de ser ainda proviera abundam os fragmentos cer visivel um muro de pedra aparelhada, informa oportunifade de confirmar ve que nav tivemos © monumento de que damos noticia é uma estela de granito com as dimensdes 42 x 25 x 102), Ostenta na parle superior um Irontao triangular, de lades bem definidos por uma mold de talio convexo obtida pela gravacao de dois sulcos paralelos e distantes entre si 2 cm. Toda a parte inferior & ocupada pelo campo epigrafico, também delimitado pelo mesmo tipe de moldur A lapide apresenta-se fracturoda pela hase e a superficie da face gravada esta levemente dunifieada pela orosiia; contudo, tal facto, nao impossibilita o seu estudo. O front&o, com 15 de altura 0 22 de base, esté decarado com a representacio de um animal, dificil de identificar (cervideo?), caminhando para a esquerda. Esquematicamente representado por um rechanguln de 3><6 a que se acrescontaram, por pequenas suleos, () Agradeceros ao de, Fernando Ochoa Morgado quor esta informagao quer todo o apoio que ous presion aguando da nossa deslueagio a Adeguaha, ("] Todas as medidas sio referidas em centimelrus ¢ pela ordem altura x largure x espessura, Ficheiro pigréfico, 10, 1984 8 Fichero Epigrafico, Adeganha, Moncorve, Portugal - 42 = HEgOl 6870 a cauda, as quatro patas e 0 que pode interpretar-se como sendo os chifres ¢ 0 focinho, nao deixa de nos transmitir uma impr de realismo, movimento, leveza e equilibrio. Conseguiu-o o artista avancando-lhe, dobrado pelo joelho, um dos membros anteriores, em evidente conteaste com o posterior esquerdo que, levemente, reeuado, torna simétrica a reprosentagdo. so Do texto restam nos quatro das seis linhas que provavelmente apresentaria. Campo cpigrafica: 182 PALAGHA + ABRV/NI (jilia) AN(norwm) XX (vigindi) | 1Méc) E(st) S(ita) AJTBRVNVS | Flaciendum) C(aravit)?) Aqui jaz Paldcia, filha de Abruno, de vinte anos. [Abruno mandou fazer (este monumento)] (?) Altura das letras: | Espagos: 1 a 3: 41; 4: 3/4. As letras esta profundamente gravadas, tendo em conta o tipo de rocha, com trago bastante alargado, eortamente por efcito da erosio, Embora parega ter-se reeorrido a linhas auxiliares, a diferente altura das letras da uma impressio de obliquidade a inserigao. Nas |. 1, 2 4 0s AA néo apresentam a haste horizontal e, todas cles, tém a perna dircita mais longa ¢ obliqua que a esquerda O18 A dal. 1, ben assim como o do nexo AN na 1. 3, apresenta um prolongamento oblique na extremidade inferior da perna esquerdz. O Leo 2° A da | 1 eslio unidos pela base, OC eo J, nesta mesma linha, aio de menores dimensies e quase unidos para que coubessem no campo epigrafico. Note-se, na 1. 2, © punctus distinguens —o tmico da inscri¢do — perfeitamente redondo entre os dois AA, © B eo R, tal como o L nal. 4, estdo levemente inclinades para a esquerda, Na l. 8, 0 primeira V tem a perna ligeiramente inclinada para a esquerde. OQ nexo AN apresenta a barra horizontal dy A enbora gravada de mode muilo superficial, Os XX, com a perna esquerda quase vertical, foram iis profundamente gravades nas extremidades e nas pernas obliquas. 4 Ficheira Epigrajicn, 10, 1984 Fichero Epigrafico, Adeganha, Moncorve, Portugal - 42 = HEgOl 6870 B nitida a preocupagio de realce dado a formula 7 £5, nio 86 pelo diferente tamanho (estas iniciais como pelo espago inter- linear @). A fractura da lapide deixou incomplete o texto; eontudo, podemos adiantar, como mera hipdtese de estudo, as outras duas linhas que juleamos terem feito parte do texto. Assim, o A da L. 4 faria parte do antropénimo ABRVNYS que, no nominativo, preencheria toda a 1.5 e A qual se seguiria a habitual sigla constiluindo a 6." ¢ tiltima linha. Para além da sua forma, real mo elementos importantes para oestudo dos peves pré-romanos, a norte do Douro, a repre- sentagiv zoomériica e os dois untropénimos uela documentados Estas represenlages coomérlivas tém frequentemente um caraeler funerérie, documentando-se noulras estelas o cervideo quer isolarlo, como neste caso, quer associady ao javali ao ou cavalo (*), além de se poder considerar tarnbém relacionado com 0 cnlios solares (®). ‘Tranoy refere um manumento funerdrio dos Zoelas em Len (CLL 11, 2668) onde apareeem representades lres animais, no pano inferior, simbolizando os trés defuntos: um javali pam o maride, uma eorga para a mulher e uma ria para a erianga (*). Achamos pertinente realoar o facto de nos aparecer na estela de Adeganha uma tinica representagda znomérfica, uma tiniea defunta, e o achado se ter verificado na regidia dos Zoelas. © antropénimo Palacia, eognomen com que unicamente se identifica a jovem indigena, constitui um Rapaz. Contudo, o sen radical, Pala—, 6 muito frequente, sobretudo na hidronimia e Yoponimia peninsulares (’), registando-se, por exemplo, no topé- nimo pré-romano Palentia (hoje, Palenguela). Maria de Lurdes Albertos sugeriu-nos também a sua possivel relacionagio com os antropénimos Balarus ¢ sua variante Palarus, bem coma com Batanus, um dus Vettonum, ¢ is pela ovdem aqui registadas © habitual 6 H+S-B- Hiibner regisia ts exeraplos: CFL IL 699, 295 at aie seamnidln das initiais F=C+, ef dL. Vasconcelos, Religtoes da Lucitania, TL, Lisboa, 1913, p. 870 2 414 (1) Jost Mana Busaques, Imagen yw Mite, Madrid, 19% LM. Bedayen 9 6 py. 496. (6) AL Teaxoy, La Galiee Romaine, Paris, L98L, p. 360. C) OM. L, Annentos, Lee one Torraconense y Bética, Salamanca, 1966, p. 17h, poueo vulgar aparceer-nos estas iniei le Hispania istice persanal primitive d Aweiso Epignifica, 10, 198% Fichero Epigrafico, Adeganha, Moncorvo, Portugal - 42 = HEpOl 6870 0 cognomen Abrunus cncontra-se ja docurnentado noutras seis inscrigdes ®), sendo esta a segunda a norle do Douro, A base deste antropénimo 6 indubitavelmente o indo-eurapeu tabbro ‘forte’, ‘onéreico' ®) também dooumentado na Germania [nferior. Awsrésro J. Nuys Mostermo (Cir mapa in Actus del T Galoquio sobre Lenguas ¥ Culturas Promomanas de Ja Peninsula Iberivay, Sakumanca, 1976, p. 71. QM. L, Anwunros, Q Prim. 1966, p. 4 5 Pichwire Mpigrifies, 10, 1984 Fichero Epigrafico, Adeganha, Moncorvo, Portugal 43 PLACA FUNERARIA DE VIBIA MAXIMA Encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia e Elnulogia (N.© E 6309) desde 1915 uma placa funerdria em ealcario biogénico com manehas beiges, cuja proveniéneia nfu vem inencionada no livyo de registo de entradas. Dela ndo encontraraos também qnal- quer referducia bibliogsifiea, pelo que embora cou a natural reserva agi & ineluimos romo inédita, Sensivelmente quadran- gular, tom as aresias grosseiramente deshastadas, decerto porque se destinava a ser incrustada em monumento que as cvullava. Nao alisada atris. Notam-se aqui ¢ ali as linhas de panta, inclusive junto da aresta inferior, Pelo material de que é feita idéntico ao do monumenio a Caeeilins Optatinus (CTL IL 5919 — JLER 4794), de Lisboa , pela tipologia e inclusive pelo formulacio, esta placa poderd ser proveniente do municipio olisiponense Dimens6es: 31,8 295 x 7. D(is) M(anibus) | VIBIAL Gredera) Rafi) - F(iliae) | MAX{imae) | AN(norum) (hedera) XXXX (quadraginta) [> te) + S(tda) Elst) | SG) Thbi) Terra) Lievis) « Aos deuses Manes. A Vibia Maxima, filha de Rulo, de qmarenta anos. Aqui jaz. Que a terra te seja leve. Seute-se a existéncia dum eixo de simeiria, a partir do qual se teria feito a paginagdo (notar o agrupamenio das letras na 1.5) Pontos eizeulares; na |. 2, uma hera redonda de longo peeiolo para a esquerdas na L. 4 ao invés, 0 peciolo sai lateralmento para a vertical. Gravagio profunda. Caracteres terminados com cuidado de forma ¢ tamanho assaz irregulares: T) assimétrico, Meum 0 vertices inferior abaulady, vont aliés £9 do V; 0 A termina superiormente em jeito de pequeno T; P com as barras alevan- Fichvire Bpianifien, 10, 198% 3 Fichero Epigréfico, Lisboa, Lisboa, Portugal - 43 = HEpOl 18503, Fors 43 da I superior e 0 viltimo L. é bastante pequeno. Os anlropénimos Vistas 6 Maximus ostao hou documentados na Lusitania. Km Lisboa, docum se inclusive uma! chtc Maxima (CIL 11 193 = FLER 5947 = FO 75). De notar o pateo~ nimico em sigla; interpreiamo-lo como Rufus, cognome bastante difundido na Peninsula Thérica, em areas de onomastica indigena (cfr, LER, p. 742). Com ofeite, nsta nio 6 forma orlodexa de indicar a filiagdo. Vi romaniaada: a cil fadas; o 1 3 lem a barra inferior quase do tamanto da ‘a podera ser, portanto, uma indigena unstancia de ecultars nomen latino um cognomen corrente, aliada alé ao facto de se pre- © coguamen du defunta — sto, quanto vontade de obedecer aos cdnones romenos. neagaa aos Manes (sem, sacrum), 0 uso do em roupagens de prae- feriv colocar em abravielur a nds, indicios dums A presenga da in (peovavel) dative © a paleogralla sugerem. os finais do sé. 1) Jost mR wcarwagio 8 Ficheirs Epigndficn, 10, 198% Fichero Epigrét Lisboz, Portugal - 43 = HEpO) 18503

You might also like