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Direito Suprapositivo eo Direito Humano SECCAO I O DIREITO SUPRA-POSITIVO E 0 DIREITO HUMANO 20. O direito divino Santo Isidoro, Et. 5.2.] = ¢.1,D.1 Todas as leis so divinas ou humanas, As divinas t8m 0 seu fundamento na natureza; bumanas, nos costumes dos homens, Precisamente por isso estas ultimas apresentam discrepdncias entre si, j& que a cada povo correspondem costumes diferentes. (Fonte: Santo Isidoro de Sevilla, Etimologias, tradugdo e nolas de José Oroz Reia’¢ Maniel- A Marcos Casquero, inirodugo de manuel C. Disz-y Diaz, Madrid, La editorial Catlica, 1982) GRACIANO. Como, pois, no Direito Natural, ndo se impde sendo a vontade de Deus, nem se proibe nada que Dens quer que se faa, como nos escritos canénicos nada mais se encontra do que aquilo que esta contido nas leis divinas, e como as leis divinas se fundam na natureza, € evidente que tudo o que for contririo & lei divina ou ao diteito candnico, € conirério ao Direito natural . Portanto , deve entender-se que o direito natural antecede & vontade divina, aos esctitos candnicos e a lei divina, devendo por isso preferir-se, Se se provar que as leis eclesidsticas ou civis so contrarias ao Direito natural, deve rejeitarse totalmente. (Fonte: Corpus Iuris Canonici, ed. Boehmer. Tradugdo de Miguel Pinto de Meneses) Santo Anténio, Dominica V in Quadragesima |, 3 ina e a desobediéncia aos mandamentos Que é 0 pecado senfio a transgressio da lei di celestes? (Ponte: ediglo citada, vol. I, p.231). Existe uma lei verdadeira, a recta razao, conforme & natureza, difusa em todos, constante, eterna, que com os seus comandos induz ao dever ¢ com as suas proibigdes desvia do engano; que nem ordena ou proibe em vo aos bons, nem demove, obtigando ou proibindo, aos maus. Esta lei no pode ser anulada, nem derrogada em parte, nem abrogada em sua totalidade; nem pelo Senado nem pelo Povo nos podemos libertar desta lei; ndo requer qualquer expositor nem interprete ‘Nao existiré uma lei em Roma, outra em Atenas, uma agora, outta no futuro; todas as nagdes € a todo o tempo estiio sujeitas a uma lei eterna e imutével e haverd um deus comum mestre e senhor de todos, autor, sancionador e promulgador desta lei Aquele que nao a guarda, foge de si mesmo ¢ ultraja a natureza do homem “ e por essa razao softe as penas maximas ainda que queira escapar aos suplicios” M.T. Cicero , de Republica 3 * Parece-me que a opinitio dos mais sabios ¢ esta: a lei ndlo se forma pela inteligéncia dos homens nem por qualquer decisio dos povos; é algo de mais etemo que rege 0 mundo inteiro ordenando ¢ proibindo com sabedoria. Assim diziam que a primeira e ultima lei € 0 espirito de deus que com a razilo tudo ordena ou proibe. Daf procede aquela lei que os deuses deram ao género humano ¢ que rectamente & fouvada; pois é a razdo e inteligéncia do sébio, idénea para ordenar 0 bem e afastar o mal” M.T. Cicero, de Legibus. “ A lei enquanto ¢ regra ¢ medida, pode existir de duas maneiras: numa, como o que regula € mede; noutra, como o regulado ¢ medido; pois enquanto algo participa da regra ¢ medida, de igual forma regulado e medido. Por isso, como tudo o que se submete a providéncia divina é regulado e medido pela lei eterna, € evidente que tudo participa igualmente da lei eterna, ao mesmo tempo que pela acgdo dela tem tendéncia para os proprios actos ¢ fins. Mas entre todas as coisas, a criatura racional esté submetida de um modo mais excelente & divina providéncia, enquanto ela se torna participe da divina providéncia para prover a si mesma e a outras; por isso esta participa da razo etema no que tem de natural inelinagao ao acto ¢ fim devido. A tal participagio da lei eterna na criatura racional chama-se lei natural”. S. Tomaz de Aquino, Summa Teologica 7. 0 Principio da Imutabilidade e Inderrogabilidade do Direito Divino ¢ do Direito Natural. S. Tomas de Aquino, Summa Theologiae I. I, q. 94 °5 SOLUGAO — De dois modos podemos entender a variago da lei natural. ~ De um , por créscimo. E, assim, nada Ihe impede o mudar-se; pois , muitos acréscimos Ihe foram feitos, liteis @ vida humana , tanto pela lei divina como pelas leis humanas. - De outro, por subtracgao, isto é, cessando de pertencer a lei natural o que antes Ihe pertencera. Por isso, quanto aos seus princfpios primeiros, a lei natural € absolutamente imutavel; quanto, porém, aos preceitos segundos, dos quais dissemos serem quase certas conclusées préprias, préximas aos principios primeiros, nao é imutdvel, embora seja sempre recto. na maior parte dos casos, o que ela preceitua, Pode, contudo, mudar-se, num caso particulare poucas vezes, por certas causas especiais, que impedem a observancia dos seus preceitos, como jé disse. Tomas de Aquino, Summa Theologiae I". — II,q. 94° 6 SOLUGAO — Como j4 dissemos, a lei natural pertencem, primeiro, certos preceitos generalissimos, conhecidos de todos, e, depois, certos preceitos secundarios, mais particulares, e que so conclusdes préximas dos principios. Ora, quanto aos principios gerais, a lei natural de nenhum modo pode, em geral, desvanecer-se do coragio dos homens; mas pode-o relativamente a uma acco particular, se a razao ficar impedida de aplicar a essa acgdo o pr geral, por causa da coneupiscéncia, ou de qualquer outra paixo, como jd dissemos. Quanto, porém, aos outros preceitos secundétios, a lei natural pode ser desvanecida do coragio humano. Quer por més persuasdes, do mesmo modo por que, também na ordem especulativa, se dao erros relativos as conclusdes necessirias. Quer ainda pelos maus costumes e hibitos corruptos, como se deu com certos que nao reputavam como pecados ou latrocinios ow os vicios contra a natureza, como também 0 Apéstolo o diz, 26. Direito suprapositivo e supralegel. O «ius gentium» Santo Isidoro, Et 5.5 =. 8, DI Direito civ critério div 6 0 que cada povo ou cidade estabeleceu para si mesmo, servindo-se de um ino ou humano. (Fonte: ediggo citada) Santo Isidoro, Et 5. c.9,DA © direito das gentes manifesta-se na ocupago de terras, construgdes de edi fortificagdes, guerras, prisioneiros, serviddes, restituigdes, tratados de paz, armisticios; compreende também a inviolabilidade dos embaixadores ou a proibig&o de contrair matriménio com pessoas estrangeiras. E chama-se direito das gentes porque tem vigéncia em quase todos os povos. Fonte: edigdo citada) $. Raimundo de Penafort, Summa luris 1.2 1 Direito das gentes & 0 que a razdo natural constitui entre todos os homens, por o exigir ‘0 uso ¢ as necessidades dos homens, como a ocupago de lugares, a edificagio, a construgao, ete.(Deer, Grae, I, d. | ¢ Inst 1,2,1) 2. Assim, por este direito introduziram- se quase todos 0s contratos, como a compra, a venda, 0 arrendamento, a sociedade, 0 depésito, o mituo e outros inumerdveis contratos (Inst. 1,2,1). Disse quase, porque a igagfio verbal ou escrita e 0 contrato de enfiteuse introduziram-se pelo direito civil (Dig. 1,1,5). 3 Chama-se também direito das gentes, porque este direito & usado por quase todas as gentes ou povos (Deer. Grac. , d.1). (Fonte: Garcia-Gallo, Manuel..., voll, p.21). S. Raimundo de Penafort, Summa luris 1.3 1. Direito eivil 6 0 que qualquer povo ou qualquer cidade constitui para si préprio por causa divina ou humana (Decr. Grac.t, d.1,¢.8.). Deste direito nascem as acgdes (Dig. 1,2,2). 2 Também , quando dizemos direito civil sem adjectivar, entendemos por antonomésia © direito civil dos romanos, Pelo qual, se quisermos mencionar outro direito civil, devemos, acrescentar 0 nome da cidade; por exemplo, direito civil dos atenienses (Inst.1,2,1). 3 tem de se observar também que se diz direito civil em cinco acepgdes: Primeiro, para 0 diferenciar do direito natural ¢ do direito das gentes (Decr. Grac.1, d.9, ¢.1 1); segundo isto, ao direito candnico chama-se civil. 4 Segundo, para o diferenciar do direito pretério. 5 Terceiro, o que cada povo ou cada cidade estabelece para si mesmo, como antes se disse. 6 Quarto, 0 direito das XII Tébuas. 7 Quinto, as disputas dos prudentes (Dig.1,2,2,5. Sobre isto veja-se o Decr. Grac. I, d.1, ¢.6.8.9 e em geral toda esta distingao). (Fonte: Garcia-Gallo, Manval..., volll, p. 21), Da Lei Etema ao Direito Natural Solugao ~ Como jé dissemos, a lei no & mais do que um ditame da razao pritica, do chefe que govema uma comunidade perieita, Ora, supondo que o mundo seja governado pela diving providéncia, como estabelecemos na Primeira Parte, ¢ manifesto que toda a comunidade do universo € do governo das coisas, em Deus que ¢ o regedor do Universo, tem a natureza da lei. E como a razio divina nada concebe teraporalmente, mas, tem © conceito eterno, conforme a Escritura, ¢ forgoso dar a essa lei a denominagao de etema (Fonte: 8, Tomas Aquino, Summa Theologiae, I, 1l,q.91 1) Pluralidade de Entendimentos Quanto ao Direito Natural Gavo — Todos os povos que se regem por leis € por costumes utilizam em parte 0 seu proprio direito e em parte o que & comum a todos os homens; desta maneita 0 Direito que um poyo qualquer estabelece para si resulta proprio do mesmo € chama-se direito civil, como se disséssemos o direito proprio daquela cidadania; em compensaggo, aquele que a razo natural estabelece entre todos os homens, observa-se com caracter geral por todos 0s povos ¢ chama-se direito das gentes, isto é, como se fosse o direito que todo o mundo utiliza. E assim o povo romano utiliza em parte o seu proprio direito ¢ em parte 0 que é comum a todos os homens. Mas tralaremos em pormenor do pertencente a um ¢ a outro nos lugares correspondentes. (Fonte:Gavo, Instituiciones, tradugo de Manuel Abellan Velasco, Juan Antonio Arias Bonet, Juan Iglesias- Redondo, Jaime Roset Esteve, coordenasio geral e prélogo de Francisco Hernandez-Tejero, madrid, Civitas, 1985) D.1.1.1.3. (Ulpianus libro primo institutionum) = 1.1.2.pr. Direito natural 4 aquele que a natureza ensinou a todos os animais: na verdade, este direito nio proprio do género humano, mas comum a todos os animais da terra ¢ do mar, € também as aves. Dai deriva a unio do macho e da fémea, que nés chamamos mat ‘8 procriagao dos filhos e a sua educagdo: porquanto, vemos que também os outros al mesmo as prdprias feras, se reputam como peritos no uso deste direito. Solugo ~ Como jd dissemos , sendo a lei regra ¢ medida, pode de dois modos estar num sujeito: como no que regula e mede, € como no que € regulado e medio; pois, na medida em que um ser participa da regra ou da medida, nessa mesma é regulado ou medido. Ora, todas as coisas sujeitas divine providéncia sao reguladas e medidas pela lei etema , como de sobredito resulta, Por isso, & manifesto , que todas participam , de certo modo, da lei eterna, enquanto por estarem impregnadas dela é que se inclinam para os proptios actos ¢ fins. Ora, entre todas as criaturas, a racional est sujeita 4 divina providéncia de modo mais excelente, por patticipar ela propria da providéncia, provendo a si mesma ¢ as demais, Portanto , participa da raziio eterna, donde tira a sua inclinagZo natural par o acto eo fim devidos. E a essa participado da lei etema pela criatura racional se dé 0 nome de lei natural. Por isso, depois do Psalmista ter dito ~ Sacrificai sacrificio de justiga ~ continua , para como que responder aos que perguntam quais sejam as obras da justiga: Muitos dizem — quem nos patenteard os bens? A cuja pergunta dé a resposta: Gravado esta, senhor; sobre nds 0 lume do teu rosto, querendo assim dizer que o lume da razdo natural, pelo qual discemimos o bem e o mal, e que pertence a lei natural , nfo € seno a impressiio em nés do lume divino, Por af € claro, que a lei eterna pela criaturs racional. (Fonte: edigéo citada) Direito Natural S. Tomés de Aquino, Summa Theologiae I-11, q. 914 Solugao — Além da lei natural e da humana, é necessario, para a direcgdo da vida humana, haver uma lei divina. E isto por quatro razbes — Primeiro, porque, pela lei, o homem dirige 0s seus actos, em ordem ao fim ultimo, Ora, se ele se ordenasse sé para um fim que nfo lhe excedesse a capacidade das faculdades naturais, nfo teria necessidade de nenhuma regta racional, superior @ lei natural e a humana desta derivada, Mas, como o homem se ordena a0 fim da beatitude etema, excedente A capacidade natural das suas faculdades, como jé estabelecemos, é necessério que, além da lei natural e da humana, seja também dirigido ao seu fim por uma lei imposta por Deus, - Segundo, da incerteza do juizo humano, sobretudo no atinente as coisas contingentes e particulares, originam-se juizes diversos sobre actos humanos diversos; de onde, por sua vez, procedem leis diversas e contrarias. Portanto, para poder o homem, sem nenhuma divida, saber 0 que deve fazer € 0 que deve evitar, ¢ necessatio que dirija os seus actos proprios, pela lei estabelecida por Deus, que sabe nzo poder errar. ~ Terceiro, porque o homem s6 pode legislar sobre o que pode julgar. Ora, nfo pode julgar dos actos internos, que sio ocultos, mas s6, dos externos, que aparecem. E, contudo, a perfeigo da virtude exige que ele proceda rectamente, em relagéo a uns e@ outros. Portanto, a lei humana, n€o podendo coibir e ordenar suficientemente 0s actos iternos, é necessério que, para tal, sobrevenha a lei divina, - Quarto, porque, como diz Agostinho, a lei humana nao pode punir ou proibir todas as malfeitorias. Pois, se quisesse climinar todos os males, haveria, consequentemente, de impedir muitos bens, impedindo, assim, a utilidade do bem comum, necessétio a0 comercio humano, Por isso, a fim de nenhum mal ficar sem ser proibido e permanecer impune, é necessario sobrevir a lei divina, que proibe todos os pecados. — E essas quatros causas esto resumidas no psalmo, que diz.0 seguinte: a lei do Senhor que é imaculada, isto é, que no permite a torpeza de nenhum pecado; converte as almas, porque regula, no s6 os actos externos, mas também, os intemnos; 0 testemunho do Senhor é fiel, por causa da verdade da rectitude; e dé sabedoria 20s pequeninos, ordenando o homem a um fim sobrenatural ¢ divino. (Bonte: edigho citada) S. Tomés de Aquino, Summa Theologize I". ~Il,q. 91 °5 Solugio ~ Como jit disse mos na Primeira Parte, a distingfio € a causa do ntimero. Ore, de dois modos podem as coisas distinguir-se. — De um , quando absoluta e espe diversas, coma 0 cavalo € boi. ~ De outro, como o perfeito se distingue do imperfeito, dentro da mesma espécie; assim a crianga, do homem. Ora, & deste modo que a lei divina se distingue em lei antiga e nova, Por isso, 0 Apéstolo compara o estado da lei antiga ao da crianga dirigida por um mestre; e 0 da lei nova, a0 do homem perfeito, que ja nao precisa de mestre. Ora, a perfeiglo e imperfeigao da lei fundam-se nas suas tr€s flangdes, ja antes expostas. — Assim, primeiramente, pertence a lei ordenar para o bem comum, como para o fim, segundo jé dissemos. E esse bem por ser duplo. Um é 0 bem sensivel e terreno, 20 qual ordenava directamente a lei antiga, Por isso, logo no principio dela, 0 povo é convidado ao reino terrestre dos Cananeus. O outro é o bem inteligivel e celeste, a0 qual ordena a lei nova. Por isso, Cristo, logo no principio da sua pregag4o, convida para o reino dos céus, dizendo: Faze peniténcia, porque esté proximo o reino dos céus, Donde o dizer Agostinho, que as promessas das coisas temporarias esto contidas no Antigo Testamento, que, por isso, se chama Antigo; ao passo que @ promessa da vida eterna pertence ao Novo ‘Testamento. Em segundo lugar, a lei pertence dirigir os actos humanos conforme a ordem da justiga .No que também a lei nova se aparta da antiga, ordenando os actos externos da alma , conforme aquilo da Escritura: Se a vossa justiga no for maior e mais perfeita do que a dos Escribas e dos Fariseus, nfo enirareis no reino dos eéus. E, por isso, se diz, que a lei antiga coibe as méos, a nova, a alma. — Em terceiro lugar, a lei pertence levar os homens a observancia dos mandamentos. E isto, que a lei antiga fazia, pelo temor das penas, a nova fi-lo pelo amor, iundido em nossos coragdes pela graga de Cristo, conferida na lei nova, e figurada apenas, na antiga. Donde o dizer Agostinho: O temor e 0 amor; eis a breve diferenca entre a Lei eo Evangelho. (Fonte: edigdo citada) S. Tomas de Aquino, Summa Theologiae PI, 4.942 1 Solugdo — De dois modos podemos considerar um habito. Propria ¢ essencialmente; e, entdo, habito nao é a lei natural. Pois como j4 dissemos, a lei natural é constituida pela razHo, como também 0 € uma proposigao. Ora, a acgao de um agente nfo é 0 mesmo que o por ela é feita; assim, é pelo habito da gramética que se forma uma oragdo congruente. Dai que, sendo pelo habito que agimos, nenhuma lei pode ser habito, propria e essencialmente falando. ~ De outro modo, pode-se chamar habito ao que adquirimos por meio dele; assim chamamos f8 0 que cremos pela f8. Ora, os preceitos da lei natural so, umas vezes, considerados actualmente pela razo; outtas, existem nela apenas habitualmente, Dai que, do segundo modo, se possa dizer que a lei natural é um hébito; como também os prineipios indemonstraveis, na ordem especulativa, no so 0 hibito mesmo deles, mas, so 08 principios a que pertence o habito. (Bonte: edigfo citada) 22, Pluralidade de entendimentos quanto ao direito natural Cicero, De Republica 3 1 — Existe uma lei verdadeira, a recta raz, conforme com a natureza, difusa em todos, constante, eterna, que com os seus mandatos induz ao dever ¢ com as suas proibigdes desvia do engano; que nem manda nem proibe em vio aos bons. nem move, mandando ou proibindo, aos maus. 2 — Esta lei nfo pode ser anulada, nem derrogada em alguma coisa, nem ab-rogada na sua totalidade; ja que nem pelo Senado nem pelo Povo podemos ser liberados desta lei; nem requer outro expositor ou interprete. 3 — Nao haverd uma lei em Roma, outra em Atenas, outa agora, outra no futuro; pelo contrdrio, todas as pessoas, em todo o tempo, esto sujeitas a uma lei eterna e imutavel ¢ haveré um deus comum, quase mestre e dominador de todos, autor, sancionador ¢ promulgador desta lei 4 — Aquele que nfo a guarda, foge de si mesmo ¢ ultraja a natureza do homem, e por isso sofie as maximas penas embora creia escapar aos suplicios. (Fonte: Garcie-Gallo, Manual. vol Il, p. 15) Cicero, De Legibus 2.4 A opinido comum dos mais sibios parece-me ser a de que a lei nfo ¢ uma invengo da inteligéncia dos homens nem uma decisio dos povos, mas algo etemo que regeria o mundo inteiro com uma sabedoria que impera ¢ proibe. Por isso diziam que a primeira e definitiva lei € 0 espirito de Deus, que tudo manda e profbe com a razio. Da qual procede aquela que bem recebe o nome da lei, dada pelos deuses ao género humano, pois é a razo espiritual do sdbio idénea para ordenar o bem ¢ desterrar o mal. (Fonte: Ciceron, Las Leys, tradugdo, introduglio © notas de Alvaro D’Ors, Madrid, Instituto de Estudos Politicos, 1970) Gayo 1.1 Todos os povos que se regem por leis e por costumes utilizam em parte o seu préprio direito e em parte o que é comum a todos os homens; desta maneira o Direito que um povo qualquer estabelece para si resulta proprio do mesmo e chama-se direito civil, como se disséssemos 0 direito proprio daquela cidadania; em compensac%o, aquele que a razdio natural estabelece entre todos os homens, observa-se com caracter geral por todos os povos e chama-se direito das gentes, isto é , como se fosse 0 direito que todo o mundo utiliza. E assim 0 povo romano utiliza em parte o seu proprio direito e em parte o que ¢ comum a todos os homens. Mas trataremos em pormenor do pertencente a um € a outro nos lugares correspondentes, (Fonte: Gayo, Instituciones, tradugo de Manuel Abellan Velasco, Juan Antonio Avias Bonet, Juan Ielesias- Redondo, Jaime Roset Esteve, coordenagio geral e prologo de Francisco Hernandez-Tejero, Madrid, Civitas, 1985) D.1.1.1.3. (Ulpianus libro primo institutionum) = L1-2.pr. Direito natural é aquele que a natureza ensinow a todos os animais: na verdade, este dircito no ¢ proprio do género humano, mas comum a todos os animais da terra e do mar, ¢ também as aves. Dai deriva a unio do macho e da fémea, que nds chamamos matriménio; «4 procriagao dos filhos a sua educagdo: porquanto, vemos que também os outros animais, mesmo as préprias feras, se reputam como peritos no uso deste direito. Midd As leis naturais, observadas em todos os povos com perfeita conformidade ¢ estabelecidas pela providencia divina, permanecem sempre firmes e imutéveis: ao inves, aquelas que cada cidade criou costumam mudar com frequéneia ou pelo consentimento ticito do povo ou por uma lei posterior. Santo Isidoro, Et. 5.4.1-2 = ¢.6, Dl; ¢.7, D.L O direito pode ser natural, civil ou das gentes. Direito natural é aquele que é comum a todos 0s povos € existe em todas as partes pelo simples instinto da natureza, e no por qualquer promulgagao legal. Por exemplo, a unitio do homem ¢ da mulher; 0 reconhecimento dos filhos e a sua educago; a posse comum de todas as coisas; a mesma liberdade para todos; 0 direito a adquirir quanto encerram o céu, a terra e o mar. Do mesmo modo, a restituigdo do que se emprestou ou do dinheiro que se confiou a alguém; a condenagao da violéncia pela violéncia. Tudo isto e outras coisas semelhantes nunea se podem considerar injustas, mas sim naturais ¢ equi (Fonte: edi citada) eprD.l género humano rege-se duplamente, a saber, pelo direito natural ¢ pelos costumes. O direito natural é aquele que se contém na Lei e no Evangelho, no qual se manda a cada um que faga aos outros o que quer que se the faga a ele € profbe que se faga aos outros 0 que dio quer que se Ihe faga a ele. Por isso Cristo diz no Evangelho: O que quiserdes que vos fagam os homens, fazei-o também a eles, porque ¢ a Lei ¢ os Profetas. S. Raimundo de Pefiafort, Summa luis 1.1 1 ~ eDireito natural» tem cinco acepgdes. Em primeiro lugar, chama-se direito natural & forga que radica nas coisas, produzindo o mesmo nas que so iguais. Este direito é comum no s6 aos homens, mas também aos animais irracionais, as arvores e as plantas. 2 — Em segundo lugar, chama-se direito natural a certo estimulo ow instinto natural que provém da sensualidade, que faz apetecer, procurar ou educar. Este direito € comum aos homens © aos animais irracionais, pois vemos animeis irracionais que mostram conhecimento deste direito, como se vé nas Institutas 1.2 no Cédigo ao prineipio. Deste direito fala o Cédigo e o Decreto de Graciano p.l, d.1.c.6. 3 Em terceiro lugar, chama-se assim ao instinto natural que procede da razfio, e a este chama-se equidade natural; e segundo este direito natural consideram-se comuns todas as coisas; isto é, que se atribuem em caso de necessidade, como diz o Decreto p.ll, d. 47, 6. 8. 4 — Em quarto lugar, chama-se direito natural a todo 0 direito divino, e especialmente ao que consiste em preceitos e proibigdes, como por exemplo: «Ama o Senhor teu Deus, ete», «no matarés, nfo furtards, ete.(Génesis 3, 19), como se diz no principio do Decteto 1, dist.1; ¢ segundo este direito, consideram-se igualmente comuns todas as coisas, isto €, que se atribuem em caso de necessidade, como diz 0 Decreto 1,d.8.¢.1;11,C.12, 1.0.2. Quando nestas duas ultimas acepgdes se diz todas as coisas comuns que se atribuem em caso de necessidade, diz-se assim, por segundo tal direito alguma coisa é aprdpria», pois foi dito a Adfioxeganhards 0 po com o suor do teu rosto», € noutro lugar:«nfo cobices a coisa do teu proximo» (Exodo 20,17). 5 ~ Em quinto lugar, chama-se direito natural ao direito das gentes, aquele que a raziio natural constitui entre todos os homens(Inst.l,2). Deste direito trata 0 Decreto 1,d.1,c.1.6;1,4.6,3;1,4.8,¢.1;1,C.23,q.7,c.1 (Fonte: Gareia-Gallo, manual..,vol. H,pp.20-21) Placentino, Summa Institutionum 1,2 Direito natural é 0 que a natureza ensina a todos os animais. A natureza é Deus, que faz tudo quanto nasce. (Ponte: Garcia-Gallo, manual..vol. H,pp.20) 23.Importéncia da Lei Divina e da Lei Natural no quadro normative medieval c.f 1,DIX Ver texto supra, n° 20 Alvaro Pais, Status et Planctus Ecclesiale E justo que os principes estejam obrigados as suas leis ¢ niio possam condenar em si as leis, que estabelecem para os sibditos, porquanto ¢ justa a autoridade da voz dos que nto admitem ser-thes permitido aquilo que profbem aos povos. Faz nas Decretais, tit. De homicidio, o cap. Cum juramento, eo que se lé e nota nas Decretais, De constitutionibus, cap. Quum omnes, & Quum igitur. Todavia, em rigor o principe esta desobrigado das | humanas (Digesto, De legibus.lei Princeps), mas no das divinas (Dist. X, cap. Non licet imperatori). (Fonte : edigio citada) Alvaro Pais , Status et Planctus Ecclesiae N. Se se perguntar o que opera este direito humano sobre 0 divino, pode-se dizer, dum modo, que ele é uma manifestagio do direito divino (argumento na Causa XXIM, q. V. eap. Remittuntur;& Hine notandum, onde diz «Da, Senhor, isto é, declara que the foram dados o Egipto ¢ a Etidpian), ou entio uma confirmagao do direito divino, e uma sua imitaglo venerago. Realmente, esta concessio. (Fonte: edigao citada, vo. I, pp. $20-521) Alvaro Pais , Status et Planctus Ecclesiae ra, qual o caminho para a verdadeira bem-aventuranga ¢ quais os seus obstaculos , sabe-se pela lei divina, cujo ensino pertence ao oficio dos sacerdotes; os labios do sacerdote guardam a ciéncia, e da sua boca eles, isto € , os siibditos aguardam a interpretagao de lei, porque ele é 0 anjo do Senhor dos exércitos (Malaquias, II, e Dist. XLIIl, cap. Sit rector). Foi por isso que © Senhor ordenou que o rei escrevesse para si a lei, e recebesse um exemplar das maos dos sacerdotes, e a lesse em todos os dias da sua vida, a fim de aprender a temer a Deus ¢ a guardar os seus preceitos. Assim, muito convém aos reis ler ou ouvi frequentemente as Santas Escrituras, a fim de pelo exercicio da teitura encontrarem a pedra preciosa da ciéncia de governar o povo (Decretais, DE renuntiatione, cap. Post translationem, & Ceterum), Daf Sozomeno dizer, na Histéria Tripartida, liv. 1,em louvor do mperador Teodésio: « Dizem que tu, de dia, te exercitas nas armas e resolves os negocios dos subditos, julgando e agindo ao mesmo tempo, que & noite, te dedicas aos livros». Também ja acima falei disto, no art. XLII, nesta 1*, Parte desta obra, Realmente, o rei sipiente perderd 0 seu povo (Eelesiistico, X). Daqui se segue que as ieis, que o rei estabelece, no devem discordar da douirina da lei divina, mas concordar com ela, € submeter-se aos cénones sagrados. Com efeito, assim como 0 poder se submete ao poder, assim as leis devem submeter-se as leis (Dist. X, cap. 1, ¢ por todo o texto; Decretais, DE privilegiis, cap. Super specula, no principio, onde fala do famulatum ( sujeigio das leis seculares); ¢ Decretais, DE noui operis nuntiatione, cap. 1). onteredigao itada, vol, Il, pp. 532-533) 24. Valor juridico dos actos contra a lei divina e natural e.HLDAIX, Ver texto supra, n° 20 Compilatio V Decretalium 1,3,1 =e.11 X.1 © Costume nao derroga o dieito natural ou divino, cuja transgressio supde pecado; nem o positivo, a nfo ser que seja razodvel ¢ haja preserito. Gregério IX, ~ 1 Como os pecados so tanto mais graves quanto mais tempo tém sujeita a alma infeliz, ninguém supde perigo de salvagio, por qualquer costume, que nesta parte melhor se hé-de chamar cortuptela, possa em qualquer forma ser derrogedo. 2 Pois, embora 0 costume de largo tempo néo seja de pouca autoridade, nao o & até ao ponto de ser vilido que cause prejuizo ao direito positivo, a menos que fosse razoavel ¢ tivesse prescrito legitimamente, (Fonte:Garcia-Gallo, Manual.., val, p.20) 25. O principio da imutabilidade e inderrogabilidade do direito divino e do Cicero, De Republica 3 Ver texto supra, n? 22 S$. Tomds de Aquino, Summa Theologise ii, q..94°4 26. Direito suprapositivo e supralegal, O «ius gentium» Santo Isidoro, Et $.5 = ¢. 8, D1] Direito civil é 0 que cada povo ou cidade estabeleceu para si mesmo, servindo-se de um critério divino ou humano. (onte:edigao citada) Santo Isidoro, Ft $.6 =. 8, DI © direito das gentes manifesta-se na ocupagdo de terras, construgdes de edificios, fortificagdes, guerras, prisioneiros, serviddes, restituigdes, tratados de paz, armisticios; compreende também a inviolabilidade dos embaixadores ou a proibigfio de contr matriménio com pessoas estrangeiras. E chama-se direito das gentes porque tem vigéncia em quase todos os povos, (Fonte:edigta citada) S. Raimundo de Peftafort, Summa luris 1.2 J Direito das gentes € 0 que a razio natural constitui entre todos os homens, como a ocupagao de lugares, a edificagto, a construc&o, etc. (Dect: Grac. Ld. 1 € Inst 1, 2,1) 2. Assim, por este direito introduzuram-se quase todos 0s contratos, como a compra, a venda, © arendamento, a sociedade, 0 depésito, 0 miituo e outros inumeraveis contratos (Inst. 1,2,1). Disse quase, porque a obrigag8o verbal ou escrita € 0 contrato de enfiteuse introduziram-se pelo direito civil (Dig. 1,1,5). 3 Chama-se também direito das gentes, porque este direito ¢ usado por quase todas as gentes ou povos (Decr:Grac. 1, d.1) (Fonte: Garcia-Gallo, Manual... vol, p. 21) S. Raimundo de Pefiafort, Summa luris 1.3 1. Direito civil é o que qualquer povo ou qualquer cidade cosntitui para si proprio por causa divina e humana (Deer-Grac.l, d.1, ¢.8). Deste direito nascem as acgdes (Dig. 1.2.2). 2 Também, quando dizemos direito civil sem adjectivar, entendemos por antonomésia 0 direito civil dos romanos. Pelo qual, se quisermos mencionar cutro direito civil, devemos acrescentar 0 nome da cidade; por exemplo, direito civil dos atenienses(Inst.1,2.1).3 Tem de se observar também que se diz direito civil em cinco acepgdes: Primeiro, para 0 diferenciar do direito natural e do direito das gentes (Deer: Grac.1, ¢.9,¢.11); segundo isto, 20 direito candnico chama-se civil. 4 Segundo, para o diferenciar do diveito pretério. 5 Terceito, o que cada povo ou cada cidade estabelece para si mesmo, como antes se disse. 6 Quarto, o direito das XII Tébuas. 7 Quinto, as disputas dos prudentes (Dig. 1,2,2,5. Sobre isto veja-se 0 Decr. Grac. I, d.1,c.6.8.9 € em geral toda esta disting&o). (Font Garcia-Gallo, Manual... vol. Il,p.21) Partida 1. 2.5 Ver texto supra, n® 24

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