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1982 0 Sujeito e 0 Poder Te eae ont power nel ete pa’ a. FD get emeneits Choa Tx Uneaten 1 p20 POR QUE ESTUDAR © PODER: A QUESTAO DO SUJEITO As ideas que eu gostaria de tratar aqu no fazer as vezes nem de torta nm de metodologa Ea gostaria de dizer primieiramente qual fol o objetivo do ‘meu trabalho nesses limos 20 anes. Nao fol de analisar 08 fendmenos de poder nem de langar as bases de tal andlise Procure, antes, produsir uma histria dos diferentes modos ‘de enbjetivacao do ser huimano em nossa cultura: (ate, nes (ca, ds tres movtos de objetvagao que transforma os seres hhumenos em suetos Ha itclalmente os diferentes modos de investgacio que procuram aceder ao esatute de cléncla, penso, por exemplo, fh objetivago do sujelto, falando de gramatica geal de loa fae de inguistica. Ou, eno, sempre nesse primeiro modo, ‘a objediario do sujeto produtvo, do sujetto que trabalha, fem economia e na andlise das riquezas. Ou, ainda, para toma tum lercero exemplo. i objtivacio somente do fato de esta fet wel, historia natal ou a biologi Na segunda parte do mew trabalho, eu eatudel a objetvagh do sujet no que chamarel as “pratiea divisoras”.O suet ‘Eon divide no interior dele mesmo, ox dvidido dos outros [Esse process faz dele um objeto, A separacio entre olowea © ‘homem ste de esprito. 0 doente eo tndiviuo em boa Si © eriminaso eo “rapaz genti”ustra essa tend. infin, procure estudar ~ esse € meu trabalho em Cu s'maneira como wm ser humane se transforma eal toen-0 syaseorate 119 cortentet minhas pesquisas-para a sexualidade por exemplo. @ ‘maneira como o homem aprendeu a se reconhoeer como sue: {ode uma "sexilidade” No €, pots poder, mas 0 sujeto que constitulo tema ge al de mishas pesquisa. ‘Everdade que fu levadoa interessar-me de perto pela ques todo poder. Evidenciow-se-me logo que, seo suelo human ‘std preso em relagdes de produgao e em relages de sentido, fle esta tambem preso em relagoes de poder de uma grande omplexdade. Ora, acontece que dispomos, gragas &histria 8 eorla econdmieas, de instrumentos adequades para est ‘ar as relagees de producio: assim também. a linguistica © 2 ‘semistica fornecem insrumentos 20 estudo das relagbes de Sento. Mas, quanto as relagdes de poder, nao hala nena Instrumento definite: recorriamos a maneias de pensar 0 po der que se apoiavam seja em modelos Juriicos (o que legume © poder?) stja em modelos insitucionals (0 que € 0 Estado?) "Bra, enlao, necesirio ampliar as dimensbes de wma d= ‘nigio do poder, se quiséssemos utlizar essa defingao para cestudar a abjesvagao do suet, ‘Serd que precissinos de wna teoria do poder? Uma ver que toda toria supe uma objetivagio prévia, nenhuma pode ser vir de base para trabalho de ands. Mas o trabalho de anal Se nio pode ocorrer sem uma concetualizagio dos problemas leslados. E essa concettualizacio implica um pensamento eri lio ~ uma verfeagao constante preciso certificarse Inielamente do que chamarel as “ne ‘essades conceituais™ Entendo por isso que a conceltuali. ‘Go nao deve fundamentar-se em uma teorla do objeto: 0 ob Jeto concstalizado,nso ¢o nico criti de valdade de wma fonceitalizggo, Preeamos conhecer as condiies Matic {que motiam tal outa ipo de conceitualizagso. Precisamos er His consetnciahistirea da sfocto na qual vivemos, Segundo, ¢ preciso celienrse do tipo de realidad com que somos eonfrontados. Win Joralista de um grande Jornal francés exprimia, am di, ‘nu surpresa: "Porque tana pessoas evant a questo do po ‘He hoje? Seria wm assunto ta importante? E tho independente ‘Wiese pos falar dei em lever em canta outros problemas?” Hnsh surpresa mse dekou eatupelao. aie, para mam, ‘oredr que for preciso esperar © século XX para que essa questo fosse, enim, leantada, Para nés, de toda maneira, 0 Poder no € somente uma questio teérica, mas alg que fz parte de nossa experiénla. 96 tomarel como testemunho dias ‘de sas formas patldgicas~ esas duas“doengas do poder {ue sto ofascsmo e o stalin. Uma das inimeras ravoes ‘qe fazer com que sejam para nds to deseoncertantes € que 2 despeito de sta singularidade histérica, elas nto so com pletamente originals. O fasesmo eo slalinsmo wizram © fstenderam mecanismos ji presentes na maior pare das ou- tras sociedades. Nao soment Isso, mas, apesar de sua lous Interna eles utlizaram, em ampla medida. as deta eos pro: cedimentos de nossa racionalidade pola, ‘Aqullo de que preeisamos€ de uma nova economla das re- lagies de poder ~e eu utllzo aqua palavra “economia” em seu sentido tesricoe prtico. Para ize de outro modo: desde Kant. 0 papel da flosota€ impedir a razao de exceder os lint tea do que € dado na experiencia; mas, desde esea poe, ta ‘bem Isto, desde o desenvolvimento do Estado moderne eda esto politea da socledade ~ a losofa tem, igualitente, por ng vigiar os poderes excessvos da ralonalidade polities. Fé podieae mult, ‘Atesto fafos de uma extrema banalidade, que todo mundo conhece. Mas nto ¢ porque eles sao banais que nio exstem. (O que sc deve fazer com 0s fatos banals¢ descobri ~ os, pelo menos, tena descobrir ~ que problema especie e,talve ‘rig eles, ‘Arelagio enre @raclonalizacto eos excessos do poder po- isco € evidente, Endo devertamos ter de esperar a burocracla Fleet cal cciencarasfearal Saison de relages desse ipo. Mas o problema que se apresenta € 0 ‘seguinte: o que fazer de uma tal evidéneta? E preciso fazer o processo da razia? A meu ver, nada seria mais estéril.Primelro, porque o campo a eabrir nada tem a ver com a elpabiidade ow 4 inocénci. Em seu, porque ¢ sbsurdo refers a rarao como aentidade contréria da dor 220. im, porque al processo nos condenariaaexecer a fun ‘io aritrrtae magante do recionalista ou do trraclonalst, "Vamos tentar analisr ese lipo de racionalsmo qe parece préprio a nossa cultura moderna e que encontra seu panto de Rxagao na Aupklarung? Tal ft a aberdagem de alguns mem: bras da Bscola de Frankfurt. Meu objetivo, porém. nao de 1iea-O sagan eater 121 comecar uma diseusso de suas abras, no entanlo importantes € preciosas. Mas antes, propor outro moro de anise das re Tagoes entre a racionaleagso e © poder, ‘Sem duvida seria mals prudente no considerar global mente a acionaizacao da socedade ou da cultura, mas. antes, fnalisr 0 processo em virios dominios, dos quais ads tm Femete ama experincla fundamental: Jowcura, a doeng ‘morte erie, a seualidade et, ‘Eu;peneo que a palavra ‘raconallzgio"€pergosa.O que deve fazer ¢ aualisar racionlidades espeeieas mals do qi i ‘vocarincessantemente o progress da Fatonalizaco em gral ‘Mesmo se a Aufklarung constitu uns fase mull lmnpoe- tante de nossa histéra edo desenvolvimento da tecnologia po- distantes, se ve quer compreener por que mecanismos n= ‘nos encontramospristonetros em nossa propria hstria. ‘Gostara de suger aqul outra maneira de caimilar para ‘uma nova economia das eagies de poder, que sel, a0 mesmo tempo, mats empirion, mate dretament igs & nossa sta ‘io presente, © que implique mals relagdes entre a teorie © a Prides, Esse nove modo de investigacio consiste em tomar 4s formas de resistincia aos diferentes tips de poder como ‘onto de partida. Ou, para wiizaroutra metsora, le consiste fem ullizar essa resistncla como um eatallsador qulmica qe permite colocar em evidéncie as Felagoes de poder, ver onde las se nserevem, descobrir seus ponlos de aplicagio eos me todos que elas tiizam. Mais clo que nnalisar 0 poder do pont de vista de su racionaldade Interna, trna-se de analiza Felagbes do poder por melo do enfrentamento das estrats. Por excmplo, seria, talvez, necssiro, para compreender 0 {que 2 sociedad enlente por “ser sensto” anal © qe ACON- tece no campo da alienagio. Ey da mesma forma. analisa © que ‘sconlece no campo da egiidade, para compreender o que ns ‘queremos der quando flames de leglidade. Quanto rela ‘hes de poder, para compreender em que eas consisem, sei, tales, neces nalisar as formas de reisnda eos sors lespendios par tentardissoclar essas relagces. ‘Propore, como ponto de partda, tamar uma série de opo- aigdes que se desetvolerain nesses ctinos anes: a oposigio ‘4 poder dos homens sobre as mulheres, ds pas sobre sexs hos, da psiquiatria sobre os doestes mentals, da medicina 122 ate ti acne sobre a populagdo, da administragao sobre a maneira como a pessoas water, ‘io basta dizer que esas oposigdes so tas contra a ue {oridade; deve-e tentar defini mais recisamente 0 que ‘én em com: 1. Sto las “traneversais™ quero dizer assim que elas nto se limitam a um pais particslar. E caro, eertos pases bio ‘ecem seu desenvolvimento, feltan sa extensto, mas ro so restritas a um tipo particular de governo politico ou ‘eonomico, 2. O abjetivo dessins Ita sh os efettos cle poder como tts, Por exemplo, a eensura que se fez & profssdo medica no & Infetalmente de ser uma tarefa com fn Iuerativ, mas de exe cer sem controle um poder sobre os corpos, sobre aside ds {nividos, sua vida e sua morte 3, Sio lula “imediatas,€ Isso por duas razdes. Primeto, porque as pestoas critica se Inataneas de poder que esi ‘ala précmas dela, a8 que exereem aus ago sobre os indii- ‘duos. Ela no procuram o “inmigo mimero umn", mas oni {= lmedialo. Br seguda, no consideram que a solueao para © feu problema posea restr ema win futuro qualquer (isto € em {uma promessa de iberacao, de revolucio, no im do confito ds ‘lasses. Quanto ama escalaterica de explieagéo ou & order ‘evoluconéria que plariza o histerador, sao luas anarquleas. ‘Mas nfo so eeaas suas caracteristicas mals originals, Si cespeciieidade se define, antes, como segue "4. Sao lutas que colocam em questio o estatuto do indivi duo: por um lado, elas afrmam o dirt 8 diferenca e desta fam tudo o que pode tornar os indiiduos verdaderamente Indiiduais. Por outro, dizem respeto ato 0 que pode s0- lar indviduo, oriso dos outros, cdi a vida communica, ‘bright oindividuo ase curvar sobre ele mesmo eo liga & sua denuded propria, "Essa las nao sto exatamente por ou contr o“inaivuo" sas se opoem so que se poderin chamar 9 “goveena pel ine dale" 5. Els opdem una resiatneia aos efettos de poder que es- to ligades to saber, a competéncia e &qualifleacio, Eas ht ‘am contra os prvlélos do saber. Mas se opem também ac Imistrio, a deformagso es tudo'o que pode aver de mists. dor nas representagdes que se mpoem 8s pessoas. t2-osyenocorasr 128 "Nao hd nada de “lentifcista" em tudo iso (isto € nenuma ‘renga dogmdtica no valor do saber cleatico). mas também no Ind recuseica ou relaivsia de toda verdadeatestada, O qe € folocado em questo 6a maneira como o saber clreulaefunco- ha, suas relagoes com o poder. Em resto oreghme do saber. 6. Enfm, todas as lutasatuals gram em torno da mesiia ‘questio: quem somos nds? Elas so uma reelgio dessas ab leagbes, uma rejigao da wolénciaexereida pelo Estado eco- homie e ideolegico, que kmora quem nds somos individu alent, € também uma reeigao da inqulsgao clentiea ou ‘dministratva que determina nossa Wentidade Para resumir o principal objetivo dessasIntas nfo € tanto ear tal outa insttulgbo de poder, ow grupo, ou classe ou tlie, mas uma tenia particular, uma forma de poder. "Bsa forma de poder se exeree sobre a vida quotiiana ime Aisa, que elasefien os individuos em calgon, desigha-os por Sua Indidualldade propria, ligeos & sua Kentdade, impoe- Ths uma lel de verdade que es &necessrio reconhecer e que fo otros devem reconheeer nels. uma forma de poder que ‘ansforma os Incivduos em sult. a dos sents para { palava “sujet seta submisso a0 outro plo controle € bela dependeein set gud a sua propria dentdade pela ‘onseeneia ou pelo conheetmento de st. Nos dos casos, essa Dalavra sugere uma forma de poder que subjugae submete ‘De manera geral, pode-se der que hi tres upos de lu tas’ as que se opdem formas de dominacio (teas, socials ce religiosa as que denuiclam as formas de exploracio que ‘eparam 0 indiviguo do que ele produz: as que combate fdo o que liga oindividuo a ele mesmo egarante, assim. sua ‘submlsado aos outros (ute contra a submisto, contra asd ‘versa formas de subjetividade e de submiss). ‘AhistGrta€ rica de exemplos desses tts tpos de tas s- ‘als. produzanse elas de maneiralglada ou eoofunta. Mas, Testo quando essas lus se misturam, ha sempre uma que dlomina. Nas sociedades feudals, por exempl, s80 as lulas contra as formas de dominacéo éinca ou social que prevae- em, enquanto a exploragto econdmica podera ter consttuldo tum fatr de revoa muito importante ol no século XIX que a uta contra a exploragéo ches 20 primeir plano ', hoe, 6a Tula. contra. as formas de seco ~ conta a sub mts da subjetvdade~que prevalece cada vez mais, mesmo 124 te noon Pacron ‘seas lutas contra a dominagio €aexplorago io desaparece am, muito pelo contro. ‘Teuho 0 Sentimento de que ndo éa primetra ver que nossa sociedad se acha conirontada com ease ipo de ia. Todos esses movimentos que oeorrerain no século XV e no século XVI encontrando sua expresso esa justficagio na Reforma, endente e Interessante. porque. pela primeira vez, tn Mofo ‘rope como trea Mlosbiica analisar hao some o sista ot ‘se fudamentos metafsicos do saber centiico, mas um aeonte- ‘mento histreo um acontecimento recente, de atalidae. ‘Quand Kant perguata, em 1784: "Was hetsstAufkldrung?™ cle quer dizer: "O ue acontece neste momento? O que nos ‘conlece? Que mundo ¢ eae, este periodo, este momento pre ‘iso em que vemos?” ‘Ou. para dizer a colsas de ovtra manera: “Quem somos nds?" Quem somoa nds como Aufklrer, como testemanhas fleste séeulo das Luzes? Comparemos com a questio cate Sana quem sou et? Mas, como sijelo nico, mas waivers fio hlsiérien? Quem sou eu, eu, porque Deseartes € todo ‘undo, em qualquer ngs e em qualquer momento. 128 et Denes ‘Mas a questio apresentada por Kant € diferente: quem 30- ‘mos nds, nese momento preciso dahiséri? Essa questo 0 ‘mesmo tempo. ns e nossa stuacio presente que ea nals. ‘Bsse aspecto da Moola se trnot cada ves tas impor tan te, Pensemos em Hegel, em Nietzsche, O outro aspecto ot "Mlosofia universal”. nao desaparece Mas a andlise critica do mundo no qual vivemos const cada ver mals a grande taefa Mosdtiea. Sem eivida, 0 problem Mloséfico mais infalivel €o da época presente, da que somos neste momento precio, ‘Sem divida, o objetivo principal hoe, no & descobrir, mas recusaro que nds somos, Devemos imaging © coastruir© que poderiamos ser para nos vrarmos dessa espécie de “dupla ‘brigago" politica que so a individualizagh e a totlizago ‘multineas das estruturas do poder inodemno. oder-se-ia dizer, para conelut. que o problema, 0 meso tempo, politic, ele, social eMloséico que se apresenta ans, hoje ndo € de tentar berar o Indvidua do Estado « de sua Institaigées, mas de noe livrarmos, ns, do Estado e do tp dle individualizagao que a ele se prende. Precisamos promorer ‘noms formas de subjeuvidade. reeusando 0 ipo de individu dade que se nos impos durante varios steals, © PODER, COMO SE EXERCE? Para alguns, interrogir-se sobre 0 “como” do poder seria limutarse a deverever seus efeitos, sem relaconétos jamals nem com cansas nem com nenluma natura. Sera fazer des ‘se poder uma substinla misteriosa que se esqulva de inter” ‘ogarela propria, sem divida porque se prefere no “questo rntla". Nessa maquinarla da qual ndo se coniecerazio. eles ‘sespeitam de um fatalsmo, Mas sua propria desconttanga néo ‘mostra que les mesmos supsem que o poder € algo que existe ‘com sua origem, por um lado, sua natureza, por outro, suas ‘manifestagses,fnalmente ‘Se confio certo priv provsério & questio do “como”, indo € que eu quera ciminar a questo do qué e do porgué. E para colocéslos de outra mianetra; melhor: pata saber se € J slimo imaginar um poder que reine um qué, um porque, um ‘como. Em fermos bruscos, eu diel que inetar a ndlle pelo “como” € introduzir a suspita de que o poder nao existe: €per- eo Seto coroae 120 genta, em todo caso, a que conteidosatrbuivels se pode Vimar quando se faz uso dese temo malestoso, dobaltzante Sbstantifleador € suspeitar que se dea eseapar um conjunto fe ealidades muttocomplexas, quando se marea passo inde hldamentediante da duplainterrogacio:"O poder. 0 que €? 0 ver, ce onde vem?” A pequena questa, completamente pl fae empiries: “Como aconteee?enviada como explorator, io ten como fungdo transforma em fraude urna "metas" fo um “ontologa" do poder: mas lentar uma investigacao er tea na tematic do poder. 1 "Como" ndo na sentido de “como Se manifesta”, mas de “como se exerce?”, como acontece quando induiduos exer- fem, como se dt. seu poder sobre outros?” esse por, deve-sedstngue primiro 0 que se exere so- teas colsas © gue da a capacidade de modiic-las, tins, ‘consis ou desta um poder que remete a aptidoes a Felamente Ineritas no corpo ou medisizadas por dispositvos Instrumentals. Digamos que se trata ai de “capacidade", O que fracterza, em compensacio, o"poder” que se tala de analisar fag € 0 que coloca em jogs reagoes entre indvidvos (ou entre (aupos), Porque nao devemos nos enganar quanto a Isto: Se fa: Nios do poder das les, das nsituies ou das deologis, se faiamos de estruturas ou mecanismos le poder, €na media so- ‘mene em que supomos que “alguns” extrcem um poder sobre ‘tras, © termo “poder” designa relagies entre "parceios” por iss io penao em um sistema de Jogo. mas impleemente, Nando, no momento, aa maior generalidade, em wn conjunto tle adies que se Inzem e se corespondem umas 84 ours). EE necessériodistingir, também, a8 relagoes de poder das relagies de comunteagao que transaltem uma informacho por fnelo de uma ling, um sistema de aignos ax qualquer outro feo simbellee, Sem davida, comunicar € sempre certa ma: rn de agi sobre 0 outro ow os outros. Mas produgto © ‘tcoloeagto em citeulagao de elementos sieantes poder ‘nulto bem ter por objeto ou por consequenetss ellos de poder estes no sto smplesmente um agpecto daquelas, Qve ‘las passem ou ndo por sistemas de comunicagdo, as relagoes ‘te poder tim sua expecilevade ‘Relagoes de poder", “relagbes de comunteacio”, “capact: ladies objetvas" ho devem. poss ser confundidas, O que nao ‘qver dizer que se trate de ws dominios separados: e que have: 130 wih nc tn ten "a, por um lado. 0 dominio das cots, da tcnle inalizadla do trabalho eda transformagio do eal: por auto lado, o dominio dos signos, da comunicago, da rectprocdadee da fabricacio {lo sentido: enfim, o dominto da domingo dos metos de ob. spcto,dadesigialdade eda cio dos homens sobreos homens. io se trata de ts tpos de relagdes que. de fat sto sempre ‘mbricadas unas nas outras, dando-se umn apoio reeipraco © servindo-e mutuamente de instrument, A operacionalizaio fe eapacidades objtivas, em suns formas mais elementares, !mpliearelagdes de comunicagio (que se trate de fnformacio prévia ou de trabalho dividido: ela eats Mgada, também, are lagies de poder (que se trate de areas obrigatrlas, gests in posios por uma tadieao ou uma aprendlzager, subdivisdes ou Feparicao mats ou menos obrgatria de trabaln), As relagoes de comunicagaosmpicam atvidadesfalizaas(Ranetonamien to “correto™ dos elementos sigaliantes) , somente no fato de ‘modifier o campo tnformativo dos parcetoa, ela nurcm tfeitos de poder. Quanto ds proprias regis de poder las se ‘exercem para uma parte extremamente portant por melo da producto eda troca de signos: e nso si dlssocaves amb fdas atividades nalzadas, que se trate das que permitem exe ‘er esse porter (como as téenias de teinameno, os provessos ‘de dominacio, as maneiras de obter a obediéneal ot das gue ‘ecorrem, para se desenvolver, a relagdes de poder (asst na ‘Alviso do trabalho e na hserarquin das tart). claro, a coordenacio entre esses tréslipos de rlagdes ‘no € nem unlforme nem constant. Nao ha em cera scledade ‘um tipo geral de equlbrio ene as atedades finalizadas, 0s sistemas de comunieagto e as relages de poder. Hi, antes diversas formas, diversos Ingares, diversas circunstancias ou ‘ocasioes em que essasinter-relages se estabelecem sobre ut ‘modelo especie. Masha também “blecos” nos quats ost mento das eapacidades, as redes de comuntoagao eas relagoes ‘de poder constituem sistemas regrados e concertados. Sea, por exemplo, una Insiulgo escolar sua diposigao espacial ‘regulamento metculoso que rege sua vida interior, as dferen les allvidades que af sto organieadas, os dversos personagens 1A) ads Hatem dt rn co ane wea-o Sapte rai 131 ‘que ai vier ou se encontram, cada um com uma fungd, wt gar, um rosto bem-deinidos tudo is¥0 consi sm “boca” de capacidade-comuniagao-poder. A alividade que garante a ‘prendizagem e a aqulsici das apiddes ou dos tpos de com- portamento ase desenvolve por meio de tado um conjunto de comunieagies regradas ides, uestOes e respostas,ordens, fexoriagées, sigios coditeads cle obediénca, mareas dileren- ‘als do “valor” de eada um e ds nivels de saber) e por melo {de toda uma ste de procedimentos de poder (encerramento ‘igsnein, recompense panies, hierargala piri) esses blocos em que a operaclonalizao de capacidades ‘nies, 0 jogo das comunicagdese as relagées de poder so ajusiados uns aos outros, segundo formulas reflelklas, cons: ituem o que se pode chamnar, ampliando um pouco 0 sentido da palava, de"dscipinas’ A‘andliseempirieedealgumas dis- CiplinasIais como ela se consituram historieamente spre Senta por nso mesmo cero interease. Primetro, porque as “lscplinas mostrar segundo esquemas arfealmenteelaros ‘edecantados a manetra como podem se articular uns 308 ou teos ot sistemas de finalidade objetva. de comuntcages e de poder. Porque elas mostram, também, diferentes modelos de [rtculages (ora com preeminéncia das relagbes de poder € de ‘bediénca, como nas disciplinas de tipo mandstico ou de upd penilenetiro, ora com preeminénen das aliidades Snaizn fas, como nas discipinas de ofiinas ou de hospitals, ora com. preeminéneta dae relagées de comunieagso, como nas dacipi has de aprendizagem. ora, também. com una saturacto dos tres poe de relagdes, como lalvez na dept mii, em ‘que uma pleora de signos marca até a redundancia relacoes dde poder estretadas eculdadasamente caleuladas para forne fer certo nimero de eetosIéenteos). 1B que se deve entender pela dseiphinarizapio das soc ddades, a partir do sévulo XVI, na Europa, nio & com cetera, fque os individuos que dela fazem parte ae tornem cada vez nals obedentes: nem que elas se ponamn todas ase parecer ‘com easernas, escola ou prises; mas que ai se procurou um. ‘ajustamento cada vez mals bem controlado ~ cada vez mals ‘etna e econtaieo entre ae atidadesproduliva, aa rede ‘de comunieagao eo jogo das reagdes de poser Abordar 0 tema do poder por uma anise do “como” é, en do, opear, em relagto & suposici de um poder fundamental, 132 mane aca -Drore eae vitios deslocamentos ertcos. £ darse por objeto de andlise ‘elagbes de poder. e nao um poder; relagies de poder que sto distinas das eapscidades objetivas tanto quanto relagies de ‘comunacio: elas de poder. enim que se podem spree der na diversidade de seu encadeamenio com exes capaci dese casas reaches, ged EM Mis cote espectetdade das relates de por (© exereicio do poder nao ¢ simplesmente uma relagio en- re "parceiros’ indus ou coletivos: € unt modo de agi de alguns sobre alguns outros. O que quer dizer, € caro, que ‘nto algo como o poder, ou poder que exstiia globalmente, ‘macigamente ou no estado feo, eoncentrado ou dstibuido ‘86 ha poder exereido por “uns” sobre os “outros 0 poder 36 teste em ato, mesmo se, € lao, el se insereve em um campo fe possiblidade esparso, apoiando-se em estrus pera. nentes Isso quer dizer, também, que o poder no & da orden ‘do consentimento; ele nao € nele proprio enacts 9 wma Ir berdade, transferenea de dirett, poder de todos ¢ de cada um delegido a alguns (o que no impede que o consentimento ‘possa ser uma condiio para que a reacio de poder exista ese ‘mantenha}:relagio de poder pode sero eft de um consen- lumento anterior ou permanente: ela no esti em sua natureza ‘propria, a manifesto de um consens, sso quer der que ¢ necessrio procuraro carter proprio fas relages de poder junto a uma vieénela que seria sn orm primitiva. o segredo permanente o recurso timo ~ 0 que ‘parece em ilimo lugar como sa verdade, quando ele obr- ‘gido a tar a mascara e mostrar tal camo ele & De fato, © ‘que define uma relago de poder € um modo de ago que nao age diretae imedlatamente sabre os outros, mas que age sabre sa agao propria. Uma agao sobre a ago, sobre aces even- {uals ov atuas, ituras ou presentes Uma relagio de wolencla ‘age sobre um corpo, sobre cosas ela fora ela obra ela que bra, ela destrot cla fecha todas as posuiblidades; ela no tem, entio, junto a ela, outro polo senao o da passividade: ese ela ‘encontra umna ressténets, nfo tem uta escola Sendo empre ender reduzi-la, Uma relagso de poder, em compensacto, se articula sobre dois elementos que the sioindispensdvels para ser justamente uma relacio dle poder: que “o outro” (aqucle sobre o qual la se exere) sea bem reconecido emantido até e-o'syetoe orate 188 «fim como sujito de ago; e que se aba, dante da relagio de Poder, todo wm campo de respostas,reagies, efeitos. inven- ‘oes possi, = ‘0 funcionamenta de rlagdes de poder nio ¢evidentemen fe mals excesivo do uso da volenela que da aquisiqae dos onsentimentos: nenhum exereielo de poder pode, sem div fla dspensae umm otro, fequentemente os dois ao mesmo tempo, Mas, se eles so ees nstrumentos ou seus efeitos. 0 ‘consttuem seu principio au sua maureza. O exeeico do poder pode bem suscltar tanta acttagdo quanto se quiser: ele pode eumular as mortes ese abriga por trds de todas as ameacas ‘gue pode imaginas. Ele nfo € em st uma violencia que sabe- ‘a, ds vezes, eeconder-se_ou um consentimento que, impli taniente se recondsira, & umn conjunto de ages sobre agbes ‘posse ele opera no campo de possbiidade em que vem Inscrever-seo comportamento de sujellos agentes: ee inci fle nd, ele desi, ele facta ou torna mais if ele amplia fu ce linia, ele toma mais 04 menos provével no lite, ele ‘Sbriga ou impede absolutamente; mas € sempre uma maneira {de aghr sobre um ou sobre snjetos agentes, e iso enquanto ‘les agem ou ao stiscetves de ag. Uma agio sobre aces. ( termo "conduta com seu proprio equvoco é talves, um dos que permitein melhor apreender o que ha de espectic fa relagbes de poder. A"eonduta” €. ao mesmo tempo, o ato {de "conde" os outros (segundo mecanismos de oergio mals ‘ou menos estitos) ea manera de se comportar em um eampo Imals on menos aberto de possbilidades. O exerecto do poder ‘onsate em “conde eondutas”e em arranjar a probebllide ‘de O poder, no fando, € menos da ordem do enfrentamento ‘cire dois adversdrios, om do engalamenta de um em reacto So outro, do queda ordem do “govern. Devese debra essa ‘ular a sigiieagio muito ampla que ela nba no séulo XV. Ba milo se relera somente a estruturas politicas e A gestio fos Estados, mas deslgnava a manelra de dri a conduta de Indios ow de grupos: governo das eriangas, das alas, das ‘comunidades, das fais, dos doentes, Ela nfo recobra sin plesmente formas institidas €leglumas de sjeiio polities fou economia, mas modos de ago mals ou menos refletidos € ‘alulados, todos destinados a ag sobre as possblidades de fico de outros indvidwos. Governar,nesse sentido, ¢ estruti- ‘ar o campo de agio eventual dos outros. O modo de relagio

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