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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

08/03/2021

Número: 0600216-46.2020.6.14.0022
Classe: RECURSO ESPECIAL ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Luiz Edson Fachin
Última distribuição : 22/02/2021
Assuntos: Inelegibilidade, Inelegibilidade - Rejeição de Contas Públicas, Impugnação ao Registro de
Candidatura, Cargo - Prefeito, Eleições - Eleição Majoritária
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
COLIGAÇÃO ÓBIDOS AMOR E CORAGEM, OS CASSIO BARBOSA MACOLA (ADVOGADO)
TRABALHOS NÃO PODEM PARAR (RECORRENTE) ANA LUIZA JORGE DE NAZARETH (ADVOGADO)
THIAGO ALVES DE SOUSA (ADVOGADO)
MARLUZI BARBARA KUSSLER MACOLA (ADVOGADO)
JAIME BARBOSA DA SILVA (RECORRIDO) ANA CRISTINA COSTA DIAS SILVA (ADVOGADO)
BENEDITO GABRIEL MONTEIRO DE SOUZA (ADVOGADO)
EDIMAR DE SOUZA GONCALVES (ADVOGADO)
ANDRE RAMY PEREIRA BASSALO (ADVOGADO)
GABRIELA ROLLEMBERG DE ALENCAR (ADVOGADO)
RODRIGO DA SILVA PEDREIRA (ADVOGADO)
JANAINA ROLEMBERG FRAGA (ADVOGADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11707 08/03/2021 17:15 Parecer da Procuradoria Parecer da Procuradoria
2788
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
PROCURADORIA-GERAL ELEITORAL

Manifestação nº 542/21-GABVPGE
Processo: REspEl nº 0600216-46.2020.6.14.0022 – ÓBIDOS/PA
Recorrente: COLIGAÇÃO ÓBIDOS AMOR E CORAGEM, OS TRABALHOS NÃO

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PODEM PARAR
Recorrido: JAIME BARBOSA DA SILVA
Relator: MINISTRO LUIZ EDSON FACHIN

ELEIÇÕES 2020. PREFEITO. RECURSO ESPECIAL


ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.

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INELEGIBILIDADE ABSOLUTA INFRACONSTITUCIONAL.
ART. 1º, I, G, DA LC 64/90. CONVÊNIO. COMPETÊNCIA
DO TRIBUNAL DE CONTAS UNIÃO. MESMO FATO
ANALISADO PELO PODER JUDICIÁRIO SOB A ÓTICA DA
LEI Nº 8.429/92. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PEDIDOS
JULGADOS IMPROCEDENTES. EXCLUÍDA A PRESENÇA
DO ATO DOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
IMPOSSIBILIDADE DA JUSTIÇA ELEITORAL ANALISAR O
ACERTO OU DESACERTO. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº
41 DO TSE. NÃO INCIDÊNCIA DA HIPÓTESE DE
INELEGIBILIDADE. SIMILITUDE FÁTICA AUSENTE.
APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 28 DO TSE.

— Parecer pela negativa de seguimento do recurso especial.

Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,

Trata-se de recurso especial eleitoral interposto pela Coligação

RBG/DVC/JCCN– REspel nº 0600216-46.2020.6.14.00225 / B.00.1.3.7 1/15

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“Óbidos amor e coragem, os trabalhos não podem parar” contra acórdão do Tribunal
Regional Eleitoral do Pará, que manteve o deferimento do registro de candidatura de
Jaime Barbosa da Silva ao cargo de Prefeito de Óbidos/PA.

Na origem, a parte ora recorrente ajuizou ação de impugnação ao


registro de candidatura (AIRC), alegando a incidência das cláusulas de
inelegibilidade do art. 1º, I, alíneas "g" e “l”, da LC 64/1990, em virtude da
condenação do pretenso candidato em ação de improbidade administrativa e no

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julgamento das contas do então prefeito como irregulares, pelo TCU.

Concluída a instrução do processo, o Juízo Eleitoral julgou


improcedente a ação impugnatória e deferiu o pedido de registro de candidatura.

A sentença deu ensejo à interposição de recurso eleitoral, que veio a


ser improvido pela Corte Regional Eleitoral, resultando em acórdão assim ementado:

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RECURSOS ELEITORAIS. REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES
2020. IMPUGNAÇÕES AO REGISTRO. DEFERIMENTO.
INELEGIBILIDADE. ARTIGO 1°, I, ALÍNEA “L”, DA LC N. 64/90. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DECISÃO
CONDENATÓRIA. INEXISTÊNCIA. INELEGIBILIDADE. ARTIGO 1°, I,
ALÍNEA “G”, DA LC N. 64/90. REJEIÇÃO DE CONTAS PELO TCU.
REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. CAUSA DE INELEGIBILIDADE.
NÃO INCIDÊNCIA. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
1. São considerados inelegíveis para qualquer cargo os que forem
condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada
em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de
improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e
enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até
o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena (art.
1º, I, l, da LC nº 64/90).
2. Não incide a inelegibilidade do art. 1º, I, l, da LC nº 64/90 quando,
apesar da condenação em primeira instância, há reforma da decisão em
segunda instância para julgar a ação improcedente.
3. São inelegíveis para qualquer cargo os que tiverem suas contas
relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por
irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade
administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se
esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as
eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir
da data da decisão (art. 1º, I, g, da LC nº 64/90).

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4. “Afastada pela Justiça Comum, em sede de ação civil pública, a


prática de ato de improbidade em relação aos mesmos fatos que
ensejam a rejeição de contas pelo Tribunal de Contas, não há falar na
incidência da inelegibilidade da alínea g do inciso I do art. 1º da LC nº
64/90, que pressupõe a rejeição de contas por decisão irrecorrível
proferida pelo órgão competente, decorrente de irregularidade insanável
que configure ato doloso de improbidade administrativa” (Recurso
Especial Eleitoral nº 20533, Acórdão de 27/08/2013, Relator(a) Min.
JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFOLLI, Publicação: DJE – Diário de justiça
eletrônico, Tomo 184, Data 25/09/2013, Página 67).
5. Recursos desprovidos.

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Opostos embargos de declaração, foram rejeitados.

Não resignada, a Coligação impugnante deduz o presente recurso


especial, argumentando, em síntese, que:

a) que houve malversação dos recursos oriundos de convênio

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do Município com a FUNASA que deveriam ser destinados às
obras de esgotamento e, embora tenha havido antecipação de
parte do pagamento, este não foi utilizado para a finalidade
devida, ocasionando ato doloso de improbidade administrativa;

b) que, embora haja aparente semelhança com o precedente


invocado pelo voto vencedor, existem diferenças relevantes no
caso concreto que não foram observadas, tais como o
julgamento de improcedência da ação civil pública ser
decorrente de ausência de provas e ainda subsistirem
legitimados à propositura de nova APC pelo mesmo fato, o que
não impede que a Justiça Eleitoral analise o caso sob a
perspectiva da existência de ato doloso de improbidade
administrativa, extraindo elementos da decisão do TCU de
modo a concluir por sua existência, a despeito da
improcedência advinda da Justiça Estadual;

c) a incompetência da Justiça Estadual para julgar a ação civil


pública que dizia respeito a recursos provenientes da União;

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d) divergência jurisprudencial com base em decisão do TSE


que entendeu possível o enquadramento na hipótese de
inelegibilidade com base na decisão administrativa, mesmo
havendo decisão judicial favorável ao candidato.

Dispensado o juízo de admissibilidade1, os autos foram remetidos a


esta Procuradoria-Geral Eleitoral, com contrarrazões.

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É o relatório.

O recurso não comporta seguimento ante a incidência das súmulas


nºs 41 e 28.

Verifica-se que foi devolvido para apreciação dessa Corte Superior


Eleitoral o embate a respeito da inelegibilidade preconizada no art. 1º, I, “g”, da LC nº

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64/90, em razão da rejeição das contas do prefeito pelo Tribunal de Contas da União,
que levou ao ajuizamento de ação civil pública, a qual que teve os pedidos julgados
improcedentes.

Afirma o recorrente que o candidato recorrido, enquanto ocupante do


cargo de Prefeito do Município de Óbidos, recebeu repasse de valores decorrentes
de celebração de convênio com a FUNASA, não os tendo destinado para as obras
de esgotamento, dando ensejo a desaprovação da contabilidade pelo TCU, o que
“configura ato doloso de improbidade administrativa que causa dano ao erário ” (id.
107679538 - P. 8) e atrai a hipótese de inelegibilidade do art. 1º, I, alínea "g", da LC
64/1990.

A cláusula de inelegibilidade descrita no art. 1º, inciso I, alínea g, da


Lei Complementar nº 64/90 — a seguir transcrita —, tem por finalidade preservar a
probidade administrativa2, obstando o registro da candidatura daquele que foi
responsabilizado pela má gestão de recursos públicos:

Art. 1º São inelegíveis:

1 Art. 12, parágrafo único, da Lei nº 64/90 e art. 67, § 2º, da Resolução TSE nº 23.609/2019.

2 Art. 14, § 9º, da Constituição da República.

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I — para qualquer cargo:


[…]
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou
funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que
configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido
suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que
se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da
data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da
Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem
exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;

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De acordo com a obra doutrinária de Fábio Medina Osório, a
improbidade administrativa constitui uma espécie de

má gestão pública, em que podem existir múltiplas categorias,


revestindo-se das notas da desonestidade ou ineficiência graves,
passível de cometimento por ações ou omissões, dolosas ou
culposas, de parte de agentes públicos no exercício de suas
funções, ou em razão delas, com ou sem a participação de

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particulares3.

Para a anexação da cláusula de inelegibilidade descrita na alínea g


do inciso I do art. 1º da Lei Complementar nº 64/90, é necessário o reconhecimento
de que a irregularidade que ensejou a rejeição das contas configure ato doloso de
improbidade administrativa.

Isso não significa, como atenta José Jairo Gomes, que é necessário
haver “a prévia condenação do agente por ato de improbidade administrativa ”4,
exigindo-se apenas a conclusão de que a irregularidade pode ser enquadrada como
ímproba, isto é, como fruto de má gestão, ensejada por desonestidade ou
ineficiência graves.

A tarefa de qualificar a irregularidade como ato de improbidade


administrativa incumbe à Justiça Eleitoral, a partir do exame da decisão que rejeitou

3 Teoria da improbidade administrativa. Má gestão pública. Corrupção. Ineficiência. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2018. RB-10.1. E-Book. ISBN 978-85-203-5674-6. Disponível em:
<https://portal.mpf.mp.br/bidforum/?key3=E9177BD38F03&key2=8840093A&key1=PGRDF.>Acesso em: 3 de
setembro de 2020. Grifos acrescidos.

4 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 13a ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 248.

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a contabilidade. Isso ocorre

em homenagem ao princípio da separação dos poderes, evitando-


se que a decisão emanada por um órgão administrativo ou político
tenha o efeito automático de subtrair a plenitude do gozo dos
direitos políticos de determinado indivíduo5.

Portanto, conforme orienta a jurisprudência desse Tribunal Superior,

compete à Justiça Eleitoral, rejeitadas as contas, proceder ao

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enquadramento das irregularidades assentadas em decisão
irrecorrível do órgão competente, como insanáveis ou não, e
verificar se constituem ato doloso de improbidade administrativa,
não lhe competindo, todavia, a análise do acerto ou desacerto
dessa decisão6.

Em recente pronunciamento, essa Corte Superior Eleitoral assentou,


para as eleições de 2020, que

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Compete à Justiça Eleitoral, independentemente da qualificação
jurídica realizada na ação civil pública, o exame da questão de
fundo relativo à condenação por ato ímprobo para aferir os
requisitos necessários à configuração da inelegibilidade, exame
restrito aos contornos fáticos delineados pelo acórdão
condenatório proferido pela Justiça Comum.7

Assim, assiste razão ao recorrente quando diz que não pode ser
afastada da Justiça Eleitoral a análise de eventual sentença de improcedência
proferida em Ação Civil Pública, tal qual não é afastada em caso de procedência de
demanda dessa natureza, cabendo-lhe analisar os elementos da decisão para
concluir pela existência – ou não – de ato doloso de improbidade administrativa que
possa conduzir à hipótese de inelegibilidade.

A análise da Justiça Eleitoral acerca da existência de elementos da

5 ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral. 7ª ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 288.

6 Recurso Especial Eleitoral nº 13607, Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 30/06/2017.

7 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 060018853, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto,
Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 18/12/2020.

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demanda cível, contudo, não pode contrariar aquilo que fora decidido, sob pena de
inobservância do teor da súmula nº 41 do TSE, segundo a qual “ não cabe à Justiça
Eleitoral decidir sobre o acerto ou desacerto das decisões proferidas por outros
órgãos do Judiciário ou dos tribunais de contas que configurem causa de
inelegibilidade”.

Nessa perspectiva, defendendo que o ato praticado configura


inelegibilidade, o recorrente aponta que a decisão objurgada incorreu em equívoco ao

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afastar a causa de inelegibilidade por força da improcedência da ação civil pública
lastreada nos mesmos fatos, pois a decisão da Justiça Estadual não vincula o Juízo
Eleitoral tendo em vista que são searas distintas e autônomas.

Afirma, outrossim, que subsistem outros legitimados para a


propositura de uma nova ação civil pública para discutir os mesmos fatos, já que a
decisão não produziu efeitos erga omnes, eis que teve os pedidos julgados

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improcedentes por ausência de provas, de modo que não fez coisa julgada material.

Diz que, da análise da decisão de rejeição das contas proferida pelo


TCU é possível extrair elementos que conduzem à inelegibilidade, devendo o
registro de candidatura ser indeferido.

O Tribunal Regional Eleitoral do Pará, por maioria, entendeu que,


diante do julgamento de ação civil pública afastando a prática de ato doloso de
improbidade administrativa e com base em jurisprudência do TSE, não haveria
incidência da alínea “g”, do art. 1º, I, da LC 64/90, pela impossibilidade de se concluir
de forma contrária, ou seja, de assentar a existência do dolo. Vejamos a
fundamentação do voto vencedor (id. 107678738):

Analisando os autos, verifico que o Poder Judiciário decidiu pela


inocorrência de ato doloso, limitando, neste caso, conforme
assente na jurisprudência, a interpretação pela Justiça Eleitoral
acerca da decisão proferida pelo Tribunal de Contas.
Com efeito, os autos dão conta de que houve decisão da Justiça
Comum, em sede Ação Civil Pública, afastando a prática do ato de
improbidade administrativa relativamente aos mesmos fatos
contidos no Acórdão nº 12.878/2018.

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A jurisprudência é farta no sentido de que, afastada pela Justiça


Comum, em sede de ACP, a prática de ato de improbidade em
relação aos mesmos fatos que ensejaram a rejeição de contas
pelo Tribunal de Contas, não há que se falar na causa de
inelegibilidade prevista no art. 1º, I, “g”, da LC n.º 64/90.
(...)
No âmbito do TSE, verifica-se que aquela Corte Superior já
assentou que a decisão da Justiça Comum consignando ausência
de dolo é circunstância apta a atrair dúvida acerca da
configuração da inelegibilidade e que, nessa situação, deve ser
conferida primazia ao efetivo exercício da capacidade eleitoral

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passiva. Nesse sentido:
“Eleições 2016. Recursos especiais. Registro de
candidatura. Cargo. Prefeito. Deferimento. Art. 1°, i, g, da LC
n° 64/90. Aferição dos requisitos. Divergência quanto à
ocorrência do dolo. Rejeição de contas pelo TCU
assentando a presença de elemento volitivo na prática das
irregularidades apuradas. Acórdão da justiça comum
consignando ausência do dolo. Cenário de dúvida razoável
objetiva acerca do estado jurídico de elegibilidade. Exegese

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que potencialize o exercício do ius honorum como critério
norteador do equacionamento da controvérsia. Incidência do
princípio da razoabilidade. Inelegibilidade não configurada.
Condenações de suspensão dos direitos políticos em ações
diversas. Impossibilidade de soma dos prazos das sanções
políticas para fins de reconhecimento de condição de
elegibilidade. Recursos especiais a que se nega provimento.
1. O art. 1º, I, g, do Estatuto das Inelegibilidades reclama,
para a sua caracterização, o preenchimento, cumulativo,
dos seguintes pressupostos fático-jurídicos: (i) o exercício
de cargos ou funções públicas; (ii) a rejeição das contas
pelo órgão competente; (iii) a insanabilidade da
irregularidade apurada, (iv) o ato doloso de improbidade
administrativa; (v) a irrecorribilidade do pronunciamento que
desaprovara; e (vi) a inexistência de suspensão ou anulação
judicial do aresto que rejeitara as contas. 2. O art. 1º, I, l, da
Lei Complementar nº 64/90, pressupõe o preenchimento
cumulativo dos seguintes requisitos: (i) a condenação por
improbidade administrativa, transitada em julgado ou
proferida por órgão colegiado, (ii) a suspensão dos direitos
políticos, (iii) o ato doloso de improbidade administrativa e
(iv) a lesão ao patrimônio público e (v) o enriquecimento
ilícito [...] 9. Recursos especiais desprovidos.”
Acórdão de 06/04/2017, REspe n.º 21.321, Rel. Min. Luiz
Fux.
Assim, entendo que as circunstâncias do caso geram dúvida,
devendo, portanto, ser privilegiado o direito político de ser votado,

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razão pela qual, pedindo novamente vênias à eminente relatora,


DIVIRJO do seu voto para DESPROVER os recursos.

A questão a se dirimir, portanto, em face da irremediável contradição


na conclusão de decisões de órgãos igualmente competentes para julgar a causa, é a
possibilidade de que a decisão da Justiça Comum prevaleça sobre a do Tribunal de
Contas.

O Tribunal de Contas da União é competente para rejeitar as contas

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de gestores públicos, nos termos do estabelecido no art. 71, VI, da Constituição da
República8, e desaprovou as contas do candidato, determinando ressarcimento ao
erário9.

A Justiça Comum, por sua vez, detém competência para analisar os


mesmos fatos já analisados pelo Tribunal de Contas e assentar se houve ou não
improbidade administrativa nas modalidades culposa (apenas quanto ao art. 10 da Lei

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nº 8.429/92) ou dolosa (nas hipóteses do art. 9º e 11 da Lei de Improbidade
Administrativa10), e julgou improcedente a ação civil pública ajuizada em face do
candidato.

É uníssono na doutrina e jurisprudência que em se tratando de norma


que restringe o direito fundamental à elegibilidade, é imperativo que sua interpretação
seja operada restritivamente.

8 Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas
da União, ao qual compete: (…) VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União
mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município.

9 Consta do voto divergente que “ No caso em apreço, a desaprovação das contas decorreu da inexecução do
objeto do convênio e de pagamento por serviços não executados. Conforme consignado no acórdão do TCU, o
repasse de recursos federais foi na ordem de “R$ 939.576,66”, com determinação de “devolução de 550.187,99”,
a inexecução relativamente às verbas federais efetivamente repassadas foi superior a 50% do total. ” (id.
107678738).

10 No sentido em que se afirma é a jurisprudência do STJ: “1. Relativamente às condutas descritas na Lei n.
8.429/1992, esta Corte Superior possui firme entendimento segundo o qual a tipificação da improbidade
administrativa para as hipóteses dos arts. 9º e 11 reclama a comprovação do dolo e, para as hipóteses do
art. 10, ao menos culpa do agente” (AgInt no REsp 1526677/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe 04/12/2020)

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Procuradoria-Geral Eleitoral

Essa Corte Superior Eleitoral já se debruçou em caso semelhante e,


ponderando os valores envolvidos, optou por prestigiar o direito fundamental à
elegibilidade. Nesse sentido, por esclarecedora, transcreve-se a ementa do REsPE nº
213-21.2016.6.13.001911, de relatoria do Ministro Luiz Fux:
ELEIÇÕES 2016. RECURSOS ESPECIAIS. REGISTRO DE
CANDIDATURA. CARGO. PREFEITO. DEFERIMENTO. ART. 1°, I, G,
DA LC N° 64/90. AFERIÇÃO DOS REQUISITOS. DIVERGÊNCIA
QUANTO À OCORRÊNCIA DO DOLO. REJEIÇÃO DE CONTAS
PELO TCU ASSENTANDO A PRESENÇA DE ELEMENTO VOLITIVO

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NA PRÁTICA DAS IRREGULARIDADES APURADAS. ACÓRDÃO DA
JUSTIÇA COMUM CONSIGNANDO AUSÊNCIA DO DOLO. CENÁRIO
DE DÚVIDA RAZOÁVEL OBJETIVA ACERCA DO ESTADO
JURÍDICO DE ELEGIBILIDADE. EXEGESE QUE POTENCIALIZE O
EXERCÍCIO DO IUS HONORUM COMO CRITÉRIO NORTEADOR
DO EQUACIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA. INCIDÊNCIA DO
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. INELEGIBILIDADE NÃO
CONFIGURADA. CONDENAÇÕES DE SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS EM AÇÕES DIVERSAS. IMPOSSIBILIDADE DE SOMA
DOS PRAZOS DAS SANÇÕES POLÍTICAS PARA FINS DE

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RECONHECIMENTO DE CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE.
RECURSOS ESPECIAIS A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O art. 1º, I, g, do Estatuto das Inelegibilidades reclama, para a sua
caracterização, o preenchimento, cumulativo, dos seguintes
pressupostos fático-jurídicos: (i) o exercício de cargos ou funções
públicas; (ii) a rejeição das contas pelo órgão competente; (iii) a
insanabilidade da irregularidade apurada, (iv) o ato doloso de
improbidade administrativa; (v) a irrecorribilidade do pronunciamento
que desaprovara; e (vi) a inexistência de suspensão ou anulação
judicial do aresto que rejeitara as contas.
2. O art. 1º, I, l, da Lei Complementar nº 64/90, pressupõe o
preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos: (i) a condenação
por improbidade administrativa, transitada em julgado ou proferida por
órgão colegiado, (ii) a suspensão dos direitos políticos, (iii) o ato doloso
de improbidade administrativa e (iv) a lesão ao patrimônio público e (v)
o enriquecimento ilícito.
3. A cognição realizada pelo juiz eleitoral depende do elemento do tipo
eleitoral analisado, ampliando-a ou reduzindo-a, de ordem a franquear
a prerrogativa de formular juízos de valor acerca da ocorrência in
concrecto de cada um deles.
4. A apuração do dolo se situa entre os requisitos que habilitam o
magistrado eleitoral a exarar juízo de valor concreto, de forma a ampliar
a sua cognição, notadamente nas hipóteses em que o acórdão de
rejeição de contas for omisso acerca da ocorrência desses elementos
ou sempre que os assentar de forma açodada, sem perquirir as

11 No mesmo sentido é Recurso Especial Eleitoral nº 44231, Acórdão, Relator(a) Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 216, Data 08/11/2017, Página 32

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particularidades das circunstâncias de fato, sendo certo que a assertiva


é pertinente tanto na alínea g quanto na alínea l.
5. A autoridade competente para julgar as contas de convênio, para
fins de incidência da alínea g, é a Corte de Contas da União, ex vi do
art. 71, VI, da Constituição de 1988, e da remansosa jurisprudência
deste Tribunal Superior, nos casos de convênio firmado entre Município
e União (REspe n° 4682/PI, Rel. Min. Herman Benjamin, PSESS em
29.9.2016 e AgR-REspe nº 101-93/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, PSESS
em 21.11.2012).
6. A Justiça Comum detém competência para processar e julgar ações
de improbidade administrativa, para fins de aplicação da alínea l.
7. As restrições a direitos fundamentais devem ser interpretadas

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restritivamente, consoante lição basilar da dogmática de restrição a
direitos fundamentais, axioma que deve ser trasladado à seara
eleitoral, de forma a impor que, sempre que se deparar com uma
situação de potencial restrição ao ius honorum, como sói ocorrer nas
impugnações de registro de candidatura, o magistrado deve prestigiar a
interpretação que potencialize a liberdade fundamental política de ser
votado, e não o inverso.
8. In casu,
a) Há dois pronunciamentos divergentes sobre um ponto específico e

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essencial para a configuração da causa restritiva ao exercício do ius
honorum, que é a presença do dolo, não obstante a desaprovação da
conduta reputada como ímproba (i.e., construção e aparelhamento de
unidade de saúde do município).
b) De um lado, o Tribunal de Contas da União assentou o dolo da
conduta ímproba, ao consignar que "'os atos danosos, ao contrário do
alegado pelo recorrente, decorrem, sim, dos seus atos de vontade,
pois, como gestor dos recursos, deveria ter atentado que em sendo
aumentado o volume da obra deveriam ser revistos o plano de trabalho
e o projeto básico perante o concedente, o que não foi verificado' (fls.
218)" (trecho do voto vencido do relator no TRE/MG, fls. 387).
c) Por outro lado, o TRE/MG, ao debruçar-se sobre o arcabouço fático-
probatório dos autos, concluiu pela ausência do dolo, emprestando
proeminência ao pronunciamento exarado pela Justiça Comum
(TJ/MG) que - em sede de ação de improbidade administrativa
envolvendo os mesmos fatos examinados pela Corte de Contas -
constatou que a conduta ímproba deu-se na modalidade culposa, de
maneira a elidir a incidência da causa restritiva do ius honorum do
Recorrido e deferir seu registro de candidatura.
d) A exegese que maximiza o exercício da cidadania passiva é a
incidente nas hipóteses em que os pronunciamentos exarados pelas
autoridades dotadas de competência, cada qual dentro de suas
respectivas esferas de atuação, são antinômicos.
e) Deveras, entendimento oposto, segundo o qual o exame das alíneas
g e l deve ser feito de modo isolado e estanque, criaria um paradoxo
insanável que desafiaria a racionalidade sistêmica, a coerência nos
pronunciamentos judiciais e o bom senso: a Justiça Eleitoral declararia
a inelegibilidade do Recorrido por uma específica causa restritiva, e a

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elegibilidade por outra hipótese, apurando exatamente as mesmas


irregularidades (i.e., construção e aparelhamento de unidade de saúde
do município).
f) Juridicizando a afirmação, forçoso sustentar a inexistência de vínculo
lógico entre a privação do ius honorum e a finalidade almejada pela
inelegibilidade (razoabilidade interna).
g) O postulado da razoabilidade, em sua faceta como razoabilidade
externa, resta in casu violado, porquanto desconsiderar a análise de
circunstâncias concretas (tais como absolvição do pretenso candidato
na Justiça Comum ou o arquivamento do processo instaurado) não se
afigura consentâneo com a axiologia constitucional e com o Estado
Democrático de Direito, que repudia o paternalismo judicial não

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justificado, bem como uma moralização desmedida e irresponsável do
processo político.
h) A dúvida razoável objetiva, materializada na prolação de juízos
antinômicos sobre a existência do dolo por órgãos competentes e
sobre fatos idênticos, conduz à conclusão inescapável de que o estado
jurídico de elegibilidade deve manter-se incólume com o, consequente,
registro de candidatura deferido.
9. Recursos especiais desprovidos12.

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Do histórico dos julgados dessa Corte Especializada, verifica-se que
nos casos de registro de candidatura em que a Justiça Comum assentou a
inexistência de dolo impôs-se o óbice ao conhecimento da inelegibilidade preconizada
no art. 1º, I, “g”, da LC nº 64/90:
Contas do exercício de 2003 desaprovadas pela Câmara Municipal.
Aplicação de recursos abaixo do limite na área de saúde: conquanto
existam precedentes do TSE no sentido de que esse fato configura
vício insanável e ato doloso de improbidade administrativa, o acórdão
regional assenta que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao analisar
determinada ação de improbidade, consignou não ter havido dolo,
desonestidade ou má-fé do administrador, o que impede qualquer
conclusão, em registro de candidatura, sobre conduta ímproba na
modalidade dolosa.13.

No precedente acima, a sentença judicial de improbidade


administrativa, analisando a matéria sob o enfoque da Lei nº 8.429/92, afirmou a
inexistência de dolo, tal qual no caso dos autos.

Dado o contexto em que o direito subjetivo público de ser votado deve


prevalecer, quando se tem decisões de esferas distintas e ambas competentes para
12 Recurso Especial Eleitoral nº 21321, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 05/06/2017
13 Recurso Especial Eleitoral nº 27937, Acórdão, Relator(a) Min. Gilmar Mendes, Publicação: DJE - Diário de
justiça eletrônico, Tomo 37, Data 25/02/2015, Página 51 – grifo acrescido.

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dizer da existência de irregularidades insanáveis de ato doloso de improbidade


administrativa, conclui-se não subsistir o argumento da parte de a decisão da Justiça
Comum pode ser afastada para que se considere existente ato doloso de improbidade
administrativa, sob pena de contrariar o enunciado sumular de nº 41 do TSE e fazer
prevalecer a restrição à elegibilidade.

Assim, a decisão regional neste ponto deve manter-se íntegra.

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Melhor sorte não assiste à parte quando argumenta que a
competência para julgamento de eventual ação civil pública seria da Justiça Federal,
e, por isso teria ocorrido violação ao art. 109 da Constituição da República.

Não se desconhece o teor das súmulas de nº 20814 e 20915 do STJ e,


embora a aparente competência seja da Justiça Federal, por se tratar de convênio
firmado pela União e o Município, com o julgamento da contabilidade realizado pelo

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Tribunal de Contas da União, não compete à Justiça Eleitoral dirimir eventual conflito
de competência, que deveria ter sido suscitado nos autos da ação civil pública.

Por fim, a tese de divergência jurisprudencial também não prospera.

O recorrente fundamenta seus argumentos no REspe nº 27994, no


qual, na análise da inelegibilidade do art. 1º, I, o, da LC nº 64/90, se decidiu que a
sentença absolutória no âmbito criminal por ausência de provas não foi suficiente para
afastar a decisão administrativa que impôs a sanção de demissão ao servidor.

No presente caso, o que se analisa é a hipótese de inelegibilidade do


art. 1º, I, g, da LC nº 64/90, sob a perspectiva de sentença de improcedência em ação
civil pública, por ausência de provas.

14 Súmula 208-STJ. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante órgão federal.

15 Súmula 208-STJ. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

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Além das hipóteses de inelegibilidade serem diversas, no aresto


paradigma, o Tribunal não assentou a ausência de ato doloso de improbidade
administrativa, como feito no caso concreto. Dessa forma, a decisão da Justiça
Eleitoral pela incidência da inelegibilidade não se mostrou contrária ao decidido pelo
juízo criminal, como seria no presente caso em que, para se concluir pela
inelegibilidade teriam que ser contrariados os fundamentos da Justiça Comum de que
ausente dolo.

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É indispensável que o recurso especial interposto com fundamento
na alínea b do inciso I do art. 276 do Código Eleitoral (art. 121, § 4º, II, CF)
demonstre, com objetividade, a existência de efetiva divergência na interpretação de
lei entre dois ou mais tribunais eleitorais.

O dissídio jurisprudencial apto a inaugurar a via recursal especial


apenas surge quando o acórdão recorrido e o julgado paradigma adotam
compreensões diametralmente opostas, em que pese o enfrentamento dos mesmos

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fatos à luz de idêntica norma.

Essa é a razão por que incumbe à parte recorrente identificar, por


meio de um efetivo cotejo analítico, que a despeito da similitude fática havida entre
os julgados confrontados, houve dissenso quanto à exegese de um mesmo
dispositivo legal.

Inexistindo proximidade entre os fatos que foram objeto de


apreciação nos precedentes contrastados, é impossível se falar em divergência
jurisprudencial e, por consectário, não é dado conhecer do recurso especial,
consoante expressamente dispõe o enunciado nº 28 da Súmula dessa Corte
Superior:

A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial


interposto com base na alínea b do inciso I do art. 276 do Código
Eleitoral somente estará demonstrada mediante a realização de
cotejo analítico e a existência de similitude fática entre os
acórdãos paradigma e o aresto recorrido.

Dessa forma, também pela divergência jurisprudencial o recurso não


prospera.

Ante o exposto, o Ministério Público Eleitoral manifesta-se pela

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Procuradoria-Geral Eleitoral

negativa de seguimento do recurso especial.

Brasília, 5 de março de 2021.

RENATO BRILL DE GÓES


Vice-Procurador-Geral Eleitoral

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