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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ


CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU
DADOS DO PROCESSO
Nº Processo: 0004468-91.2017.8.14.0051
Comarca: SANTARÉM
Instância: 1º GRAU
Vara: 2ª VARA CRIMINAL DE SANTAREM
Gabinete: GABINETE DA 2ª VARA CRIMINAL DE SANTAREM
Data da Distribuição: 28/08/2017

DADOS DO DOCUMENTO
Nº do Documento: 2021.00451494-35

CONTEÚDO
PROCESSO CRIMINAL DE N° 0004468-91.2017.8.14.0051
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ
PARTE(S): REGINALDO DA ROCHA CAMPOS.
PATRONOS: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ.

DECISÃO

Vistos e etc...

RELATÓRIO.

Verifico que foi protocolizado, pedido da Defensoria Pública do Estado do Pará, em favor de Reginaldo da Rocha Campos,
requerendo autorização deste juízo para que o custodiado possa se matricular em disciplinas referente a grade curricular do curso de
bacharelado em Direito, sendo que tais disciplinas serão ministradas de forma on line. (fls. 4.816).

Instado a se manifestar, o Ministério Público aduziu que as atividades de estudo do apenado serão desenvolvidas por metodologia de
ensino a distância, e que este encontra-se cumprindo pena em prisão domiciliar e possui bom comportamento, preenchendo todos os
requisitos legais para a concessão do benefício.

É, em epitome, o relatório. Decido.

FUNDAMENTAÇÃO.

Trata-se o âmago da questão acerca da possibilidade do custodiado, em prisão domiciliar, ser autorizado a efetuar rematrícula em
curso superior que anteriormente cursava, por estar em situação de liberdade privada.

Ao meu sentir, é necessário aplicar por analogia, a possibilidade de estudo ao acusado, eis que o pleito vindicado pela defesa
adequa-se perfeitamente ao que propõe a Lei de Execução Penal em seu art. 126, §2º:

§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia
de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados.

Além disso, é nítido o caráter socializador do ensino, mesmo que a distância, para aqueles que estão situação de prisão.

Convém, ainda, registrar, neste particular, a incidência do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana por se firmar como fonte para
todos os ramos do direito.

Para tanto trago à baila doutrina de José Joaquim Gomes Canotilho e Vital Moreira, para os quais a dignidade da pessoa humana
não pode ficar circunscrita a determinados direitos e sim ser abrangente para o todo. In verbis:

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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU
Concebida como referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais, o conceito de dignidade da pessoa humana
obriga uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não uma qualquer ideia
apriorística do homem, não podendo reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa de direitos pessoais tradicionais,
esquecendo-a nos casos de direitos sociais, ou invoca-la para construir núcleo da personalidade individual, ignorando-a quando se
trate de direitos econômicos, sociais e culturais. (CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República
Portuguesa Anotada. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1984. v. 1, p. 70.)

In casu, ao conjugarmos do disposto da Lei de Execução Penal, conforme exposto alhures, com o Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, teremos que o deferimento do pleito vindicado implica em assegurar ao apenado o direito de sua ressocialização.

Ante todo o exposto, com base na fundamentação ao norte lançada e ainda com esteio no art. 3º do CPP (A lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como com suplemento dos princípios gerais de direito), DEFIRO o
pedido e AUTORIZO:

1. Que REGINALDO DA ROCHA CAMPOS curse disciplinas do ensino superior do curso de Bacharelado em Direito,
conforme descrito às fls. 4.816.

Dê-se ciência as partes acerca do inteiro teor desta decisão.

R.I.P. Cumpra-se com brevidade.

Expedientes necessários.

Santarém, 12.03.2021.

RÔMULO NOGUEIRA DE BRITO


Juiz de Direito, titular da 2ª Vara Criminal de Santarém

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