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CCoppighr ©2018 -Cesine is Coon Patria Powes Ears [Etiorap opr kl We ‘Pte de Cape: Cain A Conse Boonie ‘Angela B. Kleiman Cress Menezes Jord turers lise Mendes ‘asa ana Mrtin Deganut de Bars ‘Eni Puccnel Orand tesscp ties) aie ri Joss Gtios Paes de Aida Filho irene opti Tio ura tence) ‘Sete Sia ‘era Lica Menezes de Olive (une elon PONTES EDITORES ‘Ret Fancco Ove, 789. Chapao b= 15070058 Fone 1930520001 Fomcednestponenetions com br Para Cie Por termas ovoveiadodstncor los INTRODUGAO, © DIGITAL COMO OBJETO DE ANALISE os referirmos aos momentos de grande efervescnci econd- mica e tecnolégica, demos dizer que a passagem ao século XXI trou grandes expectativas & humanidade de que uma nova era estava or vir. Uma nova era anunciada. Essas expectativas de uma transformagao foram sendo produzidesideologicamente pelo Aiscurso do dpice do “avango tecnolégico” como superacio das impossibildades humanas. Nesse sentido, o século XXI representa no imaginstio produ- ido pelos discursos da inovagie, © momento de coer os frutos das conquistas enteriores, mais especficamente dos anos 40 40 séeulo XX, com 0 surgimento da cibemética ¢ a enorme reper: ‘ussio que ela tem em todos os campos do saber, inlusive 0 da linguistics. Com seus sucess0se seus fracassos anunciados, esas ‘onquistas giram em tomo da euforia com ainceligénca artical ‘© suas possiblidades de concorrer para uma vida perfeta e sem ‘contratempos. Embora muites autores afirmem que aciberntica um projeto do passado, suas ideiastiveram desdobramentos| muito concretos no desenvolvimento das ciéncias matemsticas, bioldgias, humanas e, como mostra Segal (2003) em sua obra, a ogo cientica de informacio tem um papel Fundamental nesse desenvolvimento que contribui para a produsdo de sentidos de controle da vida (42 morte) eda propria linguagent at 90 Dscuso rs: = Os desdobramentas desse perfodo fazem parte do mundo “que se produ discursivamente como uma “utopia tecnlcgica, = Gagando o politica © o ideol6gico do process de signticagao do ‘esenvolvimento da tecnologia como disposkvo de controle. que to ¢ proprio da tecnologia, mas do desenvolvimento de uma socie- dade eapitalsta onde as rlagSes de poder se pautam na producto de dispositivos de controle sobre o outro e sobre os desejos do outro. ‘esse modo, das nagdes sero aqui baslares para acompre= censiodo processo de historicizagio da tecnologia eda producio ie sentidos do digital 0 politico ea Ideologia ‘Quanto 20 poltice, recor, inicalmente ao io Discurso Po- nics Piblicas Urbans: fabricado do consenso,langado em 2010, 0 ‘al Orlandi define o politico para quem trabalh com Hinguagem: ‘opalica et no fate de qu os sentios so dvds, fo ao os mesmos para todo mun, emo “pae {aos mennon Ete Gio tom aver cam eto de Ete vivemorem sina sodedae ques etutreda pla ‘sto e por relages de poder que significa estas ‘dsoes.(p 12) E [ E Essa € una definigdo importante para quem trabaha com, ‘Andlise de Discurso, pois diz respeito & compreensio do proprio ‘campo tedrico-analtica de interesse dessa teoia, desde sua fun dacio, campo este que nto Se redur ao discurso poltca, mas 20 ‘potico no discureo, textualizacéo do politico (COURTINE, 1999), politica do significante” (ORLANDI, 2006b).Ejustamente a po- Iitea do significance “tecnologia digital” que busco compreender: seu fncionamento na sociedade contempordnea, no que diz res- pelto& lingua, ao sujeto ea hist6ria. Nesse sentido, interesse-me tostrat a no homogeneidade do sentido de tecnologia Mostrar jue tas veres é pelo equivoco que eu sentido funciona. Eessa ilvocidade € parte do processo de hstoricizaio de tecnologia. St eae estabat SS Tt st 00 Osco Drs Quanto ideologia, ela me interessa pelo “jogo de duplacons- ‘euigio fem que consiste [nfo funcionamento de fod ideo” [ALTHUSSER, 1970, p. 94), ou seja, a mesmo tempo em gue a ideologia constitu os indvfdos em sujeitos, ela xe constitu en- ‘quanto ideologia peta categoria de sueito. Dat que, como mostra (0 autor, todo sujito ¢ um sujet ideolégicoe toda ideologia $6 existe pore para sujitos. £ a nogio de sujeito ideol6gico, proposigio tautoldgica nos termos de Althusser (idem), que interessa aqui, na medida em que suelo € aquele que “vive “espontaneamente” ou “naturalmen- te na ideologia, caja propriedade ¢ “impor as evidéncas como evidéncia que nio podemos deixar de reconhecer, © perante as quais temos a inevtévelreaglo de exclamarmos (em vor lta ou fo “silencio da consciénca”"€evidentel E isso! Nao hi dvidal™ (ibidem.p. 96). Como sabemos, 0 mecanismo de producio dessa tevidéncia € 0 da interpelaglo, que se reveste da formastyjeo histérie, determinada peas relagdes de producto e reproduc, para consttuirum sujeto socal, agente de uma pritica E sob a forma-sujeto histérics, nos ensina Orland (2001, 2012), que os sujeitos assumem posigdes na sociedade, individu ‘dos pelo Estado, pelos discursose pela instituigbes. Meu invest- mento ness livto & trabalhar sobre esse processo de individuagto pelo discurso digital, » partir de uma "mexida" nas formas de [ssujeltamento, como aponta Orlandi (2017) Para tanto, preciso ‘compreender a exteioridade constiutiva do discurso digital, as FelacBes eos meios de produgio captaista, os processos da cons- tituigo de sentidos e suas condigibes de producio, mas também ‘2 formulagao e a cireulagio desse discuso. Fstou tomando a nogio de exteriridade no sentido dado @ la pelos organizadores do livto Materiaidades Discursvas (2016). ‘saber, como “ronteira ausente” (p. 321), expresso emprestada de Lecomte, neste mesmo lio. Para os autores, oestruturlismo (0s havia habituado a “considerar 0 discurso como um interior a (yar do dizivel e do sentido) contornado por um exterior ugar 4 indizfele do nao-semtido) idem, p. 322) A contribuigdo do desenvolvimento da noo de materialidades discusivas para a ‘compreensio da exterioridade consttuiva do dizer, fo justamente de “pensat 0 exterior de um discurso nao mais como o além de ‘uma frontera, mas como um aqui sem fronteraassinalive, como «a presenga-ausénda eficaz do outro” (ibidemy). £ nessa instancia ‘que hstoricidade, compreendida pelo efeito metafrico de tec nologiae digital, me interessa pars refetr sobre como o sentido de tecnologia vai se constituindo historicamente, vai derivando & deslocando sentdas, de modo que o digital enquanto uma tecno- logia espectica produz sentido pelo funcionamento dessa memeria dliscusiva,consttuindo-se como um objeto deanlise do dscurso. E nesse sentido que tomo o digital para além de uma mera forma de producao da tecnologia, mas como una condigao de pro- ‘gem &fortementesignificada pela informagao. Se na anslise que prope Harache (dem) fala'se do progresso do jrdico sabre o r= Figioso, aqui, tratarei do progresso do digital (no qual o econdmico testd embutido) sobre ojurdico. Nao porque o jurdico no tenha Fangio, mas porque hé um des-aranjo da fungo do jurdico como ‘mediador da relagao do sujeto com a sociedade, na forma da lel [ii que a propria ei precisa ciar outros parimetros para enquadrar faguilo que iio cabe em seus artigos e cédiges. J o econdmico tencontra um re-arrano com as teenologas digital, pela coleta © ‘apitalizagia de enormes quantidades de dados, produzindo, com jsso, uma personalizagio do *consumidor de nove tipo". A infor- magio sabre os sueitos passa ater um valor econOmico concreto mais do que um valor simbétic, Assim, & preciso penguntar pelos processos discursivos que rmarcam a passagem do século XX para o XX, significado por lum sistema jurdico © econdmico globalizades pelas teenologias 4 ligitas,ligados as mudangas na esrita pelo digital, mas também ‘a mudancas na forma da autora, como jé spontado por Orland (200, De modo semelhante ao spontado por Haroche (1992), essas _mudancas soca, econdmica ejurdicas, mas também naformada cscritura, tem efeitos na consttuigo do sujeto, dasociedadee nas ‘estrucuras de poder ou teenologias de poder do Estado, das quais 6 digital passa a fazer parte tendo em vista aquilo que se refere 8 ‘administra das formas de vida dos sujeitas em sociedade, num {odo coeso e administravel. Vidal Nequet (1988), no precio ao ivro Os Mestes de Ver. dade na GréciaArcaica, de Marcel Detienne, firma que tradicto pedagéica antiga, do univesalsmo triunfou no século XIX, com fas verdad clentifieas,e que, no século XX passa a ser questio- ‘nada. Haroche (idem), referindo-se a mesma obra, entende que @ anslie dessa época dos “mestres da verdade” na Gréci arcaica permite mostrar que "a nogio de ambiguidade eo principio da Contradicio esta intimamenteligadas a0 funcionamento interno das instituigiese suas teonologas e ao lugar do individuo numa sociedade” (1992, p. 55"), Em tempo hodiemes, eu dita que hi lum retoma do pensamento universalista, no mas sustentado pelas verdades de um pensamento centfico sem ambiguidades, ‘nas sustentado pels infaibilidade de wm pensamentotecnol6gico, sem eontradigbes. Esse retoma, no entanto, no ocorre da mesma forma que na tradigio pedagégica anti, na medida em que os processos de homogencizacio que temos hoje produzem um sujeito uni versal personalizado, para 0 qual © principio da nao contradiclo, € sustentado pela producao de pequens sistemas ligico-ligitais ‘universalizantes sss sistemas témefeitos sobre o funcionamento das instiuigbes, das formas de administragio dos sueitos, dos discursos, 2 saber, dos processos de individuacao na sociedade, Tea tant drt ec ap. 3 ree 53 esse sentido, 8 compreensto das formas de identiicagao dos sujeitos pelo discurso das tecnologas edispostives digitais ‘ede conectividade, dizem respeito a0 efeitos que esse discurso| Produz na constituigio dos sujitos s6cio-poitica,seja por meio da relacio do sujeito com dispositivos no seu diz-adia, como as redessocsis, por exerplo, mas também o simples uso de um mar ‘phone ov dos jogos (ff line ou online), sea, ainda por meio de recursos teenol6gicos que jé esto "incorporados” nas formas de vida, como a Biotecnologia, ou 0s mecanismas de vgilincia™ via ‘imeras ou pela conectividade) Todos esses processos maquinicos| poreétes ¢ ministurizedos sa0 parte das modos de individuacao da sujito, pelo dscurso da tecnologia da “era tecnologies" da era digital”, como mostrei anteriormente, a partir do qual o su jeito se ideiieae assume posigbes na sociedade,inscrevendo-se fem certs formagbes discursivas. Como mostrou Pécheux (2008) ‘esses satemas lgico praticos do nosso catidiano seriam abjetos| Tepresentiveis do dominio das Gencas, dat tecnologias € das administracies, atravessados por ume série de equiiacos, cujo Funcionamento buscarei aqui elucidar. © filme “2001, ta Odisséia no Espace”, de Stanley Kubrick & ‘umeeléssco da cinema. Langado em 1968, 0 longa abonda questbes ‘que dizem respetoa relagio do homem como us da tecnologia na construcio de sociedades. Uma das cenasclassicas do me mostra 'o homem primitiva wtilizando um oss0 como Ferramenta.A cena Fepresenta um primeiro estagio teenoldgico da hstsra,levando fos pensar em como esas ferramentas passaram a ser essencais para a via cotiiana, pois passaram a seir como uma extensio {So homer, auxiliando na execuio de tres, mas, amb, na estrutura das relagbes de poder nnn tenneneintantiaenuietemametnmtitia Fas 1- Dione em itvip ann Asan om 7052017 ssa referénciaaocéssico de igo cientifia tem o objetivo de Jembrar que o uso de ferramentas como extensao do homem, como parte do cotdianoe da prpis dein de organizagSo social € muito antiga, anterior até ao préprio homem. Muitos autores estudarama ‘elacao homemmquina, mas 0 izeam pensando & miquina eas ferramentas) com uma extenséo do corpo. Proponta, no entanto, uma pararase para a proposicio “a méquina & uma extenséo do compe", que € corpo & uma extensio da méquina"™.O que essa inversio parattstica nos dia respeta do sujeito edo processo de Jndviuagao, mas tamisém sobre form sujeitohisérick capitalists? ‘Apartirdoefeto metafrico,0 objetivo &mostrarcomose dia mada nas formas de assetamento pea individu do sujeto or tm Iigica politica e institucional na qual o Estado fanciona ‘muito mais como mero gestor(econémico, socal jurdico, etc) do que come aquele que promove formas de vida em sociedade Para tanto, € preciso analisaros efeitos desta relaglo na const tuiclo do pensamento contemporneo, ds formacio soil conter- pardnea, no que concerne apoitica, is elagSes soils, 20 trabalho #0 suieito, © que nos farmece elementos para compreendermos pelo dscurso, a natureza dle um suposto “desaparecimento. 37 Emseutexto"Désymbolisation,dévélisation: un monde sans limites?" Robin (1997) recorre & lenda do Golem, uma figura de ila inventada em Praga, no século XVI, por um rabino. Numa dada noite # crlatura foge do controle de seu crador. A partir desse lenda Régine Robig propde uma reflexBo sobre os riscos {a “instrumentalizacio tepnol6gics em nosso univeso cotiiano, nossa prticas e nassos pensamentos”®. Segundo a autora, esse mito abre 0 paradigma do “sem limites", sem frontiras ‘astragdo simblica" (idem, p. 78-79. O estudo empreendido por Robin ibidem) é um esboco que taz 8 tona a questdo da de- simbolizagéo,“o rompimento no tecido do simbelico™”, partir ‘das experimentasBes multiforme, como a manipulaglo genética ‘ouas temnologias de reprodugo, por exemplo, que, para autora, transcendem as relages simbelicastal comoas vers, colocando ‘corpo na logica da circulasio. (01a, na perspective do que Robin (ibidem) chama de perda dos referencaissimblicos oU ainda de uma mudanga no que Péchewe (2008) chamou de sistemas légico-portéteis, como, por ‘exemplo, a desvalorizagio de certs formas e objetos em prol de tum discurso de substituigdo por sistemas e praticasdigitas,onli- ne, que flo do desaparecimento do sujeito, que no significa 0 ‘mesmo que dizer "nao hé mais sujeito”, mas que forma sujeito histérico capitalista que se en-forma, Se sustenta pelo juridico (Orlandi, 2012, p. 2012), encantra'se desarranjada pelo digital ‘ou pelos sistemas e dspositivs légico-digitais, por teenologias dligitais, estabelecendo um novo tipo de relagio entre 0 sujeto €©0 socal, mas também entre o sujeltoe ojurdico,atravessada pelo econdmico. 7 EaE etna en ein ent 58 ‘pass 09 Dec Da: (© DESAPARECIMENTO DO SUIEITO E OS SISTEMAS LOGICO- DicmTals Péchoux (2008) afrma que @ necessidade de uma homage- neidade Idgica prépria do sujeito pragmético ¢ marcada pela existenca de pequenos sistemas ligico portites.Esses sistemas podem ser compreendidos como sendo tudo aquilo que fez parte do cotidiano de nossa vida, faz parte do modo de organizacio da vida como aquilo que a sistematiza em sua variedade. Podemos dizer que esses sistemas logico-porttes sio aqui que produ- zem uma unidade imaginéria de nossa existénca como algo que podemos regular, decidir, gers, por meio de objetos e também Fegras socials, impostas do exterior por um saber paradigmético « discutsvo, com dimensdo moral. Ainda em outros terms, po demos dizer que os sistemas légico-portstelsproduzem a lusto rnecessria da centralidade do sujeto em relagdo a sua existenci saber, 3s suas relacbes, sua meméra, 2 histéria mesma de sua ‘ida, seus bens materiais etc. Proponto pensar essa questo do sylto pragmético, trazida por Péchetx em), nos dias de hoje, como digital. Num primeico ‘momento, podemos dizer que esses sistemas lglcos se unificam, Das “grandes decisoes” da vida sociale afetiva 8 gestio da vida cotidiana eo contexto s6cio-técnica dos “aparethos domésticos” referidos por Pécheux (idem, p. 33), tudo passa pelo digital. Apa rellos domésticos conectados& Internet gerem aa mesma tempo andes decisdes” dos sujeitos sio cada vvex mais determinadas por aqullo que circuls pelo digital entre nossos dedos. ‘Num segundo momento, podemos dizer que esses sistemas se fiagmentam, mai do que isso, se diluem ere multiplicam em todas _asesferase pritics do nosso cotdiano. Desde a gest privade do uso dos aparelhos domesticos, que, uma vez conectados em rede _gerem nossa vida em todas as suas privacidades, até as decisbes 59 s6cio-afetivase politica, cada vez mais atravessadas pelos dizeres tm cirulagao nas redes socis, mas também blogs, jomais online, ft. 20s quais os sujeitos recorrem cotidianamente para se sent fem parte do mundo semanticamente normal. Poderfamos dizer ‘que 0 digital se tornou © grande sistema légico porttl no qual todos os outros se convertem em sistemas menores, divisivels e aparentemente independentes. or exemplo, sobre aquilo que decidimos (}) lembrar e es- ‘quecer Qual oestatuto da memétia implica af se pensarmos a Natureza da memriaaftada pelo digital? Para refletirsobre essa questo vou ecorrer&iferena pro- poste por Olandi (1998), entre ordem e orgenizagt. ‘Anosio de ordem eorganizaco esté presente na obra de Eni Orlandi desde seus primeiros escrites. S30 nogbes fundamentais para areflecio da Anise de Discurso e seu trabalho decolocarem ‘elacdo lingua e dscurso. A Formulagzo conceitual dessas nogies vai se aprofundando ao longo da obra da autora, mas podemos Gizer que elas se configuram, desde o inci, como instrumentos te6ricos promissores de uma compreensdo de lingua, de um lado, ede discurso, de outro Encontramos em As Formas do Silo (1995, p. 19), uma Fe feréncia obra de Pécheux (Semantica e Discurso, 1995), que diz 0 seguinte: "A lingua nao existe pois sob a “forma de um bloco ho: ‘mogéneo de regras onganizada # maneira de uma méquina gio" Essatirmagio de Pécheux, Orlandi idem, p19} expand dizendo, Dalowa-e ver incasante entre a ordem de coles 2 ‘dopensamentaeade decursoe quemaras decals Semconstenteenteo pensmente fra grail aconstuio dscusve da eleentes Hr ur, lime separa iremeciue ene a order das cone a do sas. esse ug tei que apoece 8 hecesidade da idologi n elaczo com a press ‘sus 00 Deco Dam yo Sousa onside algo ue vai aparccer mss expictamente no ho Interscope {1958 p. #5), que cferenga ene un perspectn Lolests ou soceiogsta de ngage ¢ ua perspective daca ae considera order smbalcn hist et deologl: Nene poet pectiva. lingua ni ete sb a forma de um ace homogence Ae regia oganizndo a mancia de ume mains gles mas coe ‘isi em forme material cj agar de observago éx onde do disco ‘A nogio de forma material, também formulada por Orlandi (1998, 2001), partir de Hjelmslv,estimplicada na compreensio de ordam discursiva. A passagem para a forma material € um dos deslocamentos que se impoe a0 considerat a ordem da lingua & no apenas su organizaco, da qual fazem parte a forma empirica ce abstrata da ingua, ‘Ondem, para Orlandi (1998, p. 45), "no ¢ ordenamento impos- ‘o,nema organizacao enquanto tal, mas forma materia. Interessa 20 analista nao a lassficagao mas o funcionamento.” Nesse sem tido, tomar a relacdo ordem eorganizagio proposta pela autora € muito produtvo para aeflexao sobre aestruturse forcionamento dlalinguagem (ede nformacio) digital, normalmenteromads como _mquina gica. Assim como para oanalisa interests compreender a relagdo entre a ordem da lingua e ada histéria, para 9 analista ‘que se propse a compreender a discursvidade digital, interessa ‘compreender por um lado, arelacio entre a orem da tecnologi sua macerialidadediscursiva, que tema ver coma historcidade.e, Por outro lado, a organizacao da tecnologia sua meméria metic” (ORLANDI, 1998) e seus sistemas ligcos, que “produzem espagos ‘estabilizados de homogeneidade I6gica” (PECHEUX, 2008, . 28) com "objtivos operacionals”(PECHEUIX, 2010, p. 59) Essa nogio de ordem, tal como trabaha Orlandi dem), vem rmarcar uma postura critica da Andlise de Discurso em relagio a0 or oat 09 Docu Da: Formalism e eu acrescentara, ao tecncismo: no a onganizaglo Ua linguagem pelo algoritmo que interesse, mas a ordem do dis- ‘urso, cua textalizagdo & slgorttmica 1sso,em termos analiticos, significa ue trabalho do analista de diseutso com 0 digital nic € sobre a orgenizacio sintica © hem mesmo apenas semintice dos algoritmos e das ferramentas, Como mostra Beiguelmenn (2014, posiglo 244), essas erramentas se pautamn em “uma busca semantica e nao factual” e t€m como imate “o presente eas elagbes dedutieis, contexts, do préprio ‘reulo de relagbes do sujet, endo de uma consulta retrospectiva Ge carder arquivstco".O trabalho do analst, 6, sina, sobre “o (que uma dada orfanizagio sintética pode nos fezer compreendet Gos mecanismos de producio dos sentidos que af estio funcio- ‘nando em termos da ordem significante” (ORLANDI, 1998, p. 46). Ou seja, 0 que em termos de orgenizagto sintiica e semintica {do algoritino e das ferramentas pode nos fazer compreender dos Inceanismos de produgio das sentidos que af esto funcionando em termos de ordem sigificante, Data forca da nogao de “formagto algoritmica" conforme vem desenvolvendo Ferragut (2018) uma ‘vez que aponta para a cardterhist6rico-iscursivo das formas de textualizasio por algoritmos, “Tunbém est posta aa relago entre estrutrae acontecimen- +o. *%o passa da instanca da organizagao para ada orem, se passa {a oposigho empiricoabstrato para ainstinia da forma material fem que o sentido no € conteido, a hstéria nao 6 contexto € 0 sjeito nfo €origem de si" (idem. p. 49 Retomemos aqui a questio dos “sistemas légico porttes™ fou 0 que eu chamaria hoje de “sistemas légio digtas” que sto {a instinca da onganizaclo da vida, e que vistos sob essa dtica ‘olocamo sueito como origem des, mas que setomades em sua Jnstancia material indica algo em elagi0 20 real. ‘Uma vez que a anise de discurso vis @compreenséo do rel ‘do sentido, nosso objetivo ndo 6 0 de deserever a organizasio da a ‘asus 2 Dacia Dea: liscursividade digital em algoritmos, mas sim o de compreender ‘4 ordem do discurso digital, ou sca, entender como o simbdlien {emsuarelagao com o politico determina sentidos, mas também os Sujitas.Em sums, procurando compreender aordem do dicurs0 digital,» questao que colocamos é: como 6 digital signifi? Essa significagdo aque me refiro tema ver coma normalidade semintica constrida a partir dos sistemas logicos digias,Talver ‘mais do que normalidade, podera dizer coma naturalizagio desses sistemas no nosso cotiiano. Organizago,portanto, homogeneida- de, consenso, categorizacio sistematicidade, fina dos sentido. ‘Um dos exemplos dessa naturlizagio dos sistemas Iogico Aigitais em nosso cotidiano se reflete na nossa relagSo com a me- mmérie. Eval desde o simples ‘habito’ que perdemos de lembrar 0 rnimero de telefone de um amigo primo até 0 proprio retorno espontineo ou voluntrio de uma lembranca de fatos do nosso passado. Esse “espontaneo” ou “voluntério™ ndo esto aqui sendo ‘omados do ponto de vista do mero funonamento do cérebro, mas da perspectva do efeito produzide pela manera como a his- toricidade dos sentidosafeta nossa forma material de lembrar ou ‘esquecer:Lembrat © esquecer sto reagdes, no sentido de resist a, police histricas e dscursvas.Alembrangae oesquedimento 0 corporeidades sigificantes,fragmentos de formulagées da _meméria, vestigios da inscrigao hist6rica do sujeto. Como, entdo, podemos pensar aformulago como forma ma- terial de uma cettaorganizagao da meméria e do esquecimento, fem determinadas condigbes de produgio, se os sistemas Iigico- tlgtais- cj exemplo maximo s20, para mim, os aplicatvos para smartphones, que vao desde aqueles que organizam nossa relacio Ge orlentacio no espaco urbana até aqueles que organizam os relacionamentos (Tindr, eHarmony, Bumble, etc) —estdo af para tudo otganizar, para arranjar todas as unidades? £ nesse ponto {que a distinglo proposta por Orlandi (1998) nos ajuda 8 pensar saidas pela nagio de ordem, aquela que funciona pelo equivoco 6 do sistematicidade.E preciso buscar afalha e compreender como esses aplictivos ou sistemas [ogico-digitaissignificam pelo fun- ‘lonamento do imaginério da tecnologia como a promessa de uma Superacto das “fragiidades” da vido, Snir desse lugar de transpa- reéncia significa abrir espago para a producio de outros sentidos para a tecnologia, deslocando os objetivos para os quais foram forjadas. Colocando sua eficicia em questio e subvertendo seu uso em prol das necessidades da vida em sociedade. PARTE Il ARQUIVO, MEMORIA, ESPACO ‘ada 29 Dasa Drm: E QUANDO 0 ARQUIVO £ 0 SUIEITO? UMA ANALISE DA DIGITALIZACAO DOS AFETOS, Analise de Discurso, o arquivo & uma questio basilar (PECHEUK, 2010, GUILHAUMOU et al, 2016)-E ume questao, bastante complexa, pois envalve o politico, as instituigbes, a memé- fia, as tecnologas, as subjetividadese a interpretaqao. Mas, alm iso, o arquivo traz uma questio que é dele nseparavel, que é a letra, Tada reflex sobre arquivo em Andlise de Discurso €uma feflexto sobre leitura de arquivo. F disso, muitas vezes tem-se ‘esuecido na maneira como se teoiza sobre o arquivo. ‘Com o digital, a questo da litura de arquivo se recoloca Como ter milhares de dados produzides a cada minuto nas redes| sodas, blogs, videos fotos, comentarios, postagens tutes, enti, ‘nas miias sociais em geral? Como lero arquivo digital hoje? Essa fra una questho de pesquisa para Pécheux e seu grupo, jé em 1981, mas que permanece stual, embora redimensionada, CCuriosamente, a palavra arquivo se instaure no cotidiano dos sujetos, que eonvivem com ele 20 utilizar um computador ou ‘qualquer dpasitve mave, como smarepone tablet ou os eveaders. Servigos de armazenamento de documentos pessoas (ecole- ‘ivos), como 0 Gaogle Drive, One Drive, Dropbox outros, esta0 a sisposigto, Els funcionam como uma injungao ao arquvamento, Nunca se arquivou ean. or ‘Tabalhotéenico da memstia que afetado pelo digital nstaura tum outro regime de no-esquecimento, dstnto daquele dos pro cessos de insttucionalizacao des saberes, praticado, nos termos ide Régine Robin (2016, p. 108), pelos “mestres de meméria por seu trabalho de cassifcagao, trigyem, acabamento, etiquetagem, preservagio, comunicagao ou de nao comunicagao” Paras autora, “os arquivsta so, também, mestres do tempo, mestres da cidade dos mortose dos vvos, portanto da bos onem do mundo" ‘Aquestdo da leitura, nesta eta, permanece como uma ques {Wo impertinente na medida em que confronts 0 sujeto com o ‘esquecimento,a deriva o poltico, ainda que os processos de inst tucionalizacio trabalhem para contero processo da interpretagt. Diante disso, que relago com © ndo/esquecimento ou com ‘um esquecimento “barrado" temas estabelecido quando lidamos ‘com bilhdes de dados em expansto e sob ailusio de uma memSria infalivel, sempre que recorremos aos dispostivos digas, providos dde uma meméria que rege os espagos de creulago dos sentidos onde tudo se mantém? Nao se trata apenas de ums outra natureza de meméria que se produza partir dos dispositives multimiia, mas de considerar (0s efeltos para a consituigao do sujeito e do sentido, dessa pas sagem de uma relacao institucional para uma relaclo corporstiva ‘om a meméria, Ambas, tanto a institucional quanto a corporativa seconstituem pelo nto-esquecimento,Porém, so formas dstntas de ndo-esquecimento {Quando perguntamos pela elagio com 0 nlo-esquecimento de fato uma questéo que leva em consideragio estes efeitos rmetafricos dos quais apontamos, na materialidde da ings, pare ‘uma substtuigo de termos com esquacere delta, ot lembrar fe recuperat Essa forma de mlo-esquecimento, deletarrecuperar, por meio da construcao de outras formas de meméria € algo bastante presente em nossa realidade e em nassas préticas e processos os ‘de produsio dos sentidos. Reside neste fo, justamente, ¢pre= ‘ocupagi em compreender uma certa relagie com a memoria {que vai se evidenciando e que constrdi as coisas-a-saber como “puras potencialidades": "nao se sabe se alguém vai utilizélas ‘um dia, mas sus conservacao esta (pelo menos na teria) asse- ‘gurada. E para esee fim que o arquvamento funciona.” (ROBIN, 2016, p. 394). (0 que coloco em questo, no encanto, € que essa uidadeto- taligance da memera, produzida por distintos meios, se consti, hoje, por um cerca movimento de “desvinculaca0” da meméria da sua relaglo com as instiuigdes,sejam universiavias, publica, © nesmoprivadas, e uma apraximaggo com as corporagses, como 0 Google, Facebook tambéen, onganizagdes sem fins Ivratvos, ou ainda de iniitivas pessoas. través de seus algoritmos ousaftwa- ‘es, esss grandes corporagGes ou empresas de Hregulama relasio ‘coma memira, como arquivo ecoma leitura. Lev Manovich (2012), fem seus trabaos, levanta uma questao interessante a propésito Gas ferramentas de sofware que ulizamos para encontrar 9 que ler: € que elas deixam de fora 0s “grandes padrdes do universo” [Nos eermos da Andlse de Discurso, dirfamas que deixam de fora a discutsvidade Com as tecnologias de armazenamento de enormes quan- tidades de dados, a crcunscrigio tecnolégica ganha espaco na constragiode arquivos.O que tem seus iscos e suas fagilidades, ‘mas também abre a possiblidade de contar outras historias pela possibildade de ireulagio dos arquvos, ondea meméria discusiva Inia sobre a memdria como arquivo. Mas aque me interesss, nese primeiro momento, é mostrar 0 movimento crescente do funcionamento da "meméria como argul- 10", eno do “arquivo com memria que considera, nas palawras {e Oriani (2016), um “descolamento do sentido tal como ele € ST ah ean prodzido". De algum modo, o arquivo "com meméria"desorganiza lima cert njungao a percursosdeterminados de letura ‘Mas me interessa, por agora refletir sobre as novas formas de construgio dos arquives que colocam a meméria como um ob- {eto ser arquivado e nao como algo da ordem do funcionament© ‘do proprio arquivo. Eis o que compreendo coma meméia como arguivo, Trabalho de armazenamento da meméria tornads dado, ‘Afiero vem hd algum tempo se penguntando sobre os rumos da sociedad com o arquivamento de tudo. Mas, para além disso, ppergunto “que sueito coma arquivamento de suas memérias?” A te flack Miro” coloca esse tema em deta, trazendo tela de ‘manera bastante perturbadora, os efeitos das novas tecnologias ‘na consttuiao dos suetos, das sociedades e das relagoes socials contemporineas. O primeiro episddio da segunda temporada da série, cujo titulo € Be Righ Back, traz a histria do casel Martha e Ash que vivem uma vida pacata numa regio rural. ert ina. DoepaiBe “gh ad de sean tempers AApés @ morte repentina do marido, Martha descobre um sofware capaz de trazélovirtualmente de volta, pautado em sua vida” online. 7 ‘do aqui que ele postu na internet em vida & processado de fra a compor este inertautor Ash ‘enka uma exsténcia pests um se bata po tm are tuto da maquina tas pesonaiado, Mais {otntn exe gor ganars um coo ese tomar (oncreta Ee munca se AUK, sus tem ato Se { composto de tudo a que peronagem depos raintemet enquante esteve va KOGU' O Globo) Na ficgto da série esté posta @ angistia da memérla como arquivo, que nos coloca diante daquilo que Régine Robin 2016) chamou “ausénela do trabalho de lito”. Também ao referirse & hareativa de Adolfo Bioy Casares, A invengto de Morel, Robin idem 293 fala de umaetemidade por repeticS0","uate-se de inventar lm sistema para reconstruir a presenga dos mortos, pois as cOpias ‘sobrevivem incorrupives™ [No entanto,apesar de avangarmos répido em rela &inteli- _Réncia artifical, & constr de simulacros do humano.a perteicao {a reprodugio nfo parece ser suficiente, pois trazalgo de rigico, O dialogo de Martha com aquele que seria a cSpia perfeta de seu marido demonstra que a reproducio da fala, da contradig, do ‘quivoco que consitlo sujeito enquanto uma presenca com sua historiidee e sua meméria esburacada, nao € possivel nquela ieigencia artical de Ash, tara) sim bam woot nto & vod 6? (Gm) Eon é mai uma fe para er honest. (Mart) voce ¢ goancsalgumos ondloges de vot Vcd no tem Istria Voct és. ume ating de olga gu ve faci sem pasar 29 no suerte ( que diferencia # intelgencia artifical de Ash de Martha & dos outros sujeitos € a natureza da linguagem. Ash se constitu por uma inguagem artical, ainguagem da maquina, capaz de apren- n der tuda que os sueltos humanos Ihe derem como informagdo @ ‘er processada por seu sistema operacional. Nio é capaz defalha, ‘equivoco, a nao ser por repetigao magutice, Enquanto essas so caractersticas proprias da linguagem humane, Ash possuia uma Tinguagem apical. Ele é uma inteligéncia artificial. Nio € um Inbrido, um giborgue, como Deckard, em Blade Runner, capaz de questionar sua condicio, de historicizar suas meméras, anda que limplantadas, No caso de Ash, ndo hd nele nada capa de falha, © {que impede Martha de humaniza-lo, tanto que ele permanece no S6t80, como um bringuedo velho. Um outro caso de inteligéncia artificial eo trabalho da mem6- sia no sujeito abordadopelas teas & o filme Her, de Spike Jonze (2013). 0 flme se passa num futuro préximo e tecnologizado, © conta a histéra de Theodore, um escritar de cartes de amor que trabatha numa empresa chamiada cartasescrtaramio,com. Elevive ‘uma vida solttia aps terse separado de Catherine ha quase um «ano, Desse casamento, guarda memérias e dores. Um dla, Theo- ‘dore adquire um sistema operacional com inteligéncia artifical, ‘que, assim que inicializado, se nomeia Samantha. Na medida em ‘que vai convivendo com o ssteme operacional, Theodore passa ‘humaniza-lo e se apaixona por ele. Ao contrério de Ach que fenformado num corpo artificial ¢ em seguida esquecido no s6- {o, Samantha se presentifica por uma voz simulada. Seu corpo é vor, uma Vor sem rost, sem referente no mundo. Sem sujito? Recorro aqui ao trabalho de Souza (2009, 2012, 2014), sobrea voz “enquanto materalidade enunciatva". Para 0 autor “a voz & par ‘da material relativamente& demands do discurso que no pode ‘existir Sem sujeito". Para Souza (2012, p. 2), no caso da anise {que empreende no trabalho "A vor cantante e a partida material do discurso", a mudanga de tonalidade vocal de Nara Leso para “Maria Bethania no show do teatro Opinio, nos anos 60, atonal dade vocal &0 "suporte imprescindivel de enunciagio", que na desloca o lugar de discurso no qual se inscreve a temporada de shows do Opinigo naquele momento, que € o lugar de protesto n contra a represséo politica da ditadura. Nessa perspectiva, a vox smulada de Samantha ou o corpo artificial de Ash eonstituem esse “suporte imprescindivel de emunciag20" no qual se inscreve 0 discurso digital que constitu o sujeito. Mas que sujeito & este coastituido pela vox programada por um algoritmo deinteligénda anificial? Retomo aqui a questio re-posta por Souza (2014, 20} “Quem fala na fala"? Quem & 0 sujelto da vor de Samantha? Ou ‘uo estatuto de sujeto que est em jogo na forma daintcliséncia atti, tanto no episode Black Miror quanta no filme Her? Em ambos os easos no hd coincidéncia entre a vox ¢ um sujeto ‘no mundo, um eu que fala. Tal eomo questiona Souza (dem) em su reflexdo sobre o desiocamento da voz do dito da voz do su: {eito, aqui aponto para um deslocamento. Que sujeltoesté af em ‘onstrugia?E possive pensatmos uma vor sem seit, jé que na maquina nao tem sujeto? filme Her me permite, pois,clhar par o processo discursivo- tecnoldgicn de subjtivagio daquele que escuta a vox do outro € precise desea escuta consti um referente. No caso de Theodore, ‘esse referente €0 amos: Esse amor se instala pea inscrigio do no- ‘corpo na reac com a méquina. Quais so os processos em jogo para que os sentidos do amor possam se formular na elagto com tecnologia? O que al fa? Meu ponto de partida para essa reflexio € 2 tecnologia em seu sentido amplo,o que implica daramente no dstanciamento de uma abordagem-que-a vé como suporte de/para algo, como pa vor, por exemplo. Mew empentto € mostrar que a tecnologia faz parte dos modos deexistenca do sueitoe, portato, da producto dos afetos. Essa compreensio da tecnologia como condigio de producio ‘dos processos de subjtivaczo e nfo como suporte também pro- ‘ara se afastar de uma tendénca a apliabiidade da tecnologia, sobretudo, no que se refere as tecnologas digits. que nao seriam, esse modo, uim suportestravés do qual os sujetos se realizam, a Ante 9 Ono Dt: ‘mas seriam aqulo através do que o sueita imaging realizar aquilo que nele fata. Nessa perspectva é preciso compreender que o modo dein viduaao do sueito capitalist, pelo discurso da tecnologia, produ efeitos nos processos de identificegao, na producio de sentidos. No filme Her, a voz do SO Samantha representa essa possblidade. ‘Umavorde dimensio algorttmice, Feita de zero eum, cua materia significance est no discurso digital Poderfamos af falar do desaparecimento do sujeito? Seria a impossibilidade de subjtivagao pela vor ou pelo corpo, no caso de Ash, que faz com que, em ambos os casos, 0 sistema fhe? [No caso do filme Her, vox funciona por simulago, sendo assim, conforme Souza (2014, p. 207), hi, no discursa, “a pro- priedade de providenciara voz para nela fazer fabricar efeitos de sentido”. feltos esses dentre os quais um deles€ oda completude, ‘comumente produrido pela 'vocagaototalizante” da miquina, pelo Aliscurso da tecnologia como aquela que nao faa, entre completude da méquinae aincompletude do syjeito, ‘que descompasso dos laos sécio-afetivos se estabelece, insta. rando a divisdo entre o sueito e o ndo-sujeito. Essa tensfo é 0 16 central do Filme Her, que coloea em contionto a frustragio de um passado recente, no qual figura ofantasma de um casamento fracassado e o presente da méquina, no qual se projets a relagio perfeita e sem falhas, que se materaliza na eficicia técnica do sis- ‘tema operacional, como sendo "sem limites, sem fonteira, sem castragia simbolica” (ROBIN, 1997). Qual a consequencia de estabelecer uma relagio com aguila que nao-Zalha? CCabe agultrazera dstingioestabelecda por Orlandi (1999. 71), entre falhae falta. Para a autora, 2 fala ¢ 0 agar do possvel {do sentido avits ea falta, € 0 que foi tirado do sentido, o que no pode significar” ” Asim, a produgo de um lago sem fathas sera lugar do var zi do sentido e do sueito. sentido sem brechas, saturado nele proprio que colocaasujlto cada vez mals na relagio com algo da fortem da completude, da onipoténcia, da totalzasa0, ou sea, na Felagio com seu perio fim. ‘Ao mesmo tempo, ¢ af esté a contradic do suit dar com a fala constitutive significa a busca incessante em suturé- la. Esse, no entanto,€ um “atributa” do sujito, no da maquina ‘Como aponte no inicio desse ivr, falha é no imo, cm reco embtido no prego, mas que no apaga 0 vncula imaginsria da ‘tecnologia com o sucess. E nesse sentido que a tecnologia produz efeitos no processo de subjetivagdo, © que diz respeit, também, aos afeos,jé que ‘io essencialmente produgao de sentido para uma ft (desi no ‘ourtro},daguilo que nto pode nao significa. Segunda jacques-Alain Mile?’ amamos 0 outro porave acre sditamos poder encontrar nele uma verdade sobre nds. *Amase ‘aquele ov aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, & nossa questao “Quem sou eu?" ra, esta questio fundamental nos dias de hoje ganba uma ‘espessurainformacional tal como vimos no episode Black Mir ror, no qual Ash € tudo aquilo que ele postou e disponbiizou na Internet. A pergunta “quem sou eu?” 0 software responde: “woe tudo aquilo que voce postou”. Sua existéncia péstuma & cons ‘uid destes dados armazenodes na meméria metaicainfalKel. ‘como ara Orland (2006a)-Alogica do SO1 €a mesma. O Siste- ma Operacionel com intligencia artificial coleta dados sobre seu “comprador” e partir deles vai se configurando as necessidades, anseios,dvidas do usudro. “Quem sou eu? Sou os dados que eu omeso™, Esse 0 elo entre o homem ea maquina nos dias atuais AquestBo & de que natureza € esse Iago? Lago socal? Ti etl nthe pon sn 8 Acficicia do funcionamnento do 051, ouseja, 0 sperfeigoamen: to desua inteligénca artifical depende da quantidade dedados que le capaz de arquivare utilizar sabre o “seu humano". No nosso cotidiano, de maneira muito pouco romantizada, podemos dizer ‘que "pequenos rob6s" trabalham inflkrados, como os chamados Cookies. Sia sistemas nocivos e nao fazem mais do que coletar dados (que podem vatiar) sobre o sujeito usuario, mas também ‘rabalham disfargados, como os diverts “testes”, para alimentar ‘esse banco de dados sobre cada um de nés, que chamo, por or -meméria como arquivo, Essesaplicativos se retroslimentam com os dados formecigos pelo sujeito que 20 fazer o teste, obrigatoriamente dé permissio para que a empresa responsivel pels testes tena acesso adados como fotos, IP, cidade onde mora, idioma, sta de amigos, o que ‘rte e publica ete, construindo, comisso, uma memoria mela” do sujeito. Segundo Orland (2006a, p. 26), memria metaia sts ligada & nogae de arquivo, no sentido do actimulo de dados. Para tora €a memiriaproduzida pelos aut6matos, peles maquinas, pela informatizacao ds linguagem,distinta da memériadiscursiva, {que se constiui pelo esquecimento. Nas palavras da autora: “a ‘meméria metlica funciona algritmicamente, eu dia, ela vai se bifureando. Entio é um dizer presentifcado continuamente que 6 ste wo Duan Des funciona como se fosse uma memera, quando na verdade, ele nfo <éuma meméria, ele € 0 dizer repetidamente re-atualizado.” idem, 26:27, Numa representago grfica desse efeito de meméria, terfamor: ‘rca ope Irenaerro pel tain de No funcionamento do discurso, representado por esse gri- fico, estaris 0 acontecimento sem profundidade, “o retorno de tum paracigma pesado que se repete no interior de su aparigto Instantanea, “um paradigm que estruturao retorno” (PECHEUR, 1999, p.53. essa forma, na produglo de sentidos da linguagem dainteli- énca artificial, hi um sistema ligico programado adarinstrugoes 4 uma méquina, “Uma lingvagem artificial, produzida consciente- ‘mente, para uma finalidade espectica” (HERRENSCHMIDT, 2007. p. 405). Ness sent, o processo de identificagio ocorte apart de ‘umainfnidade de modoe sutomatizados. A linguagem da maquina, por sua "semintica artifical”, "sabe", prevé 0 que osueto pode fazer, o que osujeto €, 0 que o sujito sente, uma vez que pode fazer uma ifinidade de combinagbes em milésimos de segundos com os dados numa meméria metiica, produzindo, comisso, um jogo de afetos algortmizados.Lincaridade légico-sequencial do fu, A coeréacia robétia do sujet, Vejamos uma sequencia do filme Her, quando o personagem ‘Theodore vé a publicdade que o leva a adquiir 0 OST: ” oust 00 Oost Dis a, Ns fazemos uma simples pergunta: Quem & oct? © aue vac pode ser? onde vos val? © que esta fro? Quakes cs posiaces? Alera Sofware tomo orguo de opresentaro prev sistema peraclanal com insignia artificial Ura enidade itive ue ‘Siutmgct entnde act e secanhace NA su ster cpr ‘onal Eure cansciéel. Aresetande OS fo se deparar com essa publicidade (sequéncia fiimica 1) Theodore ndo hesta.O que o leva, ea tantos outros, a adquiir 0 sistema operacional? Sera a possibilidade de encontrar na intel aéncia da miquina, anal, uma verdade sobre si mesino? 7" A partirdasinformasBes obtidas a respeito de Theodore pelo programa de instalacio,o sistema é configurado de acordo eo fas suas “necessidades” Prefere que se sista tena voz masculina oy femiina? Come desiree sua logo cm a sua mae? E desse modo que o sistema & configurado como aquele que ‘seuta, entende, conhece osujeito. Comisso,o ime vai mostrando Samantha como superior a fagilidade,fsitude, mas 80 mesmo ‘tempo Samantha parece sersensivel 20 nlo-artificial © & sua fag lidade, Samantha parece ser solidéra, Tanto que a medida que val comivendo com Theodore, sua “programacio" vai se modiicando, n Rea [Samantha] Estou lend elu cole. Queo se complica Ba [Theodore] Voc no sabe como é perder olgutm que vce gst, Esse é um dos momentos no filme em que Theodore marca a éiferenca” entre elec o sistema operacional. Discursivamente, ‘6 que funciona € o pré-construide pelo qual Samantha no sabe ‘© que é pender alguém: sua condigio de intligéncia artifical. A ‘qina nfo tem sentimentos. Eses s8o sents pré-construos ‘que passam a funcionar pela menéria diseursiva, Ao marca essa Giferenga, 0 que vat sendo feito em distintos momentos do ime, rmarea-se uma mudangana dreso do sentido em relacao ao nico do fle, onde se coloca em suspenso a quest3o “o que pode a maquina?” Mesmo que por um certo estranhamento, os primeiros instantes da inicalizagao do sistema operacional jf instauramn @ ‘dGvida no sujeito em relate a intligéncia artifical: que & yack? eS -[hodre] Veet parce uma pss, mas ma va no com: puede 0 (0 mas" aqui funciona, primeira vista, colocando em oposi- lo pessoa xvor [parece uma pessoa, mus € uma vor} No entanto, {do ponta de vista discursivo hi todo um Funcionamento do inter. discurso que me faz apontar para outros sentidos, como equele {ue ressoe por elipse: "voce parece uma pessoa, mas voce nao € tims pessoa] € uma vox no computador” (RIS) Se, porém, ndo é uma pessoa, a vor no computador é de ‘quem? H uma equivocidade funcionando pelo "mas" que € justamente essa que suporia uma separacdo entre a vor © & pessoa. Mas se tada vor € 3 vor de uma pessoa, o "mas" etd af relacionando duas oragSes opostas sendo que uma dela est presente por elipse: “voc parece cma pessoa, mas (voc nfo ums pests” ‘Anda assim petmanece o problema central relative & propos: #0 "toda vor €avor de uma pessoa". Nesse caso, porém,tatase ‘da voz de um Sistema Operaconal. Assim, dizer="Woce parece uma pessoa, mas € um sistema operacional" poderia ser a fermulagdo ‘menos equivoca, Como veremos adiante, em muitos outros momentos do filme, Theodore faz questao de mostrar & Samantha que ela ndo “pessoa” sim uma inteliggncia artifical e que, portanto, deve agi conforme sua condigao. Esse €, de uma erta forma, um lugar confortivel para Theodore. Mas esse condigio &desestabilizada ‘quando Samantha passa a agir “coma se fosse" uma pessoa. 8 alga Caleta Ealled Mal [Samantha quanto eu vi sss pessoas ev me imagine andondo ‘9 s0 lad ue eu tse Crp fu estov te uv ‘ogavam.E vo cacava pra mim! Iso &constrangedor [theodore] voce # mai aque Umaginva em ata cso acon [Semone] stow me trnande mais a gue mepeogranar sou E passa a se questionar sobre o real dos seus sentimentos, sobre sua condigao artificial 2 [Samantha Eee sentiments 200 rea ou £005 programe? ‘ho que Theodore responde: IMscodore] Voc parce a pra mim Soman, Novamente aparece a expressdo “parece Ser: “voc parece tua pessoa..”,"voed parece real.” Aqui ica no not voce nto {real voc no € uma pessoa} —[voct no € um sueito de dicito), Ao responder Voce parce realpara mim RF), Theodore produz um corpo & Samantha, pela insctiglo do seu descjo na materia dade do dizer, Produz um corpo porque inscreve 0 cédigo numa narrativdade” (ORLANDI, 2013, p28), compreendida como mane plo qual uma emia cz em procesion ‘Genttroe somos em modo de uiaeo do Jet oferandncalrdo seu prince aeponos Sele erin nents Encarnao quese iga 20 corpo. Fsse momento, li, precede 8 cena da “relagto sexual virtual” entre o personagem © 0 sistema jopetacional, e € 9 tinica momento do filme em que Theodore manifesta 0 desejo de que 0 SO seja mais da que apenas progra rmagio, mareado pelo uso do verbo no futuro do pretérito “queria ‘que produ 0 semtido de um irealzsvel.Confronto com ote, o impossivel ds maquina 2 TThadore] Quer que vos extivesze aqui comiga. Quen pader te ‘bragar Quoi pode te tacar Para o descjo de Theodore sistema operaciona busca uma realizagio: um corpo, jé que o SO 6 “voltado para atender as ne ‘cessidades do usuirio™ Esse € 0 momento dpice do filme, a partir ‘do qual o reconhecimento da impossibilidade da maquina desen- ‘cadeia uma serie de acontecimentos, cj desfecho ¢ 0 confront ‘como real Pela busca de um "corpo", Samantha passa “imitar" 0s hua nos ea agir como se seus sentimentos ossem reais e nao apenas programagio, porque ao dizer “woc8 parece real para mi" Theo ‘dore Ihe autoriza a “parecer ser”, ed ao programa um padrao de ‘omportamento que ele reste processa Para Theodore, o que se configura nesse “parecer ser” & 8 “incompletude do sujelto™,justamente quando 0 corpa secaloca esse € 0 momento da ruptura, do conffonto com o real. Dois episédios marcam essa ruptura na sequencia mica. © primo € marcado pelo reencontre de Theodore com sua exmulher, que faz vir & tone as embrancas de uma vida feliz e, a0 mesmo tempo, 1 impossibilidade da relaglo com o outro, do Feal do encontro: 4 86 [Catharina] Voce sempre quis que a ese mo peso ula fel: ev. Que sempre acho que et tudo bm Esa nose [Micodorel Eu nto quoi so [cathonine} Como ela {theodore} le chara Samantha 6 um sistema operaciones bem compess interesante [Catharina] Como 6 Voc ests namarand o seu computador? {Theodorel Ea nso € 56 um computador Ba tony Receneeuade rd, a nao faz 260 que ou cig [Catharina] Eu no css 50 Mas 8 co tse per vocé noid Theodore] As emogses sia resis, Como vcs sabi oO [Catharina (para a gargonete ramos casas mas ete queria que temass prazc. Agora el est opaisonad pelo compurod ye sempre ui to ume esposa sem trot dea de arco oon, ‘eats Fc ez por tr encanta algun € pera Apert da méquina ou da existéncia medcalizaa, sob con role, evocada por Catharina contrapoe-se 20 real, a inconstnia © 'incompletude da vida e do suit Seria o sistema operaconal da ‘mesma ordem que o Prozac. na tentativa de dessubjetivaro outro? Esse choque também aparece no ime quanto Samantha propoe 9 Theodore procurar um pareeiro sexual substitu ()oferecida por lum servco cireconado pare relaconamentos entre SO humaros [Samantha] que a clas entre o gente parce runs, sabe? Hoo femor foto xo eel que nao tena copa. [Teodor] Naa normal Quando se comeca 0 sar & come a fase Up lun de-me a faz soxoo tampa tad. Ena [Samantha] Ache uma coisa que acho que pode ser fegal. um ser igo qu ofeece um para sexual substitute para relaionamentos Apés atentaivafrustrada de tentar um parceito“substitto” ddotado de corpo, hd um estranhamento e talvez uma rejeigao de “Theodore em rlacio 20 “elemento human” que o sistema repre- sents ou imita,O confito se instala no sujeito. 0 confronto entre 0 real eo imaginio. Apesar deter demonstrado num momento do filme 0 desejo dde“abragar, toca” Samantha, no foi sab essa condigo que o amor Inmompeu, mas sim sob o desejo da onipoténeia do Outro, aquele aque nao se dea capturar,fragilizar, tot, Aquele cuj lago & da orem do “deletar programa”. Emisim como Theodore dé @ Samantha, um “corpo” leo tra dela, Porque esse corpo 0 conftonta com aquilo que ele nao quer: a fagilidade, a falta, a inconstanca,o vazo. 88 {Theodore Por que fax isso? [Samantha O gut? [Semanal Fi? Sito muita No set Tae sla um costume que ‘prendcom voxé. (theodore Yc. pac de iia [Samanta eho que tertava me comumicar oss que pesos {alam Eoin que os pessoas se comunicom. (Theodore) Besioas asim deavgénia Vo nda umapescon a partir desse momento do filme que Samantha assume um ‘outro padrao, o de uma inteligénca artificial. E nesse momento ‘que Theodore diz aquilo que até entzo estava funcionando no no ito, no eco da lips da formulaglo"voc8 parece uma pessoa, mas [voce no € uma pessoal 9 Voce parece uma pessoa, mas é uma Yor no computador ‘oot parece real pata mim oot no € uma pessoa Peto efeito metatrico, temos queda primeira formula pars a tereiratemos apassagem da dvida para a certera."Vacé ni € uma pessoa” substitu o ndo-dito que significa pelo pré-construtda ha formulago primeira. Tefamos, ent a seguinteformulag: “Voc# parece uma pessoa, mas vact no & uma pessoa, € uma vor no computador "Yoc# no uma pessoa”, aparece, assim, no lugar da fala daguilo que nao pode signiicar para que arelaglo entre Theodore fe Samantha funcione. Dizavoznapublicidade: Noo €6.um stem operacenal. Ema conscléncia. Mas ima conscéncia de quem? Talver se tate af da alienacao do sujeito na elag2o como abjeto (Hegel, da alienagao {do desejo do sujeita no objeto, sua fustracao pela imposibil dade da méquina apreender 0 que é do sujeito: a contradiglo, 0 lequivoco,o inconscente,o corpo. A incapacidade de fazer lag? Aruptura, podemos dizer do sujeito come sistema aperacio- nal ocorre quando ele deseobre que Samantha conversa 0 mesmo tempo com 8.316 pessoas e est apaixonada por #1 delas. A partir: data telago se toma impossivel eee [Theodore] Onde ocd ert? No te ache em igo nun {Seman Eume dessgue zcevemoe um melorarnenta que nos peste eta problemas ou procesre platforms [theodore] Com quem? [Samantha] Eu'e um grupo de SO. Vo parece to preccupad Sinto mut, [Theodore us estva Vocbesceveu iso com eu gtvpoderefio? [samantha] No, em auto gripo. [theodore] Est fondo cam mais alum enquantoconvesemos? {Serene im, [theodore] Est falando com mal alguém agora? Outros pasoas. {Saran estou Lithcodor] Mi quntos? (Sementha] 316 [Theodore] Ets apsbonada por mals alguém? [Samantha] © que te fax perguntar so? ‘us 0 Deiat rs: (Theodore) Mio se. oes et? {Serrtha] Venho peneando em como falar om voc sobre iso, [theodore] Mae quamtos? (Semoneha 6, Para um sistema operacional, esse nero no & nenhum cexagero. £ proprio de sua estrutura significante, 0 problema que a0 humanizar a maquina, os sujeitos “esquecem” aqui lo que a constitu, e passam a significala "como se ela fosse pessoa”, ‘Ao mesmo tempo em que Theodore se sente aliviado por ‘Samantha ndo fazer parte das regras que regem a vida em socie- dade, com todos os conftos do viver em sociedade, produzidos nas relages entre sujitos, ao mesmo tempo em que 9 relaciona- mento estabelecido com o sistema operacional Ine permit vver ‘amor em sua “plenitude” securitria, apaziguando o confito da separagio indesejda, ele soe por sua condigSo de inteligéncia artifical, capaz dese apaixonar por 641 humanos simultaneamente, poraiie ao se relacionar com um sistema operacional osujeto nto se destitui de sua forma de existéncia em Sociedade, no deixa de ser sueito Esse & 0 prego da complete, da relagSo com 0 que no fatha, mas falta por nao poder significar aquito que Theodore Perdew no casamento com Catharina, aceitando sa morte social ‘esimbatice. 93 on (Samantho] Camo fo eta casa? {theodre) Fo dra eam carteza. Mos & to bom dl sua vide amalgam [Samantha] Como ze divide a vido com alvin? [Theodore] Néscrescemas juntas. ed para le tac que excel, No ‘estado edoutorads. Ele tudo que ere Influences mito {Samanta Como woot @ifancos [theodore] De onde elo veo nada era bam o bastante Ea também Se cab mat Max na rea cos testvamor ox coke Not de ‘amos fhre nos empoigseomor sve ud Era berador pa. 2a asmocinante va cesce Messrs muda ns. Hosen ¢anare ded Ceser em ola sefastand. Muga sem. ssustaea outa. Desir io mas softer, mas também ni mais seni Abdleat, ‘enunar o deseo, "arrancer os olhos”e ir para @ morte socal e simbien, Assim, nada pode ser mais convenient para uma vida slit, do que ter 0 “outro” sempre a postos, em sua estabilidade art ‘dal Anal, € Theodore que declara no inicio do fllme, seu vazio incontornsvel c renuncla seu desejo acitando apenas “versbes ‘menores do que j sentiu": 95 [Teor] As wens eu acho que set do 0 que deve E que 0 sentra nada nov apart de agora, SS verses menores do gue Nao sentir mais nada novo, talvez seja essa a formula (‘a0 tenho sentido”) da felicidad nos tempos de hoje. Como 6 dizia Freud (2010, p.52},

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