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A MANUTENCAO DA ESTRUTURA ATIVA DO SOLO E SUA INFLUENCIA SOBRE O REGIME HIDRICO. Dr. A. PRIMAVESI Instituto de Solos e Culturas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Com a decadéncia quimica e biolégica dos solos agricolas, criouse um dos maiores problemas do mundo: o ressecamento do globo terrestre. © eminente Professor Fritz SCHEFFER (1964), uma das maiores autori- dades de nossa época’em edafologia, diz, no prefécio do nosso 15° livro, inti- tulado “A Biocenose do Solo na Producdo Vegetal” : “Na superficie da terra, onde atuam simultaneamente a Litosfera, a at- mostera e a hidrosfera, desenvolveuse um sistema trifdsico de atuacdo geral até a especializada, composto de particulas sdlidas, organicas e inorganicas, dos mais diversos tamanhos, e uma fase liquida (4gua) e gasosa (ar). ste produto de intemperizacéo, condicionado pelos fatéres climiticos do ambiente, s6 se torna SOLO quando se adiciona uma quarta fase (que néo pode faltar em nenhum solo), que é a bioldgica. © floculado sistema trifésico, oferece o ambiente vital e alimentacdo aos diversos séres vivos, isto , a macro= e microflora e a micro e mesofauna, que por sua vez exercem influéncia decisiva sobre a estrutura da camada ardvel. Principalmente os microrganismos vegetais, e microflora, o bem rami- ficado sistema radicular de plantas e, maiores e menores séres vivos do do- minio animal, populam 6 solo & procura de égua e alimento, téo necessério a0 seu sustento e. desenvolvimento. ‘As mais variadas ages dos organismos do solo possuem efeito decisivo sObre 0 mesmo. O solo n&o é sdmente o espaco vital dos séres vivos, mas um sistema dindmico que se forma e se modifica permanentemente, sob a influ- éncia dos mais diversos fatOres ecol6gicos, cuja particularidade € a da bioce nose da meso e microfauna e da macro e microflora do solo, que sofrem per- manentemente remodelacéo e mudanga, isto é, sofrem uma permanente am- bientacéo. © solo néo ¢ um fator estético e definido, mas sim um organismo dind- mico, sempre evoluindo e transformando-se. A fauna do solo, revolve e mistura as camadas do mesmo, possibilitando @ ramificagéo das raizes vegetais e 0 seu desenvolvimento em camadas mais profundas, 0 que provoca tanto o afofa- mento, como a fertilizacio dessas camadas, representando, por sua vez, a pre- disposigéo & animacio das mesmas, até entéo, bioldgicamente pouco ativas. ‘Mesmo as méquinas mais modernas, néo conseguem executar aquilo que os micro e meso séres fazem, e nenhuma medida mec&nica consegue devolver a produtividade antiga 80 solo, limitando-se tio sdmente a exploréla. ‘As Taizes vegetais, como os demais organismos do solo, fornecem inime- ros produtos metabdlicos, que sio substAncias fisloldgicamente ativas, (antago nicas para uns e sinergéticas ou base de vida a outros), da maior importncia para a sociabilidade entre vegetais e, vegetais e microrganismos. Os micro e meso séres do solo, podem ser responsabilizados pelo cansago do mesmo através do poder de assimilacio das plantas e igualmente com rela- —2— ¢&o @ nutrientes em ligacdés' de pouca solubilidade. Sao, também, importantis- simos na génese do solo. A subst&ncia organica “postmortale” que se encontra em permanente transformacdo, é dinamicamente ativa. Hoje, nio nos interessa mais a dife- rente composigéo quimica de matérias — ou grupos de matérias — da subs- tancia organica, mas, concentramos nossa aten¢4o, nos processos de transfor- macao genética do solo e fisiolégica dos vegetais, dirigidos ou provocados por esta substancia, — que é essencialmente alimento de micro e meso séres e, em estado humificado também matéria coloidal. Gracas a sua influéncia, formase uma estrutura fisio-quimio-biodinamica do solo com seus grumos e ‘sua esta. Dilidade — sem as oscilagées do volume poroso, que em solos inorganicos é Provocado alternadamente pela contragéo ou inchacéo da fragao argilosa —, capacidade retentora, permeabilidade, infiltracio e potencial hidrico, reserva e cinética de nutrientes, isto é, todos os fatéres que caracterizam a produtivi- dade do solo”. © solo agricola na concepgéo moderna, néo é suporte de plantas e adu- ‘bos nem 0 espaco vital de micro e meso vida, mas é realmente um orgnismo dindmico, cujos fatores biodinamicos se influenciam mituamente e, portanto, podem conservar e incrementar a produtividade do solo, bem como bloquear ou diminufla, Isso modifica, obrigatdriamente, todo 0 nosso conceito de agri- cultura. Surge, pois a necessidade de considerar também o intimo entrosamento de todos os processos do solo, sejam éles fisicos, quimicos ou bioldgicos. Te- mos de lembrar que cada técnica, indiscriminadamente empregada, provoca um desequilfbrio de muitos outros fatéres indiretamente influenciados com isso. © solo, é uma biocenose onde ha estreita dependéncia entre suas pro- priedades fisicas e quimicas, a microvida, a raiz vegetal e o porte da vegeta- go. E, pois, um ciclo permanente onde sempre um fator depende do outro e provoca, quando modificado, a alteragso dos demais. Sabemos da génese do solo, que a sua formacio depende da vegetacdo e esta, por sua vez, do solo, do clima e da microvida. A microvida, depende por sua vez, da vegetaco e das propriedades do solo. Foi um érro fundamental da época analitica, querer tratar isoladamente os diversos fat6res da produc&o, porque sdmente no con- junto das suas relagdes recfprocas, apresentam-se as verdadeiras causas de ‘muitos sintomas incompreensiveis, como, por exemplo, a fixacéo de nutrientes, © surgimento de doengas vegetais e a erosio. Fatéres que influenciam a destruigéo da estrutura ativa do solo: 1. © desflorestamento ‘A derrubada das matas e florestas em grandes dreas fechadas, mesmo sem a intervencéo do fogo, determina profundas alteragdes na superficie ter- restre. “, composicéo particular do ar e a temperatura mais baixa sdbre as flo- restas cerradas, atrai a chuva, e é fato conhecido que, nas regides uniforme- mente florestadas ou mesmo sé acusando florestamento parcial, néo ocorrem, om nossas latitudes, trombas d’égus, chuvas de granizo, ou geadas. ‘As chuvas, cada vez mais raras, tornam-se cada vez mais violentas. A superficie do solo € socada pela chuva, pois agora ela cai com inusitada vio Tencia, diretamente sobre o solo desprotegido. A dgua j4 no consegue penetrar, aoe provocando enchentes dos c6rregos e rios, carregando a camada ardvel da terra. Os -mananciais das fontes e das cabeceiras dos rios n&ig mais se enchem, de -maneira que, nas épacas de. séca, os cursos d’égua tornam-se cada vez mais escassos, quando néo se extinguem por completo. A caréncia d’dgua no globo terrestre, acentuase cada vez mais,e por toda parte ja se fala'de um. “ressecamento da Terra”..Ao mesmo tempo a vida mi- crobiana do solo torna-se mais unilateral e muitos microrganismos j4 nfo en- contram, debaixo da cobertura vegetal.agora diferenciada, as condicdes ade- quadas de vida, morrendo. A estrutura ativa do solo torna-se débil, mesmo sem ter havido cultivo, instalando-se com isso um gradativo processo de envelhe- cimento do solo. 2. As queimadas Especialmente quando estas sio feitas de maneira descontrolada e per- manente. ‘As condigdes agro-ecoldgicas, que séo a associagéo de animal-planta-mi- crorganismos do solo, séo destruidas radicalmente pelo fogo e com elas, o equi- Mbrio existente na natureza. O solo fica calcinado, acarretando a morte dos microrganismos. Se o solo passou a ficar sob cultivo, éle nao tera a possibi- lidade de se recolonizar em quantidade suficiente, pois o calor das queimadas, determina a0 mesmo tempo uma répida e violenta evaporacéo da umidade do solo, produzindo-se néle um sistema capilar de ascencéo. Comeca com isso a aparecer nas camadas superiores, devido a decadéncia do complexo humo-ar- giloso, hidréxidos de ferro e de aluminio, que acidificam 0 solo e, em concen- tracdo maior atuam como téxicos vegetais. ‘As queimadas fazem desaparecer a trama viva das particulas do solo, deixando de existir a estrutura ativa do mesmo, por falta de bactérias heterd- trofas. O solo esté “morto” e se torna extremamente suscetivel a oscilagdes climaticas. 3. A Monocultura A monocultura, costuma ser feita em terra recém desbravada pelo fogo. © solo, sendo rico em sais nutritivos e substancias humicas e, ainda dispondo de sua estrutura fOfa e natural, revela uma produtividade surpreendente. As safras sfo enormes e ninguém suspeita a essa altura, que no solo tao fértil, ja se instalou o germe mortifero da decadéncia da estrutura ativa. ‘A monocultura, devido & secreco unilateral das raizes, impede qualquer renovagéo do polimorfismo da vida microbiana no solo, pois sé oferece meio propicio a alguns poucos microrganismos. ‘As ervas daninhas que, por um certo espaco de tempo, ainda promovem determinado incremento da vida do solo, sio cuidadosamente eliminadas pela capina. A insolagdo, calcina e esteriliza o solo, cuja estrutura desmorona téo logo haja desaparecido o ultimo resto de humo e de bactérias heterétrotas, passando 0 mesmo a um estado amorfo, finamente disperso. A chuva, carrega agora lentamente a fragdo argilosa para o subsolo. O complexo de troca.adsor- co desaparece e com éle os elementos nutritivos; hé um desbasamento grada- tivo, acelerando a acidificagéo do solo. © empobrecimento do solo, processa‘se muito mais répido que o pudes- se fazer a exaustéo pelas culturas. O pH baixa e, quanto maior for a sua queda, tanto mais rdpido se processa a lixiviacio das substancias nutritivas e tanto a mais répido 0 solo se esgota, tornando-se ¢ompacto e originando um horizonte iluvial da dureza de pedra, impermesvel as raizes e & gua, Até mesmo as espécies de animais maiores do solo morrem, as ervas daninhas tomam-se mais unilaterais, sé prosperando aquelas, que, ao mesmo tempo, apreciam a acidez e possuam um sistema radicular suficientemente forte para vencer a compactagdo do solo ou, até mesmo necessitam dela para poder ancorar aqui as raizes, como por exemplo, a tiririca (Cyperus rotundus) ou o caraguaté (Eryngium ciliatum. Cham). As plantas de cultivo, dada a crescente precariedade do substrato, sé conseguem desenvolver-se fraca e escassamente. A consequéncia légica e obri- gatoria do desenvolvimento dificil e mediocre das plantas de cultivo é a sua suscetibilidade &s pragas e moléstias. Culturas consorciadas, possuem’ a vantagem de nio cansar 0 solo como © faz a monocultura porque tém o chdo sombreado e possuem pelo menos duas culturas diferentes, criando, assim, uma microflora e fauna mais variada que na monocultura. Os rodizios de culturas ou rotacées, sio um método mais avangado de garantir a multiplicidade dos microrganismos e a produtividade do solo. Con- tudo a rotagéo nfo é sdmente a simples troca de duas culturas mas sim, a mudanga organizada entre culturas que: a) beneficiam a microvida, tais como: colza, cebola, forrageiras, bata- tinhas estercadas, batata-doce, etc. b) prejudicam a microvida. Tédas as culturas exigentes como: trigo, arroz, algodao, linho, etc. ) culturas neutras e modestas, que ainda aproveitam a fertilidade exis- tente, tais como: milho, aveia, centeio, mandioca, etc. Serve, aqui, a regra, de que a maioria da mesofauna necessita de solos arejados (nfo muito pisados), frescos (mas nfo tumidos), tendendo para o neutro, com bom enraizamento, porém, especialmente colembolos e acaros, também aparecem em grande quantidade em solos compactos e dcidos. © pastoreio permanente pode ser considerado como monocultura, pois destrdi 0 poliformismo da vegetagdo das pastagens, aniquilando sobretudo as forrageiras mais finas e melhores, deixando tao somente persistir as inferiores e grosseiras, ndo atingidas ou prejudicadas pelo pisoteio e tosa permanente dos animais. Désse modo, favorece uma flora inferior, unilateral, que ndo sé nutre mui escassa e insuficientemente o gado, como também é sede da proliferacdo de inumeros insetos nocivos (carrapatos, gafanhotos, etc). A pastagem dirigida, com épocas de descanso para o solo, permite outros trabalhos, como adubagdo organica, adubagdo quimica, calagem, etc. possibi- litando a recuperacéo do pasto, quando ainda nao é gleizado. Também vé-se, aqui, claramente que o desequilibrio de um fator do ciclo vital planta-solo- ~microvida, acarreta a decadéncia dos demais e, o melhoramento de um fator, que é aqui a vegetagdo, provoca o de todos os outros. Isto, ressalta a neces- sidade da consideracéo do conjunto de fatdres e nunca de um sé isoladamente. Rotagdes mistas, sio aquelas que hoje mais se propagam, porque se re conheceu, a vantagem de recuperar, de vez em quando, a microvida autéctone, a fim de “descansar” o solo antes de submetélo a novo regime rigoroso da microvida zimogénica e de elevada produgio. Pela monocultura, © solo esgotase quimicamente, sendo enriquecido, —5- porém, de excregdes radiculares unilaterais, o que cria uma microvida uni- forme, em. lugar da antiga poliforme. Em consequéncia disso, os agregados do solo perdem a sua estabilidade.& acio da chuva e desfloculam-se. A sedimen- tag&o da massa dispersa é a proxima etapa, originando camadas duras e im- permedveis logo abaixo da superficie do solo. Em climas predominantemente Umidos, tanto frios como quentes, dé-se sdmente uma decadéncia fisica; em climas quentes, com umidade e séca alternado, também ocorre uma deca- déncia quimica do complexo coloidal e os resultados séo camadas duras, que impedem a infiltracio da agua quando chove, causando seu defhivio répido e com isso enchentes. Como os solos néo podem armazenar dgua, logo apés uns dias de sol éles sofrem de séca. As culturas aqui plantadas so, pois, permanentemente Sujeitas a umidade excessiva ou séca, sem falar da dificuldade de suas ra{zes em penetrarem nestas camadas duras. 4. Métodos agricolas erradamente aplicados les figuram entre os fatores que aceleram a destruicio da estrutura ativa. Neste particular, cumpre citar principalmente as aracées demasiado pro- fundas, isto é, aquelas que revolvem o solo numa profundidade superior a 20 em, pois podem conduzir & martificagio e consequente destruiggo da estru- tura ativa de solos mesmo vivos e sadios, visto o subsolo anaerdbio e rico em antibidticos ser levado & superficie. Os granulos do subsolo no revestidos Por microrganismos aerdbios, heterstrofos, desfazem-se com a chuva seguinte €, se transformam em p6, que acaba incrustando a superficie do solo. As ca- madas vivas subjacentes, so asfixiadas pela falta de ar e o pH baixa ou sobe rapidamente, conforme 0 clima umido ou séco. O solo torna-se morto e estéril. Arag&o, gradeagdo e todos os outros trabalhos no campo, néo devem ser feitos para alcancar efeito mecAnico moment&neo, que € a pulverizacéo do solo. les devem visar a formaco de uma estrutura f6fa e estavel (SCHAFFER, 1961). Tanto SEKERA (1953) como LESSARD (1963) e CZERATZKI (1962), afirmam que o volume poroso do solo diminui proporcionalmente ao aumento da profundidade de arag&o, porque vira as camadas “mortas” a superficie, cuja estrutura no resiste & acho da chuva. A manutencio desta estrutura, po- rém, € vital &s nossas lavouras porque garante : 1 — 8 absorcéo normal de nutrientes suficientes para o bom desenvolvi- mento da cultura. As plantas sero, assim, sempre bem nutridas; 2—ao solo um maior poder de retencéo de dgua; 3 —a microvida, que é forcosamente poliforme; (a partir do momento em que se torna unilateral, decai a estrutura porosa). Os trabalhos no campo, especialmente as aragdes e gradeacées, devem ser-feitas em estrito: acOrdo’tom a “vida” do solo, visando especialmente a manuteng&io de uma microvida rica e poliforme. Esta provoca a estrutura ativa desejada, que beneficia ao méximo as culturas agricolas e possibilita uma adubacio comercial em bases econémicas (PRIMAVESI, 1964, 1965). Propaga-se Portanto nos EUA e Inglaterra sempre mais o “rough-farming” em abandono completo do “clean farming”. O “rough-farming” é uma aracio superficial onde © material orgénico nfo é revolvido profundamente, mas permanece na super- Yicie, parecendo o solo preparado “sujo” de material n&o enterrado. Néo segue fradeagio nenhuma, mas planta-se neste solo com méquinas especiais; isso Gn para evitar o defluvio da agua e para formar uma camada “ iva” na superficie. 5. Aplicacdo errénea dos fertilizantes. ‘A aplicagdo erronea dos fertilizantes pode provocar muitas vézes mais prejuizos do que beneficios. Sobretudo o emprégo excessivo de adubo, o que acontece com grande facilidade nos solos arenosos ¢, sob todos os aspectos, novico & estrutura ativa do solo e com isso aos vegetais. Os adubos sé deverio ser empregados sob a mais rigorosa observancia das condicées climaticas e do solo. A adubacéo quimica e a calagem modificam : @) a concentragéo da solugéo aquosa do solo e com isto, b) © pH do solo, ©) a nutric&o vegetal e microbiana. © mais importante de uma adubagdo quimica é a manutencio do equi- \brio nutricional. Cada adubacdo unilateral, mesmo se ela promove um melhor desenvolvimento da cultura, deve ser considerada um método predatdrio, que contribui para o esgotamento e decadéncia total do solo em outros elementos (BAULE 1962). Assim, LIEBIG salienta que o NPK nao enriquece o solo, mas empobreceo nos demais nutrientes, contribuindo sobremaneira para sua in- fertilidade. 6. Negligéncia para com a substancia organica do solo ‘A substancia organica do solo, se reveste de extraordindria importancia no tocante a estrutura ativa (como cimento de granulos, quando em forma de humus), ao rendimento das safras (pela produgdo de gés carbénico), com re- Jago as bactérias do solo (nutricgao da flora microbiana e mesofauna) e & mobilizacio e adsorcio dos sais nutritivos em forma coloidal. Na substancia organica do solo “vivo” (frisamos especialmente o térmo “vivo”, porque no solo “morto”, anaerdbio, pouco ativo, ndo se opera a transformagdo da subs- tancia organica em humo e seus subprodutos, mas sim, em turfa), reside em tiltima andlise, a chave para a conservacéo da produtividade e estabilidade dos nossos solos agricolas. 'A desatengdo & substancia organica do solo é observada especialmente nas regides de reduzida densidade demogréfica, onde encontramos, em consequén- cia, uma erosdo acentuada e por conseguinte, os menores rendimentos por hectare. Nas regides onde o homem é bom observador da natureza, subordinan- do-se as suas leis eternas, consegue obter colheitas maximas. Assim, por exem- plo, nos vinhedos milendrios da Renania, embora em grande parte tenham de- clives de até 40% e hajam sido incessantemente cultivados desde os tempos do Império Romano, nenhuma parcela déste solo cuidado, por estranho que pa- reca, acusa indicios de desmoronamento da estrutra ativa ou de erosio. SALTER e HAWORTH (1961) provaram que a “capacidade de campo” (em reter dgua util, sem encharcar), aumenta pela aplicagéo de estrume de curral, mas, sdmente se éste for virado superficialmente, porque s6 assim pro- move-se a formacéo de uma camada fofa. A -adubacdo verde 6, essencialmente, um alimento para os microrganis- mos, fornecendo azdto e carboidratos, isto é, energia para a. microvida (RUS- SELL 1961), mas nunca htimus. Em solos agricolas tropicais, nio se forma —-Tte humus de reserva eo problema méximo aqui néo é o de produzir himus mas sim, de nutrir de vez em quando a microvida aerébia heterdtrofa. Resumindo: A adubacdo organfca ¢ indispensdvel & manutencdo da mi- crovida zimogénica e, portanto, & estrutura floculada do solo agricola. Isso equivale a dizer que ela é a base da produtividade da terra de cultura, sendo contudo um érro fundamental, pensar que sdmente-ela consegue manter a micro e-meso vida. Esta, depende tanto da riqueza em-nutrientes minerais como as nossas culturas agricolas. Em solos pobres e dcidos, a matéria organica néo melhora portanto a estrutura, porque a microflora que aqui se mantém & com- posta especialmente de fungos, cuja acdo é diferente da de bactérias e, tam- ‘bém,'é diferente quando em consorciagéo com bactérias zimogénicas. Falta tam- bém a mesofauna em sua maior parte, de modo que, em pastos, se acumula hiimus fresco na superficie e, em solos agricolas, a matéria organica enturfa: ou simplesmente se mumifica. 7. © Uso da Terra © uso da terra influi sdbre os microrganismos segundo a antiga lei da mitua influéncia: Planta — Solo — Microrganismos, téo bem formulada por ROBINSON (1938) e comprovada por SEKERA (1953), SCHEFFER (1952) e outros. Cada planta cria microrganismos préprios a ela. Assim, por exemplo, os fixadores de nitrogénio Beijerinckia Derx aumentam, segundo DOBEREINER (1961), na rizosfera da cana-deagiicar, enquanto actinomicetos e fungos dimi- nuem. Na rizosfera de gramineas forrageiras aumentam os actinomicetos, na de leguminosas as Pseudomonas, na de batata doce desaparece giberella, etc. Por outro lado, cada multiplicacéo unilateral de microrganismos, provoca os respectivos “fagos”, especialmente quando éstes microrganismos se acham bastante enfraquecidos pela concorréncia cirrada de seus congéneres. Ndo sao necessariamente virus, mas incluem todos os organismos que devoram as bac: térias ou fungos em excesso, mas que também podem se tornar parasitas vege- tais ‘ou, causar o parasitismo dos organismos atacados. ‘A DECADENCIA DA ESTRUTURA ATIVA DO SOLO AGRICOLA CAU- SADA pela decadéncia da microflora zimogénica e néo pode ser recuperada por simples corregio do pH ou por métodos mecanicos, mas sdmente pela recupe- Taco e equilibrio da microvida zimogénica (BROMFIELD (1948), WAKSMAN (1952), RUSSELL (1961), PRIMAVESI (1952), DOEKSEN (1962), e outros). ¥ essa a razdo porque BROMFIELD (1948) chama a meso= e microvida de solos agricolas de “animaizinhos domésticos", pois dependem inteiramente do trato pelo homem. Segundo SEKERA (1953), a construcéo viva dos flocos de terra por mi- célio de actinomicetos é a base da estrutura ativa do solo, motivo que aumenta pela segregacéo de muco pelas bactérias, diminuindo assim, consideravelmente & evaporacéo. Em solos agricolas, bactérias e raizes sio os principals respon- séveis pela estrutura. ‘Uma terra com estrutura ativa é incomparvelmente mais estdvel contra @ séca, porque: 1—A sua retengdo de agua é muito maior que = da terra compacta. 2—Os micrébios evitam a evaporacSo mediante segregagéo'de muco. 3 — Os micrébios formam agua nos diversos processos bioquimicos. —8— . 4— Os granulos de terra, evitam a formacéo de capilares de ascensio da égua. 5 — A infiltracio da dgua é muito melhor. A terra com estrutura ativa permanece ainda umida, proporcionando crescimento normal das plantas, enquanto que aquela que néo a possuir, en- contra-se ressequida e rachada, conforme podiamos provar (PRIMAVESI, 1964). Segundo nossas experiéncias, as culturas agricolas em terras com estru- tura ativa, suportam 10 a 12 semanas de séca total (PRIMAVESI, 1964), sem Sofrer considerdveis prejuizos. Além disso, 0 crescimento vegetal nfo depende sodmente da umidade do solo, mas do balango entre agua absorvida e dgua transpirada, dependendo a transpiragao da nutrigéo do vegetal, sendo portanto maior em solos pobres ou em plantas mal nutridas. Falamos portanto, néo de teor em umidade, mas do potencial em umidade’que exprime muito melhor a situagéo real. Devido ao perecimento dos microrganismos, desmorona a estrutura ativa do solo. A fracdo argilosa que participa fundamentalmente da conservacéo dos sais minerais, funcionando como um dos principais fatéres do complexo de troca-adsorcao, em clima timido é levada pela agua para o subsolo e em clima séco € incrustado por sais. Mercé da podsolizacéo, laterizagio ou salinizagéo progressiva do solo, a sua textura se torna sempre mais compacta. Os poros ‘do solo, pelos quais anteriormente circulavam o ar e a agua, facilmente mobilizavel, desaparecem. Os poros de tamanho minimo aumentam em numero considerdvel, a ventila- GG do solo fica cada vez mais deficiente.e, mesmo que a anilise fisica ainda acuse umidade no solo, as plantas murcham porque ndo conseguem absorver esta dgua. Os solos apresentam uma extrema predisposigio & séca e A excessiva umidade (pantanos), visto estar perturbado o equilfbrio do balango aéro-hidrico. O desenvolvimento das plantas torna-se desigual, fraco e insuficiente. O sistema radicular, j4 no consegue expandirse e o desenvolvimento das radiculas pilo- sas, que tém a funco de abastecer a planta de égua e principalmente de subs- tancias nutrientes, cessa quase por completo, porque a textura compacta do solo @ isso se opée. As plantas sofrem com a alternancia entre excessiva umi- dade e séca, pois, o solo perdeu a capacidade retentora de agua e, esta é a razio pela qual, apés qualquer chuva, éle se transforma praticamente num Pantano, mas por outro lado, também seca com a mesma rapidez, fazendo as plantas sofrer com a aridez. ‘A dgua esté escasseando cada vez mais em todos os terrenos. 16 Estados norte-americanos j4 possuem, hoje, cardter drido para nfo dizer semi-esértico. ‘Na Europa o nivel fredtico baixou nos iltimos 20 anos cérca de 30 metros e. a maior parte da Asia mantém-e hoje na base de irrigacio por agua capturada durante as chuvas. Na América Latina a. aridisagéo também esté progredindo. Vastas Areas na Argentina, antigamente ocupadas pela triticultura, so hoje praticamente inférteis, sem uma fonte, uma drvore e, com o sal aflorando na superficie da terra, O mesmo acontece no Chile, onde o deserto avanca anualmente. Jé exis- tem extensas dreas semi-desérticas no nordeste brasileiro. Na maioria dos paises se reconheceu, que sécas e inundacées constituem © mesmo problema, causado pelas camadas impermedveis do solo. Sabese perfeitamente que a deficiente retenco de dgua pelos solos agropastoris é a consequéncia da desfloculagéo de sua estrutura. O problema da égua que nio pode ser separado do problema da erosio, é “man made”, isto é, causado pelo homem, pondo em xeque a vida e a sobrevivéncia da humanidade inteira. Devemos reconhecer que alteragdes quimicas e bioldgicas, as quais pro- vocaram a formacao destas camadas compactas e impermedveis, nunca podem ser sanadas por métodos puramente mec&nicos. © combate & erosio, as sécas, enchentes e & pouca produtividade dos nossos solos, deve ser feito no sdmente pela retencdo e escoamento das aguas, mas pelo melhoramento da permeabilidade dos solos que resolve todos os pro- Dlemas de uma s6 vez, pois, se a dgua se infiltra, em vez de escorrer, néo pode levar solo nem nutrientes. Em solos de boa permeabilidade os agrega- dos so necessariamente resistentes & 4gua e, 0 complexo coloidal € protegido pela microvida. Se a agua enche os mananciais, hd 4gua nos c6rregos e rios durante 0 ano inteiro. Se ela esté retida em maior proporcao pelo préprio solo, uns dias de sol nao causariam sintomas de séca em nossas culturas e pasta- gens. O problema é, portanto : a) evitar mec&nicamente o carregamento do solo, até b) © solo é recuperado bioldgicamente, permitindo a livre infiltracio da gua e sua retengio em quantidade suficiente pelos grumos do solo, piologicamente restabelecidos. Reconheceu-se que a falta da estrutura ativa é a responsdvel pelo resse- camento de nossas fontes, pocos e rios e, que as terras abandonadas sem es- trutura ativa, séo as causas dos prejufzos, originados pelo granizo e geadas que aparecem sibitamente em pontos onde antes nunca haviam sido obser- vados. Sio, portanto, a causa das mais terriveis inundagdes, que ano apés ano assolam os campos e as cidades com violéncia cada vez maior e, sio @ causa das estiagens. Provocam a fome especialmente em paises com pouca populacéo, como na Africa e América Latina, onde 6 ou 7 habitantes por km? nfo encon- tram mais seu sustento nas terras impiedosamente exploradas e bioldgicamente arruinadas. Um tratamento bioldgico mesmo rudimentar, determina o restabeleci- mento da estrutura ativa do solo e com isso 0 aumento das colheitas. Além de tudo, assegura um desenvolvimento uniforme e, um rendimento econémico e constante. Fizemos ensaios nas piores terras do Estado de Séo Paulo. 84% das pre- cipitagdes escorriam, e poucos dias depois das chuvas o solo estava séco e rachavase. Mesmo depois de chuvas abundantes o solo se apresentava séco em 6 a 7 cm de profundidade. O trigo ali plantado sofria freqiientemente de séca e sempre acusava uma maturagio precoce, de “emergéncia”. Nas parcelas de experiéncia, com estrutura ativada, o defhivio das aguas pluviais foi somente de 7%, 0 que é considerdvel, em vista das chuvas impie- dosas na época de verio — época, porém, em que os terrenos eram cobertos Por leguminosas. Depois dos primeiros 5 anos de trato dos microrganismos, no houve mais erosio nas parcelas de experiéncia, apesar de que nao foram tomadas medidas técnicas-mecénicas, como terraceamento, para evitéla. O vo lume poroso do solo subiu de 9.3% a 46%, e a capacidade de retencio de 4.2% a 44,1%, de modo que o trigo plantado nestas parcelas, ficou pratica- mente independente das oscilagdes climaticas. Deve ser ressaltado que 8 tex- tura fisica do solo permaneceu a mesma. O que se modificou, foi sbmente a - 16 _ capacidade de retencéo bioldgicamente condicionada. A formacio de uma ca- mada viva na superficie do solo agricola provou a. sua eficiéncia, tornando sOlto 0 solo subjacente, aumentando a sua capacidade de retenc4o e diminuindo consideravelmente a evaporacéo. Fora disso proporcionou os nutrientes mine- rais &s culturas agricolas em forma organica, que portanto tém garantida a sua alimentagdo continua. Solos compactos ndo possuem microvida aerébia enquanto solos sdltos Possuem rica microvida zimogénica. Anualmente, através de adubagéo. verde superficialmente picada, foi for- necida -energia & micropopulagao. ‘As experiéncias mostram que uma camada ardvel revitalizada com micro- vida zimogénica garante uma boa infiltragio e alta capacidade de retencéo, com uma nutricéo continua a cultura agricola. A cultura tornase praticamente independente das oscilagées climiticas. A primeira medida para a recuperagéo de um bom regime hidrico (es- trutura ativa) do solo 6, portanto, a colocagéo adequada de matéria orga- nica. .Esta, NUNCA deve ser virada profundamente, porque ela deve nutrir bac- térias aerdbias, heterstrofas e nao fungos. Deve ser misturada, portanto, su- Perficialmente com o solo e, nos tipos dcidos, deve-se incentivar a microvida por uma calagem adequada. Todos os trabalhos no campo devem ser feitos, especialmente, com vista @ manutengéo de uma microvida rica e poliforme e em segundo lugar, tendo em vista a propria cultura, porque se a microvida é favordvel, o solo sera pro- dutivo, aproveitando-se disso a cultura. O tinico servico feito no campo, visando @ cultura 6 a adubacio quimica, que também serve aos micrdbios. Adubagdes fortes e unilaterais sempre prejudicam a microvida e com isso a satide e pro- dutividade da cultura agricola. Os trabalhos devem ‘ser feitos em beneficio da microvida que, por sua vez, beneficia a cultura. Pode haver uma biocenose sadia sem culturas agricolas, mas néo h4 culturas agricolas boas sem uma Diocenose sadia. ‘A base de uma agricultura sadia, préspera e lucrativa é, portanto, a ma- nutengdo de uma micropopulagdo saprofita e aérébia, a qual necessita : a) © arejamento adequado do solo, b) uma alimentac&o suficiente em matéria organica morta, ¢) uma alimentacéo mineral equilibrada, de nitrogénio, potdssio, f6sfo- To, cdlcio, magnésio, manganés, boro, zinco, cobre, molibdénio, ferro; enxOfre, cloro, cobalto, sddio, vanddio ete. Devemos lembrar sempre que a falta de uma microvida heterdtrofa acar- reta o aparecimento de uma microflora parasita Um solo compacto, entor- roado, sem estrutura floculada, extremamente sujeito & séca e eroso, provoca ingos incombativeis, pois séo prdprios do ambiente, enquanto a ‘cultura nio 0 6. Em resumo pode se dizer que uma pratica para suprir anualmente os microrganismos com adequada quantidade de energia, consegue estabilizar uma estrutura fOfa e floculada, isto é ativa, na camada superficial do solo, evitando a sedimentacdo e peptizagao do solo e, reter a dgua suficiente para a nutri- g8o vegetal. # portanto, vital para a agricultura tropical e subtropical manter ‘uma microvida serdbia e intensa, na camada superior da terra de cultura. |, .., Eu Rossos ensaios com milho e trigo, pudemos verificar que o problema da gua no solo e sua disponibilidade aos vegetais tornow-se menor e tendeu -—11-— @ no constituir mais problema, & medida que a estrutura ativa do solo me. thorava. Quando a camada floculada e s6lta, que nés denominamos de “f0fa”, atingia uns 12 4 15 cm de profundidade, chuvas excessivas ou sécas que se pro- Jongavam por 8 @ 10 semanas, néo representavam mais problemas. Constatamos, pois, o seguinte: Os fatores mais importantes sio os agregados bloldgicamente clmentados, estdveis & ago da chuva, porque déles depende a pronta infiltragdo e, em parte, & capacidade de retencio de dgua disponivel aos vegetals. Os solos de experiéncia, compactos e coerentes, tinham uma infiltragdo jpéssima e, portanto, a quantidade de dgua que chegava a penetrar no solo era pequena, ficando confinada & camada superficial, evaporando-se logo. Nos solos com a camada superficial floculada e fota, a infiltractio era muito boa e 0 solo ficava umedecido até maiores profundidades; a evaporago era pequena, devido a0 pouco aquecimento da superficie sdlta. Desta maneira, os solos duros seca- yam dentro de 4 a 5 dias, enquanto os “fofos” ainda permaneceram tumidos depois de 10 semanas. Também o desenvolvimento radicular e a absorgéo de- pende dos agregados biolégicos (de tamanho entre 0,5 a 3 mm), porque quanto mais abundante a formagéo de radiculas, tanto melhor a absorgio de dgua e de nutrientes. Finalmente, o gasto econdmico de dgua pela planta depende da nutricéio desta — fator que se compée, segundo as nossas experiéncias, de dois elementos principais : 1— A riqueza e 0 equilibrio do solo em nutrientes, 2—A possibilidade da absorcéo dos mesmos, que 6 garantida, justa- mente pela bio-estrutura. Assim, plantas em solos compactos tém muito menos égua a sua dispo- sigfo mas gastam mais, porque sio mal nutridas, sofrendo, portanto, efeltos da séca, enquanto que plantas em solos fofos tém ainda um crescimento normal. _ SCHULZE (1957), e também BECKER (1961), independente um do outro, estabeleceram uma relacéo muito importante, dizendo: “O gasto de agua por kg de substancia séca é tanto maior quanto menor fOr a produg&io vegetal por falta de nutrientes minerais”. Isto quer dizer: plantas com seiva “chela”, isto 6, mais viscosa, transpiram menos que as de selva “vazia”, pobre em minerais. Costumamos determinar a profundidade da aracio segundo 0 desenvol- vimento radicular. Nunca aramos mais profundo que 2 cm, além da camada bem enraizada para conservar na superficie a estrutura ativa, que depende da microvida aerdbia. Nos 18 anos que usamos esta prética, ela nunca falhou e sempre nos deu a razio. © problema, especialmente em clima tropical, é: Sombrear 0 solo para: a) permitir a repopulacéo microbiana que melhoraré a estrutura ativa e capacidade de retengdo do solo, b) permitir a repopulagéo do solo com mesofauna — especialmente de minhocas — mas também dcaros, colembolas, formigas, nemétodos, ete. ©) fornecer energia e nutrientes aos micro- e meso-stres heterdtrotos. Todos os métodos empregados na agricultura devem visar a floculacéo da camada superior do solo, até um grau.onde esta poderia atuar como ca- ™ada sombreadora para o solo subjacente. Tudo o que poderia.prejudicar a estrutura ativa do solo deve ser rigorosamente evitado. — 12 equilibrar a vida desequilibrads do solo. vida sadis, restabe- Restabelecer as condigdes favoréveis a uma micro e MACTO) 7 Ircer a estrutura fofa do solo, a antiga relagio entre os minerals, a forga-tampio do solo, e a capacidade de retencdo, — O que esta errado nfio é 0 tempo, nem © clima e téopouco a planta, mas essencialmente, o nosso ponto de vista mul- tas vézes absolutamente abidtico. © que devemos fazer, € apenas RESUMO © solo é um sistema dinimico composto de minerais, ar, dgua ¢ séres vivos, que se forma e se modifica permanentemente, sob @ influéncia dos mais Giversos fatéres ecoldgicos, tentando estabelecer um equilfbrio din&mico. © solo agricola, portanto, na concepgéo atual, é um organismo dinamico cujos fatores se influenciam mituamente. A base de sua produtividade € 9 estrutura flocular cuja destruicho comega com o desflorestamento, que ocasiona chuvas menos frequentes e mais violentas, compactando a superficie do solo e Provocando a erosio. ‘As queimadas descontroladas e permanentes destroem a estrutura super- ficial, ficando 0 solo calcinado e acarretando com isso a morte dos micror- ganismos. ‘As monoculturas com suas exigéncias e excrecées unilaterais provocam uma microvida unilateral e com isto maior compactacéo do solo e sua acidi- ficacio gradativa. A rotagdo, a consorciagio de culturas, pastagem dirigida e adubaco correta, so meios de recuperacio da microvida poliforme e com isso, da estrutura do solo. ‘Métodos agricolas erréneamente splicados, como por exemplo, aragdes profundas e a pulverizacio pela destorroadeira, séo também fat6res que acele- ram a destruigéo da estrutura ativa do solo, favorecendo a compactacio e erosao. ‘A aplicacéo errénea de fertilizantes, sobretudo adubagdes macicgas de determinado mineral provoca o desequilibrio nutricional e, como consequéncia, © empobrecimento relativo do solo dos demais nutrientes, prejudicial nfo sé aos vegetais, mas também & estrutura do solo. ‘A substancia orgénica como fator coloidal e nutriente microbiano é de alta importancia para a manutengéo da estrutura do solo. Mas sdmenta a sua aplicago superficial fornece vantagens em nosso meio. Em solos extremamente fcidos e pobres, que possuem microvida ineficiente, esta vantagem da matéria organica ndo aparece. ‘A decadéncia da estrutura ativa do solo agricola € causada pelo empo- precimento da microflora. Em consequéncia, a infiltracéo d’égua, a resisténcia dos agregados & chuva, a retencio da dgua e a nutric&éo vegetal serao defici- entes e haveré susceptibilidade & séca,.tanto do solo como das cultures. Pela destruicio da estrutura ativa desfazem-se os grumos, e a fracdo argilosa é carreada ao subsolo por conseguinte 0 solo se torna menos poroso e mais compacto. O enraizamento é minimo e portanto a nutrigéo das plantas € péssima, sofrendo com as oscilagdes climéticas, principalmente com a aridéz. ‘Areas semi-desérticas estio aumentando. O problema de erosio, enchentes e sécas é causado principalmente pelo manejo impréprio do solo pelo homem. Erosio, sécas, enchentes e baixa produtividade dos nossos solos, s60 combatidos pelo melhoramento da permesbilidade, e, em experiéncias com ‘rigo ~ 13 — feitas em terras abandonadas aumentaram as colheitas na medida em que au- mentava o volume poroso do solo. Um tratamento blolégico determina o restabelecimento da estrutura ativa do solo e com isso aumento das colheitas, A primeira medida para a recuperacio de um bom regime hidrico do solo 6, portanto, a colocacéo adequada de matéria organica, misturada super- ficialmente com 0 solo. Todos os trabalhos no campo, devem visar uma microvida rica e poli- forme, incluindo-se, além da adubagéo quimica, a adubagdo verde. © problema d’égua diminui consideravelmente em terras com bio-estru- tura estdvel. Ali as plantas tém seu abastecimento em dgua e nutrientes garan- tido. Ademais, plantas equilibradamente nutridas transpiram menos e gastam a égua mais econdmicamente. ‘A lavracéo nunca deve ser mais profunda que dois centimetros abaixo da camada floculada do solo, pois, esta camada facilita a infiltragdo e evita a evaporacéo da dgua. © sombreamento para permitir a repopulacéo do solo com micro e meso- -vida variada, e o fornecimento de energia e nutrientes a esta micro-vida sio ‘a base da estrutura ativa e da produtividade do solo. THE CONSERVATION OF THE ACTIVE SOIL STRUCTURE AND ITS INFLUENCE ON WATER ECONOMY SUMMARY ‘The soil is a dynamic system consisting of minerals, air, water and living beings, which are forming and changing constantly, under the influence of the most different ecological factors, trying to establish a dynamic equilibrium. The crop soil is, in the actual conception, a dynamic organism, whose factors excercise influence one upon other. The basis of its productivity is the crumbled structure whose destruction starts with the deforestation, what cau- ses more frequent and more violent rains, compacting the surface of the soil and provoking the erosion. The uncontrolled and permanent burnings destroy the superficial struc- ture letting the soil calcined and causing with this the death of the micro- organisms. ‘The monocultures with its unilateral exigences and excretions provoke an unilateral microlife and with this a greater compactness of the soil and its gra- dual acidification. The rotation, the consortion of crops, pasture rotation and correct fertilization, are ways of recuperation of the polyform microlife and with this the soil structure. Wrong applied agricultural methods, as for example, deep ploughings and the pulverization through the high speet rotators, are also factors that accele- Tate the destruction of the active soil structure, favouring the compactness and the erosion. Wrong application of fertilizers, principally fertilization massive of a determinate mineral provokes the nutritive unbalance and consequently, the Telative impoverishment of the soil of the other nutrients, not only injurious for the plants, but also for the soil structure. —-u— The organic matter as source of colloidal factor and microbial nutrient is of great importance for the management of the soil structure.. But only its superficial application furnishes advantages in the tropics. In very acid and poor soils that’ have @ inefficacious microlife, this advantage of the organic matter doesn’t appear. . ‘The decay of the active structure of the crop soil is caused by the impo- verishment of the microflora. In consequence, the infiltration of the water, the resistance of the crumbs to the raindrops, the water retention and plant nutrition are deficient and will have susceptibility to dryness of the soil and crops. ‘Through the destruction of the active soil structure the crumbs dissolve, and the clayish part will be carried to the subsoil, consequently the soil become Jess porous and more compact. The root development is less and the nutrition of the plants is therefore very bad, suffering with the climatic oscillations and principally with the aridity. Semi-desertic areas are enlarging. The problems of the erosion, floods and dryness is principally caused through the improper soil management by man, Erosion, drought, inundations and low productivity of our soils, are con- troled with improvement and permeability. In experiences with wheat, made on barren land, increased the crops in proportion to the improvement of soil porosity. A biological treatment determinates the recovery of the active soil struc- ture and with that the increase of the crops. ‘The first thing one must do for the recuperation of a good water eco- nomy of the soil, is therefore the right placing of organic matter, superficially turned in the soil. All the field works must aim a rich polyform microlife, including, besides the chemical fertilizer, the organic manure, ane The water problem decreases considerabl; it i ly in fields with a stable bio- structure. There the plants have their supply of water and nutrients warranted. Besides, well nourished plants transpire le economically. PI SS and consume the water more Ploughing allways should be done two eh centimeters deeper than the un ferayer limits of the crumbled layer because this layer is permeable helps ration and avoids the evaporation of water, protecting the soil. The shadiness to permit the rey : Mesollife, and the furnishing of emorey faite ls and nutrients ti li the asis of the active structure and of the productivity at es Ent rolife are BIBLIOGRAFIA BAULE, H. 1962. Revista da Potasa 6, Sec. 6:14. BECKER, G. 1961. Z. Acker- und Pflanzenbau, 112: 270201 BROMFIELD, L. 1948. “Malabarfarm”, Washington. CZERATZKI, W. 1962. Arch. d. DLG. 25 : 33-49. DOBEREINER, J. 1961. Plant and Soil, 18: 211-216. DOEKSEN, J. e DRIFT, J. 1962. “Van der Soil Organisms, Amsterdam LESSARD, J.R. et al. 1963. Canad, J. Soil Sci, 43: 176-185. MALAVOLTA, E. 1959. “Manual de Quimica Agricola”, Sio Paulo. PRIMAVESI, A. 1952. “Erosio”, Edit. Melhoramentos, So Paulo PRIMAVESI, A. 1954. “As Leguminosas na Adubacho Verde", Edit. Melhora mentos, 8. Pauio. a PRIMAVESI, A. 1962. “Diagnéstico Bio-Fisico da Terra”, Edit. Pallotti, S. Maria. PRIMAVESI, A. e PRIMAVESI, A.M. 1964. “A Biocenose do Solo na Producho vegetal”, Edit. Pallotti, Santa Maria. 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