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abundante ciclo da Graal, a temitica amorusa passa ao segundo plano, se impde como um ideal supremo dla cavalatia a busca de um objeto que sutro sendo o eélice que teria recolhido o sangue de Jesus erueificado. ‘Certamente, a literatura de corte no é o reflexo da realidade atistocratica. - sobretudo, de manifestar seus ideais e de tentar resolver, imaginariamen- ‘ss tenses que a atravessam, Sublinhou-se com freqiiéncia, na seqiiéncia de Kohler, que a literatura de corte exprimia as aspitacbes da pequena nobre- lies, especialmente dos jovens que permanecerarn sem terras, desejesos = Scegar plenamente 2aristocracia e perseguidos pelo sonho de uma alianga s==2 mulher de alta posigdo. E também possivel que, nas formas clissicas ‘= zandes casas nobres contribuem a the dar, essa literatura permita eonfor- == deal comum a toch nobreva, atenuanda suas hierarquias intermas. Sobre- 2 aproximagio progressiva com o pensamento clerical é considerdvel. B ver- 2c os esforens das maiores eortes, como aquelas dos reis plantagenetas, pe em um plano de iguallade cavalatia "clergi” (0 clero) esto longe de +2 realidace. Também, stem todos os nobres se comportam como per- membros da militia Christ ou como replicas de hersis de romatiee, preocu- com ma superacaa de si mesmos e engajados em uma incessante busca Entretanto, no fim das contas, ainda resta algo desse ensinamento: no > século XM, e mais tarde, o nobre que deseja manter sua posigo, ou mesmo Soeur aos alhos de seus pares, nia pode mus se contentar em ser um bravo “semis c forte), ele deve ser também sébio, que, além da obrigacao vassélica se homem de bom conselho, supoe ineorporar uma ética marcada pelo ensi 2 clerical e reconhecer que a dominago social nao pode se legitimar ape- ‘se pel forca, mas impGe também a preoeupago com a justiga ¢ o respeito dos ‘sslers cspirituats promovides pela Igteja (“Todo vosso sangue deveis verter para ‘esate da Igreja defender’, diz um tratado de cavalaria por volta de 1250). Eexeento nos séculos X € X1 a aristocracia se opunhw & Igreja em quuse todos os “sess valores, pontos de acordo cacla vez mais eomuns passam a ser estabelecidos, ‘= proto de a primeira, finalmente, reconhecer o primade dos valores eristios e -seecer submeter se a eles, ap menos idealmente, Sem divida, isso ocorre porquc A crmumacia peumas 120 a lareja, através de sua contribuigao a claborncio dos xituais ¢ da ética cavaleires ca, forneceu a aristocracia a mais sdlida justificativa dle sua domingo social e umm dos melhores cimentos de sua coesio interna, As relagées Jewdo-vassilicas e o ritual de homenagem A vassalidade 6 habitualmente considerada um dos tragos mais caracteristicos da sociedade medheval. Entetanto, ao contraria das vistes clissicas, que faziam das “instituices feudais’ um sisterna homogéneo ¢ bem estruturado, tende-se, hoje, a restringie a importancia do feudo e do lago vassilieo, que dizem respei- toa uma proporgao infima da populaedo (1% ou 2%). ssa mudanga de pers- pectiva é operada com vigor por Robert Fassier quando qualifiea as relagdes vas sélicas de “epifenémeno negligencidvel’, 0 que, apesar de tudo, nio deveria fazer esquecer que elas estruturam, ao menos parcialmente, as telagées no seio da classe dominante, Entretanto, mesmo entre os dominantes, nem todas as concessdes de bens ganham 2 forma do feudo v a vassabidade é apenas um dos tipos de lago — ao lado dos pactos de amizade, juramentos de fidelidade, asso- clacdes entre senhores Iaicos e monastérios etc. — que asseguram as solidarie- dades e a distribuigao do poder no seio da aristocracia (Joseph Morsel). Nao se pode, entretanto, subtrair toda a importancia da relacio vassélice, que formaliza entre os dominantes (ela pode incluir também os prelados) um lago de homem pata homem, entre um senhor ¢ seu vassal. ‘Trata-se de uma telaco aa mesmo tempo muito prtiima ¢ hierénquica, que sc colore de um valor quase familiar, como indicam 0s termos empregados: senior é 0 mais velho, 0 pai © wassts€ 0 jover, que também pode ser quslificado de homo ou felis. Em sua forma classica, essa relagao implica uma tevea dissimétrica. O vassalo 6 0 hhomem de seu senhor e se engaja a serviclo conforme as obrigagdes da costume feudal. Este varia fortemente segundo as épocas € as regides, mas 8s aspectos tomam-se essenciais 20 servigo vassilico: a obrigago de se incorporar &s oper- .0es militares empreendidas pelo senor (por urn tempo de inicio Hlutvarte, mas que tende a ser redurido a quarenta dias por ano, a0 que se aerescenta um perio- do de guarda do castelo senborial), a ajuda financeira (em diversas circunstn« clas que o senhor considera poder decidir segundo seu alvitee, mas, em seguida, limitada, sobretudo na Franga e na Inglaterra, aos casos de adubamento ¢ de ccasamento dos filhos, de pagamento de um resgate, de partida para as enreadas ou peregrinagao),e, finalmente, o dever de bem aconselhar o senhor. Entre essas inés obrigacdes importantes, a primeira ¢ particulamente determinante, pois é a hase principal sobre a qual se formam os exércitos feudais. Em traca, 0 senhor 122 erie Bochae exc a seu vassalo protecdo e respeito; ee Ihe demonstra sua solieitude (e, entio, ‘seeobém a sua superioridade) por meio de presentes e assume geralmente a edu- dos filhos cla vassilo, que detvam a casa paterna durante a adolescéncia sora ver junto ao senor. Enlim, e sobretudo, o senkor prové « seu vassalo de ‘== feudo que Ihe permite manter sua posigao e preeneher sus obrigagdes. Mais que um bem ou uma coisa, 0 feudo deve ser considerado a concessao de um poder senhorial, que pode dizer respeito a uma terra e seus habitantes, mas pode sombém limitar-se a um direito particulas, por exemplo, 9 de cxercer a justica, de sccolher uma taxa ou eobrar um pedigio. Arelagéo vassdlica é institufda por um ritual, a homenagem, que, em sua forma cléssica, parece caracterfstica, sobretudo, das regides ao norte do Loire. Pode-se decompé-la em trés partes principais. A homenagem propria- mente dita consiste em um engajamento verbal da vassalo, que se declara 0 bomem do senhar, seguido do gesto da immuixtio mancum, pelo qual o vasa ‘6, ajcelhado, pie suas miios juntas entee as do senhor (este gesto, que expri- me cleramente uma relag2o hierérquiea na qual a protegiio corresponde & Stdelidade, é ¢20 importance na sociedade feudal que transforma as modali- codes da prece separados ¢ as mis clevadas para o céu, mas com as mus juntas, sugerindo, assim, uma relagao de tipo feudal entre o cristao, 0 féel, e Deus, 0 Senhor) 4 segunda parte do ritual, denominada fidelidade, consiste em um juramen- 0, prestado sobre a Biblia, e wn beijo entre vassalo e senhor, pot veres na ‘io, mas com mais frequencia na boca (osculumn), segundo um uso corrente e2 Idade Média, Finalmente, ocorre a investidura do feudo, expressa ritual- mente pela entrega de um objeto simbdlico, tal como um punhada de terra, em basta, um gilho ow um ramo de palha. No getal, esse ritual forma um conjunto simbilico elaborado, do qual participam gestos, palavras e abjetos, com a finalidade de construir uma relagao ao mesmo tempo hierdrquica ¢ ‘qualitéria, Come bem demonstrou Jacques Le Goff, 6 ritual de vassalagem fnstaura, de maneira visivel e conereta, uma “hiersrquia entre iguais”, estru- 3, que ndo se tealiza mais & moda antiga com os bragos turando, assim, as diferengas internas de uma elasse que, em seu Conjunto, se quer acima do homem comum. As origens de relacao varsslica remontam 8 Spoca carulingia. Desde meados ddo sculo vit observa-se a pritica de um juramento ee fidelidade pelo qual o rei ou o imperadlor esforga-se para garanti a fidelidade dos grandes, aos quais confia 8 "hontas” que s20 os encarges puiblicos, especialmente 0 gavemo das provincias, Depois, na época dle Carlos Magno ¢ de Luis, o Piedoso, o engajamenta vassal co, que'é uma forma de “recomendagaa” pela qual se € posto sob a protegto de ‘um personayem eminente, reconhecenclo deveres em relagdo a ele, generaliza-se Acrrmeacio reuoat 123 como forma de subordinagao, vinculanda todos os homens livres a petsonagens clevados e, indiretamente, a imperador. £ verdade que, hoje, nio se acredita ais que exista um quadro classico da feudalidade, cujo berco seria 0 Norte da Franga, em comparagio com o qual as demais variantes seriam apenas formas “degradadas’. Fi preciso, entio, reconhecer extrema diversidade regional, que se pode evocar apenas brevemente aqui ("nao existe wma feudlalidade, mas fedali- dades’, sublinha Robert Fossies), Assim, no sul do Loire, 0 engajamento do vass Jo pode ser selado por um simples juramento de fidelidade, enquanto em certas regides mediterrénicas a relagio vassélica, mais igualitéria c menos impositiva estabelece-se em geral com base em um contrata escrito, como @ 0 caso na Catalunha, desde o século x1, Inversamente, no dominio germénico, a bierarquis interna du nobreza € tio pronunciadla que 0 beijo, considerado por dewais igual tio, € eliminado do ritual de vassalidade; além disso, em opasigao a tendéncia tomar indissociavel a homenagem e a investidura, mantém-se por muito tempo tum prazo de cerea de umn ano entre 0 estabelecimente de um lago vassilica & a ‘cessa0 do feudo, enquanto a ufimmagao dos “miisteriales’, servidores de origem as ‘yezes servil, que se integram ao grupo dos milites ¢ vivem na dependéncis dircta dos casteldes, contribui para manter grande disténcia entre a cavaluria © a nob za, retardando a sua unificagao. Por fim, para tomar um tiimo exemplo, o dome rio normando (inclusive Inglaterra), no qual os historiadones veer habitualmien te 0 protétipo da Adelidade vassilica, beneficii-se da vigorosa reorganizacio realizada por Guifherme, oC rmanece particularmente Forte, se hem que seja hubitualmente substituida, a par- nguistador, ali, a obrigaco militar dos vassalos per tir do século Nil, por uma contribuigdo em dinheiro (a écsage"), que permite aos grandes senhores e ao re recrutarem mercenstios, considerados mais seguras, 01 mesmo pagarem aos vassalos para garantir seu engajamento pata além da duracio ccostumeira das campanhas. ‘Apesar das grandes diferengas regionais, & possivel assinalar algumas evo: lugoes de conjunto, a comecar pela difusao da feudalizagao. Nos séculos xe Xi existem ainda muitos alédios, terras livres possu/das diretamente pelos seus proprictérios, Estes so, beneficiados com privilégios, mas sJo igualmente obrigados a0 servigo militar ¢ & patticipaczo nos tribunais do condado. Depois, ao longo dos séculos x1 ¢ xi, as terras do Ocidente deixam, pouco a pouco, de ser alodiais: enquanto os mais modestos se integram em win senbo- Tio, 05 ulédios mais importantes sio geralmente cedidos a wun posleroso antes de ser retomado como feudo, No século xit! 0s alédios subsistem apenas de 6, 0 sox indica, a principio, » excudo medieval ¢ 2 utlzagto de sua imagem nox brasdes; por cextenséo,tambem @ mada portard tis armas, (NT) 124. rime Bascher ‘eedo marginal, o que significa, de um lado, que 0 conjunto das terras é dora- see integrado ao sistema senhorial e, por outro, mas de maneira menos possuida come feudo, F, ver- Zeke que € preciso levar em conta as terras da Igreja, das quais una propor- ‘gfe novivel escapa 8s rela _g=ecralizada, que uma parte importante dentre el es feude-vassilicas, e das regices, especialmente == =eridionais, em que elas tém peso apenas relativo. No entanto, permane- = © fato de que uma parte signifiestiva do controle exereido sobre as terras “= sobre os homens) passa pelo estubelecimento das lagos vassilicos, « que es confere inegivel importincia Ao mesmo tempo, os lacas feudo-vassélicos slo vitimas de seu sucesso © ‘ses cficacia tende a diminuir a medida que seu uso € mais freqiiente € que sede de dependencias vassilicas far-se mais densa. Uma das principais dif

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