You are on page 1of 9
= 4 l Aprender Calculo pode set sua experiéncia educacional mais empolgante ¢ esti- realizagdes no mundo moderno. Vocé deverd iniciar o estudo de Calculo com BJ _econhecimento de certos conceitos mateméticos. Em primeiro lugar, pressupse- se que vocé possua conhecimentos de Algebra e Geometria, do primeiro ¢ do segundo graus. Além disso, existem t6picos que so de extrema importancia. Talvez vocé jé os tenha estudado em algum curso de Matematica; sendo, voce teré um primeiro contato com eles neste capitulo. ‘Vocé precisa ter familiaridade com fatos sobre os mimeros reais e fazer ope- © ragdes envolvendo desigualdades com desenvoltura; esse material serd 0 objeto da primeira secgdo. As trés secgdes a seguir contém uma introducdo a algumas nogdes de Geometria Analitica que serio necessérias posteriormente. Fungdo & um dos conceitos basicos em Célculo e ser definida aqui como um conjunto de pares ordenados. Essa idéia é usada para enfatizar o conceito de funcao como uma correspondéncia entre conjuntos de nimeros reais. A nota: ‘sao de funcdo, tipos de fungées ¢ operagdes com fungdes também serdo discuti- dos na Secedo 1.4, enquanto os graficos de fungdes serdo tratados na Seccao 1.5. Provavelmente vocé jé tenha estudado funcdes trigonométricas em algum curso anterior, mas uma revisdo das definigdes bésicas sera apresentada na Seccdo 1.6, Hé também uma aplicacdo da fungdo tangente a inclinagéo de uma reta. Dependendo de seu preparo, esse capitulo poderd ser estudado em detalhes, ser tratado como uma revisio ou omitido. 1.1 NUMEROS REAIS E DESIGUALDADES O sistema numérico real consiste em um conjunto de elementos chamados de itimeros reais ¢ duas operacdes denominadas adigio ¢ multiplicagio, denota- das pelos simbolos + ¢ -, respectivamente. Se ae b forem elementos do con- junto R, a + b denotard a soma de ae bea b (ou ab) denotard o seu produto. ‘A operacdo de subtracdo é definida pela igualdade a—b=a+(-b) onde ~ b denota o negativo de b, tal que b + (—b) = 0. A operacio de divisto € definida pela igualdade avb=ab! b#0 onde b-! denota o reciproco de b, tal que b - b-! = 1 sistema numérico real pode ser inteiramente descrito por um conjunto de axiomas (a palavra axioma é usada para indicar uma afirmacao formal consi derada verdadeira, dispensando provas). Com esses axiomas podemos deduzir as propriedades dos ntimeros reais das quais seguem as operacées algébricas de adicdo, subtracéo, multiplicacdo ¢ divisao, bem como os conceitos algébricos de resolugdo de equagdes, fatoracao e assim por diante. ‘As propriedades que podem ser obtidas como conseqiiéncias légicas dos axio- ‘mas so 0s teoremas, No enunciado da maioria dos teoremas existem duas par- tes: a parte do ‘‘se”, chamada de hipétese e a parte do “‘entao””, chamada de conclusio. A argumentacdo que verifica a veracidade de um teorema é uma de- ‘monstragio (ou prova), a qual consiste em mostrar que a conclus qiiéncia de se admitir a hipétese como verdadeira. ‘Um niimero real € positivo, negativo ou zero € qualquer niimero real pode ser classificado como racional ou irracional. Um némero racional é qualquer iniimero que pode ser expresso como a razdo de dois inteiros. Isto é, um mimero racional é da forma p/q, onde pe q sao inteiros e q # 0. Os mimeros racionais consistem em: Os inteiros (positivos, negativos ¢ zero) 5,4, 3, -2, ~1,0,1,2,3,4,5, ‘As fragdes positivas e negativas, como 3-8 Os decimais que terminam positivos ¢ negativos, como 236 _6.093251 3.251 2:36 = “T09 ~T,000.000 1.4 Nimros Rei Desiualdades 3 ais que no terminam mas apresentam repeticio periédiea, como + =0,s49549549 tr Os niimeros reais que nao so racionais sio chamados de mimeros irracio- rnais. Esses so os decimais que ndo terminam e nio sio periédicos, por exemplo, VE = 1732... = 314159... ‘Vamos usar na discussio a seguir a notagdo e terminologia da teoria dos con- juntos. A idéia de conjunto é usada amplamente em Matemética, sendo esse um conceito tao basico que dele nao serd dada aqui uma definicao formal. Po- demos dizer que um conjunto é uma colecao de objetos e 0s objetos de um con- junto so chamados de elementos. Se todo elemento de um conjunto S for tam- ‘bém elemento de um conjunto T, entdo S ser4 um subconjunto de T. Em Cal- culo estamos interessados no conjunto R dos mimeros reais. Dois exemplos de subconjuntos de R so 0 conjunto N dos nimeros naturais (0s inteiros posi 0s) ¢ © conjunto Z dos inteiros. ‘Vamos usar o simbolo € para indicar que um determinado elemento pertence um conjunto. Assim, podemos escrever que 8 € N, ¢ lemos: “8 é um elemento de N". A notagao a, b € S indica que ambos ae b sao elementos de S. 0 simbolo ¢ indica “‘ndo é um elemento de”. Assim, entendemos + ¢ N como ‘+ ndo é um elemento de NV”. ‘Um par de chaves { } usadas para delimitar palavras ou simbolos pode des- crever um conjunto. Se S for o conjunto dos mimeros naturais menores do que 6, podemos escrever 0 conjunto S como 11.2,3.4,5} Podemos também escrever 0 conjunto S como {&, tal que x seja um niimero natural menor do que 6] onde o simbolo x é chamado de varidvel. Uma variivel é um simbolo usado para representar qualquer elemento de um conjunto dado. Outra maneira de escrever 0 conjunto S acima é usar a chamada notacao construtiva de conjun- to, onde uma barra vertical € usada em lugar das palavras tal que: (cx seja um nimero natural menor do que 6} aiue lemos: do que 6” Dois conjuntos A e B sero iguais, e escrevemos A = B, se Ae B tiverem elementos idénticos. A unio de dois conjuntos A e B, denotada por A U B, que lemos ‘“A uniéo B”, € 0 conjunto de todos os elementos que estao em A ou em B, ou em ambos. A interseceio de A e B, denotada por AM B, que lemos ‘A interseceao B’, € 0 conjunto dos elementos que esto em A ¢ B. O conjunto que ndo contém nenhum elemento € chamado de conjunto vazio, sen- do denotado por ‘0 conjunto de todos os x, tal que x seja um mimero natural menor > ILUSTRAGAO 1 Suponha A = {2, 4, 6, 8, 10, 12], B = [1, 4, 9, 16}, € C = (2, 10}. Entéo Av B= [1,2,4,6,8,9, 10,12,16} ANB Buc 4 {1, 2,4,9, 10, 16} BoC= < Ha uma ordenagao para o conjunto R através de uma relagdo denotada pelos simbolos < (lemos ‘“é menor do que”) € > (lemos ““é maior do que” 5, Fungdes © Grficos 1.1.1. DEFINIGAO | Se a, b € R, (a < b see somente se b — a for positive; Gil) @ > b see somente se a — b for positivo. > mustracio 2 3 <5 pois 5 ~ 3 = 2,26 positive =10 < 6 pois ~6 - (—10) = 4, €4€ positive 7 > 2pois 7 - 2 = 5,5 € positivo =2 > ~7 pois 2 - (-7) = 5,€ 5 ¢ positive 4 > Fpois } - $ = hye af € positive < ‘Vamos definir agora os simbolos < (lemos ‘“é menor do que ou igual a”) ¢ > (lemos ‘é maior do que ou igual a”). 1.1.2 DEFINICAO | Se a, be R, (a < bse e somente se for valida qualquer uma das duas relagdes a < b oua i) @ > b see somente se for valida qualquer uma das duas relagdes a > b oua As afirmagdes a < ba > b,a < bea > b sao chamadas de desigualdades. Especificando, a < bea > b séo chamadas de desigualdades estritas, enquan- to que a < bea > b séo denominadas desigualdades néo-estritas. © teorema a seguir decorre imediatamente da Definigao 1.1.1. 1.1.3 TEOREMA | (i) a > 0 se e somente se a for positivo; (ii) a < 0 see somente se a for negativo. Um niimero x esta entre ae b sea < xex < b. Podemos escrever isso como uma seqiiéncia de desigualdades, da seguinte forma: asx Oe b > Oentiog + b> 0. (ii) Se a > Oe b > Oentio ab > 0. A parte (i) do teorema acima estabelece que a soma de dois niimeros positi- vos é positiva e a parte (ii) estabelece que o produto de dois nimeros positives é positivo, 1.1.5 TEOREMA | Se a,b, ce Rye fade Transitiva da Ordem | sea < beb < centioa < » ILUSTRACAOS Sex 0 entio ac < be. (iil) Sea < bee < 0 entdo ac > be. is D NUSTRAGAOS (a)Sex < y, segue, do Teorema 1.1.6(i), quex + 4. 62. Por exemplo, como 4 < 6, entdo 4(~ 3) > 6(—3)ou, equivalentemente, ~ 12 > ~18. < A parte (ti) do Teorema 1.1.6 estabelece que se ambos os membros de uma desigualdade forem multiplicados por um ntimero positivo, o sentido da desi- gualdade permanecera inalterado, enquanto que a parte (iil) estabelece que se ambos os membros de uma desigualdade forem multiplicados por um mimero negativo, o sentido da desigualdade sera invertido. As partes (ii) e (ii) também sto validas para a divisdo, pois dividir ambos os membros de uma desigualdade Por tum mimero d(d + 0) é equivalente a multiplicé-tos por 1, ILUSTRACAOS Sex < 8ey < 3, entdo temos, pelo Teorema 1.1.7, que x+y <8 + (-3) isto gx + ¥ <5. < ‘Vamos impor 20 conjunto R a condi¢do chamada de axioma do completa- mento (Axioma 12.2.5). O enunciado desse axioma sera adiado até a Seco 12.2, pois requer uma terminologia que serd melhor introduzida e discutida mais adiante. Entretanto, daremos agora uma interpretagao geométrica do conjunto dos nimeros reais, associando-os aos pontos de uma reta, chamada exo. O axio- ma do completamento garante que existe uma correspondéncia um a um, ou seja, biunivoca, entre 0 conjunto R € 0 conjunto de pontos de um eixo. Veja a Figura 1, onde o eixo é uma reta horizontal. Um ponto do eixo é esco: Ihido para representar 0 mimero 0. Esse ponto & chamado de origem. Uma uni dade de distancia ¢ escolhida. Entdo, cada niimero positivo x é representado pelo ponto localizado a uma distancia de x unidades a direita da origem, e cada imero negativo x é representado pelo ponto localizado a uma distancia de — x uunidades & esquerda da origem (note que se x for negativo, entdo — x sera posi- tivo). A cada nimero real corresponde um iinico ponto sobre o-eixo ¢ a cada, Ponto sobre o eixo est associado um tinico mimero real; logo, ha uma corres- pondéncia biunivoca entre R € os pontos do eixo. Assim, os pontos do eixo sio identificados com os mimeros que eles representam, ¢ 0 mesmo simbolo seré usado tanto para o mimero como para o ponto sobre o eixo que representa 0 mimero. Identificamos R como o eixo, que por sua vez é chamado de reta nu- mérica real. ‘Vemos que @ < b se ¢ somente se 0 ponto que representa o mimero a estiver & esquerda do ponto que representa 0 niimero b, Da mesma forma, a > b se e somente se © ponto que representa a estiver & direita do ponto que representa +_—- a b FIGURA 2 2 b FIGURA 3 > FGURA 4 ‘ b FIGURA 5 tO FIGURA 6 ~<—___—- » FIGURA 7 Nameros Reais, Funcdes e Gréfcos b. Por exemplo, o mimero 2 menor do que o mimero 5 ¢ 0 ponto 2 esta a esquerda do ponto 5. Poderiamos escrever também 5 > 2 ¢ dizer que o ponto 5 esta a direita do ponto 2. ‘O conjunto de todos os nimeros x que satisfazem a seqiiéncia de desigualda- des a < x < béchamado de intervalo aberto, sendo denotado por (a, b). Logo @o). Ointervalo fechado de a até b € 0 intervalo aberto (a, b) mais os dois pontos extremos a ¢ b, sendo denotado por {a, b]. Assim bela a] (~%, b) = [x|x a} (-@, b) = &|x “30 FIGURA 8 + FIGURA 9 FIGURA 10 1.1. Nimeros Reais ¢ Desigualdades 7 EXEMPLO 1 Ache e mostre na reta numérica real 0 conjunto-soluco da desigualdade Dede -3 Portanto, o conjunto-solugao ¢ o intervalo (~3, +6), ilustrado na Figura 8, EXEMPLO 2 Ache e mostre na reta numérica real 0 conjunto-solugéo da desigualdade 4<3x-2<10 Solugéo —_Adicionando 2.a cada membro da desigualdade obtemos desigual- dades equivalentes 6<3x<12 de x4 Assim, 0 conjunto-solucao é o intervalo (2, 4), conforme ilustrado na Figura 9. EXEMPLO 3 Ache € mostre na reta numérica real 0 conjunto-solugdo da desigualdade 1 =>2 Solugdo —_ Queremos multiplicar ambos os membros da desigualdade por x. Mas, o sentido da desigualdade resultante dependerd de x ser positivo ou nega- tivo. Observe que se x < 0, entdo a =<0 © que contradiz a desigualdade dada. Logo, precisamos considerar somente x > 0. Multiplicando ambos os membros da desigualdade dada por x, obtemos as seguintes desigualdades equivalentes: T>2 Fox x<} © conjunto-solucdo da desigualdade ¢ {x|x > 0} A {x|x < ¥} ou, equivalen- temente, {x/0 < x < J, que € 0 intervalo (0, $), conforme a Figura 10. EXEMPLO 4 Ache © mostre na reta numérica real 0 conjunto-solugao da desigualdade 7 ET ° $ FIGURA 11 1.1.8. DEFINIGAO b= lab t—___ e ye FIGURA 12 FIGURA 13, [Namoros Reais, Funpbes @ Gréficos Solugéo Para multiplicar ambos os membros da desigualdade por x — precisamos considerar dois casos. Caso 1:.x ~ 3 > 0; isto é, x > 3. Multiplicando ambos os membros da desigualdade por (x ~ 3) obtemos x<4x—12 -3x< -12 x>4 Assim, 0 conjunto-solugdo do Caso 1 {x|x > 3] 1 {x|x > 4} ou, equivalente- mente, {x|x > 4}, que é 0 intervalo (4, +). Caso 2: x — 3 < 0; isto & x < 3. Multiplicando ambos os membros da desigualdade por (x ~ 3) e invertendo © sentido da desigualdade, temos x>4x—12 =3x> =12 x<4 Logo, x deve ser menor do que 4¢ também menor do que 3. Assim, 0 conjunto- solugdo do Caso 2 seré o intervalo (2, 3). Se os conjuntos-solugdes para os Casos 1 ¢ 2 forem combinados, obteremos (==, 3) U @ +2), que esté ilustrado na Figura 11. (O coneeito de valor absoluto de um niimero é usado em algumas definigdes importantes. Além disso, vocé precisard trabalhar com desigualdades envolvendo valores absolutos. O valor absoluto de x, denotado por |x|, € definido por ta) af sex 20 x] (eee > ILUSTRACAO 6 3 I-3| js-14 < Da definigdo, o valor absoluto de um mimero é um niimero positivo ou zero; isto é, ndo-negativo. Em termos geométricos, o valor absoluto de um mimero x é sua distancia a0 0. Em geral, |a — b| & a distancia entre a e b, sem levar em conta qual & © maior mimero. Veja a Figura 12. A desigualdade |x| < a, onde a > 0, estabelece que na reta numérica real a distancia da origem até 0 ponto x é menor que a unidades; ou seja, —a@ < x < a. Portanto, x esta no intervalo aberto (~a, a). Veja a Figura 13. Parece entdo que o conjunto-solucdo de |x| < aé {x| a < x < a}. De fato, este ¢ ‘0 caso estabelecido no teorema a seguir. A seta dupla é usada aqui e em todo © texto para indicar que as afirmagdes antes ¢ depois dela sto equivalentes. 4.1.9 TEOREMA.| |x| 1.1.10 COROLARIO bee b>e FIGURA 14 1.4.11 TEOREMA 1.1.12, COROLARIO 1.1. Némeros Reais ¢ Desigualdades 9 onde a > 0 Prova Como |x| = xsex > Oe |x| = —xsex < 0, segue que 0 conjunto- solugdo da desigualdade |x| < a é a unido dos conjuntos x Qefe|-x —a. Assim, 0 conjunto-solugao de |x| < aé {x0 0 ‘A desigualdade |x| > a, onde a > 0, estabelece que na reta numérica real a distancia da origem ao ponto x é maior que a unidades; isto é x > a ou xX < ~a. Portanto, x esté em (~ 2, a) U (a, +). Veja a Figura 14. Assim, parece que 0 conjunto-soluedo de |x| > a [x|x > a} U [x|x < —a}. O teore- maa seguir estabelece que & esse o caso. Vocé deverd prova-lo no Exercicio 61. |x| > ae x > aoux< onde a > 0 Ix| 2ae@x>aoux< -a ondea>0 Os exemplos a seguir ilustram a solugio de equacdes e desigualdades envol- vendo valores absolutos. Resolva cada uma das equagées para x: (a) |3x + 2| EXEMPLO 5: (&) [2x - 1] = [4x + 3]; © [Sx + 4] = - Solugéo (@ Bx +2)=5 Essa equagdo sera satisfeita se 3x42=5 ou —Gx4+2=5 () 2x — 1] = [ax +3} Essa equacdo serd satisfeita se (© [Se +4]=-3 Como o valor absoluto de um mimero nao pode ser negativo nunca, essa equago nao tem solugao.

You might also like