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Diretrizes do planejamento urbano na cidade do Recife © presente livro é fruto da disciplina de Urbanismo I! da grade curricular do curso de Arqui- tetura e Urbanismo da Universidade Catdlica de Pernambuco realizada no primeiro semestre de 2018. Esse foi proposto e guiado pelas professoras Clarissa Duarte Cémara e Maria de Lourdes Carneiro da Cunha Nébrega com o objetivo de elaborar uma andlise urbanistica de uma rea delimitada que contempla os bairros da Boa Vista e da Soledade, na cidade do Recife. Para fazer essa andlise, serdo abordados temas como Urbanismo Sustentavel e planejamento urbano, luz de referéncias como os livros “Urbanis- mo Sustentavel: Desenho Urbano com a Natureza” (2013), do autor americano Douglas Farr, e “Cidades para um Pequeno Planeta” (2001) do autor italiano Richard Rogers, entre outras. Com base nessas referéncias, este trabalho tem a finalidade de apontar os problemas da drea estudada e fazer uma reflexio sobre as possibilida- des de solucao e melhoria deste espaco urbano. “O _urbanismo __sustentavel representa uma mudanca de postura nas geracées relativa a como os assen- tamentos humanos so projetados e empreendidos.” Douglas Farr Fonte: Farr Associates “Apenas através do planejamen- to sustentdvel poderemos proteger a ecologia de nosso planeta e cumprir, assim, com nossas responsabilidades perante as geracées futuras.” Richard Rogers Fonte: Dezeen 0. INTRODUGAO o.oo sen 1. POR UM URBANISMO SUSTENTAVEL. 1.1. URBANISMO SUSTENTAVEL: CONCEITOS E PERSPECTIVAS 2 6 1.2. DO GLOBAL AO LOCAL. 2. OS 10 PRINCIPIOS DO URBANISMO SUSTENTAVEL ......... 2.1, CRIE UMA GAMA DE OPORTUNIDADES E ESCOLHAS DE HABITACAO.. 2.2. CRIE BAIRROS NOS QUAIS SE POSSA CAMINHAR..... 2.3. ESTIMULE A COLABORAGAO DA COMUNIDADE E DOS ENVOLVI 2.4, PROMOVA LUGARES DIFERENTES E INTERESSANTES COM SENSO DE LUGAR. 2.5. FACA DECISOES DE URBANIZAGAO PREVISIVEIS, JUSTAS E ECONOMICAS... 2.6. MISTURE OS USOS DO SOLO... 2.7. PRESERVE ESPACOS ABERTOS E AMBIENTES EM SITUACAO CRITICA.__ 2.8. PROPORCIONE UMA VARIEDADE DE ESCOLHAS DE TRANSPORTE 2.9, REFORCE E DIRECIONE A URBANIZACAO PARA COMUNIDADES EXISTENTES. 2.10,TIRE PROVEITO DE PROJETOS E CONSTRUGOES COMPACTAS 3. OBJETIVO. 4, LEITURAS URBANAS, 4.1. ASPECTOS HISTORIOCOS. 4.2. ASPECTOS LEGISLATIVOS...... 4.3. ASPECTOS MORFOLOGICOS. . 4,4. ASPECTOS TIPOLOGICOS... 4S. DENSIDADE 4.6. INTERFACES ARQUITETONICAS........ 4.7. MOBILIDADE 4.8. VEGETACAQ..... 4.9. MOBILIARIO. 5. DIRETRIZES DE PLANEJAMENTO.. 5.1. CRIE UMA GAMA DE OPORTUNIDADES E ESCOLHAS DE HABITAGAO 5.2. CRIE BAIRROS NOS QUAIS SE POSSA CAMINHAR 5.3, ESTIMULE A COLABORACAO DA COMUNIDADE E DOS ENVOLVIDOS. 5.4. PROMOVA LUGARES DIFERENTES E INTERESSANTES COM SENSO DE LUGAR 5.6. MISTURE OS USOS DO SOLO........ 5.7. PRESERVE ESPACOS ABERTOS E AMBIENTES EM SITUACAO CRITICA 5.8. PROPORCIONE UMA VARIEDADE DE ESCOLHAS DE TRANSPORTE....... 5.9, REFORCE E DIRECIONE A URBANIZACAO PARA COMUNIDADES EXISTENTES....-----......--.97 5.10. TIRE PROVEITO DE PROJETOS E CONSTRUCOES COMPACTAS ___ 7 98 6. PLANOS ESPECIFICOS. 99 6.1 MAPA DO CIRCUITO DAS PRACAS.- _ a “101 6.2 ZOOM DA INTERVENCAO- PRAGA OSWALDO CRUZ 7 101 6.3 ANTES E DEPOIS- PRACA OSWALDO CRUZ oaseaeeortomerrsnaicer reves DD 6.4 Z00M DA INTERVENCAO- PRACA PARQUE AMORIM 6.5 ANTES E DEPOIS- PRAGA PARQUE AMORIM ... 6.6 ZOOM DA INTERVENCAO- PRAGA DO ENTRONCAMENTO a 105 6.7 ANTES E DEPOIS- PRAGA DO ENTRONCAMENTO.......---- .. 108 CONCLUSAO - a - 107 7. REFERENCIAS - . eon 108 Em um tempo em que as pessoas vivem cada vez mais isoladas umas das outras, 0 urbanismo passou a refletir cada vez mais esse estado. Segundo Farr, “[..] escolhemos uma vida que cada vez mais se limita a ambientes fechados.” Isso ocorre porque as. caracteristicas desagradaveis dos espacos abertos acabam por estimular que as pessoas evitem ficar na rua, e que escolham, na maioria das vezes, 0 auto- mével particular como meio de transporte predomi- ante. Quando esse modo de viver e uma ocupacao. urbana desordenada, muitas vezes ocasionada pela aglomeragio crescente das pessoas nas grandes cidades, se juntam num mesmo contexto, torna-se de extrema importancia que as discusses acerca do planejamento urbano passem a incluir conceitos que envolvem sustentabilidade urbana, priorizando a socializacdo do espaco piiblico de forma igualitaria e justa e uma infraestrutura que atenda as necessida- des da populacio. Este trabalho tem como objetivo definir dire- trizes de planejamento urbano para a 4rea em estudo, a partir dos resultados obtidos na pesquisa, juntamente com as ideias apresentadas pelos livros referéncia ~ “Cidades para um pequeno planeta”, de Richard Rogers e “Urbanismo Sustentavel: desenho urbano com a natureza”, de Douglas Farr. A area de estudo é situada na cidade do Recife e, conforme o mapa na pagina seguinte, abrange predominantemente o bairro da Boa Vista, além de parte do bairro da Soledade. Ela é delimita- da pelas avenidas Agamenon Magalhies, Jodo de Barros e Conde da Boa Vista. Apresenta em suas vias principais um intenso fluxo de pedestres, de trans- porte piblico e, especialmente, de automéveis parti- culares, 0 que torna essa drea um ponto de grande circulagao de pessoas. Foi identificado que nesta érea tem uma forte presenca de instituigdes educacionais, assim como, pontos de comércio e de servigos, além de apresen- tar imdveis residenciais. No que se refere 8 metodologia utilizada para © desenvolvimento deste livro, a pesquisa foi dividida entre todos os alunos da turma, ficando cada equipe responsavel por elaborar uma anélise do poligono estudado, tomando como base um dos 10 principios do crescimento urbano inteligente, citados por Farr em seu livro. Posteriormente, cada equipe apre- sentou em sala de aula os resultados de sua pesquisa. A partir disso, 0 resultado dessa analise foi reunido num sé produto e usado como base que cada equipe desenvolvesse seu préprio trabalho. Assim sendo, o presente trabalho é estruturado da seguinte forma: + Ocapitulo 1 expde uma visio mais detalhada dos conceitos do Urba- nismo Sustentavel e a sua impor- tancia no planejamento das cida- des contemporaneas. Além disso, apresenta uma perspectiva global acerca das dificuldades de implan- tacdo desses principios, assim com uma perspectiva local sobre o assunto; +O capitulo 2 apresenta os resulta- dos da pesquisa realizada. Os dados obtidos no estudo foram analisados um a um através das lentes dos 10 principios do cresci- mento urbano inteligente, mostra- dos por Douglas Farr, os quais tem como objetivo transformar as cida- des em locais holisticamente sustentaveis; * 0 capitulo 3 ¢ indicado o objetivo geral deste trabalho realizado. [J eater de santo Amaro Bairro da Soledade Por um Urbanismo ® Sustentavel conceitos Pea ee ei © ato dos individuos de reconhecerem, preocuparem e preservarem o meio ambiente, definem atitudes sustentaveis, pois, 0 termo “sus- tentabilidade” esté associado a um conjunto de ages que visam preservacio e cuidado com o meio natural. Paralelamente, encontramos 0 termo “sustentabilidade urbana”, conceito que defende que as cidades devam ser analisadas como um sistema integrado, ndo apenas de uma ou outra necessidade, sempre com o intuito de que 05 individuos consigam viver satisfatoria- mente no ambiente que escolheu e em dilogo com a natureza. Para 0 aprofundamento do termo “suste- ntat lade urbana’, foi utilizado o livro Urbanis- mo Sustentavel de Douglas Farr (2013), onde o autor defende que um estilo de vida sustentdvel se constréi com base nos principios que surgiram no final do século XX, denominados como “Cresci- mento Urbano Inteligente do Novo Urbanismo” e “Edificagdes Sustentaveis”. Tais termos entrelaca- dos com uma ideologia de compacidade, comple- tude, biofilia e tecnologias construtivas avanca- das, favorece um desenho urbano que cria e amplia espacos saudaveis aos homens, natureza e animais, criando um verdadeiro ambiente suste- ntavel. Também é referido e defendido pelo autor, dez atitudes a serem realizadas, afim de consegu reduzir os danos urbanisticos e melhorar a qual dade de vida dos cidadaos (ver quadro a seguir). Pela 1 vez regras e diretrizes foram estabele- cidas ao criarem os 10 principios. A partir desse momento, nao é mais aceitavel em dreas nao urban- izadas e dependentes de automéveis erguer e cacées e instalagées de alto desempenho e certifi- ca-las como obras sustentéveis. Assim como, ndo ¢ correto afirmar que bairros urbanos com variedade de usos, modais e instalagdes de alto desempenho sejam urbanisticamente sustentaveis se no existe generosas areas verdes, como pracas parques. ‘Além das regras e diretrizes referenciadas acima, Farr se reporta a0 movimento do CNU (Con- gresso para o Novo Urbanismo), evento que aconte- ceu para a criacdio de uma carta que refutava o movi- mento dos CIAM e a Carta de Atenas relativos ao urbanismo. Em tal carta, foram adicionados trés elementos importantes ligados ao Novo Urbanismo, sendo eles: bairros, distritos e corredores. E dese- jJavel que os bairros sejam compactos, disponham de ‘uso misto e os pedestres sejam priorizados. Os distri- tos, assim como os bairros, devem ser compactos, no entanto, terem Unico uso. Jé os corredores, devem, ter variedade nas linhas que articulam com os bair- ros e distritos. Em resumo, Farr em seu livro, exemplifica claramente cinco itens que sdo essenciais para atit gir o carater de urbanismo sustentével,sendo eles: compacidade, completude, conectividade, corredor de sustentabilidade e biofilia. Em primeiro momento, para verificar a importéncia dos termos citados anteriormente, é preciso compreender a defini¢So de bairro e sua relac3o com os individuos e com o entorno. Bairro: Em termos classicos, bairro é uma subdi- visio de uma cidade ou localidade, ja para os novos arquitetos e urbanistas, a defini¢go de bairro € 0 assentamento que tenha centro e limites definidos, que respeite os pedestres e seja diversificado em relaco a tipos de publico, edifi- cagées e usos. Em complemento a ambas definigéies, um bairro costuma ter identidade prépria e seus habitantes tendem a partilhar um sentimento de pertencimento e coletividade. Um bairro pode ter nascido por uma decisao adminis- trativa das autoridades, por um desenvolvimento imobilidrio e ou por movimentos sem terra. Por fim, para que o bairro seja acolhedor e sustentavel, com base nos argumentos de Farr é necessario que tenha as seguintes atribuigdes: Compacidade: Segundo Farr (2013, p. 30), “O urbanismo sustentavel é simplesmente impossivel em baixas densidades, inferiores a uma média de 17,5 ou 20 unidades de habitac%o por hectare”. Embasado nesse raciocinio, & possivel afirmar que 0 termo compacidade esta direta- mente ligado ao adensamento populacional e edificado, A compacidade também sugere que existam usos mistos no mesmo local, com o intuito de gerar maior dinamicidade para o espaco, criar oportunidades comerciais de longo prazo e favorecer os cidadéos, pois, nao torna-se necessario utilizar automéveis particulares para chegar ao local de destino, 0 trajeto poderd ser feito através de caminhadas, pedaladas e ou transportes piblicos. Tais possibilidades, favore- cem a redugdo da quantidade de gases nocivos soltos no meio ambiente, a pratica de atividade fisica e tende a diminuir as despesas com satide. Além disso, atribui aos moradores o papel de vigia social e tende a diminuir a criminalidade local. Inserir varias pessoas em um mesmo espaco favorece também a integridade do solo natural, pois resulta em menos rea construida por hectare. Tais, reas preservadas podem ser mantidas intocadas ou trabalhadas com generosos espacos verdes, favore- cendo a captura de gas carbénico, homogeneidade da distribuigdo dos ventos e evitando as ilhas de calor nas cidades e arredores. Por fim, a compacidade nas cidades de forma bem planejada e fiscalizada, favorece a sustentabili- dade comercial, humana e ambiental. ‘Ozoneamenta das atvidades indur 6 utlagho e dependnca dox

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