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Sala le A (ot aw] organizada Esta obra é dedicada A todos os amigos participantes da Jornada Falando de Brincar 2020, que gentilmente narraram suas prdticas e concep¢des acerca da importdncia do brincar na infancia. Amilhares de professores que, diante das incontdveis mudangas ocorridas em virtude da pandemia e do isolamento social, precisaram reinventar seu oficio. A todas as criancas que estdo em suas casas, sedentas por brincar na escola, com o desejo de que sejam acolhidas na volta a escola - assim que for possivel - de forma generosa, brincante e libertadora! re eae) a o. SRNEATRS, 5 SL ins Apresentacao por Selma Monteiro 04 “A Masica na Educacdo Infantil” por Ana Carolina Manfrinato 06 “Brincar na Natureza: uma Relacao de Encantamento” por Eloisa Mota 07 “Brincar: uma experiéncia de alegria e liberdade” por Rosa Cavalcante 09 “Como brincar envolvendo a Psicomotricidade?” por Luciana Imperador 11 “Falando de Brincar” por Selma Monteiro 12 “O Brincar dos Bebés: agGes, express6es e interagées” por Valéria Pasetchny 13 “O Brincar na Educacao Inclusiva” por Daniela Soléo 14 “O Brincar no Ber¢ario” por Heloisa Marinho 15 “O Livro é um Brinquedo de Ideias” por Bia Villela 17 “O papel da Gestao em uma Escola Brincante” por Alessandra Piccina 18 “O papel do Coordenador Pedagégico em uma Escola Brincante” por Bethania Rezende 19 “O papel do Orientador Pedagégico em uma Escola Brincante” por Patricia Ribeiro 20 “Planejamentos brincantes na Infancia” por Charles Caubi Brandao 21 Sobre os autores do Ebook 22 Recortes tematicos e participantes da Jornada Falando de Brincar 2020/25 APRESENTACA Marco e abril de 2020: 0 cenario de isolamento social diante da Pandemia de Covid 19 0 impedimento de voltarmos as escolas me causa grande inquietacdo. Vejo um mar de professores em busca de alento, de estudos, de meios para se preparar para algo que ainda nao sabiam o que seria. Procuro maneiras de amenizar a solidao e a angustia da incerteza e produzir algo que pudesse ser bom e util para mais pessoas que tivessem igual atitude inquieta. Penso que talvez o mais importante, no momento, seria manter vinculos, j4 que a situacdo compulséria em que estavamos vivendo vinha exigindo verdadeiras adaptacées emocionais e didaticas. Isso tudo me levou a questionar: mas qual seria a melhor maneira? Como poderia produzir algo de bom para alguém? Como poderia unir gente do bem que quisesse construir novas pulsacées? Aideia me chegou num sonho. Rememorei minha experiéncia inicial como formadora de professores e, assim, a Jornada Falando de Brincar gestava-se calmamente, transbordando ideias e renovando em mim o entusiasmo daquela missao antiga. Temos tanto para falar sobre o brincar! Como atender, contudo, o interesse de diferentes pessoas em uma mesma tematica? A proposta de dividir a Jornada em cinco eixos tematicos interligados trouxe diferentes linguagens que se entrelacavam. — quem faria parte desta ciranda? Comecei a buscar nomes de pessoas que acreditassem que aprendemos em interacdo, que as criancas so protagonistas e que confiassem num trabalho em que somos bons enquanto estivermos de maos dadas, como num grupo de apoio que pudesse nos trazer 4nimo, superar as anglistias geradas pela incerteza de futuro e nos encher de esperanca. Regada de muito planejamento e memérias afetivas, incentivada por meu marido Fabio e minhas filhas Ana Luiza e Livia, ancorada na enorme poténcia criadora destas duas, nasceu entao a Jornada Falando de Brincar 2020! E como um sonho bom é aquele que nao se sonha sé, Heloisa veio fazer alianca na concretizacao deste sonho. Contatos, parcerias e vinculos foram se consolidando. Foram 25 convidados queridos e generosos, excelentes profissionais que trafegam pela infancia em diferentes vertentes e que aceitaram nosso convite para Falar de Brincar em 22 Lives realizadas durante todo o més de maio/2020! A proposta que inicialmente se realizaria de segunda a sexta-feira se estendeu também aos sdbados, ajudando mais pessoas a regenerar a crianca esquecida em si. A Jornada Falando de Brincar 2020 reuniu na frente das telas milhares de pessoas entre professores, especialistas, familias, simpatizantes do assunto com diferentes vis6es sobre a educacao e vindos de diferentes lugares do Brasil e mais trés paises. Todos ansiosos por aprender, desejosos por participar como atores e autores neste lugar historico que estavamos e olhar a crianga, a infancia e o brincar com novos olhos. Foram mais de 11.200 mil visualizagées ao vivo e mais centenas de outras pelo |IGTV e Youtube (criado a pedido de tanta gente)! Pessoas que ao ouvir tantas narrativas, buscavam, em suas infancias, memoérias de suas experiéncias, tentando regenerar a natureza infantil por vezes escondida em adultos sérios. No quadro “Crianga também fala de brincar” estivemos de ouvidos atentos a criangas e suas mes relatando experiéncias e sensacdes enquanto brincam e em situacées onde sao privados de brincar. Falamos de esperanca, empatia, solidariedade, generosidade, apoio, sentido, significado. Sugerimos leituras. Buscamos um jeito de olhar para a infancia com novos olhos, validando propostas que ampliassem vivéncias positivas, que incentivassem a inventividade, a pesquisa e a criagdo sem que o brincar pudesse ser sindnimo de fragilidade pedagégica. Cultuamos o brincar como 0 mais poderoso jeito de aprender. Acho que conseguimos! Diante da enorme fluéncia de fazeres neste momento impar, alguns de nossos convidados deixaram aqui, nesse E-Book, o produto deste trabalho lindo. Desejamos que estas narrativas facam eco no coracao de cada leitor. E de coracdo, esperamos ter constituido com todos vocés, por meio desta ciranda feita em muitas maos, bons e intensos lacos afetivos! Selma G. de C. Monteiro PMc ener CRU Muito se fala sobre a importancia da Musica na Educacao infantil, mas 0 que de fato é importante para se ensinar em misica? $6 ao cantar com os alunos a professora j4 pode afirmar que esta ensinando musica? Definitivamente a resposta € nao! Cantar por cantar, bater em instrumentos por bater, ndo ensina musica. A musica - assim como todas as areas de conhecimento - tem seus prdprios contetidos, Em geral as professoras sabem o que ensinar sobre matematica, o que ensinar sobre ciéncias, etc. Ou seja, elas sabem quais os contetidos especificos de cada area a que uma crianca precisa ter acesso, em determinada faixa etéria. Porém, quando se trata de musica, é como se esta nao tivesse contetidos e servisse apenas de recurso didatico para outras 4reas, quando, por exemplo, a musica é usada recurso didatico para ensinar cores, letras, nimeros, partes do corpo ou qualquer coisa que nao seja a propria musica. Ora, para ensinar musica precisamos saber quais contetidos pertencem-na e assim explora-los. Como vimos na Live intitulada A Musica na Educacao Infantil, os contetidos basicos e preliminares do ensino de musica se baseiam nos Parametros Actsticos do Som e eles podem edevem ser ensinados de maneira ludica e divertida. Tais parametros sao: timbre, intensidade, altura e duracao. Dessa forma, desde o bercario acrianca precisa ter contato e ser estimulada a conhecer e compreender tais parametros. Os Parametros Actisticos do Som nao sao os tinicos contetidos musicais a serem ensinados durante a Educacao Infantil, porém eles sao a base para um bom comeco de iniciacdo musical no contexto escolar. Vocé que nos assistiu, convido que coloque maos a obra no ensino musical e ndo se esqueca de brincar com ele! Sie ye ME ele ke (sy Os modos de experimentar, de observar, de investigar, de sentir, fazem com que a crianca desenvolva uma positiva relacao de pertencimento com o meio. Em ambientes naturais, as criancas tém a oportunidade de perceber o mundo ao seu redor. Além disso, sensibilizam o olhar, devido a uma grande diversidade de detalhes, cores, formas, aromas e miudezas que estao bem perto, como 0 voo de uma borboleta ou as nuances de cores do céu. E possivel entender, ento, que a percepcdo é essencial para a vida humana, pois & através dos sentidos que somos capazes de compreender o meio onde estamos inseridos e, assim, assimilar as informacgdes que estao sendo transmitidas a nds. As vivéncias com e na natureza possibilitam caminhos para a interacdo, 0 cuidado, a preservacao e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra e assim, a crianca vai desenvolvendo competéncias a nivel cognitivo, afetivo, fisico, comportamental, interpessoal e social. Brincar ao ar livre € essencial para o desenvolvimento infantil. No momento em que brinca ao ar livre, a crianca se move com mais liberdade, descobre a si mesma, gerencia velocidades e distancias, descobre objetos naturais, sente aromas, se conecta com outros seres. Coma percepcao mais agucada, através de intimeras vivéncias e exploracdo dos sentidos, as criancas alcancam miudezas que estiveram sempre ali e que antes nao eram percebidas, passando, assim, a enxergar com outros olhos. Com olhos de encantamento e de curiosidade! Mas por que encantamento? Porque encantamento é admiracao, magia, prazer, é algo que nao nos sai da meméria! As chuvas no més de abril de 2019 foram frequentes e, ao chegarmos a escola, 0 espanto tomou conta das criancas quando se depararam com o pomar alagado. Foi ai que uma aluna sugeriu galochas e capas para se equiparem e explorarem o local. Como acreditamos que durante as rodas de conversa sempre temos algo novo para aprender, mais uma veza roda se fez presente para debatermos o assunto sobre roupas adequadas para uso em dias de chuva. No decorrer da conversa, o grupo listou e desenhou possiveis roupas, objetos e acessérios. Com tudo em maos, fomos a experiéncia e as criancas se encantaram com as pocas! E comentarios foram surgindo: “El6 posso pular na poca?”, “El6, podemos fazer isso de novo?” Exploramos, contemplamos e vivemos intensamente aquele momento! No dia seguinte, ao chegarem a escola, as criancas perceberam que as pocas haviam sumido! E era nitido o desapontamento das criangas. Mas, afinal, o que tinha acontecido? Surgiram, porém, diversas perguntas, como: “El6, por que a chuva alaga o pomar?’, “Por que no dia seguinte o pomar estd seco?”, “Como a dgua seca?” Corde rele) As pocas de agua haviam desaparecido do pomar e abriram caminho para novos questionamentos, novas pesquisas levando as criancas em busca de respostas. A partir dai fomos buscar, na pratica, experiéncias envolvendo esses conceitos. E a partir de um problema, ou de uma atividade investigativa que a crianca se mobiliza e se sente motivada a descobrir, por meio da pesquisa. Despertar a curiosidade implica promover o intercambio da crianca com ambientes desafiadores que conduzam seu pensamento para o que est4 em foco na investigacao. Ao brincar com a Natureza, as criangas se conectam com o mundo, criando um sentimento positivo com o mesmo! Segundo CARLTON & WINSTON, 1999: “As criancas estéo sempre prontas para aprender - é sé uma questdo do que vao aprender, como vao aprender, e em que contexto véo aprender.” Portanto, s6 se amplia a consciéncia critica, s6 se conquista o pensamento ldgico e s6 se fortalece a verdadeira “humanidade” das criancas, num ambiente de ludicidade, amor, respeito, liberdade e encantamento! Tec eR eee eee Ra cele y “Se a crianca que vocé foi um dia viesse te visitar, serd que ela se reconheceria?” Trago essa provocacao que inicia a musica “A crianca que eu fui um dia’, da Banda Reverb, para iniciarmos a nossa conversa. No decorrer da musica, ha a seguinte reflexao: se pudéssemos nos encontrar com a aquela crianca que fomos, sera que ela teria orgulho do adulto que nos tornamos? Sera que nos reconheceriamos? Quem convive comigo sabe que tenho um compromisso com a minha crianca, de nao deixar a alegria se esvair. Ela, a minha Rosinha crianga, nasceu em uma favela do Rio de Janeiro. Fui a cacula de trés irmaos homens. Eramos uma “escadinha”, como diziam na época. Tinhamos (e ainda temos) as idades muito proximas. Brincdvamos na rua, na pracinha, no quintal (que parecia gigante), apesar dos riscos de um lugar tao violento. Aos 10 anos, vim morar com meu pai, em Brasilia. Apesar de nao estar mais na favela, continuava brincando pela rua. Era a camped do pique-bandeirinha! Brinquei muito... até que um dia, a rua sentiu falta de mim. A troquei pelo trabalho. Aos 16 anos, comecei como estagiaria em uma escola. Troquei as brincadeiras la da minha rua pelas brincadeiras com as criancas pequenas da escola. Mas continuava moleca. Jogava bola com eles, fazia bolo de areia, me fantasiava. Fui percebendo que essa seria a minha melhor estratégia de conexdo com os pequenos. Logo depois, me tornei monitora do bercario e aprendi a brincar com os bebés. Depois, tornei-me professora da Educacdo Infantile... [4 se vao 25 anos. Lembro-me de uma vez que eu tentei convencer minhas colegas de trabalho a nos fantasiarmos com os personagens do Sitio do Picapau Amarelo para comemorarmos o Dia Nacional do Livro Infantil. Bom... eu achei que todas haviam topado. Mas, no dia seguinte sé apareceu a Emilia... que no caso era eu mesma! Minhas criangas amaram. Algumas nao me reconheceram. Estavam euféricas. Foi uma farra danada! Quase no final da manha, fui ao banheiro e ouvi duas professoras conversando la fora: - Ué? Vocé ndo veio de fantasia? Ea outra colega respondeu: - Eu ndo! Sou professora! Nao sou palhaca! Foi ai que comecei a refletir sobre ser professora e sobre ser palhaca. Por esse motivo e mais alguns que resolvi me lancar em novos desafios e viver novas experiéncias. Quem sabe ser palhaca em outro lugar? E foi nessa virada, nesse novo comeco, em uma nova escola, que percebi o quanto eu tinha passado meus primeiros 16 anos profissionais apenas “apertando parafusos’. Eu estava executando planejamentos copiados dos anos anteriores. Permanecia fazendo escolhas pelas criancas. Decidiamos, IA em janeiro, quais temas e contetidos Corde rele) trabalhar com as criancas durante o ano inteiro. Era bem facil: listavamos todas as datas comemorativas e nas semanas sem data especifica, inventavamos temas como: formas geométricas, primavera, animais de estimacao, dinossauros e por aj vai... E no ano seguinte... tudo do mesmo de novo! E por que sera que esta nova escola me proporcionou uma nova maneira de olhar? Simplesmente porque a escola sabia que s6 através do estudo e da formacao dos professores é que conseguiriamos parar de apertar aqueles parafusos. A escola estava passando por uma reestruturacdo curricular. Tinha uma nova (e linda) diretriz para a educacao infantil totalmente inspirada em Reggio Emilia e no olhar respeitoso para as infancias. Comecei a devorar os livros e confesso que, em alguns momentos, cheguei a pensar que tudo o que eu lia parecia muito utépico. Cheguei a ouvir de uma outra colega na 6poca: “Vocé também estd na modinha de Reggio?” E foi ai que eu me senti desafiada outra vez a confrontar 0 que eu lia com tudo o que eu ja havia vivenciado enquanto educadora. Afinal, o que tudo isso tem a ver com o brincar? Reggio Emilia € um municipio italiano de, aproximadamente, 173 mil habitantes. Um lugar que exala ndo s6 educacao, mas uma educacao que eu acredito, uma educaco que respeita as criancas, que percebe sua poténcia, sua forca. Um lugar que também estimula os educadores a serem eternos pesquisadores. Considerada uma das melhores do mundo em 1995, a histéria da Educacao Infantil de Reggio Emilia comegou mesmo no pés-guerra, 50 anos antes, quando a cidade estava destruida e o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, junto com as mes da regido, construiram com as prdoprias mdos escolas para as criancas pequenas. Falar de Reggio endossa minha crenca e minhas conviccées sobre o brincar porque nesse didlogo com Reggio ha um respeito muito grande pelas criancas e suas especificidades. Respeitar a infancia é respeitar suas subjetividades, suas especificidades e reconhecer que o brincar é tao importante quanto respirar. Que o momento do brincar é © mais importante de todos. Que ele oportuniza a imaginacado, a criatividade, as interacdes com seus pares, com os adultos, com o ambiente e até com ela mesma. Que essa crianca pequena precisa ser vista como ela é. Que ela nao precisa ser preparada para nada, além de ser ela mesma. E que ha tanto aprendizado no brincar... Alias, o brincar é um dos seus direitos, garantido nas DCNEI e na BNC. Apesar da total clareza sobre a importancia do brincar na vida das criancas, temos um longo caminho pela frente: o de conscientizar as pessoas grandes da sua real necessidade. A familia, talvez, seja o nosso maior desafio, pois como dizia Rubem Alves: “Coitados dos adultos! Arrancaram seus olhos vagabundos e brincalhées de crianca e os substituiram por olhos ferramentas de trabalho”. Como brincar envolvendo a psicomotricidade? A brincadeira é muito mais que uma forma de passar o tempo. A brincadeira é a principal forma de expressao da crianca e o principal meio dela observar e interagir com o mundo. Brincar é desenvolver a motricidade promovendo autoconhecimento corporal, a criatividade e a imaginacao. E na brincadeira que a crianga vivencia muitas questées relacionadas ao bem-estar! Em nossa Live compartilhamos ideias de brincadeiras psicomotoras como: treino de pinca; transporte de objetos; percurso com tabuleiros de caixa de ovos, percurso com um caminho riscado em folha onde a crianca percorre com um carrinho de um lado para 0 outro, respeitando a direcao da escrita (esquerda para a direita, de cima para baixo); equilibrio de bolinhas e o pote de fitas. Este famoso pote de fitas, que de inicio mostra-se como um despretensioso objeto, além de treinar a praxia fina, pode funcionar como um instrumento de auxilio em momentos de afastamento da crianga ou na auséncia materna, como, por exemplo, no periodo de adaptacao escolar ou no retorno da mae ao trabalho, apés o periodo de licenca maternidade. Destaco a importancia de todos os instrumentos que foram usados como exemplo na Live e demais brinquedos, pois acredito que todos eles podem iniciar gostosas brincadeiras com as criancas. Defendo que as brincadeiras nao devam ser isoladas, mas praticadas diariamente dentro do ambito escolar sendo colocadas em pratica pelo professor, que neste aspecto funciona como 0 adulto mediador de conhecimentos. Brincar é a atividade mais saudavel para a crianca jé que trabalha desde seu bem-estar fisico, porque explora seu corpo como um todo, bem como promove sua sauide mental. Falando de Brincar Nasci em uma casa falante e brincante. Com enorme quintal cheio de arvores, um catavento e balanca (ambos construidos pelas maos artesas de meu pai) nossa casa tinha gente e espaco para brincar do amanhecer ao findar o dia. Ser a sétima e Unica filha numa familia com oito irmaos me trouxe experiéncias marcantes. Sempre rodeada de gente, aprendendo com ganhos e perdas, guardo lindas memérias daquela época, Embora fascinada pela brincadeira de rodar pido, ndo aprendi a fazé-lo. “E brincadeira de menino” ~ ouvia. Até hoje tenho por eles - os pides - grande fascinio. Chego a recordar-me do som deles na areia deixando rastros em rodopios cheios de energi: ‘Quando meus pais se mudaram de casa, eu tinha ainda sete anos. O quintal saiu da planta, mas ganhamos uma rua cheia de meninos e meninas para brincar e uma praca enorme, hd 100 metros de casa. Brincadeiras sem fim estavam na rotina didria: casinha, me-da-rua, esconde-esconde, taco, vélei, bandeirinha, esconderijos, bicicleta, patins, catar pedrinhas na enxurrada quando chovia... Na adolescéncia cultivei meu lado brincante fazendo parte de um grupo voluntario que visitava Asilos e Orfanatos para brincar com criangas e idosos. Enquanto cursava o Magistério me vi, ainda com 17 anos, a frente de minha primeira turma de Educacao Infantil em escola privada. Brincar era sempre prioridade! Nao sei se a Educacao Infantil me escolheu ou se eu a escolhi. Sé sei que a decisao se deu por poder manter em mim a heranca ea oportunidade de brincar. Nas primeiras turmas de alunos lembro-me dos dois unicos acidentes que vivenciei, enquanto professora, em momentos de brincar: uma crian¢a que machucou a perna na gangorra e um menino que machucou o dedo no trepa-trepa. Lembro-me do corre-corre, dos primeiros socorros para curar 0s ferimentos, os quais nao foram graves. Em mim deixou o medo destes brinquedos os quais até hoje tento vencer. Anos 90, eu jd atuava como Formadora de Professores quando tive a oportunidade de vivenciar uma das épocas mais marcantes de minha experiéncia profissional. Junto com minha amiga Sueli Santos criamos 0 “Falando de Brincar’, formacao que tinha como missao disseminar a importancia dos brinquedos e da brincadeira para as criancas da Educacao Infantil. Centenas de professores participaram conosco por anos a fio, renovando teorias, construindo brinquedos e vivenciando na pratica momentos de brincar. Unir teoria e pratica me foi possivel pelo privilégio que tive de, enquanto formadora, trabalhar também como professora. No chao da sala de aula até hoje sou inspirada pelas criangas a brincar mais, a sentar mais no chao, a superar o medo da balanca e do trepa-trepa, a ouvi-las e descobrir materiais de brincar que Ihes permitam mais pesquisas e mais descobertas. Era ano 2020. Sob o cendrio em que professores se reinventavam e criancas ficavam em casa devido ao isolamento social causado pelo Covid 19, li, estudei, pesquisei. Eu e centenas de milhares de professors em busca de respostas. Senti-me inquieta a produzir algo, nao para servir de modelo, mas para ajudar a pensar. Senti falta de brincar. Resolvi, de novo, Falar de Brincar agora diante da clareza latente de que o brincar seria a Unica saida para nos fazer inteiros, independente de sabermos ou nao o dia em que deixariamos nossas casas para andar livremente nas ruas. Caminhemos entdo, em busca de novos sentidos na certeza de que quando recebermos as criangas de volta para brincar na escola, serd um novo momento, realmente libertador! Para elas ¢ para n6: Teele (eet lsere lal Mette ey Weald Brincar é natural, 6 uma necessidade fundamental da crianca que faz isso desde bebezinha. E a linguagem da crianca, sua maneira de ser e estar no mundo, e se é uma linguagem é preciso deixar que ela se expresse. Emmi Pikler, pediatra hingara, desenvolveu uma abordagem para o desenvolvimento infantil baseada em quatro principios que se relacionam e um deles diz respeito a autonomia do bebé por meio da motricidade e do brincar livre. Entende-se que o bebé auténomo é aquele que exerce a sua vontade, explora suas capacidades e também seus limites a partir de possibilidades de viver e experimentar a motricidade e o brincar livre. E para que o bebé exerca todo o seu potencial criativo para explorar e brincar de forma curiosae espontanea, o adulto precisa entender as origens do brincar para o bebé, caprichando na organizacao do ambiente, deixando o espaco propicio e com materiais adequados para cada fase do desenvolvimento infantil. Para que possamos oferecer um ambiente que favoreca o desenvolvimento satisfatério da brincadeira é importante considerar as categorias do brincar livre que sao: V Encaixe: descobrem que alguns objetos cabem dentro um do outro, que produzem sons, tem texturas e formas diferentes. V Coleta e Recoleta: comecam a juntar objetos, a recolher tudo e vao percebendo gradativamente as semelhancas entre os objetos. V Colecées: separam objetos do mesmo tipo, tem algum critério de selecdo envolvido nessa escolha dos objetos V Construcées: enfileiram, empilham, testam equilibrio, verticalidade, peso e formatos dos objetos. Ao favorecermos objetos especificos vamos observar que o bebé nao brinca para aprender contetidos e sim que as aces de brincar sao contetidos de aprendizagem. O Brincar na Educagao Inclusiva Em minha pratica como professora de Sala de Recursos Multifuncional em escola publica municipal atendo criancas com deficiéncia intelectual, deficiéncia fisica, TEA (Transtorno do Espectro Autista) e altas habilidades. Para atendé-las tenho o brincar e o uso de jogos pedagdgicos como fator primordial para desenvolver suas habilidades especificas. Em minha realidade de trabalho atendo também criancas encaminhadas por meio de relatério elaborado por professora da sala regular, sob a ciéncia dos responsdveis e da Equipe Gestora. Jé as que possuem deficiéncia visual ou auditiva so atendidas por professores especialistas nesta deficiéncia, além de terem o suporte de intérpretes e transcritores, quando necessario. Chamo atencao de todos para o uso da terminologia correta, pois defendo que devemos nos referir as criancas atendidas como "criangas/alunos com deficiéncia" ou “criancas/alunos com necessidades especiais". Acima de tudo defendo que sejam chamados por seus nomes e ndo apontados como “o aluno deficiente”, ou “o autista’. Eles merecem nosso respeito e o reconhecimento de suas individualidades e potencialidades. Meu trabalho envolve procedimentos divididos em seis etapas quais so: 1° Observacao da crianca em diferentes contextos na escola, observando também questGes de acessibilidade. 2° Conversa com a professora da sala regular para troca de informacées sobre a aprendizagem da crianca. 3° Abordagem com os responsdveis pela crianga a fim de colher dados quanto ao seu desenvolvimento e obter informacées clinicas. 4° Avaliacao diagnéstica para detectar informacées contidas em 11 areas especificas onde observo e acolho as necessidades e potencialidades de cada crianca. 5° Elaboracao do PDI (Plano de Desenvolvimento Individual) com propostas a serem trabalhadas com cada uma delas. 6° Orientacao ao professor da sala regular e socializagao do PDI. Meus atendimentos ocorrem preferencialmente no contraturno da escolariza¢do, podendo ser de uma a duas vezes por semana, com dura¢ao de 50 minutos, em uma escola referéncia. E importante lembrar o quanto o "diagnéstico clinico" é fundamental a fim de nos apropriarmos do laudo da crian¢a, entender determinada deficiéncia e suas comorbidades e nos dar diretrizes para compreender melhor o que acomete cada caso em especifico. Contudo alerto novamente para o cuidado de nao “rotular" a crian¢a, pois cada uma delas tem sua prépria histéria, seu contexto familiar e social e devemos respeitar isso! O Brincar perpassa todo o processo de atendimento da crianca na Sala de Recursos Multifuncional e na educacao inclusiva como um todo, desde o planejamento até a escolha dos procedimentos a serem adotados no atendimento, pois brincar é experimento, é vivéncia é 0 ponto de partida para que a aprendizagem ocorra. E vamos BRINCAR! Cod iced i eect} “Bercario é s6 brago e ber¢o’. Foi a afirmacao que ouvi dias antes de entrar pela primeira vez em uma sala de Bercario, hd apenas dois anos. Essa frase me fez refletir pela primeira vez sobre o que as pessoas pensam a respeito dos bebés. Para mim, sempre foi tio dbvio. que criancas, mesmo as muito pequenas, so seres potentes e que a cada dia de sua vida acontece tanto desenvolvimento, que nunca ousei imaginar que alguém pudesse pensar diferente disso. Apesar da minha conviccdo, descobri que estava errada ao imaginar que aquilo seria ébvio para muitos adultos. Descobri que eu é que deveria ser a voz dos bebés que chegariam a mim e de que meu papel, a partir daquele momento, teria que ser o de mostrar para muita gente a capacidade que cada um daqueles bebés teria para mostrar ao mundo. Bercdrio é afeto, respeito e muita brincadeira. Praticando essas palavras conseguimos tudo o que desejamos para os nossos pequenos. Mas afinal, como brincar com varios bebés em uma sala se eles nao sentam, nao prestam atencao, nao ouvem historias, nado cantam musicas? Mas seré mesmo que nao? Vou comecar a te contar: Bebés nao precisam, ndo querem e nem podem ficar sentados nos ouvindo, esperando por nossas maos e gestos para que se locomovam e brinquem. Eles fazem isso © tempo todo, sozinhos. Bebés interagem uns com os outros mas nao precisam e nao desejam estar com outros bebés o tempo todo. Bebés estado se descobrindo e nao tem problema algum se cada um deles escolher um lugar diferente da sala para ficar, brincar e explorar. Este cendrio nao quer dizer desordem nem mesmo que a professora do Bercdrio ndo tem controle da sua turma. Quer dizer que ali ha adultos que respeitam o brincar e que compreendem que precisam oportunizar aos bebés vivéncias de exploracdo e pesquisa. O Bebé deseja espaco para fazer descobertas, precisa de um adulto que o respeite como individuo. Se pensarmos que a cada més o bebé muda, adquire habilidades que antes ndo tinha, nado podemos achar que ficarao todos, ao mesmo tempo e do mesmo jeito, realizando a mesma proposta em um Bercario. O nosso papel enquanto adulto 6 apresentar aos bebés diversos materiais para exploracao, nao de qualquer jeito, mas organizados de forma esteticamente agradaveis econvidativos para suas descobertas, experiéncias e brincadeiras. Muito provavelmente nem irao demonstrar interesse num primeiro momento. Mas nao devemos desistir: 6 s6 esperar um pouquinho e logo a interaco com a proposta acontece. Nossa intervencdo deve ser a minima possivel e nao podemos cair na tentacdo de direcionar, de ficar falando a todo o momento aquilo que o bebé deve fazer; qual/a cor, forma, textura e nome do objeto que tém em maos etc. Eles so capazes de fazer suas foie let) proprias descobertas e se sentirao muito mais felizes de nos dizer isso por meio de olhares e sorrisos. Devemos sim ouvi-los, olha-los atentamente, observar suas escolhas, anotar seus gestos e procuras, registrar 0 que detectamos a fim de que as proximas experiéncias a serem propostas por nés a eles sejam cada vez mais ricas em descobertas eem desenvolvimento. Nao sé de propostas e atividades se vive um Bercdrio. Para os bebés tudo é aprendizado. Alimentacao, troca, banho, sono e até a frustracdo da separacdo so importantes para seu desenvolvimento e por isso devemos incluir esses momentos em nossa rotina como potentes momentos para brincadeiras, dando-lhes oportunidade para que participem, cada um a seu modo e ao seu tempo, sem pressa. Tudo isso é 0 Bercério! E permitir que os bebés que foram confiados a nds crescam com autonomia, conhecendo e sentindo o amor e 0 respeito que devemos nutrir uns pelos outros. Coo Rm ute eke (ae Ly O que é um livro, além de um objeto transportador de histérias? Um livro transporta imagens, transporta letras, palavras, simbolos, cores, ritmo... E acrianga, com seu natural superpoder de imaginar, do que é capaz? Acrianga, de um nada cria um tudo. Um pauzinho, uma nuvem, uma tampa de panela, um bichinho do jardim... Tudo pode ser transformado no seu mundo de brincar. E o adulto, onde entra nessa historia? O adulto, tanto no seu modo pessoal, quanto no modo profissional tem o enorme papel de fazer a crianca compreender o objeto livro e suas possibilidades. Ler com uma crianga, reler, rir, cantar, desenhar, mostrar, questionar, exemplificar, sao facilitadores para este encontro livro/crianga. Livro e crianga, juntos, viram emocao, indaga¢ao, exploracao, falacao, invengao e diversao. Livro e crianga, juntos, podem ser os promotores do didlogo, aproximacao, relacionamento, carinho e diversao entre adulto e crianca. Uma pedrinha, na mao de uma crianga, vira um tudo do brincar. E um livro, com tudo o que ele transporta... Vocé j4 pensou? O papel principal de um gestor de uma escola ptblica que se preocupa com os espacos brincantes 6 administrar a gestdo democratica e participativa. E fundamental que o gestor se sinta, em primeiro lugar, parte de uma equipe. Cabe a ele liderar, motivar, fazer com que toda equipe se encante com as propostas para que o brincar seja relevante na escola, para todos. Depois dessa tarefa cumprida, vem a parte participativa, na qual o gestor envolve todos os segmentos da escola com essas propostas, Fazer reunides com os pais, com a comunidade, mostrar as propostas e encanta-los além de, ouvir segmento por segmento. Apés 0 processo de escuta, elaborar uma proposta Unica, que represente de uma forma geral o pensamento desses segmentos. Esse processo garante a valorizacdo de cada segmento e o sentimento de “pertencimento” que garante que as propostas acontecam com mais tranquilidade e amor. Na escola onde atuo, e deixo aqui nosso exemplo como dica, estabelecemos equipes para gerenciamento de cada situacdo, evento ou espaco da escola. Nessas equipes é garantida a participacdo de todos os segmentos da Unidade Escolar onde sao construidas, em discussées coletivas, as propostas que nortearao todo 0 ano letivo. A escola toma uma vida sem igual quando percebemos que ha a participacdo de muitas pessoas com um mesmo objetivo. Ela se enche de cor e solidariedade. O envolvimento € notorio e um clima de maior cooperacdo comeca a aparecer. Mesmo para a indicacio de aquisicées com o uso de verbas publicas, que sdo comumente complicadas e que comprometem grande parte do tempo e empenho do gestor, quando temos a disposicao de democratiza-las de verdade, o trabalho torna-se muito mais leve pois divide-se a responsabilidade e somam-se os talentos. Quando o gestor tem a sensibilidade de perceber o talento de cada um de seus colaboradores e trazer esse talento para ser utilizado em beneficio da escola e das criangas, ganham todos. Inclusive o colaborador, que se sente valorizado e que tem a oportunidade de exercitar seu poder de lideranca. Desta forma o gestor também focaliza na descoberta e formacao de novos lideres, garantindo assim que 0 processo democratico que envolve a preocupacao com o brincar se perpetue nas novas geracées de gestores. O Papel do Coordenador Pedagégico em uma escola brincante © brincar € uma acdo natural da crianca, é a forma de descobrir 0 mundo que a cerca, apropriar-se de cultura bem como produzir a sua prépria cultura. Nas brincadeiras as criancas nao 6 se socializam como criam a recriam conceitos, experimentam e testam novas possibilidades. As brincadeiras sao vistas com bons olhos na Educacao Infantil pelos pais e ha uma imagem errénea de que neste periodo de escolariza¢o a crianca nao est aprendendo, apenas est no ambiente escolar para ser cuidada durantea auséncia dos pais. JA no Ensino Fundamental o brincar é visto como perda de tempo, pois a visdo que a maioria das pessoas tem é a de que a partir deste momento a crianca est de fato em uma escola e quanto mais “produzir” registros escritos (cadernos, folhas, etc.), maior ser a sua aprendizagem. E uma drdua tarefa demonstrar aos pais que com jogos e brincadeiras as criancas aprendem muito mais do que com exercicios de reproducao no caderno. Defendo que as criancas possam brincar a qualquer idade, em diferentes contextos, na escola como um todo, pois como vemos em uma das falas do documentario O Territério do Brincar em parceria com o Instituto Alana: a infaincia néo pode ficar esperando pelas criancas no. lado de fora da escola. No Colégio Franciscano Santo Inacio, onde atuo como Coordenadora Pedagégica, a concepgo de ensino e a filosofia de trabalho defendem que brincar é algo que faz parte da natureza da crianca, logo é o melhor caminho para se desenvolver. E nés, professores do Colégio Franciscano Santo Inacio, também brincamos. Com as criangas e com nosso grupo! Quando brincamos em nosso Colégio? Todos os dias na educacio infantil; na forma de planejar dos professores; no tempo de recreio, verdadeiros paraisos que sao espacos pensados e dedicados as criangas; quando Ihes oferecemos condigées e materiais; quando incluimos atividades brincantes para ensinar; quando consideramos o brincar livre e a aprendizagem baseada em experiéncias. Como brincamos em nosso Colégio? Juntos, separados, por grupos, por interesse, por espacos, nas Atividades Permanentes, nas propostas de Recreacio, nos Projetos, na Semana Mundial do Brincar. Temos valores destinados a cultivar o brincar em diferentes momentos do cotidiano mas ainda assim vale ressaltar alguns pontos os quais merecem nossa especial atenco: cuidamos para que no se apliquem as brincadeiras das criancas qualquer tipo de esterestipos nem restrigdes excessivas que impossibilitem o brincar livre. ‘Acreditamos que € preciso cuidar da seguranca das criancas e permitir o brincar. Estar perto e proteger, sem restringir, por exemplo, que experimentem subir na arvore do parquinho. Meninos e meninas tendem a brincar e a preferir brinquedos diferentes, especialmente dos 4 aos 6 anos de idade. Essa escolha, porém, nao deve alimentar esteredtipos de género, baseados na crenca adulta de que certos comportamentos e objetos sao restritos a um ou outro grupo. A desconstrucao de praticas e ideias estereotipadas comeca ao se oferecer acesso irrestrito aos brinquedos e brincadeiras. O Papel do orientador pedagégico em uma escola brincante Cada profissional tem um papel essencial quando falamos de uma escola que respeita © brincar, Como Orientadora de Escola, no ambito de uma escola ptiblica municipal, acredito que uma de nossas funcgdes € coordenar ages que favorecam essa pratica, tendo como ponto central o envolvimento de toda a comunidade escolar em prol dessas acées. Dentre essas praticas julgo importante destacar como pontos fundamentais a formacdo dos profissionais e a organizacdo dos espacos e materiais que convidam A brincadeira. Para que a crianca tenha seu direito a brincar respeitado na escola é imprescindivel que toda a equipe conheca sua importancia e a forma como ele acontece na primeira infancia. Para isso cabe ao Orientador/Coordenador Pedagégico promover momentos formativos em que se discuta essa tematica. Vale ressaltar que esses encontros nao devem ser somente com os professores, mas com todos os profissionais envolvidos no cuidado e aprendizado das criancas. A partir dos momentos de formacdo, a equipe gestora tem o papel de convidar o grupo a pensar nas possibilidades de espacos brincantes na escola, muitas ideias podem surgir. Em nossa escola convidamos todos a ampliar o olhar sobre o espaco, corredores inutilizados, cantos esquecidos acreditando que podem ganhar novos formatos e serem transformados em ambientes convidativos a brincadeira. E importante ressaltar a necessidade do cuidado e manutencdo desses espacos, encontrando formas de reinventa-los quando necessario. Um terceiro fator que merece destaque em nossa escola diz respeito a organizagao e selecdo de materiais para as brincadeiras j4 que estes também precisam ser convidativos e estar acessiveis ao grupo de professores para que se sintam motivados a oferecer as criancas. HA também aqueles que devem estar ao alcance das criancas nos diversos espacos brincantes da escola. E importante que o Orientador convide a equipe escolar a encontrar diversas possibilidades de materiais para o momento do brincar que vao além dos brinquedos industrializados j4 que uma infinita variedade de materiais pode ser oferecido e ser propiciadores de grandes experiéncias brincantes. Por fim, é importante considerar que, para que 0 orientador convide sua equipe a estudar sobre o brincar, planejar espacos e organizar materiais, primeiramente, ele precisa compreender de fato o brincar como um dos eixos estruturantes da pratica pedagoégica e um direito garantido as criancas. Sabemos que enfrentamos muitos desafios, mas com o envolvimento de toda a equipe podemos oferecer as criancas uma escola brincante, em que possam ser felizes e respeitadas no cotidiano da instituicdo. PEt eur Mc ey O Brincar dentro do contexto social, e em especial o educacional, apesar dos inimeros estudos e avancos, ainda se apresenta como um grande desafio, principalmente no que diz respeito a organizacdo de planejamento brincantes que nao estejam didatizados e distantes do mundo da infancia. Um dos pontos que trago como reflexdo é que precisamos rever o conceito de atividade, principalmente na Educacao Infantil. E preciso romper com modelos didaticos padronizados e construir novos contextos de aprendizagem, que valorizem e tragam para o planejamento o inusitado e o inesperado, no sentido de dar espaco para a autoria eacriacdo das criancas. Aqui nao estou falando de deixar as criancas brincarem sem intencionalidade: falo de pensarmos acées pedagégicas que valorizem a complexidade que é 0 brincar e interagir com outro, os materiais e a natureza. Para tanto precisamos repensar os tempos e espacos da instituicdo escolar, em especial nos perguntarmos se a nossa rotina prioriza o brincar e se nosso modelo de planejamento acolhe as relacées, a experimentacao e a investigacdo, os quais sdo principios basicos e facilitadores de contextos brincantes. Um dos grandes desafios dos professores é viver a escola no verbo presente. Nossa intencionalidade de ensinar nao pode estar sempre no futuro, precisamos viver o planejamento e a infancia, dialogarmos com os gestos, falas e descobertas das criancas, hoje. Nesse sentido precisamos fazer um pacto pelo brincar, entendermos suas potencialidades, dialogarmos entre pares sobre como é que a crianca aprende e a importancia desse brincar e sua esséncia. O brincar reproduz a vida, ele constréi um contexto de muitas possibilidades e interagées, cria significado e exercita o que ha de mais importante no ser humano que é a imaginacdo e nossa capacidade de solucionar problemas. Esse brincar acolhe as diferentes criangas e resgata o principio que cada um aprende de forma e tempo diferente do outro. Acredito que um planejamento brincante acontece quando criamos contextos, quando organizamos espacos com qualidade de materiais que provoquem as criancas e respeite seu tempo e sua autoria. Um espaco onde a crianca sejam a protagonista, que favoreca as diferentes relacées, que valorize a estética e a qualidade destes materiais, que instigue a curiosidade e que seja cercado de adultos que acreditem e investiguem esse brincar, potencializando cada crianca e sua capacidade de criar e contribuir na construcdo de um mundo melhor. Ana Carolina Manfrinato é Licenciada em Musica pela UEL, Mestre em Musica pela UFPR € Doutora em Musica pela USP. Foi Coordenadora Geral de Masica, Literatura, Cultura Tradicional e Expressdo Dramatica da Secretaria de Alfabetizacao do Ministério da Educacaio/MEC. Tem experiéncia profissional em escola piiblicas e privadas nos segmentos da Educacao Infantil, Ensino Fundamental, Educacao Especial, Ensino Médio e na Formacao de professores. Criadora da pagina @carol.professorademusica onde socializa dicas e propostas brincantes com a musica. Eloisa Mota é professora, pedagoga, psicopedagoga e orientadora educacional. Tem experiéncia em sala de aula e Coordenacdo Pedagégica nos segmentos da Educacao Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, além de realizar consultorias para escolas e professores. Idealizadora e criadora da pagina @proseandonopomar onde disponibiliza sua pratica pedagdgica e fazeres em defesa de uma educacao de qualidade e significativa. Rosa Cavalcante, ou sé Rosinha, descobriu muito cedo que ser professora era seu grande desafio de vida. Pedagoga, com especializacao em Psicopedagogia, em Gestao Curricular e em Gest de Pessoas, tem dedicado os seus tltimos 25 anos para fazer e para viver a educacao onde mais gosta...no chao da escola. Agitada e curiosa descobriu que as portas se abrem para 0 mundo quando investimos em nossa prdpria formacao. Rosinha coordena hoje uma equipe incrivel de educacao infantil em Brasil Criadora da pagina @rosarosinhacavalacante onde demonstra seu maior lema de vida: “Nada sem Alegria’! Luciana Imperador é Pedagoga, Professora ha 14 anos com experiéncias somadas do ber¢ario até o fundamental |. Atualmente é professora do Ensino Fundamental lem escola de rede privada. Especializada em Dificuldades e Transtornos de aprendizagem e Pés-graduada em Psicomotricidade, participa do Grupo de Estudos sobre Psicandlise na Inclusao, promovido pela ANDEA/SP (Associa¢do Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem). E coautora do artigo “Um olhar pedagégico” do livro Coaching Familiar - Educagao de filhos e solucao de conflitos, langado em Marco de 2018 pela Editora Literare Books International. Criadora da pagina @vinculos_tp onde socializa a psicomotricidade emacio. Selma Monteiro fez Magistério e Pedagogia. E Pés-graduada em Coordenacao Pedagégica e Formacao de Educadores de Primeira Infancia. Professora de infancia desde que se conhece por gente, j4 atuou na educacdo do bercdrio até o Ensino Médio e Profissionalizante. H4 26 anos dedica-se & Formacao de Professores, especialistas educadores, nos segmentos de Educacao Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental em redes publica e privada. Na perspectiva de inspirar professores e socializar sua pratica adquirida nestes anos de carreira criou a pagina @saladeaulaorganizada onde socializa praticas autorais de suas vivéncias na Educacao Infantil. Valéria Pasetchny € Pedagoga, especialista em Educagao Infantil, formadora de educadores e professora de bebés ha 25 anos. Ao longo dessa trajetéria especializou-se na educacdo da primeirfssima infancia com intercmbios na Italia, Peru e Argentina, além de uma série de cursos e aprofundamentos sobre as especificidades da educagao dos bebés, especialmente, o Brincar Heuristico e o Brincar livre da abordagem Pikler. E idealizadora do Projeto InterArte que tem como foco o brincar, a arte e a literatura para bebés. Criadora da pagina @interarte_baby onde socializa as belezas de seu trabalho realizado com bebés. Daniela Soléo fez Magistério e foi nesta época mesmo que decidiu trabalhar com criancas com necessidades especiais. Foi morar em Sao Paulo a fim de buscar especializacdo em Sindrome de Down e Deficiéncia Intelectual, em cursos intensivos de Educacao Especial pela APAE-SP. Atuou como professora em instituicdo de atendimento a criancas com Sindrome de Down por 10 anos. Atua hd atuo 22 anos em rede publica municipal como professora de Educacao Especial. E Psicdloga e Pedagoga com Pés-graduacao em Arte Terapia, Educacao Especial com énfase em Deficiéncia Intelectual e Educacao Especial com énfase em TEA - Transtorno do Espectro Autista. Criadora da pagina @danisoleoaee onde socializa recursos e brinquedos para atendimento educacional especializado. Heloisa Marinho é Pedagoga cursando Especializacdo em Intervencdo Precoce. Foi professora no Instituto Dom Barreto, no Piaui e criou o Espaco Crianca, a primeira Brinquedoteca da cidade de Teresina. Morreu de saudades das vivéncias junto as criancas em ambiente escolar e atuou em concomitancia nas funcées de professora e empresdria por alguns anos. Foi professora em ensino ptibico municipal e atualmente faz parte da equipe da Educacao Infantil do Grupo CEV de Ensino, assumindo o Ber¢ario como professora. Criadora da pagina @minhavidanobercario onde socializa_praticas promissoras para a educacao de bebés. Bia Villela é autora de livros infantis. Ela escreve, ilustra e faz 0 projeto grafico de seus préprios livros. E formada em veterinaria pela Universidade de Sao Paulo e em design grafico pelo Rocky Mountain College of Art and Design, nos Estados Unidos. J4 publicou mais de 30 livros infantis. Atualmente tem livros publicados pela Editora Moderna, Paulinas, Caraminhoca, Editora do Brasil e Positivo. Seu Instagram é @biavillela.livros. Alessandra Piccina fez Magistério e cursou Pedagogia com especializacdo em Administracdo Escolar e Orientagdo Educacional. E Pés-graduada em Supervisdo de Ensino e Gestdo de Pessoas e jd trabalhou em diversas escolas da rede privada e Estadual. Ingressou como professora efetiva em rede publica municipal em 1993 e trés anos depois foi convidada a atuar como Orientadora de Escola. No ano seguinte fez parte da Equipe de Orientadoras de Ensino na Secretaria Municipal de Educacao, onde permaneceu por dois anos. Mas foi quando passou a ser Diretora de Escola de Educagdo Infantil, no ano 2000, que encontrou seu verdadeiro caminho. JA atuou na gestao de Creche, de escolas agrupadas em Regio (contendo 3 Unidades Escolares) e atualmente gerencia uma Escola Municipal de Educacdo Infantil. Seu Instagram é @alessandrapiccina. Bethania Rezende fez Magistério e Pedagogia. E Pés-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clinica, Educacdo Infantil e Metodologias Ativas. J atuou como Professora do infantil e fundamental e atualmente é coordenadora no Colégio Franciscano Santo Inacio, na cidade de Baependi-MG. E professora no curso de Pedagogia da faculdade UNIS Sao Lourenco e tem o canal @dicadapedagoga como uma forma de compartilhar ideias e criar lacos! Patricia Ribeiro é Pedagoga, Pés-graduada em Psicopedagogia Institucional e em Educacao para as Relacées Etnico-raciais. Mestra em Educagao, com estudos voltados para a formacio e diversidade, soma experiéncias como Professora em instituicées educacionais ha mais de 15 anos e ha 9 atua no ensino publico municipal. Atualmente responde como Orientadora de Ensino em uma Escola Municipal de Educaco Infantil. Seu Instagram é @paty_batistaribeiro Charles Caubi Brandao formou-se em Educacao Fisica. E Diretor da Escola dos Sonhos, professor da educacao infantil da rede municipal de Floriandpolis, formador de professores, pesquisador da infancia e do brincar e poeta nas horas vagas. Tem no canal @educarpoetico uma forma de compartilhar narrativas poéticas onde versa sobre as belezas da infancia. Ajornada foi dividida em uma série de abordagens em Recorte tematico 1: A Importdncia do Brincar - Reflexées “Brincar: uma experiéncia de alegria e liberdade” por Rosa Cavalcante - @rosarosinhacavalcante “A Poética do Brincar” por Joao Silva - @jodoformacoes “Planejamento brincante é 0 que da certo ou o que da errado?” por Charles Caubi Branddo - @educarpoetico “A Brincadeira e as interagdes na Educacao Infantil” por Maira Dourado - @escutattoria “O brincar e aprender no Fundamental |: organizando os tempos pedagégicos” por Denise Ferreira - @papodaprofessoradenise “O Brincar dos Bebés: aces, expresses e interacdes” por Valéria Pasetchny - @interarte_baby “O Brincar e a Poética da Infancia” por Severino Antonio e Katia Tavares - @professorseverinoantonio Recorte Tematico 2 - Brincar Além da Escola “O Palhaco: Ludicidade nos Processos Terapéuticos” por Franciane Arnoni e Thiago Sendreto (Dra. Linda e Dr. Trombexta) - @horadorisosjc “A Casa como um Territério a Ser Descoberto!” por Fabiane Vitiello - @fabianevitiello “Desafios do Brincar no TEA’ por Poliana Martins - @meubebeeoautismo “O Brincar na Educagao Inclusiva” por Daniela Soléo @dani.soleoaee e Maisa Elias - @gokid.educacao “O Livro é um Brinquedo de Ideias” por Bia Villela - @biavillela.livros “Brincar na Natureza: uma Relacdo de Encantamento” por Eloisa Mota - @proseandonopomar “Como Aproveitar o Cotidiano com as Criancas” por Ariane Mantovani - @aprendendo_com_eles Recorte Temdtico 3 - Boas Prdticas de Brincar “Como brincar envolvendo a Psicomotricidade?” por Luciana Imperador - @vinculos_tp “Objetos brincantes e o olhar do professor” por Claudia Praxedes - @mochiladeideias Recorte Tematico 4 - Gestdo e Coordenacdo Pedagégica de uma Escola Brincante “O papel da Coordenadora Pedagégica em uma Escola Brincante” por Patricia Ribeiro - @paty_batistaribeiro e Bethania Rezende - @dicadapedagoga “O papel da Gestao em uma Escola Brincante” por Alessandra Piccina - @alessandrapiccina e Eloisa Turci - @eloisaturci Recorte Tematico 5 - Brincar por meio da Musica “Musica Ludica e Brincante” por Shauan Bencks - @shauanbencks e @arte.dacrianca “A Musica na Educacao Infantil” por Ana Carolina Manfrinato - @carol.professorademusica EBOOK - \ 7 BRINCARS Jy @SalaDeAularganizate B55 Este E-book foi produzido diante da cessdo dos textos por seus respectivos autores, cuja narrativa fez parte da “Jornada Falando de Brincar” realizada no més de maio de 2020 no canal @saladeaulaorganizada, criado por Selma Monteiro. E vedada a cépia ou reproducao dos textos para uso ou distribuigéo comercial; a modificagao, supressao ou exclusao de termos e ainda a publicagéo em meios digitais e fisicos sem prévia autorizagao, estando sujeito a penalidades legais.

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