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‘© pram DA SAWACAO - espago autobiografico e experiéncia crista Green, José Carlos Barcellos ISBN 978-85-86793-51-6 em Julien © Aautté - Associagao Latino-Americana de Literatura e Teologia - 2008 Edicdes Subiaco - Mosteiro da Santa Cruz - 2008 Rua Prof. Coelho e Souza, 95 36016-110 - Juiz de Fora - MG - Brasil Fone: (0°32) - 3216-2814 - Fax: (032) - 3215-8738 e-mail: publicacoesmonasticas@yahoo.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderé ser reproduzida ‘ou transmitida por quaisquer meios sem permissdo escrita da Editora. Capa: Mosteiro da Santa Cruz Dados Internacionais de Catalogagéo na Publicagéo (CIP) Barcellos, José Carlos O drama da Salvacéo: espaco autobiogrifico e experiéncia cristé ons Green/ José Carlos Barcellos. — Juiz de Fora: Ed. Subiaco, 324 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-86793-51-6 1. Teologia sistemética e pastoral — histéria da teologia. 2. Literatu- '~ critica literdria. |. Titulo CDD 248 INTRODUGAO No inicio de seu ministério como bispo de Roma, Joao Paulo II dirigiu-se Igreja Universal através da carta enciclica Redemptor Hominis, na qual expunha o mistério da salvagao em Jesus Cristo. Lembrando que em Cristo se renova a verdade fundamental da bondade da criagdo, afirma o papa que “© homem que quiser compreender-se a si mes- mo profundamente — néo apenas segundo imediatos, Parciais, no raro superficiais e até mesmo sé aparentes critérios e medidas do préprio ser — deve, com sua inquietude, incerieza e também fraqueza e pecaminosi- dade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Ele deve, por assim dizer, entrar n’Ele com tudo © que 6 emsi mesmo, deve ‘apropriar-se’ e assimilar toda @ realidade da encarnagéo e da redencdo, para se en- contrar a si mesmo”. (RH 30} Essas palavras podem ser uma chave extremamente © (© oR on savacion exdlorecedore pore a compreensdo da importéncia que as relagées entre literatura e teologia vém adquirindo no con. ferto hodiemo, De fate, se o teologia ¢ uma forma de cproptacho (nGo opencs inielectual, mas também — ov, antes, sobretudo — existencial) do mistério da fé, nenhurna vita monifestagdo cultural, nas sociedades modernas, cumpre melhor que a Iteraiura © papel de colocar © ho- mem em contacto direto consigo mesmo, tonando-Ihe manifesias suas verdades mais profundas e abrindo-lhe especivas Omplos para sua aulocompreensao e avlo- possessbo™ ra a coda vez mais se tem desenvolvido e conso- iodo um fcundodilogo ene os estudos teolégicos © 08 estudos lterdrios, tonto. No Ambito académico, quanto "2 #88060 eclesial (para no mencionarmos equi a aprox Se cra PRE it i cre oro dt lt Saat stlsenpenscrameotcocn el nege Ra ote © ‘encase steer pte Sienna tn cmnameee iran eee Spc a ica oe ‘apecidade de mela, cmato particularmente da peépria € inic® Sat Roe ron Sua a — aon Eats oa tee crea es as SSMARTINS. satis gra ar WL Comes 595, eo is 00 ooo Intromuco a ago entre literatura e teologia no universo da cultura de mosso, que foge a0 escopo do presente trabalho}, com vistas & oblencdo de uma percepgéo mois profundae abron- gente do humano e de sua insergo no mistério de Cristo. Desde a década de 30 ¢, muito particularmente nos limos anos, varios tedlogos de renome vém enfotizondo, essa singularidade do coniributo de literatura para uma ‘obordagem mais completa da realidade do ser humano, ‘em sua radical ambigiidade, como um caminho privilegi- 1a, na qual @ graca de Deus @ 0 pecado do homem Brotagonizam o desconcertante drama do vide cotidiona, com suas grandezase mi as de toda ordem.* A valoriza- 80 conlemporéinea dos relacées entre literatura ¢ teolo- Gia, portant, hé de ser compreendida essencialmente o Pottirdessa dinémico encarnatéria do crisianismo, em que, Conforme afirma Joéo Paulo Il, toda « realidade humana e ‘ésmica & ossumida na humanidade de Cristo? * Sem oeshum compromisw com a exustividade,roderianns car Romine ‘Gacin, Mare-Dominigue Chenu, Kal Rane, Haas Urs vn Balhae, s ‘ng, KarJoserKusbel,ean-Pier osu Jann Boyt Motz Pal ich ‘Ao Gesch, pra oe seros apenas a autores “sco” cas obs 8 2am de amp reconesimeno "0 Redenordo home, las Crist, € wen do coos da isi (RH 2 © 0944 on saveci Pode-se dizer, sem medo de errar, que no &mbito da culty catdica do séc. XX, « obra literéria de Julien Green (1900-1998) ocupa um dos pontos mais altos desse comple- 10 processo de revelagao do encontro entre © que © ho- mem é € aquilo que ele & chamado a ser em Cristo. Nelo, ‘ambos os dimensBes ontropolégicas apontadas véo se des- velondo poulatinamente — de moneira dramética — no proceso de seguimento do Senhor morto e ressusctado, Difcilmente se poderé indicar algum outro escritor do séc XLem que o compromisso com a verdade sobre si mesmo ‘eatensio entre essa busca do auteconhecimento e a aber. tra ao mistério da {6 oparecam de forma té0 densa e desconcertante quanto no autor de Chaque homme dons £0 nut. Porisso mesmo, & curioso observor que os polowras da Redemptor Hominis acima transcritas poderiam sel des de maneira definitiva e cabal como se fossem uma inlerpretagco do significado literério e teolégico da obra de Green. Essa surpreendente possiblidade de leitura dos Palavras do papa nada mais 6 senéo um indice do cordter paradigmético da obra lteréria greeniana pora a experi- encio erste do século que finde. Gasket ds sonia tices, 0 mesmo tempo, a nscessidade de no fet ‘Tee fins cahistra uz da vidncotnnohgarda manfsap20 megane (Asides dln nbito mo qualse vives 2 ‘ns me one cc Cain pel aes tanner, ry Iuasoucho No entonto, 6 preciso dizer que a questo funda celevancio do dislogo ente liteo- a eateroigic do Herre pro o 'oleg ‘aiiaravi Bon cope no era nado pocfica hé po cca no memento pesenie — — introdugdo esfa que feve um popel verdadeiramen! seminal para os estudos de literatura e teologia, ae abor: dor de forma pioneire questo do ratio hymanit ica — , lembrava Pie Duployé cor ‘dlguém “poetice loquitur”..* CCompulsando-se os textos que marcam o percurso de recepcdo, assimilagio ¢ volorizagéo da literatura no ‘mbito do pensamento teol6gico, percebe-se facilmente “imoronamentadesas pd ae prgouscpagos& dss. Mas ss cre oleic po se evita cats pa oem subetiasrsr str 20 [peo ga Pala pronuncasobre co isi human, Esse ju, que € 90 meso tmp connor s pr, tsa nossa verdad que no 4 in0- ‘lias prada pron, ienato resend”. Armindo RIZZI.~O ho- them eptit,e” Tullo GOFF, uno SECONDIN (ors). Problema € porpetvas de expirialidade Bo Pala eyo, 1992p. 189 12189 CE Pie DUPLOVE 1a eligon de Puy Geta: Slatkin Rees. 1978p XXX1 Es oa fvapcanada como ese em Estar, em 1961, ¢ Teno publica cm Par em 196, “4 (© onan savacho imporéncia que « preocupacéo com o probleme do mal teve em todo esse processo.* Nas palavros de Heme Rousseau acerca de Georges Bernanos, a obra iterria deste ‘timo consivira "um esforgo de compreenstio do mal, de solvogdo ¢ da perigdo, que vai muito além do que dTaS. igi raciceinanies abstatapiode fazer compreender", oir. ‘magéo esta que facmente poderiamos aplicor também — talvez até com maior razé0 — a Julien Green. Hetivamente, o problema do mal aparece ne ltera- tra do s6c. 1 — 0 século de Auschwitz, de Hiroshima e do Aids - com uma densidade e envergadura que foltom freqentemente @ reflexdo teolégica, mesmo quando séria © bem intencionada. Nesta ultima, pode-se dizer, de ma- eira geral, que predomine uma certa tendéncia 4 bonali- 20680 ou trivializagio da experiéncia do mal,? que pode- ‘Earamenisinin “parEmnen seein sequins echo de Kl Rahner: “Per gra pola tloesitecuto eo wast puede sar eval opera on Dis ars nen evi de mrs smo even al ono wap a da ro SP sedoa dares Soni Lapaaba pain da, pero Ta PMY in er dia Me Tas ‘ene ROUSSEAU, A 3 iat: qual seu por coigca? In: Concilo S ci At coli? In: Cone eds Prt 3 enconamos numa obra recomendads fol Semssto dos seminars ttno-ameianos: "part ESC Inexoougio “6 mos considerar um eco tardio de um complexo processo histérico de énfase crescente nos aspectos morais da ques- 180, 00 longo de toda a histéria do cristianismo. Como escreve Juan Antonio Estrada Diz, a0 atribuir a génese desse processo @ teologia do pecado original de Santo Agostinho, *Exte mognificecién del pecodo como explica- én dima del mal implica, poredéicamente, uno obso- loiaoeisn del hombre, una vnizacié indirect. La pre tensin de explicar todo el ral desde la accibn huono,

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