You are on page 1of 4

A contribuição da psicologia no estudo multidisciplinar dos

fenômenos educativos

Profa. Dra. Maria Helena Palma de Oliveira

O texto a seguir é, basicamente, resultado da síntese dos aspectos


principais dos capítulos 2, 3 e 4 do trabalho de Salvador (1999) e pretende
mostrar a relação possível entre psicologia e fenômenos educacionais e que
foi construída ao longo da evolução da psicologia. A concepção que subjaz a
este texto, norteará o conteúdo e as discussões que se desenvolverão ao longo
do ano letivo na disciplina Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem.

Origem e evolução da Psicologia da Educação

No final do século XIX começa a surgir uma forte tendência na


Psicologia em distanciar-se da filosofia, o que culminou no surgimento da
psicologia científica já no início do século XX. A utilização do método
experimental, próprio das ciências físicas e naturais, contribuiu para esse
afastamento e para a transformação da psicologia em uma disciplina científica
autônoma.
A história da psicologia da educação, principalmente nas suas origens,
não se contrapõe à história das origens da psicologia científica; isso porque até
o final do século XIX, as relações entre psicologia e educação estiveram
totalmente mediadas pela filosofia.

As concepções atuais
.
O século XX marcou a adoção de formas diferentes e, às vezes, até
divergentes, de atuação na tarefa de proporcionar uma base científica à
educação e ao ensino. "Essas concepções oscilam desde proposições
claramente reducionistas, para as quais o estudo das variáveis e dos
processos psicológicos é a única via adequada para proporcionar uma base
científica à teoria e à prática educativas" (Salvador, 1999, p. 39); para essas
concepções a psicologia da educação surge como um simples campo de
aplicação do conhecimento psicológico. Por exemplo: uma psicologia social
aplicada à educação; uma psicologia da aprendizagem aplicada à educação;
uma psicologia genética aplicada à educação; uma psicanálise aplicada à
educação; uma psicologia humanista aplicada à educação; etc. A crítica
considera que o enfoque da psicologia aplicada à educação conduz a visões
reducionistas e deformadoras dos fenômenos educativos.
As últimas três décadas do século XX viram nascer uma série de
proposições alternativas que tendem a considerar a psicologia da educação
como uma disciplina-ponte com objeto de estudo próprio. Nessa perspectiva o
conhecimento psicológico não ocorre de uma única direção, "o conhecimento
psicológico pode contribuir para melhorar a compreensão e a explicação dos
fenômenos educativos, porém o seu estudo pode facilitar igualmente a
ampliação e o aprofundamento do conhecimento psicológico" (Salvador,
1999, p. 41). Essa reciprocidade é decorrente da prática de se considerar as
características próprias das situações educativas; prática que não ocorre nos
estudos orientados pelas concepções reducionistas.

"A psicologia da educação enriquece-se com as leis, os princípios, as


explicações, os métodos, os conceitos e os resultados empíricos que
partem da pesquisa psicológica básica; entretanto, ao mesmo tempo,
colabora no enriquecimento dessa pesquisa com as suas contribuições
aos fenômenos educativos e, mais concretamente, com as suas
interpretações sobre o comportamento humano em situações educativas,
As relações não são de dependência e de unilateralidade, mas, mais
especificamente, de interdependência e nas duas direções" (Idem,
ibidem, p. 47)

Entender a psicologia da educação como uma disciplina-ponte significa


aceitar que é uma disciplina situada no meio do caminho, entre a psicologia e
educação; significa ainda, e portanto, aceitar que a mesma mantém estreitas
relações tanto com o conjunto das áreas da pesquisa psicológica quanto com o
conjunto de disciplinas voltadas ao estudo dos fundamentos educativos, porém
não se identificando ou confundindo-se com nenhuma delas.
A psicologia da educação como uma disciplina psicológica de pleno
direito, compartilha uma série de traços característicos com as demais
disciplinas que estudam os fenômenos e processos educativos. A psicologia da
educação é considerada como uma das disciplinas que fazem parte do núcleo
específico das ciências da educação, porque - assim como a filosofia da
educação, a política da educação, a sociolingüística da educação, a etnografia
da educação e a organização escolar -, está voltada para o estudo dos
processos educativos, segundo Salvador (1999,p. 48), com uma tripla
finalidade.
a) em primeiro lugar, contribuir na elaboração de uma teoria que permita
compreender e explicar melhor esses processos;
b) em segundo lugar, ajudar a elaborar procedimentos, estratégias e
modelos de planejamento e de intervenção que possibilitem sua
orientação a uma determinada direção;
c) em terceiro lugar, facilitar a instauração de algumas práticas educativas
mais eficazes, mais satisfatórias e mais enriquecedoras para as pessoas
que participam dessas práticas.

O objeto de estudo

Em resumo, e ainda no intuito de definir a relação psicologia e


educação, representada na disciplina-ponte denominada psicologia da
educação, cabe destacar que o objeto de estudo da mesma "está constituído de
processos de mudança de comportamento que se produzem nas pessoas como
conseqüência da sua participação em atividades educativas" (Idem, ibidem,
p. 51). Essa definição deixa claro que é essencial considerar as características
das situações, as mudanças específicas que ocorrem em um ambiente também
específico: o contexto educacional. Ressalta-se que, nesse sentido, não se
pode tomar esse contexto educacional (familiar, escolar, comunitário) como
simples influenciadores de comportamentos; na verdade, as mudanças de
comportamento que interessam para a psicologia educacional são construídas
com base nas especificidades de tais contextos.
A característica peculiar da definição dada acima torna evidente a
necessidade de uma aproximação multidisciplinar ao estudo dos fenômenos
educativos. Isso deve ocorrer de modo a permitir abordar os fenômenos
educativos como um todo e não fragmentando a análise de cada parte a uma
disciplina diferente. Tais fenômenos devem ser explorados "de maneira
sucessiva e simultânea com a ajuda dos instrumentos metodológicos e
conceituais proporcionados pelas diferentes disciplinas educativas, tentando
integrar os resultados dessas indagações em interpretações em conjunto".
(Idem, ibidem, p.51).
Cabe destacar que a psicologia da educação tem priorizado esforços no
estudo das mudanças de comportamento relacionados com situações e
atividades escolares de ensino e de aprendizagem. O conteúdo específico
desses estudos, segundo Salvador (1999), tem sido agrupado sob o título de
psicologia do ensino e forma dois grandes grupos: a) os conteúdos relativos
aos processos de mudança de comportamento relacionado mais diretamente a
aspectos intrapessoais ou internos aos alunos e alunas (1); b) os que, de modo
fundamental, têm sua origem nas características peculiares das situações
escolares de ensino e de aprendizagem (2).
Essa divisão tem proposta marcadamente didática e não deve ser
tomada como elemento fragmentador do estudo relacionado à abordagem da
psicologia em situações de ensino e de aprendizagem pois, muitas vezes, o
objeto de estudo

"constitui-se nos agrupamentos dos fatores, das variáveis e das


dimensões que se relacionam direta ou indiretamente com os processos
de mudança de comportamento em duas grandes categorias referentes
aos aspectos cogniscitivos e aos fatores afetivo-sociais, respectivamente,
incluindo, ao mesmo tempo, os que se originam nos alunos e nas alunas
e os que correspondem às características escolares".

NOTAS:
1. Salvador (1999, p.53) enumera os principais processos: "o nível de
desenvolvimento; a maturidade intelectual, emocional, social,
relacional e psicomotora; as experiências e conhecimentos prévios; as
características atitudinais (...), afetivas (...), e de personalidade (...),
etc."
2. Também em relação a essas características Salvador (1999). cita: "as
características do professor (...); as condições materiais em que se
desenvolvem as atividades escolares (...); a metodologia do ensino
utilizada; o contexto institucional (...); as dinâmicas de grupo e as
relações interpessoais (afetivas e profissionais) dentro do âmbito da
instituição; etc".

Referência bibliográfica:

SALVADOR, Cesar Coll. (org.) Psicologia da educação. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul, 1999.

Maria Helena Palma de Oliveira


Doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento
Docente do curso de Psicologia e do Mestrado em
Educação da Universidade Bandeirante de São Paulo

You might also like