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Introdugao ‘Ao longo deste teabalho temos vindo a analisar o problema dos maus-tra- 's riangas, abordando as suas diferentes tipologias ¢ principais causas ou investimento no estado, » conhecimento do problema, tanto no que diz. respeito as formas como se festa, como no que concerne As possiveis causas que 0 desencadeiam ¢ ‘Um grande caminho tem sido igualmente percorrido no sentido de xrofundar os conhecimentos cientificos acerca dos efeitos a curto, médio .0 prazo da problematica do abuso infantil. Contudo, apesar destes avangos, 1a maioria dos autores sio undnimes em considerar que 0 conhecimento pro- duzido é ainda muito limitado, tanto mais que se trata de algo, como vimos jé, {que se passa dentro do dominio do privado, na intimidade das familias, o que consequentemente traz limitagbes de ordem metodoldgica que se prendem, por sua ver, com principios éticos e deontolégicos. [Apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer, sabe-se, através dos vvirios estudos tealizados, que 0s maus-tratos implicam sérios riscos para a crianga em desenvolvimento, nao apenas no momento em que ocortem, mas também ao longo de todo o seu percurso de desenvolvimento. A semelhanca do que tem vindo a acontecer com os estudos sobre as pos tores de risco dos maus-tratos também os estudos sobre a ‘consequéncias se tém baseado em investigacdes de tipo transversal ou retros- cada tum com as suas limitagGes. Deste modo, 0 impacte a curto prazo jo estudado através da utilizacdo de métodos transversais em criangas 4 identificados como maltratados. Para a avaliacao dos efeitos a longo prazo tém sido utilizados métodos retrospectivos com amostras de 90 Maus-TraT0s A Extanca adultos que informam terem sofrido de maus-tratos quando eram criangas, sendo muito poucos os estudos longi is Segundo Cantén Duarte e Cortés Arboleda (1997) estudos retrospectivos relaciona-se com as distorgdes da meméria que podem Ocorrer ao longo do tempo ¢ com a propria experiéncia de ter sido vitima de ‘maus-tratos: sabe-se que um dos efeitos dos maus-tratos tem preci ver coma afectagio da meméria. Ainda no que se relaciona com as, dos estudos retrospectivos efectuados com de maus-tratos, Martinez Roig e De Pail (1993 para o facto de nestes estudos haver uma grande dificuldade para se distinguir a formavam parte das caracteristicas destas criancas e as, ‘como consequéncia dos maus-tratos ou abandono». Tendo itagdes, estes autores salientam que a investigacdo sobre as consequéncias dos maus-tratos infantis apresentam ainda muitas lacunas ¢ resultados contraditérios. No estudo dos efeitos dos maus-tratos infantis apontam-se ainda outras oBes das quai se destacam: a falta de um grupo de controlo ou de compa, am a atengio anilise dos dados; pouca atencio as possiveis diferencas de género nos efeitos dos maus-tratos; problemas com a definigio dos diversos tipos e subtipos de abuso infantil (Martinez Roig ¢ De Patil, op. cit.) Apesar de existirem ainda muitas lacunas e mesmo contradigSes na investi- #2¢%0, todos sabemos que os maus-tratos podem produzir nas suas efeitos nefastos de maior ou menor gravidade consoante o grav/intensidade, frequéncia, duragao, idade das vitimas, ete. Deste modo, as consequéncias dos ‘maus-tratos infantis constituem um dos aspectos a que se deve dar destaque uma vez que na base de toda a relacao estabelecida com as eriangas ter de estar um trabalho de anilise e profunda reflexéo na tentativa de procurar ‘Compreender 0s seus comportamentos e/ou atitudes. Muitas vezes aqueles com. Portamentos que levianamente classificamos de «anormais» niio so mais do ‘que tentativas, por vezes desesperadas, de comunicagio, de chamadas de atencio, de apelos de compreensio, amor eafecto, Como refere Marcelli (1998, P. 53): «lniimeros comportamentos julgados patologicos pelo meio mostrany. “Se, na realidade, ou sinais ce um protesto sadio, ou provas da patologia do meio.» Os profissionais em contacto com as criangas deverdo ter conhecimentos ¢ sensiblidade suficientes para descodificar as permanentes mensagens prove. nientes no s6 da comunicagio verbal como, sobretudo, da nio verbal. Um esto, uma expressio facial ou corporal, um olhar, sio formas de comunicagao ue «falam» geralmente bem mais alto do que grandes discursos. A linguagem cinestésica tem o poder de ser mais auténtica e profunda nao podendo nenhum ‘educador descurar a importancia da comunicagao analégica, sob pena de ver Constquincis pos MauweTxxros 9 bem intencionado. A este 1agio corporal e cinestésica, : jendo ainda que constituem um sério ‘Como temos vindo a ai tratos constituem um a a crianga em desenvolvimento, ndo apenas no perfodo em que rem, mas ao longo do seu percurso existencial ~adolescéncia e vida ac sicopatologia na crianga e, mais tarde, no adolescente € adulto. aes ecindlpeion siacer en yeti et efeitos para uma melhor compreensao dos comportamentos dos individuos e também 1a se podcrem desenvolver estratégias de prevencio e intervensdo capazes decline «freq einmnldade do fendneno, see los aspectos jd referidos, os estudos sobre as consequéncias dos maus- str ang oo date prin pte atom dees icas sobre as eriancas maltratadas. Segundo Cicchetti e Carlson (1989), 6 facto de se dispor de conhecimentos bem fndamentados acerca das con- sequéncias do abuso infant ao nivel do desenvolvimento é muito importante para se poder dvi sobre quests ais como: quando denuncia um eso de maus tats; em que stuagies se deve separar a crianga da sua fami; como planificar programas ou servigos destinados a apoiar as necessidades especi ficas das criangas vitimas de maus-tratos; como avaliar esses programas ou servigos. c ‘omo vimos nos capitulos anteriores, os maus-tratos nas criangas si 0 eae oe chides wanes art terns ag aoe Bessoas que del cuidam eds fates ambiental onde se prodzem a0 longo do tempo. Do mesmo modo as consequéncias s6 podem ser compreendidas se enquaadas num espagoe empo desavoh srando as caracteristicas das criancas, 0 be € 05 recursos, nomeadamente reacionas, «que pode acedc, este modo, as consequéncias dos maus-tratos ndo podem ser vistas de forma isolada ica americana indi qu 76% das wis adores sio 0s pais (U.S. jém menos de 4 anos e que em 77% dos casos 0s perpet Department of Heads and Human Services, 1997) Em ermos desenvolvimenais, quéncia é a morte. Est mais fre sntemente anal das relagdes de vinculagao e de afecto; problemas de comportamento; os diminuigao do rendimento escol Spon car ame igen tana cons bce interpenetram: uma crianga com or "conta Seo eee adapeasfo excl, reflesind se ests vars spectos no seu dsenveleinent volvimento cognitivo, adaptacZo ¢ rendimento escolar. Impacte dos maus-tratos a nivel fisiolégico nae mea do abuso « nslgicia sobre dimensies do desenvolvimento sido alvo de uma investigago muito consist estados than encontrado um aumento deennrese¢ oer oud ian as criangas vitimas (por exemplo, White, Halpin, Strom e Sa 8: Pusat 3s maltratados,tendo-se verifcado alteragé tos cragBessignificativas (por Gunnar, 2000), Ene a riage xa conta 8 gue oe ead em orfnatos romenos tendo-severfiead qe asleragee coral ua ner ormona medadr esos dese ea porconais a0 tempo de inteaento © aos efeitos adveriot nas diene Para além destas dimensbes, i a unfunded investigagio mais recente tem mostrado de uma fra eee be pene inaegudsn dreo deck ro humano esté ainda a desenvelvers sem efeitos signfeatos afecando no x6 069 RET onos descnvavieno de catrn cers pao front eid eae tem encontao alterages Siemaes em ris etna fangs, fas Ereas relacionadas comm a Grane ME Rte da cxpeciecesa 1s precoves, 0 que deu origem a0 I», Este conhecimento 40 das experiéncias ids, veio aumentar a cot yrme stress, como as que Perturbagées nas relagdes de vinculagao ‘agas maltratadas desenvolvem com os 1 do desenvolvimento emocional, soci iyo entre outros, tem vindo a constituir um dos temas mais O tipo de vinculagio que as criat da mesma ao nivel smonstram que as experiéncias de mai ancias negativas para 0 desenvolvimento da ‘arde, do adulto, nomeadamente na organizagio comportamen io (Figueiredo e col. 2001). lade dos aurores, 0 processo de vin itir-se antes da concepcio, ou seja, a crianga nda antes da concepcao¢ gestacio. Uma crianga cia entre a crianga imaginada ou idealizada ‘rcrlanga real pode perturbar os processos de vinculagio (Barudy, 199 £21997 fala em vinculagdo pré-natal, perinatal e pés-natalsaientando dbe ae eyce emociona, zeage e comunica e que «essas experiéneias relacionais ficam “guardadas” dentro de si» (Si, 1997, p. 116). ‘O nagcimento da crianga pode desencadear certos comportamentos mat sige bloguear outros conforme obebé sea ou nao desejado ea dspontbiidad ani seta rae, O resultado deste proceso seré uma vinculagio saudéyel ‘to saudvel a presenga de um recém> tamentos maternais fais COMO tos destinados a cuidar do bebe ideal envolve o bebé de modo & P do seu corpo quie for pos bé vital para tarde m Jaco entre ‘existe na imaginagio dos pais at io desejada ou a no concordai ‘ou uma vinculagio deficiente. Num context nascido provoca 0 desencadear de compos temogio de terra ¢ um conjunto de gest (fd, p. 14) diz que «0 abrago matern contacto com a mie toda a super esta intimidade entre o corpo da mae ¢ do be essencial lago de unio que ta comportamento soci facontece podendo a relagao da erianga Fesultar numa vinculagao insegura. Alguns inves Incapacidade da mae para estabelecer esta ligagio af meiros tempos de vida deste pode ser uma ra7i0 Pal negliggncia e de abuso nas evianeas. "Varias investigacoes tém demonstrado, diferentes padrdes de vinculagao em relaglo frequentemente analisadas Iuentemente analisadas so aquelas que ocor ito fisico € motor; as perturba i « rercurbagées no desenvolviment io ede afectos as perturbacdes ia cognitivo © nas suas reilizagées acadk interaccao a nivel dediferentes éreas des € Como esto relcionalos com as perturbagd pees Perturbagées das relacées de vinculaga Perurbasdes emosiotas edo afeco, criagio de um also ae ane 'mentais rlagies interpessoais e na relago destas dreas com o dk "to cognitive, adaptagio e rendimento escolar, i Impacte dos maus-tratos a nivel fisiolégico © impacte do abvso € negli fico nae ea gases nedincia wbre dimensdes do desnvolvimeno éstudostenham encntalo um aumento deenuesec cher sererea eo ae xexemplo, White, Halpin, Strom e Santi 1988; Paesare 1997), Peocontratio, 0 estudo de variiveis como stress, como emo cardiaco eco Sticitos malades, tendo-se verifcado alteragées sig ( ae i Senoae, 2000). Ente a eriangasestudadas contam-se as ew *tnadas em ofanatos romenos, e verifica f de comol, kina marnmona medion da ops ie a porcionais ao tempo d internamento Eres de dec, mp0 & nkemamento © 20s efeitos adversos nas diferentes Para além destas menses, investiga ars lm ds » investigagio mais recente tem mostrado de ann mn esa es wn nde de a tela uma fase em que © cérebro humano esta ainda a desenvolver-s Ses sei in Heetando io 560 equlorio nenroguin ome o ento de estuturas essenciais para 0 funci teorexemplo, Tehri 2005;De Bells, 1998) Napeiten ee teri gee 2) Nera iner ts reas eaonadas com a orgaizagio integragao da eapeien ia EE eee te fo decorrer do dine o Presente capitulo apres fees fe wis aspctosalertando,contudo, para o facto de pe ssivel efectuar wr rigorosa demarcacao ent ond a Te OS Mesmos, uma Vez qu Penetram: una cianga com perturbagoes de ordem emocional, por -mas de comporramento e de jonal que dependem mais das experiéneias precoces, o que dew origem a 1s que esto associados a situagoes das aos maus-tratos na infancia. Perturbagées nas relagées de vinculagao ‘0 tipo de vineulagéo que as eriangas maltratadas desenvolvem com os seus ‘o impacte da mesma ao nivel do desenvolvimento emocional, social e vo entre outros, tem vindo a constituir um dos temas mais as experiéncias de tém consequéncias negativas para desenvolviment rnomeadamente na organiza¢io comportamental e repre 4 (Figueiredo e col., 2001). dos autores, 0 processo de vinculacio entre a crianga De acordo com a general is € filhos comeca a con nna imaginagio dos pais ainda antes da concepgao e gestagao. Uma crianga injo desejada ou a néo concordancia entre a crianga imaginada ou idealizada em vinculagio pré-natal, perinatal ¢ pos-nat 6 feto se emociona, reage e comunica e que «essas experiéncias relacionais ficam “guardadas” dentro de siv (S4, 1997, p. 116). ‘© nascimento da crianca pode desencadear certos comportamentos mater- nais e bloquear outros conforme o bebé seja ou nao desejado ea disponibilidade ‘emocional da mie. O resultado deste processo sera uma vinculagio saudavel cou uma vinculag3o deficiente. Num contexto saudavel a presenga de um recém- scido provoca o desencadear de comportamentos maternais tais como a ‘emogao de ternura ¢ um conjunto de gestos destinados a cuidar do bebé. Morris {s/d, p. 14) diz que «o abrago materno ideal envolve o bebé de modo a por em contacto com a mie toda a superficie do seu corpo que for possivel> sendo idade entre o corpo da mae e do bel para «a criagio desse sportante ser mais tarde na vida para um comportamento social equilibrado» (ibid., p. 18). Porém, nem sempre isto acontece podendo a relagao da crianga com a mae ou figura que a substicui resultar numa vinculagio insegura. Alguns investigadores afirmam que a incapacidade da mae para estabelecer esta ligacio afectiva com o bebé nos pri- imeiros tempos de vida deste pode ser uma razio para epis6dios posteriores de negligencia e de abuso nas eriangas. ‘Varias investigagdes tém demonstrado que as criancas podem revelar diferentes padrées de vinculagao em relagio As figuras parentais consoante a 94 Maus-Twatos A Cuawea qualidade dessa mesma relagio: padrio de vinculagi culagio inseguro ‘ou «Cvs padro de vinculagao seguro ~ padrao «B» tipo ambivalentefevitante — padrao «A/Cr; vinculagao desorganizadal desorientada ~ padrao «D» (cf. Figueiredo e col., 2001). Quando se observam as interacgdes mae- centes € acolhedoras para com a crianga. 8 inseguros so mais frequentemente indispo ‘A classificacio do padrao de vinculacao ambivalente/evitante resultou do facto de se verificar que as criangas vitimas de maus-tratos utlizavam est ‘mistas~ evitantes em determinados momentos e esistentes ou seguras noutros. Acexperiéncia de maus-tratos sofrida por estas criangas pode originar compor- tamentos ora de aproximagao dos pais ~ uma vez que é deles que a crianga necessita para sobrevivéncia ~ ora de evitamento ~ para se proteger da ameaga, . A classificagio do padrao de vinculagio desorga- ios frequentemente nao se enquadravam em ceiangas manfestavam comportamentosindcadores de grande onfasio em relagio as figuras de vinculagzo, tais como: comportamentos contradit6rios € indicadores de elevada confusao em relacao a mie, apatia estupefacsio, entre ‘outros. (Figueiredo e col., 2001). Aq durante a infancia vai influenciar, em grande medida, os conh« tativas acerca do que pode esperar dos outros e de si propri relagGes intra einterpessoais. Segundo Figueiredo e colaboradores (2001) relagio da crianga com a mae molda as futuras relagbes do indi Vitis estados revelam que uia alta percentagem de individuos com ias de maus-tratos na infancia evidenciam padrées inseguros de vinculagio ‘a idade adult. Outro estas tn sugerido guc os indidnas com hisses tos tendem nao s6 a desenvolver um padra0 ida aescolher parceiros com padrdes inseguros de vinculagio, 2001). Segundo Figueiredo (1998), se os pais forem percebidos e mentalmente representados pela crianga como pessoas disponiveis e suscepriveis de the roporcionar experiéncias agradaveis, acrianga tenders a esperar que os outros, sejam também disponiveis para com ela estabelecendo-se assim as bases da confianga em si propria e nos outros. Pelo contratio, as criancas que niio passa- ram por este tipo de experiéncia gratificante com os scus pais, que os sentiram ua propria capacidade para fazer com que 0s iuteos gostem desi. Ao desenvolver estas expectativas negativas, estas criangas rio menos aptas para estabelecer relagdes interpessoais positivas com os estudos tém demonstrado que as criangas maltratadas revelam iculdades no selacionamento com 0s seus pares, mas também com » adulto. Estas criangas revelam ainda falta de empatia reagindo de forma sativa ou agressiva a0 sofrimento do outro, contrariamente ao que se verfica com ascriangas nio maltratadas que se mostram preocupadas perante a tristeza ‘ou mal-estar dos colegas (Figueiredo, 1998). Ainda segundo esta autora, os investigadores que tém observado o comportamento interpessoal das criangas ‘maltratadas tém verificado que é sobretudo no seu contacto com os adultos ‘seu comportamento ¢ diferente, nao se verificando tanto esta diferenga ‘de comportamento na interacsio com outras criangas. Na presenca de um adulto io-abusivo» o comportamento interpessoal da crianga maltratada é muito semelhante ao padrio de comportamento interactivo que os pais tém com ela. (s lacos de vinculagao entre uma crianca e a sua mie podem existir inde- pendentemente de esta relacio ser ou ndo gratificante. Uma mie punitiva pode inclusivamente provocar uma vinculago mais «intensa» do que uma mae nao violenta. Para uma crianga os lagos de vinculacao sao sinénimo de sobrevivencia, «que Ihe provoca uma dependéncia do adulto independentemente do facto de ‘este adulto ser adequado ou nao (Gleitman, 1993). Por isso uma crianga vitima cde maus-tratos fisicos pode tornar-se extremamente dependente dos pais, uma vvez.que, embora estes Ihe provoquem medo, é destes que a crianca depende na tentativa de alcancar seguranca. {A generalidade dos estudos tem demonstrado existir uma forte relago entre a insensibilidade dos pais abusivos ¢ 0 desenv« de uma vinculacio segura, Cantén Duarte e Cortés Arboleda m em vinculos de cevitamento e vinculos de resistencia entre as criangas maltratadas, resultando (8 primeiros de reacgdes de hostilidade por parte das maes ¢ os segundos da falta de respostas por parte das mesmas. As criangas com uma jade de apresentar défice em reas ‘como a linguagem e a interaegio social, que por sua vez estardo na origem de problemas de aprendizagem, adaptacio escolar e de socializacao. Perturbagées emocionais e de afecto ‘Vatias investigagies tém revelado que as criangas maltratadas apresentam dificuldades a0 nivel da expressio emocional. O padrio de expressao emocional encontrado nestas i de prazer ¢ envolvime nas € caracterizado pela pouca expressito afeti -omunicagao de afectos negativos, inconsis idade (Gaensbauer e Sands, 1979, edo, 1998). A gener dos autores refere que 0 facto de ser 1a de maus-tratos torna a crianga menos apta no reconhecimento das suas ‘emogées € sentimentos e, consequentemente, menos apta a falar deles. Isto causa interferéncias na qualidade das suas relagdes interpessoais quer com os: seus pares quer com 03 adultos, tornando ainda a crianga mais vulneravel relativamente ao adulto abusador, uma ver que tem dificuldade em perceber as suas expresses emocionais, ‘Muitos estudos tém demonstrado que as criangas vitimas de maus-teatos tém tendéncia para desenvolvimento de depresses e de uma menor auto-estima, telativamente as criangas nao maltratadas. Marceli (1996, p. 258) comenta ‘que «as criangas vitimas de sevicias desenvolvem, com frequeéncia, 0 sentimento. de que, se seus pais Ihes batem, é porque fizeram coisas erradas e porque si0 ém, na verdade, € como veremos mais adiante, nfo sio apenas os a depressio. A negligéncia, sobretudo @ icos, estio relacionados eom a vulnerabi= psicoafectiva, e os maus-tratos psc lidade para a depressio. Hi estudos onde se tem procurado analisar as diferencas existentes entre as criangas maltratadas eas nao maltratadas relativamente aos sintomas depres- sivos e estilo atribucional face a acontecimentos positivos e negativos. Os resul- tados destes estudos tfm demonstrado que as criangas maltratadas tendem a atribuir os éxitos a factores externos, atribuindo os acontecimentos negativos. a factores internos (Cantén Duarte e Cortés Arboleda, 1997). A atribuigio dos fracassos, por parte das criangas, a causas internas associa-se normal ‘mente a uma baixa auto-estima, uma vez.que a crianga esté conveneida de que 1s fracassos acontecem porque ela nao tem capacidades para os ultrapassar, rio estando ao seu alcance, segundo o seu ponto de vista, modificar essa situagio, Nestas citcunstincias, é comum ver-se uma crianga em idade escolar dizer frequentemente «ndo sou capaz», «no consigo», 0 que provoca um. desinvestimento por parte desta nas tarefas desenvolvidas. Esta atribuigo cau- sal interna é reforgada muitas vezes pela posigio dos pais ou de outros edu- cadores, através de continuas criticas negativas, o que agrava ainda mais a sivuagao. Ascriangas deprimidas, comparadas com outras emocionalmente saudaveis, so normalmente menos aptas socialmente, menos apreciadas como compa- nheiras de brincadeiras e tém mais dificuldades em relacionar-se com outras ceiangas. Tém ainda piores resultados escolares uma vez que a depressio inter- fere na capacidade de concentragio e na meméria. Aquelas criangas que véem tuma nota baixa como consequéncia de uma caracteristica pessoal (atribuigao ‘causal interna) sentem-se mais deprimidas do que aquelas que explicam a ma Constauiivens nos Mavs-Traros 97 cin fungio de algo que julgam poder modifiear ou controlar (atribuigao jefeito de si mesmas ~ comecam a deixar- depressivos em resposta aos fracassos». all maneira que, mesmo quando a crianga u ica com o equivalente a uma «cicatriz emocional» desenvolvendo junto de convicgdes fixas alimentadas pela depresso que poderio . Normalmente estas criancas Imente falta-lhes 0 afecto, que a esta caréncia de ordem afectiva se junta normalmente a violencia a, ovorrendo estes casos, na sua opiniso, nas classes sociais mais ‘oque difculta juda e proteccao. Cantwell (1984, cit. in Barudy, 1998, p. 102) descreve pais que descuidam afectivamente os filhos como sendo pais friosedistantes jc sa auséncia de carinho, empatia e aceitagio, assim como os estimulos vos ¢ cognitivos» sio evidentes. ‘Tal como outras imensdes da experiéncia do sujeito a0 longo do desenvolvi- mento, o impacte que caréncia afectiva produz varia consoante a sua natureza, precedem, acompanham e seguem essa caréncia, Marc és grandes tipos de caréncias:caréncia por insufiiéncia, caréncia po ide dos lagos e earéncia por dstorgao. Na primeira catego cia por insuficiéncia, © autor termo hospitalismo foi criado riadas, durante 0 seu estas criangas podia notar-se um 0 (Lara, 1997). Marcelli (1996) refere que, segundo a descrigao sscriangas passavam por sucessivas fases (gemidos, perda de peso, fo num quadro depressivo conduzir a morte, a «depressio anaclitica». Actualmente, segundo ‘Ja maioria das instituigdes que cuidam de criangas muito peque- onsciéncia dos perigos da caréncia afectiva, sendo raro assistir- “se, nos paises ocidentais, as situagdes de hospitalismo descrito por Spitz. Em 98 MausTraros & Cruanca contrapartida, descobrem-se casos de «hospitalismo intrafamiliar» em familias negligentes. Estas criangas sofrem de caréneia parcial apresentando um conjunto cde manifestagdes sintomiticas difusas tais como: ticas ‘ria do rosto do adultos pouea toler -acgBes sociais com criangas da mesma idade izadas por trocas agressivas. dade é muito comum, segundo Marcel ies & separagao temporaria dos seus filhos. A repeticao das separacées, sobretudo dos cinco meses aos trés anos, pode ser muito nociva podendo causar na crianga uma angtistia permanente e excessiva dependéncia do seu meio. Quando a separagio é prolongada podem verificar-se perturbacdes de varia psicossométicas (anorexia, enurese, perturbagdes do sono). Nas criangas maio- tes sio frequentes as perturbacdes de comportamento e dificuldades de adap- tagio escola. Ha dois factores que podem ser muito influentes na evolucéo ou gravidade destes quadros: a duracio da separacao ¢ a idade da crianga. Mareelli (1996) refere que quando a separa¢io s¢ inicia no primeiro ano de vida e persiste por mais de t#8s anos, as consequéncias podem ser graves € mesmo irreversiveis, tanto ao nivel dos processos intelectuais como de personalidade. Quando os episédios de caréncia grave e prolongada se iniciam. durante 0 segundo ano, os danos a inteligéncia parecem ser totalmente reversiveis. Contudo, 0s efeitos sobre a personalidade podem ser profundos € duradouros. ‘Ainda segundo Marcelli (1996), a caréncia por distorgao surge frequente- ‘mente nas familias ca6ticas onde nao ha previsibilidade na relagdo. Estas familias vvivem normalmente em condigdes socioeconémicas apresentando problemas de toda a ordem desde precariedade de emprego, intimeras rupeuras no casal seguidas de novas unides mais ou menos transitérias, alcool ias so essencialmente negligentes, 0 que causa, segundo ada taxa de mortalidade infantil sobretudo na primeira scolar e escolar verificam-se perturbagies e atrasos a0 nivel da linguagem, dificuldades intelectuais, perturbagdes de comportamento, comportamentos anti-sociais e fracass que o provocar estados afectivos que vari busca de afecto alternados com periodos de indiferenea, c6lera ou face & menor recusa. © humor pode oscilar também entre estados de agitacéo ceuférica e periodos de prostragio ou choros silenciosos. A erianga depressiva revela pouca autonomia nos seus comportamentos didrios relacionados com a sbes de ordem. a so geralmente 7 de sono, pesadelos, sonoléncia diurna ‘petite. A par destes problemas, as criancas revelam uma lade em relacio as separacdes, manifestando uma grande € le de «agradar», o que dificulta a sua autonomia Criagdo de um «falso-self» ‘Como vimos, a forma como a pessoa se vé a si propria vai determinar ndo $6.0 seu comportamento pessoal como também as suas relagées com 0s Outros. ‘A familia desempenha um papel fundamental na estruturagio das bases do lutoconceito ¢ auto-estima, ou seja, a forma como a crianga se veré asi propria ird depender da forma como os seus pais a véem ¢ lho dao a entender (Peixoto, 1999). Segundo Erickson (1982) 0 desenvolvimento pessoal processa-se por cestadios sequenciais que se estendem ao longo da vida da pessoa sendo cada estédio marcado por crises psicossociais bipolares. Assim, durante 0 periodo da infaincia e até aos doze anos, ¢ de acordo com as experiéncias que 0 meio Ihe proporcionar, a crianga podera desenvolver confianga, autonomia, iniiativa ¢ produtividade ou os pélos opostos, respectivamente, desconfianca, vergonha, culpa, inferioridade. A criagao e o desenvolvimento de uma identidade forte ¢ sadia esto intimamente relacionados com o conceito do self. De acordo com Jessild (1973, cit. in Pei 1999, p. 23), «o self de uma pessoa é a soma de tudo o que pode considerar como pertencente a si mesma. O self inclui, entre outras coisas, um sistema de ideias, atitudes, valores e compromissos. cias de sucessos e fracassos vao contri si mesma. O self vaise desenvolvendo a medida que a erianga vai aprendendo a distinguir 0 «eu» do «ndo-eu». ‘Muitas vezes a crianga maltratada ou, na opinido de alguns autores, mal amada, procura agradar aos seus progenitores enveredando por um comporta- mento caracterizado por obediéncia transformando-se na crianca que 0s pais tanto desejavam que fosse. Estas criangas sio normalmente descritas como ceducadas, responsiiveis, déceis. Porém, este comportamento pode esconder sofrimento vivido pela crianga, de forma silenciosa e conformista. Mare (1998, p.49) diz que estas eriangas manifestam uma «normalidade superficial» {quendo é mais do que um «conformismo adaptativo», uma organizacio interna tem «falso-self» que nao passa de uma submissao as continuas exigéncias do

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